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novembro 6, 2017
33ª Bienal de São Paulo revê papel da curadoria
Com abertura em setembro de 2018, mostra terá sete artistas atuando em sua concepção
A menos de um ano de sua abertura, a 33ª Bienal de São Paulo – Afinidades afetivas vem sugerir uma mudança no próprio modo de se organizar a exposição. Procurando questionar a centralidade do papel do curador na arte contemporânea, Gabriel Pérez-Barreiro foi selecionado pela Fundação Bienal com uma proposta que distribui o poder de decisão e dá prioridade às influências entre processos e artistas.
No intuito de rever o uso de temáticas nas curadorias, a 33ª edição nasce de um “sistema operacional” alternativo que privilegia o olhar dos artistas sobre seus próprios contextos criativos. Sete artistas de diferentes origens, gerações e práticas artísticas foram convidados por Pérez-Barreiro a conceber, cada um deles, uma exposição coletiva selecionando seus pares. Dessa forma, a Bienal terá sete exposições diferentes, curadas pelos artistas:
Alejandro Cesarco concentra sua pesquisa em artistas que trabalham sobre tradução e imagem; Antonio Ballester Moreno propõe um diálogo de sua obra com referenciais que tratam da história da abstração e a relação com a natureza, a pedagogia e a espiritualidade; Claudia Fontes pretende ativar questões envolvendo relações entre arte e narrativa; Mamma Andersson elabora temas de figuração na tradição da pintura, desde a arte popular à arte contemporânea; Sofia Borges prepara uma pesquisa sobre a tragédia e a forma ambígua; Waltercio Caldas desenvolve uma reflexão histórica sobre a forma e a abstração; enquanto Wura-Natasha Ogunji reúne um grupo de artistas que trabalham com proximidade, compartilhando questões sobre a identidade e a diáspora africana.
“Ao se aproximar do pensamento criativo, este modelo dá visibilidade a processos e afinidades, em diálogo com uma longa tradição de curadorias feitas por artistas”, explica Pérez-Barreiro. As sete exposições serão complementadas por individuais selecionadas pela curadoria geral. A lista final de participantes será anunciada no primeiro semestre de 2018.
Afinidades afetivas
A ideia de Afinidades afetivas vem guiar a construção dessa Bienal. A expressão nasce da associação de um romance de Goethe, Afinidades eletivas (1809), com o pensamento de Mário Pedrosa em sua tese "Da natureza afetiva da forma na obra de arte" (1949). Protagonista tanto na história da arte quanto na esfera política de seu tempo, Pedrosa foi uma figura ímpar para o pensamento moderno brasileiro e para as primeiras Bienais:
“Resgato de sua atuação o compromisso com a diversidade de linguagens artísticas, a convicção de que a arte é uma expressão da liberdade e da experimentação, a fé nos artistas e o papel social e transformador que a arte pode ter a partir de uma modificação da sensibilidade das pessoas”, explica Pérez-Barreiro.
O título não serve como direcionamento temático para a exposição, mas caracteriza a forma de conceber a mostra. Se no romance de Goethe um casal de personagens recebe convidados que afetam diretamente a sua relação (tal e qual ocorre com elementos químicos), as curadorias da 33a Bienal explicitam vínculos, afinidades artísticas e culturais e as múltiplas influências que alimentam os artistas envolvidos.
Mediação, arquitetura e projeto editorial
Os conceitos estabelecidos pela curadoria pautam o desenvolvimento dos projetos educativo, arquitetônico e editorial. Para trabalhar em consonância com a equipe da Fundação Bienal foram convidados os colaboradores Alvaro Razuk (arquitetura), Lilian L'Abbate Kelian e Helena Freire Weffort (educativo), Fabiana Werneck (editorial) e Raul Loureiro (identidade visual).
Com o objetivo de acentuar as passagens entre os múltiplos momentos da exposição, o projeto arquitetônico pensado por Razuk cria áreas de respiro distanciando as diferentes exposições coletivas e evitando uma ocupação exaustiva do espaço. Procurando pensar ambientes mais intimistas e/ou de menor escala, a organização espacial sugere um contraponto à incontornável dimensão arquitetônica do prédio.
As práticas de mediação do projeto educativo se dedicarão à economia da atenção, procurando contrabalançar a dispersão causada pelo imenso volume de informação e imagens a que somos submetidos diariamente. Por meio de exercícios que provocam um estranhamento entre o público visitante e a situação expositiva, a abordagem busca enfatizar a qualidade e a potência do olhar atento.
Para o projeto editorial, o catálogo em moldes tradicionais será substituído por um conjunto de livros de artista. Será produzida também uma publicação com o registro da Bienal após sua abertura, que incluirá ensaios fotográficos da exposição e de sua montagem, bem como entrevistas com os artistas participantes. A identidade visual da 33a Bienal elegeu a tipografia Helvetica, que prioriza a clareza e a neutralidade de significados, endossando o pensamento de uma Bienal não temática, enfatizando o número 33 como elemento gráfico.
A fim de alinhar pensamento e sentimento, criação e reflexão, a 33ª Bienal se desenha como exposição que privilegia a experiência acima do discurso, a descoberta acima do tema e a pluralidade acima da uniformidade. Ao evidenciar relações de poder e deslocar os lugares de fala e decisão, a 33ª Bienal procura fazer da arte um lugar central de atenção no mundo.
Curador-geral e equipe curatorial
GABRIEL PÉREZ-BARREIRO
(La Coruña, Espanha, 1970. Vive entre São Paulo e Nova York, EUA)
É doutor em História e Teoria de Arte pela Universidade de Essex (Reino Unido) e mestre em História da Arte e Estudos Latino-Americanos pela Universidade de Aberdeen (Reino Unido). Em seus mais de 20 anos de atuação, foi curador de Arte Latino-Americana no Blanton Museum of Art, na Universidade do Texas (2002-2008), curador-chefe da 6ª Bienal do Mercosul, em Porto Alegre (2007) e diretor de Artes Visuais na The Americas Society, em Nova York (2000-2002). Trabalhou ainda como coordenador de Exposições e Programas na Casa de América, em Madri (1998-2000) e como curador fundador da Coleção de
Arte Latino-Americana da Universidade de Essex (1993-1998). Foi conselheiro da Fundação Iberê Camargo e curou, no Brasil e no exterior, exposições de artistas como Lygia Pape, Geraldo de Barros, Rivane Neuenschwander, Waltercio Caldas e Willys de Castro. É diretor e curador-chefe da Coleção Patricia Phelps de Cisneros, com sedes em Nova York e Caracas.
ALEJANDRO CESARCO
(Montevidéu, Uruguai, 1975. Vive em Nova York, EUA)
Alejandro Cesarco utiliza diferentes formatos e estratégias para abordar seu constante interesse por repetição, narrativa e pelas práticas de leitura e tradução. Exposições individuais recentes incluem: Song, The Renaissance Society, Chicago (2017); Prescribe the Symptom, Midway Contemporary Art, Mineápolis (2015); Loyalties and Betrayals, Murray Guy, Nova York (2015); Secondary Revision, Frac Île-de-France/Le Plateau, Paris (2013); Alejandro Cesarco, MuMOK, Viena (2012); The Early Years, Tanya Leighton, Berlim (2012); A Common Ground, Pavilhão Uruguaio, 54ª Bienal de Veneza (2011); e Present Memory, Tate Modern, Londres (2010). Exposições coletivas incluem: Question the Wall Itself, Walker Art Center, Mineápolis (2016); Under the Same Sun, Guggenheim Museum, Nova York (2014); e 30a Bienal de São Paulo – A iminência das poéticas (2012). Cesarco é diretor da organização sem fins lucrativos Art Resources Transfer.
ANTONIO BALLESTER MORENO
(Madri, Espanha,1977. Vive em Madri)
Antonio Ballester Moreno graduou-se em artes pela Universidad Complutense Madrid. Ele também desenvolveu estudos na Universität der Künste Berlin com o professor Lothar Baumgarten de 2000 a 2002. Ballester Moreno realizou exposições individuais em La Casa Encendida, Madri (2017), MUSAC, León (2008) e em galerias de arte como Christopher Grimes, Santa Monica (2016), Galeria Pedro Cera, Lisboa (2016, 2014), Maisterravalbuena, Madri (2015, 2013, 2009) e Peres Projects Berlim e Los Angeles. Também participou de diversas exposições coletivas: Colección III e IV e Antes que todo (2010), na CA2M Madrid, Una pausa para reflexionar (2014) e Existencias, no Museo de Arte Contemporáneo de Castilla y León – MUSAC (2007), entre muitas outras. Recebeu vários apoios de instituições como MUSAC – Bolsa de Criação Artística (2006) e Fundación Arte y Derecho (2005). Seu trabalho se encontra nos acervos do MUSAC e do Centro de Arte 2 de Mayo, Madri. De 2003 a 2009, coordenou o espaço de arte sem fins lucrativos Liquidación Total.
CLAUDIA FONTES
(Buenos Aires, Argentina, 1964. Vive em Brighton, Inglaterra)
Claudia Fontes é uma artista visual que, por meio de suas ações, explora objetos e pesquisas, o espaço poético e modos alternativos de percepção da cultura, natureza, história e sociedade que são gerados nos processos de descolonização, sejam eles pessoais, interpessoais ou sociais. Ela estudou arte na Escuela Nacional de Bellas Artes Prilidiano Pueyrredón em Buenos Aires e história da arte na Universidade de Buenos Aires. Fontes tem participado de exposições desde 1992, com mostras individuais em espaços como: Instituto de Cooperación Iberoamericana – I.C.I., Museu de Arte Moderna de Buenos Aires – MAMbA, Galería Luisa Pedrouzo, Ignacio Liprandi Arte Contemporáneo e The Wordly House, na Documenta 13, Kassel (2012). Seu trabalho foi exposto recentemente no Pavilhão da Argentina na Bienal de Veneza de 2017 e está presente nas coleções do Museu de Arte Latinoamericana de Buenos Aires – MALBA, MAMbA, e Museu de Arte Contemporânea de Rosario – MACRO, bem como em coleções particulares na Argentina e na Europa.
MAMMA ANDERSSON
(Luleå, Suécia, 1964. Vive em Estocolmo, Suécia)
Andersson é uma das artistas suecas mais reconhecidas no âmbito internacional. Inspirada em imagens de filmes, cenografias de teatro e interiores de época, as composições de Mamma Andersson são com frequência oníricas e expressivas. Suas referências estilísticas incluem a pintura figurativa nórdica da virada do século 19 para o século 20, a arte popular e o vernacular contemporâneo; porém o uso sugestivo do espaço pictórico e as justaposições de camadas grossas de tinta e lavadas texturizadas constituem características únicas do seu trabalho. Sua temática se desenvolve em torno de paisagens evocativas, melancólicas e interiores privados corriqueiros. Seu trabalho está representado em coleções como as do MoMa, Nova York; Dallas Museum of Modern Art; Museum of Contemporary Art – MOCA, Los Angeles; Hammar Museum, Los Angeles; Nasjonalmuseet, Oslo; Moderna Museet, Estocolmo. Em 2006 ela recebeu o primeiro prêmio no Carnegie Art Award e em 2003 representou a Suécia na Bienal de Veneza. Ela se graduou no Royal Institute of Arts, Estocolmo, em 1993.
SOFIA BORGES
(Ribeirão Preto, Brasil, 1984. Vive em São Paulo, Brasil)
Sofia Borges é artista visual formada em 2008 pela Universidade de São Paulo. Entre 2009 e 2011, realizou sete mostras individuais no Brasil, foi selecionada pelo Rumos Itaú Cultural, recebeu o Prêmio Destaque da Bolsa Iberê Camargo, ganhou o Prêmio Porto Seguro de Fotografia e seu trabalho integrou o Clube da Fotografia 2011 no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Em 2012, participou da 30ª Bienal de São Paulo – A iminência das poéticas. Em 2013, a artista foi indicada ao Premio BES de Fotografia (Portugal), ao Foam Paul Huf Award e recebeu o prêmio de Fotografia do Centro Cultural São Paulo. Neste mesmo ano, realizou individuais na Cidade do México, Madri, Paris, Lisboa e São Paulo. Em 2014, apresentou trabalhos em Londres, Los Angeles, Lyon, São Paulo, Doha e Beijing. Em 2015 realizou uma individual em Paris, participou de exposições coletivas no Brasil, França e Canadá e desenvolveu o No Sound, o seu primeiro projeto colaborativo/experimental como curadora. Em 2016, venceu o prêmio inglês The First Book Award com o projeto The Swamp.
WALTERCIO CALDAS (Rio de Janeiro, Brasil, 1946. Vive no Rio de Janeiro, Brasil)
Waltercio Caldas realizou sua primeira exposição individual em 1973 no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Desde então tem participado de inúmeras exposições no Brasil e no exterior. Em 1998 recebeu o prêmio Johnnie Walker de artes plásticas e, em 2002, o prêmio Mario Pedrosa da Associação Brasileira de Críticos de Arte, ambos pelo conjunto de sua obra. Representou o Brasil nas Bienais de São Paulo de 1983, 1987 e 1996; na Documenta IX, em 1992; e nas Bienais de Veneza em 1997 e 2007. Em 2013 uma retrospectiva de suas obras percorreu três museus: a Fundação Iberê Camargo, a Pinacoteca de São Paulo e o Blanton Museum of Art no Texas, EUA. Sobre a obra de Waltercio Caldas foram publicados Aparelhos (1978, GBM Editora); Manual da ciência popular (1982, Edições Funarte e 2008, Cosac Naify), Waltercio Caldas (2000, Cosac Naify), entre outros. O livro Os desenhos / The Drawings com seus desenhos e texto de Lorenzo Mammì foi lançado pela Editora BEI em 2017.
WURA-NATASHA OGUNJI (St. Louis, EUA, 1970. Vive em Lagos, Nigéria)
Wura-Natasha Ogunji é artista visual e performática. Suas obras incluem desenhos, vídeos e performances públicas. Seus desenhos costurados a mão, feitos sobre papel vegetal, inspiram-se nas interações e ocorrências cotidianas – das épicas às mais íntimas – na cidade de Lagos. As performances de Ogunji exploram a presença da mulher no espaço público e, em geral, incluem investigações sobre trabalho, lazer, liberdade e frivolidade. Uma seleção de seus desenhos em grande escala foi recentemente exposta na Kochi-Muziris Biennale, em Kerala, Índia. Também realizou exposições na 1:54, em Londres; no Seattle Art Museum; no Brooklyn Art Museum; e no Louisiana Museum of Modern Art. Ogunji recebeu a prestigiada Guggenheim Foundation Fellowship, além de apoios das instituições The Pollock-Krasner Foundation, The Dallas Museum of Art, e Idea Fund. Ela concluiu o bacharelado (BA) em Antropologia na Stanford University em 1992 e o mestrado (MFA) em Fotografia na San Jose State University em 1998.
33ª Bienal - Afinidades afetivas
De 7 de Setembro a 9 de Dezembro de 2018
Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera
Preview para Imprensa: 4 de Setembro de 2018
Preview para imprensa, profissionais e convidados: 5 e 6 de Setembro de 2018
Credenciamento a partir de janeiro