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maio 22, 2019
Tamar Guimarães no Cine Humberto Mauro, Belo Horizonte
Como parte da itinerância da 33ª bienal de São Paulo, o filme Ensaio, da mineira Tamar Guimarães, está sendo exibido no Cine Humberto Mauro (Av. Afonso Pena 1.537, Belo Horizonte) todos os sábados, às 15h. Com duração de 51min, a obra traz reflexões sobre racismo e misoginia no meio artístico. Filmada no próprio Pavilhão Bienal e com a participação do curador e funcionário da exposição, é mais um mergulho crítico da artista nas instituições de arte. As últimas exibições acontecem nos dias 25/05 e 01/06, e a obra não está disponível em plataformas digitais.
Desnudando a própria organização cultural, a trama mostra Isa, uma jovem diretora negra convidada por uma instituição de arte contemporânea para sugerir um projeto, ao que ela responde propondo uma adaptação de Memórias Póstumas de Brás Cubas em que será encenado apenas o velório. Durante os ensaios, Isa lida com o racismo e misoginia da equipe formada por relevantes nomes do cenário artístico. “Isso é inegável: a gente vive numa misoginia e numa pigmentocracia”, observa Tamar. “Embora a mestiçagem esteja em todo lugar, a pigmentocracia também está refletida em todo lugar, inclusive dentro da Bienal”, comenta, mas enfatizando que não há um ataque à Fundação Bienal ou seus funcionários, mas sim uma reflexão das estruturas do Brasil.
A artista conta que o interesse pelo formato do ensaio vem da tensão entre repetição e diferença, do estado de espera e a potência da renovação pelas mudanças internas de relações entre as partes. “Procurava um texto para um ensaio a ser filmado, e queria trabalhar com algo que falasse de um modo de ser e estar no Brasil. Memórias Póstumas, de Machado de Assis, me cativou muito porque há um ceticismo em relação ao progresso e uma leitura crítica afiada sobre a sociedade brasileira”, conta a artista, cujos trabalhos como Canoas (2010) e 15½ (2013) também exploram criticamente o sistema da arte.
É a segunda vez que a Itinerância da Bienal se estende ao espaço do Cine Humberto Mauro, construindo uma ponte com as galerias do Palácio das Artes. “Trazer a ocupação da mostra para o Cinema nos permite ampliar ainda mais as linguagens artísticas propostas pela curadoria, possibilitando um trânsito do público do cinema para as galerias”, observa Uiara.
Tamar Guimarães - Nascida em Viçosa (MG) em 1967, Tamar estudou música em Jerusalém, Basel e Londres de 1987 a 1992, antes de decidir se dedicar às artes visuais. Em 2002, formou-se em artes plásticas no Goldsmiths College, em Londres e concluiu mestrado na Malmö Art Academy, na Suécia, além de um segundo mestrado na Academia Real de Artes Plásticas da Dinamarca, onde vive atualmente. Hoje, obras de Tamar Guimarães estão em coleções como Tate Modern (Londres), Museo Nacional Reina Sofía (Madri), Guggenheim (Nova York), Guandong Museum (China) e Inhotim (Brumadinho, MG). Ela expôs em museus, galerias e festivais na Europa, nas Américas, no Oriente Médio, na Ásia e na Oceania. Já participou da Bienal de Veneza duas vezes, de Gwangju (Coreia do Sul) e de Sharjah (Emirados Árabes). Já fez parte da Bienal de São Paulo em 2010, 2014 e 2018.
Itinerância 33ª Bienal de São Paulo – Com o título afinidades afetivas, a 33ª Bienal de São Paulo ocupou o Pavilhão Bienal no ano passado e, em março de 2019, as galerias do Palácio das Artes receberam um recorte da exposição, com curadoria de Jacopo Crivelli. Entre as obras que compõem a itinerância, estão trabalhos de Waltercio Caldas, Tamar Guimarães, Alejandro Corujera, Roderick, Sofia Borges, Sara Ramo e Maria Laet. A exposição está aberta à visitação até o dia 2 de junho.