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agosto 18, 2016

Segunda edição do Transborda Brasília premia performances e desenhos

A organização do Transborda Brasília – Prêmio de Arte Contemporânea anunciou na noite da última terça-feira, 16 de agosto, os três vencedores na segunda edição da premiação. São eles: Antônio Obá, com a obra “Atos da transfiguração – Desaparição ou receita de como fazer um santo”- performance; Coletivo Dueto DuplaPlus, com a obra “Sabia que dentro de meu ouvido moram outras três pessoas?!”, performance; e Virgílio Neto, com a obra sem título, desenho políptico. O evento marcou ainda o lançamento do catálogo da mostra, que apresenta as imagens das 28 obras realizadas pelos 20 selecionados, entra artistas individuais e coletivos, além de um texto crítico da curadora e membro do júri Fernanda Lopes.

Este ano, os artistas concorrem a três prêmios de aquisição no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) cada e a uma bolsa de estudos para o curso Dynamic Encounters Brasil, com duração de 3 a 5 dias, cada. Além disso, os artistas selecionados receberam R$ 500,00 (quinhentos reais) cada para produzir suas obras e todos participam da mostra que está em cartaz na Caixa Cultural Brasília até 21 de agosto e do catálogo da mostra.

Em sua segunda edição, o Transborda Brasília – Prêmio de Arte Contemporânea é uma realização de Bruna Neiva e Virgínia Manfrinato, com o patrocínio da Caixa e do Governo Federal, além do apoio do Correio Braziliense e Rede Plaza Brasília Hotéis. Dos cerca de 500 trabalhos de 150 artistas do Distrito Federal e da região do Entorno, o júri formado por Agnaldo Farias (SP), Divino Sobral (GO), Fernanda Lopes (RJ), Marilia Panitz (DF) e Moacir dos Anjos (PE), selecionou 20 projetos, entre inscrições individuais e coletivas.

"Mantemos o foco do objetivo de mapear, acompanhar e fomentar a produção artística do Distrito Federal e das cidades que compõem a região do Entorno”, afirma Bruna Neiva, uma das realizadoras do Transborda Brasília – Prêmio de Arte Contemporânea. “Nesta edição, foram cerca de 500 trabalhos inscritos por 150 artistas, entre indivíduos e coletivos. O percurso ainda é longo, pois queremos ampliar o alcance do prêmio para poder mostrar ao público os trabalhos de mais artistas que produzem e moram no DF e no Entorno”, completa Virgínia Manfrinato.

Conheça as obras premiadas

Premiado: Coletivo Dueto DuplaPlus – Ary Nunes e LuisaGünther
Localidade: Brasília – DF
Obra: “Sabia que dentro de meu ouvido moram outras três pessoas?!”
Técnica: Performance
Descrição: Será que, envolto pela epiderme corporal, cada pessoa contém em si apenas um eu-mesmo?! A provocação para esta pesquisa-poética resultou de um momento de fragilidade corporal, justamente naquele instante em que qualquer um estaria mais suscetível aos invólucros dos contornos de si. Em meio aos efeitos colaterais dos medicamentos de um tratamento de saúde, por entre os delírios da madrugada, esta afirmação ecoou pelo silêncio do quarto escuro. Susto. Para que aquilo pudesse reverberar para fora da alma, como possibilidade de apaziguar a dor, iniciou-se um diálogo: -É mesmo?! E quais os nomes destas outras pessoas?! O que fazem para se distrair?! A partir desta interlocução, aquele corpo fragilizado começou a dissipar gemidos e espasmos, até que o sono retornou ao recinto para regenerar a ansiedade e dissipar a fadiga. A intenção é de repercutir esta ocorrência. Para isto basta um espaço que tenha chão (sic!). Enquanto um corpo permanecer estendido o outro irá investigar as entranhas e rugosidades mútuas em movimentos contínuos até que alavancado a recompor-se, um movimento pendular catapulta o outro corpo a deitar-se. Esta movimentação alternada de um corpo que se compõe dos eixos de verticalidade e, em seguida, de horizontalidade pode ser vislumbrada como uma referência às diretrizes corporais das Labanotações e também das notações espaciais de Wassily Kandinsky em “Ponto e Linha sobre Plano” que serão utilizadas como rider técnico da proposição.

Premiado: Obá
Localidade: Vicente Pires - DF
Obra: “Atos da transfiguração – desaparição ou receita de como fazer um santo”
Técnica: Performance
Descrição: No ambiente encontram-se, dispostos ao chão, dois objetos ordinários; um ralo típico feito de lata e uma gamela de madeira. Ambos são utensílios comuns da vida rural e interiorana brasileira que certamente todos conhecem, ao menos de vista. Após algum tempo o artista adentra a cena; ele está nu e segurando a imagem de nossa senhora aparecida, bem na frente da genitália, como sendo o próprio artista uma espécie de andor. Dirige-se compassadamente até o lugar onde estão o ralo e a gamela; ajoelha-se, se organiza com os três objetos e põe-se ao ritual inusitado de ralar a santa-de-gesso.
Iconoclastia? Certamente, mas esse não parece ser o propósito. Nenhum cristão se sentiria ofendido diante da cena, pois é muito mais que isso. O ato de ralar torna-se um ritual intenso e pesado; vê-se na musculatura incisivamente desenhada toda tensão do trabalho extenuante, quase desumano. Esteta-escultor que é, ele não rala o gesso-santa de qualquer maneira, ele busca na ação de subtração gerar uma nova forma cuja geometria pura irá expulsar os vestígios de qualquer humanidade-santidade, ele eleva o penoso trabalho a um ato de criação conceitual. Ele finalmente interrompe o árduo trabalho, reorganiza os objetos e olha atento o pó branco colhido na gamela.
Entre essa etapa e o ápice que se segue, houve um intervalo ocupado pela memória e pela experiência pessoal dos que ali estavam. Observo ao redor e as pessoas se ausentam por um segundo daquele encontro extraordinário, pois diante da cena de grande beleza-violência-dor seria impossível a cada um não criar o seu próprio texto mergulhando fundo em si mesmo. Mas todos voltam em seguida para presenciar o grande final da narrativa pulsante do autor: o artista nu se banha (impregna) lenta e minuciosamente com pó branco da virgem (resto de uma santidade em ruínas) depositado na gamela (não por acaso, a gamela usada para comportar o bori nos rituais do Candomblé). Coberto (desaparecido) com a substância branca do gesso, ele se levanta e lentamente sai de cena. Entrou homem e saiu divindade devidamente de alma lavada, essencialmente profana, ou sublimada nas tradições cultural-religiosas que definem o Brasil, numa percepção que critica e exalta essa mesma tradição.

Premiado: Virgilio Neto
Localidade: Brasília - DF
Obra: Sem título
Técnica: Desenho
Descrição: Políptico de oito desenhos, faz referência ao poema de João Cabral de Melo Neto. Esses desenhos surgiram de pensar a relação do desenhar com o exercício da escrita desse e de outros poetas. A obra faz referência aos desenhos de paisagem panorâmicos, muito comuns entre os artistas que retratavam o Brasil no sec. 19. Uma continuidade do trabalho que o artista realizava dentro do desenho, onde busca uma composição mais livre, trazendo referências da ilustração, da escrita e do imaginário pop.

Artistas que concorreram

Concorreram ao Transborda Brasília – Prêmio de Arte Contemporânea 2016 os artistas visuais Adriana Vignoli - Brasília – DF; André Vechi - Brasília – DF; Bárbara Mangueira - Brasília – DF; Cecilia Bona - Brasília – DF; Coletivo Desculpinha - Cainan Rodrigues, Danna Lua Irigaray, Diego Torres, Heron Prado, Jan Araújo, Kabe Rodríguez, LiviaViganó, Nana Bittencourt, Rodrigo Koshino, Taís Koshino, Thalita Perfeito, Yuri Thevenard - Brasília – DF; Coletivo Dueto – Ary Nunes Coelho e LuisaGünther - Brasília – DF; David Almeida - Guará – DF; Diego Bresani - Brasília – DF; Humberto Araújo - Águas Claras – DF; JulioLapagesse - Brasília – DF; Lucas Las-Casas - Brasília – DF; Luciana Paiva - Brasília – DF; Luiz Olivieri - Brasília – DF; Matias Mesquita - Brasília – DF; Obá - Vicente Pires – DF; Paul Setúbal - Águas Claras – DF; Ferreira Maia - Brasília – DF; Taigo Meireles - Brazlândia – DF; Thales Noor - Brasília – DF; e Virgílio Neto - Brasília – DF.

Posted by Patricia Canetti at 7:46 PM