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abril 28, 2021
Lucia Laguna na Carpintaria, Rio de Janeiro
A Carpintaria tem o prazer de apresentar Se hace camino al andar, individual de Lucia Laguna. Essa é a primeira exposição da artista no Rio de Janeiro desde Enquanto bebo a água, a água me bebe, panorâmica dedicada à sua obra no Museu de Arte do Rio, em 2016.
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Nestas novas pinturas produzidas entre 2020 e 2021, Laguna reforça a indissociabilidade que há entre seu processo artístico e o espaço de seu ateliê, situado na Zona Norte do Rio de Janeiro. É a partir da vista de sua janela e do seu jardim – um corredor de plantas que recebe diariamente as mãos da artista – que ela compõe suas paisagens.
“Em outra época meu trabalho fazia referência às vias expressas, a uma cena mais urbana. Mas essa série é totalmente orgânica, é uma paisagem menos estendida, voltada para o meu jardim. Ele é o protagonista.” O tempo interior da pintora escoa para o tempo da pintura. Um novo corpo de trabalho que carrega marcas do confinamento. “Antes eu via paisagem, eu via ruas, construção, horizontes. Por questões do momento estou exclusivamente em casa. Só acesso outras imagens nos meus próprios livros e no meu entorno”.
Seu jogo pictórico é de natureza empírica. “Quando começo um quadro, não sei onde vai parar. Existe uma direção geral, mas não um limite”. O ponto de partida são proposições que a artista faz aos seus assistentes, que começam o processo delimitando linhas sobre a superfície da tela, inserindo figurações e outros sinais gráficos. Ao assumir a execução da obra, Lucia ingressa em um processo de desconstrução do que ali já estava. Num exercício ambíguo de intervenções e apagamentos que se dão com a pintura de outras camadas e detalhes, novos cenários são construídos. Nesse corpo de trabalho, Laguna dá sequência ao método de vedação temporária com faixas de fita para preservar áreas da tela e tomar decisões em tempos distintos. Um quadro de Lucia Laguna deve ser visto, portanto, como uma trama de acontecimentos pictóricos onde nada se apaga e tudo é acúmulo.
Lucia Laguna nasceu em Campos dos Goytacazes (RJ) em 1941. Formou-se em Letras em 1971, passando a lecionar Língua Portuguesa. Em meados dos anos 1990, começou a frequentar cursos de Pintura e História da Arte na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, e realizou sua primeira individual em 1998. Ganhou em 2006 o Prêmio Marcantônio Vilaça do CNI SESI. Entre suas exposições individuais recentes, destacam-se: Lucia Laguna, Fortes D’Aloia & Gabriel (2020) Vizinhança, MASP (São Paulo, 2018); e Enquanto bebo a água, a água me bebe, MAR (Rio de Janeiro, 2016). Suas principais coletivas incluem participações em: 30ª Bienal de São Paulo (2012), 32º Panorama da Arte Brasileira, MAM-SP (2011), Programa Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural (São Paulo, 2005–2006). Sua obra está presente em importantes coleções públicas, como MASP, MAM-SP, MAM-RJ, MAR, entre outras.
Carpintaria is pleased to present Se hace camino al andar, the latest solo show by Lucia Laguna. This is the artist’s first one-person exhibition in Rio since Enquanto bebo a água, a água me bebe, which took place at Museu de Arte do Rio, in 2016. In these new paintings created in 2020-2021, Laguna reinforces the existing inseparability between her artistic process and the context of her studio, in the north zone of Rio de Janeiro. Taking the view from her window and front yard as a starting point – a passageway full of plants to which the artist tends on a daily basis –, she plots her landscapes.
“Before, my work would reference expressways and far more urban settings. But this series is quite organic. It’s not such a far-reaching landscape, as it’s focused in my front yard. The yard takes center stage”. This fresh body of work bears the scars of the lockdown. “I used to see the landscape, the streets, construction sites, skylines. Due to current issues, I find myself at home at all times. I can only access further images through my own books and surroundings”.
Her pictorial practice is empirical in nature. “When I begin painting a canvas, I have no idea where it will go. There’s a general course, but no limits”. It all starts with propositions from the artist to her assistants, who initiate the process by outlining the surface, inserting figures and other graphic signs. As she takes over, Laguna ignites a process of deconstructing what was previously there. In an ambiguous effort of intervention and erasure that occurs through the addition of newly painted layers and details, eschewing new sceneries. The artist employs a temporary covering method, using pieces of tape to protect certain areas of the canvas and thus allowing her to make decisions asynchronously. A painting by Laguna must be thus seen as a storyline of painterly actions in which nothing is erased, and everything is accumulation.
Lucia Laguna was born in Campos dos Goytacazes (Rio de Janeiro) in 1941. In 1971 she received a degree in Portuguese and began her career as a teacher. In the mid-nineties she attended workshops on painting and art history at Escola de Artes Visuais do Parque Lage, in Rio de Janeiro, she had her first solo show in 1998. In 2006, she was awarded the Marcantônio Vilaça Prize from CNI SESI. Recent standout exhibitions include: Lucia Laguna, Fortes D’Aloia & Gabriel (2020) Vizinhança, MASP (São Paulo, 2018); and Enquanto bebo a água, a água me bebe, MAR (Rio de Janeiro, 2016). Among her most important participations in group shows are: 30th Bienal de São Paulo (2012), 32nd Panorama da Arte Brasileira, MAM-SP (2011), Programa Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural (São Paulo, 2005–2006). The work of Lucia Laguna is featured in prominent public collections such as MASP, MAM-SP, MAM-RJ and MAR.
Ivan Serpa no CCBB, São Paulo
O Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo reabre suas portas no sábado, 24 de abril, com a exposição Ivan Serpa: a expressão do concreto, uma ampla retrospectiva de um dos mais importantes mestres da história da arte brasileira. A mostra apresenta 200 trabalhos, de diversas fases do artista que morreu precocemente (1923/1973), mas deixou obras que abrangem uma grande diversidade de linguagens, utilizando várias técnicas, tornando-se uma referência para novos caminhos na arte visual nacional.
Para oferecer ao público de São Paulo mais oportunidade de visitar presencialmente esta importante exposição, a mostra fica ambientada no CCBB São Paulo até o dia 2 de agosto de 2021.
Ivan Serpa: a expressão do concreto percorre a rica trajetória do artista, expoente do modernismo brasileiro através de obras de grande relevância selecionadas em diversos acervos públicos e privadas.
Com curadoria de Marcus de Lontra Costa e de Hélio Márcio Dias Ferreira, a mostra apresenta obras de todas as fases e técnicas utilizadas pelo artista: concretismo / colagem sob pressão e calor / mulher e bicho / anóbios (abstração informal) / negra (crepuscular) / op - erótica / anti-letra / amazônica / mangueira e geomântica.
A pluralidade criativa e suas expressões ratificam o importante papel de Ivan Serpa na arte moderna brasileira, na criação e liderança do Grupo Frente (Lygia Clark, Lygia Pape, Franz Weissmann, Abraham Palatnik, Hélio Oiticica e Aluísio Carvão), e através de seu projeto de difundir e motivar as novas gerações para a arte, com suas aulas para crianças e adultos no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. A virtuosidade de Serpa e seu amplo domínio da técnica e de seus meios expressivos foram reconhecidos já na primeira Bienal de São Paulo, em 1951, quando é considerado o Melhor Pintor Jovem da feira de arte que veio a se tornar um dos principais eventos do circuito artístico internacional.
Ivan Serpa: a expressão do concreto resume a essência da obra desse artista que, apesar de ser mais conhecido pelo Concretismo, também se aventurou pela liberdade do expressionismo, sem nunca perder contato com a ordem e a estrutura. Trata-se de uma exposição única, de um artista complexo, definitiva para reascender a memória sobre esse operário da arte brasileira.
“Ivan Serpa surpreende até hoje por sua extrema sensibilidade, pelo seu permanente compromisso com a liberdade que alimenta a verdadeira criação artística. Enquanto críticos e teóricos cobravam do artista uma coerência estética, veiculando-a a uma determinada escola artística, Serpa respondia com a ousadia e o desprendimento característico dos verdadeiros criadores. Entre tantos ensinamentos, a lição que Serpa nos lega é essa ânsia, esse compromisso permanente com a liberdade e a ousadia que transforma a aventura humana em algo sublime e transformador. Por isso, hoje e sempre, é preciso manter contato com a produção desse artista exemplar que transforma formas e cores num caleidoscópio mágico, múltiplo e íntegro em sua linguagem expressiva”, diz Marcus de Lontra Costa, um dos curadores da exposição.
“Agradecemos a Ivan Serpa pelo seu legado, que deixou um rastro de liberdade na arte brasileira, da modernidade aos nossos dias. Lembremos que, na sua relativamente curta trajetória, ansioso por viver e trabalhar, desde pequeno viveu sob a ameaça da morte, mas encontrou tempo para ensinar aos outros o poder da arte”, complementa Hélio Márcio Dias Ferreira, pesquisador especialista na obra de Ivan Serpa.
“Trajetórias corajosas, como as de Ivan Serpa, acentuam a importância da ação artística como instrumento de definição das identidades culturais comuns, mas, também, como agente de questionamento e subversão. No mundo contemporâneo é preciso sempre estar atento e forte, e se alimentar de saberes oriundos do passado recente, para que possamos enfrentar os dilemas e desafios do presente e do futuro. Por isso o desafio maior da arte contemporânea é o enfrentamento, e exemplos como o de Ivan Serpa, nos dão a régua e o compasso e nos ensinam a superar e vencer os dragões da maldade”, complementa Marcus de Lontra Costa.
A mostra que passou pelo Rio de Janeiro e Belo Horizonte chega ao CCBB São Paulo com uma montagem exclusiva pensada para ocupar toda a Instituição que a ambientará até 12 de abril 2 de agosto de 2021. Depois de São Paulo, a exposição segue para o Centro Cultural do Banco do Brasil Brasília.
OS CURADORES
Marcus de Lontra Costa - ex-diretor na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, realizou entre outras exposições a histórica mostra “Como Vai Você Geração 80”. Em 1990 assume a direção curatorial do MAM RJ. Implantou o MAMAM-Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, em Recife. Já realizou inúmeras exposições no Brasil e no exterior tais como Niemeyer: Invenção do Tempo e Oscar Niemeyer 100 anos, e de grandes artistas como Athos Bulcão, Celeida Tostes, Tomie Ohtake, Franz Krajcberg etc. assim como a Coleção Gilberto Chateaubriand. Convidado pelo governo da França para integrar a equipe de curadores do Centre Georges Pompidou e da Fondation Cartier, em Paris.
Em 2018 a exposição da Amélia Toledo – Lembrei que Esqueci, no CCBB São Paulo, sob sua curadoria ganhou o prêmio da ABCA e da Associação Paulista de Críticos. Atualmente é curador do Prêmio Industria Nacional - Marcantônio Vilaça SESI/CNI.
Hélio Márcio Dias Ferreira - professor da Escola de Teatro da Unirio. Mestre em História da Arte pela UFRJ e doutor em Educação pela UFF, com parte dos estudos realizada na Universidade Paris III – Sorbonne (França), é autor de Uma história da arte ao alcance de todos e Ivan Serpa: o expressionista concreto, entre outros livros de arte.
abril 27, 2021
Yuli Yamagata no MAC, Niterói
Yuli Yamagata abre exposição inteira feita especialmente para o Museu de Arte Contemporânea de Niterói
No dia 20 de março, a partir das 10h, o MAC Niterói abre a exposição “Nervo”, da artista Yuli Yamagata, que já foi indicada ao prêmio PIPA 2018 e 2019. Conversando com a bela vista da varanda para a Baía de Guanabara e também se contrapondo a ela, as obras se relacionam tanto a um estado psicológico, quanto a um elemento anatômico de humanos e animais. A curadoria é assinada por Raphael Fonseca.
São cerca de 25 trabalhos, todos inéditos, feitos exclusivamente para o MAC, que demonstram um desejo da artista de dissecar corpos e apresentá-los de forma híbrida, pendendo mais para o inominável do que para o humano. “Há uma expressão em inglês que dialoga com o título desta exposição ‘you’ve got a nerve’, que poderíamos traduzir por algo como ‘você tem nervos de aço’. A frase é usada comumente para expressar que alguém tem a audacidade de realizar esta ou aquela ação”, destaca o curador.
“A exposição passou por vários momentos, uma vez que há trabalhos que eu fiz antes da pandemia e outros que fiz durante a quarentena. Talvez um ponto em comum entre eles seja um sentimento de ‘tá tudo bem, mas tá estranho’. Agora, não há como dizer que ‘alguma coisa’ está chegando porque ‘alguma coisa’ realmente está aqui, seja ela gigante como a pandemia ou discreta como o medo de abraçar um amigo. Há diversos tipos de sentimentos que acabaram saindo na exposição como raiva, angústia, esperança, medo, alegria e frustração, isso me ajudou a digerir um pouco esse momento estranho que estamos passando e espero que possa ajudar também de alguma forma a quem for visitar”, diz Yuli Yamagata.
Esta produção recente de Yuli – que nasceu em Florianópolis, mas mora em São Paulo desde o início de sua graduação, em 2008 – demonstra a antítese ‘rigidez’ e ‘leveza’. Um polvo, uma língua, intestinos, uma cobra, pés, mãos e um milho que tem não apenas um pé, mas também um olho que lacrimeja, são exemplos disso. “Seus trabalhos em pintura e desenho aqui mostrados, onde a anatomia é apresentada de forma dilacerada – alguma hecatombe se sucedeu, mas a tragédia sempre pode ser maquiada com um tom tutti-frutti de desenho animado. Olhando para estes personagens criados por ela, há algo em sua apresentação que remete à certa ansiedade, já que todas essas figuras parecem estar prestes a realizar uma ação – caminhar, se quebrar, chorar, pingar, lamber”, explica Raphael.
As obras da artista mostram a força por detrás destes objetos banais. A violência impressa não é mera coincidência com o período atual de pandemia. Afinal, quem não precisou e ainda precisa de nervos de aço par enfrentar este momento difícil?
Protocolos sanitários
Para garantir a segurança e a saúde dos visitantes e funcionários, por conta da pandemia da Covid-19, são seguidos protocolos sanitários como a higienização das mãos com álcool em gel (na entrada dos banheiros), totem de álcool em gel – acionado pelo pé – em pontos estratégicos, tapetes sanitizantes na entrada do Museu, aferição de temperatura no pátio, obrigatoriedade do uso de máscaras e controle de acesso. A recepção possui um painel de acrílico para proteção dos visitantes e funcionários.
Fefa Lins na Amparo 60, Recife
Amparo 60 recebe a primeira exposição individual do artista pernambucano Fefa Lins
Na história da arte, pinturas de corpos quase sempre serviram para reforçar, com viés assumidamente didático, padrões de gênero, estética e comportamento. O pintor Fefa Lins vem se destacando no circuito das artes plásticas nacionais ao trazer autorretratos que rompem com essas vigilâncias hegemônicas sobre os corpos, trazendo visões não binárias em relação ao gênero e uma afetividade não heteronormativa de sexualidade. Entre a tradição e a ruptura, está a tecnologia. Fefa conquistou público, inicialmente, através das redes sociais e agora irá estrear a sua primeira exposição individual, Tecnologias de Gênero, com curadoria de Aslan Cabral, que fica em cartaz na Galeria Amparo 60, no Recife, entre 29 de abril a 28 de maio.
A mostra, que faz parte do projeto Mirada, uma parceria da galeria com a SpotArt, ocupa a primeira sala da galeria, reunindo obras de 10 x 10 até 1,5m. Para quem já conhece os trabalhos do artista pelas redes, será uma oportunidade de experienciar essas telas presencialmente e em conjunto. “Montar a primeira exposição individual é um momento de muitos conflitos e crises, mas alinhamos uma síntese de produção que acabou sendo uma celebração. É como uma tríade de síntese, expansão, e sobretudo, celebração”, diz Fefa.
Aos 23 anos, Fefa redescobriu a paixão pela pintura, algo que começou na infância, ao conhecer um grupo de empoderamento feminino através da ilustração no Facebook. Assim, passou a produzir obras que foram ganhando cada vez mais personalidade, seja na técnica ou nas temáticas apresentadas.
O olhar simultaneamente sensível e transgressor em relação ao corpo, com fruição através da internet, cria um contexto que o artista chama de “tecnologia de gênero” – conceito que deu título à exposição. “É como se os gêneros de ‘homens’ e ‘mulheres’ não fossem criados apenas por órgão sexuais, mas sim por várias ferramentas. A pintura é uma das ferramentas históricas de criação de narrativa, inclusive no processo de colonização, então entendo essa linguagem como um lugar que transita entre cultura e subversão, partindo do corpo, da sexualidade e do gênero”, continua.
“Essas tecnologias de gênero surgem de uma maneira tech, pop e trending”, ressalta o curador Aslan Cabral. “As questões tecnológicas são como vetores: fazem uma manutenção de lugar de privilégios para o conservadorismo, mas também promovem um certo 'hackeamento' por parte de populações e pautas mais marginalizadas. Isso traz novas perspectivas de cenários artísticos e da utilização dessas tecnologias para colocar novos planos em ação. Estamos aqui juntando forças para isso.”
Diante desse aspecto viral, a exposição presencial carrega consigo um ineditismo de experiência. “A mostra traz esse local da dimensão, da escala, com obras que são muito maiores do que as pessoas esperam e veem pela tela do celular. A questão da materialidade, a partir da pintura, é emocionante e não é completamente acessível pela internet”, ressalta Fefa.
A exposição faz parte do projeto Mirada, idealizado pela galerista Lúcia Costa Santos em parceria com a SpotArt. A ideia é, a partir da mirada, do olhar, de um espaço expositivo reduzido, quase uma vitrine, ampliar o alcance das obras. A iniciativa, que nasceu neste momento de pandemia, tem um caráter virtual muito forte, aliado à possibilidade do presencial. Esta será a terceira exposição do projeto que vai se estender ao longo de 2021.
Antoni Muntadas abre Projeto About Academia I-II na USP, São Paulo
Antoni Muntadas: About Academia I-II, uma Interpretação Online, 2011-2017 (2021)
Tendo como base sua experiência no ensino superior norte-americano, o artista Antoni Muntadas inaugura no Brasil uma interpretação online de About Academia. Neste projeto se discute o papel e a função das universidades na atualidade, o lugar da arte nesse âmbito, a relação entre público e privado, tradição e contemporaneidade, o futuro das universidades e a interdisciplinaridade, a partir de entrevistas realizadas pelo artista com professores e alunos.
About Academia, projeto originalmente apresentado no Carpenter Center for the Visual Arts, a convite da Universidade de Harvard, durante o último período de ensino de Antoni Muntadas no programa em Arte, Cultura e Tecnologia no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (ACT MIT), em 2011, seguiu em diferentes versões para cidades como Boston, Vancouver, Amsterdam, Sevilha, entre outras.
A versão brasileira da videoinstalação About Academia, que a princípio ocuparia a Biblioteca Brasiliana no Campus Butantã da USP em São Paulo, se traduz como mais uma obra do artista multimídia e professor, ao criar uma interpretação digital da instalação original, desenvolvida como um site na internet, que poderá ser acessado a partir do dia 30 de abril de 2021 https://aboutacademia.iea.usp.br/. Pela primeira vez ocorre sua exibição na América Latina, com todos os seus materiais traduzidos para o português, numa versão bilíngue (espanhol), através de uma parceria entre o Fórum Permanente, o Instituto de Estudos Avançados da USP e a Biblioteca Brasiliana José e Guita Mindlin, com a realização do Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa através do Programa de Ação Cultural (PROAC).
About Academia provoca uma reflexão por meio da arte sobre o sistema acadêmico e universitário estadunidense, mais especificamente sobre a dualidade público/privado, assim como as complexas relações que existem entre a produção do conhecimento e os interesses econômicos que influenciam a educação em suas diferentes formas de pedagogia. A videoinstalação de Muntadas considera o possível conflito entre uma faculdade (e seus valores) e uma administração (e seu poder). Para fazer uma circulação proveitosa do projeto em universidades que não sejam norte-americanas, Muntadas propõe mesas de debates que contextualizam os conflitos e dificuldades próprias do sistema universitário que o hospeda, confrontando com outros modelos em contextos e culturas diferentes.
O projeto é composto por dois conjuntos de projeções e publicações. Enquanto About Academia I (2011) aborda estas questões a partir da perspectiva de professores e acadêmicos, About Academia II (2017) aprofunda seus temas exclusivamente do ponto de vista dos estudantes. Devido à pandemia da COVID-19, a primeira exposição deste projeto no Hemisfério Sul se realiza através de uma sala virtual, em site onde também é possível acessar as três mesas redondas que ocorrem nos dias 30 de abril e 10 de maio, e onde estão disponibilizadas duas publicações bilíngues com as transcrições completas das falas dos entrevistados, dentre eles Noam Chomsky, David Harvey, Carol Becker, Ute Meta Bauer, além dos estudantes.
A criação da videoinstalação imersiva, online e interativa dá protagonismo aos dois conjuntos: About Academia I (2011) e About Academia II (2017). Respeita assim a duração dos tempos dos vídeos originalmente desenvolvidos pelo artista para a sua existência em um espaço físico real. Deste modo, apesar da interatividade de navegação, não é possível ao visitante o controle dos vídeos projetados. A experiência estética na virtualidade possui, portanto, correspondência com o tempo-real do espaço expositivo analógico.
PUBLICAÇÕES
As publicações nas versões em espanhol e português estão acessíveis parcialmente no site da exposição. Para que se tenha acesso integral, é necessário comprá-las por um preço simbólico. O link para esta compra é feito por meio do site da exposição.
PROGRAMAÇÃO
As mesas redondas serão transmitidas pelo site da exposição e em seguida estarão disponíveis diretamente por este site e nos sites dos realizadores (IEA-USP, Biblioteca Brasiliana e Fórum Permanente).
Que universidade queremos?
sexta-feira dia 30 de abril das 14h às 17h
● Néstor Garcia Canclini (México) - antropólogo, filósofo, catedrático do IEA-USP
● Eliana Sousa Silva - educadora, ativista socio-cultural, catedrática do IEA-USP
● Macaé Evaristo educadora, ex-Secretária Estadual de Minas Gerais
● Ailton Krenak - filósofo, ambientalista, liderança indígena
● Antoni Muntadas (artista)
● Martin Grossmann (moderação)
Intercontinental Academia
segunda-feira, dia 10 de maio das 9h às 12h
● Nikki Moore (EUA) historiadora da Arte - Wake Forest University (ICA-UBIAS)
● Érica Peçanha (Brasil) antropóloga, pós-doutora IEA-USP
● David Gange (Inglaterra), historiador Birmingham University (ICA-UBIAS)
● Julia Buenaventura (Colômbia) - historiadora da arte - Universidad de los Andes
● Mariko Murata (Japão) - Teórica da Mídia e Museus - Kansai University
● Martin Grossmann (moderação)
Universidade e contexto
segunda-feira, dia 10 de maio, das 13h30 às 16h
● Naomar de Almeida Filho -epidemiologista, ex-reitor da UFBA, catedrático IEA-USP
● Helena Nader - biomédica, vice-presidente da ABC, catedrática do IEA-USP
● Guilherme Wisnik - arquiteto, curador, professor da FAU-USP
● Renato Janine Ribeiro (moderação), filósofo, ex-Ministro da Educação (FFLCH-USP)
Antoni Muntadas: About Academia I-II, uma Interpretação Online, 2011-2017 (2021)
De 30 de abril a 31 de outubro de 2021
culturadoria: Martin Grossmann (Fórum Permanente-FP)
produção executiva (Brasil): Diego Kerchove (FP)
produção executiva (Espanha): Andrea Nacach
projeto digital: Arthur Lauriano do Carmo (coordenação - FP)
design: Arthur Lauriano do Carmo (FP) e Raul Luna
programação: Marcela Mancino
acesso site: https://aboutacademia.iea.usp.br/
Antoni Muntadas (1942, Barcelona, Espanha – vive e trabalha em Nova York)
Estudou na Escuela Técnica Superior de Ingenieros Industriales de Barcelona e no Pratt Graphic Center de Nova Iorque. Pioneiro no uso do vídeo, desde metade dos anos setenta, sua produção se expandiu para o uso de várias linguagens plásticas, meios e suportes, tendo a intervenção no espaço público uma de suas mais radicais formas de crítica cultural.
Muntadas é artista e professor de comprovado reconhecimento, tendo sido convidado a ministrar cursos, workshops e palestras em várias das mais importantes escolas de arte e museus do mundo, como no Massachusetts Institute of Technology - School of Architecture em Cambridge, Massachussets, onde ministrou a disciplina ‘Seminar on Public Art’ (início 2001); é conferencista regular do Cornell University Seminars no programa ‘Dialogues Art and Architecture’ (início 2006) e professor da IUAV Veneza, Itália, (início 2004). Sua obra tem sido exposta em todo o mundo, em eventos como a Bienal de Veneza (1976) onde mais tarde em 2005 ocupou todo o pavilhão espanhol; a Documenta de Kassel (VI e X Edições); a 16ª Bienal de São Paulo e Bienais de Havana e Lyon. Expôs, entre outros, no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, no Museu de Arte de Berkeley, na Califórnia, no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia de Madrid, e no MACBA de Barcelona. É considerado o pai da net.art espanhola e se define como ‘um tradutor de imagens do que passa no mundo contemporâneo’.
Recebeu inúmeras bolsas e prêmios, como o Prêmio Nacional de Artes Plásticas 2005, concedido pelo Ministério da Cultura da Espanha por sua trajetória artística e por ser um dos mais inovadores artistas do panorama espanhol. Além disso, Antoni Muntadas tem uma longa trajetória de diálogo com a América do Sul, em especial o Brasil, país que abriga seu trabalho desde o final dos anos sessenta e onde, por várias vezes, realizou exposições e ministrou cursos em museus, bienais, instituições, inclusive como convidado pelo Departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da USP nos anos de 1996 e 1987 e 1992. Entre as conferências ministradas em outras instituições no Brasil destacam-se as da Universidade de Brasília em 2002 e 2003, do Museu de Arte Contemporânea de Niterói em 2001 e do evento de arte pública ‘Artecidadezonaleste’, em 1999, onde também desenvolveu proposta artística. É artista representado pela Galeria Luisa Strina onde, desde os 1970, expõe regularmente.
Fórum Permanente
O Fórum Permanente - FP, é uma plataforma flutuante e ubíqua para a pesquisa, crítica, ação / mediação cultural e memória cultural, atuando, nacional e internacionalmente, em diferentes níveis do sistema da arte e cultura contemporâneas. Se firmou nesse cenário como uma interface cultural, que se constitui, de forma híbrida e simultânea, como uma ágora, um museu-laboratório, uma revista multimídia, uma biblioteca, um arquivo vivo. Em seu site de referência nacional e internacional
Instituto de Estudos Avançados da USP
Criado em outubro de 1986, o Instituto de Estudos Avançados da USP promove a pesquisa interdisciplinar e realiza conferências abertas à comunidade. Com sede na Cidade Universitária e polos em Ribeirão Preto e São Carlos, é um local de reflexão, onde se cultiva o estudo e o interesse em debater, pensar e incubar, quando pertinente, soluções para o país. Esse trabalho se dá por meio das atividades de suas cátedras e dos pesquisadores que atuam nos grupos ou de forma independente, seja como pesquisadores colaboradores, professores sêniores ou no Programa Ano Sabático. Atualmente, o IEA tem seis cátedras, 33 grupos de estudos e pesquisa e três núcleos de apoio à pesquisa. Desde 1989, publica a revista quadrimestral “Estudos Avançados”, interdisciplinar assim como o Instituto e uma das campeãs de acesso na plataforma SciElo. Por sua porosidade, o IEA é uma das principais interfaces da USP com a sociedade, da qual faz parte.
A Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin
Aberta ao público em 2013, a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) é um órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo (USP). Foi criada em janeiro de 2005 para abrigar e integrar a coleção brasiliana reunida ao longo de mais de oitenta anos pelo bibliófilo José Mindlin e sua esposa Guita. Com o seu expressivo conjunto de livros e manuscritos, a brasiliana reunida por Guita e José Mindlin é considerada a mais importante coleção do gênero formada por particulares. São cerca de 32 mil títulos que correspondem a 60 mil volumes, aproximadamente. Parte do acervo doado pertencia ao bibliófilo e bibliotecário Rubens Borba de Moraes, em quem José Mindlin reconhecia “uma espécie de irmão mais velho”, dono de “um amor aos livros e à leitura muito parecido com o meu”. A biblioteca formada por José Mindlin ao longo de sua vida estava organizada em quatro principais vertentes temáticas: assuntos brasileiros, literatura em geral, livros de arte, e livros como objeto de arte em virtude de seus traços tipográficos, de sua diagramação, ilustração, encadernação etc. O acervo doado à USP em 2006 permanece uma biblioteca viva, conforme os ideais de José Mindlin, adquirindo novos títulos e coleções que dialoguem com as vertentes iniciais do acervo, reunindo material sobre o Brasil ou que, tendo sido escrito e/ou publicado por brasileiros, seja importante para a compreensão da história e cultura do país.
Laura Belém na Athena, Rio de Janeiro
A Galeria Athena inaugura, no dia 15 de abril, a exposição online O tempo é agora, tempo de espera, de Laura Belém. A mostra contará com onze trabalhos produzidos entre 2017 e 2020, sobre papel, fotografias, colagens, monotipias e vídeo, que convidam o espectador a pensar sobre o diálogo com a natureza, o tempo, a transiência e um espaço entre as coisas. Como cita Laura Belém em texto que acompanha a exposição “a natureza não é uma temática em si em minha poética, mas uma ponte com o mundo, e por isso considero que os trabalhos são criados a partir da natureza, em diálogo com ela, e não sobre ela”.
Os trabalhos em exposição sugerem histórias e relações com o mundo. Todos se originam por algo que atravessou a artista, por uma impressão que ficou, ou por um sentimento que pede para ser revisitado. O movimento presente em algumas composições (por mais estáticas que sejam) quase sempre começa fora do ateliê da artista em suas andanças. O deslocamento proporciona um exercício experimental e coloca o corpo e o olhar em ação, instigando a percepção do espaço, a coleta de elementos e a criação de novas narrativas. Os trabalhos apresentados na mostra online não partem de um roteiro prévio, e por isso acabam sendo potencializados pelo acaso. “As reflexões sobre o tempo, a natureza, o movimento e a existência sempre me acompanharam e estiveram presentes em meus trabalhos. E ainda que os trabalhos aqui reunidos derivem dessa fonte de inspiração comum, isso não ocorre de uma forma racional ou deliberada. Cada um deles é motivado por situações distintas, e o que eles comungam é uma relação entre o campo estrutural e o sensível”, explica Laura Belém.
O Online Viewing Room visa conectar o espectador, independente do lugar de onde esteja, ao processo criativo de Laura Belém. O tempo é agora, tempo de espera traz um recorte recente da produção da artista e pontua sua relação com o mundo com a função da própria arte.
Laura Belém
Dentre as suas principais exposições estão: 2016 - História Curtas (Galeria Athena - Rio de Janeiro, Brasil); 2015 - Anekdota (Capela Morumbi - São Paulo, Brasil); 2014 - Limited Visibility (CAM Raleigh Contemporary Art Museum - Raleigh, E.U.A.); 2013 - Amor e Ódio a Lygia Clark, (Zacheta National Gallery of Art - Varsóvia, Polônia); 2012 - The Temple of a Thousand Bells (York St Mary’s - York, Reino Unido); 2011 - A Outra Paisagem (Galeria Luisa Strina - São Paulo, Brasil); Viewpoint (Cisneros Fontanals Art Foundation - Miami, E.U.A.); 2010 - The more things change (San Francisco Museum of Modern Art - São Francisco, E.U.A.); 2007 - VI Bienal de Artes Visuais do Mercosul (Porto Alegre, Brasil); 2005 - 51st Venice Biennale (Veneza, Itália); entre outras. Dentre os prêmios recebidos pela artista, está o CIFO Grants and Commissions Program / “Emerging Recipients” da Cisneros Fontanals Art Foundations (2011 - E.U.A.).
abril 25, 2021
Raul Mourão na Nara Roesler NY, EUA
Nara Roesler tem o prazer de anunciar Empty Head, primeira individual de Raul Mourão em sua sede em Nova York e que estará em exibição de 26 de abril a 19 de junho de 2021. A exposição traz uma seleção de trabalhos recentes do artista capazes de sintetizar e conectar sua abordagem formal com um discurso político engajado com a atualidade.
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Em Empty Head, Nara Roesler apresenta duas séries de esculturas criadas por Mourão durante o período de isolamento social, devido à pandemia do covid-19. A primeira série, intitulada Rebel, reúne três esculturas realizadas em aço corten com peso aproximado de 1 tonelada, que foram criadas em homenagem à casa de música experimental Audio Rebel, no Rio de Janeiro. Segundo o artista, essa produção recente se aproxima de uma gramática maquínica, com mais peso e matéria, capazes de criar maior embaralhamento visual e tom mais ameaçador.
Mourão ressalta que muito mais do que trabalhos cinéticos, esses são objetos interativos, cuja dinâmica depende do toque e da interação do público. Para o artista, o engajamento do observador é uma metáfora de seu próprio engajamento na sociedade. Ele acredita que a confusão visual criada pelo movimento das esculturas nos convoca a refletir sobre o desnorteamento experienciado em cenários que se alteram constantemente, devido à aceleração e à saturação de informações. O peso das peças nos faz pensar não só na gravidade como força física, mas nos leva a refletir sobre relações de movimento e estabilidade, peso e leveza, violência e cuidado, e, por fim, vida e morte.
Em oposição às esculturas em grande escala da série Rebel, o artista apresenta também um conjunto de obras cinéticas mais frágeis e delicadas, realizadas em vidro e aço. Ao incorporar objetos do cotidiano como bases de suas estruturas pendulares, Mourão reafirma a ironia e o nonsense como elementos da sua poética artística.
Também integra a mostra The New Brazilian Flag #3, trabalho que reelabora e ressignifica a bandeira do Brasil e que teve início em uma ação realizada durante o carnaval de 2018, no Rio de Janeiro. Durante a festividade, Mourão fotografou uma bandeira do país em que se encontravam subtraídos o círculo no centro, com as estrelas representativas dos estados e o lema positivista “ordem e progresso”. O trabalho havia sido disposto pelo artista nos Arcos da Lapa, cartão postal da cidade e tradicional bairro boêmio, cenário de acontecimentos artísticos e políticos. Nos anos seguintes, Mourão desdobrou o motivo em diferentes composições e arranjos, atualizando o trabalho de acordo com o contexto político atual e o modo como o Brasil enfrenta a crise sanitária.
No vídeo Bang Bang (2017), uma sequência de esculturas do artista feitas com garrafas de vidro e estruturas de metal são destruídas por um atirador profissional em um estúdio de tiro. A produção cuidadosa nos leva a refletir sobre a violência, seja em sua forma institucional generalizada, seja de modo mais específico, pelo atual contexto de sistemático ataque às manifestações artísticas no Brasil. As construções visuais de Mourão têm a capacidade de nos levar a refletir sobre o sistema das artes, assim como a sociedade em um sentido mais amplo, resultando em críticas diretas atreladas à possibilidades de se imaginar o futuro.
Nara Roesler is pleased to announce Empty Head, Raul Mourão’s first solo exhibition in its New York gallery, from April 27 until June 19, 2021. The presentation includes recent works that synthesize and connect Mourão's formal investigations to a political critique of contemporary issues.
Empty Head showcases two series of sculptures created by Mourão during the social isolation period due to the Covid-19 pandemic. The first series, titled Rebel, brings together three sculptures made of corten steel that weigh approximately 1 ton each. They were created in honor of the experimental music venue Audio Rebel, in Rio de Janeiro. According to the artist, the recent works are closer to a machinic grammar that brings in more weight, uses more material, and generates greater visual shuffling, as well as a more intimidating tone.
Mourão argues that the works are more than kinetic sculptures, positing them as interactive objects whose dynamism depends on the audience’s touch and interaction. For Mourão, public engagement with the sculptures is a metaphor for his own engagement with society. He believes that the sculptures’ movements might instigate a consideration about the bewilderment, we experience when facing a constantly changing reality, that is accelerated and saturated with information. The sculptures’ weight, while making use of gravity as a physical force invite the audience to ponder about movement and fixity, weight and lightness, violence and care, and ultimately life and death.
In opposition to the large-scale sculptures of the Rebel series, the artist also presents a set of more fragile and delicate kinetic works, made of glass and steel. By incorporating everyday objects as the bases of his pendular structures, Mourão reaffirms the irony and the nonsense as structural elements in his practice.
The New Brazilian Flag #3, a work that resignifies the Brazilian flag, is also part of the exhibition and was created during the 2018 Rio de Janeiro carnival. At the festivity, Mourão displayed the country’s flag without its central starry blue circle, which represents the federations and holds the inscription ‘order and progress.’ The work was first installed at Arcos da Lapa, one of Rio de Janeiro’s postcards, a traditional bohemian neighborhood, and the scenario of several artistic and political events. In the following years, the artist unfolded the same motif into different compositions and arrangements, which updated the work vis-à-vis the actual political context and how Brazil is dealing with the sanitary crisis.
In the video Bang Bang (2017), a sequence of glass bottles and metal sculptures are destroyed by a firearm in a training facility. The work’s careful production invites us to think of violence, be it in a broad institutional sense or more specifically, connected to the systematic attack on arts and culture in Brazil. Mourão’s visual constructions seek to breed reflections on the art system and society as a whole. They also pose poignant criticism tied to new ways of imagining the yet-to-come.
abril 24, 2021
Roberto Magalhães na Silvia Cintra + Box 4, Rio de Janeiro
É com enorme satisfação que a galeria inicia seu calendário de 2021. A primeira exposição individual do ano marca também a estreia de Roberto Magalhães na galeria. Para a mostra, foram selecionadas apenas obras inéditas deste grande artista brasileiro, que acaba de completar 81 anos.
Roberto Magalhães desde muito jovem já mostrava uma inegável vocação para o desenho, mas aos 20 anos decidiu abandonar de vez os estudos para se dedicar exclusivamente a essa prática. Surgiram aí os primeiros trabalhos profissionais, como rótulos de garrafas e pequenas peças promocionais feitas à mão. Em seguida vieram as capas de discos, livros, logomarcas e anúncios.
Paralelo a estes trabalhos, Roberto também desenvolvia uma série de desenhos em nanquim, que retratavam seu universo de sonho, fantasia e simbolismo. Esses desenhos só foram exibidos em 1962 na galeria anexa ao Museu Nacional de Belas Artes, quando o artista se aproximou pela primeira vez do universo das artes plásticas.
A partir desse momento, Roberto se aproximou de diversos artistas e participou de várias mostras, até que veio a revolucionária exposição “Opinião 65” no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Ao lado de artistas como Antonio Dias, Rubens Gerchman e Carlos Vergara, Roberto foi responsável por inaugurar uma nova linguagem na arte brasileira, a Nova Figuração.
Apesar do reconhecimento de seu trabalho, em 1969, Roberto decide abandonar a produção artística e se dedica a meditação e ao budismo, sendo inclusive um dos fundadores da Sociedade Budista do Brasil. Após 4 anos dedicados a funções administrativas do Centro, que pouco condiziam com seu temperamento introspectivo, Roberto decide voltar para seus desenhos e pinturas, que passam a trazer reflexos e influencias de sua experiência mística.
É também nesse período que o artista inicia a produção de cadernos manuscritos e ilustrados onde registra seus estudos sobre homeopatia, plantas medicinais, cabala e alquimia. Esses registros continuam a ser feitos até os dias de hoje.
A partir da década de 80, Roberto passa a se dividir entre a vida urbana e longos períodos de reclusão nas montanhas de Visconde de Mauá, onde continuou a produzir ininterruptamente ao longo das décadas seguintes. Nos anos 2000, além das suas conhecidas figuras, vasos de flores e cenas fantásticas, começam a surgir na sua obra também um mundo de imagens abstratas que segundo o artista se acumulavam em seu interior desde sempre.
São essas imagens, pouco conhecidas ainda do público que acompanha sua obra, que poderão ser vistas na exposição da galeria. Ao todo serão 12 guaches e 3 pinturas feitos especialmente para a mostra.
Também fará parte da mostra o filme “Ver Ouvir Roberto Magalhães”, do cineasta Antônio Carlos da Fontoura. Em 26 minutos, o filme faz uma retrospectiva sobre a obra de Roberto Magalhães, conduzindo o espectador ao cotidiano fantástico do artista.
Roberto Magalhães, ao longo dos seus 60 anos de carreira, participou de inúmeras mostras no Brasil e no exterior. Considerado um dos principais artistas históricos nacionais, suas obras fazem parte do acervo das principais coleções e museus brasileiros.
Reabertura Fortes D’Aloia & Gabriel
A Fortes D’Aloia & Gabriel reabre as suas portas na Barra Funda, em São Paulo, depois de nove meses de reforma. A reinauguração do Galpão faz parte da estratégia de reestruturação da galeria, que agora concentra a programação de exposições num único endereço em São Paulo, além de seu espaço no Rio de Janeiro, a Carpintaria.
Inaugurado em 2008, o Galpão expandiu o eixo do circuito cultural da cidade ao oferecer uma experiência única de uma galeria dentro de um depósito de obras de arte, com todas as dependências abertas ao público. Para a reforma, o galpão de 1500 m2 foi redesenhado junto ao arquiteto Rodrigo Cerviño (do escritório TACOA), autor do projeto original. Além da divisão de dois espaços expositivos distintos - estruturados com painéis móveis de acordo com a proposta de planta livre que pode ser redesenhada a qualquer momento -, a galeria inaugura uma ampla área especialmente dedicada à demonstração de obras, com teleiros autoportantes que circulam pelo espaço.
Paredes brancas em planos articuláveis, os teleiros são parte do projeto arquitetônico, seguindo uma premissa museológica. Ao mesmo tempo que permitem uma melhor visualização das obras, eles também podem ser reconfigurados formando ambientes distintos. O espaço antes ocupado pelo escritório se transformará em uma reserva técnica com mapotecas e uma sala de reunião. A galeria segue com o trabalho de catalogação de uma biblioteca especializada em títulos de arte que em breve estará disponível para consulta pública. No jardim, a empena servirá de suporte para projeção de filmes ao vivo dando sequência ao projeto fdag-film, plataforma dedicada a vídeos e filmes de artistas lançada em dezembro passado em formato online, que agora se estende para o Galpão da Fortes D'Aloia & Gabriel.
A programação de 2021 inclui sete mostras individuais e uma mostra coletiva. As exposições de Yuli Yamagata e Luiz Zerbini estão previstas para abrir a partir de maio. Antes disso, poderão ser apreciadas online.
abril 23, 2021
Yuli Yamagata no Fortes D’Aloia & Gabriel - Galpão, São Paulo
Em sua primeira exposição individual na galeria, a paulistana Yuli Yamagata apresenta 18 novas obras que arquitetam complexas relações entre a pintura, a escultura e o espectador. Ao longo dos últimos meses, a artista se debruçou, dentre outras referências, sobre a obra de David Lynch, trazendo para o corpo de trabalho da mostra algo do universo intangível proposto pelo cineasta. Nas palavras da artista: “Me interessa como o mistério se desenrola. É algo que você não entende, mas está no ar. Meu desejo é que as obras não sejam imediatamente digeridas. A continuação do trabalho não se dá nele próprio, mas em quem observa.”
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Desconectada de uma narrativa linear e vivendo a expectativa de um cotidiano funcional que não chega, Yamagata se apropria da incerteza e faz desse lugar de suspensão seu campo de experimentação. O fazer da obra é pautado pela experiência tátil, pela construção de volumes e fragmentos gerando imagens corpóreas que projetam-se da tela diretamente para o espaço. A costura desempenha papel central no vocabulário pictórico da artista. Yamagata lança mão de mecanismos para explorar a tensão entre plano e tridimensionalidade, um eventual estiramento dos fios é transformado em cicatriz, sobras de tecidos ganham recheio, dando forma e volume à tela.
Na obra Summer Sweaty Dream, um relevo de veludo, seda e elastano engendra a imagem de um enorme esqueleto que, apesar de morto, contempla flores brotando do solo. Entre a forma e a sensorialidade, constitui-se uma cena contundente, reflexiva do momento atual. A indistinção entre realidade e sonho, característica da linguagem dos mangás japoneses, informa as composições da artista. Yamagata se aprofunda em suas origens nipônicas também ao resgatar a técnica milenar japonesa conhecida como shibori (popularizada pelo nome de tie-dye). A temática do ciborgue, parte orgânico parte cibernético, nomina algumas obras da exposição e permeam a sua própria constituição. Na obra Cyborg trabalhando (2021), por exemplo, um braço musculoso feito de sobressaltos de elastano é costurado em alto contraste à superfície artesanal do tie-dye ao fundo.
Nesse novo corpo de trabalho, além do corte e preenchimento de tecidos variados como seda, crepe e veludo, a inserção do desenho e da pintura incorpora novos desafios à prática da artista. Insônia (2021), a obra que titula a exposição, reúne os elementos recorrentes da costura aos fragmentos de corpos e monstros desenhados freneticamente na tela. Jogando com a hipérbole e a sua capacidade para o absurdo, Yamagata surpreende, assalta e confunde o espectador.
Yuli Yamagata (São Paulo, 1989) vive e trabalha em São Paulo. Entre suas principais exposições individuais estão: Nervo, Mac Niteroi (Rio de Janeiro, 2021); Bruxa, Madragoa (Portugal, 2020); Microwave Your Friends, Invitro Gallery (Cluj, Romênia, 2019); Tropical Extravaganza: Paola & Paulina, SESC Niterói (2018); Stickers Album, CCSP (São Paulo, 2016); Sem Cerimônia, MARP (Ribeirão Preto, 2016). Em setembro de 2021 abre uma individual na Anton Kern, em Nova York.
In her first solo show at the gallery, Yuli Yamagata presents 18 new pieces that establish complex relationships between painting, sculpture, and the viewer. Over the past few months, the artist looked closely at the oeuvre of David Lynch, bringing to this body of work something of the intangibility of the filmmaker. In her words: “I’m interested to see how the mystery unfolds. Something one can’t understand but is there. I like the pieces not to be immediately absorbed. The work doesn’t linger in itself but within the viewers.”
Unconnected to a linear narrative and expecting a functional daily routine that never comes, Yamagata appropriates the uncertainty and makes this suspended place her test field. Making the work comes from tactile experience, the construction of fragments and volumes that create corporeal images that project themselves from the canvas. Seaming is key to her pictorial lexicon. Yamagata employs systems to explore the tension between plane and three-dimensionality -- an eventual stretch of the threads transforms into a scar, fabric scraps are cushioned, providing the canvas with shape and volume.
In Sweaty Dream, a velvet, silk, and spandex relief engender the image of a massive skeleton that, though dead, stares at flowers blooming from the ground. An overwhelming scenario that reflects upon current times set between shape and sensoriality. The lack of distinction between dream and reality, featured in Japanese mangas, conveys those compositions. Yamagata also dives deep into her Japanese roots as she revives the ancient Japanese technique known as shibori (popularly known as “tie-dye”). The cyborg theme, the half organic and half cybernetic, gives some works their titles and permeates their coming into being. In Cyborg at Work (2021), for example, a muscular arm made of spandex cushions is sewn-on to contrast with the artisanal surface of the tie-dye background.
Drawing and painting, cutting, and cushioning various fabrics -- such as silk, crepe, and velvet -- bring new challenges to Yamagata in this body of work. Insomnia (2021), which gives the exhibition its title, combines sewing elements with fragments of bodies and monsters frantically drawn on the canvas. Playing with hyperbole and its disposition to absurdity, the artist never ceases to surprise, assail, and baffle the viewer.
Yuli Yamagata (São Paulo, 1989). Lives and works in São Paulo. Noteworthy solo shows include: Nervo, Mac Niteroi (Rio de Janeiro, 2021); Bruxa, Madragoa (Portugal, 2020); Microwave Your Friends, Invitro Gallery (Cluj, Romania, 2019); Tropical Extravaganza: Paola & Paulina, SESC Niterói (2018); Stickers Album, CCSP (São Paulo, 2016); Sem Cerimônia, MARP (Ribeirão Preto, 2016). In September 2021 she will have a solo show at Anton Kern Gallery in New York.
Luiz Zerbini no Fortes D’Aloia & Gabriel - Galpão, São Paulo
A Fortes D’Aloia & Gabriel tem o prazer de apresentar uma exposição de trabalhos emblemáticos dos anos 1990 do artista paulista Luiz Zerbini. O segundo espaço expositivo do Galpão é ocupado por quatro trabalhos que têm em comum uma narrativa pessoal marcante e exploram o conceito do autorretrato, gênero clássico no cânone da história da pintura.
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Ao explorar o conceito do autorretrato, Luiz Zerbini passa para a tela algo que simbolize a pessoa e não necessariamente sua semelhança em traços hiper-realistas. Neste contexto, a figura da caveira é recorrente como forma de representar o outro e a si próprio, uma referência direta ao momento mori, argumento icônico cuja expressão do latim significa algo como “lembre-se de que você é mortal”. Nas obras Eu e a brisa (1997) e Iai Brother (1997), por exemplo, um esqueleto humano encara o espectador.
A figura do artista aparece também em diálogo com a paisagem, relação que fica evidente em Brasil Colônia (1993). A tela de mais de 6 metros revela o cotidiano de Zerbini durante uma viagem à feira de Colônia, Alemanha, marcando um momento de inflexão em sua carreira. O título da obra tem duplo sentido e ecoa seu sentimento à época, quando visitava a sua primeira feira de arte internacional. Durante os dias que esteve na cidade, o artista estabeleceu uma rotina de caminhadas e visitas a museus. Ele se baseou em fotos tiradas então para reconstruir o panorama que vemos, misturando aspectos do seu dia a dia que hoje ganham um viés histórico.
O retrato e as narrativas cotidianas se desdobram nas pinturas figurativas de alta saturação e intensidade apresentadas em mostras recentes -- Amor (MAM Rio de Janeiro, 2012), Amor lugar comum (Inhotim, 2013-2018) e sua apresentação solo na coletiva Nous les Arbres (Fondation Cartier pour l'art contemporain, 2019). Objeto da exposição que ocupa o Galpão, o repertório do autorretrato permeia todos esses estilos pictóricos e é ainda hoje elemento recorrente em seus trabalhos, como visto em Suicida alto astral (2006) e Pau D’água (2019), obras atuais nas quais vestígios de seu próprio corpo são inseridos em meio a composições geométricas.
Luiz Zerbini (São Paulo, 1959) vive e trabalha no Rio de Janeiro. Entre suas principais exposições estão: Fire, Stephen Friedman Gallery (Nova York, 2021); Nous les Arbres na Fondation Cartier pour l’art contemporain (Paris, 2019); Intuitive Ratio na South London Gallery (2018); Amor lugar comum, Inhotim (2013-2018); Amor, MAM Rio de Janeiro (2012).
Fortes D’ Aloia & Gabriel is pleased to present an exhibition of iconic artworks from the 1990s by São Paulo artist Luiz Zerbini. The second gallery at Galpão hosts four pieces that share a remarkable personal narrative and explore the concept of self-portrait, a classical genre from the history of painting.
As he delves deep into the theme, Zerbini seeks to bring something that utterly represents the sitter, though not necessarily in a hyper-realistic style. In this context, the skull is a recurrent way to picture others and himself, a direct reference to memento mori, another iconic concept whose Latin adage stands for something like “remember you are mortal.” For instance, Eu e a brisa (1997) and Iai Brother (1997) each feature a skeleton that stares back at the viewers.
The artist also dialogues with the landscape, a connection that becomes evident in Brasil Colônia (1993). The 20 ft wide canvas reveals Zerbini’s routine during a trip to the Art Cologne, in Germany, marking a turning point in his career. The title is a pun that echoes his feelings during his first visit to an international art fair. In the days he was in town, the artist established a routine of long walks and visits to museums. He then used the photos he took to reconstruct the landscape displayed, combining aspects from his daily routine that now gain a historical bias.
Those portraits and the figurative paintings presenting narratives of daily life have since developed into intense, highly saturated figurative paintings. The works were shown in recent exhibitions – Amor (MAM, Rio de Janeiro, 2012), Amor lugar comum (Inhotim, 2013-2018), and his solo presentation in the group exhibition Nous les Arbres (Fondation Cartier pour l’art contemporain, 2019). Self-portraiture, which is the primary focus of the current exhibition, remains a recurrent element in the work of Zerbini. Suicida alto astral (2006) and Pau D’água (2019) are examples of more recent paintings where traces of the artist’s body appear among geometric compositions.
Luiz Zerbini (São Paulo, 1959) Lives and works in Rio de Janeiro. Recent important exhibitions include Fire, Stephen Friedman Gallery (London, 2021); Nous les Arbres, at Fondation Cartier pour l’art contemporain (Paris, 2019); Intuitive Ratio, South London Gallery (2018); Southern Geometries, from Mexico to Patagonia (2018), at Fondation Cartier Pour L’Art Contemporain in Paris; Amor lugar comum, Inhotim (2013-2018); Amor, MAM Rio de Janeiro (2012).
abril 22, 2021
José Damasceno na Pina Estação, São Paulo
A mostra acontece na Pina Estação e abrange obras inéditas e a montagem de trabalhos famosos pela primeira vez em São Paulo
A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, reabre no dia 24 de abril e inaugura José Damasceno: moto-contínuo na Pina Estação. A mostra, com curadoria de José Augusto Ribeiro, é a primeira a reunir um número representativo de obras da carreira do artista desde o início até aqui, com peças realizadas entre 1989 e 2021. Damasceno é um dos artistas brasileiros com maior inserção no circuito internacional de arte contemporânea, reconhecido pelas múltiplas linguagens com que opera, pela escala agigantada das peças, além do caráter reflexivo de seus trabalhos.
A exposição abrange cerca de 80 obras, cinco delas inéditas e 40 apresentadas pela primeira vez em São Paulo. Na seleção, estão esculturas, desenhos, instalações e fotografias, que se reportam ao cinema, à música, ao teatro, à arquitetura e ao próprio campo da arte. Grande parte desses trabalhos pertence hoje a coleções públicas e particulares do Brasil e do exterior.
O ineditismo fica por conta de 3 trabalhos com bordado de lã (Pontinho, de 2017); de uma escultura de pedra obsidiana, extremamente reflexiva, muito semelhante a um espelho negro (Sólido, de 2019); e de Monitor líquido, obra de 2021, realizada com derretimento de giz de cera.
Damasceno possui em sua trajetória obras memoráveis. Para a exposição, o visitante poderá ver trabalhos jamais vistos em São Paulo e outros que há anos não são apresentados na cidade. É o caso de Trilha sonora (2002), peça constituída de longas fileiras de martelo pregados na parede, formando o desenho de uma cordilheira. Essa obra foi montada na Bienal de São Paulo em 2002, e agora, 20 anos depois, o público poderá apreciá-la novamente.
Outro trabalho bastante conhecido de Damasceno é Snooker (2001), apresentado agora pela primeira vez na cidade e composto de uma mesa de sinuca, sobre a qual se derrama emaranhados de lã amarela de 2 mil novelos, pendentes de um par de luminárias presas ao teto da sala. Estreia também em São Paulo Método para arranque e deslocamento (1992/1993), produzida por meio de recortes de um carpete, instalado sobre o piso de uma sala inteira construída para a obra.
Além de Snooker, outras peças selecionadas pela curadoria são produzidas a partir de uma quantidade vultuosa de um determinado material. Como Monitor-crayon, formado por cerca de 75.000 bastões de giz de cera, e Paisagem crescendo, constituída por cigarros de aproximadamente 160 maços. “As obras têm uma presença física importante e se pronunciam no espaço com força, com energia. São visualmente atraentes e são, ao mesmo tempo, reflexivas, enigmáticas. Sugerem sentidos múltiplos e incongruentes e mobilizam faculdades diferentes da percepção do observador”, ressalta José Augusto Ribeiro, curador da exposição.
Ribeiro também aponta uma outra característica do artista que influenciou no nome da exposição. “Os trabalhos de Damasceno parecem vibrar, insinuam movimentações que são de propagação, deslocamento e metamorfose, embora sejam sempre estáticos. Então, mesmo parados, encontram-se em ação. O título, José Damasceno: moto-contínuo, refere-se a isso. A ideia de um engenho com funcionamento autônomo, sem a necessidade de um fator externo, e perpétuo, é uma utopia existente desde pelo menos o Renascimento e que, descobriu-se depois, contraria as leis da termodinâmica, formalizadas no século XVII. O que interessa então reter dessa noção é sua existência como ideia, como pensamento – como projeto de uma máquina com atividade constante, mas impossível, o que ajuda a pensar no que se passa nas obras de Damasceno”, completa.
DESENHOS E FOTOGRAFIAS
Para além das instalações e esculturas, José Damasceno: moto-contínuo traz um outro recorte importante de sua produção, que são os desenhos. A mostra reúne 26 desenhos (alternando ou combinando técnicas diversas, como nanquim, grafite, decalque) e 2 polípticos de serigrafia (com 12 imagens cada) feitos a partir de desenhos. A exposição explora também a relação entre o desenho e a escultura na obra de Damasceno – entre a representação bidimensional e a projeção de objetos no espaço tridimensional.
Muitas vezes, aliás, o artista desenha nas paredes do ambiente expositivo com objetos, com martelos e cigarros, por exemplo. Outra obra formada a partir da linguagem gráfica é a versão em carimbo de Organograma (2000-2021), em que as palavras “ontem, hoje e amanhã” são gravadas repetidamente em linhas na parede, como as ramificações de um vegetal, embaralhando o curso do tempo.
Já a fotografia é uma técnica incorporada recentemente à produção do artista. A exposição conta com três desses trabalhos, que datam de 2005 e 2006. As imagens constroem cenas e situações que são, ao mesmo tempo, misteriosas e cômicas. “Damasceno muitas vezes é associado ao surrealismo, à representação do fantástico, mas o que acontece com o trabalho dele é uma intensificação do real, relacionada não apenas ao absurdo que constitui a realidade, mas também a uma espécie de ampliação ou de exacerbação das coisas do mundo”, explica José Augusto Ribeiro. Além dessas fotos, a mostra apresenta um conjunto de intervenções gráficas realizadas por Damasceno sobre fotografias publicadas em uma revista francesa de decoração, na década de 50.
A mostra segue em cartaz até agosto deste ano na Pina Estação. Mesmo a entrada sendo gratuita, é preciso reservar o ingresso pelo site www.pinacoteca.org.br. A exposição José Damasceno: moto contínuo tem patrocínio do Itaú Unibanco.
JOSÉ DAMASCENO
José Damasceno Albues Júnior nasceu no Rio de Janeiro em 1968. O artista chegou a cursar arquitetura, mas não concluiu o curso. Foi na década de 90 que se voltou para as artes plásticas. No Brasil, passa a expor regularmente seus trabalhos a partir de 1993 e no exterior em 1995. Já participou de cinco Bienais de Arte, a Bienal de Veneza, Itália (2007); Bienal de Sydney, Austrália (2006); L’Esperienza dell’Arte na Bienal de Veneza, Itália (2005); Bienal do Mercosul, Porto Alegre (2003); e a 25ª Bienal de São Paulo, São Paulo (2002).
No Brasil, realizou mostras individuais em importantes equipamentos culturais como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2019); Santander Cultural, Porto Alegre (2015). No exterior, as suas obras já foram expostas no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madri, Espanha (2008) e no Holborn Library, Londres, Reino Unido.
Obras suas integram o acervo de grandiosas instituições culturais, como o Museum of Modern Art, Nova York; Museu d’Art Contemporani de Barcelona, Barcelona; Instituto Inhotim; e o Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo.
CATÁLOGO
Para esta mostra, foi produzido um catálogo que traz em suas páginas um ensaio visual concebido por José Damasceno especialmente para a publicação, composto de desenhos, fotografias e até um selo oficial dos correios desenhado pelo artista. Bilíngue (português e inglês), o volume traz dois textos inéditos: um do curador da exposição, José Augusto Ribeiro, e outro da renomada historiadora norte-americana da arte Lynn Zelevansky sobre os desenhos do artista e como eles se relacionam com suas outras linguagens, como as instalações e as esculturas. Além do ensaio visual e dos textos, o livro conta também com reproduções fotográficas de todas as obras apresentadas na exposição.
VISITANTES
O público terá a sua temperatura aferida, e quem estiver com temperatura acima de 37,2° e/ou mostrar sintomas e gripe/resfriado deverá buscar ajuda médica e não poderá acessar o museu. O uso de máscara será obrigatório em todos os espaços e durante toda a visita. Não será permitido tirar a máscara em nenhum momento, como por exemplo para fotografias/selfies. Os espaços terão álcool gel para a higienização das mãos, além de uma nova sinalização que indicará o sentido de circulação e o distanciamento mínimo de 1,5m entre pessoas.
abril 21, 2021
Restaurante do MASP A Baianeira inaugura delivery
A partir desta sexta, 23.4, o MASP A Baianeira passará a oferecer serviço de delivery –assim como a matriz, na Barra Funda. A entrega do restaurante comandado pela chef Manuelle Ferraz funcionará do café da manhã ao almoço de terça a domingo e será feita via Rappi e iFood.
No cardápio, estão pratos como a feijoada (R$ 69), a moqueca de peixe do dia (R$ 73), o frango de rolo orgânico (R$ 48), o baião de dois vegetariano (R$ 47) e o cuscuz de milho com ovo caipira (R$ 15,90).
Há ainda opções como o bolo de fubá orgânico com goiabada artesanal (R$ 14 cada), o beiju com queijo de Almenara, cidade natal de Manu (R$ 14,90 cada) e a matula de café da manhã com iogurte natural, granola artesanal, requeijão de corte na chapa, pão de queijo, pão de fermentação natural e banana da terra assada com melado e amêndoas (R$ 52).
Além do já clássico pão de queijo – a caixa com 12 unidades vem congelada e eles podem ir direto do freezer para o forno (R$ 37,80).
Todas as embalagens utilizadas são biodegradáveis.
A localização central aumentará o raio de alcance do restaurante na cidade, cuja matriz foi reconhecida por dois anos consecutivos (2019 e 2020) com o Bib Gourmand pelo Guia Michelin, prêmio que reconhece as casas com melhor custo-benefício.
Manu preza por ingredientes frescos, na sua grande maioria orgânicos, e iguarias provenientes do Vale do Jequitinhonha, como os queijos e polvilho, para fazer a sua cozinha popular brasileira. “Nossa cultura gastronômica é muito rica. A escassez do interior do Brasil gera preciosidade, mistura”, diz a chef, que afirma não seguir tendências, mas explorar o que considera autêntico e legítimo. “Para mim, as coisas funcionam se funcionam para mãinha, lá em Almenara.”
Confira o cardápio completo, que passará sempre por mudanças sazonais, na página do restaurante no Instagram @abaianeira.
Delivery MASP A Baianeira
Via Rappi e iFood
Das 9h às 15h de terça a sexta
Das 9h às 16h aos sábados e domingos
Cardápio completo em @abaianeira
Pedro Reyes na Luisa Strina, São Paulo
Um intenso ano de trabalho no atelier torna-se evidente na intimidade das novas esculturas de Pedro Reyes. Atraído pela riqueza mineral que conecta o México ao Brasil, Reyes esculpe diretamente em pedra, uma prática que existe há mais de trinta e cinco séculos no continente. Reyes estende sua prática social com o objetivo de revigorar o artesanato local por meio de um vocabulário visual mesoamericano que antecede o cânone colonial dominante da História da Arte, imaginando sua presença concreta nos dias de hoje.
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A Galeria Luisa Strina tem o prazer de anunciar a exposição de Pedro Reyes, composta de cerca de 20 esculturas. A terceira mostra individual do artista mexicano na galeria abre no dia 20 de abril e fica em cartaz até 12 de junho de 2021. Ao longo de sua carreira, Reyes desenvolveu uma narrativa que inclui esculturas, prática social, arte pública, teatro e desenho. Nesta exposição, Reyes explora um repertório escultórico modernista ao qual mescla alusões pontuais à cultura mexicana criando uma linguagem visual própria.
A exploração de Reyes nos processos da escultura continua a desafiar os cânones conceituais e materiais dos meios com os quais trabalha. Esculturas de superfície porosa finalizadas com cinzéis são acompanhadas de peças entalhadas de corte limpo, que evocam movimento lógico e dinamismo. Por empregar um sistema de nomenclatura reflexivo, os títulos permitem uma melhor compreensão da obra. Os destaques da exposição incluem Ponto e vírgula (2021), um sinal de ponto-e-vírgula esculpido em um único bloco de mármore branco, que encena um salto topológico da segunda para a terceira dimensão. A intersecção entre o ponto e a vírgula é uma conjuntura semântica. O ponto é uma parada, enquanto uma vírgula simboliza uma pausa.
Construcción (2021) é feita de pedra Tezontle vermelha; uma rocha retirada das minas vulcânicas em Texcoco (a leste da Cidade do México). O artista usa o material como ferramenta para comentar sobre a cosmogonia antiga, na qual a lava representava o sangue do planeta. Combinando esses dois fatos, Reyes reinterpreta seu significado. Em Sentinela (2021), Reyes dialoga com a tradição da figura sentada. O título alude ao guardião, um personagem silencioso, mas atencioso. Várias linhas formam duas variações da figura, simplificando a silhueta. Ao criar as duas cabeças com um círculo em um quadrado, alcança uma neutralidade de gênero. O museu de Diego Rivera, Anahuacali (casa no vale de Anahuac), e sua coleção de artefatos pré-colombianos foram uma referência importante para este conjunto de esculturas de pedra vulcânica.
As figuras antropomórficas inspiradas nas descobertas de Mezcala (uma civilização que antecede os olmecas) transmitem certas sensações e sentimentos por meio da quebra de simetria. Reyes enfatiza como a abstração e o objetivo de simplificar as figuras foram estudados séculos antes da Modernidade. As peças são esculpidas em pedra Tezontle púrpura, uma das rochas mais duras. Os buracos nestas obras adicionam uma textura sobrenatural.
Signal (2021) é esculpido em Jadeita, um tipo de pedra verde encontrada na Mesoamérica. Por meio desta escultura, uma caixa com uma representação abstrata da tela, Reyes combina técnicas antigas com referências contemporâneas. Como espécie, temos obsessão por controle e comunicação. Portanto, Signal é uma abstração da ideia, do ícone.
Abolition (2021) é criada em uma técnica que Reyes começou a usar recentemente, em que mistura metal e concreto. É a representação de duas mãos entrelaçadas como uma torre combinando linhas verticais e horizontais. O processo começa com a soldagem de peças de fios metálicos que formam uma moldura, buscando uma visualidade construtivista. Duas mãos juntas são um símbolo de cooperação, porque inúmeras coisas não podemos fazer sozinhos, mas a mão também tem muitos significados diferentes, dependendo de sua posição. Isso pode ser interpretado como concordância, que deriva de coração, em latim. O artista também reflete sobre a importância de ser um abolicionista hoje, quando temos visto um aumento do racismo. “Não é suficiente ser neutro. Devemos ser explicitamente abolicionistas, o que significa denunciar ativamente a supremacia branca e reconhecer o trabalho que deve ser feito para alcançar a equidade e a justiça reais. Portanto, essas duas mãos são um símbolo do abolicionismo que faz parte do processo inacabado de descolonização”, explica Pedro Reyes.
As culturas pré-hispânicas têm um papel essencial na obra do artista. Nesta exposição, Reyes consegue integrar a estética contemporânea com as tradições antigas enraizadas na cultura mexicana. Apresentando questões ontológicas abertas, Reyes leva à introspecção.
SOBRE O ARTISTA
Pedro Reyes (México D.F., 1972) é formado em arquitetura, mas se considera sobretudo um escultor, ainda que seus trabalhos reúnam elementos de teatro, psicologia e ativismo. Em 2008, Reyes exibiu pela primeira vez o projeto, que se tornaria antológico, Palas por Pistolas, no qual um total de 1.527 armas de fogo foram coletadas em uma campanha voluntária de desarmamento e destruídas para ser transformadas em pás para plantar 1.527 árvores. Este projeto teve sequência com Desarm (2012), trabalho para o qual um total de 6.700 armas foram desmontadas e convertidas em instrumentos musicais. Em 2013, o artista apresentou a primeira edição de pUN: Nações Unidas do Povo, no Queens Museum de Nova York. PUN é um congresso experimental em que cidadãos comuns atuam como delegados de cada um dos países nas Nações Unidas e buscam a aplicação de técnicas e recursos da psicologia social, teatro, artes e resolução de conflitos na geopolítica. Em 2016, realizou Doomocracy, uma obra de teatro imersivo comissionada pelo Creative Time. Além de sua prática artística, Pedro Reyes assina diversas curadorias e contribui com importantes publicações de arte e arquitetura.
Exposições individuais recentes incluem Return to Sender, Museum Tinguely, Basiléia (2020); Glyptotek, Lisson Gallery, Londres (2018); Recent works, Galeria Luisa Strina, São Paulo (2017); Doomocracy, Creative Time, Nova York (2016); Domingo Salvaje, La Tallera/SAPS, Cuernavaca (2016); For Future Reference, Dallas Contemporary (2016); pUN: The People’s United Nations, Hammer Museum, Los Angeles (2015); Sanatorium, The Power Plant, Toronto (2014); Sanatorium, Guggenheim Museum, Nova York (2011); The Permanent Revolution, Museo Jumex, Cidade do México (2014); Pharmasphere, Boston Museum of Fine Arts (2013); Os Terráqueos, Galeria Luisa Strina, São Paulo (2013).
Exposições coletivas recentes incluem Jing’an International Sculpture Project, Shanghai (2020); Think Twice, SCAD, Georgia (2019); Half the Picture: A Feminist Look at the Collection’, Brooklyn Museum of Art, New York (2018); Hors Pistes, Centre Pompidou, Málaga/Paris (2016); Transformers, MAXXI Museum, Roma (2015); Who interprets the world?, 21st Century Museum of Contemporary Art, Kanazawa (2015); Station to Station, Barbican Centre, London (2015); El Teatro del Mundo, Museo Tamayo, Cidade do México (2014); In the Spirit of Utopia, Whitechapel Gallery, Londres (2013); 12th Sharjah Biennial (2013); Liverpool Biennial (2012); Gwangju Biennial (2012); dOCUMENTA(13), Kassel (2012); Istanbul Biennial (2012).
Seu trabalho faz parte, entre outras, das coleções 21st Century Museum of Contemporary Art, Kanazawa; Brooklyn Museum, Nova York; Colección Jumex, Cidade do México; ICA Institute of Contemporary Art, Miami; Kadist Art Foundation, São Francisco; Bronx Museum, Nova York; Carnegie Museum, Pittsburgh; La Tallera/SAPS, Cuernavaca; MAXXI, Roma; Mac/Val, Vitry-sur-Seine; Museo Rufino Tamayo, Cidade do México; MUAC, Cidade do México; MFA, Boston; Walker Art Center, Minneapolis.
An intensive year of work at the studio becomes evident in the intimacy of Pedro Reyes´ new sculptures. Appealing to the mineral richness that connects Mexico to Brazil; Reyes employs direct carving in stone, a practice that has existed for over thirty-five centuries in the continent. Reyes extends his social practice aiming to reinvigorate local craftsmanship through a Mesoamerican visual vocabulary that predates the dominating colonial canon of Art History, imagining its concrete presence on this day and age.
Luisa Strina Gallery is pleased to announce the third exhibition by Pedro Reyes. The new sculpture show will open on April 22th and will remain on view until June 12th, 2021. Over the course of his career, Pedro Reyes has developed a narrative that includes sculptures, social practice, public art, theatre and drawing. On this exhibit Reyes presents a repertoire of sculptures that merge pointed allusions to Mexican culture creating his own visual language.
Reyes’ exploration in the sculptural process continues to challenge materials and conceptual canons of the mediums he works with. Sculptures with porous surfaces finished with chisels are accompanied of clean cut, carved pieces that evoke logical movement and dynamism. By employing a reflective naming system, the titles allow a better comprehension of the work. Highlights from the exhibit include Ponto e vírgula (2021), a semicolon carved from a single block of white marble, that traverses a topological jump from second to third dimension. The intersection between the dot and comma is a semantic conjuncture. The dot is a stop while a comma symbolizes a pause.
Construcción (2021), comprises red Tezontle; a rock taken from the volcanic mines in Texcoco (east of Mexico City). The artist uses the material as a tool to comment on ancient cosmogony where lava represented the blood of the planet. Combining these two facts, Reyes reinterprets its meaning. On Sentinela (2021), Reyes addresses the seated figure. The title translates to guardian, a silent yet attentive character. A number of lines form two variations of the figure, simplifying the silhouette. By creating both heads with a circle in a square, they attain gender neutrality. Diego Rivera´s museum Anahuacali (house in the valley of Anahuac) and his collection of Pre-Columbian artefacts was a significant reference for this set of volcanic stone sculptures.
The anthropomorphic figures inspired by the Mezcala findings (a civilization that predates the Olmec) convey certain sensations and feelings by breaking symmetry. Reyes emphasizes on how abstraction and the aim to simplify figures was studied centuries before Modernity. The pieces are carved out of purple tezontle which is one of the hardest stones. The holes in them add an unworldly texture.
Signal (2021) is carved in Jadeit a type of green stone found in Mesoamerica. Through this sculpture, which is a box with an abstract representation of the screen, Reyes combines ancient techniques with contemporary references. As a species we have an obsession with control and communication. Therefore, Signal is an abstraction of the idea, the icon.
Abolition (2021) is made in a technique that Reyes recently started using which is a mix of metal and concrete. It is the representation of two hands holding each other like a tower combining vertical and horizontal lines. The process starts by welding pieces of metal wires that create a frame, striving to achieve a constructivist approach. Two hands together are a symbol of cooperation because there are endless things one cannot do alone, but also, the hand has many different meanings depending on its posture. These can be interpreted as concordance which derives from heart in Latin. Reyes also reflects on the importance of being an abolitionist today because we have seen a rise of racism. “It is not enough to be neutral. We must be explicitly an abolitionist, which means to actively denounce white supremacy and to acknowledge the work that has to be done to achieve real equity and justice. Hence, these two hands are a symbol of abolitionism that is part of the unfinished decolonization process”, explains the artist.
Pre-Hispanic cultures have an essential role in Pedro Reye´s work. In this exhibit Reyes achieves to integrate contemporary aesthetics with ancient traditions rooted in Mexican culture. Posing open-ended ontological questions Reyes leads to introspection.
ABOUT THE ARTIST
Pedro Reyes (Mexico City, 1972) studied architecture but considers himself a sculptor, although his works integrate elements of theater, psychology and activism. In 2008, Reyes initiated the ongoing Palas por Pistolas where 1,527 guns were collected in Mexico through a voluntary donation campaign to produce the same number of shovels to plant 1,527 trees. This led to Disarm (2012), where 6,700 destroyed weapons were transformed into a series of musical instruments. In 2013, he presented the first edition of pUN: The People’s United Nations at Queens Museum in New York City. pUN is an experimental conference in which regular citizens act as delegates for each of the countries in the UN and seek to apply techniques and resources from social psychology, theater, art, and conflict resolution to geopolitics. In 2016, he presented Doomocracy, an immersive theatre installation commissioned by Creative Time. In addition to his artistic practice, Pedro Reyes has curated numerous shows and often contributes to art and architectural publications.
Recent solo shows include Return to Sender, Museum Tinguely, Basel (2020); Glyptotek, Lisson Gallery, London (2018); Recent works, Galeria Luisa Strina, São Paulo (2017); Doomocracy, Creative Time, Nova York (2016); Domingo Salvaje, La Tallera/SAPS, Cuernavaca (2016); For Future Reference, Dallas Contemporary (2016); pUN: The People’s United Nations, Hammer Museum, Los Angeles (2015); Sanatorium, The Power Plant, Toronto (2014); Sanatorium, Guggenheim Museum, Nova York (2011); The Permanent Revolution, Museo Jumex, Mexico City (2014); Pharmasphere, Boston Museum of Fine Arts (2013); Os Terráqueos, Galeria Luisa Strina, São Paulo (2013).
Recent group shows include Jing’an International Sculpture Project, Shanghai (2020); Think Twice, SCAD, Georgia (2019); Half the Picture: A Feminist Look at the Collection’, Brooklyn Museum of Art, New York (2018); Hors Pistes, Centre Pompidou, Málaga/Paris (2016); Transformers, MAXXI Museum, Roma (2015); Who interprets the world?, 21st Century Museum of Contemporary Art, Kanazawa (2015); Station to Station, Barbican Centre, London (2015); El Teatro del Mundo, Museo Tamayo, Cidade do México (2014); In the Spirit of Utopia, Whitechapel Gallery, Londres (2013); 12th Sharjah Biennial (2013); Liverpool Biennial (2012); Gwangju Biennial (2012); dOCUMENTA(13), Kassel (2012); Istanbul Biennial (2012).
His work is part of collections such as 21st Century Museum of Contemporary Art, Kanazawa; Brooklyn Museum, New York; Colección Jumex, DF; ICA Institute of Contemporary Art, Miami; Kadist Art Foundation, San Francisco; Bronx Museum, New York; Carnegie Museum, Pittsburgh; La Tallera/SAPS, Cuernavaca; MAXXI, Rome; Mac/Val, Vitry-sur-Seine; Museo Rufino Tamayo, Mexico City; MUAC, Mexico City; MFA, Boston; Walker Art Center, Minneapolis.
O Real Resiste na Mul.ti.plo, Rio de Janeiro
De 22 de abril a 18 de junho, a Galeria Mul.ti.plo expõe gravuras de 30 artistas, com obras de imagens criadas para os cartazes do tipo “lambe-lambe”, utilizados em intervenção urbana realizada no Rio, em agosto de 2020. Com diferentes desdobramentos, projeto reafirma a arte e a vida em tempos de demolição da cultura, negacionismos, aumento da violência policial e descontrole da pandemia.
A Mul.ti.plo Espaço Arte, no Leblon, apresenta a mostra O Real Resiste. A exposição traz 30 gravuras das imagens concebidas para os cartazes do tipo “lambe-lambe” utilizados na intervenção urbana de mesmo nome realizada no Rio de Janeiro, em agosto e setembro de 2020. Na ocasião, artistas de distintas gerações, idades, lugares da cidade, linguagens e poéticas, espalharam mensagens nos mais diferentes pontos do Rio, num ato de reafirmação da arte e da vida em tempos de demolição da cultura, de negacionismos, da escalada do poder punitivo, da mediocridade, do preconceito e da incapacidade de gestão da pandemia. A exposição na Mul.ti.plo vai de 22 de abril a 18 de junho de 2021 prorrogada até 9 de julho de 2021, atendendo ao público de acordo com as regras sanitárias.
Com formato de 33 cm X 48 cm, impressas em litografia e em papel Hahnemuhle, as gravuras têm edições numeradas de 12 exemplares. Estão lá todos os 30 cartazes utilizados na intervenção, com as criações de Ana Calzavara, Carlito Carvalhosa, Chelpa Ferro, Josiane Santana, Leo Gandelman, Marcelo Macedo, Marina Wisnik, Omar Britto, Saulo Nicolai, entre outros. “Transformados em gravuras, os lambe-lambes que habitaram momentaneamente os muros da cidade e sofreram as ações do tempo e da exposição nas ruas, perpetuam-se em novo formato. Do grito ao registro, mantendo a potência do gesto”, diz Maneco Müller. Durante a exposição será lançado também um livro, impresso em risografia, com todas as obras.
A exposição das gravuras é mais um desdobramento do projeto O Real Resiste, idealizado por Maneco Müller (sócio da Mul.ti.plo) e Manuela Müller (arquiteta e urbanista), realizado em parceria com artistas. O Real Resiste foi inspirado em uma música de mesmo nome de Arnaldo Antunes, que participou da primeira ação, dos lambe-lambes. Depois, o projeto seguiu por meio da dança. Em novembro, cinco grupos formados por 50 bailarinos e coreógrafos cariocas realizaram intervenções em espaços públicos da cidade – Rocinha, Méier, Brás de Pina, Cinelândia e Praça Mauá –, numa reflexão sobre o confinamento do corpo. Tanto a música como as coreografias foram criadas exclusivamente para a ação. Filmado, o ato depois virou um trabalho de videoarte, que foi lançado em janeiro deste ano – atualmente está em exibição na grade de programas do Canal Arte 1.
ARTISTAS
Arnaldo Antunes, Criola, Elvis Almeida, João Sánchez, Leo Gandelman, Marcos Chaves, Pedro Sánchez, Raul Mourão, Walter Carvalho
Casa Voa: Ana Calzavara, Cabelo, Carlito Carvalhosa, Carlos Vergara e Bernardo Vilhena, Antonio Bokel, Carolina Kasting, Clarice Rosadas, Maria Flexa, Marcelo Macedo, Mateo Velasco
Chelpa Ferro: Luiz Zerbini, Barrão, Sergio Mekler
Favelagrafia: Anderson Valentim, Elana Paulino, Josiane Santana, Joyce Piñeiro, Omar Britto, Rafael Gomes, Saulo Nicolai
Poetas: Catarina Lins, Gabriela Marcondes, Marina Wisnik
OVR: Vortic Espelho na A Gentil Carioca, Rio de Janeiro
Para Vortic "Female Voices of Latin America", apresentamos Espelho. Uma curiosa definição do objeto "Espelho" [1] (do latim speculum) diz que "espelho é uma superfície que reflete um raio luminoso em uma direção definida, em vez de absorvê-lo ou espalhá-lo em todas as direções. As distâncias dos objetos são sempre consideradas positivas e as distâncias das imagens são consideradas positivas para imagens reais e negativas para imagens virtuais". Portanto, uma metáfora enganosa a partir de sua definição de imagem para o novo 'espectro' que estamos vivendo.
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Cinco mulheres artistas na exposição Espelho - Aleta Valente, Ana Linnemann, Laura Lima, Maria Laet e Renata Lucas - agregam como citação, escolhidas e convidadas pela A Gentil Carioca, pelo reflexo.
Vamos de encontro àquilo que se vê quando olhamos para dentro e para fora do espelho. Com uma seleção de trabalhos, trazemos uma exposição virtual pensada através de um espelho, que reflete sobre o atual estado de imersão no espaço digital, compartilhado por todos nós. A partir dos displays, somos vistos e vemos múltiplos reflexos. A proposta é de um jogo de espelhos e a contemplação dos pontos de vista possíveis para dentro e para fora dele.
A vastidão proporcionada por um espelho frente ao outro quebra a planaridade de sua superfície e abre uma janela que nos desloca para uma zona de perspectivas tão particular quanto curiosa. Enquanto nossa silhueta esmaece ao longe, o que há de material em nós permanece aqui. Experienciamos algo similar frente à tela, com aquilo que compartilhamos na rede, da nitidez da imaginação, da opacidade da representação e da reflexão das ideias.
Vemos na produção recente das artistas essas múltiplas realidades, perspectivas e imagens duplicadas, coexistindo em um itinerário poético próprio.
For Vortic "Female Voices of Latin America" we present Mirror. A curious definition of the object “Mirror” [1] (from the Latin speculum) states “the mirror is a surface that reflects a luminous ray in a defined direction, rather than absorbing or scattering it in all directions. The distances of the objects are always considered positive and the distances of the images are considered positive for real images, and negative for virtual images ”. Thus, a faulty metaphor from its definition of image for the new “spectrum” that we are experiencing.
Five women artists in the show Mirror – Aleta Valente, Ana Linnemann, Laura Lima, Maria Laet and Renata Lucas – come as mentions, chosen and invited by A Gentil Carioca by reflection.
We go towards what we see when we look in and out of the mirror. This selection of works presents a virtual exhibition conceived through a mirror, which reflects the current state of our shared experience of immersion into the digital space. Deriving out of displays, we are seen and also perceive multiple reflections. This proposal is a game of mirrors and the contemplation of its possible points of view inside and outside.
The vastness conveyed by a mirror facing another breaks the planarity of its surface and opens a window that pushes us into a zone of perspectives as peculiar it is curious. While our silhouette fades in the distance, what is material in us remains here. We all experience something similar in front of the screen, what is shared online, the sharpness of imagination, the opacity of representation and the reflection of ideas.
The recent works of these artists points towards these multiple realities, perspectives and duplicated images, and coexist in their own poetic itinerary.
[1] “Espelho.” Wikipédia, 4 03 2021, https://pt.wikipedia.org/wiki/Espelho.
Arjan Martins na A Gentil Carioca, Rio de Janeiro
A Gentil Carioca tem o prazer de apresentar Descompasso Atlântico, de Arjan Martins, a segunda individual do artista na galeria, virtualmente integrada ao Galleries Curate: RHE, que envolve um grupo de galerias contemporâneas de todo o mundo, que se reuniram para discutir como navegar pelos novos desafios da atualidade. Como primeiro capítulo desta colaboração, trazemos a exposição que tem como ponto de partida um tema universal e unificador: a água.
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Provocados pelo tema, que a todos une, em Descompasso Atlântico, chegamos a uma seleção de obras que reiteram a navegação do artista por uma história de resistências e refluxos simbólicos, políticos, culturais e existenciais dos negros de ascendência Africana transplantados pela escravidão colonial. Não por acaso, a data de lançamento da exposição, dia 22 de abril, é a mesma data da chegada dos colonizadores portugueses a Pindorama, ao Monte Pascoal, na Ilha de Vera Cruz, que veio a se tornar o Brasil.
Paralelamente ao espaço presencial da galeria, como ação externa e pública da mostra, em parceria com o Alalaô (uma mobilização artística-política-afetiva, que leva às praias do Rio de Janeiro intervenções, performances e diversas ações artísticas), Arjan Martins transporta para Ipanema as instalações de birutas, expondo aparelhos destinados a indicar a direção dos ventos, que fundem-se as bandeiras marítimas e seus códigos internacionais para transmitir mensagens entre embarcações e portos, que revelam significados específicos e possibilitam ao espectador uma leitura sensível de termos técnicos.
Em sua poética, Martins prevê a ampla navegação das águas do oceano negro, seja transitando entre períodos históricos, seja viajando entre diferentes latitudes e longitudes. Em sua instalação de birutas, ele relaciona símbolos marítimos com o tráfico de pessoas escravizadas, revelando no nosso dia-a-dia as questões sociais não resolvidas da nossa história.
Acompanhe a exposição a partir do dia 22 de abril em nosso site www.agentilcarioca.com.br.
Galleries Curate : RHE é uma iniciativa e expressão de uma unidade, da junção de mais de vinte galerias internacionais, que se uniram para realizar uma atividade colaborativa projetada para expressar o diálogo dinâmico entre nossos programas individuais, e contempla uma programação de 21 exposições apresentadas simultaneamente até 30 de maio numa plataforma online e nos espaços de exposição das galerias participantes.
Conheça as galerias participantes e suas exposições: https://galleriescurate.com/
As obras estão expostas no espaço físico da galeria, de terça a sexta, das 14h às 18h. Agende sua visita pelo email correio@agentilcarioca.com.br.
A Gentil Carioca is pleased to present Descompasso Atlântico, by Arjan Martins, the artist's second solo show at the gallery, virtually integrated with Galleries Curate: RHE, which involves a group of contemporary galleries from around the world, who have gathered to discuss how to navigate the new challenges of today. As the first chapter of this collaboration, we bring you the exhibition that takes as its starting point a universal and unifying theme: water.
Provoked by the theme, which unites us all, in Descompasso Atlântico, we have arrived at a selection of works that reiterate the artist's navigation through a history of symbolic, political, cultural and existential resistance and reflux of blacks of African descent transplanted by colonial slavery. Not by chance, the launch date of the exhibition, April 22nd, is the same date of the arrival of the Portuguese colonizers to Pindorama at Mount Pascoal on the Ilha de Vera Cruz, which came to become Brazil.
Parallel to the gallery's physical space, and also as an external and public action of the show, in partnership with Alalaô (an artistic-political-affective mobilization that takes to the beaches of Rio de Janeiro interventions and/or performances and several artistic actions), Arjan Martins carries to Ipanema beach an installation of windsocks, exhibiting devices destined to indicate the direction of the winds, which merge the maritime flags and their international codes to transmit messages between vessels and ports, which reveal specific meanings and enable the viewer a sensitive reading of technical terms.
In his poetics, Martins envisions the broad navigation of the waters of the black ocean, whether transiting between historical periods or traveling between different latitudes and longitudes. In his installation, he relates maritime symbols to the traffic of enslaved people, revealing in our daily lives the unresolved social issues of our history.
Click below to see the works of the exhibition: www.agentilcarioca.com.br.
Galleries Curate: RHE is an initiative and expression of a unity, from the junction of more than twenty international galleries, which have joined together to carry out a collaborative activity designed to express the dynamic dialogue between our individual programs, and includes a program of 21 exhibitions presented simultaneously until May 30 on an online platform and in the exhibition spaces of the participating galleries.
Click here to see the participating galleries and their exhibitions: https://galleriescurate.com/
The artworks are exhibited at the gallery's physical space, from Tuesday to Friday, from 2pm to 6pm. Visits by appointment by the email correio@agentilcarioca.com.br.
abril 19, 2021
OSGEMEOS na Pinacoteca, São Paulo
A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo exibe, de 15 de outubro de 2020 a 3 de maio de 2021, OSGEMEOS: Segredos, primeira exposição panorâmica da dupla de artistas formada pelos irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo (São Paulo, 1974). A mostra, apresentada pelo Bradesco, conta com mais de 1000 itens, cerca de 50 inéditos ou nunca exibidos no país e mais de 1000 itens desse rico imaginário.
A dupla construiu uma trajetória no mundo das artes sem nunca ter perdido de vista o desejo de manter-se acessível ao grande público. Esse percurso inclui a participação em mostras nas principais instituições internacionais, como o Hamburger Bahnhof, em Berlim, em 2019, com um projeto concebido em parceria com o grupo berlinense de breakdance Flying Steps – um dos mais premiados mundialmente; a Vancouver Biennale, Canada (2014); o MOCA – Museum of Contemporary Art, em Los Angeles (2011); o MOT – Museum of Contemporary Art Tokyo, em Tóquio, Japão e a Tate Modern, em Londres, Reino Unido (ambas em 2008) e a Trienale de Milão (2006), entre outros. Ao longo de sua carreira, os irmãos também receberam convites para criar para os principais espaços públicos de mais de 60 países, incluindo Suécia, Alemanha, Portugal, Austrália, Cuba, Estados Unidos – com destaque para os telões eletrônicos da Times Square, em Nova York (2015) –, entre outros.
Otávio e Gustavo sempre tomaram o espaço urbano como lugar de vivência e de pesquisa desde o início de sua produção, em meados da década de 1980. Os artistas partiram de uma forte imersão na cultura hip hop, que havia chegado ao Brasil no momento em que os irmãos começaram a produzir, e da influência da dança, da música, do muralismo e da cultura popular para desenvolver um estilo singular, com atmosfera alegre, que acabou se tornando um emblema dos espaços urbanos pelo Brasil e pelo mundo.
Seus trabalhos contam histórias – às vezes autobiográficas – cujas tramas envolvem fantasia, relações afetivas, questionamentos, sonhos e experiências de vida. OSGEMEOS mantém seu ateliê, até hoje, no Cambuci, antigo bairro de operários e imigrantes na região central de São Paulo, no qual passaram sua infância e juventude. A partir da década de 1990, suas experimentações – não só em grafitti, mas também pintura em telas e esculturas estáticas e cinéticas – ultrapassaram os limites bidimensionais, culminando na construção de um universo próprio que opera entre o sonho e a realidade.
Para a mostra na Pinacoteca, o duo apresenta pinturas, instalações imersivas e sonoras, esculturas, intervenções site specific, desenhos e cadernos de anotações. Esses últimos, da fase ainda adolescente e apresentados ao público pela primeira vez, antecedem os famosos personagens amarelos, abrindo caminho para a compreensão da raiz de seu surgimento. O corpo de obras invade o museu, ocupando as sete salas de exposições temporárias do primeiro andar, um dos pátios, diversos espaços internos e externos, além de uma instalação, concebida especialmente para o Octógono.
A Pinacoteca, enquanto instituição tradicional criada para valorizar a produção da arte brasileira, reafirma seu compromisso ao apresentar, de maneira abrangente, a produção de OSGEMEOS. “Se, na época moderna, o fenômeno artístico tem a cidade como seu lugar de existência, pensar a arte é pensar sua inscrição na urbanidade. O urbano, a cidade, as relações que se dão nesse espaço específico, são tanto temas da arte quanto o próprio modo de sua aparição. Viver em cidades significa partilhar de uma sociabilidade singular, marcada pelo deslocamento, pelo anonimato, pela produção coletiva, geradores de conflitos e desigualdades, mas também dotada de um potencial de liberdade e transformação, caros às práticas da arte moderna e contemporânea”, finaliza Jochen Volz, diretor-geral da Pinacoteca e curador da mostra.
Durante os meses em que a exposição estiver em cartaz, o museu será tomado pelo estilo e pela grafia inconfundível da dupla de artistas. A loja da Pina receberá um conjunto de novos produtos desenhados por eles, como canecas, camisetas e bonés. Temporariamente, o tradicional letreiro na fachada que traz o nome da instituição, criado pelo premiado designer gráfico Carlos Perrone nos anos 1990, será substituído por um luminoso desenhado especialmente pel´OSGEMEOS. Da mesma forma, as assinaturas eletrônicas dos emails dos funcionários do museu, que hoje trazem a logo da instituição, serão trocadas provisoriamente pela nova identidade.
A exposição tem patrocínio de Bradesco (cota apresenta), Samsung e Grupo Boticário (cota master), IRB Brasil RE (cota platinum), Iguatemi São Paulo e GOL Linhas Aéreas (cota ouro), escritório Mattos Filho, Allergan, Cielo e Comgás (cota prata) e Havaianas (cota bronze).
CATÁLOGO
A exposição OSGEMEOS: Segredos é acompanhada de dois catálogos, em português e em inglês. O primeiro inclui apresentação do diretor-geral da Pinacoteca Jochen Volz, textos inéditos de Julia Flamingo e de Paulo Portella, além de imagens de obras da exposição e de outros projetos. O segundo apresentará vistas da exposição na Pinacoteca de São Paulo.
abril 16, 2021
Amelia Toledo na Nara Roesler NY, EUA
Com uma icônica carreira marcada por enlaçamentos entre arte e natureza, uma seleção dos trabalhos de Toledo será apresentada pela primeira vez nos Estados Unidos na nova galeria da Nara Roesler no Chelsea, em Nova York
Nara Roesler se orgulha em anunciar a mostra inaugural de Amelia Toledo nos Estados Unidos. A exposição será realizada no novo espaço da galeria no bairro do Chelsea, em Nova York, de 25 de fevereiro a 17 de abril de 2021.
Amelia Toledo (1926-2017) é uma figura fundamental da arte brasileira no século XX. Sua carreira se estendeu por mais de cinco décadas e se fez marcar, inicialmente, por experimentações esculturais construtivas e pelo subsequente desenvolvimento de investigações sobre as relações entre arte e natureza. Toledo iniciou-se nas artes visuais no final da década de 1930, quando começou a frequentar o estúdio de Anita Malfatti (1889-1964), posteriormente prosseguindo seus estudos com Yoshiya Takaoka (1909-1978) e Waldemar da Costa (1904-1982).
Ao longo de sua trajetória, a artista fez uso de variados meios e técnicas, transitando entre pintura, desenho, escultura, gravura, instalação e design de joias, sempre mantendo uma grande atenção às especificidades da matéria e à sua aplicação. Seu trabalho esteve alinhado, primeiramente, com a pesquisa construtiva, ecoando noções do neoconcretismo e as preocupações correntes na década de 1960, em especial o interesse pela participação do público, assim como o entrelaçamento entre arte e vida. Toledo desenvolveu seu multifacetado corpo de obra a partir do diálogo duradouro e enriquecedor com outros artistas de sua geração, incluindo, Mira Schendel, Tomie Ohtake, Hélio Oiticica e Lygia Pape.
No final da década de 1950, Toledo empreendeu uma investigação baseada na passagem do plano ao volume, inspirando-se nos trabalhos de Max Bill e Jorge Oteiza. Plano Volume (1959), primeira incursão nessa linguagem, parte de um procedimento simples: cortes circulares formando uma helicoidal em uma chapa de cobre que será posteriormente curvada. Anos depois, repete o método em Om (1982). Nesse caso, a chapa de aço é cortada em espiral com maçarico e pendurada no teto, conferindo-lhe movimento. Sua sombra, projetada na parede por uma luz direta, escreve a forma do símbolo que representa o mantra do som universal segundo algumas religiões.
Em última análise, podemos identificar no interesse de Toledo pela natureza a base do que viria a constituir sua conquista mais marcante, desembocado em investigações sobre o conceito de paisagem, assim como no emprego em seus trabalhos de pedras e conchas coletadas compulsivamente, entre outros elementos naturais. Desafiada por esses materiais, Amelia Toledo seguiu carreira como artista e engenheira, vislumbrando as possibilidades de um concretismo ecológico.
Em trabalhos como Parque das cores do escuro (2002), a artista faz uso de pedras para investigar cores, brilhos, transparências e as variadas formas da “carne” da terra. Toledo criou composições nas quais as peças coletadas das profundezas de cenários naturais são dispostas em variados arranjos, inclusive em diálogo com materiais “modernos”, como o aço inoxidável. As rochas não foram submetidas a nenhum tratamento que alterasse suas características originais, sendo apenas polidas de modo a revelar seus desenhos internos feitos pelos delicados veios capazes de revelar sua temporalidade. Em Dragões Cantores (2007), fragmentos de rocha moldados pelo movimento das marés são ativados pelo espectador que traz à tona diferentes sons ao interagir com eles com um pequeno pedaço de madeira.
Outro aspecto fundamental da prática de Toledo é a cor, interesse que se faz notar especialmente em suas pinturas. Telas da série Horizontes (década de 1990 – década de 2010), estarão em exibição em Nara Roesler, em Nova York, junto com Campos de Cor, série iniciada na década de 1980 e em desenvolvimento até pouco antes de sua morte, em 2017. Em exibição, também poderá ser encontrado um exemplo de seus marcantes e coloridos Penetráveis, destacando a abordagem pictórica “natural” de Toledo, que utiliza pigmentos orgânicos sobre juta, criando uma massa de cor fisicamente penetrável ao revelar o caráter maleável do suporte ao mesmo tempo em que faz emergir o jogo de transparências nele contido.
A exposição também traz colagens de Amelia Toledo feitas em 1958, durante sua estadia em Londres. Nesses trabalhos, ela experimenta com a transparência da seda e do papel de arroz, impregnando algumas folhas com cera de abelha, o que lhes confere espessura, tornando-as quase esculturais. A pesquisa com a materialidade do meio levaria a artista a criar a série Fiapos nos anos 1980. Nesta, o papel parece retornar à condição de polpa, um material disforme e tênue que parece se deixar invadir pela luz e ser moldado pela leveza.
Amelia Toledo se permitiu a liberdade de não se filiar a um grupo e de seguir experimentando segundo sua vontade. Nas palavras da artista: “Não é apenas uma questão de processos diferentes; cada material se constrói, se propõe na forma de certas consequências”. Sua produção ressoa hoje mais do que nunca devido a sua articulação contínua entre estética e natureza, ecologia e forma, enfatizando a sofisticação do design e a crueza da matéria e dos materiais.
With an iconic career marked by entwinements between art and nature, a selection of Toledo’s works will be exhibited for the first time in the United States at Nara Roesler new gallery in Chelsea, New York
Nara Roesler is pleased to announce Amelia Toledo’s inaugural solo exhibition in the United States, at the gallery’s new location in New York’s Chelsea neighborhood, from February 25 to April 17, 2021.
Amelia Toledo (1926–2017) is a leading figure of Brazilian art in the twentieth century, with a career spanning over five decades, marked by distinctive engagements with constructive sculptural experimentations, that subsequently unfolded into iconic entwinements between art and nature. Toledo was first introduced to the field of visual arts at the end of the 1930s as she began frequenting the studio of Brazilian modernist landmark artist Anita Malfatti (1889-1964), after which she studied under the guidance of Yoshiya Takaoka (1909-1978) and Waldemar da Costa (1904-1982).
Throughout her career, Toledo made use of several media and techniques, including painting, drawing, sculpture, printmaking, installations, and metalsmith/jewelry design, always focusing on the use of materials and faktura. Her work was initially aligned with constructivist research, echoing notions of Neoconcretism and the characteristic preoccupations of the 1960s, with an interest for public participation, as well as for the entwinement of art and life. She developed her multifaceted oeuvre in permanent and mutually enriching interlocution with other artists of her generation including Mira Schendel, Tomie Ohtake, Hélio Oiticica and Lygia Pape.
In the late 1950s, she undertook an investigation based on the transition from plan to volume, drawing inspiration from the works of Max Bill and Jorge Oteiza. Plano Volume (1959), the first foray into this investigation, starts from a simple procedure: circular cuts on a copper plate forming a helicoid, and then curved. Years later, she repeated the method in Om (1982). In this piece, a steel sheet was cut in a spiral with a sandpiper and hung from the ceiling, allowing it to move, while projecting a shadow against the wall in the shape of the symbol Om, which is a sacred sound and spiritual symbol in Indian spirituality.
Ultimately, Toledo’s signature achievements are driven by her focus on nature, implying her investigations on the concept of landscape, engaging with stones and shells, among other natural elements, which she collected compulsively and included in her work. Challenged by these materials, Amelia Toledo pursued her career as both an artist and an engineer, envisaging the possibility of an ecological concretism.
In works like Path of Colors from the Dark (2001), for example, the artist uses stones to investigate color, brightness, transparency, and the various shapes of the Earth’s “flesh”. She was able to create compositions in which pieces collected from the dark depths of natural settings are placed in various arrangements, including dialogues with “modern” materials, such as stainless steel. The rocks were not subject to any treatment that would change their original form, but were merely polished to reveal their internal designs, the delicate veins, revealing their temporality. In the participatory piece titled Singing Dragons (2007) rock fragments that have been molded by the movement of the tides are highlighted by the sound that each of them make when the spectator interacts with their surface using a small piece of wood.
Another central pillar of Toledo’s work is color, an interest that is notably manifest in her paintings, among other works. Paintings from the series Horizons (1990s - 2010s) will be on view at Nara Roesler | New York along with Campos de Cor [Color Fields], a series which the artist began in the 1980s and continued until right before her death in 2017. Also on view will be an example of her striking and colorful Penetrables, highlighting Toledo’s ‘natural’ approach to painting, using raw canvases and rough organic pigments on jute, creating a physically penetrable mass of color, revealing the malleable nature of the support, as well as a repertoire of transparency.
Also from her early works, the exhibition presents some of the collages that Amelia Toledo started in 1958, while she was living in London. An experiment with the transparency of silk and rice paper, some of these collages are impregnated with beeswax granting the pieces a special thickness, making them almost sculptural. This experimentation with the medium’s materiality would lead the artist to create the Fiapos [Wisps] series in the 1980s, in which the paper seems to have returned to the condition of pulp, a formless and tenuous material that seems invaded by light and shaped by lightness.
Amelia Toledo allowed herself the freedom to never be part of a group, and to experiment according to her own moment. In the artist’s words: “It’s not even just a question of different processes; each material constructs itself, proposes itself in the form of certain consequences”. Her production resonates today more than ever through her continuous articulation of aesthetics and nature, ecology and form, stressing both the sophistication of design and the roughness of matter/materials.
abril 10, 2021
Danielle Carcav na Mercedes Viegas, Rio de Janeiro
A partir do dia 12 de abril, a Galeria Mercedes Viegas apresenta ”Desvio para o delírio”, primeira exposição da artista Danielle Carcav na galeria. Em 9 trabalhos em aquarela, guache e acrílica, ”Desvio para o delírio” navega a proliferação de florestas densas em companhia de personagens caprichosos e uma intuição onírica. Como certa vez disse Ivair Reinaldim sobre o trabalho de Carcav, “do mesmo modo que suas imagens estabelecem diferentes narrativas, colocando em xeque os limites entre real e ficcional, a cor em seus trabalhos possui dupla função, entre a criação do espaço pictórico e o estabelecimento da atmosfera psicológica, reforçando o tom introspectivo muitas vezes imperante.”
”Desvio para o delírio” estará aberta a visitas guiadas até o dia 17 de maio.
Danielle Carcav nasceu em Natal (RN) porém vive e trabalha na capital do Rio de Janeiro desde 2008, ano no qual ingressou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Participou de vários salões de relevância nacional como: 38o Salão de Santo André, Novíssimos, 35o Luiz Sacilloto, e outros, sendo premiada em 2010 no Salão do Mato Grosso do Sul e em Atibaia. Em 2012, foi uma das artistas indicada ao Prêmio PIPA.
“Na minha pintura, eu busco construir narrativas que me aproximam de um senso afetivo e imaginário que a memória me provoca. Acredito que, durante o processo, estou sempre na tentativa de me intuir sobre como as imagens se tornam um lugar de pertencimento com o passar do tempo...e como essas narrativas se transformam nesse espaço. Assim, faço uso de registros fotográficos e imagens de pessoas (na maioria das vezes, crianças), animais e paisagens...tentando compor as situações como se cada um desse elementos agissem sobre o imaginário dos outros. Acho que isso cria um ruído...silencioso sobre o que se observa dentro de cada cena, no meu trabalho.”
abril 6, 2021
Felipe Cohen na Millan, São Paulo
A Galeria Millan tem o prazer de apresentar, de 20 de março a 10 30 de abril de 2021, a exposição Felipe Cohen: Pálpebra, quarta individual do artista nascido em São Paulo, em 1976. Reunindo 10 obras — sendo 8 pinturas e 2 objetos — a mostra parte da ideia de desmaterialização do horizonte através da reflexão, fenômeno que tem sido objeto de estudo presente nas peças produzidas pelo artista na última década.
A partir dessa pesquisa, Cohen vem concebendo trabalhos que destacam a profundidade e o fenômeno da luz e seu efeito na ampliação da sensação espacial bem como suas afecções sobre a experiência temporal de uma imagem. Na exposição na Galeria Millan, a ocorrência da reflexão é articulada a partir da perspectiva da paisagem abrangendo questões do campo geométrico e simbólico.
Na série de pinturas, cujo título é emprestado à exposição, Cohen articulou formas circulares de mesmo tamanho com linhas horizontais, buscando situações de entrelaçamentos e sobreposições em que a unidade modular se diluísse no todo através da seleção das áreas que receberiam a tinta. “Como nas vitrines, nas quais foram inspiradas (série de objetos que venho fazendo desde 2013), há uma clara alusão a paisagens de poentes em horizontes líquidos, criando assim situações de reflexão e espelhamento”, explica o artista.
“Produzir paisagens, seja nas vitrines ou nas pinturas, sempre foi pra mim um pretexto para falar de articulações possíveis entre luz, tempo e espaço. O que me pareceu interessante desde o início do ato de articular essas formas foi a forma com que, com o mesmo módulo circular — símbolo do movimento cíclico —, era possível criar inúmeras situações de topografias e sugestões de profundidades”, conta. “As formas encontradas nessas pinturas me remeteram também a dois olhos, na maioria das vezes com uma pálpebra aberta e outra fechada, uma espécie de olhar da paisagem para o espectador. Me pareceu interessante esse segundo espelhamento, uma paisagem que olha de volta para o espectador”.
A exposição conta também com dois objetos feitos com copos de vidro e basalto que ocupam o espaço da vitrine da galeria. As pedras foram esculpidas a partir das formas dos copos criando uma relação de estranheza entre o conteúdo sólido, opaco e negro e a transparência dos vidros. Em um dos objetos a matéria pesada parece levitar dentro do conteúdo entre os copos. No segundo objeto acontece um movimento simétrico de expansão da matéria em direção às bocas dos copos, criando assim duas formas cônicas espelhadas pela sobreposição dos copos.
Comunicado importante: devido às restrições da Fase Roxa, de 15 a 30 de março de 2021, propostas pelo Governo do Estado de São Paulo, a exposição será aberta à visitação a partir do dia 1 de abril de 2021.
Galeria Millan is pleased to present, from March 20 through April 10 30, 2021, the exhibition Felipe Cohen: Pálpebra, the fourth solo exhibition by the artist who was born in São Paulo in 1976. Bringing together 10 works – 8 paintings and 2 objects – the exhibition stems from the idea of dematerializing the horizon through reflection, a phenomenon that has been the artist's object of study over the last decade.
From this research, Cohen has been conceiving works that highlight the depth and the phenomenon of light and its effect on the amplification of spatial sensations as well as its affections on the temporal experience of an image. In the exhibition at Galeria Millan, reflection is articulated from the perspective of the landscape, covering aspects of the geometric and symbolic fields.
In his series of paintings, the title of which is lent to the exhibition, Cohen juxtaposes circular shapes of the same size with horizontal lines, seeking an interlacing and overlap where the modular unit is completely reduced through the selection of areas that would be painted. “Similar to the display cases, in which they were inspired (a series of objects that I have been making since 2013), there is a clear allusion to landscapes of sunsets in liquid horizons, thus creating instances of reflection and mirroring,” explains the artist.
“Producing landscapes, whether in display cases or paintings, has always been a pretext for me to talk about possible articulations between light, time and space. What seemed interesting to me from the beginning of the act of articulating these shapes was the way in which, with the same circular form – a symbol for cyclic movement – it was possible to create countless topographical situations and suggestions of depth,” he says. “The shapes in these paintings also reminded me of two eyes – mostly with an eyelid open and the other closed – gazing from the landscape to the viewer. I found this second instance of mirroring quite interesting, a landscape that stares back at the viewer."
The exhibition also features two objects made with glass cups and basalt that occupy the gallery display case. The stones were sculpted in the shapes of the glasses, creating a strange relationship between the solid, opaque and black material and the transparency of the cups. In one of the objects, the heavy matter seems to levitate inside the content between the glasses. In the second object there is a symmetrical expansion of the matter towards the edge of the glasses, creating two conical shapes mirrored by the overlapping of the glasses.
Important announcement: due to the restrictions of the Purple Phase, from March 15 to 30, 2021, proposed by the Government of the State of São Paulo, the exhibition will be open to visitors from April 1, 2021.
Jaider Esbell na Millan, São Paulo
A data de encerramento da exposição Apresentação : Ruku, individual do artista e curador indígena da etnia Makuxi Jaider Esbell, foi prorrogada para 10 de abril de 2021. Visando atender às medidas sanitárias da Fase Roxa para conter a pandemia, a exposição está fechada temporariamente e só será reaberta mediante novas medidas do Governo do Estado de São Paulo. Enquanto aguardamos novas orientações em casa, te convidamos a assistir a esse vídeo especial que preparamos com muito carinho sobre a exposição.
Neste vídeo, Esbell discute sua prática artística, a linhagem cosmológica do povo Makuxi, o significado de ser indígena e artista no Brasil contemporâneo e a importância da presença do jenipapo na concepção da mostra e na cultura indígena.
The closing date of Apresentação : Ruku, first solo show by Makuxi indigenous artist and curator Jaider Esbell, has been extended to April 10, 2021. In order to meet the Purple Phase's sanitary measures to contain the pandemic, the exhibition is temporarily closed and will be reopened only according the new measures of the State of São Paulo Government. While waiting for new directions at home, we invite you to watch this special video that we prepared with great joy about the exhibition.
In this video, Esbell discusses his artistic practice, the cosmological lineage of the Makuxi people, the meaning of being indigenous and an artist in contemporary Brazil and the importance of the presence of genipapo in the conecption of the exhibition and in indigenous culture.
SOBRE A MOSTRA
A Galeria Millan tem o prazer de anunciar a exposição Apresentação : Ruku, individual do artista e curador indígena da etnia Makuxi Jaider Esbell. Com curadoria do próprio artista e assistência curatorial da antropóloga Paula Berbert, a mostra reúne cerca de 60 obras, incluindo pinturas, objetos e desenhos, que destacam a diversa produção do artista.
Partindo da noção de artivismo — neologismo conceitual que abrange tanto o campo da arte quanto das ciências sociais —, Esbell combina pintura, escrita, desenho, instalação e performance para entrelaçar discussões interseccionais entre cosmologias, narrativas míticas originárias, espiritualidade, críticas à cultura hegemônica e preocupações socioambientais.
Suas pesquisas mais recentes vem se aprofundando também no txaísmo – modo de tecer relações de afinidades afetivas nos circuitos interculturais das artes contemporâneas pautadas pelo protagonismo indígena.
Desde 2013, quando organizou o I Encontro de Todos os Povos, Esbell assumiu um papel central no movimento de consolidação da Arte Indígena Contemporânea no contexto brasileiro, atuando de forma múltipla e interdisciplinar e combinando o papel de artista, curador, escritor, educador, ativista, promotor e catalisador cultural.
Para a exposição no Anexo Millan, o artista exibe um conjunto, produzido entre 2019 e 2021, que se debruça sobre as visões do artista em torno da árvore-pajé, Jenipapo ou Ruku, um “fruto-tecnologia e uma de minhas avós” nas palavras de Esbell, do qual se produz a tinta natural aplicada por inúmeros povos indígenas em pinturas corporais e utilizada em cerimônias rituais.
Galeria Millan is pleased to announce the exhibition Presentation : Ruku, the first solo show by Makuxi indigenous artist and curator Jaider Esbell. Curated by the artist himself, with the assistance of anthropologist Paula Berbert, the show brings together around 60 works, including paintings, objects and drawings, which highlight the artist's diverse production.
Starting from the notion of artivism—a conceptual neologism that covers both the field of art and the social sciences––Esbell combines paintings, writings, drawings, installations and performances to weave intersectional discussions between cosmologies, original mythic narratives, spirituality, critiques of hegemonic culture and socio-environmental concerns, sometimes presenting them as lyrical discourses and sometimes as strictly political stances. His more recent research has also delved into txaísmo––a way to weave relationships of affective affinity in the intercultural contemporary art circuit led by indigenous protagonism.
Since 2013, when he organized I Encontro de Todos os Povos (1st Meeting of All Peoples), Esbell played a central role in the movement for the consolidation of Contemporary Indigenous Art in the Brazilian context, acting in a multiple and interdisciplinary way and uniting the role of the artist, curator, writer, educator, activist, and cultural promoter and catalyst.
For the exhibition at Anexo Millan, the artist showcases a set of works, produced between 2019 and 2021, that focuses on his visions around the chief-tree known as Jenipapo or Ruku, a “fruit-technology and one of my grandmothers,” in Esbell's words, from which is produced natural paint used by countless indigenous peoples for body painting and ritual ceremonies.
Casa do Povo lança nova edição do Nossa Voz com obra inédita de Jaider Esbell
Publicação anual produzida pela Casa do Povo, o NOSSA VOZ chega a sua edição 1021. Com 63 páginas e três mil exemplares, o jornal tem seus eixos editoriais a partir do contexto contemporâneo, em diálogo com as suas premissas históricas e traz para o debate a cidade, a memória e as práticas artísticas em consonância com a momento político atual.
Entre os destaques da nova edição o texto Cada Curva do Rio tem um Céu Diferente, do astrônomo e antropólogo argentino Armando Mudrik e do professor de física e astronomia, Walmir Thomazi Cardoso, desvenda a dimensão terrestre do universo celeste, uma paisagem em constante transformação e alvo de novas ameaças. Para completar esse jogo dialógico, Jaider Esbell, artista visual Makuxi, acrescentou uma outra dimensão imagética com duas obras na publicação, uma na capa, que já integrava seu acervo e outra inédita realizada a partir da leitura do texto.
O movimento Mulheres Negras Decidem também está nas páginas do NOSSA VOZ. Com Para onde vamos, se seguirmos as mulheres negras, o texto indica um caminho possível, desejável e urgente, construído a partir de dados levantados junto ao Instituto Marielle Franco, localizado no Rio de Janeiro. Já o Coletivo Mitchossó, grupo de mulheres coreano-brasileiras e não binárias, por meio de um exercício de escrita coletiva, pensa os traumas da imigração coreana e a possibilidade de contá-los de outra maneira.
A edição 1021 conta ainda com escritos de Lia Vainer e Mônica Gonçalves Mendes; Castiel Vitorino Brasileiro e Napê Rocha; abigail Campos Leal; Rogério e Ricardo Teperman; Bety Poquechoque Quispe, Sonia Limachi Quispe, Marlene Bergamo e Mayara Vivian; Vandana Shiva; Jorgge Menna Barreto e Marcelo Wasem; Valentina D’Avenia e Daniel Lie e Jonas Van.
NOSSA VOZ – Edição 1021 / abril 2021
Publicação gratuita, que pode ser retirada na Casa do Povo a partir de 10 de abril de 2021. Também é possível colaborar com a instituição através do programa de apoio recorrente e receber a nova edição em casa.
Todas as edições publicadas desde 2014 então disponíveis no site da Casa do Povo: casadopovo.org.br/programacao/#nossa-voz. As edições de 1947 a 1964 estão disponíveis no arquivo da Biblioteca Nacional: memoria.bn.br.
O perfil da Casa do Povo no Medium reúne alguns textos do jornal que são disponibilizados em formatos para compartilhar nas redes sociais: medium.com/nossa-voz.
Casa do Povo
Rua Três Rios, 252 – Bom Retiro – São Paulo
11-3227-4015 | casadopovo.org.br
Fotografia | Cidade Paisagem na Referência, Brasília
De 5 de abril a 15 de maio, a Referência Galeria de Arte apresenta a mostra coletiva Fotografia | Cidade Paisagem, que aborda questões como a forma, a abstração, a cor, a luz, a eloquência e o silêncio. A exposição traz para o público um recorte das produções dos artistas que trabalham com temas que vão do diário fotográfico de viagens aos andarilhos que vagam sem rumo pela cidade. Há os que recriam a paisagem em busca de perspectivas impossíveis, mas visíveis. E, ainda, os que vão no sentido contrário, atrás do que existe apesar de todas as adversidades. Com visitação de segunda a sexta, das 11h às 20h, e sábado, das 11h às 16h, durante o período da mostra serão realizadas conversas com os artistas em encontros previamente agendados.
Participam da mostra “Fotografia | Cidade Paisagem” cinco artistas de Brasília (DF) e um de Londrina (PR). André Santangelo (DF) apresenta as séries de fotomontagens “Mais valente” e “Eu te vejo”, em que o artista evidencia a relação com o espaço de produção. Frederico Lamego (DF) uma série de imagens que abordam a dualidade e a justaposição nas fotos de espaço, curvas e concreto em preto e branco. A série “Poéticas mínimas”, de José Roberto Bassul (DF), aborda a necessidade de pausas e silêncios como resposta às estridências do mundo. ”A cidade se perde nas ausências...”, de Márcio Borsoi (DF), traz os personagens sem rosto de uma cidade qualquer na noite vazia de um tempo sombrio. Rogerio Ghomes (PR) apresenta a série “Nada mais útil que o silêncio”, um recorte de sua produção que aborda as incertezas e outros sentimentos humanos. Há 12 anos, Zuleika de Souza (DF) coleta imagens de fachadas, muros e ruas coloridas, em um inventário da arquitetura popular candanga, divergente do modernismo que forma a base arquitetônica de Brasília.
Encontros com os artistas
Durante o período da mostra, serão realizadas conversas com os artistas para falar sobre suas produções e apresentar as obras presentes na coletiva. No dia 8 de abril, quinta-feira, às 20h, o encontro será virtual entre o artista visual Rogerio Ghomes e o professor e curador Marco Antônio Vieira em uma live transmitida pelo Instagram @referenciaarte. No sábado, 17, das 11h às 12h, André Santangelo fala com o público. No dia 30, sexta-feira, das 17h às 18h, acontece o encontro com o fotógrafo Márcio Borsoi. Encerrando a programação, no dia 14 de maio, sexta-feira, das 17h30 às 18h30, Frederico Lamego fala ao público sobre seu trabalho.
Os encontros presenciais acontecem pontualmente no horário marcado. As pessoas interessadas em participar devem se inscrever por e-mail ou pelo Whatsapp. Devido aos protocolos de segurança sanitária da Covid-19, os encontros têm vagas limitadas a 10 participantes.
Lançamento de fotolivro
No dia 7 de maio, sexta-feira, o fotógrafo José Roberto Bassul lança seu mais recente fotolivro “Sobre Quase Nada”. Nas 128 páginas, o livro traz 97 fotografias das séries “Poéticas mínimas” e “Quase nada” e textos de Márcia Mello e Marília Panitz. A publicação recebeu os prêmios Fotolivro do Ano no Moscow International Foto Awards 2020 e Ouro no Prix de la Photographie Paris 2020. No dia do lançamento, o público terá acesso a um vídeo do artista sobre a publicação e sobre sua produção, em parte exposta na mostra “Cidade – Paisagem”. Os interessados devem adquirir antecipadamente o livro por e-mail ou pelo Whatsapp e agendar o dia e a hora da retirada da publicação autografada pelo autor. Valor: R$ 90,00.
abril 5, 2021
Naturezas Imersivas no Farol Santander, Porto Alegre
Farol Santander lança exposição online Naturezas Imersivas, uma reflexão sobre a importância do meio ambiente com curadoria de Daniela Bousso, que reúne obras temáticas dos artistas brasileiros Katia Maciel, Raquel Kogan, Rejane Cantoni e Ricardo Siri
O Farol Santander, centro de cultura, empreendedorismo e lazer de Porto Alegre, disponibiliza gratuitamente a versão online de sua segunda exposição em 2021. A mostra inédita Naturezas Imersivas, com curadoria de Daniela Bousso e direção geral de Luciana Farias, ocupa a galeria do 2º piso do histórico edifício e reúne diferentes linguagens artísticas, que se expressam para despertar nossa sensibilidade ao redor das questões ambientais. Enquanto o edifício no Centro da capital gaúcha se mantiver fechado, de acordo com as recomendações das autoridades, a mostra permanecerá disponível exclusivamente para a visita virtual no site do Farol Santander Porto Alegre.
Na opção online, o público poderá percorrer os corredores e apreciar sem sair de casa 13 obras de arte, entre fotografias, esculturas, instalações imersivas, áudio-poemas e videoinstalações, desenvolvidas pelos artistas Katia Maciel, Ricardo Siri, Raquel Kogan e Rejane Cantoni.
O conceito que permeia a mostra visa realçar a relação entre arte e natureza como forma de despertar sensibilidades, criar consciência do presente e refletir o desejo de vislumbrarmos um futuro mais verde.
"Apostando na consciência crescente da necessidade de ampliarmos nossa percepção e nos tornarmos agentes da construção de um porvir mais sustentável, Naturezas Imersivas é também um convite à experimentação de novas formas de ver, sentir, pensar e perceber nossa relação com o mundo. Com projetos que aliam um grande impacto visual ao potencial reflexivo, o Farol Santander mantém sua missão de estimular a curiosidade e a criatividade em busca de experiências que estejam alinhadas com o presente e, ao mesmo tempo, com a filosofia do Santander pela construção sustentável do futuro"; afirma Patrícia Audi, vice-presidente executiva de Comunicação, Marketing, Relações Institucionais e Sustentabilidade do Santander Brasil.
A artista, poeta e professora carioca Katia Maciel, com varias exposições realizadas no Brasil e exterior, participa de Naturezas Imersivas com duas videoinstalações, duas fotografias e quatro áudio-poemas que interligam a mostra. Com destaque para a obra Uma Árvore (2009), onde o foco da câmera incide sobre a copa, que desenvolve movimentos de inspiração e expiração, como um pulmão em contrações que abrem e fecham.
"se falo sempre da água
é porque ela não para
de voltar
bate na porta
e continua
avesso oceano
é todo e parte"
(áudio poema 4 – série Plantio, 2019 – Kátia Maciel).
Também natural do Rio de Janeiro, o artista visual, sonoro e músico Ricardo Siri tem quatro trabalhos expostos em Naturezas Imersivas. Com curadorias e obras realizadas em galerias e bienais nacionais e internacionais, Siri destaca nesta mostra a instalação Ninho (2018), que oferece elementos da floresta e pode ser vista pelo público online em diversos ângulos, inclusive como se estivesse dentro da obra. O artista constrói ninhos artesanalmente, e também esculturas com galhos, cipós, cera de abelha, barro e outros materiais, introduzindo ainda instrumentos musicais. Os trabalhos compõem a poética do universo primitivo e a combinação com o mundo tecnológico atual.
De São Paulo, a dupla Raquel Kogan e Rejane Cantoni desenvolveu a instalação imersiva Água 2021. As artistas especializadas em trabalhos que utilizam tecnologia de ponta e resultam em obras imersivas, apresentam um site specific, ou seja, uma obra concebida especialmente para o edifício do Farol Santander. Montada com espelhos de observação flexível, a luz é o elemento central desta instalação que simula reflexos de água a partir do percurso do público.
Naturezas Imersivas é apresentada pelo Ministério do Turismo e Santander, com patrocínio via Lei de Incentivo à Cultura. Realização da Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo e Farol Santander Porto Alegre.
Ação Educativa Naturezas Imersivas
Com o objetivo de ampliar as reflexões críticas estimuladas pelo contato com os trabalhos artísticos da exposição Naturezas Imersivas, a curadoria preparou iniciativas voltadas para professores, educadores e mediadores. Compreendendo que as obras possibilitam uma série de leituras, sobretudo quando colocadas em relação, a mostra oferecerá visitas guiadas online pelo tour virtual, com participação de artistas e curadoria.
As datas das atividades virtuais e o formulário de inscrição podem ser conferidos no site https://site.bileto.sympla.com.br/farolsantanderpoa/.
Sobre Daniela Bousso
Daniela Bousso é curadora, crítica de artes visuais, dirigente cultural e docente. Escreve e organiza livros de arte. Colabora com a Revista Select e com o Canal Contemporâneo. É Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC. Dirigiu o Paço das Artes e o MIS – Museu da Imagem e do Som em simultaneidade, onde trabalhou na concepção e implantação do projeto de reposicionamento do MIS-SP.
Foi curadora das sete primeiras edições do Prêmio Sérgio Motta de Arte e Tecnologia. Também coordenou a primeira edição do Projeto Rumos Visuais do Itaú Cultural, entre 1997 e 1998. Também foi curadora de mais de 70 exposições realizadas e recebeu diversos prêmios, como: APCA "Curadora Revelação" e "melhor programação do ano" (1992); APCA, Projeto Ocupação, 2004, Paço das Artes SP.
Sobre o Farol Santander Porto Alegre
O Farol Santander Porto Alegre, centro de empreendedorismo, cultura e lazer completará dois anos em março de 2021. Neste período, recebeu seis exposições de artes visuais com artistas nacionais e internacionais e exibiu 15 programas especiais no Cine Farol Santander.
O histórico edifício no Centro da capital gaúcha, também possui o Espaço Memória, que traz a história da cidade, do prédio e da política monetária brasileira, além do Restaurante Moeda; todos concentrados no subsolo da instituição.
Vale também destacar a versatilidade com a dinâmica de eventos, que disponibiliza todos os espaços do Farol Santander para locação.
abril 4, 2021
Flávio Cerqueira na Leme, São Paulo
A Galeria Leme informa a nova data de lançamento da exposição Um mundo de cada vez, por Flávio Cerqueira, para o dia 8 de abril. Devido ao agravamento da pandemia de Covid-19 no Estado de São Paulo e às novas medidas tomadas para a contenção do vírus, a exposição será realizada virtualmente.
Um mundo de cada vez - primeira exposição individual de Flávio Cerqueira na Galeria Leme - como o próprio nome nos convida a refletir, evidencia como as esculturas de Flávio são representações únicas, que trazem à tona realidades por muitas vezes invisibilizadas, mas que ao mesmo tempo carregam complexidades extremamente ricas e singulares a seu próprio modo. Nesse sentido, são extremamente precisas as escolhas pela escultura, pelo uso do bronze, e é claro, pela retratação de meninas e mulheres.
A opção por trabalhar escultura, pode-se dizer, não é das mais usuais no cenário artístico no século XXI, em parte devido ao alto custo do material e ao elevado nível de conhecimento técnico que este tipo de produção demanda. Somado a isso, é interessante observar a utilização que Flávio faz do bronze, um material maleável, mas que ao mesmo tempo ganha rigidez total após o esfriamento.
Se ao longo da história do movimento Barroco (séc. XVII – XVIII), as esculturas em bronze eram utilizadas principalmente para homenagear grandes personalidades europeias, em grande parte homens com importância política ou militar, Cerqueira vem a utilizar esta técnica com o objetivo de visibilizar a existência de corpos historicamente marginalizados, isto é, mulheres de um país que viveu a colonização e que ainda possui diversas marcas daquele período.
Cada uma das esculturas desta exposição fixa uma espécie de narrativa no espectador. Um exemplo é a obra Cansei de Aceitar Assim, onde há uma jovem de corpo delineado ao lado de uma placa em que está escrita a palavra STOP. Outro caso é a obra Para dar nome às coisas, escultura uma adolescente junto de uma luneta, a fim de nos trazer a ideia de descobrimento.
A exposição de Flávio Cerqueira vem a eternizar vivências e narrativas comumente vistas como de pouco valor ou corriqueiras. A partir de uma técnica clássica, muito utilizada em séculos passados, o trabalho faz uma problematização necessária a respeito da noção pré-estabelecida de grandes personagens históricos e a importância daí proveniente.
Sobre o artista
São Paulo, Brasil, 1983. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil.
Flávio Cerqueira trabalha com processo tradicional de escultura conhecido como fundição por cera perdida e fundição em bronze, e explora a figura humana como protagonista.
Como artista/contador de histórias, Cerqueira cria vigorosas esculturas de bronze figurativas, focadas na construção de narrativas e representação de ações. Ele retrata seus personagens em situações cotidianas comuns e universais, como em momentos de introspecção, reflexão, concentração e ação. A presença de objetos do cotidiano, como espelhos, livros, troncos de árvores, rampas, escadas, cria tensão com as figuras humanas de bronze fora de escala. Esses cenários ocorrem dentro do cubo branco, que funciona como um pedestal, uma tentativa de desfocar as fronteiras entre a escultura e o mundo e entre a obra de arte e o espectador. Sua intenção é problematizar a relação entre espaço e espectador. Cerqueira usa a escultura como ferramenta para imobilizar o instante, o momento do fragmento de uma narrativa, onde o espectador se torna co-autor na produção de sentido para dizer que a história não tem fim, mas com vários finais as fronteiras entre fantasia e a realidade desaparece.
O trabalho de Cerqueira tem sido destaque em inúmeras exposições coletivas no Brasil e no exterior, incluindo, principalmente, nos Open Spaces em Kansas City, MO (2018); Histórias Afro Atlânticas, MASP – São Paulo, Brasil (2018); Queermuseu, Santander Cultural, Porto Alegre, Brasil (2017); Sul / Sul Deixe-me começar de novo, Goodman Gallery Cape Town, África do Sul (2017). 10ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brasil (2015); Resignificações, Museu Stefano Bardini, Florença, Itália (2015); Ichariba Chode, Galeria Plaza Norte, Saitama, Japão (2015); e a 16ª Bienal de Cerveira, Portugal (2011).
Suas obras podem ser encontradas em importantes coleções do Brasil, como as da Pinacoteca do Estado de São Paulo, do Museu Afro Brasil, do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP) e do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS).
abril 2, 2021
A Escolha do Artista na CRM, Rio de Janeiro
Exposição reúne trabalhos autorais de cinco expoentes das artes plásticas em diálogo com obras de acervo
A Coleção Roberto Marinho, que ao longo de seis décadas reuniu cerca de 1.400 peças cadastradas - entre pinturas, esculturas, gravuras e desenhos, é o ponto de partida da exposição A Escolha do Artista. A mostra encerra a trilogia Casa, Jardim, Coleção, iniciada em 2018, por ocasião da inauguração do instituto no Cosme Velho. Especializado em modernismo brasileiro dos anos 1930 e 1940, bem como em abstracionismo informal da década de 1950, o belo conjunto recebeu trabalhos dos estrangeiros Marc Chagall, Salvador Dali e Vieira da Silva, entre outros, sem perder o foco original.
A ser aberta no dia 13 de março, às 12h, A Escolha do Artista na Coleção Roberto Marinho reúne trabalhos autorais de cinco expoentes das artes plásticas em diálogo com obras do acervo. Antonio Manuel, Beth Jobim, Cristina Canale, Raul Mourão e Waltercio Caldas foram convidados a selecionar peças e a estabelecer com elas uma conversa poética através de suas próprias proposições artísticas. De acordo com o diretor da Casa, Lauro Cavalcanti, “parte fundamental do projeto foi o diálogo ocorrer nos termos estabelecidos pelos cinco artistas, que foram soberanos em suas escolhas”.
A primeira sala é consagrada às mostras anteriores da trilogia: as gravuras de 10 Contemporâneos (2018), que exploram a temática “casa”, dividem espaço com os múltiplos de O Jardim, exposição realizada em dezembro de 2019.
Em sua sala, Raul Mourão estabelece um contraste entre o Brasil idílico do quadro Flora e fauna brasileira (c. 1934), de Portinari, e a época atual. Cristina Canale selecionou, em sua maioria, retratos. E no trabalho inédito propõe um diálogo pictórico, imaginando os caminhos e escolhas de Di Cavalcanti no óleo de 1963, “Ivete Rocha Bahia”. “Sinto sua falta” é o título do múltiplo especialmente criado por Antonio Manuel, que junto a um díptico e à série “Frutos de Espaço”, interagem com obras de Pancetti. Beth Jobim identificou nas ripas de Ione Saldanha questões inerentes à sua poética pessoal e reproduziu um texto de Lygia Pape sobre Ione, criando uma nova camada de possibilidades nesse encontro. Waltercio Caldas, que dialoga com De Chirico, Legér, Tarsila, Soulages, Nery e Pancetti, propõe calar as exterioridades que podem interferir em nossa percepção e cria objetos que falam com arte e não sobre arte.
“Esta exposição representa a crença na arte como elemento de renovação. O encontro de cinco expoentes produzindo trabalhos novos e interagindo com a Coleção é uma prova de vitalidade e generosidade muito bem-vinda nesses tempos. A mostra revela o pensamento artístico de cada um, suas filiações e processos”, avalia Cavalcanti.
DEPOIMENTO DOS ARTISTAS
ANTONIO MANUEL
A destruição da Amazônia, do Pantanal e as queimadas criminosas me comovem e causam profunda tristeza. A questão ambiental é um elemento importante na minha vida. O crítico Mário Pedrosa, em um texto sobre o meu trabalho "O corpo é a obra” (1970), diz: "o artista é sempre aquele que nunca perde o contato com a natureza... mesmo num outro plano dentro das máquinas, ele vê as coisas como uma relação direta - ele e o mundo. Ele e a realidade. Ele e a natureza”.
Com esse pensamento, desenvolvi o objeto “Sinto sua falta”, de ferro e carvão, preso a um fio, como um pêndulo. O título nasceu paralelo ao trabalho. É a minha homenagem e meu amor à natureza. Junto a esse objeto, apresento as esculturas “Frutos do Espaço”, de 1980, que serviram como estudo para a instalação de mesmo nome em tamanho maior.
Dentro da coleção Roberto Marinho, procurei obras que tivessem uma ligação com essa poética. E talvez o Pancetti, com suas pinturas extraordinárias, seja quem mais se relaciona com as questões da natureza. A meu ver, as telas do dele, suas cores, paisagens, poéticas e ligação com a natureza dialogam com as abstrações dos meus trabalhos, que são páginas geométricas, aparentemente vazias, para se preencher com imagens e projeções.
BETH JOBIM
A partir do convite da Casa Roberto Marinho, pensei se havia alguma surpresa a se descobrir numa coleção já exposta e pensada com tanta inteligência. Elegi as 24 Ripas, da Ione Saldanha, que compõem um único trabalho não exibido anteriormente na instituição. Ione é uma grande pintora brasileira que, no final dos anos 1970, começou a pintar sobre ripas de madeira. Esse conjunto tem sua história, traz o seu tempo, mas também acontece agora num diálogo com o presente. É uma série versátil que pode ser mostrada de diversas maneiras, dentro do que a artista propõe, sob um olhar contemporâneo.
E eu já vinha trabalhando em algumas telas com cor, encapadas com linho branco (que usualmente é o fundo da tela), com frestas que revelam o pigmento. É um processo que envolve a costura artesanal de tecidos coloridos. Essas obras têm afinidades com as Ripas da Ione. Há um diálogo muito claro visualmente, embora o trabalho dela seja bastante expansivo e o meu um tanto contido, por ter relação com a questão da pandemia, do isolamento e do uso de máscaras, nesse momento em que estamos todos obrigados a nos “embrulhar” para nos proteger.
CRISTINA CANALE
Já há algum tempo tenho trabalhado com o formato clássico de portrait como território de pesquisa e exercício da pintura, de forma que fazer uma curadoria em um acervo de artistas modernos foi como “colocar uma criança diante de um prato de brigadeiro”. Procurei o percurso da abstração à figuração dentro da estética de retratos, a figura centralizada que mimetiza um rosto e seus arredores.
O retrato “Ivete” de Emiliano Di Cavalcanti foi o ponto de partida da minha curadoria e base para meu projeto de gravura. “Ivete”, além das suas qualidades pictóricas, possui em sua envergadura os caminhos que entrecruzam e perpassam as diversas influências na obra dos modernistas brasileiros, e que ainda hoje ecoam na pintura contemporânea, um pouco de Picasso, Matisse e expressionistas…. E a iconografia da “mulher brasileira”.
Minha porta de entrada nesta obra foram os volumes generosos, a dinâmica do xale rosa luminoso percorrendo o vestido azul como uma cachoeira que deságua em tons vermelhos. Recorri ao Matisse que está em mim, para interpretar esta obra, entre outras tantas visões possíveis.
Adentrar a obra e as decisões de um dos mestres da pintura brasileira quase seis décadas depois de executada foi um exercício de respeito e autoconhecimento.
RAUL MOURÃO
A partir do acervo da Casa Roberto Marinho, escolhi uma única obra, a pintura Flora e fauna brasileira (c. 1934), de Candido Portinari, que compõe um retrato de um Brasil tropical. Em diálogo, apresento a série The New Brazilian Flag, realizada em 2020, trabalho que gerou muitos desdobramentos e reflexões. É também uma representação do país, completamente diferente, concebida quase um século depois. Vejo um casamento perfeito entre as duas abordagens.
O título irônico em inglês remete à origem desse trabalho, um encontro real com uma bandeira americana, em Nova Iorque, em 2017. Estava saindo de uma feira de arte e avistei uma bandeira dos Estados Unidos enrolada no próprio mastro, de modo que o retângulo onde estão as estrelas não aparecia. Fiz um registro em vídeo, um documento singelo da bandeira enrolada, vibrando com o vento forte. Uma bandeira modificada acidentalmente, cortada, amputada. Depois de publicar no Instagram e fazer circular esse curto vídeo, surgiu o título: The New American Flag.
De volta ao Brasil, andando pela Lapa, me ocorre de fazer uma versão brasileira dessa bandeira modificada, sem as estrelas, sem os estados, sem a república, sem a federação, violentada, como um cartoon. Então, comprei uma bandeira, recortei não só as estrelas, mas o azul e a frase “ordem e progresso”. Arrombei a bandeira, fiz um furo no meio e pendurei na parede do ateliê.
Foi se aproximando o carnaval de 2018 e tive um insight: decidi fazer uma provocação, uma intervenção de arte pública, colocar um objeto de arte na cidade na sexta-feira pré-carnaval. E esse objeto é a bandeira, que fixei nos Arcos da Lapa, como uma intervenção urbana temporária, ilegal, não autorizada e carnavalesca. A bandeira sobreviveu apenas de sexta para sábado: na manhã seguinte, alguém passou, pulou, arrancou e levou. O primeiro trabalho dessa série é justamente o registro fotográfico da bandeira fixada nos Arcos da Lapa e chama-se The New Brazilian Flag.
O vazio na bandeira é um comentário sobre uma crise política/institucional, uma incerteza, um momento de violência e agressão. Mas esse vazio também pode ser território para lançar novos projetos, novos desejos e sonhos. É uma área a ser preenchida. Minha pergunta ao coletivo é: estamos aqui, vamos construir algo novo?
O múltiplo que criei para a exposição, um objeto de tecido com 45 bandeiras costuradas, é um cartoon, um trabalho de fácil comunicação e grande circulação. Tem a vocação de circular numa velocidade mais rápida que um objeto de arte, funciona na contemplação da sala branca do museu mas também no Instagram.
WALTERCIO CALDAS
Para a exposição, fiz objetos que remetem direta ou indiretamente às pinturas selecionadas da Coleção e, considerando a montagem, estabeleci uma relação bastante intimista entre eles.
Selecionei obras que se relacionam com questões que transferi diretamente para o meu projeto. Por conta de uma característica própria à minha prática, optei por estabelecer não apenas uma resposta às pinturas selecionadas, mas sobretudo um diálogo através dos objetos. Porque acredito que a diferença entre o que vemos numa pintura e o que vemos num objeto diz algo sobre a questão que eu trato aqui. É na especificidade física do objeto que reside a linguagem plástica.
Gosto muito do trabalho do De Chirico, por exemplo, um pintor metafísico que trata da natureza das coisas. Optei por retirar a moldura da tela dele, com a autorização do Lauro, para esclarecer o caráter de objeto que nela reside: tinta agregada com cola sobre tela esticada em madeira. Escolhi estabelecer um diálogo com esta obra através de um objeto que trata das mesmas questões abordadas por De Chirico. Foi essa a forma de relação que elegi para a exposição: falar com arte e não sobre arte. Quero usar a linguagem artística como prática e não como assunto. O artista pode falar da linguagem “por dentro”.
Maria Martins na CRM, Rio de Janeiro
A poética libidinal de Maria Martins ocupará o térreo da Casa Roberto Marinho em mostra de gravuras e documentos doados à instituição por sobrinho-neto da escultora
Única brasileira a participar do movimento surrealista europeu, MM marcou presença na história da arte moderna
Uma das primeiras obras a capturar o olhar do visitante, na Casa Roberto Marinho, é a escultura em bronze O implacável (1944), da mineira Maria Martins (1894-1973), instaurada diante da fachada do casarão neocolonial, no Cosme Velho. A partir do dia 13 de março, o público terá a oportunidade de se aproximar da poética da primeira escultora a explorar o tema da sexualidade no Brasil. Ocupará o térreo do instituto uma mostra com dez gravuras e documentos doados à instituição pelo casal Heloísa e Carlos Luiz Martins Pereira e Souza, ele sobrinho-neto da artista.
A individual Maria Martins reunirá também as esculturas Glebe-ailes (1944) e Insônia infinita da terra (1954), que integram o acervo permanente da Casa, além de cartas e reproduções de livros e fotos. Em paralelo à mostra, o auditório do instituto exibirá Não esqueça que eu venho dos trópicos, documentário de Elisa Gomes sobre a vida e a obra de MM.
“Recentemente, ao organizar arquivos antigos, encontrei gravuras e documentos que pertenceram à minha tia, e julguei importante dar um destino público a esse conteúdo histórico. Entrei em contato espontaneamente com a Casa Roberto Marinho e manifestei meu interesse em doar, já que seu patrono foi um incansável incentivador da arte brasileira”, revela Carlos. “A Tia Maria sempre foi avant-garde, uma mulher à frente de seu tempo. E essa característica, expressa em sua obra de intensa força plástica, exercia um certo fascínio”, comenta o sobrinho-neto da artista.
“Esta mostra, além de celebrar o ato raro e louvável de doação do Carlos Luiz Martins, é um prenúncio da grande retrospectiva da obra dessa notável artista brasileira que faremos em 2022, em parceria com o MASP”, adianta Lauro Cavalcanti, diretor da Casa Roberto Marinho.
Maria de Lourdes Martins Pereira e Souza, nascida em 1894, em Campanha (MG), marcou presença na história da arte moderna. Escultora, desenhista, gravadora e escritora, teve seu trabalho reconhecido tardiamente no Brasil. Grande parte de sua carreira foi desenvolvida no exterior, enquanto acompanhava as atividades de seu segundo marido, o embaixador Carlos Martins, em diversas partes do mundo.
Iniciou-se na escultura em 1926, na França, quando começou a trabalhar com madeira. Mais tarde, já vivendo no Japão, aprendeu a modelar em terracota, mármore e cera perdida. Nos anos 1930, aperfeiçoou-se na Bélgica, com Oscar Jespers (1887 - 1970), passando a utilizar o bronze, que adotou como principal suporte de sua obra.
Em 1939, foi viver com o marido em Nova Iorque onde fixou ateliê, estudou com o escultor lituano Jacques Lipchitz (1891 - 1973) e realizou a primeira individual, em 1941. No mesmo período, conheceu André Breton (1896 - 1966), autor do Manifesto Surrealista, que a apresentou a artistas ligados ao surrealismo e ao dadaísmo, como Max Ernst (1891 - 1976) e Marcel Duchamp (1887 - 1968). Com este último Maria manteve um relacionamento amoroso e trocas artísticas. Ela posou de modelo para a última obra de Duchamp, Étant donnés, e para a capa do catálogo Prière de toucher. A escultora foi a única brasileira a participar do movimento surrealista europeu. Em 1948, mudou-se para Paris e seu ateliê tornou-se ponto de encontro de intelectuais e artistas.
Quando retornou definitivamente ao Brasil, em 1950, sua obra foi tratada com certa hostilidade pela crítica, que a considerava muito próxima do surrealismo e chegou a classificá-la como obscena. Em sua última individual, em 1956, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Maria publicou um texto defendendo a liberdade de expressão artística. Na mesma década, colaborou ativamente na organização das primeiras Bienais Internacionais de São Paulo e na fundação do MAM Rio.
Como escritora, assinou uma coluna no Correio da Manhã e publicou, entre outros livros, A Índia e o Mundo Novo, A Ásia Maior e o Planeta China.
Em 1968, em entrevista concedida à grande escritora Clarice Lispector (1920-1977), declarou: "Um dia me deu vontade de talhar madeira e saiu um objeto que eu amei. E depois desse dia me entreguei de corpo e alma à escultura. Primeiro, em terracota, depois mármore, depois cera perdida, que não tem limitações".
A radicalidade da obra pouco convencional de Maria Martins estará ao alcance dos visitantes de 13 de março a 13 de junho de 2021, na Casa Roberto Marinho, sempre de terça a sábado, das 12h às 18h. Em virtude da pandemia de Covid-19, a instituição funciona sob agendamento on-line através do site.
abril 1, 2021
Marcos Chaves no MAM, Rio de Janeiro
Marcos Chaves: as imagens que nos contam - Primeira individual do artista carioca no MAM Rio reúne objetos, imagens e instalações criados desde a década de 1980, incluindo trabalhos inéditos
O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) apresenta a exposição Marcos Chaves: as imagens que nos contam, que reúne cerca de 70 obras do artista carioca, das últimas quatro décadas. Ocupando grande parte das galerias do Bloco Expositivo, a mostra oferece um panorama da obra de Chaves e revela as diversas facetas de sua prática, desde a fotografia e o vídeo a grandes instalações e objetos modificados. Com abertura confirmada para o dia 20 de março, às 10h, a individual reúne criações provenientes de acervos privados e da coleção do artista. A curadoria é um projeto conjunto da equipe curatorial do museu, com Beatriz Lemos, Keyna Eleison e Pablo Lafuente.
“É a minha primeira individual no MAM, um panorama amplo da minha trajetória, que exibe todo o conjunto de objetos criados desde a década de 1980. Apesar de incluir trabalhos antigos, é uma mostra bastante fresca, com obras de pouca circulação. A curadoria foi muito presente na seleção, privilegiamos objetos e instalações, além de fotografias que se relacionam com o entorno. A exposição me fez revisitar trabalhos antigos que me levaram a criar objetos novos: alguns têm relação com a pandemia, mas nada literal. Como a área expositiva é toda aberta, com vista livre para o Aterro e a Baía de Guanabara, a cidade entra na mostra, numa relação física e direta”, adianta Marcos.
A grande galeria do segundo andar do museu está estruturada por duas paredes lineares, de aproximadamente 30 metros cada, que atravessam o ambiente longitudinalmente, servindo de plataforma para objetos, esculturas, fotografias e vídeos. O espaço expositivo com vidraças descobertas permite conectar diretamente as obras de Chaves à cidade do Rio, tema recorrente em seu trabalho. A montagem - que resgata os painéis originalmente projetados para o MAM pelo designer alemão Karl Heinz Bergmiller - libera a visão do público e conduz os movimentos, agrupando trabalhos e criando narrativas não cronológicas.
A exposição inclui quatro grandes instalações, entre elas a Comfundo (1990), que ergue colunas construídas a partir de sacolas de supermercado. Exibido uma única vez no Rio, o trabalho revela a preocupação ecológica do artista, há mais de 30 anos. Outro destaque é a obra minimalista sem título criada nos anos 1990 especialmente para o MAM Rio: em metal, fibra de vidro e fio de nylon, a instalação dispõe postes organizadores de fila, como um circuito ou labirinto. A série Pontos de Fuga (2008), uma sobreposição de fotografias em 3D, e vários trabalhos em vídeo são parte da panorâmica. Outros trabalhos mais conhecidos do público, como o vídeo Eu só vendo a vista e a série Buracos, também integram a seleção.
As obras, sejam fotográficas, escultóricas, vídeos ou instalações, podem ser pensadas como imagens que capturam aspectos fundamentais das paisagens que o artista habita e dos lugares por onde circula. Seu olhar foca em aspectos frequentemente ignorados que, em suas obras, tornam-se profundamente reveladores. Elementos irrelevantes para outros olhares, erros ou desleixos nos quais Chaves repara e captura, dando a atenção devida às coisas que existem, permitindo que se mostrem em sua singularidade.
“Desde o final dos anos 1980, Marcos Chaves é responsável por uma produção artística que nos permite enxergar de perto objetos e situações que conformam o mundo que habitamos. Por meio de suas imagens, podemos nos aproximar da cidade do Rio de Janeiro, em suas paisagens exuberantes e cantos escondidos; mas também de lugares imaginados ou distantes. E através dos objetos do presente e do passado, apresentados muitas vezes em diálogos inesperados, nos iluminamos com histórias que falam, em última instância, sobre nós mesmos”, analisa Pablo Lafuente, diretor artístico do MAM Rio.
A exposição fica em cartaz até 13 de junho de 2021, com visitação de quinta a domingo e feriados, e agendamento on-line através do site do MAM Rio.
Sobre Marcos Chaves
Marcos Chaves nasceu no Rio de Janeiro (RJ) em 1961. Formado em arquitetura e urbanismo pela Universidade Santa Úrsula (RJ), estudou arte no MAM Rio e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. O artista se apropria de imagens e objetos cotidianos encontrados em suas constantes andanças pela cidade e com eles realiza combinações inesperadas, promove deslocamentos de sentidos ou injeta uma dose de paródia. O resultado surge em fotografias, vídeos, objetos ou instalações. Chaves expôs em museus e galerias no Brasil, na Europa, nos EUA e no Japão. Participou da Manifesta 7, na Itália; das bienais de São Paulo; Mercosul, em Porto Alegre; Cerveira, Portugal; e Havana, Cuba. Obras suas fazem parte de coleções de museus no Brasil, EUA, Itália e Espanha.
Sobre o MAM Rio
O MAM Rio é uma instituição cultural constituída como uma sociedade civil de interesse público, sem fins lucrativos, apoiada por pessoas físicas e por empresas, que tem atualmente, como parceiro estratégico, o Instituto Cultural Vale e como patrocinador master o Grupo PetraGold, a Petrobras e a Ternium.
Desde janeiro de 2020, a nova gestão do MAM Rio, deu início a um processo de profunda transformação institucional envolvendo novas ideias, novos fluxos de trabalho e novas atitudes. As ações do processo de transformação buscam coerência com o projeto original do museu, pautado pelo tripé arte-educação-cultura. Um movimento de potencialização das ações já realizadas no museu, em consonância com seu histórico, e de acolhimento de todos que desfrutaram da efervescência dos diversos espaços do MAM Rio, incluindo públicos que nunca visitaram a instituição.
Fayga Ostrower no MAM, Rio de Janeiro
Fayga Ostrower: formações do avesso - Mostra aborda o pensamento da artista sobre arte e sua prática em educação desenvolvida entre 1953 e 1969, no Bloco Escola do MAM Rio
Em celebração ao centenário de nascimento da artista, educadora e crítica de arte Fayga Ostrower (1920-2001), uma das pioneiras da gravura abstrata no Brasil, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) abrirá a mostra panorâmica Fayga Ostrower: formações do avesso, no dia 20 de março. Com cerca de 60 trabalhos - entre gravuras, aquarelas, desenhos, tecidos e joias - a exposição explora a pluralidade da produção da artista e aborda sua prática em educação, desenvolvida no período em que lecionou no Bloco Escola do museu carioca. A curadoria é um projeto conjunto da equipe curatorial do museu, com Beatriz Lemos, Keyna Eleison e Pablo Lafuente, e a gerência de Educação e Participação, com Gilson Plano, Daniel Bruno e Shion Lucas.
Recentemente, o Instituto Fayga Ostrower doou ao MAM Rio cerca de 70 obras, entre gravuras, aquarelas e desenhos. A mostra parte destes trabalhos somados à peças selecionadas do acervo do museu e da Coleção Gilberto Chateaubriand, em comodato de longa duração. Joias e tecidos pertencentes ao acervo do Instituto também integram a individual e revelam um vocabulário artístico muito particular. O conjunto compõe um importante panorama da produção realizada em diferentes períodos da trajetória de Ostrower, e possibilita um estudo apurado sobre o abstracionismo informal na arte brasileira e o uso das cores na técnica da gravura.
De acordo com a curadora Beatriz Lemos, a exposição traz ao público a importância da atuação de Fayga como teórica e educadora: “É um convite ao mergulho na produção artística e intelectual dela. Entendemos que seu papel como educadora é tão fundamental para o MAM quanto sua trajetória artística. Celebramos seu centenário e a recente doação de obras com uma conversa entre curadoria e educação a partir da expansão de cores de seus trabalhos pelo espaço“.
O pensamento educacional de Fayga – que conduziu o curso de Composição e Análise Crítica no MAM Rio, entre 1953 e 1969 – ganha protagonismo na mostra. Trechos de seus textos, livros e arquivo documental são apresentados no espaço expositivo, criando um solo semântico. Dessa forma, a curadoria estabelece correlações entre a prática em educação e a criação artística na trajetória desta importante personagem para a história do MAM Rio, do Bloco Escola e da cena de arte brasileira.
Sem dúvida, é difícil ser professor de arte, pois nós, artistas, bem sabemos que arte nem se ensina; a única coisa que é possível fazer, dificílima, é ajudar os outros a formularem perguntas, suas próprias perguntas. Ao formularem as perguntas, estarão encaminhando-se para as possíveis respostas. (Fayga Ostrower, A arte como processo na educação, coord. Maria de Lourdes Mäder Pereira. FUNARTE, 1981)
“Em muitos momentos encontramos nos escritos da educadora passagens em que ela partilha generosamente suas pedagogias da criação, enfatizando como aprendemos e criamos por meio das relações com o mundo. É sempre bom relembrar o quanto o compromisso educacional é importante para o MAM. Fayga faz parte de uma geração que vivenciou o museu também como escola”, avalia Gilson Plano, coordenador de mediação do MAM Rio.
Ocorreu-me então: e se nas minhas aulas eu não partisse de conceitos? Se substituísse a definição verbal por uma experiência direta, por uma atuação do grupo? O caminho para se chegar aos vários resultados poderia servir para ilustrar os conceitos. Não haveria necessidade de se abstrair ou verbalizar o sentido do fazer. O fator mais importante e convincente seria mesmo a possibilidade de se vivenciar o fazer.
(Fayga Ostrower, Universos da arte. Editora Campus, 1983)
Em cartaz até 6 de junho deste ano, a mostra ocupa o terceiro piso do museu, que revela a arquitetura externa do edifício modernista de frente para a Baía de Guanabara.
Sobre Fayga Ostrower
Nascida em 1920 em Lodz, na Polônia, Fayga Ostrower emigrou para o Brasil em 1934. Estudou artes gráficas na FGV, foi bolsista da Fullbright em Nova York e lecionou na Slade School da Universidade de Londres, entre outras instituições. Recebeu numerosos prêmios, inclusive das Bienais de São Paulo e de Veneza. Em 1953, expôs pela primeira vez obras abstracionistas no MEC, Rio de Janeiro. Podemos localizá-la entre os pensadores mais importantes do abstracionismo informal brasileiro e uma crítica militante das vertentes construtivistas, então hegemônicas no país. As idéias estéticas expressas em sua obra foram difundidas também por meio dos livros que publicou e dos cursos de Composição e Análise Crítica por ela ministrados no MAM-RJ entre 1956 e 1967. A artista experimentou quase todas as mídias gráficas, incluindo a estamparia.
Sobre o MAM Rio
O MAM Rio é uma instituição cultural constituída como uma sociedade civil de interesse público, sem fins lucrativos, apoiada por pessoas físicas e por empresas, que tem atualmente, como parceiro estratégico, o Instituto Cultural Vale e como patrocinador master o Grupo PetraGold, a Petrobras e a Ternium.
Desde janeiro de 2020, a nova gestão do MAM Rio, deu início a um processo de profunda transformação institucional envolvendo novas ideias, novos fluxos de trabalho e novas atitudes. As ações do processo de transformação buscam coerência com o projeto original do museu, pautado pelo tripé arte-educação-cultura. Um movimento de potencialização das ações já realizadas no museu, em consonância com seu histórico, e de acolhimento de todos que desfrutaram da efervescência dos diversos espaços do MAM Rio, incluindo públicos que nunca visitaram a instituição.
Rafael Bqueer no Pivô Satélite #2, São Paulo
Pivô Satélite recebe aparelhagem de tecnobrega 3D: Proposta do artista Rafael Bqueer fica em destaque em abril na plataforma digital do Pivô
TecnoCabana é uma aparelhagem de tecnobrega 3D desenvolvida pelo artista paraense Rafael Bqueer para a plataforma digital Pivô Satélite. A proposta integra o projeto O Assombro dos Trópicos, curado por Victor Gorgulho e estreia no dia 5 de abril.
O trabalho inédito tem inspiração nas festas de aparelhagem de tecnobrega de Belém do Pará e seu título faz referências à Guerra dos Cabanos (1835-1840), ou Cabanagem, revolta social popular ocorrida na região durante o Brasil Imperial. Bqueer busca estabelecer conexões cyber-espaciais entre territórios e ritmos da Amazônia, através do resgate das memórias da revolta liderada pela população negra e indígena local. "Toda produção artística e cultural da periferia de Belém descende diretamente da resistência cabana", conta o artista. "TecnoCabana representa esse encontro ancestral, festivo e político pela vida e valorização das existências afro-indígenas da região".
Com uma estética "futurista" que remete a naves espaciais, transformers e megazords, as aparelhagens são estruturas formadas por equipamentos de som e luz características das festas de tecnobrega. O gênero musical surgiu em Belém nos anos 2000, fazendo uso de instrumentação eletrônica para fundir música pop internacional e ritmos regionais. O universo do tecnobrega, com sua mistura de regionalidade e tecnologia, especialmente a música da cantora Gaby Amarantos, é uma referência importante para Bqueer. As práticas performáticas do artista nasceram no contexto dessas manifestações culturais contra-hegemônicas da periferia de Belém, com a criação da drag queen Uhura Bqueer, em 2014.
Segundo o artista, TecnoCabana surge como projeto 3D na plataforma digital do Pivô para, no futuro, ganhar sua própria materialidade. O projeto inclui também uma música inédita, composta pelo artista, que servirá de trilha sonora para a sua aparelhagem fictícia. O objetivo de Bqueer é ativar o que chama de corpas-aparelhagens. Ele explica: "As corpas-aparelhagens são corpas que pertencem ao universo performativo das festas de aparelhagem, que tremem e vibram com a intensidade das caixas de som. Corpas de led, cobertas de luz e de afirmação de nossas complexas identidades amazônicas".
A Cabanagem foi uma revolta popular e social ocorrida durante o Império do Brasil de 1835 a 1840, na antiga Província do Grão-Pará, que abrangia os atuais estados do Pará, Amazonas, Amapá, Roraima e Rondônia. Os revoltosos eram na maioria índios, negros e mestiços que viviam em situação precária em cabanas de barro à beira dos rios e eram usados como mão de obra semiescrava (fonte: Wikipedia).
Além de Rafael Bqueer, a artista Diambe da Silva, o coletivo Anarca Filmes e a dupla Davi Pontes & Wallace Ferreira também integram o projeto O Assombro dos Trópicos. Cada artista ocupa a plataforma com propostas individuais mensais. Criada no contexto da pandemia de Covid-19, a plataforma digital Pivô Satélite é uma sala de projetos dentro do site do Pivô, que busca contribuir para a criação de uma rede de apoio à comunidade artística local, a partir da concessão de bolsas pesquisa no valor de R$ 5.000,00 para cada artista participante. A ideia é promover a visibilidade destas produções e garantir que estes artistas continuem produzindo em um contexto tão adverso. Seu programa é concebido por artistas e curadores convidados pela instituição e compreende propostas artísticas em formatos variados, pensadas especialmente para os meios digitais.
Sobre o artista
Rafael Bqueer (Belém, 1992) vive e trabalha entre Rio de Janeiro e São Paulo. Graduou-se em Artes Visuais pela Universidade Federal do Pará (UFPA). As práticas performáticas de Rafael Bqueer partem de investigações sobre perspectivas afro-indígenas na Amazônia, sexualidade, ficção e decolonialidade. Drag queen e ativista LGBTQI+, Bqueer tem um trabalho que dialoga também com vídeo e fotografia, utilizando de sátiras do universo pop para construir críticas às questões da contemporaneidade. Atua de forma transdisciplinar com vivências entre a moda, escolas de samba e arte contemporânea. Já participou de exposições nacionais e internacionais, destacando : “Against, Again: Art Under Attack in Brazil"- Shiva Gallery em Nova York (2020); 30ª edição do Programa de Exposições Centro Cultural São Paulo- CCSP (2020) e a individual “UóHol” no Museu de Arte do Rio (2020). Artista premiado na 8º Edição da Bolsa de fotografia da Revista ZUM - Instituto Moreira Salles (2020) e na 7º edição do Prêmio FOCO Art Rio(2019). Suas obras fazem parte das coleções do Museu de Arte do Rio (MAR), Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM) e Museu do Estado do Pará (MEP).
Sobre o curador
Victor Gorgulho (Rio de Janeiro, 1991) é curador, jornalista e pesquisador. Graduado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ e mestrando em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Curou as exposições Vivemos na melhor cidade da América do Sul, junto com Bernardo José de Souza (Átomos, Rio de Janeiro, 2016 e Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, 2017); O terceiro mundo pede a bênção e vai dormir (Despina, Rio de Janeiro, 2017); Eu sempre sonhei com um incêndio no museu – Laura Lima & Luiz Roque no Teatro de Marionetes Carlos Werneck (Rio de Janeiro, 2018); Perdona que no te crea (Fortes D’Aloia & Gabriel, Rio de Janeiro, 2019).Foi co-curador, com Keyna Eleison, da exposição Escrito no Corpo, em exibição na Carpintaria, no Rio de Janeiro, até fevereiro de 2021. Desde 2019 é o curador do MIRA, programa de videoarte da ArtRio. Integra o corpo curatorial da Despina, centro de pesquisa e residência artística no Rio de Janeiro, sob a direção de Consuelo Bassanesi. No Cineclube do espaço, já promoveu a exibição de filmes e conversas com artistas como Cristiano Lenhardt, DISTRUKTUR e Karim Aïnouz. Como jornalista, foi editor assistente de cultura do Jornal do Brasil (2014-2017) e hoje colabora com veículos como o El País Brasil. Co-organizador, junto da crítica e curadora Luisa Duarte, do livro No tremor do mundo - Ensaios e entrevistas à luz da pandemia (Editora Cobogó, 2020).
Sobre o projeto curatorial
Corpo, linguagem, tropicalidade, ficção especulativa e autoficções são algumas das palavras-chave do projeto curatorial de Victor Gorgulho, uma curadoria-narrativa com o propósito de investigar as contradições em torno da construção histórica do que é lido como tropicalidade. O curador pondera: "Se os discursos históricos em torno da ideia de trópico (e do signo da tropicalidade) foram responsáveis por acachapar as complexidades da(s) cultura(s) daqui, como pensar hoje contranarrativas que ultrapassem tais noções hegemônicas?".
Diambe da Silva no Pivô Satélite #2, São Paulo
Diambe da Silva apresenta trabalhos inéditos no Pivô Satélite: Proposta integra a segunda edição do projeto, com a exposição digital O Assombro dos Trópicos, com curadoria de Victor Gorgulho
Diambe da Silva é a segunda artista a ocupar a plataforma digital Pivô Satélite, em sua segunda edição, a partir de 26 de fevereiro. A artista carioca apresentará dois trabalhos em vídeo inéditos, Einstein Remix e Devolta, como parte do projeto O Assombro dos Trópicos, curado por Victor Gorgulho.
O poema visual Einstein Remix (2018), do artista mineiro Ricardo Aleixo, é o ponto de partida para o novo projeto homônimo de Diambe da Silva. O texto do poema é articulado no formato de um tabuleiro de xadrez e seu próprio título carrega a junção de dois elementos aparentemente incompatíveis, um cientista e um verbete da música contemporânea que implica na desconstrução e reorganização de músicas que já existem. Nas palavras da artista: "Pedi para diversas pessoas lerem o poema e cada uma delas vocalizou de sua forma, criando um tipo de coreografia". Tomando a coreografia e a construção coletiva como estratégias possíveis para transitar desembaraçadamente por ambientes distintos, Diambe vê na repetição de gestos intencionados possibilidades para novas experiências que admitem erros e acidentes, além de abrir possibilidades de interação de corpos no espaço. Einstein Remix se forma nas próprias casas dos participantes. A composição modular do poema é replicada em telas de vídeo chamada, trazendo um resultado cacofônico pela sobreposição das vozes das colaboradoras da artista, chamadas por ela de “comparsas”.
Devolta, por sua vez, pertence à série de “emboscadas”, em que a artista circula com fogo esculturas e monumentos no centro do Rio de Janeiro que enaltecem o passado colonial brasileiro. Realizada pela primeira vez em outubro de 2020 na Praça XV, a segunda versão da ação reúne seis comparsas para intervir sobre a estátua de D. João VI, instalada no local desde 1965. Ao redor do monumento, o grupo forma um círculo de roupas, que depois são embebidas com gasolina e incendiadas, sugerindo um tipo de ritual de guerra. "A herança escravocrata dessa cidade indica que eu poderia estender essa série infinitamente em diversas esculturas públicas", diz a artista.
Além de Diambe da Silva, Anarca Filmes, Rafael Bqueer e a dupla Davi Pontes & Wallace Ferreira integram o projeto O Assombro dos Trópicos. Cada artista ocupa a plataforma com propostas individuais mensais. Criada no contexto da pandemia de Covid-19, a plataforma digital Pivô Satélite é uma espécie de sala de projetos dentro do site do Pivô e contribui para a criação de uma rede de apoio à comunidade artística local. Seu programa é concebido por artistas e curadores convidados pela instituição e compreende propostas artísticas em formatos variados, pensadas especialmente para os meios digitais.
Sobre a artista
Diambe da Silva é nascida e criada na periferia do Rio de Janeiro. Sua produção artística se move entre cinema, escultura e coreografia e frequentemente lidando com materialidades como cimento, comida, gravura, fotografia e palavras que são elaboradas na medida em que cria comparsas em situação de diáspora. Esse corpo de práticas e objetos tem sido exposto em lugares como Museu de Arte do Rio (Casa Carioca), Paço Imperial (Esqueleto, uma história do Rio), Galpão Bela Maré (Transcendências), Escola de Artes Visuais do Parque Lage (Arte Naïf; Estopim e Segredo), Carpintaria – Fortes D’Aloia e Gabriel (Escrito no corpo), Despina (Cartões de revisita) e 25º Salão de Artes de Anápolis. Também participou nas residências MAM/Capacete (2020), Despina (2019), Estado crítico (2018) e do programa itinerante Residência Cem Teto (2019-2020).
Sobre o curador
Victor Gorgulho (Rio de Janeiro, 1991) é curador, jornalista e pesquisador. Graduado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ e mestrando em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Curou as exposições Vivemos na melhor cidade da América do Sul, junto com Bernardo José de Souza (Átomos, Rio de Janeiro, 2016 e Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, 2017); O terceiro mundo pede a bênção e vai dormir (Despina, Rio de Janeiro, 2017); Eu sempre sonhei com um incêndio no museu – Laura Lima & Luiz Roque no Teatro de Marionetes Carlos Werneck (Rio de Janeiro, 2018); Perdona que no te crea (Fortes D’Aloia & Gabriel, Rio de Janeiro, 2019).Foi co-curador, com Keyna Eleison, da exposição Escrito no Corpo, em exibição na Carpintaria, no Rio de Janeiro, até fevereiro de 2021. Desde 2019 é o curador do MIRA, programa de videoarte da ArtRio. Integra o corpo curatorial da Despina, centro de pesquisa e residência artística no Rio de Janeiro, sob a direção de Consuelo Bassanesi. No Cineclube do espaço, já promoveu a exibição de filmes e conversas com artistas como Cristiano Lenhardt, DISTRUKTUR e Karim Aïnouz. Como jornalista, foi editor assistente de cultura do Jornal do Brasil (2014-2017) e hoje colabora com veículos como o El País Brasil. Co-organizador, junto da crítica e curadora Luisa Duarte, do livro No tremor do mundo - Ensaios e entrevistas à luz da pandemia (Editora Cobogó, 2020).
Sobre o projeto curatorial
Corpo, linguagem, tropicalidade, ficção especulativa e autoficções são algumas das palavras-chave do projeto curatorial de Victor Gorgulho, uma curadoria-narrativa com o propósito de investigar as contradições em torno da construção histórica do que é lido como tropicalidade. O curador pondera: "Se os discursos históricos em torno da ideia de trópico (e do signo da tropicalidade) foram responsáveis por acachapar as complexidades da(s) cultura(s) daqui, como pensar hoje contranarrativas que ultrapassem tais noções hegemônicas?".