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fevereiro 27, 2021
Um lugar lugar nenhum: Paisagens contemporâneas na Marilia Razuk, São Paulo
Exposição coletiva na Galeria Marília Razuk reflete sobre o gênero da paisagem na pintura
Com curadoria de Rodrigo Andrade, exposição propõe diálogo a partir da linguagem pictórica entre sete artistas de trajetórias e pesquisas diversas
A paisagem como um tema e como força atemporal da arte é fio que conduz a exposição Um lugar lugar nenhum: Paisagens contemporâneas, coletiva em cartaz a partir de 4 de março, na Galeria Marília Razuk. Com curadoria do artista Rodrigo Andrade - um dos principais nomes da pintura contemporânea brasileira -, a mostra reúne nomes de diferentes gerações e trajetórias, todos conectados pela linguagem pictórica.
São artistas como o mineiro Alexandre Wagner, autor de uma sólida pesquisa pictórica; o brasiliense David Almeida, artista que investiga múltiplas linguagens, do desenho a instalações, com interesse especial pela pintura; o artista e poeta Evandro César, cujas raízes provém do slam, da arte urbana e do pixo da Cidade Tiradentes, região da Zona Leste de São Paulo, onde nasceu e vive até os dias atuais; Joaquim Pinkalsky, artista paulistano que desenvolve seu trabalho a partir da aquarela, da gravura e da escultura; Link Museu, artista que carrega influências do pixo e da arte urbana de sua região natal, o bairro de Cidade Tiradentes, no leste de São Paulo; a multiartista paulistana Maria Andrade; e Mariana Serri, artista mineira que pesquisa por meio da pintura questões históricas-filosóficas e as semelhanças entre a cor e a linguagem.
Em um ato que remete aos primórdios da pintura moderna, quando os artistas pintavam ao ar livre, diante da natureza e do mundo, o curador propôs uma espécie de ateliê aberto no Luau dos Loucos, uma horta urbana situada entre um riacho que separa os distritos de Cidade Tiradentes, Guaianases e Itaquera. É a partir destas paisagens e de momentos de troca entre os artistas que nascem as 35 telas que compõem a mostra.
“Sete pintores de São Paulo às voltas com um gênero tradicional que está na origem da arte moderna, enfrentando um contexto contemporâneo complexo, problemático e travado, ainda que potencialmente libertário. Juntos, trazem paisagens imaginárias e paisagens pintadas in locu, ao ar livre, formando um conjunto heterogêneo de pinturas que, não obstante, dialogam entre si”, reflete Rodrigo Andrade. “É a paisagem como um tema quase não tema, um pretexto para pintura. Atemporal”, completa.
Artistas participantes: Alexandre Wagner, David Almeida, Evandro César, Joaquim Pinkalsky, Link Museu, Maria Andrade e Mariana Serri.
Sobre os artistas
Alexandre Wagner (1985) – Nascido em Belo Horizonte, atualmente vive e trabalha em São Paulo. Cursou artes visuais pela UFMG com Habilitação em pintura, em 2011. Desde 2013 participou de diversas exposições coletivas, destacando-se a 11ª edição do Abre Alas, na Galeria Gentil Carioca, Rio de Janeiro, com curadoria de Lívia Flores, Michelle Sommer e Daniel Steegmann Mangrané, a coletiva Oito Artistas na Galeria Mendes Wood DM com curadoria de Lucas Arruda e Bruno Dunley, e Um desassossego, na galeria Estação. Em 2018 fez suas duas primeiras exposições individuais: Sol da Noite Galeria Bolsa de Arte, Porto Alegre e Pequenos Formatos na Baró Galeria, São Paulo.
David Almeida (1989) - Nasceu em Brasília e atualmente vive e trabalha em São Paulo. Sua pesquisa se desenvolve por meio de múltiplas linguagens como desenho, objeto, fotografia, instalações, performance e, sobretudo, a pintura. Sua produção tem como eixo principal as problemáticas do espaço e do corpo em percurso, explorando a visualidade do território íntimo, do ateliê, da cidade e da paisagem natural. No espaço pictórico, investiga os limites entre presença e ausência, através de elementos da pintura e de sua semântica narrativa.
Formado em Artes Plásticas pela Universidade de Brasília, realizou a mostra individual A task of wonders, durante a residência no Espronceda Art Center, em Barcelona, Espanha (2020). Premiado em 2013 e 2015 no 12º Salão de Arte de Jataí, em 2014 pelo 20º Salão Anapolino de Arte e em primeiro lugar no I Prêmio Vera Brant de Arte Contemporânea em 2016, participou de mostras coletivas como Segunda Naturaleza, Fernando Pradilla, Madrid, Espanha (2020); Triangular - Arte desse século, Casa Niemeyer, Brasília, DF (2019); e UNS, Library of Love, Contemporary Art Center, Cincinatti, EUA (2017).
Evandro César (1988) – Nasceu em São Paulo e vive e trabalha na cidade. Artista, poeta e produtor cultural, é fundador do coletivo Instituto Du gueto (2016), idealizador da exposição Retrato Falado, no salão do CFCCT (2017). Em 2018 se formou em iluminação cênica pela PRONATEC. Em 2018, produziu o roteiro do espetáculo PAPO DE BOTECO e da direção da FLICT (Festa Literária da Cidade Tiradentes). Em 2019, participou do Monólogo rua ZÉ NINGUÉM. Desde 2018 é membro do coletivo SLAM CT.
Joaquim Pinkalsky (1987) – Nasceu em São Paulo e cresceu num ateliê de gravura e escultura, onde teve contato com diversas mídias e técnicas, a partir de 2013 trabalhou na Graphias ateliê de gravura) onde conheceu Rodrigo Andrade, e passou a ser seu assistente em 2015, tendo um contato maior com a pintura a óleo. Sua obra apresenta influências de seus trabalhos anteriores com game design (pixel art) e da pintura moderna. Entre as coletivas e individuais que participou, destacam-se Encontros e Parcerias, Graphias Casa da gravura (2015), 7th KIWA Exhibition, Kyoto Municipal Museum of Art (2016), e Osten Biennial of drawing ,Macedonia Skopje (2016).
Link Museu (1986) – Nasceu em São Paulo e vive e trabalha na cidade. É fundador do Sarau Luau dos Loucos e responsável pela Horta Urbana Cidade Tiradentes. Artista, poeta, grafiteiro, pichador, pintor. Fundador e coordenador de atividades do Ateliê Um Bom Lugar, ateliê fundado em 2020 pelos coletivos ali:leste, Instituto du Gueto e Luau dos Loucos. Professor do projeto Mais-educa na Escola Estadual Escritor Juan Carlos Onetti. Organizador do Encontro de Grafite no Cohab Fazenda do Carmo.
Maria Andrade (1967) – Nascida em São Paulo, vive e trabalha na cidade. É artista plástica, musicista, compositora e estilista. Desde 1992 participa de mostras individuais e coletivas expondo pinturas à óleo abstratas e figurativas, além de esculturas de zinco e lata. Entre as individuais, destacam-se Cerrado, na Boiler Galeria, com texto do curador e crítico Tiago Mesquita, e A diferença entre as coisas (2019) na Galeria Vírgilio, com texto de Vania Reis. Dentre as coletivas, estão Um desassossego, na Galeria Estação (2016), BR (2016) e 3 Marias (2018), ambas na Galeria Virgílio.
Realizou ilustrações para as revistas Capricho e Veja, elaborou e dirigiu animações para a MTV e, entre 2004 e 2005, publicou semanalmente histórias em quadrinho de seu personagem Brux no jornal Folha de São Paulo. Como coordenadora de oficinas educativas, atuou na Oficina de Esculturas em Metal no MAM (1998-2003), Oficina de Esculturas em Lata, no Sesc Ipiranga, em comunidades no interior de Minas Gerais e em oficinas de tapeçaria com artesãs na cidade de Morro da Garça (MG).
Mariana Serri (1982) - Nascida em Belo Horizonte, atualmente mora e trabalha em São Paulo. Artista plástica formada pela FAAP – Fundação Armando Alvares Penteado, em 2005. Em 2013 apresentou a exposição individual Áporo na Galeria Marília Razuk, em homenagem ao poema homônimo de Carlos Drummond de Andrade, e também à esta palavra Expôs em diversas exposições coletivas, dentre as quais se destacam: Além da Forma, com curadoria de Cauê Alves no Instituto Figueiredo Ferraz; Os Primeiros dez anos, no Instituto Tomie Ohtake em 2012, com aproximadamente 50 artistas contemporâneos; Paisagens à margem, no Programa de Exposições do Paço das Artes em 2011, com Lucas Arruda, Mariana Galender e Mariana Tassinari; 37ºAnual de Artes da FAAP, na qual recebeu prêmio pela obra Domingo, 2005, (vídeo, 13’31’’). De agosto de 2000 a julho de 2001 cursou o 3º ano do Ensino Médio com habilitação em Artes-Plásticas na Escola De Wijnpers, em Leuven, na Bélgica.
Sobre o curador
Rodrigo Andrade (1962) nasceu em São e atualmente vive e trabalha na cidade. A materialidade da tinta e referências sobre a história da pintura permeiam todo seu trabalho. Sua gestualidade vibrante manifesta-se sobretudo na pintura, mas também transita por suportes como desenho, gravura e objeto. Nos anos 1980, o artista integrou o grupo Casa 7 e, sob a influência do neoexpressionismo alemão, sua obra é apresentada em grandes formatos, com pinceladas expressivas e cores fortes. Na década seguinte, alternou trabalhos figurativos e abstratos e, a partir de 1999, passou a criar obras em que espessas massas de tinta a óleo, em formas geométricas, são aplicadas sobre a tela.
Realizou mostras em importantes instituições nacionais e internacionais. Entre as individuais recentes, destacam-se Estação Pinacoteca, São Paulo, SP (2017); e Pinturas: Seleção 99-06, Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, MG (2006); entre as coletivas, estão Oito décadas de abstração informal, Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP e Cependant, la peinture: Rodrigo Andrade, Fabio Miguez, Paulo Monteiro, Sérgio Sister, Galerie Emmanuel Hervé, Paris, França (2018); Troposphere, Beijing Minsheng Art Museum, Pequim, China (2017); 30ª Bienal, Pavilhão da Bienal, São Paulo, SP (2013); e 29ª Bienal de São Paulo, SP (2010). Sua obra integra importantes coleções públicas, como Instituto Cultural Itaú, São Paulo, SP; e Pinacoteca do Estado de São Paulo, além de outras coleções particulares.
fevereiro 26, 2021
Mais de 30 obras de artistas contemporâneos estão com valores especiais em ação da ABACT
Iniciativa tem apoio de galerias associadas que doaram trabalhos de consagrados artistas de seu portfólio para venda com preços 20% abaixo do mercado
A Associação Brasileira de Arte Contemporânea (ABACT) começa o ano com uma oportunidade única para colecionadores e amantes de arte que desejam adquirir obras de galerias nacionais com um valor especial. Em uma ação em parceria com as galerias associadas da ABACT, trabalhos de diversos artistas contemporâneos foram doadas e se encontram com valor 20% abaixo do mercado.
Acesse o catálogo clicando aqui para saber quais estão participando da ação e seus respectivos valores.
Uma parte do valor arrecadado com as vendas destas obras será revertido aos projetos e ações da ABACT, como o Art Weekend, Latitude, entre outros, ajudando assim a manter atividades de fomento à arte contemporânea brasileira. Além disso, uma porcentagem do lucro será destinada para o projeto social Casa de Apoio Vida Divina, que abriga crianças com câncer.
Baixe imagens das obras clicando aqui.
Para adquirir as obras os interessados podem entrar em contato com a ABACT através do email insticional@abact.com.br ou acessar a plataforma SP-Arte 365 através do link www.sp-arte.com/galerias/abact/.
Galerias participantes: Anita Schwartz Galeria de Arte, Carbono Galeria, Casa Triângulo, Central Galeria, Dan Galeria, Galeria Aura, Galeria Berenice Arvani, Galeria Bolsa de Arte, Galeria Cavalo, Galeria Eduardo Fernandes, Galeria Estação, Galeria Jaqueline Martins, Galeria Kogan Amaro, Galeria Luisa Strina, Galeria Lume, Galeria Mamute, Galeria Marcelo Guarnieri, Galeria Nara Roesler, Galeria Raquel Arnaud, Janaina Torres Galeria, Galeria Karla Osório, Luciana Brito Galeria, Mendes Wood DM, Mul.ti.plo Espaço Arte, Pinakotheke, Sé Galeria, Silvia Cintra+Box4, Simone Cadinelli Arte Contemporânea, Ybakatu, Zagut, Zipper.
Sobre a ABACT
A ABACT - Associação Brasileira de Arte Contemporânea é uma associação sem fins lucrativos que tem como missão ampliar o intercâmbio cultural, promover ações para profissionalização e desburocratização do mercado e fomentar o diálogo e educação em torno do setor de arte contemporânea no Brasil.
Criada em 2007, atualmente ABACT representa 58 galerias de arte, localizadas em diversos estados brasileiros. Entre os projetos administrados pela Associação estão Art Weekend São Paulo e o projeto de internacionalização Latitude – platform for Brazilian art galleries abroad.
Gustavo Speridião na Sé Galeria e Espaço Fonte, São Paulo
Sé apresenta: “Time Color” e “Sobre Pintura”, exposições simultâneas de Gustavo Speridião em dois espaços, entre os dias 27 de fevereiro e 15 de maio
Duas exposições que dialogam entre si ocuparão espaços distintos simultaneamente na cidade de São Paulo. É o que propõe o artista do Rio de Janeiro, Gustavo Speridião ao produzir dezenas de trabalhos divididos entre pinturas, volumes tridimensionais e vídeo que estarão expostos na Sé Galeria, localizada nos Jardins, e também no galpão do Espaço Fonte, na Vila Madalena. A entrada é gratuita.
A prática de Gustavo Speridião é feita de desenhos, colagens, pinturas, instalações e esculturas. São trabalhos caracterizados por justaposições espirituosas, atenção à linguagem, ao enquadramento e à cor. O artista parte de uma poética visual que, segundo Miguel Chaia, curador das exposições, é baseada no “desencanto trágico e no humor sem riso que nascem da absurda realidade, para oferecer outras possibilidades da arte constantemente revigorada”, se colocando criticamente diante da História da Arte e da cultura contemporânea.
A começar pela exposição “Time Color”, de caráter mais intimista e que ocupa os dois andares da Sé Galeria, o visitante irá se deparar com objetos tridimensionais-textuais de volumes quadrados e de menores dimensões, feitos em gesso, que evocam os cadernos que o artista utiliza em seu processo criativo, além de impressos e o vídeo Time Color. Já na exposição “Sobre Pintura”, no Espaço Fonte, o artista explora pinturas-monumento através de telas em grande formato com características murais e que aspiram ao espaço público.
De acordo com Miguel Chaia: “as pinturas e os tridimensionais trocam referências e signos entre si – possuem o quadrado, os retângulos com as bordas irregulares, a cor preta sozinha ocupando as áreas, grafismos rápidos e palavras indicativas – mas mantendo suas autonomias. Um abre gentilmente espaço para outro, mesmo utilizando os mesmos recursos visuais (…). A parcimônia no uso de materiais, a síntese na construção das formas, a sobriedade no plano e no espaço, o uso exclusivo de uma cor, trazem lembranças do brutalismo. Esta aproximação mais transparece ao se acrescentar a dimensão política enquanto desejo do artista de intervenção pública e de transformação social.”
No texto crítico que acompanha a exposição, o curador usa a metáfora de um quebra-cabeças da arte para se referir a produção recente de Speridião: “assim, reforçando a imagem do quebra-cabeças para pensar a arte de Gustavo Speridião: cabe indagar, qual peça se destaca, a da pintura ou a da poesia? Impossível responder quando são duas peças fundamentais e complementares”.
Sobre o artista
Gustavo Speridião nasceu no Rio de Janeiro, em 1978. Vive e trabalha também no Rio de Janeiro e é Mestre em Linguagens Visuais pela Escola de Belas Artes da UFRJ.
Em 2020, o artista participou da exposição coletiva “Chronicle du Trouble” curada por Thierry Raspail na galeria Les Filles du Calvaire, Paris. Participou também da exposição itinerante “Imagine Brazil” sob curadoria de Gunnar B.
Kvaran, Thierry Raspail and Hans Ulrich Obrist entre 2013-2015. Também em 2013, expôs na Bienal de Lyon sob a curadoria de Gunnar B. Kvaran e Thierry Raspail. Em 2015 integrou a coletiva “Parasophia 2015” no Festival Internacional de Cultura Contemporânea de Kyoto, Japão, com a curadoria de Shinji Kohmoto e Masako Tago. Em 2017 apresentou a exposição solo “Quilômetros” na Sé Galeria, São Paulo e também “Geometrie. Montage. Equilibrage. Photos e Videos” na Maison Européene de La Photographie, em 2013, em Paris.
Dentre os prêmios recebidos, destacam-se o Projéteis Artes Visuais, da Funarte, em 2007 e o Marcantônio Villaça/FUNARTE (Aquisição para o acervo do Museu de Arte Contemporânea de Niterói), em 2010. Suas obras estão em importantes coleções públicas brasileiras como a do Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, a Coleção Gilberto Chateaubriand (Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro), a do Museu de Arte Contemporânea de Niterói e a do Museu de Arte do Rio de Janeiro.
Sobre o curador
Miguel Chaia - coordenador e pesquisador do Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política. Professor do Departamento e da Pós- Graduação em Ciências Sociais e do curso de Arte, Crítica e Curadoria da PUC-SP. Doutor em Sociologia pela USP. Autor de publicações sobre arte brasileira e filosofia política.
Paul Setúbal na Triângulo, São Paulo
Casa Triângulo tem o prazer de apresentar Bronze, Couro, Ouro, sangue, primeira individual do artista Paul Setúbal na galeria.
O corpo é uma dimensão constantemente explorada na produção de Paul Setúbal. Além de um importante suporte material, social e geográfico de discussões que permeiam momentos de conflito, o artista também o explora como modo de vivenciar e testar seus limites físicos, ou como forma de transmutar relações de poder. Com texto de Priscyla Gomes, curadora associada do Instituto Tomie Ohtake, a mostra reúne um conjunto de obras, entre vídeo, instalações e esculturas, que destacam a pluralidade do artista.
Nascido em Goiás, um dos Estados mais violentos do Brasil, Paul viu desde cedo relações que transpõem a força e o autoritarismo. Logo, sua moradia passou a transitar entre São Paulo, Brasília e Goiânia - regiões fronteiriças onde conflitos territoriais se mostram presentes, seja na capital, interior ou metrópole. "Minha pesquisa é dedicada às experiências que o corpo tenta ressignificar. Muitas vezes começa a partir de um acontecimento pelo qual fui impactado ou que não pude compreender em um primeiro momento. Então essas situações passam a se tornar assuntos na minha produção", comenta o artista.
Em cartaz na Casa Triângulo a partir de 27 de fevereiro, a mostra originalmente concebida para setembro de 2020, foi adiada em virtude da pandemia e abre agora o ciclo de exposições de 2021. Bronze, Couro, Ouro, sangue faz alusão aos elementos que compõem as principais obras realizadas para a mostra, atribuindo significados a componentes cruciais à formação da história de um país marcado pela promessa de um progresso e, principalmente, pela violência. Em Sinapses [2015-2020], conjunto de telas feitas com o sangue próprio do artista, folha de ouro e terra vermelha, fala-se de uma camada visceral da vida, da morte e da dor.
No conjunto de trabalhos expostos, há uma constante referência a circunstâncias decorrentes de traumas e choques, universo corriqueiro em contextos sociais dominados pelo abuso de poder e violência. Em seus trabalhos, o artista se apropria e manipula símbolos de poder, como se fosse possível transformar tal energia. "Meu interesse é apresentar um conjunto de obras que dialoguem com a contemporaneidade, onde o corpo é uma estrutura frágil, mas que possui a capacidade de suportar a todo tipo de pressão", explica o artista. A radicalidade da obra de Paul Setúbal também pode ser vista em Duplo [2020], esculturas em bronze que não só evidenciam objetos e ações de coerção, como sugerem ainda terem sido construídas a partir de um imaginário da dominação.
Com uma pesquisa que se desenvolve em diversas plataformas, ao longo da exposição ele aborda as problemáticas e simbologias do corpo na sociedade contemporânea, seu uso, controle, relações de resistência, abuso e poder.
PAUL SETÚBAL [1987, Aparecida de Goiânia, Brasil]. Vive e trabalha em São Paulo. É doutor e mestre em Arte e Cultura Visual e licenciado em Artes Visuais pela UFG. Recebeu em 2019 o prêmio SP-Arte Delfina Foundation (Londres, Inglaterra), onde esteve em residência. Em 2019, participou da residência artística Despina, no Rio de Janeiro. Em 2018 ganhou o Prêmio Foco ArtRio. Também na 14 Edição da SP-Arte, apresentou a performance "Compensação por Excesso". Entre suas exposições individuais, destacam-se: “Corpo Fechado” na C Galeria, no Rio de Janeiro, em 2018, “Dano e Excesso” na Andrea Rehder Arte Contemporânea, em São Paulo, em 2016 e “Aviso de Incêndio”, no Elefante Centro Cultural, em Brasília, em 2015. Participou de diversas coletivas como: “No presente a vida (é) política”, na Central Galeria, em São Paulo, no ano de 2020. Em 2019, esteve em “Aparelho”, Maus Hábitos, em Porto, em Portugal, “36 Panorama da Arte Brasileira: Sertão”, no Museu de Arte Moderna (MAM), em São Paulo e “29 Edição do Programa de Exposições do Centro Cultural de São Paulo (CCSP). Em 2018, participou da mostra “Demonstração por Absurdo”, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, “Arte, democracia, utopia: Quem não luta, tá morto!, no Museu de Arte do Rio, no Rio de Janeiro, entre outras. Já no ano de 2017, esteve presente em outras coletivas, entre: “Osso”, no Instituto Tomie Ohtake e “Videografias Performativas”, no Dragão do Mar, em Fortaleza. Suas obras estão presentes em coleções institucionais como MAR, Museu de Arte de Brasília, Museu de Arte Contemporânea, em Goiânia e Fundação Romulo Maiorana, em Belém do Pará.
fevereiro 25, 2021
Marina Saleme na Luisa Strina, São Paulo
Em instalação composta por 1.000 obras entre desenhos, pinturas e colagens sobre papel, papel 100% algodão, lona, papel arroz, Marina Saleme apresenta uma filosofia da espera e da solidão
Esta é a sétima exposição individual de Marina Saleme na Galeria Luisa Strina. Conhecida pelas pinturas de grandes dimensões de fatura complexa, a artista optou, na presente mostra, por criar uma instalação com obras de pequeno formato que, juntas, compõem uma pintura monumental e fragmentada, mostrando uma mesma figura feminina sentada na mesma posição, sempre à espera, não se sabe de quê. A série Apartamento s (2019-2021) dialoga com a série Garotas (As descabeladas), de 2013, que também foram apresentadas em exposição individual na galeria, em montagem de grandes grupos de obras de pequenas dimensões, configurando uma narrativa. O mesmo acontece com Apartamento s.
Tadeu Chiarelli, historiador da arte e curador, que assina o ensaio crítico da mostra, afirma que a artista vivenciou, durante a produção da série “foi um jogo: repetia e repetia o desenho sempre de olho na matriz – ‘quando às vezes, acho que o lápis está sabendo onde ir, eu faço uma foto de celular e inverto, e recomeço, atenta a cada linha’ – produzindo sempre algum tipo de ação sobre ele: modificava o fundo com cores ou gestos, descaracterizava as linhas que contornam a imagem, apagava o rosto da figura, cobrindo-a com a ação violenta do grafite sobre ele até quase mutilar o suporte para, num próximo desenho, trazer a imagem de volta, revelando-a a partir de outros modos de representa-la, em um vai e vem aparentemente infinito.” (ler texto completo de Tadeu Chiarelli)
SOBRE A ARTISTA
Marina Saleme (São Paulo, 1958) concluiu a licenciatura em Artes Plásticas na Fundação Armando Álvares Penteado em 1982. Nos primeiros anos a artista trabalhava principalmente com manchas tonais, sem referência à figura humana, utilizando formas compostas por linhas ou grids. No entanto, como afirma a artista: “Meus trabalhos nunca são totalmente abstratos”. Já a partir da metade da década de 1990, sua produção passa a ganhar alusões figurativas a pessoas, chuva, flores, nuvens, muitas vezes indicadas nos próprios títulos. Na década seguinte sua linha se torna sinuosa e se curva desenhando arabescos que por vezes estão parcialmente encobertos por outras imagens, em outros momentos são evidenciados na camada mais superficial.
Destacam-se as exposições individuais e coletivas no Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto (2019); Paço Imperial, Rio de Janeiro (2017); Museu de Arte Contemporânea de São Paulo (2008); Paço das Artes, São Paulo (2003); Centro Universitário Maria Antônia, São Paulo (2001); Centre D’Art Contemporain De Baie-Saint-Paul, Canadá (2004); Palácio das Artes, Belo Horizonte (1996); Embaixada do Brasil na França, Paris (1989); entre outras.
Coleções das quais seus trabalhos fazem parte incluem: Coleção Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto; Embaixada do Brasil em Roma; Instituto Cultural Itaú, São Paulo; Museu de Arte Moderna de São Paulo; Pinacoteca do Estado de São Paulo.
fevereiro 24, 2021
Marepe na Luisa Strina, São Paulo
Um conjunto de 20 obras em diferentes linguagens marca a quinta exposição individual de Marepe na Galeria Luisa Strina e faz uma elegia à MPB e à possibilidade de festejar num futuro próximo uma realidade transformada
Apesar de ter sido realizada alguns anos atrás, a pintura A Festa (2017), de Marepe, ganhou novos significados após a experiência global com a pandemia de Covid-19: segundo o artista, uma festa que acontece dentro de um apartamento, a que comparecem apenas duas pessoas, que são um casal e, portanto, festejam em família no ambiente confinado de casa, é um retrato do que viria a se tornar a normalidade de uma festa possível. Só pessoas de um mesmo círculo de convivência diária num ambiente isolado e doméstico. “Minha relação com a minha casa se transformou muito durante todos os meses de confinamento. Assim como deve ter ocorrido com muita gente, eu precisei me voltar a afazeres com os quais não tinha preocupação antes, já que não tínhamos mais ajuda em casa. E esse voltar-se para a casa, debruçar-se sobre as minúcias da domesticidade, os mínimos detalhes e cantos do nosso próprio habitat, despertou novos olhares sobre esse entorno. Descobri tanta coisa sobre a minha casa e hoje posso dizer que a conheço melhor do que nunca”, conta Marepe.
A Festa é a primeira obra que o visitante de Aglomerado Mergulho vê ao entrar no espaço algo labiríntico que o artista desenhou para a montagem de sua quinta individual na Galeria Luisa Strina. “Não gosto de fazer exposições muito abertas, sem painéis dividindo o espaço e criando espaços mais íntimos ou marcadamente diferentes, porque gosto da cadência de ir descobrindo as obras aos poucos, como se uma história estivesse sendo narrada.” A narrativa que Marepe construiu para esta mostra reúne linguagens diferentes, uma marca registrada da pesquisa do artista: pintura, escultura, desenho, instalação, fotografia, colagens e assemblages se organizam no espaço sem hierarquia entre os suportes, que é como ele pensa a sua obra, nenhuma linguagem tendo maior importância que outra.
Ao lado da pintura, por exemplo, estão dois colares com pequenas esculturas transformadas em pingentes, Fruta Gogóia (2021), uma homenagem a Gal Costa e Waly Salomão que faz referência à música do folclore baiano que Gal tocava na época da Tropicália (e que Waly incluiu no show da cantora sob sua direção, em 1971, Fa-Tal: Gal a Todo Vapor). E, diante dessas duas obras, uma escultura que trata do sentimento vivido durante a pandemia, da falta de contato com o espaço da cidade e com o território onde antes cada um podia circular livremente, desde a sua rua ou bairro até o resto do mundo. Intitulada Contatos Espaciais (2020), a obra representa casulos (ou conchas) com antenas, estas simbolizando o tipo de contato que marcou o cotidiano da maioria das pessoas em 2020, em que a canção Parabolicamará, de Gilberto Gil, foi levada – na vida “real” – às últimas consequências do ponto de vista do que, um dia, significou possuir uma antena parabólica: “Antes mundo era pequeno/ Porque terra era grande/ Hoje mundo é muito grande/ Porque terra é pequena/ Do tamanho da antena…”. Nosso planeta ficou minúsculo, do tamanho de uma concha, hiperconectado via Zoom e viewing rooms.
Seguindo a cadência da história de Aglomerado Mergulho, encontramos Longo Discurso (2007), uma instalação inédita que Marepe decidiu mostrar agora por causa da relação de sua individual de 2021 com a música popular brasileira: varas de pesca alinhadas e firmadas em pé por fios de nylon presos à parede trazem nas suas pontas os peixes tropicalistas-psicodélicos do artista, discos. Dezesseis vinis fundidos em alumínio e “pescados” do grande acervo musical brasileiro são o seu tributo à MPB. “Durante o ano passado, eu escutei muito a minha coleção antiga de vinil. Logo no começo da pandemia, arrumei uma vitrola e fui revisitar as minhas referências musicais. Percebi que a MPB é uma longa narrativa que, ao somarmos todos aqueles discos como se fosse possível sintetizar todo o conteúdo em uma imagem, conta a história do povo, as estórias e as reflexões que deram forma ao Brasil contemporâneo, e que também dão forma e cor e cheiro às nossas memórias”, afirma.
Diante da instalação, na sala maior da mostra, um banquete para os olhos: uma série de colagens em diálogo estreito com Fita Amarela (2020), que homenageia Noel Rosa; esculturas, outra série de colagens e objetos são entrevistos, conforme o visitante percorre esse espaço, através da instalação de grandes dimensões atravessada no centro da sala: Olhar Encarcerado (2008), também inédita, que provoca o entendimento sobre a visão. Trata-se de um par de óculos gigante em que a “lente” são cabos de aço que não permitem o acesso ao outro lado, somente esse olhar fragmentado que acusa a dificuldade de enxergar. A peça exige um deslocamento do corpo para ser apreendida e mimetiza simbolicamente o impedimento de se deslocar, a impossibilidade de olhar, a limitação de viajar para ver o mundo. Para Marepe, a obra ganhou novos sentidos com a pandemia, daí a decisão de incluí-la na exposição, como um contraponto à tela A Festa, que trata também das novas formas de olhar da atualidade.
SOBRE O ARTISTA
O trabalho de Marepe (Santo Antônio de Jesus – BA, 1970) adquire uma complexa sobreposição de referências e significados no uso de materiais prontos e objetos do cotidiano. “Em um momento de homogeneização cultural global suas obras carregam uma forma excepcional de autenticidade falando das particularidades culturais únicas do lugar que ele chama de lar-Bahia, propondo um argumento que é globalmente compreensível. A atração de suas obras está em sua fala com a fusão de culturas da qual ele é testemunha” (Jens Hoffman).
Exposições individuais recentes incluem: ‘Entre o céu e o inverno’, Galleria Franco Noero, Turim, (2020); ‘Marepe: estranhamente comum’, Estação Pinacoteca, SP (2019); ‘Suave na nave’, Galeria Max Hetzler, Paris (2017); ‘Armazém de mim’, Galeria Luisa Strina, São Paulo (2015); Galerie Max Hetzler, Berlim (2014); e Anton Kern Gallery, Nova York (2013).
O artista já teve exposições individuais no MAM-SP, Centre Georges Pompidou, Paris e na Tate Modern, Londres. Seu trabalho também foi apresentado na Bienal de São Paulo (2004), Bienal de Veneza (2003), Bienal do Mercosul (1999), assim como exposições coletivas em museus importantes como o Museo Reina Sofia, Madri, Espanha.
Algumas das coleções das quais seu trabalho faz parte incluem: Tate Collection, Inglaterra; Ellipse Foundation, Portugal; CACI Centro de Arte Contemporânea Inhotim, Brasil; MAM-SP Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil; MoMA The Museum of Modern Art, EUA.
fevereiro 23, 2021
Preliminares no Espaço C.A.M.A, São Paulo
Espaço inédito de colaboração entre galerias é inaugurado em São Paulo
Com a exposição coletiva “Preliminares”, o Espaço C·A·M·A lança nova proposta expositiva para o circuito de galerias de arte contemporânea.
No próximo sábado 27 de fevereiro o Espaço C·A·M·A (São Paulo), iniciativa coordenada por 5 galerias de arte de 4 cidades distintas, inaugura a exposição ‘Preliminares’. A coletiva reúne obras de 25 artistas brasileiros e internacionais que trabalham com as galerias e tem a intenção de ser um prelúdio da programação futura do espaço. O C·A·M·A está localizado em uma casa de dois andares na Vila Modernista projetada nos anos 1930 pelo artista Flávio de Carvalho no bairro Jardim Paulista.
C·A·M·A (Colaboração entre Agentes do Mercado de Arte) é um projeto fundado por um grupo de jovens galerias de arte contemporânea atuantes no mercado local e internacional, como a portuguesa Kubikgallery, a carioca Cavalo, a mineira Periscópio e as paulistas Casanova e 55SP. Seus diretores se reuniam semanalmente desde o final de 2019 para discutir informalmente sobre as adversidades do gerenciamento de um espaço cultural próprio. Nesses encontros virtuais, intensificados durante a quarentena, criaram uma plataforma digital de conteúdo de arte contemporânea, com matérias, entrevistas, agenda de eventos e mais, lançada em outubro de 2020. A partir do final desse ano, surgiu a ideia de compartilhar um estabelecimento na cidade de São Paulo.
Partindo da heterogeneidade e do consenso como principais características do empreendimento, os integrantes se impuseram ao desafio de criar em ‘Preliminares’ uma mostra inicial em que o exercício de cooperação seria a temática subliminar. Assim, cada galeria convidou um grupo de artistas sem o conhecimento prévio de quais obras os outros espaços exibiriam, adicionando imprevisibilidade e estimulando as negociações e concessões entre os integrantes.
“Embora já conversássemos há mais de um ano, decidimos debutar a casa nesse exercício íntimo e despretensioso conosco e com as obras”, dizem os galeristas Ana Elisa Cohen, Rodrigo Mitre, Adriano Casanova, Julia Morelli, João Azinheiro e Felipe R Pena.
“Queríamos nos desafiar e construir um terreno de relações horizontais e a partir deste primeiro projeto as identidades particulares de cada galeria se confrontam através das obras de seus artistas representados’.
A mostra ‘Preliminares’ permanece até o dia 20 de março de 2021 na Alameda Lorena 1257, casa 4.
Artistas participantes
Alvaro Seixas, Amélia Toledo, Éder Oliveira, Fabiana Faleiros, Flávia Vieira, Ignacio Gatica, Iran do Espirito Santo, João Loureiro, Luana Vitra, Manfredo de Souzanetto, Manoela Medeiros, Marcius Galan, Mauro Giaconi, Michael Wesely, Paulo Vivacqua, Pedro Tudela, Pedro Vaz, Randolpho Lamonier, Renata Padovan, Ricardo Alcaíde, Sergio Fernandes, Tatiana Grinberg, Thalita Hamaoui, Thora Dolven Balke, Toby Christian e Umberto Costa Barros.
Espaços fundadores
Kubikgallery (Porto, Portugal)
Cavalo (Rio de Janeiro, Brasil)
Periscópio (Belo Horizonte, Brasil)
Casanova (São Paulo, Brasil)
55SP (São Paulo, Brasil)
fevereiro 22, 2021
Pinacoteca de São Paulo divulga programação de 2021
Em 2021, Pinacoteca de São Paulo exalta artistas negros, relaciona arte e atividade industrial e inaugura mostras individuais sobre Rosângela Rennó e José Damasceno
A programação conta com 9 novas exposições que poderão ser visitadas pelo público no Edifício da Pina Luz e na Pina Estação
Em 2021, a Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, investiga as relações entre arte e indústria. Essa combinação marca a exposição A máquina do mundo que examina as várias formas pelas quais a atividade industrial, desde o século XX, atravessa o pensamento da arte feita no Brasil. O tema também norteia as mostras sobre os artistas José Damasceno, John Graz, Rosângela Rennó e na que marca o centenário de nascimento de Fayga Ostrower. Outro grande destaque da programação é uma mostra coletiva que se integra ao projeto Enciclopédia Negra, onde 100 retratos de personalidades negras da história do Brasil serão produzidos por 35 artistas negros contemporâneos, uma colaboração com a Companhia das Letras, o Instituto Ibirapitanga e o Instituto Soma Cidadania Criativa. A programação conta com 9 novas exposições que poderão ser visitadas pelo público na Pina Luz e na Pina Estação.
A temática deste ano é inspirada na noção de que arte e produção estão intimamente mais relacionadas do que imagina o senso comum. O termo “arte” corresponde ao grego “techné”, técnica, no sentido de uma atividade destinada à elaboração de conhecimento por meio da associação entre o fazer, ou fabricar, e o pensamento ou poieis. “De maneira geral, artistas chegam a soluções para suas questões materiais e expandem as possibilidades das várias linguagens artísticas. Eles e elas o fazem a partir de descobertas da ciência e da indústria – ou então terminam inventando, eles e elas mesmos, tais procedimentos e recursos”, ressalta o diretor-geral da Pinacoteca de São Paulo, Jochen Volz.
Em A máquina do mundo, com curadoria de José Augusto Ribeiro, os trabalhos abordam a arquitetura, o maquinário das fábricas, a produção em série, o trabalho do operário, os padrões, os modelos e as logomarcas dos objetos da indústria, entre outras. A seleção das obras incorpora peças emblemáticas de arte moderna brasileira, pinturas de Tarsila do Amaral, imagens feitas pelo fotógrafo alemão Hans Gunter Flieg em indústrias brasileiras, entre 1940 e 1980, e filmes que documentam a vida dos trabalhadores de fábricas em São Paulo no começo da década de 1980, entre eles, o ABC da Greve e Chapeleiros, dos cineastas Leon Hirszsman e Adrian Cooper, respectivamente. O título da exposição é inspirado em um poema, de 1951, de Carlos Drummond de Andrade.
As mostra individuas de Rosângela Rennó, curadoria de Ana Maria Maia, e José Damasceno, com curadoria de José Augusto Ribeiro, na Pina Estação, oferecem ao público uma seleção de obras dos últimos 30 anos desses artistas que permite elaborações sobre as diferentes fases de suas trajetórias. No tocante a José Damasceno, a variedade de linguagens em cerca de 70 trabalhos chama a atenção, são esculturas, fotografias, desenhos e instalações, que por sua vez reportam ao cinema, à música, ao teatro, à arquitetura e à história da arte. Nos trabalhos de Rosângela Rennó, o visitante pode verificar que a fotografia sempre tem um pretexto, uma finalidade maior que vai além da visibilidade da imagem. Para esta mostra, foram encomendados projetos inéditos e comissionados para o contexto específico do Museu.
Em mais uma mostra individual da programação 2021, o museu celebra o centenário de nascimento de Fayga Ostrower, com Fayga Ostrower–Imaginação Tangível, uma das pioneiras da gravura abstrata no Brasil. A seleção de obras conta com 130 trabalhos que relacionam a proximidade da artista com os mais diversos materiais e a sua capacidade inovadora na apropriação de técnicas tradicionais, como gravura em metal, xilogravura e serigrafia. Além disso, um recorte especial da artista é a produção de estamparias, momento de sua trajetória que estará presente na mostra que tem curadoria de Carlos Martins.
Representatividade
Recentemente, a Pinacoteca de São Paulo inaugurou a mais a nova apresentação da coleção do Museu com cerca de mil obras de mais de 400 artistas, com narrativas mais diversas e inclusivas. Um retrato disso foi o crescente número de obras de artistas do sexo feminino e de artistas negros na mostra. As artistas mulheres passaram de 17 para 95, e os artistas negros de 7 para 26 na comparação com a antiga exposição do acervo. A representatividade norteia as escolhas da instituição que após inaugurar, em 2020, Véxoa: Nós Sabemos, dedicada à arte contemporânea indígena com curadoria indígena de Naine Terena, apresenta uma mostra coletiva dedicada às personalidades negras que marcaram a história do Brasil, ao todo 100 retratos serão produzidos por 35 artistas negros contemporâneos.
A iniciativa se integra ao projeto Enciclopédia Negra, organizado por Flávio Gomes, Jaime Lauriano e Lilia Schwarcz. A primeira etapa é a edição de um livro que será lançado pela Companhia das Letras, em 2021, com 300 verbetes sobre personalidades negras que se destacaram ao longo de quase quatrocentos anos de história do Brasil. Junto a tais biografias, a obra contém os retratos comissionados a 35 artistas negros contemporâneos, entre os quais Antonio Obá, Arjan Martins, Ayrson Heráclito, Castiel Vitorino, Dalton Paula, Daniel Lima, Desali, Igi Ayedun, Juliana dos Santos, Moisés Patricio, Mônica Ventura, Nadia Taquary, Panmela Castro, Paulo Nazareth, Rebeca Carapiá, Renata Felinto, Rodrigo Bueno, Sônia Gomes e Tiago Sant’Ana.
A exposição será a primeira visualização pública do resultado do projeto, que depois irá percorrer outros espaços. Os retratos integrarão à coleção da Pinacoteca de São Paulo, criando uma importante intervenção no que diz respeito à busca por maior representatividade de artistas negros no museu.
Continua em 2021
A exposição OSGEMEOS: Segredos, primeira mostra panorâmica dos irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo, continua até 22 fevereiro de 2021. Véxoa: Nós Sabemos, primeira mostra da Pinacoteca dedicada à arte contemporânea indígena, pode ser visitada até 22 de março de 2021 e a nova apresentação da coleção do museu é permanente. Na Pina Estação, acontecem os últimos dias de Hudinilson Jr.: Explícito que segue em cartaz até 04 de janeiro de 2021, já Joan Jonas: Cinco Décadas, primeira exposição individual na América do Sul da pioneira da videoarte e da performance, permanece um pouco mais até 08 de fevereiro de 2021.
Dentro do museu, todos os protocolos de segurança sanitária continuam inalterados, assim como o estacionamento e a bilheteria física permanecem fechados. Reserva de ingressos e mais informações em www.pinacoteca.org.br.
PROGRAMAÇÃO 2021
Pinacoteca Luz
Enciclopédia Negra (nome provisório da exposição)
Curadoria: equipe do projeto Enciclopédia Negra e da Pinacoteca de São Paulo
De 11.04.21 a 11.10.21
A exposição se integra ao projeto Enciclopédia Negra, organizado por Flávio Gomes, Jaime Lauriano e Lilia Schwarcz. A primeira etapa é a edição de um livro que será lançado pela Companhia das Letras, em 2021, com 300 verbetes sobre personalidades negras que se destacaram ao longo de quase quatrocentos anos de história do Brasil. Na mostra, 100 retratos de personalidades negras da história do Brasil serão produzidos por 35 artistas negros contemporâneos, uma colaboração com a Companhia das Letras, o Instituto Ibirapitanga e o Instituto Soma Cidadania Criativa. Dentre os artistas estão Antonio Obá, Arjan Martins, Ayrson Heráclito, Castiel Vitorino, Dalton Paula, Daniel Lima, Desali, Igi Ayedun, Juliana dos Santos, Moisés Patricio, Mônica Ventura, Nadia Taquary, Panmela Castro, Paulo Nazareth, Rebeca Carapiá, Renata Felinto, Rodrigo Bueno, Sônia Gomes e Tiago Sant’Ana.
Os retratos integrarão à coleção da Pinacoteca de São Paulo, criando uma importante intervenção no que diz respeito à busca por maior representatividade de artistas afrodescendentes no museu. A mostra coletiva será a primeira visualização pública do resultado do projeto, que depois irá percorrer outros espaços.
A máquina do mundo
Curador responsável: José Augusto Ribeiro
De 23.10.21 a 07.02.22
A exposição A máquina do mundo examina as várias formas pelas quais a atividade industrial, desde o século XX, atravessa o pensamento da arte feita no Brasil. Na mostra estarão obras sobre arquitetura e o maquinário das fábricas, a produção em série, o trabalho do operário, os padrões, os modelos e as logomarcas dos objetos da indústria, entre outras.
O título da exposição é inspirado em um poema do Carlos Drummond de Andrade, publicado em 1951, e, com isso, toma também a própria arte como máquina de interpretação e produção de sentidos a respeito das coisas do mundo e de como elas funcionam.
Ninguém teria acreditado
Curadores responsáveis: Fernanda Pitta, Laurens Dhaenens (Netwerk Aalst, Bélgica)
De 13.11.21 a 11.04.22
Para marcar os 70 anos da morte de H.G. Wells (Herbert George Wells) e os 110 anos do falecimento de Henrique Alvim Corrêa (Rio de Janeiro, 1876 – Bruxelas, 1910), a exposição propõe a quatro artistas contemporâneos repensar o legado desses autores. O visitante será desafiado a refletir sobre a natureza da experiência humana em meio aos desenvolvimentos tecnológicos do passado, presente e futuro.
Em uma constextualização histórica, em 1906, Henrique Alvim Corrêa (Rio de Janeiro, 1876 – Bruxelas, 1910), artista brasileiro que vivia e trabalhava em Bruxelas, ilustrou uma edição de luxo d’A Guerra dos mundos, de H. G. Wells. As ilustrações criaram a imagem pungente para a história futurista que aborda a invasão da terra por uma sociedade mais avançada tecnologicamente, a dos extraterrestres. Alvim Correa criou um repertório de criaturas, máquinas e paisagens provocadoras que tornaram,-se paradigmas do imaginário da ficção científica.
Pinacoteca Luz – Espaço Octógono
André Komatsu [ainda sem título]
Curadora responsável: Ana Maria Maia
De 20.03.21 a 16.08.21
Ainda sem título, o projeto site-specific que o artista concebeu para o Octógono apresenta-se como uma estrutura que demarca o espaço com ambivalências entre liberdade e controle, possibilidade e restrição. A instalação será composta por 53 hastes de 4m de altura cada, fincadas no chão em um gride ortogonal. O público poderá circular entre essas estruturas e, só ao olhar para cima, vislumbrar elementos espetados em seu topo, longe, portanto, do alcance das mãos. Entre livros, porções de terra, água e revestimento em folhas de ouro, esses elementos simbolizam bens que, embora devessem ser garantidos enquanto direitos básicos, permanecem inacessíveis para grande parte da população, sobretudo em contextos de crise e agravamento das desigualdades sociais, como o atual.
Lais Myrrha
O condensador de futuros
Curadora responsável: Ana Maria Maia
De 18.09.21 a 07.02.22
A peça de Lais Myrrha (Belo Horizonte, 1974), O condensador de futuros , é construída a partir da redução da cúpula do Senado Federal, que vai aparecer como se estivesse “presa” no octógono a 1,30m de altura. A intervenção terá um significado indefinido entre abrigo/esconderijo e armadilha; e o público, se assim desejar, poderá atravessar ou adentrar o espaço. O trabalho de Lais Myrrha é marcado por reflexões sobre os territórios, a história, a memória e a política.
Pina Estação
José Damasceno: Moto contínuo [título de trabalho]
Curador responsável: José Augusto Ribeiro
De 13.03.21 a 26.07.21
A exposição prevê a reunião de cerca de 70 obras do artista José Damasceno (Rio de Janeiro, 1968), produzidas ao longo de 30 anos, desde o final da década de 1980 até hoje. A seleção dos trabalhos leva em consideração a variedade de linguagens que compõem a obra e os campos de interesse de Damasceno, a fim de colocar, lado a lado e sem progressão cronológica, esculturas, fotografias, desenhos e instalações, que por sua vez reportam ao cinema, à música, ao teatro, à arquitetura e à história da arte. A maioria das obras pertence a algumas das mais prestigiosas coleções públicas e particulares de várias partes do Brasil e do mundo.
Rosângela Rennó [ainda sem título]
Curadora Responsável: Ana Maria Maia
De 28.08.21 a 07.03.22
A mostra individual de Rosângela Rennó (Belo Horizonte, 1962) reunirá um panorama de obras de diferentes momentos de sua trajetória. Não será exatamente uma retrospectiva, mas uma seleção dos trabalhos que revelam ecos e persistências no decorrer de quase 30 anos de produção. Na exposição, haverá obras seminais, do acervo da Pinacoteca, mas também de outras coleções, além de projetos inéditos e comissionados para o contexto específico do museu.
Fayga Ostrower: Imaginação tangível
Curadoria: Carlos Martins
De 30.01.21 a 31.05.21
A exposição celebra o centenário de nascimento da Fayga Ostrower (1920-2001), artista bem atuante na segunda metade do século XX. Gravadora, pintora, desenhista, ilustradora, teórica da arte e professora, Fayga Ostrower chegou ao Rio de Janeiro em 1934, acompanhada de seus pais e mais três irmãos, a família fugia das perseguições nazistas na Alemanha.
Dedicada às artes plásticas e também a disseminação das artes, numa vocação educacional, além de lecionar em várias universidades brasileiras, chegou a dar aulas no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, no Spellman College, em Atlanta, EUA, na Slade School da Universidade de Londres, Inglaterra. Em sua trajetória também se destacam os prêmios: Grande Prêmio Nacional de Gravura da Bienal de São Paulo, o Grande Prêmio Internacional da Bienal de Veneza e o Grande Prêmio nas bienais de Florença, Buenos Aires, México, Venezuela. Esta exposição abordará uma parcela da produção dessa artista, incluindo os tecidos estampados.
John Graz
[ainda sem título]
Curadora responsável: Valeria Piccoli
De 26.06.21 a 21.02.22
A exposição enfatiza a atuação singular do artista John Graz (Genebra, 1891 — São Paulo, 1980) nas artes decorativas no Brasil. O conjunto de obras doado pelo Instituto John Graz à Pinacoteca de São Paulo será o núcleo central da mostra que ainda inclui empréstimos de outras instituições e coleções privadas, permitindo uma ampliação do olhar sobre a trajetória do artista.
John Graz tinha uma atuação versátil, era artista plástico, ilustrador, designer e decorador. Expôs pinturas na Semana de Arte Moderna de 1922 ao mesmo tempo que realizava projetos de decoração de residências para os quais criou móveis, ferragens, luminárias, tapetes, afrescos e até o desenho do piso em jardins.
Exposições que continuam em 2021
OSGEMEOS: Segredos
Primeira mostra panorâmica dos irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo continua no edifício Luz até 22 de fevereiro de 2021. A exposição OSGEMEOS: Segredos conta com mais de 1000 itens do rico imaginário dos dois artistas. O duo apresenta pinturas, instalações imersivas e sonoras, esculturas, intervenções site specific, desenhos e cadernos de anotações. Esses últimos, da fase ainda adolescente e apresentados ao público pela primeira vez, antecedem os famosos personagens amarelos, abrindo caminho para a compreensão da raiz de seu surgimento. As obras ocupam as sete salas de exposições temporárias do primeiro andar, um dos pátios, diversos espaços internos e externos, além de uma instalação, concebida especialmente para o Octógono. Os ingressos apenas pelo site (www.pinacoteca.org.br), bilheteria física e estacionamento permanecem fechados. Aos sábados, a entrada é gratuita, mas é preciso reservar também pela internet.
fevereiro 21, 2021
Cobra Norato na Biblioteca Raul Bopp, São Paulo
A Biblioteca Raul Bopp inaugura exposição “Cobra Norato” em comemoração a seu aniversario de 60 anos. A exposição ocupa a fachada da biblioteca com imagens de 6 artistas brasileiros e também conta com uma versão online.
No dia 21 de fevereiro o edifício da biblioteca Raul Bopp, no Parque da Aclimação, celebra 60 anos de existência e para esta data será inaugurada uma intervenção coletiva na fachada do prédio, que continua fechada devido a pandemia.
Para este evento o curador Adriano Casanova selecionou seis artistas brasileiros a exporem imagens impressas em lonas de 2 metros de altura criando uma grande intervenção visual para quem passa pela rua Muniz de Souza.
O titulo da exposição, “Cobra Norato” é o primeiro livro de poesia do famoso escritor modernista brasileiro Raul Bopp, grande nome responsável pelo movimento antropofágico ao lado de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral.
No livro o herói da história quer casar com a filha da rainha e, para isso, mata a Cobra Norato e veste sua pele. E dessa analogia vem o titulo da mostra, convidando os artistas a “vestirem” a fachada do edifício para resgatar sua memória e trazê-la para o nosso momento presente.
Além da intervenção no espaço a exposição conta também com uma versão online que poderá ser acessada no endereço: online.casanovaarte.com, que exibirá outras obras dos artistas em dialogo com as imagens expostas na biblioteca. Entre os artistas selecionados, alguns possuem uma memoria afetiva com o bairro e outros utilizam imagem que já faziam parte de seu repertorio artístico para criar um contexto para a mostra.
Participam da exposição: Adriana Aranha, Beto Shwafaty, Hugo Fortes, Lia Chaia, Renata Padovan, Tiago Judas
fevereiro 18, 2021
Temporada de Projetos: Táticas de Desaparecimento no Paço das Artes, São Paulo
Paço das Artes reabre com exposição da Temporada de Projetos: “Táticas de Desaparecimento”, de Nathalia Lavigne, inicia celebração dos 25 anos do edital de arte
Depois da exposição “Limiares” de Regina Silveira, na inauguração do Paço das Artes em 25 janeiro do ano passado (interrompida em março devido a pandemia, retomada no mês de outubro e encerrada em 20 de dezembro de 2020), a instituição que pertence à Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo – e tem patrocínio máster da Youse –, reabre suas portas no próximo dia 19 de fevereiro com a mostra “Táticas de Desaparecimento”. Esta será a primeira exposição da Temporada de Projetos 2020 um dos mais longevos e importantes editais de arte do país, que está completando 25 anos de existência.
“Táticas de Desaparecimento” de Nathalia Lavigne, curadora selecionada para esta edição da Temporada, trata de uma noção de desaparecimento refletindo como tal prática pode ser interpretada como uma atitude estratégica no atual contexto. A mostra apresenta obras de Aleta Valente, Maryam Monalisa Gharavi, Nino Cais, Regina Parra, Sallisa Rosa e Thiago Honório. Em tempos de discursos autoritários e mecanismos de vigilância de tecnologias imperceptíveis cada vez mais presentes, resistir a formas de controle sobre corpos e identidades torna-se, muitas vezes, uma atitude tática necessária. Como se manter invisível para não desaparecer é uma noção que permeia o recorte na produção desses seis artistas.
Muitos dos trabalhos nascem ou se relacionam com o universo das redes ou das imagens técnicas, embora a noção de desaparecimento também seja tratada de uma forma mais ampla. “Há desde uma discussão no campo da tecnologia sobre o desaparecimento dos arquivos, considerando tanto a impermanência dos dispositivos, exemplos de censura em redes sociais ou uma invisibilidade estratégica adotada contra práticas de vigilância, a processos de autorrepresentação como performance, pensando de que forma uma visibilidade constante pode gerar um processo contrário de negatividade e apagamento”, afirma a curadora.
A invisibilidade nas redes sociais é abordada, por exemplo, pela iraniana-americana Maryam Monalisa Gharavi em BIO, obra de net art que deu origem a uma publicação. O trabalho nasce de uma experiência na qual a artista atualizou sua biografia no Twitter diariamente ao longo de um ano ao descobrir que essa era a única parte não-algoritmicamente calculada que armazena dados do usuário.
Aleta Valente, que explora a autorrepresentação como performance em uma produção que acontece essencialmente no Instagram, lida com questões semelhantes. A artista já foi alvo de ataques virtuais e dois de seus perfis foram removidos por excessos de denúncias. Tal episódio se relacionada a questão da censura a partir do controle algoritmo do que é considerado nudez ou fora dos parâmetros aceitos pela “comunidade”, como a rede define, atingindo trabalhos artísticos denunciados e removidos.
A eliminação desses arquivos mantidos em redes perpassa indiretamente o trabalho de Nino Cais. O artista já deletou um antigo perfil no Instagram que mantinha um forte diálogo com sua produção artística. Os autorretratos escolhidos para esta exposição lidam com uma dualidade semelhante entre a superexposição e a invisibilidade no limite no desaparecimento. Ao se fotografar misturando-se a objetos domésticos, o artista explora os limites entre uma identidade construída com elementos de uma esfera privada essencialmente íntima, mas que ocultam informações essenciais, como o próprio rosto. Além dessa série, o artista apresenta também uma instalação inédita concebida para a mostra.
Regina Parra trata de questões semelhantes ao reproduzir a própria imagem em obras que discutem o corpo como objeto de controle e violência. Na série Mise-en-scène (2009), a artista realiza pinturas a partir de imagens suas capturadas por câmeras de vigilância, em uma situação encenada para parecer espontânea.
Em “Identidade é Ficção”, a artista Sallisa Rosa usa a paródia e a ironia ao tratar de um imaginário sobre culturas indígenas repleto de distorções e estereótipos. Partindo de sua experiência em contextos urbanos, ela se fotografa em situações que misturam indícios de
outras eras e elementos descontextualizados, como um telefone celular prestes a ser usado como alimento ou um dinossauro artificial que remete a tempos primordiais.
Por fim, complementa o conjunto uma instalação de Thiago Honório que nasce de um projeto desenvolvido de forma colaborativa no Instagram, apresentado pela primeira vez nas redes sociais do Paço das Artes em maio de 2020. A partir de uma coleção iniciada pelo artista de luvas de inverno encontradas nas ruas, postando também as imagens na rede, ele começou a receber inúmeras fotos da mesma situação. Quase todas as vezes um único par é encontrado, evocando uma série de perguntas sobre as razões para terem sido deixadas e por quem. O objeto perdido e a conexão gerada a partir deste vestígio sugerem uma discussão sobre a impossibilidade de desaparecer sem deixar rastros.
Durante o ano de 2021 haverá uma programação paralela, ainda a ser definida, em comemoração aos 25 anos da Temporada de Projetos. Também está prevista para o mês de maio a abertura da segunda exposição com outros nove projetos selecionados para a Temporada, dos seguintes artistas: Amanda Mei, Ana Caroline de Lima, Bruno Faria, Fábio Menino, Fernando Soares, Gabriel Torggler, Higo Joseph, Rodrigo Linhares e Simone Moraes.
Uma História Natural das Ruínas no Pivô, São Paulo
A exposição coletiva Uma História Natural das Ruínas, que inaugura o programa de exposições do Pivô em 2021, teve sua data de abertura antecipada para o dia 20 de fevereiro. A mudança se deve à reclassificação do município de São Paulo para a fase amarela no plano de combate ao Covid-19. Com a retomada das atividades pelos espaços culturais, permitindo 40% de ocupação presencial, o Pivô volta a seu horário regular de funcionamento, de terça à sábado, das 13h às 19h.
Uma História Natural das Ruínas propõe uma revisão crítica da distinção moderna entre cultura e natureza a partir da obra de um grupo singular de quinze artistas, de diferentes contextos e gerações, alguns deles apresentando suas obras no Brasil pela primeira vez.
Artistas participantes:
Candice Lin (EUA)
Cristiano Lenhardt (Brasil)
Daniel Steegmann Mangrané (Brasil/Espanha)
David Bestué (Espanha)
Denilson Baniwa (Brasil)
Elvira Espejo Ayca (Ayllu Qaqachaca)
Isuma (Nanavut)
Janaina Wagner (Brasil)
Lina Mazenett e David Quiroga (Colômbia)
Louidgi Beltrame (França)
max wíllà morais (Brasil)
Minia Biabiany (Guadalupe)
Paloma Bosquê (Brasil)
Sheroanawe Hakihiiwe (Sheroana, Alto Orinoco)
As implicações da representação fora da linguagem, através da exploração de outras tecnologias e formas de inteligência que não as humanas, estão no cerne do projeto curatorial de Lozano. Ela conta: "No centro da exposição está uma crítica à divisão moderna entre natureza e cultura e suas implicações ontológicas". Por meio de uma série de processos históricos, alguns humanos se separaram da natureza, fabricando-a, portanto, como categoria. Lozano prossegue: "Os regimes coloniais propagam essa noção por meio da educação e da exploração, normalizando a natureza como um 'recurso' à disposição dos humanos. É em grande parte por meio do conhecimento e das práticas ecológicas dos povos indígenas que essas categorias coloniais podem ser produtivamente desafiadas".
A exposição também busca oferecer oportunidades para pensar sobre a cura no que a antropóloga Anna Tsing chamou de "sobrevivência precária". É a vida multiespécie que reage à violência humana na paisagem arruinada do capitalismo. Lozano especula: "As ruínas produzidas no presente podem ser parcialmente consideradas como a projeção de um inconsciente modernista".
Através de uma pluralidade de práticas e diferentes mídias, tais como pinturas, instalações, vídeos e performances sonoras, as/os artistas presentes na exposição, nas palavras da curadora, "enfrentam a brutalidade das categorias e práticas binárias modernas".
Alguns destaques da mostra: Em Mesa Curandera (2018), o artista francês Louidgi Beltrame registra cerimônias de cura com o cacto San Pedro promovidas por um xamã no Peru; Qapirangajuq: Inuit Knowledge and Climate Change (2009), do coletivo de arte e mídia inuit Isuma, que ocupou o pavilhão do Canadá da Bienal de Veneza em 2019, é o primeiro documentário feito em idioma inuktitut sobre o tema do aquecimento global; os delicados desenhos do yanomami Sheroanawe Hakihiiwe descrevem as formas e marcas deixadas por animais e plantas que fazem parte do ambiente onde vive, no Alto Orinoco venezuelano; feita especialmente para o projeto pelo espanhol David Bestué, a série de novos trabalhos tem inspiração no Poema Sujo, de Ferreira Gullar; Whole New Animal (2012), vídeo da estadunidense Candice Lin, interroga as histórias do colonialismo e do imperialismo no Brasil, EUA e Bélgica; além da participação de duas jovens artistas brasileiras Janaina Wagner, com o vídeo Lobisomem (2016), e max wíllà morais, que apresentará uma obra inédita.
*O programa de 2021 do Pivô se articula em torno da leitura feita pelas antropólogas Marisol de la Cadena e Milton Blaser do conceito de pluriverso, como mundo onde cabem muitos mundos. Esse conceito alinha as pesquisas dos artistas envolvidos no programa de exposições, e aparecerá também de maneira transversal nos outros programas da instituição. Acompanhe em www.pivo.org.br.
A apresentação do projeto pela curadora da mostra, a colombiana Catalina Lozano, estará disponível em vídeo, com interpretação em Libras, a partir do dia 1º de março.
Uma História Natural das Ruínas tem o apoio da Trampoline Association.
Para consultar o protocolo de segurança sanitária do Pivô, acesse o link.
SOBRE A CURADORA
Catalina Lozano (Bogotá, 1979) é curadora independente e escritora, é Diretora de Programas da KADIST na América Latina. Nos últimos 10 anos, tem se interessado por narrativas menores que questionam formas hegemônicas de conhecimento. As análises das narrativas coloniais e a desconstrução da divisão moderna entre natureza e cultura têm servido de ponto de partida para muitos de seus recentes e futuros projetos curatoriais e editoriais, como as exposições The willow sees the heron’s image upside down (TEA, Tenerife, 2020), Le jour des esprits et notre nuit (CRAC Alsace, Altkirch, 2019, com curadoria de Elfi Turpin), Winning by Losing (CentroCentro, Madrid, 2019), Ce qui ne sert pas s’oublie (CAPC, Bordéus , 2015), A Machine Desires Instruction as a Garden Desires Discipline (MARCO Vigo, FRAC Lorraine, e Alhóndiga Bilbao, 2013-14), e o livro Crawling Doubles: Colonial Collecting and Affects (B42, Paris), coeditado com Mathieu K. Abonnenc e Lotte Arndt. Em 2018, seu livro The Cure foi publicado pela A.C.A. Público. Entre 2017 e 2019 foi Curadora Associada do Museo Jumex na Cidade do México onde desenvolveu projetos expositivos com Bárbara Wagner & Benjamin de Burca, Fernanda Gomes e Xavier Le Roy, entre outros artistas, e organizou a exposição Could Be (An Arrow). Uma leitura de La Colección Jumex. Fez parte da equipe artística da 8ª Bienal de Berlim em 2014.
SOBRE AS/OS ARTISTAS
Denilson Baniwa (1984) vive e trabalha no Rio de Janeiro. As obras de Baniwa retratam sua experiência como Ser indígena hoje, mesclando referências indígenas tradicionais e contemporâneas e se apropriando de ícones ocidentais para comunicar o pensamento e a luta dos povos originários. Sua prática inclui diversos suportes e mídias como pintura, instalações, mídias digitais e performance. Como ativista pelos direitos dos povos indígenas, desde 2015 ministra palestras, oficinas e cursos nas regiões Sul e Sudeste do Brasil e também na Bahia. Baniwa frequentemente se apropria de referências culturais ocidentais para descolonizá-las em sua obra; ele é conhecido por questionar paradigmas e abrir caminhos para que povos indígenas em territórios nacionais sejam protagonistas de suas próprias histórias.
David Bestué (Barcelona, 1980) vive e trabalha em Barcelona. Artista e escritor interessado na relação entre texto, escultura e arquitetura. Sua prática experimenta ideias extraídas da poesia, história da arte e arquitetura, testando até onde elas podem ser levadas literalmente e conceitualmente. Ao fazer pequenas alterações nos cenários público e doméstico, suas obras criam situações que questionam nossas convenções de comportamento, e buscam estabelecer vínculos temporários e frágeis entre as formas permanentes e a presença de elementos transitórios, tanto humanos quanto inanimados, no espaço.
Louidgi Beltrame (Marselha, 1972) vive e trabalha em Mulhouse, França. Seu trabalho é baseado em modos de documentação da organização humana ao longo da história do século XX. Ele viaja para locais definidos por uma relação paradigmática com a modernidade: Hiroshima, Rio de Janeiro, Brasília, Chandigarh, Chernobyl ou a colônia mineira de Gunkanjima, sobre o mar perto de Nagasaki. Seus filmes – baseados no registro da realidade e na constituição de um arquivo – apelam à ficção como uma maneira possível de considerar a História. Mais recentemente, seus projetos o levaram a sítios arqueológicos no deserto costeiro do Peru: El Brujo, ruínas culturais de Moche e as Linhas de Nazca que ele conectou, respectivamente, à história do cinema francês “New Wave” e à Land art americana dos anos 70. Concluiu em 2018, Mesa Curandera um projeto colaborativo com José Levis Picón, um xamã peruano que conheceu em 2015.
Paloma Bosquê (Garça, 1982) vive e trabalha em São Paulo. Sua pesquisa baseia-se principalmente em sua prática diária no estúdio. Lá, ela lida e associa livremente materiais que não são típicos da escultura, criando composições de diferentes formatos e escalas. Em uma busca constante por um equilíbrio possível e consensual entre seus elementos selecionados, a artista geralmente desenvolve métodos específicos para combinar, justapor e mesclar materiais sem nunca forçá-los a uma interação definitiva. Experimentando a textura, o peso e o equilíbrio de seus materiais, Bosquê cria paisagens visuais extremamente delicadas que exploram a transitoriedade da matéria e da impermanência. Suas obras nos lembram a fragilidade dos acordos que unem tudo o que consideramos permanente ou definitivo.
Minia Biabiany (Basse-Terre, Guadalupe, 1988). Trabalha e vive entre a Cidade do México e Guadalupe. Em sua prática, Minia Biabiany utiliza a desconstrução de narrativas por meio de instalações, vídeos e desenhos e constrói poéticas efêmeras de formas em relação às realidades coloniais. Seu trabalho começa com uma investigação sobre a percepção do espaço e explora o paradigma relacionado ao processo de tecelagem e a noção de opacidade na linguagem visual, oral e escrita. Iniciou o projeto coletivo artístico e pedagógico semillero Caribe em 2016 na Cidade do México e continua a explorar a desconstrução de narrativas com o corpo e conceitos de autores caribenhos com sua plataforma pedagógica e experimental Doukou.
Elvira Espejo Ayca (Ayllu Qaqachaka, 1981) é uma artista visual, tecelã e narradora da tradição de sua cidade natal, localizada na província de Avaroa, Oruro, Bolívia. Falante de aimará e quíchua, é coautora de várias publicações, incluindo Hilos sueltos: Los Andes desde el textil (2007), Ciencia de las Mujeres (2010), Ciencia de Tejer en los Andes: Estructuras y técnicas de faz de urdimbre (2012) e El Textil Tridimensional: El Tejido como Objeto y como Sujeto (2013). Foi diretora do Museu Nacional de Etnografia e Folclore de La Paz, Bolívia, entre 2013 e 2020, e recebeu o Prêmio Eduardo Avaroa nas Artes, Têxteis Nativos Especiais, em 2013.
Sheroanawe Hakihiiwe (Sheroana, Venezuela, 1971) vive e trabalha em Pori Pori, comunidade Yanomami, El Alto Orinoco. Artista ondígena que, desde os anos 1990, desenvolve um trabalho que visa resgatar a memória oral de seu povo, de sua cosmogonia e tradições ancestrais, da fabricação de papéis artesanais, da edição de livros elaborados com sua comunidade e, mais recentemente, do desenho como ferramenta para representá-los. Sua experiência no campo da criação começa em 1992, quando aprende a fazer papel artesanal com fibras nativas como Shiki ou Abaca, sob a tutela da artista mexicana Laura Anderson Barbata. Juntos, eles fundariam o projeto comunitário Yanomami Owëmamotima (A arte Yanomami de papel de jogo), uma iniciativa pioneira e auto-sustentável a partir da qual os primeiros livros artesanais foram publicados até hoje – escritos e ilustrados – a partir de uma experiência coletiva da comunidade.
Isuma, que significa “pensar”, é um coletivo de empresas de propriedade Inuit com sede desde 1990 em Igloolik, Nunavut, com um escritório em Montreal. Em janeiro de 1990, quatro sócios Zacharias Kunuk, Paul Apak, Pauloosie Qulitalik e Norman Cohn incorporaram a Igloolik Isuma Productions Inc. para produzir e distribuir filmes independentes em língua inuit, apresentando atores locais recriando a vida inuit na região de Igloolik nas décadas de 1930 e 1940. Nos dez anos seguintes, Isuma ajudou a estabelecer um centro de artes de mídia Inuit, o NITV; um grupo de mídia e circo juvenil, Artcirq; e um coletivo de vídeo feminino, Arnait Video Productions. Em 2001, o primeiro longa-metragem de Isuma, Atanarjuat The Fast Runner, ganhou a Camera d’or no Festival de Cannes; o segundo longa de Isuma, The Journals of Knud Rasmussen, abriu o Festival Internacional de Cinema de Toronto de 2006. Em 2004, Isuma incorporou a Isuma Distribution International e em 2008 lançou o IsumaTV www.isuma.tv, o primeiro site mundial de arte de mídia indígena que agora exibe mais de 7.000 filmes e vídeos em 84 idiomas. O projeto de arte-mídia de Isuma representou o Canadá na Bienal de Veneza de 2019 com seu mais novo longa, One Day in the Life of Noah Piugattuk, que foi exibido no Festival Internacional de Cinema de Toronto e ganhou o prêmio de Melhor Filme Canadense no Festival Internacional de Cinema de Vancouver 2019.
Cristiano Lenhardt (Itaara, 1975) vive e trabalha no Recife. A obra de Lenhardt explora as narrativas que entrelaçam a cultura pop e a cultura de massa, a construção de mitos e lendas e uma reflexão sobre as formas como seres humanos, animais e objetos se relacionam. A sua prática não privilegia um meio acima do outro, mas antes abrange filme, performance, instalação, escultura, fotografia, desenho e gravura. O artista cria peças que fazem referência a diferentes fontes, incluindo folclore, história da arte, literatura fantástica e ficção científica, deixando sua pesquisa ser guiada não por um conceito pré-estabelecido, mas por uma série de exercícios de escrita, desenho e manipulação de materiais de diferentes origens que vão sendo modelados, montados, dobrados e trazidos à vida.
Candice Lin (Concord, 1979) vive e trabalha em Los Angeles. Lin trabalha com instalação, desenho, vídeo e materiais e processos vivos, interrogando as maneiras como as histórias de poder e marginalidade são inscritas nos corpos e no mundo natural. Ela costuma criar ambientes escultóricos que respiram, filtram, fermentam e se decompõem, trabalhando com um arsenal de formas esculturais que incluem objetos finamente trabalhados, organismos, como plantas, insetos, bactérias e compostos naturais.
Lina Mazenett (Bogotá, 1989) e David Quiroga (Bogotá, 1985) exploram a inter-relação entre organismos e os erroneamente denominados “recursos” do meio ambiente, sua distribuição e ressignificação através da cultura. Os artistas refletem sobre a temporalidade, a origem e o simbolismo de alguns elementos fundamentais da economia mundial, como diversos minerais e derivados de petróleo muito presentes em nosso cotidiano, conectando o ser humano a tempos geológicos remotos. Sua prática abrange uma ampla gama de meios e é inspirada por um diálogo entre a mitologia do povo amazônico e certos campos da ciência ocidental, como geologia, astronomia e economia. Por meio de seu trabalho, eles tentam reconectar elementos comuns e cotidianos com o conhecimento antigo e o tempo mítico.
max wíllà morais (Rio de Janeiro, 1993) vive e trabalha entre Rio de Janeiro e São Paulo. Bicha, artista, escritora, graduada em Artes Visuais pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (2016), mestranda em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2019-2021) e bolsista na Escola de Artes Visuais do Parque Lage em Mediação (2014) e no Programa Formação e Deformação (2019-2020). Seus trabalhos de desenho, fotografia, instalação, costura e aparição mobilizam histórias, geografias e as relações materiais e imateriais que podem surgir entre o mundo e as coisas vivas. Elabora também experiências visíveis e invisíveis a partir da diáspora preta e dos encontros tanto familiares quanto incomuns. max foi indicada ao prêmio PIPA em 2020 e expôs na galeria A Gentil Carioca, no Museu de Arte do Rio, Paço Imperial do Rio de Janeiro e, ao lado de Leonilson, no espaço de arte Auroras, em São Paulo.
Daniel Steegmann Mangrané (Barcelona, 1977) vive e trabalha no Rio de Janeiro. A obra de Mangrané examina a área nebulosa que existe entre noções estritamente opostas na cultura ocidental, como cultura e natureza, sujeito e objeto, realidade e devaneio, visto e oculto. O artista combina diversos elementos, como o natural com o artificial, ou os coloca em ambientes estranhos. Ao fazer isso, fabrica situações em que hierarquias predeterminadas se desfazem e as fronteiras de coisas aparentemente inversas se dissolvem para fornecer novas perspectivas de meio-termo. Sua prática abrange uma vasta gama de suportes, incluindo cinema, escultura, som, jardins e desenho, com enfoque na criação e migração de formas entre natureza, arte e arquitetura.
Janaina Wagner (1989) vive e trabalha entre São Paulo e Roubaix. A pesquisa da artista explora aspectos da tentativa de controle do ser humano de seu meio ambiente, principalmente por meio de processos civilizatórios voltados para o domínio da natureza, ignorando sua fragilidade e finitude. Sua prática abrange uma ampla gama de mídias, incluindo instalações, vídeo, fotografia, desenho, pintura e cenografia. Muitas das referências de Wagner derivam dos procedimentos através dos quais a humanidade registra e articula seu progresso e legado. Tendo estudado Belas Artes e Jornalismo, ela aborda e questiona os mecanismos que validam uma história como verdadeira – olhando de perto cada constelação de contos, fatos e imagens. Wagner desenvolve sua obra plástica em um processo de “decupagem”, rearticulando imagens e textos já inseridos na circulação midiática.
SOBRE O PIVÔ
Fundado em 2012, o Pivô é um espaço de arte autônomo que oferece uma plataforma para a experimentação artística e o pensamento crítico de artistas, curadores, pesquisadores e público em geral. No Pivô, artistas e curadores são incentivados a responder às especificidades da arquitetura da instituição – um espaço previamente abandonado de 3.500m² dentro de um dos edifícios mais emblemáticos de São Paulo, o Copan, projetado por Oscar Niemeyer – e seu contexto desafiador. O programa é composto por exposições, residências, palestras públicas e publicações de artistas locais e internacionais. A instituição já realizou mais de 150 residências nos últimos anos e os recentes comissionamentos incluem os artistas Katinka Bock, Eduardo Navarro, Erika Verzutti, Mário Garcia Torres, Letícia Ramos, Rodrigo Hernandez e a mostra coletiva “imannam” de Ana Maria Maiolino, Ana Linneman e Laura Lima.
fevereiro 17, 2021
Paulo Nenflidio no MAC USP, São Paulo
Universo Invisível, exposição que o Museu de Arte Contemporânea da USP apresenta a partir do dia 20 de fevereiro, reúne seis trabalhos inéditos de Paulo Nenflidio, artista que situa seu trabalho entre a arte, a ciência, a tecnologia e o design. A exposição é um dos três projetos selecionados pelo primeiro edital de exposições temporárias do MAC USP, realizado em 2019.
Paulo Nenflidio tem o invisível como principal elemento de seus trabalhos, seja relacionado ao som, à natureza ou à física. Em Universo Invisível, as obras foram criadas pensando na ocupação do espaço como uma oportunidade de experimentação e de novas pesquisas. Há nos trabalhos uma fuga da representação encontrada em produções anteriores e uma busca por questões envolvendo equilíbrio, gravidade, luz, tempo, tensão, movimento e ruído, numa certa abstração que aponta novos caminhos que surgem no percurso de Nenflidio.
A matéria-prima de Paulo Nenflidio encontra-se nos fenômenos invisíveis da física e da eletrônica que fogem à nossa percepção, embora sejam parte indissociável da nossa vida cotidiana. O artista provoca essas forças da natureza promovendo o encontro entre conhecimento científico e experiência artística, mediados por elementos de surpresa e poesia. Em Experimento de suspensão nº1, talvez a mais emblemática dessa nova poética, uma rocha se ergue no espaço por meio de um sistema de roldanas e contrapesos, em equilíbrio instável, ativando as propriedades invisíveis da força gravitacional. Entre a estabilidade e a instabilidade, o equilíbrio e o desequilíbrio, Paulo Nenflidio tensiona os espaços e as temporalidades reinventando a relação entre arte e tecnologia.
Acompanhe o site e as redes sociais do museu para informações sobre as visitas guiadas que serão oferecidas pelo artista ao logo da exposição, com encerramento previsto para o dia 23 de maio. O MAC USP funciona de terça a domingo, das 10 às 21 horas, e é necessário agendamento no Sympla.