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março 1, 2021
Paulo Bruscky na Amparo 60, Recife
A mostra de Paulo Bruscky na Amparo 60 traz um olhar sobre a pandemia do coronavírus e a importância das criações artísticas para enfrentar este momento
Uma das lições do atual período de pandemia é a importância da arte. O que seria do período de isolamento social sem ela? A afirmação da importância e da presença da arte é algo que acompanha o trabalho do artista multimídia Paulo Bruscky há décadas e norteia, também, a exposição A virulência da arte, a ser inaugurada nesta quinta (28), na Galeria Amparo 60. São artes classificadas, colagens e uma performance – todas inéditas –, sob curadoria de Mariana Oliveira. A exibição fica aberta ao público até o dia 26 de fevereiro, tanto no espaço físico da Amparo quanto em suas redes sociais e no site da SpotArt, parceira da iniciativa e responsável também pela expografia da mostra.
Bruscky conta que começou a produzir as peças em março do ano passado, quando foi visitar sua filha e a neta recém-nascida em Paris, época em que o coronavírus começou a se disseminar por todo o mundo. “Foi um grande impacto não só para mim, mas para a humanidade. Quando estávamos tendo tantas conquistas com a tecnologia, somos pegos por essa peste”, lembra. O artista desembarcou no Brasil em abril e finalizou as colagens já sob o impacto do avanço da pandemia em todo o mundo. “Neste momento de isolamento social, tenho trabalhado muito, chego cedo ao ateliê e passo o dia lá em plena produção. No caso das colagens, comecei o processo no computador com minha filha, na França, e terminei no meu retorno ao ateliê, com a inserção de outros elementos”, explica.
A exposição tem um forte caráter político e o descontentamento do artista com a postura do governo em relação a este momento está retratado bem diretamente em uma das colagens e na serigrafia, preparada com exclusividade para a mostra. Trata-se de uma bandeira do Brasil rasgada e despedaçada ligada a frase: “O que nos espera?”. “Eu tinha essa bandeira há tempos, depois folheando uma revista, encontrei a frase completa, e, a partir desses dois elementos, saiu essa obra que representa muito bem a exposição como um todo”, conta Bruscky. “Essa colagem é bem forte e mostra o sentimento que vivemos neste momento de incertezas, em que mesmo com as vacinas, temos uma liderança nacional negacionista e que trabalha contra a população e a ciência. Para onde vamos? O que nos espera? Como sempre faz, Bruscky nos provoca”, diz a curadora Mariana Oliveira.
O artista também se dedicou a produção de Arte Classificada, fazendo publicações e intervenções que chamavam atenção para as angústias do momento, para a solidão e para o papel que a arte tem. Num dos classificados ele vaticina: “A virulência da arte é maior que a solidão do coronavírus”. Numa outra ação, ele convoca a população a prestar uma homenagem aos profissionais de saúde da linha de frente. “Mesmo perante toda essa ausência – principalmente governamental – eles arriscam suas vidas para salvar as nossas. Por isso, fiz a arte classificada Poesia Sonora, convidando as pessoas e instituições a fazerem barulho para homenagear essa categoria tão importante”, lembra o artista.
Em uma performance, também inédita, realizada neste mês de janeiro na galeria, documentada em vídeo especialmente para a mostra, Bruscky volta a questionar o papel da arte e sua perenidade. Haja o que houver, passe o que passar, a arte fica. “A Virulência da arte é uma ode a isso, à presença, à permanência e à essencialidade da arte nas nossas vidas. Ideia que aparece recorrentemente nos trabalhos de Bruscky. Ele já nos perguntou, na década de 1970, num de suas obras: ‘o que é a arte e para que serve?’”, destaca a curadora. “A gente está vivendo numa sociedade tão autômata, que simplesmente não pensa, e que agora se vê obrigada a refletir, em meio a essa pandemia”, complementa o artista.
A exposição faz parte do projeto Mirada, idealizado pela galerista Lúcia Costa Santos em parceria com a SpotArt. A ideia é, a partir da mirada, do olhar, de um espaço expositivo reduzido, quase uma vitrine, ampliar o alcance das obras. A iniciativa, que nasceu neste momento de pandemia, tem um caráter virtual muito forte, aliado à possibilidade do presencial. Esta será a segunda exposição do projeto que vai se estender ao longo de 2021.
Para Ricardo Lyra, um dos sócios da SpotArt, a parceria com a Amparo 60 no projeto Mirada é a confirmação de um trabalho de cinco anos. “Tanto a mostra de Marcelo Silveira que deu início ao projeto (realizada no ano passado) como a de Paulo Bruscky e as demais que estão por vir, abrem um caminho na arte contemporânea para o SpotArt”, afirma. “Com Paulo Bruscky estamos tendo uma vivência ou uma imersão neste novo mundo. Todo seu conhecimento, sua forma de criar e apresentar sua obra estão sendo bastante enriquecedores”.