|
março 24, 2009
Relato do seminário Revisões e Propostas: desafios para o circuito de arte brasileiro no Instituto Inhotim
Arte Contemporânea em debate
Instituto Inhotim recebe mais de 70 especialistas para discutir propostas para a arte no país
Cerca de 94% da população brasileira nunca teve acesso a instituições de arte. Esse dado foi apontado pelo assessor do Ministério da Cultura, Afonso Martins Luz, na abertura do seminário "Revisões e propostas: desafios para o circuito de arte brasileiro", na tarde de sexta feira (20), no Instituto Inhotim. O seminário, promovido pelo Ministério da Cultura, Fundação Athos Bulcão e Instituto Inhotim, conta com a participação de 70 especialistas da área cultural de todo o país. A abertura oficial do evento contou ainda com a presença do diretor executivo adjunto do Inhotim, Hugo Vocurca e do presidente do conselho de administração do Inhotim, Bernardo Paz.
Na primeira mesa redonda, a crítica de arte Glória Ferreira falou sobre a expansão que o circuito de arte mundial e brasileiro vive atualmente e a necessidade de uma nova estrutura para a história de arte no Brasil. Já o expositor e jornalista Celso Fiovarante apontou as dificuldades que vive hoje o mercado midiático de artes plásticas no país. "Sem mercado anunciante é muito difícil que as artes plásticas tenham maior espaço nos jornais e revistas", concluiu. Participaram desse debate a curadora e crítica de arte Luisa Duarte, o crítico de arte Paulo Sérgio Duarte, além dos jornalistas Celso Fiovarante e Marcelo Rezende.
A segunda mesa redonda do seminário, com o tema Grandes exposições e bienais: Crise depois da crise, contou com a presença da mediadora Maria Angélica Melendi (pesquisadora da UFMG), das expositoras Mabe Bethônico (artista plástica) e Solange Farkas (diretora do Museu de Arte Moderna da Bahia e curadora do VídeoBrasil) e do debatedor Martin Grossman (diretor, Centro Cultural São Paulo).
A artista plástica Mabe Bethônico abriu sua exposição lendo um texto e projetando slides que mostravam as críticas e as dificuldades que grandes exposições brasileiras já enfrentaram. Solange Farkas abordou os desafios que enfrenta como gestora do Museu de Arte da Bahia e a experiência que possui como curadora do VídeoBrasil. Para ela, o momento de crise enfrentada pelo mundo é propício para se pensar novas estratégias. "A crise pode gerar boas parcerias como trocas de exposição e publicações entre as instituições. Este é o momento de se pensar nas estratégias, sobretudos nas mostras e grandes exibições como a Bienal de São Paulo", enfatizou.
Com a frase, “Estamos aqui para profissionalizar, criar estratégias e canais de mediação e comunicação com o público", o curador do Inhotim, Rodrigo Moura, abriu a terceira e última mesa redonda do seminário "Revisões e propostas: desafios para o circuito de arte brasileiro", ocorrido no Instituto Inhotim na manhã do sábado (21). Também estiveram presentes na discussão o diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Marcelo Araújo, o diretor do Centro de Artes Visuais da Funarte, Ricardo Rezende, e o crítico e membro do comitê gestor do Projeto Brasil Arte Contemporânea, Jacopo Crivelli.
Em sua fala, Marcelo Araújo contou sobre a experiência que tem como diretor da Pinacoteca e lembrou o prêmio ARCO de Coleção Internacional recebido pelo presidente do conselho de administração do Inhotim, Bernardo Paz. Ricardo Rezende, recém empossado no cargo de diretor do Centro de Artes Visuais da Funarte, apresentou as ações que pretende desenvolver para potencializar os trabalhos já desenvolvidos pela Funarte. Para ele, a arte educação é de extrema importância neste momento. "Pretendemos formar um público crítico e ativo para a arte contemporânea através da educação pela arte. Acho mais importante educar para a arte do que investir na produção artística", afirmou.
Durante a discussão, o crítico de arte Jacopo Crivelli questionou as exposições feitas para grandes públicos. Segundo ele, "uma mostra com muito público se transforma em um produto vendável, mas a qualidade deixa de ser importante". Jacopo também lembrou o dado apontado pelo assessor do Ministério da Cultura, Afonso Martins Luz, de que 93,4% da população brasileira não possui acesso a instituições de arte. "Se 6,6% da população do país possui acesso a essas instituições, então são cerca de 10 milhões de pessoas. Eu não acho que seja tão pouca gente assim", conclui.
Em dois dias de evento, o seminário "Revisões e propostas: desafios para o circuito de arte brasileiro", promovido pelo Ministério da Cultura, Fundação Athos Bulcão e Instituto Inhotim, reuniu cerca de 70 especialistas da área cultural de todo o país e discutiu as estratégias de inserção da arte contemporânea brasileira.