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outubro 22, 2020
Flávia Junqueira no Farol Santander, São Paulo
Mostra de Flávia Junqueira ocupa o Hall e o 24º andar do edifício, com obras inéditas; conhecida pelas cenografias lúdicas, a artista contemporânea explora os ambientes do Farol Santander São Paulo com balões e ambientes interativos
São Paulo, 15 de outubro de 2020 - O Farol Santander, centro de cultura, empreendedorismo, lazer, moda e gastronomia de São Paulo, retoma suas atividades com novidades na programação cultural e estrutura do prédio. A partir de amanhã (16), das 13h às 19h, os visitantes locais e turistas poderão conferir a exposição Revoada, com obras inéditas de Flávia Junqueira, uma das principais artistas do cenário da arte contemporânea no Brasil e curadoria de Paulo Herkenhoff. A mostra, com produção de Angela Magdalena (Madai) e Julia Brandão (Ayo) fica em exibição até o dia 10 de janeiro de 2021.
A jovem artista paulistana ocupará o Hall e o 24º andar do edifício. A instalação no espaço de entrada do Farol, intitulada Revoada, consiste em uma cenografia lúdica e imersiva, com aproximadamente 70 balões de vidro, medindo de 90cm a 40cm, coloridos e suspensos a partir do teto. A suspensão dos balões será realizada com cabos de aço que dão a sensação dos objetos estarem voando pelo ar.
No 24° andar, a inédita obra Território Espelhado revela todo o espaço, incluindo paredes e teto, cobertos por folhas espelhadas e papel metalizado, que refletem os balões de festa distribuídos por todo o local. A instalação ainda conta com ambiência sonora que remete a um autêntico parque de diversões, além de cavalos de carrossel que dão um tom lúdico à experiência.
Elemento presente em todos os trabalhos de Flávia Junqueira, os balões tornam-se grandes personagens e aparecem como metáforas. A arquitetura da representação, símbolo de diversos contextos históricos brasileiros, é o atelier da artista nesta nova exposição.
Mais Novidades
Além da exposição Revoada, de Flávia Junqueira, o Farol Santander São Paulo ganhou dois espaços (nos acessos entre os 23º e 24º andares e os 25º e 26º andares) com pinturas realizadas pela artista plástica paulista Raquel Gorzalka, para que os visitantes possam interagir e tirar fotos.
As paredes trazem imagens do próprio prédio do Farol e reproduções de obras e monumentos famosos da cidade, como o monumento “Mão”, erguido por Oscar Niemeyer no Memorial da América Latina; as lanternas japonesas do bairro da Liberdade; a ponte estaiada Octávio Frias de Oliveira; o Museu de arte de São Paulo (MASP); o edifício COPAN, entre outros, além de guarda-chuvas que remetem à famosa expressão “terra da garoa”, pela qual a cidade é conhecida. Já no piso, o visitante encontra adesivos com as mais diversas frases como “Venha para DiverCIDADE SP” e “Mais Amor em São Paulo Por Favor”.
Os visitantes também encontrarão o Farol Santander SP com a fachada (tombada pelo Condephaat - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico ) restaurada, tal como era em 1947. Foram restauradas 46.975.650 pastilhas e 850 esquadrias, além da limpeza do icônico lustre de 13 metros de altura e 1,5 tonelada do hall de entrada, que teve suas 9.987 peças de cristal, limpas uma a uma.
Protocolos de segurança e saúde
Para zelar pela segurança e saúde de seu público e funcionários, haverá medição de temperatura e tapetes sanitizantes e secantes para ingresso no prédio; será obrigatório o uso de máscaras; dispensers de álcool em gel estarão disponíveis em todos os andares do edifício e o ambiente também contará com sinalizações para que todos respeitem o distanciamento de 1,5 metro. O Farol ainda reforçou o serviço de limpeza e higienização de todo o prédio.
“O acesso à cultura é uma necessidade básica, mas só poderíamos reabrir o Farol Santander quando tivéssemos certeza que a saúde de nossos visitantes e funcionários seria preservada”, ressalta Patricia. Seguindo as orientações das autoridades públicas para a reabertura, o Farol funcionará em horário reduzido – das 13h às 19h, de terça a domingo -, com ocupação máxima de 60% da capacidade total do prédio.
Sobre o Farol Santander São Paulo
Desde sua inauguração, em janeiro de 2018, o Farol Santander já recebeu mais de 750 mil pessoas, com 15 exposições nos eixos temáticos e imersivo. As atrações do Farol Santander ocupam 18 andares dos 35 do edifício de 161 metros de altura que, por um longo período, foi a maior estrutura de concreto armado da América do Sul.
Do 2º ao 5º andar os visitantes podem conhecer a história do prédio e da própria cidade, no espaço Memória que tem com mobiliários originais feitos pelo Liceu de Artes e Ofícios em salas de reuniões e presidência. No 4º andar, uma instalação permanente e exclusiva do Farol Santander: Vista 360º, desenvolvida pelo renomado artista brasileiro Vik Muniz.
As visitas começam pelo hall do térreo e seguem até o mirante do 26º andar que, após a revitalização, ganhou uma unidade do Suplicy Cafés.
No subsolo do edifício, está instalado o Bar do Cofre SubAstor, que tem previsão de reabertura em novembro, onde funcionava o cofre do Banco do Estado de São Paulo, desde 1947 (tombado pelo Patrimônio Histórico). O bar é ambientado com as características da época e pitadas contemporâneas em design e mobiliários, com cartas de drinks especiais, além de comidinhas.
outubro 19, 2020
Ivan Serpa no CCBB, Rio de Janeiro
“Nunca há nada de realmente novo. O novo é algo do passado que foi escolhido outra vez.
O que existe, sempre, é uma retomada de posição.”
Ivan Serpa
Últimas semanas para visitar a exposição Ivan Serpa: a expressão do concreto, uma ampla retrospectiva de um dos mais importantes mestres da história da arte brasileira, aberta ao público do CCBB-Rio, até o dia 26 de outubro, adaptada às novas medidas de segurança sanitária. O acesso ao prédio do CCBB e à exposição é gratuito, de quarta a segunda, de 9h às 17h, exclusivamente por meio de agendamento prévio online.
O CCBB-Rio passou por diversas adaptações para que pudesse receber o público de acordo com todos os protocolos de segurança para prevenção contra o novo coronavírus.
O público carioca poderá visitar esta importante exposição ambientada no primeiro andar do CCBB-Rio, que foi fechada por conta da pandemia do covid-19, dez dias depois de inaugurada, em 4 de março de 2020.
Acessar visita virtual no Google Arts & Culture
A exposição Ivan Serpa: a expressão do concreto apresenta mais de 200 trabalhos, de diversas fases do artista que morreu precocemente (Rio de Janeiro, 1923/1973), mas deixou obras que abrangem uma grande diversidade de tendências, utilizando várias técnicas, tornando-se uma referência para novos caminhos na arte visual nacional.
A mostra percorre a rica trajetória de Ivan Serpa, expoente do modernismo brasileiro através de obras de grande relevância selecionadas em diversos acervos públicos e privados.
Com curadoria de Marcus de Lontra Costa e de Hélio Márcio Dias Ferreira, a exposição apresenta obras de todas as fases e técnicas utilizadas pelo artista: concretismo / colagem sob pressão e calor / mulher e bicho / anóbios (abstração informal) / negra (crepuscular)/ op-erótica / anti-letra / amazônica / mangueira e geomântica.
A pluralidade criativa e suas expressões ratificam o importante papel de Ivan Serpa na arte moderna brasileira, na criação e liderança do Grupo Frente (Lygia Clark, Lygia Pape, Franz Weissmann, Abraham Palatnik, Hélio Oiticica e Aluísio Carvão), e através de seu projeto de difundir e motivar as novas gerações para a arte, com suas aulas para crianças e adultos no Museu de Arte Moderna.
Ivan Serpa: a expressão do concreto resume a essência da obra desse artista que, apesar de ser mais conhecido pelo Concretismo, também se aventurou pela liberdade do expressionismo, sem nunca perder contato com a ordem e a estrutura. Trata-se de uma exposição única, de um artista complexo, definitiva para reascender a memória sobre esse operário da arte brasileira.
“Ivan Serpa surpreende até hoje por sua extrema sensibilidade, pelo seu permanente compromisso com a liberdade que alimenta a verdadeira criação artística. Enquanto críticos e teóricos cobravam do artista uma coerência estética, veiculando-a a uma determinada escola artística, Serpa respondia com a ousadia e o desprendimento característico dos verdadeiros criadores. Entre tantos ensinamentos, a lição que Serpa nos lega é essa ânsia, esse compromisso permanente com a liberdade e a ousadia que transforma a aventura humana em algo sublime e transformador. Por isso, hoje e sempre, é preciso manter contato com a produção desse artista exemplar que transforma formas e cores num caleidoscópio mágico, múltiplo e íntegro em sua linguagem expressiva”, diz Marcus de Lontra Costa, um dos curadores da exposição.
“Agradecemos a Ivan Serpa pelo seu legado, que deixou um rastro de liberdade na arte brasileira, da modernidade aos nossos dias. Lembremos que, na sua relativamente curta trajetória, ansioso por viver e trabalhar, desde pequeno viveu sob a ameaça da morte, mas encontrou tempo para ensinar aos outros o poder da arte”, complementa Hélio Márcio Dias Ferreira, pesquisador especialista na obra de Ivan Serpa.
“Trajetórias corajosas, como as de Ivan Serpa, acentuam a importância da ação artística como instrumento de definição das identidades culturais comuns, mas, também, como agente de questionamento e subversão. No mundo contemporâneo é preciso sempre estar atento e forte, e se alimentar de saberes oriundos do passado recente, para que possamos enfrentar os dilemas e desafios do presente e do futuro. Por isso o desafio maior da arte contemporânea é o enfrentamento, e exemplos como o de Ivan Serpa, nos dão a régua e o compasso e nos ensinam a superar e vencer os dragões da maldade”, complementa Marcus de Lontra Costa.
A mostra permanece no Rio de Janeiro até 26 de outubro de 2020 e segue ainda este ano para o Centro Cutural Banco do Brasil Belo Horizonte com inauguração prevista para 10 de novembro. Em 2021 a exposição seguirá para os Centros Culturais do Banco do Brasil de São Paulo e Brasília.
Os curadores
Marcus de Lontra Costa - ex diretor na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, realizou entre outras exposições a histórica mostra “Como Vai Você Geração 80”. Em 1990 assume a direção curatorial do MAM RJ. Implantou o MAMAM-Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, em Recife. Já realizou inúmeras exposições no Brasil e no exterior tais como Niemeyer: Invenção do Tempo e Oscar Niemeyer 100 anos, e de grandes artistas como Athos Bulcão, Celeida Tostes, Tomie Ohtake, Franz Kracjberg etc. assim como a Coleção Gilberto Chateaubriand. Convidado pelo governo da França para integrar a equipe de curadores do Centre Georges Pompidou e da Fondation Cartier, em Paris.
Em 2018 a exposição da Amélia Toledo – Lembrei que Esqueci, no CCBB São Paulo, sob sua curadoria ganhou o prêmio da ABCA e da Associação Paulista de Críticos. Atualmente é curador do Prêmio Industria Nacional - Marcantônio Vilaça SESI/CNI.
Hélio Márcio Dias Ferreira - professor da Escola de Teatro da Unirio. Mestre em História da Arte pela UFRJ e doutor em Educação pela UFF, com parte dos estudos realizada na Universidade Paris III – Sorbonne (França), é autor de Uma história da arte ao alcance de todos e Ivan Serpa: o expressionista concreto, entre outros livros de arte.
Horizontes: Lorenzato e Bruno Faria na Marilia Razuk, São Paulo
Homenageando os 120 anos que o artista mineiro Lorenzato completaria em 2020, as galerias Marília Razuk (São Paulo) e Periscópio (Belo Horizonte) apresentam, em parceria inédita, a exposição online Horizontes: Lorenzato e Bruno Faria. Em cartaz a partir de 21 de outubro em um Viewing Room no site da Galeria Marília Razuk, a mostra traz texto da curadora e crítica de arte independente Kiki Mazzucchelli, e traça um diálogo entre dois artistas de gerações distintas, mas que lançam seus olhares sobre um importante gênero da história da arte: a Paisagem.
Horizontes enuncia um território entre as duas produções, separadas por quase três décadas, e que renovam e atualizam mais uma vez esse gênero. Lorenzato (1900-1995) representava a realidade cotidiana mineira, utilizava cores essenciais e muitas vezes trabalhava a tinta com um pente de metal, comumente empregado na ornamentação de pintura de parede, técnica que herdou de seu ofício de pintor de construção civil, que exerceu até 1956. Bruno Faria (1981), por sua vez, afasta-se da linguagem tradicional da pintura para uma aproximação conceitual. Na série Lembranças de Paisagem, o artista garimpa em feiras de antiguidade flâmulas/bandeiras produzidas nas décadas de 1960 e 1970, que trazem imagens de paisagens correspondentes ao imaginário de cidades brasileiras. Vistas na época como souvenirs, cartões-postais, ganham a intervenção de Faria por meio da pintura, retirando os textos e deixando apenas a imagem da paisagem de cada cidade.
Ao colocar esses dois artistas em diálogo, a exposição traz ao espectador duas poéticas que, cada uma a sua maneira, mantém o enigma da paisagem que se apaga, mas que também resiste. A parceria entre as Galerias para apresentá-la, reforça novas maneiras de expor e divulgar a produção de Lorenzato e Bruno Faria, sobretudo neste período de isolamento social. Além de reunir virtualmente obras que estão em São Paulo e Belo Horizonte, o Viewing Room, disponibiliza as informações das obras em português e inglês.
SOBRE OS ARTISTAS
Bruno Faria nasceu em Recife (PE), em 1981, vive e trabalha em Belo Horizonte. Mestre em poéticas visuais pela Escola de Belas Artes da UFMG, seus trabalhos partem de investigações relacionadas à contextos específicos, que são apresentados em diferentes mídias como instalação, intervenção, escultura, publicação ou outras mídias. Conceitualmente seu trabalho se relaciona criticamente com questões da cidade, do espaço público, da arquitetura e da paisagem, através de pesquisas históricas em arquivos e outros lugares. Em 2018 apresentou a instalação "Brasilia", na seção "Solo" da SP Arte e possui obras nos acervos da Pinacoteca de São Paulo e Museu de Arte do Rio - MAR.
Amadeu Luciano Lorenzato (Belo Horizonte MG 1900 - idem 1995) começa a trabalhar como ajudante de pintor em 1910, exercendo o ofício até 1920, quando se muda com a família para Arsiero (Itália), onde trabalha como pintor de paredes na reconstrução da cidade. Em 1925, matricula-se na Reale Accademia delle Arti, em Vicenza. No ano seguinte, muda-se para Roma, onde permanece dois anos em companhia do pintor e cartazista holandês Cornelius Keesman. Muda-se para Paris em 1930, e trabalha na montagem dos pavilhões da Exposição Internacional Colonial. Um ano depois, retorna à Itália onde fica até abril de 1948, data em que volta ao Brasil. Trabalha, em 1949, na montagem dos estandes para a Exposição de Indústria e Comércio, realizada no Hotel Quitandinha, de Petrópolis, depois, muda-se com a família para Belo Horizonte e exerce o ofício de pintor de paredes até 1956. Impedido de continuar na construção civil devido a um acidente, dedica-se integralmente à pintura. Em meados da década de 1960, apresenta alguns trabalhos ao crítico Sérgio Maldonado, que, por sua vez, apresenta-o a Palhano Júnior, organizador da primeira exposição individual de seus trabalhos, realizada em 1967.
outubro 16, 2020
Participação de galerias e instituições na feira ArtRio 2020, Rio de Janeiro
A edição 2020 da feira ArtRio acontece na Marina da Glória, de 15 a 18 de outubro (por agendamento) e online até o dia 25 de outubro de 2020.
Abaixo consolidamos as informações recebidas pelo Canal Contemporâneo de algumas galerias e instituições participantes.
Athena Galeria de Arte (ArtRio Marina stand A4)
Alfredo Volpi, André Griffo, Antonio Dias, Desali, Frederico Filippi, Glauco Rodrigues, Matheus Rocha Pitta, Raquel Versieux, Rodrigo Bivar, Ubi Bava, Vanderlei Lopes
C.Galeria (ArtRio Online)
Bruno Weilemann, Diego de Santos, Eloá Carvalho, João Paulo Racy, Marcos Duarte, Maria Fernanda Lucena, Paul Setúbal, Piti Tomé, Rafael Bqueer, Ruan D'Ornellas, Vitor Mizael
Carbono Galeria (ArtRio Online)
Abraham Palatnik, Bettina Vaz Guimarães, Clara Veiga, Claudio Tozzi, Fernanda Naman, Iran do Espírito Santo, Julio Le Parc, Mano Penalva, Maria-Carmen Perlingeiro, Paloma Bosquê, Raul Mourão, Regina Parra, Shirley Paes Leme, Vivian Caccuri
EAV Parque Lage (ArtRio Marina)
Na edição da ArtRio 2020, Antonio Dias, Brígida Baltar, Cristiano Lenhardt, Ernesto Neto, Iole de Freitas, Laura Lima, Lucia Laguna, Luiz Zerbini e Rafael Alonso compõem a seleção de artistas da Coleção AMIGO EAV que poderá ser vista na feira.
Galeria Estação (ArtRio Online)
Dan Coopey, Moisés Patrício
Fortes D’Aloia & Gabriel (ArtRio Marina stand B3)
Adriana Varejão, Bárbara Wagner & Benjamin de Burca, Barrão, Carlos Bevilacqua, Cristiano Lenhardt, Efrain Almeida, Erika Verzutti, Gokula Stoffel, Iran do Espírito Santo, Jac Leirner, Janaina Tschäpe, João Maria Gusmão & Pedro Paiva, Leda Catunda, Lucia Laguna, Luiz Zerbini, Mauro Restiffe, Nuno Ramos, OSGEMEOS, Rodrigo Cass, Sarah Morris, Sergej Jensen, Tiago Carneiro da Cunha, Valeska Soares
Gaby Indio da Costa Arte Contemporânea (ArtRio Online)
Ana Muglia, André Andrade, Anna Helena Cazzani, Anna Paola Protasio, Bel Barcellos, Caroline Veilson, Manoel Novello, Manoel Veiga, Marcus André, Mercedes Lachmann, Ricardo Becker, Rosângela Dorazio, Valéria Costa Pinto
Janaina Torres Galeria (ArtRio Marina)
Andrey Zignnatto, Ricardo Siri, Sandra Mazzini
Galeria Kogan Amaro (ArtRio Online)
Alan Fontes, Bruno Miguel, Felipe Góes, Gabriel Botta, Mirela Cabral, Samuel de Saboia, Tangerina Bruno
LURIXS: Arte Contemporânea (ArtRio Online)
Amalia Giacomini, Coletivo MUDA, Elizabeth Jobim, Gustavo Prado, Hélio Oiticica, Hildebrando de Castro, José Bechara, Luciano Figueiredo, Lygia Clark, Lygia Pape, Manuel Caeiro, Mauricio Valladares, Paulo Climachauska, Raul Mourão, Renata Tassinari, Ricardo Alcaide, Valdirlei Dias Nunes, Vicente de Mello
MAM Rio (ArtRio Marina)
O MAM Rio lança a 7ª edição do Clube de Colecionadores em seu estande na ArtRio. O novo conjunto (R$ 12 mil) apresenta quatro foto-performances de Ana Beatriz Almeida, Ayrson Heráclito, Paula Scamparini e Rafael Bqueer, impressas em papel algodão. Pela primeira vez, o museu lançará simultaneamente duas edições especiais, com tiragem de 30 exemplares cada: uma fotolitografia de Luiz Zerbini (R$ 12 mil), na qual o artista experimenta com a impressão direta de folhas, frutas, cascas e espinhos; e um ready-made de Marcos Chaves (R$ 7 mil), que explora o tema da polarização no Brasil atual.
Marcia Barrozo do Amaral - Galeria de Arte (ArtRio Marina stand D2-3)
Ascânio MMM, Fernando Leite, Luiz Philippe, Ronaldo do Rego Macedo
Galeria Marília Razuk (ArtRio Online)
Alexandre Canonico, Alexandre Wagner, Amadeu Luciano Lorenzato, Ana Luiza Dias Batista, Bruno Faria, Carolina Martinez, Hilal Sami Hilal, José Bechara, Maria Laet, Renata Tassinari, Rodrigo Bueno, Sérgio Romagnolo, Vanderlei Lopes
Matias Brotas Arte Contemporânea (ArtRio Marina stand D8)
Adrianna EU, Andrea Brown, Antonio Bokel, José Bechara, Mai-Britt Wolthers, Manfredo de Souzanetto, Marcelo Macedo, Matias Mesquita, Raphael Bianco, Sandro Novaes, Suzana Queiroga, Vanderlei Lopes
Mercedes Viegas Arte Contemporânea (ArtRio Online)
Adalberto Mecarelli, Amilcar de Castro, Anna Maria Maiolino, Antonio Bokel, Cela Luz, Duda Moraes, Eduardo Coimbra, Elvis Almeida, Everardo Miranda, Goia Mujalli, Jaqueline Vojta, Julio Villani, Maria Baigur, Regina de Paula, Robert Kelly
Galeria Millan (ArtRio Marina stand B2)
Afonso Tostes, Ana Prata, Artur Barrio, David Almeida, Dudi Maia Rosa, Emmanuel Nassar, Felipe Cohen, Henrique Oliveira, José Damasceno, Paulo Pasta, Paulo Whitaker, Rafael Alonso, Regina Parra, Rodrigo Andrade, Tatiana Blass, Thiago Martins de Melo, Túlio Pinto, Tunga
Galeria Murilo Castro (ArtRio Online)
Almandrade, Anna Bella Geiger, Christus Nóbrega, Juliana Gontijo, Luiz Hermano, Marcos Coelho Benjamim
Galeria Nara Roesler (ArtRio Marina C4)
Apresenta uma seleção de artistas latino-americanos e europeus, históricos e contemporâneos. A seleção de artistas inclui obras de Abraham Palatnik, Amelia Toledo, Angelo Venosa, Artur Lescher, Brígida Baltar, Bruno Dunley, Carlito Carvalhosa, Cristina Canale, Daniel Buren, Daniel Senise, Eduardo Coimbra, José Patrício, JR, Julio Le Parc, Laura Vinci, Marcos Chaves, Milton Machado, Raul Mourão Sérgio Sister e Vik Muniz.
Silvia Cintra + Box4 (ArtRio Marina)
Alice Quaresma, Amilcar de Castro, Ana Maria Tavares, André Dahmer, Andrea Rocco, Carlito Carvalhosa, Chiara Banfi, Cinthia Marcelle, Daniel Senise, Iole de Freitas, Isidora Gajic, Laercio Redondo, Manoela Medeiros, Marcius Galan, Miguel Rio Branco, Nelson Leirner, Pedro Motta, Roberto Magalhães, Rodrigo Matheus, Sebastião Salgado
Simone Cadinelli Arte Contemporânea (ArtRio Online)
Claudio Tobinaga, Gabriela Noujaim, Isabela Sá Roriz, Jeane Terra, Jimson Vilela, Leandra Espírito Santo, Pedro Carneiro, Roberta Carvalho, Ursula Tautz, Virgínia Di Lauro
Casa Triângulo (ArtRio Online)
Albano Afonso, Ascânio MMM, avaf, Eduardo Berliner, Ivan Grilo, Lucas Simões, Lyz Parayzo, Mariana Palma, Paul Setúbal, Sandra Cinto, Thiago Rocha Pitta, Tony Camargo, Valdirlei Dias Nunes, Vânia Mignone
Vermelho (ArtRio Marina stand A7)
Ana Maria Tavares, Cadu, Carlos Motta, Claudia Andujar, Dias & Riedweg, Dora Longo Bahia, Fabio Morais, Henrique Cesar, Lia Chaia, Marcelo Cidade, Marcelo Moscheta, Rosângela Rennó, Tania Candiani.
Zipper (ArtRio Marina stand A6)
Adriana Duque, André Feliciano, Camila Soato, Camille Kachani, Celina Portella, Daniel Escobar, Felipe Cama, Fernando Velázquez, Flávia Junqueira, Hildebrando de Castro, James Kudo, Janaina Mello Landini, João Castilho, Marcelo Tinoco, Pedro Varela, Rodrigo Braga, Teresa Viana.
Para a seção MIRA, dedicada à videoarte, a artista Katia Maciel teve três trabalhos selecionados: “Noitedia” (2011), “Desarvorando” (2006) e “Pontes de árvores” (2011; este desenvolvido em parceria com André Parente). A curadoria do setor é de Victor Gorgulho.
outubro 15, 2020
Frederico Filippi na Leme, São Paulo
Sábado, dia 19 de setembro de 2020, abre virtualmente a exposição individual Terra de Ninguém do artista Frederico Filippi na Galeria Leme. Com curadoria de Thais Rivitti, a exposição mostra um recorte de trabalhos recentes do artista, divididos em três núcleos: oito pinturas sem título, obras da série Seiva e a instalação Carne de Caça. A primeira exposição a abrir no espaço após o fechamento em decorrência da pandemia de Covid-19 – e ainda sob condições especiais de visitação – a mostra reflete sobre a relação do homem com o ambiente em que vive, enfocando, sobretudo, questões brasileiras dentro dessa temática.
Acessar Visita Virtual em 3D e Viewing Room
As oito novas pinturas, com dimensões variadas, trazem pequenas paisagens que mostram uma natureza em transformação. São imagens algo nebulosas, feitas com a mediação de reproduções fotográficas, que se abrem num fundo preto. O suporte das pinturas não é a tela branca comumente usada por pintores, mas uma placa de borracha preta. O material traz consigo, ao mesmo tempo, a lembrança do látex natural e do processo industrial que transforma a matéria prima em produto pronto para o consumo.
As obras da série Seiva mostram lameirões de caminhão (também feitos com a mesma borracha preta das pinturas) que o artista encomenda com as palavras “fogo”, “ouro” e “mercúrio”. São “objetos- pinturas” que nascem com a vocação de rodar o Brasil em caminhões que trafegam pelas rodovias fazendo o transporte das mais diversas cargas. Na galeria, esses objetos condensam, de algum modo, o percurso das estradas fazendo-nos pensar sobre os possíveis encontros dessas “palavras - signos - elementos” com a paisagem que atravessam.
A instalação Carne de Caça, reúne partes de um carro queimado sobre as quais o artista desenha com asfalto. Essa carcaça desmembrada é novamente recomposta na galeria, lembrando um pouco as montagens de animais extintos em museus de História Natural. Os desenhos dessas padronagens sobre a superfície das peças evoca a pele de alguns mamíferos, criando, novamente, uma intersecção inesperada entre a máquina (o carro, a indústria) e o corpo vivo (o animal, a natureza).
Um dos artista mais provocativos de sua geração, Frederico Filippi vem construído uma obra que indaga sobre as consequências de ações predatórias sobre a natureza, sobre a aniquilação de modos de vida tradicionais, sobre um estreitamento de visão sobre o mundo decorrente na hegemonia do pensamento branco, ocidental e científico em diversos campos do conhecimento. Seu trabalho coloca em relação fatos atuais com processos históricos longos, como a colonização do território americano. Articulando processos econômicos, simbólicos e políticos o trabalho do artista traz a tona os principais impasses colocados para pensarmos o presente.
Sobre o artista
Frederico Filippi. São Carlos, Brasil, 1983. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil.
Com procedimentos variados e técnicas dispersas, a centralidade das imagens presentes em suas investigações muitas vezes partem da influência que recebe dos temas da antropologia - especificamente da etnologia ameríndia - como a pesquisa de campo, os resíduos imagéticos de encontros de mundos diferentes e a diagramação de informações aparentemente caóticas em um contexto novo. Para isso, ao mesmo tempo que se debruça sobre objetos e materiais para produzir pinturas, desenhos e instalações, também leva a cabo pesquisas mais extensas em processos de deslocamento e residências que acabam por produzir uma ação sobre a realidade, mesmo que ínfima, de modo a introduzir um ruído na imagem geral. Cada vez mais a agência invisível dos objetos e das informações tem se tornado um ponto de encontro em seu processo, de forma que o artista não se abate sobre uma técnica verticalmente, mas transita de acordo com a sondagem e encontra em diferentes materiais e ações caminhos para tornar visíveis estes procedimentos.
Exposições individuais: Cobra Criada, Galeria Athena, Rio de Janeiro, Brasil (2019); O sol, o jacaré albino e outras mutações, Galeria Athena Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil; Fogo na Babilônia, Pivô, São Paulo, Brasil; Desvío, KIOSKO, Santa Cruz de la Sierra, Bolívia (2015); Deuses Impostores, IBEU- Rio de Janeiro, Brasil (2014).
Exposições coletivas: Triangular: arte deste século, Casa Niemeyer, Brasília, Brasil; O Que Não É Floresta É Prisão Política, Galeria Reocupa - Ocupação 9 de Julho, São Paulo, Brasil (2019); ⦿, Galeria Leme, São Paulo, Brasil; Com o ar pesado demais para respirar, Galeria Athena Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil; Caixa-Preta, Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, Brasil; Que barra, Ateliê 397, São Paulo, Brasil; ROCESSOS EM TRÂNSITO | Livros de Artista 2018, Galeria da Câmara de Matosinhos, Matosinhos, Portugal (2018); IN MEMORIAM, Caixa Cultural, Rio de Janeiro, Brasil (2017); Próprio-impróprio, Galeria Leme, São Paulo, Brasil; Photo Biennale, Cities and Memory, Bienal de Fotografia e Filme, Brandts, Dinamarca; Totemonumento, Galeria Leme, São Paulo, Brasil (2016); Aparição, Caixa Cultural, Rio de Janeiro, Brasil; Até Aqui Tudo Bem, Inside the White Cube, White Cube, São Paulo, Brasil (2015); entre outras.
Prêmios e residências artísticas: Intervalo-Escola: Intervalo em curso, Casa do Rio e Reserva de Desenvolvimento Sustentável Igapó Açu, Amazônia, Brasil (2017); Kiosko, Santa Cruz de la Sierra, Bolívia; El Ranchito Matadero, Madri, Espanha (2015); Bolsa Pampulha, Museu da Pampulha, Belo Horizonte, Brasil; Prêmio Novíssimos, Galeria IBEU, Rio de Janeiro, Brasil; La Ene, Buenos Aires, Argentina (2013); 5º RedBull House of Art, São Paulo, Brasil (2011).
O seu trabalho integra a coleção do MAR - Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, Brasil e Casa da Cultura da América Latina na Universidade de Brasília.
Cosmococa no MAM, Rio de Janeiro
MAM Rio inaugura mostra com imagens oferecidas em doação por Neville Dalmeida e pelo Projeto Hélio Oiticica
Em 17 de outubro de 2020 (sábado), o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) abrirá a exposição Cosmococa - programa in progress: núcleo poético de Quasi-Cinema, com cinco imagens fotográficas oferecidas em doação ao museu pelo Projeto Hélio Oiticica e pelo cineasta Neville Dalmeida. Com curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes, a seleção envolve imagens originalmente feitas em slide para serem projetadas nos ambientes dos Bloco-Experiências in Cosmococa - programa in progress, criados em 1973, em Nova York, pelo artista carioca Hélio Oiticica (1937-1980) em parceria com o cineasta mineiro Neville Dalmeida.
Em resposta à oferta de doação, o museu apresenta uma mostra-resumo dos experimentos Quasi-Cinema, conceito de Hélio Oiticica para a busca de alternativas críticas às poéticas cinematográficas convencionais, voltadas para o movimento ilusionista, para a sincronização entre sonoridade e ação, e para o papel meramente contemplativo do observador.
Em adição às cinco imagens de Cosmococa, a exposição inclui outros experimentos de Hélio Oiticica com Quasi-Cinema, como slides da série Neyrótika e da série TV Shot, transferidos a fotografia, e o filme mudo Agripina é Roma-Manhattan (feito em Super 8). Complementam a mostra os filmes Héliophonia (2002), de Marcos Bonisson, e Cosmo Cápsulas (2001), de Cesar Oiticica Filho.
A mostra antecede a grande exposição “Hélio Oiticica: a dança na minha experiência”, curada por Adriano Pedrosa e Tomás Toledo e correalizada pelo Museu de Arte de São Paulo (MASP) e pelo MAM. Essa exposição está em cartaz em São Paulo e virá em seguida ao Rio.
Grupo de 21 artistas e Galeria Amparo 60 lançam o projeto Enxertia
A Enxertia pode ser definida como um método utilizado por especialistas que trabalham com plantas e que consiste na união dos tecidos de duas de espécies diferentes. Enxertia é o nome do projeto capitaneado por um grupo de 21 artistas e pela Galeria Amparo 60, que começa a sair do papel no próximo dia 15 de outubro de 2020. A ideia é, justamente, permitir o agrupamento de trabalhos e propostas poéticas distintas, numa conversa, numa nova possibilidade de trocas e sobrevivências.
Foi assim, interessados nessas estratégias de fortalecimento mútuo, que biarritzzz, Caetano Costa, Clara Moreira, Célio Braga, Cristiano Lenhardt, Fefa Lins, Fernando, Augusto, Francisco Baccaro, Iagor Peres, Isabela Stampanoni, Izidorio Cavalcanti, Josafá Neves, José Paulo, Juliana Lapa, Kildery Iara, Lia Letícia, Lourival Cuquinha, Mariana de Matos, Marie Carangi, Ramonn Vieitez e Ramsés Marçal se juntaram para dar corpo ao Enxertia. O nome foi uma sugestão d a artist a Kildery Iara. As obras passam a ser parte de um enxerto, unem-se umas às outras, formando corpos híbridos que juntos ampliam suas possibilidades de discursos, de sobrevivência, além de compartilhar forças.
Segundo a artista Juliana Lapa, o projeto começou a se desenhar em junho, durante o isolamento social, em conversas com outros artistas e com a galerista Lúcia Costa Santos. Inicialmente, a proposta era criar uma rede de apoio que pudesse garantir um suporte aos artistas durante a pandemia, mas que também gerasse diálogos, trocas, experimentações. Enxertia terminou desenhando-se como uma espécie de exposição virtual, com poéticas de artistas pernambucanos e de outros estados que de algum modo se relacionam com a cena do Pernambuco. A exposição é costurada a partir do olhar apurado da curadora Ariana Nuala e tem uma proposta comercial colaborativa, na qual todos ganham. (Ler texto curatorial e apresentação das coleções.)
Neste mês, o grupo junto com a Amparo 60 lançam a primeira coleção do projeto — serão três até o final do ano — com sete conjuntos, cada um contendo o trabalho de três dos 21 artistas. A exposição virtual pode ser conferida nas redes e e-commerce da Amparo 60. A galeria ficou responsável pela logística comercial. O projeto está sintonizado com todo o trabalho que a Amparo vem desenvolvendo nos últimos meses, apostando em iniciativas que pretendem incentivar os jovens colecionadores e o colecionismo. Os conjuntos serão comercializados por R$ 7.000, sendo o valor dividido igualmente entre todos os artistas, a curadora, a galeria e o Sítio Ágatha (instituição escolhida pelo projeto para apoiar).
A curadora Ariana Nuala se debruçou sobre os trabalhos disponibilizados pelos 21 artistas buscando pontos de convergência e também de divergência, criando uma narrativa e uma primeira junção de obras. “Pensar em enxertia, é pensar em um processo de frutificação, porque ela fala um pouco sobre uma pulsão de vida e morte entre dois corpos que estão em momentos distintos e a reunião desses corpos para criar um corpo híbrido. Ela se dá dentro de uma observação de elementos e se propõe a um agenciamento que é feito por uma criação de tecnologia. Essa criação de tecnologia, enquanto processos de articulação entre corpos, se torna muito importante para a gente refletir sobre um projeto que está pensando o mercado e a venda de obras e como a gente pode trazer um caráter mais crítico para ele, uma perspectiva de fortalecimento, onde a gente consiga também discutir sobre território. Então, quando Iara traz para mim esse repertório e essa ideia de enxertia, eu acho que coloca a prova todas as nossas relações diante do projeto, a nossa distribuição e como a gente se relaciona entre si e quais são as disponibilidades realmente para uma troca mútua”, explica a curadora. A Força, o gesto, o corpo e o território terminaram desenhando-se como chaves para os diálogos propostos por Ariana.
Nos meses de novembro e dezembro, o grupo deve lançar outras duas novas coleções, cada uma com sete conjuntos, trazendo novas obras ou mesmo novas combinações. Além do lançamento e comercialização dos trabalhos, o grupo pretende movimentar os canais de comunicação digital da Amparo 60 com a proposta de conversas entre os artistas e curadora.
outubro 14, 2020
Tomie Ohtake: Poesia se medita + Vídeos #Juntos Distantes no Tomie Ohtake, São Paulo
Em Tomie Ohtake: Poesia se medita, exposição de longa duração que ocupa a sala especial dedicada à artista, a proposta curatorial relaciona a sua obra com a poesia oriental, sobretudo o haicai – poesia de síntese, a arte da forma elementar, dos gestos conscientes e objetivos. “Como na obra de Tomie, o haicai busca atingir a experiência pela essência da linguagem”, completa a curadora Luise Malmaceda, do Núcleo de Pesquisa e Curadoria do Instituto Tomie Ohtake.
O título da exposição "Tomie Ohtake: poesia se medita", foi retirado de um poema do Haroldo de Campos, em “Teoria e prática do poema”, 1952: “o Poema se medita/ como um círculo medita-se em seu centro/ como os raios do círculo o meditam/ fulcro de cristal do movimento”.
Segundo a curadora, foram selecionadas obras que se estruturam verticalmente, como nos haicais japoneses, gravuras e pinturas de gestos sintéticos e objetivos, que por vezes denotam traço caligráfico, e o álbum YU-GEN, com 12 gravuras (1997). Na série que compõe o álbum, a arte de Tomie é sobreposta com poemas concretos inspirados no Japão de Haroldo de Campos. Uma obra realizada a quatro mãos, em que o texto manuscrito pelo próprio poeta e reconhecido tradutor de poesia japonesa também vira imagem e contracena em equilíbrio com os desenhos impregnados pelas formas e cores da artista.
As gravuras reunidas na mostra refletem como Tomie soube inovar também nesta técnica, pela qual ganhou reconhecimento internacional a partir de 1972, quando foi convidada a participar da sala Grafica D’Oggi na Bienal de Veneza - exposição que contou com a presença dos mais importantes artistas do mundo, como os norte-americanos da Pop Art -, além de sua participação na Bienal de Gravura de Tóquio, em 1978, tradicional mostra internacional desta linguagem.
Vídeos #Juntos Distantes
Durante a pandemia, a convite do Instituto Tomie Ohtake, 40 dos mais influentes pensadores e artistas se engajaram gentilmente neste projeto que reuniu depoimentos sobre a questão do isolamento. Toda a semana, de abril a setembro, foram postados os vídeos e 3 a 6 minutos nas plataformas digitais do Instituto. O conjunto, que será projetado em uma das salas expositivas, é uma rara oportunidade de conferir a reflexão sobre este período sem precedentes no panorama mundial, de figuras da filosofia, da literatura, da música, do cinema, da dança e das artes visuais. Seguem os nomes por ordem das postagens: Agnaldo Farias; Muniz Sodré (2min56s); Regina Silveira (6min11s); Eliane Robert Moraes( 5min52s); Peter Pál Pelbart (2min58s); Bob Wolfenson ( 3min27s); Denise Stoklos (4min23s); Eliana Souza Silva (4min15s); Amir Labaki (6min14s); Ana Paula Simioni (6min); Leda Catunda (5min11s); Renata Carvalho (3min06s); Ismael Ivo (3min01s); Renato Janine Ribeiro (4min59s); Regina Parra (3min22s); Elisa Lucinda (5min14s);Rodolfo Stroeter (4min57s);Tata Amaral (4min38s); Renata Felinto (3min59s); Joice Berth ( 5min35s); Queila Rodrigues (6min41s); Fadzai Muchemwa (3min16s); Hélio Goldsztejn (5min44s); Maria Rita Kehl (5min02s); Cadu (2min58s); Lais Myrrha (3min30s); Tiago Mestre (4min57s); Andre Mehmari (3min43s); Janaina Leite (3min31s); Nino Cais (4min05s); Christian Cravo (3min04s); Ukhona Mlandu (4min57s); José Gregori (3min28s); Renata Bittencourt (5min09s); Walmor Corrêa (6min32s); Arrigo Barnabé (1min40s); Carmela Gross (5min32s); Danilo Ramos (3min25s); Mahfouz Ag Adnane (4min01s); Ricardo Ohtake (5min41s).
Mariana Palma no Tomie Ohtake, São Paulo
Em Lumina, mostra retrospectiva e primeira individual de Mariana Palma em uma instituição cultural na capital paulista, estão reunidos cerca de 50 trabalhos que repassam os quase vinte anos de carreira da artista, fundamentada, sobretudo, na pintura e no desenho. Segundo a curadora Priscyla Gomes, o conjunto de obras demonstra a recorrência com que a artista se refere à ideia de integração de partes e de superfícies que se tocam e atritam dando forma a um novo corpo.
Articulando composições ricas em texturas, quase sempre com cores intensas, a obra de Palma provoca a ilusão de sensações táteis, seduzindo o olho do espectador. Segundo a curadora, Lumina, que dá nome à mostra, se refere ao mito de Orfeu, sintetizado no instante em que ele fica cara a cara com Eurídice e a luz dos seus olhos emite um raio em sua direção. (Orfeu foi buscar a amada no mundo dos mortos e conseguiu libertá-la com a promessa de não olhar para trás, mas sucumbiu).
Na exposição, como uma série de atos, tal qual uma ópera adaptada, o visitante percorre diversos momentos do trabalho de Palma. “Explorando elementos provenientes da botânica, de estampas, organismos marítimos e fragmentos arquitetônicos, Palma aborda a interpenetração de corpos, destaca alternâncias entre instantes de tensão e expansão, e compõe infindáveis universos frutos da exploração de luz e sombra”, pondera Gomes.
O percurso pelo espaço expositivo inicia-se com uma série de aquarelas, pinturas e fotografias que corroboram com a mitologia dos amantes. Aos poucos, a narrativa traz, por intermédio de pinturas em grande formato, as idas e vindas dessa trajetória. Para a curadora, o encontro é materializado por uma instalação em que frutos de palmeiras, tal qual duas cascatas, vertem-se em uma bandeja de líquido viscoso. “Palma constrói por intermédio do jorro das plantas uma metáfora pujante do possível encontro desses corpos fatidicamente cindidos”.
Os demais atos exploram a atmosfera da busca de Orfeu por Eurídice, destaca a curadora. Obscuridade e renascimento são fios condutores da aproximação dos trabalhos. Segundo Gomes, esses dois polos explorados são determinantes à compreensão da multiplicidade do léxico da artista. “Embora a profusão de elementos, aliada à intensidade do uso da cor, salte aos olhos no primeiro fitar das obras de Palma, a sutileza e rigor com que a artista articula cada camada sucessiva de tinta desvela um processo lento e meticuloso somente evidente quando nos debruçamos sobre a superfície planar de suas pinturas”, conclui.
Artur Lescher na Nara Roesler, Rio de Janeiro
A Galeria Nara Roesler | Rio de Janeiro orgulha-se em apresentar Inverso do infinito, individual do paulista Artur Lescher. A mostra apresenta dez trabalhos inéditos do artista produzidos entre 2018 e 2020, que sintetizam e desdobram muitos dos elementos que constituem sua prática escultórica original.
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Artur Lescher inscreve-se como um dos principais expoentes da escultura contemporânea brasileira, justamente pela capacidade de articular fundamentos deste gênero a partir de um olhar atual e aprofundado. Sua produção renova a herança do rigor formal geométrico das vanguardas russas de Vladimir Tatlin e Kazimir Malevich, assim como da sinuosidade de Jean Arp e Constantin Brancusi. Este último é uma referência inegável para o artista, não só pela verticalidade pronunciada das estruturas de Lescher, mas também pela polidez especular da superfície que ao refletir e distorcer o espaço, colocam o espectador, ou sua imagem, dentro da obra.
Se por um lado Brancusi inovou ao desintegrar a separação entre objeto escultórico e espaço expositivo, tanto ao abolir quanto ao integrar o pedestal na escultura, Lescher se vale de uma estratégia similarmente radical, deixando suas estruturas suspensas no espaço. Nos últimos anos, Lescher tem se voltado para uma pesquisa plástica em que um dos principais elementos que constitui suas peças é a gravidade. Os percursos dessa investigação têm sido revelados em exposições individuais em instituições de renome, como Porticus (2017) no Palais d’Iéna, em Paris, e Suspensão (2018), uma grande retrospectiva na Pina Estação, em São Paulo.
Na tradição escultórica a gravidade é o fenômeno físico responsável por originar a dicotomia entre leveza e peso. É na tensão e no equilíbrio entre esses elementos que Lescher cria suas estruturas a partir da manipulação da matéria e de sua disposição no espaço, conduzindo a percepção do público. A quase totalidade dos trabalhos apresentados nesta exposição aparecem suspensas na galeria. Essa solução formal acentua a ação da gravidade, força que rege a hierarquização da atração entre os corpos, e logo nos remete à corporeidade tanto do objeto escultórico como do observador a partir da ocupação espacial.
Rio Léthê #13, de 2020, pode ser considerada como um ponto de inflexão na mostra, não só por ser o único trabalho de parede, mas pela sua materialidade e forma. Sua fluidez ondulante é resultado de um processo investigativo que vem se desenvolvendo a mais de quinze anos na prática de Artur Lescher. A partir de materiais como feltro ou aço, o artista cria formas sinuosas que integram a série Rios. Na mitologia grega Léthê é o curso de água que conduz ao Hades e ao esquecimento. Aqui, ele parece expressar o movimento de contínua reelaboração da lembrança, a memória dos próprios processos e formas que constituem o cerne da prática de Lescher e que ao serem revisitados retornam não como repetição, mas com a potência da diferença.
Inverso do Infinito, individual de Artur Lescher, ficará em cartaz na Galeria Nara Roesler, Rio de Janeiro, de 13 de outubro até 23 de outubro de 2020. A visitação será feita a partir de agendamento prévio.
Galeria Nara Roesler | Rio de Janeiro is proud to present Inverso do infinito [The Inverse of the Infinite], a solo presentation by Artur Lescher. The exhibition features ten recent works produced between 2018 and 2020 by the artist. The works synthesize and unfold many of the elements that constitute Lescher’s original sculptural practice.
Artur Lescher is inscribed as one of the main exponents of contemporary Brazilian sculpture, precisely because of his ability to articulate principles of the genre from a current and in-depth perspective. His production renews the heritage of the Russian avant-garde’s formal geometric rigor in the likes of Vladimir Tatlin and Kazimir Malevich, as well as the sinuosity of Jean Arp and Constantin Brancusi. The latter is an undeniable reference for the artist, not only for the pronounced verticality of Lescher’s structures, but also for the specular politeness of the surface that, when reflecting and distorting the space, places the audience, or their image, within the work.
On the one hand, Brancusi innovated by disintegrating the separation between sculptural object and exhibition space, both by abolishing and by integrating the pedestal into the sculpture—Lescher uses a similarly radical strategy, leaving his structures suspended in space. In recent years, Lescher has turned to a visual research in which one of the main elements that make up his pieces is gravity. The paths of this investigation have been revealed in individual exhibitions at renowned institutions, such as Porticus (2017) at the Palais d’Iéna, in Paris, and Suspensão [Suspension] (2018), a major retrospective at Pina Estação, in São Paulo.
In sculptural tradition, gravity is the physical phenomenon responsible for originating the dichotomy between lightness and weight. It is in the tension and balance between these elements that Lescher creates his structures, based on the manipulation of matter and its disposition in space, guiding the public’s perception. Almost all the works presented in this exhibition are suspended in the gallery. This formal solution accentuates the action of gravity, a force that governs the hierarchy of attraction between bodies, and promptly points us to the corporeality of both the sculptural object and the observer in its spatial occupation.
Rio Léthê # 13 (2020) can be considered an inflection point in the show, not only because it is the only work placed on a wall, but also because of its materiality and shape. Its undulating fluidity is the result of an investigative process that Artur Lescher has been developing for over fifteen years. The artist creates sinuous shapes from materials such as felt or steel, that are part of the Rios series. In Greek mythology Léthê is the watercourse that leads to Hades and oblivion. Here, it seems to express the movement of continuous re-elaboration of memory, the memory of the very processes and forms that are at the heart of Lescher’s practice and which, when revisited, return not as repetition, but with the power of difference.
Inverso do infinito [The Inverse of the Infinite], a solo show by Artur Lescher, will be on display at Galeria Nara Roesler, Rio de Janeiro, from October 13 to December 23, 2020. The visitation will be made by prior appointment.
Exposição 7º Prêmio EDP nas Artes no Tomie Ohtake, São Paulo
Realizado pelo Instituto Tomie Ohtake e EDP, com o apoio do Instituto EDP, a sétima edição do Prêmio EDP nas Artes culmina nesta exposição dos 10 artistas selecionados: Arivanio Alves, Quixelô – CE; Davi de Jesus do Nascimento, Pirapora – MG; Uýra, Manaus – AM; Érica Storer de Araújo, Curitiba – PR; Felipe Rezende, Salvador – BA; Gu da Cei, Ceilândia – DF; Hariel Revignet, Goiânia – GO; Luana Vitra, Contagem – MG; Talles Lopes, Anápolis – GO e Yná Kabe Rodríguez, Brasília – DF.
No dia 16/10 serão conhecidos por vídeo nas redes do Instituto Tomie Ohtake os três premiados entre os dez selecionados do total de 456 inscritos, provenientes de 21 Estados brasileiros e do Distrito Federal. Foram pré-selecionados 20 nomes, mediante análise de portfólio, desempenhada por um júri composto pelos artistas Arthur Chaves, Dora Longo Bahia e Elilson (premiado na edição anterior) e pelos curadores Amanda Carneiro e Theo Monteiro. Após entrevistas individuais por vídeo-chamada, definiu-se a lista dos 10 selecionados. O grupo recebeu acompanhamento personalizado da equipe de jurados para o processo de realização das respectivas obras. Este acompanhamento, oportunidade rara para jovens artistas, implementa os critérios para a escolha dos três premiados, que ganham viagens internacionais.
Voltado para estimular a produção artística contemporânea, o Prêmio EDP nas Artes é dedicado a jovens artistas de todo o Brasil, nascidos ou residentes no país há pelo menos dois anos, com idade entre 18 e 29 anos. A iniciativa, além da premiação, contempla uma série de atividades ao longo do ano, como cursos, palestras, lives e workshops em regiões brasileiras onde o acesso à arte contemporânea é mais restrito.
Maxwell Alexandre na Fundação Iberê, Porto Alegre
Depois de passar pelo Museu de Arte Contemporânea de Lyon, exposição de Maxwell Alexandre sobre o cotidiano na Rocinha chega à Fundação Iberê
A Fundação Iberê abre no dia 17 de outubro a exposição “Pardo é Papel”, do jovem artista carioca Maxwell Alexandre. A mostra – promovida pelo Instituto Inclusartiz, de Frances Reynolds – foi inaugurada com sucesso em novembro de 2019, no MAR (Rio de Janeiro), onde alcançou o feito de receber mais de 60 mil visitantes. Aos 29 anos, Maxwell retrata em sua obra uma poética que passa pela construção de narrativas e cenas estruturadas a partir da vivência cotidiana pela cidade e na Rocinha, onde nasceu, trabalha e reside.
“Ao visitar a exposição de Maxwell Alexandre no MAR, tive a certeza da importância de “Pardo é Papel” em Porto Alegre pela visão social de sua obra e, também, pela oportunidade de abrir nossas portas à nova geração de artistas que se destacam internacionalmente”, destaca Emilio Kalil, diretor-superintendente da Fundação Iberê.
Com obras no acervo do MAR, Pinacoteca de São Paulo, MASP, MAM-RJ e Perez Museu, o artista carioca apresenta “Pardo é Papel” no Brasil após levar sua primeira exposição individual ao Museu de Arte Contemporânea de Lyon, na França. Resultado de uma residência na Delfina Foundation promovida pelo Instituto Inclusartiz, em Londres, a mostra tem patrocínio do Grupo PetraGold.
A sensibilidade da realidade social do Rio de Janeiro
O início de ‘Pardo é Papel’ remete a maio de 2017, quando o artista pintou alguns autorretratos em folhas de papel pardo perdidas no ateliê. Nesse processo, além da sedução estética potente, ele percebeu o ato político e conceitual que está articulando ao pintar corpos negros sobre papel pardo, uma vez que a “cor” parda foi usada durante muito tempo para velar a negritude.
“O desígnio pardo encontrado nas certidões de nascimento, em currículos e carteiras de identidades de negros do passado, foi necessário para o processo de redenção, em outras palavras, de clareamento da nossa raça. Porém, nos dias de hoje, com a internet, os debates e tomada de consciência e reivindicações das minorias, os negros passaram a exercer sua voz, a se entender e se orgulhar como negro, assumindo seu nariz, seu cabelo, e construindo sua autoestima por enaltecimento do que é, de si mesmo. Este fenômeno é tão forte e relevante, que o conceito de pardo hoje ganhou uma sonoridade pejorativa dentro dos coletivos negros. Dizer a um negro que ele é moreno ou pardo pode ser um grande problema, afinal, Pardo é Papel”, ressalta Maxwell.
“Tenho o enorme prazer e orgulho de apresentar este jovem talento. Maxwell é um líder natural, tem grande capacidade de atrair jovens de outras linguagens, conseguindo aglutinar as forças e todas as novas experiências dos jovens que são o futuro do Brasil. A belíssima obra de Maxwell marca uma sensibilidade da realidade social do Rio de Janeiro. A mostra teve um impacto importantíssimo na cidade, assim como em todo o país e também no mundo. Ela foi inaugurada durante um período crítico de crise econômica no Rio de Janeiro e da tentativa do fechamento do museu. O resultado foi a visitação de um público amplo e diverso, incluindo muitas pessoas que não tinham o hábito de frequentar museus”, analisa Frances Reynolds, presidente e fundadora do Instituto Inclusartiz, que busca trazer um diálogo entre todos os segmentos da sociedade e os artistas, especialmente os jovens, fomentando a sua carreira e os apoiando estrategicamente no âmbito internacional.
“Quando fomos convidados a apoiar o projeto não tinha ideia do quanto ia me encantar. Estamos muito felizes por participar deste momento”, celebra Eduardo Wanderley, presidente do Grupo Petra Gold.
Sobre o Instituto Inclusartiz
Criado no Rio de Janeiro, em 1997, por Frances Reynolds, o Instituto Inclusartiz – que até 2005 chamava-se Fundação Arte Viva – é uma iniciativa de fomento à arte, cultura e educação no Brasil e no mundo. Idealizada com o propósito de tornar a arte mais acessível a todos, a organização desenvolve exposições e projetos educacionais com o intuito de promover vínculos socioculturais e a troca de conhecimento.
Em 2000, após diversas iniciativas de sucesso em seu país de origem, o Instituto ampliou suas fronteiras para Buenos Aires e, dois anos depois, expandiu para Madri, com uma série de mostras, sempre acompanhadas de programas educativos. A partir de 2005, a sede brasileira do Instituto Inclusartiz acrescentou às suas atividades o programa internacional de residências artísticas, que recebe artistas, escritores, intelectuais e curadores internacionais, ao longo de temporadas no Rio de Janeiro, para a realização de estudos e pesquisas, além da produção de novos trabalhos.
outubro 11, 2020
Clube de Colecionadores do MAM Rio lança nova edição na ArtRio 2020
Coleção traz foto-performances de Ana Beatriz Almeida, Ayrson Heráclito, Paula Scamparini e Rafael Bqueer; Luiz Zerbini e Marcos Chaves mostram novos múltiplos de tiragem reduzida
No dia 14 de outubro de 2020, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) lançará a 7ª edição do Clube de Colecionadores em seu estande na ArtRio. O novo conjunto (R$ 12 mil) apresenta quatro foto-performances de Ana Beatriz Almeida, Ayrson Heráclito, Paula Scamparini e Rafael Bqueer, impressas em papel algodão. As quatro imagens capturam momentos em que os corpos dos artistas transformam a paisagem em espaço de performance.
Pela primeira vez, o museu lançará simultaneamente duas edições especiais, com tiragem de 30 exemplares cada: uma fotolitografia de Luiz Zerbini (R$ 12 mil), na qual o artista experimenta com a impressão direta de folhas, frutas, cascas e espinhos; e um ready-made de Marcos Chaves (R$ 7 mil), que explora o tema da polarização no Brasil atual.
Criado em 2004 pelo MAM Rio, o Clube de Colecionadores é uma oportunidade de aquisição de obras exclusivas de artistas visuais brasileiros, com tiragem limitada. A renda arrecadada a partir da venda dos conjuntos é integralmente revertida para os projetos de arte, cultura e educação do museu. “Há 16 anos, o Clube fomenta o colecionismo, difunde a arte contemporânea e incentiva a produção artística“, afirma Fabio Szwarcwald, diretor-geral do museu carioca.
Ana Beatriz Almeida explora como tema o sacrifício ritual e o corpo feminino negro no Brasil; Ayrson Heráclito faz um “exorcismo” na Casa da Torre dos Garcia d’Ávila, na Bahia, relacionada ao tráfico atlântico de escravos e à colonização. Paula Scamparini coloca sua imagem multiplicada na condição de carregadoras de bananas. Rafael Bqueer reinterpreta o abre-alas da escola de samba Beija-Flor de Nilópolis, de 1991, que teve o enredo crítico "Alice no Brasil das maravilhas", de Joãosinho Trinta.
Por ocasião da ArtRio, o MAM organizou duas edições especiais, com uma fotolitografia do paulista Luiz Zerbini e um ready-made de Marcos Chaves, que explora o tema da polarização no Brasil atual.
Sobre a obra Semente Vermelha, 2019, de Luiz Zerbini (R$ 12 mil)
Em 2016, Zerbini foi convidado a realizar um trabalho nas instalações do Instituto Inhotim. Em resposta ao convite, o artista levou uma prensa do Rio de Janeiro a Minas Gerais e passou uma semana produzindo impressões a partir de folhas, flores e sementes, que selecionava e recolhia dos jardins de Inhotim. Desde então, as séries de monotipias que Zerbini vem produzindo se tornaram peças relevantes dentro de sua produção.
Tecnicamente, os elementos e cores escolhidos para uma impressão são pressionados pelo cilindro metálico contra o papel de algodão. No entanto, as escolhas dos elementos e cores de uma monotipia se tornam marcas para as impressões seguintes. Por isso, o processo de produção de uma monotipia é tão revelador e surpreendente.
A gravura produzida para o Clube de Colecionadores do MAM Rio é o resultado de uma monotipia produzida por Luiz Zerbini em 2019, transformada em fotolitogravura e reproduzida artesanalmente pelo Estúdio Baren.
Sobre a obra Brasis, 2020, de Marcos Chaves (R$ 7 mil)
Duplas de objetos já haviam aparecido no trabalho de Marcos Chaves, na série Hommage aux Mariages (1989). Ele já havia também conectado vassouras (sem o cabo) em Irene ri (1994), que tem como título o palíndromo de Caetano Veloso, da música composta por saudade da irmã caçula durante sua prisão na ditadura militar.
Desta vez, pouco antes da pandemia da Covid-19, Chaves voltou a pesquisá-las. Na fábrica Vassouras Irajá, na zona norte do Rio de Janeiro, se deparou com a beleza das piaçavas e cerdas coloridas, e descobriu caixas com as vassouras da marca Brasil. Trouxe algumas para o ateliê, estudou a resistência do encaixe sem fixação e desenvolveu três maneiras de pendurar o objeto: horizontal na parede, vertical na parede ou pendurado pelo teto.
"Esse encaixe do trabalho é o que seria o encaixe das polaridades no Brasil do momento. Ele é colorido; a gente é cheio de vida; os Brasis são cheios de vida. Essas cores são a estrutura da peça. Dois pólos que existem porque se sustentam", diz o artista.
CLUBE DE COLECIONADORES MAM RIO #7
• Lançamento: 14 de outubro (quarta-feira), na ArtRio 2020
• Artistas convidados: Ana Beatriz Almeida, Ayrson Heráclito, Paula Scamparini e Rafael Bqueer
• Artistas convidados da edição especial: Luiz Zerbini e Marcos Chaves.
• Valores de adesão:
- Clube de Colecionadores #7: R$ 12 mil
- Edição especial Luiz Zerbini: R$ 12 mil
- Edição especial Marcos Chaves: R$ 7 mil
>> Só é possível comprar o conjunto completo: as obras não são vendidas separadamente.
EDIÇÃO 7
Tiragem: 100 + 6 PAs
Ana Beatriz Almeida, Ayrson Heráclito, Paula Scamparini e Rafael Bqueer
EDIÇÃO ESPECIAL
Tiragem: 30 + 4 PAs
Luiz Zerbini e Marcos Chaves
• Informações pelo tel: (21) 3883-5625 ou através do e-mail clube.colecionadores@mam.rio
www.mam.rio/amigos-e-parceiros/clube-de-colecionadores
ARTRIO 2020
• Data: 15 a 18 de outubro (quinta-feira a domingo)
• Preview – 14 de outubro (quarta-feira)
• Venda de ingressos: www.artrio.com
• Ingressos: R$ 100 / R$ 50
• Horários:
14 a 17 de outubro – das 13h às 21h
18 de outubro – das 12h às 20H
• Local: Marina da Glória - Av. Infante Dom Henrique, S/N – Glória
ARTISTAS E OBRAS
Ana Beatriz Almeida (Niterói, RJ, 1987)
Ana Beatriz Almeida é artista visual e historiadora da arte, e o seu trabalho tem foco nas manifestações africanas e da diáspora africana. Mestre em História e Estética da Arte pelo Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP), é também curadora e cofundadora da plataforma de arte 01.01. Curadora convidada no Glasgow International 2020/2021, fez residência curatorial em Gana, Togo, Benin e Nigéria, por meio da qual conseguiu se reconectar à parte de sua família que retornou ao Benin durante a escravidão. Trabalhou como pesquisadora na UNESCO.
Como artista, desenvolveu ritos em homenagem àqueles que não conseguiram sobreviver à jornada atlântica do comércio de escravos. Usou a técnica N'Gomku, que desenvolveu em cinco anos de pesquisa pela UNESCO sobre as tradições das comunidades baianas de Babá Egum e Irmandade da Boa Morte.
Apresentou performances no Centro Cultural São Paulo, Itaú Cultural, SESC Ipiranga e Casa de Cultura da Brasilândia, em São Paulo; e na Bienal do Recôncavo, Bahia. Lecionou curso de verão de sua técnica de performance na Goldsmiths University, em Londres, Inglaterra; participou da Residência Can Serrat, Barcelona, Espanha. Sua mais recente performance, Sobre o Sacrifício Ritual, é baseada na ritualística do sacrífício e o corpo feminino negro no Brasil. Foi uma dançarina butô durante 13 anos e dedicou os últimos 11 anos a pesquisar rituais fúnebres na região do Recôncavo Baiano e suas relações com as culturas da África ocidental. Atualmente vive em São Paulo.
Sobre a obra Onira, 2015
Onira é uma foto-performance da série de foto-rituais Kalunga, que busca materializar existências afrodescendentes que foram assassinadas pelo Estado ditatorial dos anos 1960/70. O título da obra, Onira, faz um trocadilho com o apelido Nira, forma carinhosa pela qual os familiares chamavam Helenira Resende. Única estudante negra da Faculdade de Letras, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP), envolvida na resistência de guerrilha e morta pelo governo militar no Araguaia nos anos 1970, quando estava à frente de um grupo de mulheres camponesas. Onira é uma divindade por si só em território Iorubá; no Brasil, ela é uma qualidade de Iansã, próxima de Oxum; simbolizada por uma borboleta, relaciona-se com a alma dos heróis mortos em campo de batalha.
Ayrson Heráclito (Macaúbas, Bahia, 1968)
Ayrson Heráclito é um Ogã Sojatin de um Humpame de Jeje Mahi no subúrbio de Salvador, professor da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), na cidade de Cachoeira, artista visual e curador. Doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e Mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Suas obras de instalações, performances, fotografias e audiovisuais lidam com elementos da cultura afro-brasileira e suas conexões entre a África e a sua diáspora na América. Participou da Trienal de Luanda em Angola, em 2010; Bienal de fotografia de Bamako, Mali, em 2015; e da 57ª Bienal de Veneza, Itália, em 2017.
Obras suas fazem parte dos acervos de instituições como Weltkulturen Museum em Frankfurt, Alemanha; Museu de Arte do Rio (MAR); Museu de Arte Moderna da Bahia; Videobrasil e Coleção Itaú, em São Paulo.
Heráclito foi um dos curadores-chefes da 3ª Bienal da Bahia; curador convidado do núcleo “Rotas e Transes: Áfricas, Jamaica e Bahia” no projeto Histórias Afro-Atlânticas, no Museu de Arte de São Paulo (MASP); e recebeu o prêmio de Residência Artística do Sesc_Videobrasil, na Raw Material Company, em Dacar, Senegal.
Sobre a obra Sacudimento da Casa da Torre, 2015
O Sacudimento da Casa da Torre é um “exorcismo” de um grande monumento arquitetônico ligado ao tráfico atlântico de escravos e à colonização. A fotografia é um still do filme da performance realizada na Bahia, como uma proposta de intervenção em um grande monumento arquitetônico associado ao antigo sistema colonial português, no caso da Casa da Torre dos Garcia d’Ávila.
"Quando pensei a performance, perguntava-me como poderia retomar criticamente o passado colonial e o escravismo para refletir sobre as condições históricas e sociais do presente na margem atlântica americana, ou seja, quais as consequências duradouras da colonização e do escravismo para a África e para o Brasil", disse o artista.
Paula Scamparini, Araras, SP, 1980
Vive e trabalha no Rio de Janeiro, RJ
Artista multimídia, Paula Scamparini é graduada em Artes Visuais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo, e obteve os títulos de Mestre e Doutora pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atuou como diretora de arte para teatro e audiovisual. Foi professora da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, da Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, e atualmente leciona na UFRJ.
Paula Scamparini desenvolve projetos em que investiga questões culturais e identitárias suas e do país. Em seu processo de trabalho artístico, adota paisagens culturais como elemento disparador de análises, encontros e inquietações. Investiga o universo da imagem a partir de explorações com a linguagem fotográfica, escultórica, instalativa e performática. Sua criação de espaços ficcionais possibilita um diálogo entre construções narrativas tanto imaginárias como factuais.
Realizou exposições individuais nas seguintes instituições: Sesc Carmo, em São Paulo; Centro Cultural Oi Futuro, Rio de Janeiro; Museu Nacional Soares dos Reis, Porto, Portugal; IBEU, Rio de Janeiro; GEDOK München, Munique, Alemanha; Casa de Cultura da América Latina, Brasília.
Participou de exposições coletivas no Museo de Arte Moderno Jesús Soto (Bienal del Sur), Ciudad Bolívar, Venezuela; Fundação Vera Chaves Barcellos, Viamão, Rio Grande do Sul; Projeto A MESA, Rio de Janeiro; Carpe Diem Arte e Pesquisa, Lisboa, Portugal; Rathaus Galerie München, Munique, Alemanha; Kunstlerhaus Wien, em Viena, Áustria; Fuorifestival, Pesaro, Itália; Bienal de Cerveira, Portugal; e Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Rio de Janeiro.
Realizou residências em: Quase Galeria e Museu Nacional Soares dos Reis, Oficinas do Convento, Carpe Diem Arte e Pesquisa e Bienal de Cerveira, em Portugal; GEDOK München, Munique, Alemanha; e LaCourDieu, La Roche-en-Brenil, Borgonha, França.
Obras suas fazem parte das coleções da Fundação Vera Chaves Barcellos, Rio Grande do Sul; Galeria IBEU e Biblioteca José de Alencar, Rio de Janeiro; Carpe Diem Arte e Pesquisa, Lisboa, e Bienal de Cerveira, Portugal; LaCourDieu, França.
Sobre a obra Carregadoras (P.S. 02)
A obra é uma foto-performance da série Carregadoras, cuja pesquisa segue em andamento. A artista explora o ato feminino de carregar de maneira performativa com registro em fotografia. A primeira referência da série são as carregadoras do período colonial brasileiro, mulheres africanas antes escravizadas que, segundo historiadores, alforriadas, passaram a comercializar frutas e outros alimentos em tabuleiros, exercendo importante e polêmico papel no comércio e na economia.
Rafael Bqueer (Belém, PA, 1992)
Vive e trabalha em São Paulo
As práticas performáticas de Rafael Bqueer partem de investigações sobre arte política, gênero, sexualidade, afrofuturismo, decolonialidade e interseccionalidade. Drag queen e ativista LGBTQI+, Bqueer tem um trabalho que dialoga também com vídeo e fotografia, utilizando de sátiras do universo pop para construir críticas atentas às questões da contemporaneidade. Já participou de exposições nacionais e internacionais, entre elas a coletiva “Against, Again: Art Under Attack in Brazil”, na Anya & Andrew Shiva Gallery, em Nova York (2020), e fez a individual “UóHol” no Museu de Arte do Rio (2020). Foi premiadx no 7º Prêmio Foco Art Rio (2019).
Graduou-se em Licenciatura e Bacharelado no curso de Artes Visuais pela Universidade Federal do Pará (UFPA).
Obras suas fazem parte das coleções do Museu de Arte do Rio (MAR) e do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio).
Sobre a obra Alice e o chá através do espelho, 2014
Alice e o chá através do espelho é uma série de ações realizadas desde 2014, onde Bqueer resgata a imagem da Alice personificada pelo ator Jorge Lafond no abre-alas da escola de samba Beija-flor de Nilópolis em 1991, no desfile "Alice no Brasil das maravilhas".
Rafael Bqueer busca a narrativa crítica do carnavalesco Joãosinho Trinta, 23 anos depois, para refletir sobre as zonas de exclusão social e racial da cidade do Rio de Janeiro. Da vivência com outras corpas negras e LGBTQ’s nos barracões das escolas de samba e das violências sofridas diariamente em uma cidade marcada pelas contradições e pela necropolítica.
O ato performático da montação como afronto às normatividades que reproduzem padrões coloniais hegemônicos. Reexistir em espaços públicos, com registros em vídeo e fotografia que criam uma cartografia sobre distopias. O lixo como metáfora e reflexo do contemporâneo, um imaginário repleto de subjetividades e estratégias políticas de sobrevivência.
Luiz Zerbini (São Paulo, SP, 1959)
Vive e trabalha no Rio de Janeiro
Iniciou sua atividade artística no final dos anos 1970. Expoente da chamada Geração 80, Luiz Zerbini é conhecido por fazer pinturas em grande escala de colorido exuberante, em geral figurativas e com incursões no abstracionismo geométrico. Complexas e às vezes quase teatrais, suas composições incluem a paisagem e as formas da natureza. Sua obra transita entre pintura, escultura, instalação, fotografia, produção de textos e vídeos.
Luiz Zerbini é também integrante do Grupo Chelpa Ferro, com o escultor Barrão e o editor de cinema Sérgio Mekler. O Chelpa Ferro está em atividade desde 1995 produzindo trabalhos com sons e imagens, entre eles objetos, instalações, performances, shows e CDs.
Entre as exposições realizadas por Zerbini destacam-se individuais na South London Gallery, Londres; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Paço Imperial, Museu da República, Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Oi Futuro e Casa Daros, no Rio de Janeiro; Inhotim, Brumadinho, MG; Centro Universitário Maria Antonia e Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo; e Museu de Arte Moderna da Bahia.
Entre as coletivas de que participou estão 19ª e 29ª edições da Bienal Internacional de São Paulo; Nous les Arbres, Fondation Cartier, Paris; Dreaming Awake, House for Contemporary Culture, Maastricht, Holanda; Troposphere: Chinese and Brazilian Contemporary Art, Beijing Minsheng Art Museum, China; 10a. Bienal do Mercosul, Porto Alegre; Artistas Comprometidos? Talvez, Fundação Calouste Gulbenkian, Portugal; Inventário da Paixão, Museu Histórico Nacional; Histórias Mestiças, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo; Como Vai Você, Geração 80?, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro.
Obras do artista estão na Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris; Inhotim, Brumadinho, MG; Instituto Itaú Cultural e Museu de Arte Moderna de São Paulo; e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Sobre a obra Semente Vermelha, 2019
Em 2016, Luiz Zerbini foi convidado a realizar um trabalho nas instalações do Instituto Inhotim. Em resposta ao convite, Zerbini levou uma prensa do Rio de Janeiro a Minas Gerais e passou uma semana produzindo impressões a partir de folhas, flores e sementes, que ele selecionava e recolhia dos jardins de Inhotim. Desde então, as séries de monotipias que Zerbini vem produzindo se tornaram peças relevantes dentro de sua produção.
Tecnicamente, os elementos e cores escolhidos para uma impressão são pressionados pelo cilindro metálico contra o papel de algodão. No entanto, as escolhas dos elementos e cores de uma monotipia se tornam marcas para as impressões seguintes. Por isso, o processo de produção de uma monotipia é tão revelador e surpreendente.
A gravura produzida para o Clube de Colecionadores do MAM Rio é o resultado de uma monotipia produzida por Luiz Zerbini em 2019, transformada em fotolitogravura e reproduzida artesanalmente pelo Estúdio Baren.
Marcos Chaves (Rio de Janeiro, RJ, 1961)
Vive e trabalha no Rio de Janeiro
Marcos Chaves se apropria de imagens e objetos cotidianos encontrados em suas constantes andanças pelo Rio de Janeiro, e com eles realiza combinações inesperadas ou promove deslocamentos de sentidos. Observador agudo da cidade, frequentemente injeta uma dose de paródia em seus trabalhos, que podem aparecem em forma de fotografias, vídeos, objetos ou instalações.
O artista é formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Santa Úrsula (RJ) e fez cursos de arte no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Fez exposições individuais no Paço Imperial, Museu de Arte do Rio (MAR), Fundação Eva Klabin no Rio de Janeiro, MAC Niterói, Paço das Artes em São Paulo, Museu da Imagem e do Som (MIS - SP) e Centro Cultural São Paulo, entre outras instituições e galerias de arte no Brasil, na Europa e nos EUA.
Participou da Manifesta 7, na Itália; 25ª Bienal Internacional de São Paulo; 1ª e 5ª Bienais do Mercosul, em Porto Alegre; 17ª Bienal de Cerveira, Portugal; 4ª Bienal de Havana, Cuba; e em outras coletivas em instituições como o Mori Art Museum, Tóquio; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Martin-Gropius-Bau, Neuer Berliner Kunstverein (NBK), Berlim, e Ludwig Museum, Colônia, Alemanha; Iziko South African National Art Gallery; Jim Thompson, Bangkok, Tailândia; Centro per l’Arte Contemporanea Luigi Pecci, Prato e Milão, Itália.
Obras suas fazem parte das coleções do MAM Rio; Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre; Itaú Cultural, São Paulo; The Ella Fontanals-Cisneros Collection, Miami; Centro de Arte de Caja de Burgos, Espanha; e Centro per l'Arte Contemporanea Luigi Pecci, Prato, Itália, entre outras.
Sobre a obra Brasis, 2020
Duplas de objetos já haviam aparecido no trabalho de Marcos Chaves, na série Hommage aux Mariages (1989). Ele já havia conectado também vassouras, só que sem o cabo, em Irene ri (1994), que tem como título o palíndromo de Caetano Veloso da música composta por saudade da irmã caçula durante a sua prisão na ditadura militar. Desta vez, pouco antes da pandemia do Covid-19, Chaves voltou a pesquisá-las. Na fábrica Vassouras Irajá, na zona norte do Rio de Janeiro, se deparou com a beleza da fábrica, com piaçavas, cerdas coloridas, e descobriu caixas com as vassouras da marca Brasil. Trouxe algumas para o ateliê, estudou a resistência do encaixe sem fixação e desenvolveu três maneiras de pendurar o objeto: horizontal na parede, vertical na parede ou pendurado pelo teto. "Esse encaixe do trabalho é o que seria o encaixe das polaridades no Brasil do momento. Ele é colorido; a gente é cheio de vida; os Brasis são cheios de vida. Essas cores são a estrutura da peça. Dois pólos que existem porque se sustentam", diz o artista.
outubro 10, 2020
Como habitar o presente? Ato 3 na Simone Cadinelli, Rio de Janeiro
Pela primeira vez, desde que começou a pandemia, a galeria irá abrir ao público. De julho a setembro foram realizadas exposições na vitrine voltada para a rua, replicadas no site, enquanto a galeria permanecia fechada. Agora, seguindo todos os protocolos no combate ao Covid-19, a galeria começa uma nova etapa, reunindo obras de 21 artistas que poderão ser vistas pessoalmente pelo público, na mostra que é o terceiro e último desdobramento da reflexão iniciada em julho: “Como habitar o presente?”
Simone Cadinelli Arte Contemporânea, irá inaugurar, a partir do próximo dia 13 de outubro, o terceiro e último “ato” da exposição “Como habitar o presente?”, realizada em sua vitrine e virtualmente, no site, em dois momentos anteriores, entre julho e setembro. Desta vez, o “Ato 3 – Antecipar o futuro” irá ocupar, com obras de 21 artistas, toda a galeria, que será, pela primeira vez aberta ao público desde o anúncio da pandemia. A curadora Érika Nascimento comenta que, “após sete meses em que a galeria esteve fechada, esta exposição marca ao mesmo tempo este momento de reabertura e a finalização desta reflexão tríplice temporal, com obras de 21 artistas em diferentes suportes e linguagens, como fotografia, vídeo, instalação, pintura e objetos”.
O público poderá ver ainda pessoalmente os 29 vídeos dos 27 artistas que fizeram parte do Ato 1 e do Ato 2, exibidos de julho a setembro na vitrine da galeria e em seu site. Os vídeos integrarão o Ato 3, que assim engloba os três momentos, somando, ao todo, 62 obras. A exposição também poderá ser vista no site da galeria, agora como um tour virtual 3D (viewing room).
A curadora Érika Nascimento explica que este terceiro ato “a princípio habitaria o lugar de uma expectativa para um presente-futuro, e agora reforça o momento em que desejamos: antecipar o futuro, estabelecer rupturas, utopias e compartilhar sonhos”.
Em “Como habitar o presente? Ato 3 – Antecipar o futuro”, o público verá os trabalhos dos artistas Agrade Camíz (Rio), Agrippina R. Manhattan (São Gonçalo, Estado do Rio), Caroline Valansi (Rio), Claudio Tobinaga (Rio), Denilson Baniwa (Mariuá, Amazonas), Efe Godoy (Sete Lagoas, Minas), Fernanda Sattamini (Rio), Fernando Brum (Rio), Franklin Cassaro (Rio), Gilson Plano (Goiânia), Isabela Sá Roriz (Rio), Jimson Vilela (Rio, vive em São Paulo), Leandra Espírito Santo (Rio, vive em São Paulo), Márcia Falcão (Cabo Frio, Estado do Rio), Pedro Carneiro (Rio), Rafael Adorján (Rio), Simone Cupello (Niterói, Rio de Janeiro), Stella Margarita (Treinta y Três Uruguai, radicada no Rio), Virgínia Di Lauro (Barra do Choça, Bahia, vive e trabalha em Porto Alegre), Vitória Cribb (Rio) e Yhuri Cruz (Rio).
CUIDADOS CONTRA O COVID
Para garantir o conforto e a segurança do público, a galeria vai seguir todos os protocolos no combate ao Covid-19:aferição de temperatura, tapetes sanitizantes, uso obrigatório de máscaras de proteção, álcool em gel, além de restrição ao número de visitantes, que será de no máximo três pessoas por visita.
DESTAQUES DA EXPOSIÇÃO
Logo na entrada da exposição estará um letreiro luminoso da artista Leandra Espírito Santo com a frase “Eu só existo na terceira pessoa”. O final do percurso igualmente é sinalizado por outra frase: “Antes de cairmos, nos tornaremos o sol”, de Agrippina R. Manhattan. A curadora salienta que essas obras “abrem passagem para o questionamento sobre o nosso lugar de existência a partir de um ‘outro’, e também sobre o limiar para um abismo de nossa própria existência”.
“Ato 3 – Antecipar o futuro” traz a pintura inédita de Claudio Tobinaga “Akatombo-type 93” (2020), avião de guerra japonês nomeado a partir de uma canção tradicional de ninar, que descreve o voo de uma libélula vermelha, comum naquele país. O artista trabalha sobre a memória da família, “em meio ao caos ocasionado por um mundo em guerra”.
Na instalação “Lanterninhas Red Light, Sempre um Bom Filme” (2016), Caroline Valansi reúne objetos de sua pesquisa sobre o universo de cinemas e filmes pornográficos, e discute a lanterna, que ao mesmo tempo “ajudava os espectadores a encontrarem seus lugares, direcionava seus fachos de luz também aos que se comportassem indevidamente”. “É um buraco de fechadura, por onde podemos assistir, no escurinho, todas as formas de prazer que nos são tolhidas aos olhos e à luz da rua”.
Fernando Brum investiga em suas pinturas “a dinâmica da paisagem”. Em “Alvorada” (2020), e nas duas “Sem título” (2020), da série “Matéria”, em óleo sobre linho, e “Neblina” (2018), acrílica sobre tela, o artista conta que, “ao invés de apresentar uma realidade factual, uma ilusão é fabricada para conjurar os reinos da nossa imaginação”.
No conjunto “Limite” (2020), de Gilson Plano, objetos de latão e couro estão dobrados e suspensos por uma pequena lança de ferro cravada na parede. “É uma possibilidade de pensar a ideia de limites que se cruzam”, explica. “O trabalho lida com a materialidade da pele cortada e cravejada pelo metal como reflexão de um corpo diante de seus limites”.
A problemática feminina vista através de experiências pessoais, tendo o Rio de Janeiro como cenário, “ora belo e poético, ora violento e assustador”, é um tema presente no trabalho de Márcia Falcão, que na pintura “Tô com medo de tiro” (2020), em óleo sobre tela, discute o fato de que “quando se ouve tiros, não é claro de onde vêm e nem o motivo dos disparos”. “Embora a personagem esteja protegida pela coluna e barreira de caquinhos, tão comuns nos subúrbios cariocas, sua mente já foi perfurada pela arma de fogo e os brinquedos se misturam a ratos em confronto”, conta.
VITRINE: ESPAÇO DE EXPERIMENTAÇÕES ARTÍSTICAS
“Durante a pandemia, a vitrine da galeria foi utilizada como recurso para levar arte às pessoas que passavam pela rua Aníbal de Mendonça, em Ipanema. Entendemos que ela é um espaço importante da galeria, e a partir dessa mostra será utilizada para experimentações dos artistas”, destaca Simone Cadinelli. Durante o “Ato 3”, a vitrine será ativada, em três momentos diferentes, pelos artistas Pedro Carneiro, Virgínia Di Lauro e Franklin Cassaro, com duração de um mês cada.
QUESTÕES RACIAIS, CONFLITOS, ILUSÃO
As relações humanas e raciais em conflito nos espaços urbanos estão presentes na pesquisa desenvolvida por Pedro Carneiro. A pintura “Laços Afetivos” (2019), tinta acrílica e jet dourado sobre tela, “ilustra o encontro de duas mulheres negras, sem mostrar seus rostos, cada uma olhando para lados opostos”. “Passado e futuro são ligados por um laço que cobre suas cabeças, ori. A ligação então nasce da ideia de um encontro afetivo entre elas”, diz.
O conjunto de duas fotografias – “Desdidática 1 e 5” (2018), impressão fine art sobre papel algodão Canson Edition Etching 310g – foi realizado por Rafael Adorján a partir “da descoberta de uma caixa repleta de antigos diapositivos”. “Resolvi intervir radicalmente no material, proveniente de um programa imagético-pedagógico adotado em salas de aula brasileiras no século passado”.
Simone Cupello investiga a “peculiaridade da matéria fotográfica ao mesmo tempo em que relaciona a produção de memória à temporalidade dos elementos naturais”. No objeto “Ásperos (fotos de palavras e outras)” (2019), casca de fotografias apropriadas, “sua forma e textura modular sugerem o ‘recorte’ de um corpo maior”. “As fotografias são vistas com crueza, película e papel. Enquanto imagens incompletas, se confundem e escapam ao menor movimento dos olhos”.
Na pintura “Entretanto” (2019), acrílica, óleo e carvão sobre tela, de Stella Margarita, “corpos, movimentos, figuras sem face definida, em ângulos, cortes e enquadramentos inusitados flutuam em espaço e tempo incertos como se desprovidos de chão e horizonte”, aponta a crítica Marisa Flórido.
No segundo andar da galeria estará o vídeo “@ilusão”, feito digitalmente e narrado por Vitória Cribb, que nos leva a “um looping de reflexão sobre os estados de êxtase, ânsia e solidão que nos acometem continuamente ao interagirmos com o outro e com o algoritmo”. As falas da artista pontuam expressões como “ciclicidade no consumo dos conteúdos digitais” e discutem uma “hierarquização sociovirtual”.
Érika Nascimento observa que “ao longo desses três ‘Atos’ (‘1 – É tudo nevoeiro codificado’, ‘2 – Estamos aqui’ e ‘3 – Antecipar o futuro’), reunimos 45 artistas nesta exposição-projeto”. “Nesta tríade, buscamos criar estratégias de vivenciar o presente”, afirma.
DESCRIÇÃO DAS OBRAS, PELOS ARTISTAS
Agrade Camíz
“Habitacional l” (2019) – Instalação; látex, acrílica, pastel seco e spray sobre tela (78x79cm), portão de ferro sobre madeira (72x97cm)
“Portão baixo onde me debruço, conveniente, retorno ao primeiro chão, portas fechadas para o acesso, entretanto crio minhas próprias entradas e reformo o próprio eu/casa. Existência e reexistência. A pintura, uma manifestação estimada no mundo da arte, é um simples tapete de entrada, mal nomeado no passado como capacho, chamo agora ‘Habitacional l’”.
Agrade Camíz cresceu no conjunto habitacional IAPC, localizado às margens da favela do Jacaré na zona norte carioca. Produz intervenções na rua há nove anos, pintando murais, grafitis, passando inicialmente pela pichação. Atualmente desenvolve sua pesquisa a partir da estética do subúrbio do Rio de Janeiro utilizando expressões, formas e signos da cultura local e da habitação popular, como a incorporação de grades (estruturas de proteção) em alguns trabalhos e a grafia da palavra em si.
Agrippina R. Manhattan
“Sem medo de cair quando a aposta é voar (homenagem a Lorenza)”, série “O jardim das Serpentes” (2019) – Instalação; painel de LED, dimensões variáveis; 70 x 20cm.
“Esta é uma das partes da instalação ‘O jardim das serpentes’ que desenvolvi. Cenário de uma festa passa batido e mata um desavisado. Se fosse uma cobra teria te mordido. Esse é bicha de árvore e se cria no escuro iluminando a noite. Ser que aprendeu a produzir a própria luz avisa que eventualmente o dia vem. O sol nasce assim como nascemos. Nesse meio ao pico voamos sabendo que vamos cair. Sabe e repete que mais uma vez de novo ela vira. Se chama Lorenza porque com Lorenza Bottner aprendi como pôr em palavras como é ser vista pelos olhos de outros”.
Artista, professora e travesti, Agrippina R. nasceu e foi criada em São Gonçalo, Rio de Janeiro, e tem o seu trabalho como parte de uma profunda preocupação sobre tudo aquilo que restringe a liberdade. Escolheu seu nome e inventou a si mesma, “como a escolha de um título para um trabalho ou encontrando a tradução do que senti em poesia”.
Caroline Valansi
“Lanterninhas Red Light, Sempre um Bom Filme” (2016) – Objeto; impressão a laser em papel 90 gramas, parafina, alumínio, luz de LED e controle remoto;
15 x 15 x 15 cm
“É uma instalação composta por uma série de objetos inspirados nas lanterninhas das antigas salas de cinema. Um espectador caminhante, um voyer desses espaços que, na penumbra, convidam ao amor e ao sexo. Apontando sua lanterna para os caminhos escuros esse vaga-lume ajudava os espectadores a encontrarem seus lugares, mas seus fachos de luz também eram direcionados aos que se comportassem indevidamente. ‘Lanterninha red light’ é um buraco de fechadura, por onde podemos assistir, no escurinho, todas as formas de prazer que nos são tolhidas aos olhos e à luz da rua”.
Caroline Valansi é artista visual, professora e trabalha com saúde mental. Sua produção artística transita entre a palavra, o espaço e a ficção. Suas obras sempre foram enraizadas em seu forte interesse em traços coletivos e histórias íntimas. Caroline utiliza materiais familiares em sua pesquisa: fotos de salas de cinemas, velhos filmes pornográficos, imagens encontradas da internet e suas próprias fotografias, colagens e desenhos e, juntos, somam uma ampla exploração de representações da sexualidade feminina contemporânea.
Claudio Tobinaga
“Akatombo-type 93” (2020)– Pintura; óleo e acrílica sobre tela; 190 x140 cm
“Akatombo, libélula vermelha, é uma canção de dormir infantil japonesa, composta por Kosaku Yamada, em 1927, com letra de um poema escrito por RofūMiki em 1921. É uma descrição nostálgica do voo da libélula vermelha japonesa. Este mesmo nome, acrescido de ‘type 93’, foi dado para um avião de guerra japonês.”
Formado na Escola de Música (UFRJ), frequentou diversos cursos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Suas pinturas apresentam corpos e símbolos da cultura de local e de massa em diferentes contextos, fragmentados e justapostos. Suas principais referências permeiam as influências dos fluxos migratórios ocorridos entre o Japão e o Brasil. Como neto de imigrantes japoneses, suas produções dialogam com imagens de seriados japoneses de Tokusatsu, composições da publicidade e revistas japonesas e de imigrantes. Nesse sentido, suas pinturas, nos apresentam uma identidade fragmentada, uma colagem de referências: um glitch cultural.
Denilson Baniwa
“O Agro Mata” (2018)–Pintura; acrílica sobre tela; 200 x 160 cm
“A monocultura do agronegócio é situada junto a outros frutos do colonialismo, que também tentam exterminar a diversidade para afirmar uma só espécie, um só Deus, uma só língua. O deserto verde de um campo de soja aparece como uma ‘terra envenenada com odor de morte’. Só mesmo um golpe publicitário conseguiria fazer o agronegócio (latifúndio modernizado, o que há de mais velho no Brasil) se passar por pop.
Denilson Baniwa, 36 anos, nasceu em Mariuá, no Rio Negro, Amazonas. Sua trajetória como artista se inicia a partir das referências culturais de seu povo já na infância. Na juventude, o artista começa sua luta pelos direitos dos povos indígenas e transita pelo universo não-indígena apreendendo referenciais que fortaleceriam o palco dessa resistência. É um artista “antropófago” pois se apropria de linguagens ocidentais para descolonizá-las em sua obra. Em sua trajetória contemporânea, ele se consolida como referência, rompendo paradigmas e abrindo caminhos ao protagonismo dos indígenas no território nacional.
Efe Godoy – Vídeo. “Ser flor, ser híbrida” (2020)
Cenas coletadas dentro de casa/ateliê e de rede social
“Ser Flor, ser amor, emanar presença híbrida através de múltiplas plataformas. Efe vem colocando sua imagem em jogo dentro de vários apps/plataformas, redes sociais, de maneira a se comunicar com o mundo e ir descobrindo mais sobre sua própria história em curso. Efe está em transição. Criar tem a ver com viver, conviver, conviver, conviver.”
Aos sete anos de idade Efe Godoy recebeu uma leitura de mãos que lhe abriu os olhos para perceber que teria uma trajetória artística em curso (nada é por acaso). Desde então soube que iria desenhar seu caminho fora de sua natural cidade de Sete Lagoas, Minas. Hoje ele vive e trabalha em Belo Horizonte. Passeou pela Escola Guignard UEMG e continua sua formação através de vivências em residências no Brasil e exterior. De uma maneira simples tenta interferir na vida das pessoas com a reverberação da palavra afeto.
Fernanda Sattamini – Conjunto de três instalações. “Sem título (2020)”; 1 e 2:algodão cru, linha e madeira, dimensões variáveis; 3: algodão cru, linha, massa corrida e tinta, 23 x 23cm.
“O conjunto de obras em costura e tecido se faz através de um gesto construído com o rigor das costuras, ação pulsante que resulta de um fazer manual. A atitude sobre a matéria fica mais forte do que a corporeidade em si, onde microdobraduras que resultam desse fazer, pelo amassamento causado pelo ato de costurar, criam uma presença forte como desenho, como superfície corpórea.O trabalho é límpido. A tela crua do algodão colabora, a rugosidade é ativa e resulta em uma presença afirmativa. As amarrações e repuxamentos criam um planejamento presente de uma maneira forte, escultórica, questionando a fisicalidade da matéria”.
A pesquisa da artista aborda questões acerca da memória e solidão.Tomando como ponto de partida imagens apropriadas e suas próprias fotografias e anotações, a artista explora em sua produção processos experimentais e alternativos, transitando entre fotografia, gravura e objetos. Fernanda Sattamini é graduada em Publicidade e Marketing pela PUC-Rio, e completou seus estudos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Ateliê da Imagem e Escola sem Sítio, no Rio de Janeiro.
Fernando Brum – Pinturas – “Alvorada” (2020) e “Sem título” (2020), da série “Matéria”,óleo sobre linho, 43 x 53 cm; “Sem título” (2020), série “Matéria”, óleo sobre linho, 40 x 50cm; “Neblina” (2018), acrílica sobre tela, 40 x 50 cm
Suas pinturas estabelecem um elo entre a realidade da cena e aquela imaginada por seu espectador. Os trabalhos se concentram em questões concretas que determinam nossa existência. A pesquisa feita no campo pictórico está relacionada com sua observação do cotidiano. Ele investiga a dinâmica da paisagem, ao explorar este conceito de maneira fragmentada. Ao invés de apresentar uma realidade factual, uma ilusão é fabricada para conjurar os reinos da nossa imaginação. Toma a vida cotidiana como assunto enquanto comenta a percepção da estranheza dos elementos retratados.
Fez cursos de pintura na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, e participou de exposições individuais, coletivas e feiras, no Brasil e no exterior. Em 2015 e 2016 participou da Art Lima no Peru com a Galeria TAC. Expôs trabalho também na feira de arte contemporânea em Boca Ratón em Miami, EUA. Em 2017 fez uma exposição no Rio com curadoria de Isabel Sanson Portella, no espaço Hostel Contemporâneo, mesmo ano em de sua individual na Galeria TAC em Lima, Peru.Em 2019 fez uma residência artística em Berlim, seguida de individual na Galeria coGalleries, no Mitte, centro de Berlim. Nesse mesmo ano fez uma outra exposição individual na Galeria Z42 no Rio de Janeiro, com curadoria de Fernando Cocchiarale.
Franklin Cassaro– Instalação na vitrine
Franklin Cassaro cria objetos que se modificam e estão em constante evolução. Ele investiga diferentes possibilidades de autossustentação da escultura sem quaisquer outros recursos que não os de sua materialidade. Elementos como o ar e o vento são fundamentais em muitos de seus trabalhos. Sua obra possui influências de Lygia Clark. Sua trajetória, iniciada na década de 1980, abrange diversas exposições individuais e coletivas.
Gilson Plano – Conjunto de três objetos, em ferro, latão e couro – Peça I: “Limite” (2020), 40x25cm; Peça II:“Limite” (2020), 34x40cm; Peça III: 52x30cm.
Os objetos são dobrados e suspensos por uma pequena lança de ferro cravada na parede. Uma possibilidade de pensar a ideia de limites que se cruzam, o trabalho lida com a materialidade da pele cortada e cravejada pelo metal como reflexão de um corpo diante de seus limites.
Artista visual e educador, nasceu em Goiânia, é mestrando em processos artísticos contemporâneos pelo PPGARTES/UERJ (2019-2021). Desenvolve trabalhos e pesquisa a partir da intersecção entre performance, fotografia, vídeo, objeto e escultura, investigando o imaginário sobre o meu corpo preto e sua historicidade, acompanhadas da ideia de peso, processos de encantamento e ficção histórica.
Isabela Sá Roriz– Objeto –“Flácida” (2018), elastômero e vidro, 100cm x 80cm x 7cm.
Pensando o corpo enquanto membrana e fluxo, e a borda entre corpo e espaço como uma película o tempo todo permeável, que os mantêm em constante troca, podemos cogitar que portamos o espaço no corpo, na carne. E assim, se habitamos geometrias e vivemos boa parte de nossas vidas nela, trazemos a geometria na carne. Então, busco neste trabalho uma estranha dessemelhança, uma conjunção de heterogêneos, uma geometria mole, uma rigidez flácida, uma fragilidade ameaçadora.
Isabela Sá Roriz é artista visual, mestre em Linguagens Visuais pela UFRJ. Seus trabalhos trazem à tona toda a sutileza e a impermanência das relações que nos constituem, e que nos rodeiam. Trazem a “afirmação” de que nós e tudo o que nos co-habita é instável, e que estruturas são sistemas de equilíbrios frágeis e inconstantes. Pois, corpos e espaços são como processos produtores de conhecimento e, ao mesmo tempo, processos indetermináveis.
Jimson Vilela – Vídeo, em looping – “O último movimento (2010), um canal, sem som.
Neste vídeo estudo aspectos da ideia de metamorfose presentes na palavra saudade, tendo como anteparo a imagem capturada de uma libélula sob a parede de meu ateliê, e a imagem das ondas do mar, projetada textualmente. A escolha pelo looping, nesse caso, reitera a uma espiral abismática espelhada pela imagem, também projetada textualmente, das pequenas conchas.
Doutor em Poéticas Visuais (ECA/USP, 2020), Jimson Vilela atua como artista visual desde 2008 e tem a palavra, a linguagem e a gramática como parte da sua poética artística, assim como seus suportes: o livro e o papel. Possui trabalhos em coleções públicas como MAC Niterói, MAMRJ, MARRJ e Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Leandra Espírito Santo – Painel de LED – “Terceira Pessoa” (2019) – Letreiro com a frase "Só existo em terceira pessoa" em movimento
A instalação incorpora os locais de passagem em sua configuração. Dispositivo de publicidade e promoção que, usado fora de seu contexto de venda e informação, acaba por tensionar as relações entre espaço privado, espaço público e espaço publicitário, retomando os espaços de redes sociais que têm características similares.
Leandra Espírito Santo é doutora em Artes Visuais pela Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA/USP, SP). Nascida no interior do Rio de Janeiro, atualmente, vive e trabalha em São Paulo. Começou sua produção artística em 2010 e desenvolve trabalhos híbridos a partir de meios como performance, vídeo, fotografia e linguagens tridimensionais.
Márcia Falcão – Pintura – “Tô com medo de tiro” (2020), óleo sobre tela|26x60cm
Um dos temas recorrentes em seus trabalhos tem sido a problemática feminina vista através de experiências pessoais, tendo o Rio de Janeiro como cenário, ora belo e poético, ora violento e assustador. O título revela o que a personagem em primeiro plano está vivenciando. Quando se ouve tiros, não é claro de onde vêm e nem o motivo dos disparos. Partindo de elementos alegóricos para a proteção, e a imaginação do que estaria acontecendo para haver tal som violento, é reforçada a ideia de que, embora a personagem esteja protegida pela coluna e barreira de caquinhos, tão comuns nos subúrbios cariocas, sua mente já foi perfurada pela arma de fogo e os brinquedos se misturam a ratos em confronto.
Passeando pelo grotesco, a artista assume a linguagem figurativa como meio para transmitir críticas à contemporaneidade. Para além disto, Márcia se apropria de imagens iconográficas da história da arte, buscando romper com as figurações canônicas,trazendo-as à contemporaneidade, de forma com que, na maioria das vezes, esses ícones se adequem às identidades gráficas e alegorias do subúrbio. Márcia Falcão é graduada em Pintura em 2010 pela UFRJ.
Pedro Carneiro– Pintura – “Laços Afetivos” (2019), tinta acrílica e jet dourado sobre tela, 165 x 190 cm
Em “Laços Afetivos” eu ilustro o encontro de duas mulheres negras, sem mostrar seus rostos, cada uma olhando para lados opostos. Passado e futuro são ligados por um laço que cobre suas cabeças, ori. A ligação então nasce da ideia de um encontro afetivo entre elas. Lembro de ter visto a imagem de duas mulheres cobertas e ligadas por um véu. Tinha visto em alguma rede social, e a composição não saía da minha cabeça. Desenhei a imagem repetidas vezes em cadernos e folhas soltas de papel. A imagem foi crescendo como um ápice musical, o desenho tomava a tela. Meu corpo se tornou presente, como modelo invisível da pose das mãos e de como os joelhos deveriam se comportar, remixando a figura guardada na minha memória.
As relações humanas e raciais em conflito nos espaços urbanos estão presentes na pesquisa desenvolvida pelo artista. É através de pinturas, intervenções territoriais e espaciais, desenhos e light design que seus trabalhos constroem uma imagem em reflexo a histórias reais/irreais, tendo como ponto de partida o reencontro com sua ancestralidade, buscando o seu entendimento como indivíduo negro na sociedade atual. Revela-se a dicotomia, muitas vezes invisibilizada pelo silêncio que é imposto à população negra, fazendo-os esquecer de suas alegrias e do seu axé. Os trabalhos surgem da ruptura e do confrontamento do artista com os impactos visuais e sonoros. É através de signos da cultura pop mescladas com imagens da herança diaspórica afro-latina que Pedro Carneiro compõe sua obra.
Rafael Adorján – Conjunto de duas fotografias – “Desdidática 1 e 5” (2018), impressão fine art sobre papel algodão CansonEditionEtching 310g, 75 x 50 cm
"Desdidática" foi realizada a partir da descoberta de uma caixa repleta de antigos diapositivos. Resolvi intervir radicalmente no material, proveniente de um programa imagético-pedagógico adotado em salas de aula brasileiras no século passado. Com o objetivo de criar novas narrativas, reconfiguro essa memória não vivenciada, que subverte as lições que os diapositivos originalmente preconizavam.
Artista, fotógrafo e professor da rede pública municipal de ensino da cidade do Rio de Janeiro. Em atividade desde 2006, seu campo de pesquisa artística é voltado para experimentações no terreno da imagem, com ênfase na criação de publicações como foto livros e livros-objetos, e uma práxis poética baseadas em elementos do cotidiano e da cultura de massa. Proposições são desenvolvidas como desdobramentos de sua linguagem, em narrativas criadas a partir de jornadas que abrangem períodos de imersão em lugares específicos, mas também de possibilidades para além do campo da fotografia. Seus trabalhos integram importantes coleções institucionais tais como MAM Rio, MAR e IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional).
Simone Cupello – Objeto – “Ásperos (fotos de palavras e outras)” (2019), casca de fotografias apropriadas, 40 x 107 x 20 cm
No trabalho, fotografias são vistas com crueza, película e papel, enquanto imagens incompletas se confundem e escapam ao menor movimento dos olhos. Sua forma e textura modular sugerem o “recorte” de um corpo maior. Como outras obras da artista, esta investiga a peculiaridade da matéria fotográfica ao mesmo tempo que relaciona a produção de memória à temporalidade dos elementos naturais.
Simone Cupello vive e trabalha no Rio de Janeiro. Pesquisa imagens em campo ampliado. O uso pouco convencional de fotografias apropriadas aponta para onde seu trabalho se desenvolve: a materialidade da imagem e, junto a ela, a questões antagônicas, inerentes ao histórico das fotos, como tecnologia e afetos, presença e virtualidade, exibição e privacidade, memória e esquecimento. Suas obras são instalações/esculturas que ao serem esculpidas assumem formas orgânicas semelhantes às da natureza que, ao mesmo tempo que remetem ao que é palpável e físico, trazem à tona o alegórico, a forma forjada da paisagem.
Stella Margarita – Pintura – “Entretanto” (2019), acrílica, óleo e carvão sobre tela, 145x 145 cm
“Corpos, movimentos, figuras sem face definida, em ângulos, cortes e enquadramentos inusitados flutuam em espaço e tempo incertos como se desprovidos de chão e horizonte, como suspensos em perplexidade e indagações...” (Marisa Flórido)
Entrou em contato com a pintura em 2006 na cidade de Caracas, Venezuela. De 2010 a 2016 passou frequentar a Escola de Artes Visuais Parque Lage no Rio de Janeiro, participando de diversos cursos de pintura, desenho e teorias da arte. Suas pinturas de corpos anônimos próximos da escala real são marcadas pelas sutilezas e tensões das relações humanas.
Virgínia di Lauro – Instalação na vitrine
Barra da Choça, BA, 1989. Vive e trabalha em Porto Alegre, RS
Desde 2011 reside em Porto Alegre, onde cursa o bacharel em Artes Visuais, pela UFRGS, tendo transitado pelo curso de Design de Moda e História da Arte. A partir do corpo, incluindo o próprio, a poesia, a memória, os sonhos, processos internos, desenvolve suas produções nos mais diversos suportes como vídeos, fotografias, gifs e pinturas.
Em 2018 realizou a exposição individual “Tramas no Vazio” no Instituto Estadual de Artes Visuais. Em 2019 participou da exposição coletiva, Artistas Mulheres Tensões e Reminiscências, na Pinacoteca Rubem Berta, Porto Alegre, RS, com curadoria das Mulheres no Acervo. Em 2020 participou da residência artística “Caminhos para uma Imagem”, no Rio de Janeiro, com o artista Frederico Arêde, e frequentou o curso Creativity Master Class com Charles Watson na Escola de Artes Visuais (EAV), Parque Lage
Vitória Cribb – Vídeo – “@ilusão” (2020), animação CGI 3D, áudio, 080 x 1920 full HD
Na obra @ ilusão a repetição imagética guia a reflexão sobre os estados de êxtase, ânsia, estresse, cansaço e solidão que nos acometem continuamente ao interagirmos com o outro e com o algoritmo, aquele que determina nossa posição hierárquica no meio digital através das curvas de engajamento. Face a acontecimentos durante a primeira semana de junho de 2020, a artista encara dois extremos da repetição em nossa sociedade. Traçando um paralelo entre a repetição da violência, em uma sociedade moldada pelo racismo, e a sua investigação sobre os loopingsde conteúdo ao qual somos expostos diariamente em meio à precoce sociabilização virtual e o racismo algorítmico.
Nascida em 1996, filha de pai haitiano e mãe brasileira, criada no bairro de Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro, Vitória Cribbé estudante na ESDI/UERJ, designer de novas mídias e artista interdisciplinar que explora a convergência entre a imaterialidade das novas mídias com as mídias físicas e táteis. A artista busca trazer a multidisciplinaridade em suas séries artísticas investigando o comportamento das novas tecnologias visuais e seus desdobramentos.
Yhuri Cruz– Objeto – “Cripta n°4 – Trair a linguagem, emancipar movimentos (2018-2020), granito com gravação a jato de areia e pintura, 80 x 15 cm
A série de criptas imaginadas por Yhuri Cruz são posicionadas no chão, sempre diante de portais, corredores, passagens. As frases gravadas no granito são mensagens da terra, do tempo, do que há abaixo do chão e buscam anunciar novos ambientes. Nesta obra, “nº4”, a frase é uma elaboração do próprio artista como uma das definições de “Pretofagia”, ensaio dramático e cosmopolítica artística que guia a pesquisa de Cruz.
Yhuri Cruz é artista visual e escritor, nascido em Olaria, subúrbio do Rio de Janeiro, oriundo de família de matriz africana. Graduado em Ciência Política (UniRio) e pós-graduado em jornalismo cultural (UERJ), seu trabalho consiste em promover a intersecção entre sua herança ética e estética familiar, a crítica decolonial e esferas privilegiadas e transgressoras do campo artístico. Desenvolve sua prática a partir de criações textuais e visuais envolvendo inovações narrativas entrelaçadas com sua cosmogonia familiar (relacionada a Umbanda), proposições instalativas e performativas – que o artista chama de cenas.
Artur Barrio e Galeria Millan na Frieze Masters 2020
Para a Frieze Masters 2020, a Galeria Millan apresenta uma seleção de obras de Artur Barrio. Nascido em Portugal e radicado no Rio de Janeiro, o artista pertence a uma geração que atinge sua maturidade na contracultura do final dos anos 60, momento em que o pensamento crítico atingia seu caráter mais rebelde. Desde então, esta característica tem se mostrado notável em seu trabalho como prática política, juntamente com uma forte preocupação em evidenciar fragmentos de ações que deixamos para trás. Inspirada por Dada, Situationistas, Actionistas Vienenses e o grupo japonês Gutai, a geração Barrio conclamou a chamada Arte Concetual e seus derivados em vídeo, performance e instalação, cujas reminiscências ainda permeiam práticas posteriores.
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Pode-se dizer que os trabalhos de Barrio têm como objetivo o questionamento sobre aquilo que resta nos fins dos acontecimentos. Isto é o que pode ser visto quando nos deparamos com o uso extensivo de materiais simbolicamente desdenhados, baratos e degradáveis, em oposição aos caros com pretensões de permanência – usualmente valorizados. Nesse sentido, sua produção incita uma atividade sensorial através de uma conexão de atos, ideias e comportamentos, associados à criação de experiências efêmeras capazes de perturbar os aspectos e dinâmicas do cotidiano, como na série Situações, executada em espaços públicos. Selecionamos obras representativas da produção do artista, como A partida de tênis (1982), CadernosLivros (1973-2008), 6 movimentos (1974), Puídas...Esgarçadas...Rotas...(os)... (1981) e o Manifesto LAMA/CARNE/ESGOTO (1970).
Uma vez que não há possibilidade de registrar eventos que estabelecem seu próprio tempo e espaço, Barrio está sempre registrando e descrevendo suas experiências: ideias, eventos cotidianos, movimentos, que se desdobram ora juntos, ora de forma independente. Sua série de registros, na qual podemos observar as obras A partida de tênis, 6 movimentos, e Puídas... Esgarçadas... Rotas...(os)..., aparece como evidência de algo intangível, obras que preenchem o sentido oposto do que seria o paradigma do registro, reafirmando a natureza transitória do trabalho do Barrio.
Outro suporte para esses registros são as folhas de um caderno. CadernosLivros, trabalho icônico no qual o artista inclui todo o processo de elaboração de sua poética nômade, transita entre os espectros da documentação coletada e do trabalho de arte. Barrio refere-se a eles como "o trabalho embrião, quase em estado cru, a germinação de ideias para suas consequentes realizações".
Os Manifestos são obras nas quais o artista reitera a essência do objeto de arte como realidade e não como representação. Nestes escritos, Barrio defende o papel do artista e da obra de arte como o principal meio de desencadear a ruptura com o status quo. Indo além da crítica dos processos canônicos de produção das obras de arte e da interação entre espectador e obra, a força motriz do neoconcreto - movimento do qual o artista teve notável proximidade -, a obra Manifesto LAMA/CARNE/ESGOTO revela uma preocupação não apenas com o que restou da experiência, mas até mesmo com o que não é vivenciado, o que acontece longe de nossa consciência, como interpretado por Agnaldo Farias.
Nas palavras do artista:
“... O meu trabalho está ligado à situação subjetiva / objetiva - mente / corpo. Considero esta relação uma coisa só, pois é ela que vai deflagrar as situações psico-orgânicas do envolvimento do espectador, conduzindo-o a participar mais plenamente da proposta apresentada, seja nos seus aspectos tátil, olfativo, gustativo, visual e auditivo, seja nas implicações de prazer ou repulsão ... ”
For Frieze Masters 2020, Galeria Millan presents a selection of works by Artur Barrio. Born in Portugal and based in Rio de Janeiro, the artist belongs to a generation of that came of age in the counterculture of the late 1960’s, when critical thinking reached its most rebellious character. Since then, this feature has shown itself to be outstanding in his work, as political practice, along with a strong concern with the evidence of fragments we leave behind. Inspired by Dada, Situationists, Viennese Actionists and the Japanese group Gutai, the Barrio generation has conjured up the so called Conceptual Art and its derivatives in video, performance and installation, whose reminiscences are still among us.
One may say that Barrio’s works aimes to question briefly about the scraps that which remains in the ends. This is what can be seen when we come across their extensive use of symbolically disdained, cheap and degradable materials, as opposed to expensive ones with permanence pretensions. In that sense, Barrio’s production incites sensorial ability through a connection of acts, ideas and behaviors, associated with ephemeral experiences capable of disrupt the standard regards and dynamics of everyday life, as the Situações series executed in public spaces. We have selected representative works of the artist production, such as A partida de tênis (1982), CadernosLivros (1973-2008), 6 movimentos (1974), Puídas...Esgarçadas...Rotas...(os)... (1981) and the Manifesto LAMA/CARNE/ESGOTO (1970).
Once there is no possibility of recording events that establish their own time and space, Barrio is always recording his experiences, describing how everything happens in life: ideas, daily events, movements, they unravel themselves sometimes together, sometimes in an independent way. His Registros series, in which we can observe the Works A partida de tênis, 6 movimentos, e Puídas...Esgarçadas...Rotas...(os)..., appears as an evidence of something intangible, works that fulfill the opposite sense of what would be the paragon of the register, reaffirming the transitory nature of Barrio’s work.
The notebook happens to be another support for the artist’s recordings. CadernosLivros, iconic works in which the artist includes the entire process of elaborating his nomad poetics, transits between the spectra of the collected documentation and the artwork. Barrio refers to them as “the embryo’s work, almost in a raw state, the germination of ideas for their consequent achievements”.
The Manifestos are works in which the artist reiterates the essence of the art object as reality rather than representation. In these writings, Barrio champions the role of the artist and the artwork as the principal means of triggering the rupture with the status quo. Going beyond the critic of the canonic processes of artworks’ production and the interaction between spectator and work, the driving force of the neoconcrete - a movement to which he participated closely -, Manifesto LAMA/CARNE/ESGOTO reveals a concern not only with what remained from experience, but even with that which is not experienced, that which happens far from our awareness, as interpreted by Agnaldo Farias.
Artist's quotes:
"...My work is linked to subjetive/objective situation -:- mind/body, I consider this relation one thing only, as it it that will deflagrate the psycho-organic situations of the involvement of the spectator, leading him/her to participate more fully in the proposal presented, whether in its tactile, olfactory, gustative, visual and auditory aspects, or in implications of pleasure or repulsion…"
Dirnei Prates na Adelina Instituto, São Paulo
Projeto Perímetros 4 recebe a mostra Filme-fátuo de Dirnei Prates - Programa foca em artistas visuais fora do eixo de SP
O artista visual gaúcho Dirnei Prates apresenta a exposição Filme-fátuo, a partir de sábado, 10 de outubro de 2020, às 14h, no projeto Perímetro, organizado e curado por Mario Gioia (ler texto curatorial), na Adelina Instituto, em Perdizes, em São Paulo. A mostra é a primeira solo do artista na capital paulista.
As obras que formam o conjunto da mostra traçam, entre a aguda urgência e o exercício contemplativo, um percurso vigoroso, não linear e permeável ao risco. Transformações mínimas e cotidianas são um dos focos da sua produção, que dialogam com a História da Arte, como as pinturas do italiano Michelangelo Merisi "Caravaggio" [1571-1610] e as fotografias do carioca Alair Gomes [1921-1992], usando personagens comuns como modelos, obtidas de forma voyeurística em chats de relacionamento gay.
Na produção mais recente, os animais assumem um certo protagonismo, como no Museu de História Natural, usados como um pretexto para discutir as contradições, descasos e inaptidões cada vez mais presentes no cotidiano. As relações entre pintura, fotografia e cinema também estão presentes em boa parte dos seus trabalhos. A série Júpiter, Netuno e Plutão, apresentada na mostra, é inédita em São Paulo.
Programação paralela
A mostra também terá uma programação paralela, com oficinas e palestras, todas com inscrições gratuitas e que exploram de diversas maneiras características da produção artísticas de Dirnei Prates. A programação estará disponível no site do Adelina Instituto.
Sobre o projeto Perímetros
Com organização e curadoria de Mario Gioia, o projeto Perímetros visa aproximar artistas emergentes de produção consistentes fora da cidade de São Paulo ao circuito paulistano através de exposições individuais. A seleção de artistas busca variedade de linguagens, origens e abordagens, porém sempre dando prioridade ao ineditismo e verticalidade do que é exposto.
Sobre o artista
Dirnei Prates (Porto Alegre, 1965)
Vive e trabalha em Porto Alegre. Desde 2007, utiliza apropriações em seus trabalhos em vídeo e fotografia, procurando nestas imagens, absorvidas quase sempre do seu entorno imediato, alguns padrões que evidenciem suas contradições, suas possibilidades de subleituras e interpretações pessoais. Desde 2006, atua no coletivo Cine Água em parceria com o artista Nelton Pellenz.
Participa do MAC Encontra os Artistas, promovido pelo grupo de estudos em crítica e curadoria do Departamento de Artes Plásticas da USP, recebe indicação ao Prêmio PIPA, e é um dos dez artistas destaque da Bolsa Iberê Camargo 2012. Em 2017, publica olhos vermelhos através da Editora Moinho Edições Limitadas. Em 2018, realiza a residência artística Torus, em Caxias do Sul/RS. Entre as exposições coletivas, participou da 10ª Bienal do Mercosul-Mensagens de uma Nova América- Santander Cultural/RS, Caixa Preta - Fundação Iberê Camargo/RS, 32ª e 33º Salão Arte Pará, Museu do Estado do Pará/PA, entre outras. Representado pela galeria Gestual.
Sobre o curador
Mario Gioia (São Paulo, 1974)
Curador independente e crítico de arte, é graduado pela ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo).
Em 2016, a mostra Topofilias, com sua curadoria, no Margs (Museu de Arte do Rio Grande do Sul), em Porto Alegre, foi contemplada com o 10º Prêmio Açorianos, categoria desenho. De 2011 a 2016, coordenou o projeto Zip'Up, na Zipper Galeria, destinado à exibição de novos artistas e projetos inéditos. Na feira ArtLima 2017 (Peru), assinou a curadoria da seção especial CAP Brasil, intitulada Sul-Sur, e fez o texto crítico de Territórios forjados (Sketch Galería, 2016), em Bogotá (Colômbia). Em 2018, assinou a seção curatorial dedicada ao Brasil na feira Pinta (Miami, EUA) e a curadoria de Esquinas que me atravessam, de Rodrigo Sassi (CCBB-SP). Em 2019, iniciou o projeto Perímetros no Adelina Instituto, em SP, dedicado a artistas ainda sem mostras individuais na cidade, que contou com exposições de João Trevisan (DF), Lara Viana (BA) e Claudia Hamerski (RS).
É colaborador de periódicos de artes como Select e foi repórter e redator de artes visuais e arquitetura da Folha de S.Paulo de 2005 a 2009. Integrou o grupo de críticos do Paço das Artes desde 2011, instituição na qual fez o acompanhamento crítico de Luz Vermelha (2015), de Fabio Flaks, Black Market (2012), de Paulo Almeida, e A Riscar (2011), de Daniela Seixas. Foi crítico convidado de 2013 a 2015 do Programa de Exposições do CCSP (Centro Cultural São Paulo) e fez, na mesma instituição, parte do grupo de críticos do Programa de Fotografia 2012. Em 2015, no CCSP, fez a curadoria de Ter lugar para ser, coletiva com 12 artistas sobre as relações entre arquitetura e artes visuais.
Já fez a curadoria de mostras em cidades como Brasília (Decifrações, Espaço Ecco, 2014), Porto Alegre (Ao Sul, Paisagens, Bolsa de Arte, 2013), Salvador (Fragmentos de um discurso pictórico, Roberto Alban Galeria, 2017) e Rio de Janeiro (Arcádia, CGaleria, 2016), entre outras.
Sobre o Adelina Instituto
O Instituto existe desde 2017 e fica no bairro Perdizes, em São Paulo. Com ampla atuação no circuito de arte e educação contemporâneas, o projeto promove a difusão, produção e compartilhamento de conhecimento, por meio de encontros, debates, oficinas, publicações, além de cursos interdisciplinares, exposições de artistas contemporâneos e ações extramuros. O objetivo do projeto é firmar-se como um espaço para a concepção, formação e difusão da arte. Em suas muitas ações, a ideia é atingir os mais diversos perfis, favorecendo o intercâmbios entre artistas, curadores e amantes da arte. Desde a sua fundação, a Adelina pretende aproximar a arte e educação, como um apoio e de forma colaborativa na formação livre de públicos variados, entre os quais estão professores da rede de ensino público, estudantes, crianças, adolescentes e idosos.
outubro 8, 2020
Frieze Londres: Cinco galerias brasileiras participam da edição digital da feira
Evento acontece na plataforma ‘Frieze Viewing Room’ de 9 a 16 de outubro de 2020
A edição de Londres da feira internacional de arte contemporânea Frieze presencial deste ano foi cancelada por conta da pandemia da Covid-19, mas será incorporada à plataforma Frieze Viewing Room. O evento online começa nesta semana, de 09 a 16 de outubro, com inscrição gratuita, e através do site - frieze.com/viewingroom.
Mais uma vez o Projeto Latitude - Platform for Brazilian Art Galleries Abroad, parceria entre a Associação Brasileira de Arte Contemporânea – ABACT e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos – Apex-Brasil, trabalha com as galerias brasileiras apoiando sua participação em eventos de arte mundialmente conceituados. Entre as 250 galerias de arte que participam desta edição digital da Frieze estão cinco nacionais, que fazem parte do Projeto Latitude: A Gentil Carioca, Fortes D’Aloia & Gabriel, Galeria Nara Roesler, Vermelho e Mendes Wood DM.
A Gentil Carioca
Intitulado de ‘Encruzilhada Gentil’, o espaço expositivo da galeria vai enaltecer as encruzilhadas, como lugares em que acontecem ação e transformação e que encantam todos os povos, exemplificando inserção de obras na paisagem do cruzamento no Rio de Janeiro que interliga os dois prédios da galeria.
Fortes D’Aloia & Gabriel
A exposição ‘Pulse’ foi criada especialmente para o evento e investiga as múltiplas facetas do desejo e daquilo que, em última análise, nos move: a pulsão de vida. Efrain Almeida, Leda Catunda, Jac Leirner, Rivane Neuenschwander, Janaina Tschäpe e Yuli Yamagata estão entre os artistas brasileiros que produziram novas obras para a ocasião. A galeria traz ainda trabalhos de Alair Gomes, Sergej Jensen, Robert Mapplethorpe, Ernesto Neto, Adriana Varejão e Bárbara Wagner & Benjamin de Burca.
Galeria Nara Roesler
Apresentação solo da artista Brígida Baltar, que realiza trabalhos com ações performáticas, bordados, esculturas, arte com papel, por exemplo, que representam a investigação da artista sobre transitoriedade, intimidade, corpo e abrigo. A exposição começa com trabalhos no início de sua carreira, nos anos 90, quando ela começou a explorar objetos dentro de sua casa, para depois ir expandido lentamente para fora.
Galeria Vermelho
No espaço expositivo da galeria será exibido um filme com registros de Ivan Argote, que mostra uma praça imaginária que tem seu nome transformado conforme o que acontece no local. A ideia é abrir uma reflexão sobre como a sociedade utiliza os espaços públicos.
Mendes Wood DM
A galeria trará obras dos artistas Sonia Gomes, Sofia Borges, Adriano Costa, Paulo Nazareth, Neil Beloufa, Paloma Bosquê, VojtechKovarik, Iulia Nistor, Solange Pessoa e Matthew Lutz-Kinoy.
Sobre o Latitude - Platform for Brazilian Art Galleries Abroad
O Latitude é um programa desenvolvido por meio de uma parceria firmada entre a Associação Brasileira de Arte Contemporânea - ABACT e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos - Apex-Brasil, para promover a internacionalização do mercado brasileiro de arte contemporânea. Criado em 2007, conta hoje com 43 galerias de arte do mercado primário, localizadas em sete estados brasileiros e Distrito Federal, que representam mais de 1000 artistas contemporâneos. Seu objetivo é criar oportunidades de negócios de arte no exterior, fundamentalmente através de ações de capacitação, apoio à inserção internacional e promoção comercial e cultural.
O volume das exportações definitivas e temporárias das galerias do projeto Latitude vem crescendo significativamente. Em 2007, foram exportados US$ 6 milhões e, de acordo com a última Pesquisa Setorial Latitude publicada, em 2017 atingiu-se mais de US$ 65 milhões. As galerias Latitude foram responsáveis por 42% do volume total das exportações do setor no ano.
Desde abril de 2011, quando a ABACT assume o convênio com a Apex-Brasil, foram realizadas 48 ações em mais de 26 diferentes feiras internacionais, com aproximadamente 300 apoios concedidos a galerias Latitude. Neste mesmo período, foram trazidos ao Brasil aproximadamente 250 convidados internacionais, entre curadores, colecionadores e profissionais do mercado, em 23 edições de Art Immersion Trips. Além dessas ações, o Latitude realizou cinco edições de sua Pesquisa Setorial, com dados anuais sobre o mercado primário de arte contemporânea brasileira.
Material de imprensa realizado por Agência Guanabara - Fernanda Guarda
outubro 1, 2020
N. Date na Luisa Strina, São Paulo
Muito pouco se sabe sobre a vida de N. Date. Porém, um interesse recorrente na obra que deixou parece sugerir uma procura por diferentes concepções de realidade. Várias notas e esboços indicam que Date viajou pelo México seguindo o caminho de vários escritores estrangeiros, como Carlos Castaneda, Arthur Cravan e B. Traven. Segundo o curador da exposição Strange How Things Work Out, o artista mexicano Mario García Torres, “as viagens de Date pelo México parecem apontar para vilas menores e percursos pelo interior do país. Há uma única referência à Cidade do México em um documento, que acreditamos ser o antigo endereço de William Burroughs no México, que já havia partido há décadas quando Date poderia ter estado aqui. Por outro lado, vejo uma certa afinidade com ideias do movimento neoconcreto no que acreditamos serem os trabalhos mais antigos que temos de Date até agora. Existe uma certa intenção em frear a racionalidade e incorporar a geometria a uma compreensão mais complexa do mundo. Esta é a principal razão pela qual pensei que o Brasil poderia ser um lugar interessante para apresentar o trabalho de N. Date”.
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Esse grupo das obras mais antigas do artista consiste em pequenas pinturas geométricas de pastel a óleo sobre juta reminiscente de Joaquín Torres García e Mira Schendel. Um segundo conjunto de obras, possivelmente posterior à série geométrica, possui referências astronômicas. Acredita-se, por exemplo, que Elementi di Astronomia (data desconhecida) tenha sido feito anteriormente à viagem ao México, e possivelmente levado junto na travessia pelo México. O único dado certo é que esta obra pertence a uma série de peças —todas feitas em grafite, sobre uma espécie de gesso sintético sobre juta natural, retratando esboços pseudocientíficos de astronomia. Estranhamente, o título desta obra, que aparece no canto inferior esquerdo ao lado da assinatura, está escrito em italiano; o que torna esta peça única. O conjunto de obras astronômicas será apresentado integralmente na Galeria Luisa Strina.
Artista absolutamente desconhecido, Date foi descoberto por Mario García Torres em suas pesquisas sobre as narrativas periféricas da arte no México, e vai ter sua obra mostrada na galeria em primeira mão. García Torres é famoso por investigar as histórias esquecidas ou não contadas da arte, como fez ao redescobrir o local exato onde Alighiero Boetti se estabeleceu em Kabul, Afeganistão, no início dos anos 1970, seu One Hotel, que resultou no trabalho que MGT expôs na Documenta de Kassel de 2012. Acerca daquela obra, o artista mexicano afirmou: “Vejo como referência genealógica da obra a história da documentação de artista. Então, o trabalho realmente é a última parte, um registro dos atos de um artista, uma ação concreta. Agora, pode ser um pouco mais ambicioso do que registrar seus atos: pressupõe encontrar a razão para o ato, à medida que ele se desenvolve; explica por que alguém faria tal coisa e, em seguida, elucida suas descobertas”.
Esta metodologia de investigar a documentação histórica e enveredar não apenas pelos atos do artista pesquisado (no caso da obra Tea, 2012, mostrada em Kassel, o artista em questão era Boetti; no caso da exposição apresentada na Galeria Luisa Strina, o nome em questão é Date), mas pelas inquietações que possivelmente deram origem às obras, assim como a tentativa de elucidar seu significado oculto (porque ficou esquecido e não documentado pela história da arte) faz de García Torres mais que um curador da exposição de N. Date, mas um colaborador póstumo do artista. A série de peças têxteis presente na exposição, por exemplo, foi feita recentemente por MGT a partir dos projetos deixados por Date.
Mario García Torres (n. 1975, Monclova, México) recebeu um MFA do California Institute of the Arts em 2005 e atualmente vive na Cidade do México. Exposições individuais recentes de seu trabalho aconteceram no Hammer Museum, Los Angeles (2014); Project Arts Centre, Dublin (2013); Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madrid (2010); Fundació Joan Miró, Barcelona (2009); Kunsthalle Zürich (2008); e Stedelijk Museum, Amsterdam (2007). Ele também participou de exposições internacionais como a Bienal de Berlim (2014); Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brasil (2013); Documenta 13, Kassel, Alemanha (2012); a Bienal de São Paulo (2010); e a Bienal de Veneza (2007).
A Galeria Luisa Strina está funcionando novamente, com agendamento de horário e seguindo todos os protocolos de segurança. Marque sua visita através de um dos canais (formulário de visitas, email ou no telefone 11-3088-2471), para os seguintes horários de atendimento: Galeria, de segunda a sábado, das 11h às 16h; Anexo, de terça a sábado, das 11h às 16h.
Date is an artist who’s biographical data is largely unknown. Strange How Things Work Out presents the work of this enigmatic figure for the first time in a public setting.
Gathered here are three different bodies of work titled by this exhibition’s research: Geometric Coincidences (a prodigious stage represented by a number of oil pastel works that suggest a non-rationalistic approach to geometric forms); Lonely Pedestrianism (intimate drawings and sculptures that indicate an ordinary and somewhat poetic take on astronomy); and Other Realities (contemporary textiles produced after found sketches that insinuate a search towards parallel existences).
Both doing research for and experiencing this presentation, demand non-conformist notions of truth, geography and time. Date’s traces indicate the artist could have been, in fact, a wordly charachter; one that triggered an asynchronous and sometimes unbelivable story.
Influenced by radically dissimilar art movements, and shaped by the unsteady path of foreign writters that pass through Mexico during the 20th century, Date’s practice insinuate that ideas surrounding coincidence, incompletness, doubt and incoherence had become the leading principles of an extraordinary life.
Mario García Torres
About the curator
Mario García Torres (b. 1975, Monclova, Mexico) received an MFA from the California Institute of the Arts in 2005 and currently lives in Mexico City. Recent individual exhibitions of his work took place at the Hammer Museum, Los Angeles (2014); Project Arts Center, Dublin (2013); National Museum Centro de Arte Reina Sofia, Madrid (2010); Fundació Joan Miró, Barcelona (2009); Kunsthalle Zürich (2008); and Stedelijk Museum, Amsterdam (2007). He also participated in international exhibitions such as the Berlin Biennial (2014); Mercosul Biennial, Porto Alegre, Brazil (2013); Documenta 13, Kassel, Germany (2012); the São Paulo Biennial (2010); and the Venice Biennale (2007).
Lucia Nogueira na Luisa Strina, São Paulo
A Galeria Luisa Strina tem o prazer de apresentar uma mostra individual com desenhos e escultura inéditos no Brasil de Lucia Nogueira (1950-1998), artista brasileira que viveu em Londres dos anos 1970 até o final de sua vida. Ao longo de sua breve, mas notável carreira, Nogueira criou um potente corpo de trabalho multidisciplinar. Centrada principalmente em esculturas e instalações que se tornaram famosas pelo uso de materiais banais combinados de maneira única e assombrosamente precisa, sua trajetória é marcada pela prática constante do desenho. Segundo o curador da retrospectiva dedicada à artista no Museu Serralves, Adrian Searle, desenhos e esculturas/instalações são inseparáveis na obra de Nogueira, dada a natureza tátil e o sentido corporal – “strong sense of self”, como Searle o denomina – que definem o seu temperamento artístico.
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Organizada em colaboração com a Anthony Reynolds Gallery, Londres, esta exposição apresenta uma importante série que não integrou as retrospectivas realizadas após a morte prematura da artista [Drawing Room, Londres, 2005; Museu Serralves, Porto, 2007; Kettle’s Yard, Cambridge, 2011]: Inferno – Divine Comedy (1983), composta de 14 desenhos feitos com lápis, carvão e aquarela, que retrata a visão bastante particular da autora sobre um tema que mobilizou artistas ao longo da história, de Botticelli, Michelangelo, Delacroix, William Blake e Gustave Doré, até Rodin, Dalí, Robert Rauschenberg e Alfredo Jaar. Na versão de Nogueira, identificamos a Fortuna girando sua roda, o barco que conduz Dante e Virgílio na descida ao Inferno, tão etéreo e autocontido, em oposição ao romantismo encarnado e envolto em escuridão da Barca de Dante (1822) de Delacroix, vemos os tormentos da alma, e um cão cérbero mais minimalista e ambíguo do que o Cerberus (1824-1827) da ilustração de William Blake para a Divina Comédia.
De acordo com Alberto Manguel, quase todos os livros de Dante foram escritos no exílio, em casas que ele nunca poderia considerar suas porque não estavam em sua Florença. “O início de seu poema revela o duplo vínculo: ‘Aqui começa a Commedia de Dante Alighieri, florentino de nacionalidade, não de moral’. Sem dúvida, seus anfitriões – Cangrande, Guido Novello e os outros – foram gentis com ele e proporcionaram-lhe quartos confortáveis e conversas inteligentes, mas o lar era sempre em outro lugar, o lugar de ausência. Banido de Florença, ele deve ter sentido que o portão da cidade poderia ter sido uma paródia do portão do Inferno: sua mensagem não seria ‘Abandone toda esperança você que entrar’, mas ‘Abandone toda esperança você que sair’. E, no entanto, Dante foi incapaz de perder todas as esperanças de voltar para casa”, escreve o autor argentino, exímio leitor de imagens e de textos.
Talvez Nogueira se identificasse com Dante. Ela chegou ao Reino Unido vinda dos Estados Unidos em 1975, aos 25 anos. Recém-chegada ao país, viu-se entre duas culturas. Sobre as lacunas e o deslocamento provocados pela opção de deixar um lugar, a artista afirmou: “Há uma conexão ali; não só com o lugar onde você se encontra, mas também com o lugar de onde você vem – porque se você saiu não resolveu as coisas lá, não é? Então você está no meio. Eu acho que é muito saudável ser assim”. Considerada um marco no pensamento contemporâneo sobre a escultura no Reino Unido, referida como uma “artista de artistas”, Lucia era amiga de Tacita Dean, Liam Gillick, Rachel Whiteread e Damien Hirst. Estudou na Chelsea College of Art e na Central School of Art and Design e teve participação relevante na cena artística londrina dos anos 1990.
Segundo Gabriel Pérez-Barreiro, que dedicou à artista uma sala especial na 33ª Bienal de São Paulo (2018), defendendo que se pudesse criar dali em diante uma nova relação com a história da arte brasileira recente, “em suas obras, a artista usa objetos cotidianos para criar uma sensação inquietante de suspensão e estranheza. Ao combinar e confrontar móveis, engradados, tubos plásticos e vidros, provoca diálogos misteriosos e envolventes, que parecem oferecer mais perguntas que respostas. Como brasileira radicada em Londres, ela fala da noção de deslocamento e dos questionamentos que resultam de viver em uma cultura diferente, situação em que o cotidiano e o óbvio podem se tornar desconcertantes. Talvez por ser uma consequência desse deslocamento, a língua é uma referência central em seus trabalhos; os títulos em inglês geralmente jogam com duplos sentidos e com as idiossincrasias dos termos gramaticais da língua”.
A Galeria Luisa Strina está funcionando novamente, com agendamento de horário e seguindo todos os protocolos de segurança. Marque sua visita através de um dos canais (formulário de visitas, email ou no telefone 11-3088-2471), para os seguintes horários de atendimento: Galeria, de segunda a sábado, das 11h às 16h; Anexo, de terça a sábado, das 11h às 16h.
Sobre a artista
Lucia Nogueira estudou Jornalismo e Comunicação em Brasília e fotografia em Washington, D.C. Em 1975 ela visitou Londres, onde moraria e trabalharia pelo resto de sua vida. Ela estudou pintura primeiro no Chelsea College of Art (1976-1979) e depois na Central School of Art and Design (1979-1980). Recebeu uma bolsa-residência da Fondation Cartier em Versalhes, em 1993, e foi vencedora do prémio da Fundação Paul Hamlyn, em 1996. Uma exposição retrospectiva do trabalho de Nogueira foi apresentada no Museu Serralves no Porto, Portugal, em 2007, e foi apresentada uma seleção especial na 33ª Bienal de São Paulo, em 2018. Seus trabalhos estão em coleções como as da Tate, Londres, Reino Unido; Arts Council England, UK; Galeria de Arte de Leeds City, Reino Unido; Fundação Henry Moore, Reino Unido; Museu Serralves, Portugal; Museu Calouste Gulbenkian, Portugal; Museu de Arte Contemporânea de Barcelona (MACBA), Espanha, entre outras.
Galeria Luisa Strina is pleased to present a solo exhibition with drawings and sculpture never shown in Brazil by Lucia Nogueira (1950-1998), a Brazilian artist who lived in London from the 1970s until the end of her life. Throughout her brief but notable career, Nogueira created a powerful body of multidisciplinary work. Focused mainly on sculptures and installations that became famous for the use of banal materials combined in a unique and amazingly precise way, her trajectory is marked by the constant practice of drawing. According to the curator of the retrospective dedicated to the artist at the Serralves Museum, Adrian Searle, drawings and sculptures / installations are inseparable in Nogueira’s work, given the tactile nature and the bodily sense – “strong sense of self”, as Searle calls it – that define her artistic temperament.
Organized in collaboration with the Anthony Reynolds Gallery, London, this exhibition presents an important series that did not integrate the retrospectives taken after the artist’s premature death [Drawing Room, London, 2005; Serralves Museum, Porto, 2007; Kettle’s Yard, Cambridge, 2011]: Inferno – Divine Comedy (1983), composed of 14 drawings made with pencil, charcoal and watercolor, which portrays the author’s very particular vision on a theme that mobilized artists throughout history, from Botticelli, Michelangelo, Delacroix, William Blake and Gustave Doré, up to Rodin, Dalí, Robert Rauschenberg and Alfredo Jaar. In Nogueira’s version, we identify Fortuna spinning her wheel, the boat that leads Dante and Virgílio on the descent to Hell, so ethereal and self-contained, in opposition to the incarnated romanticism and shrouded in darkness of Delacroix’s The Barque of Dante (1822), we see the torments of the soul, and a cerberus dog more minimalist and ambiguous than the Cerberus (1824-1827) of William Blake’s illustration for the Divine Comedy.
According to Alberto Manguel, almost all of Dante’s books were written in exile, in houses that he could never consider his own because they were not in his Florence. “The incipit to his poem reveals the double bind: ‘Here begins the Commedia of Dante Alighieri, Florentine of nationality, not of morals.’ No doubt his hosts—Cangrande, Guido Novello, and the others—were kind to him and provided him with comfortable rooms and intelligent conversation, but home was always somewhere else, the place of absence. Banned from Florence, he must have felt that the city’s gate might have been a parody of the gate of Hell: its sign would be not ‘Abandon all hope you who enter’ but ‘Abandon all hope you who leave.’ And yet Dante was unable to give up all hope of returning home”, writes the Argentine author, an excellent reader of images and texts.
Perhaps Nogueira identified with Dante. She arrived in the United Kingdom from the United States in 1975, at the age of 25. A newcomer to the country, she found herself between two cultures. Regarding the gaps and displacement caused by the option to leave a place, the artist stated: “There is a connection there; not only with the place where you are, but also with the place where you come from – because if you left you didn’t solve things there, did you? So you’re in the middle. I think it’s very healthy to be like that ”. Considered a milestone in contemporary thinking about sculpture in the UK, referred to as an “artist of artists”, Lucia was friends with Tacita Dean, Liam Gillick, Rachel Whiteread and Damien Hirst. She studied at Chelsea College of Art and at the Central School of Art and Design and had a relevant participation in the London art scene of the 1990s.
According to Gabriel Pérez-Barreiro, who dedicated a special room to the artist at the 33rd Bienal de São Paulo (2018), arguing that from then on a new relationship with the history of recent Brazilian art could be created, “in her works, the artist uses everyday objects to create an unsettling sensation of suspension and strangeness. When combining and confronting furniture, crates, plastic tubes and glass, she evokes mysterious and engaging dialogues, which seem to offer more questions than answers. As a Brazilian living in London, she speaks of the notion of displacement and the questions that result from living in a different culture, a situation in which the everyday and the obvious can become disconcerting. Perhaps because it is a consequence of this displacement, language is a central reference in her works; English titles usually play with double meanings and the idiosyncrasies of the grammatical terms of the language”.
About the artist
Lucia Nogueira studied Journalism and Communication in Brasília and photography in Washington, D.C. In 1975 she visited London, where she would live and work for the rest of her life. She studied painting first at Chelsea College of Art (1976-1979) and then at the Central School of Art and Design (1979-1980). She received a residence grant from the Fondation Cartier in Versailles, in 1993, and won the Paul Hamlyn Foundation award in 1996. A retrospective exhibition of Nogueira’s work was presented at the Serralves Museum in Porto, Portugal, in 2007, and a special selection of her works was shown at the 33rd Bienal de São Paulo, in 2018. Nohueira’s works are in collections such as those of Tate, London, United Kingdom; Arts Council England, UK; Leeds City Art Gallery, UK; Henry Moore Foundation, United Kingdom; Serralves Museum, Portugal; Calouste Gulbenkian Museum, Portugal; Museum of Contemporary Art of Barcelona (MACBA), Spain, among others.