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março 18, 2020
Nara Roesler na Art Basel Hong Kong
Para o Online Viewing Room da Art Basel Hong Kong 2020 (clique e role a página), a Galeria Nara Roesler tem o prazer de apresentar uma seleção de obras dos artistas históricos Abraham Palatnik, Tomie Ohtake e Antonio Dias, ao lado de obras dos artistas contemporâneos Vik Muniz e Artur Lescher. A apresentação irá explorar a maneiras com as quais a herança cultural estrangeira foi capaz de moldar práticas de artistas brasileiros e de influenciar a trajetória geral da arte brasileira.
Começando com peças históricas do artista brasileiro de ascendência ucraniana Abraham Palatnik, da artista nipo-brasileira Tomie Ohtake e de Antonio Dias, que passou anos em viagens pela Itália, França e Nepal, a exposição online procurará destacar como cada um respondeu e canalizou a diversidade cultural. Tendo sido expostos ao Construtivismo Russo, Xinto-budismo e Arte Povera, respectivamente, tais artistas entrelaçaram esses manifestos conceituais em suas práticas fundamentalmente brasileiras.
Já Vik Muniz e Artur Lescher aparecem como exemplos de artistas contemporâneos que compartilham de preocupações semelhantes - frequentemente em diálogo com movimentos históricos dentro de uma estrutura brasileira -, sugerindo um segmento único que possa ligar artistas históricos e contemporâneos em suas abordagens e experiências de uma natureza multifacetada da herança brasileira.
Para acessar as salas de visualização on-line, crie um perfil de usuário da Art Basel.
Para ver nosso preview, clique aqui.
Fortes D’Aloia & Gabriel na Art Basel Hong Kong
A Fortes D’Aloia & Gabriel tem o prazer de participar do primeiro "online viewing room" da Art Basel Hong Kong (clique e role a página).
Obras de arte podem funcionar como um portal para outra dimensão.
Podem refletir a realidade, mas também abrir janelas para aspectos diversos da realidade.
De esculturas reflexivas singulares a paisagens imaginativas, as obras selecionadas são um convite para uma viagem.
Nossa seleção reúne trabalhos de: Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Erika Verzutti, Ernesto Neto, Jac Leirner, Janaina Tschape, Leda Catunda, Luiz Zerbini, Rodrigo Matheus e Sergej Jensen.
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março 13, 2020
COMUNICADO IMPORTANTE: Fechamentos e adiamentos em função da pandemia de Covid-19
Conforme formos recebendo os comunicados, este post será atualizado com as informações sobre eventos adiados e locais fechados temporariamente.
Eventos adiados e cancelados
34ª Bienal de São Paulo é adiada para 3 de outubro de 2020 - ler comunicado
Auditório Ibirapuera - todos os eventos cancelados
Campo Expandido, de Luiz Zerbini, no Oi Futuro, Rio de Janeiro
Escombros, peles, resíduos, de Jeane Terra, na Simone Cadinelli, Rio de Janeiro
Marcius Galan e Muntadas na Luisa Strina, São Paulo
SP-Arte 2020 é suspensa - ler comunicado oficial
Locais temporariamente fechados e/ou com alterações no atendimento
O governo do Estado do Rio de Janeiro decretou o fechamento de teatros, cinemas, museus e casas de show e outros espaços culturais onde haja aglomeração de pessoas por 15 dias, a partir desta sexta-feira, 13/03.
O governo do Estado de São Paulo anunciou em 15/03 o fechamento de museus, bibliotecas e centros culturais a partir de terça-feira (17) por 30 dias.
ESPÍRITO SANTO
Matias Brotas Arte Contemporânea - trabalho remoto, com visita mediante agendamento
MINAS GERAIS
IMS Poços - funciona também com restrição de acesso de público (até 50 pessoas por ambiente ao mesmo tempo)
PARANÁ
Galeria Ybakatu - trabalho remoto, com visita mediante agendamento
RIO DE JANEIRO
A Gentil Carioca - trabalho remoto, com visita mediante agendamento
Anita Schwartz Galeria de Arte - trabalho remoto, com visita mediante agendamento
Carpintaria - fechamento temporário mas conectados no modo usual, via email, celulares e redes sociais
EAV Parque Lage - suspensão temporária das atividades: acompanhe aqui
Galeria Athena - trabalho remoto, com visita mediante agendamento
Galeria Mercedes Viegas - trabalho remoto, com visita mediante agendamento
IMS Rio - fechamento por prazo indeterminado
Instituto Casa Roberto Marinho - fechado por tempo indeterminado
Lurixs Arte Contemporânea - trabalho remoto, com visita mediante agendamento
MAM Rio - fechado por tempo indeterminado
Silvia Cintra + Box4 - trabalho remoto, com visita mediante agendamento
SÃO PAULO
Carbono Galeria - fechada por tempo indeterminado
Casa Triângulo - fechada por tempo indeterminado
CCSP - programação cancelada por tempo indeterminado
FAMA Museu - fechado por tempo indeterminado
Fortes D'Aloia & Gabriel - fechamento temporário mas conectados no modo usual, via email, celulares e redes sociais
Galeria Estação - trabalho remoto, com visita mediante agendamento
Galeria Jaqueline Martins - trabalho remoto, com visita mediante agendamento
Galeria Leme - trabalho remoto, com visita mediante agendamento
Galeria Luisa Strina - trabalho remoto, com visita mediante agendamento
Galeria Marcelo Guarnieri São Paulo e Ribeirão Preto - trabalho remoto, com visita mediante agendamento
Galeria Marilia Razuk - trabalho remoto, com visita mediante agendamento
Galeria Nara Roesler - trabalho remoto, com visita mediante agendamento
Galeria Vermelho - trabalho remoto, com visita mediante agendamento
IMS Paulista funciona em horário normal durante o fim de semana, com restrição de acesso de público (até 50 pessoas por ambiente ao mesmo tempo), válida também para o restaurante Balaio. Todas as sessões de cinema estão canceladas.
Instituto Itaú Cultural - fechamento a partir de 17/03, acompanhe a produção de podcasts, cursos de EAD e vídeos no site e redes sociais
Instituto Tomie Ohtake - fechado por tempo indeterminado
Janaina Torres Galeria - trabalho remoto, com visita mediante agendamento
Luciana Brito Galeria - trabalho remoto, com visita mediante agendamento
MAB FAAP e Teatro FAAP - fechado por 30 dias a partir do dia 17/03
MASP - fechamento a partir de 17/03
Paço das Artes - fechado por 30 dias a partir do dia 17/03
Zipper Galeria - trabalho remoto, com visita mediante agendamento
Ricardo Siri na Janaina Torres, São Paulo
Organismo: sopro e expressão, na individual de Ricardo Siri. Artista sonoro e visual transforma impasse e imobilidade contemporâneos em obras de expressividade radical
Hélio Oiticica queria que a obra de arte nascesse “apenas de um toque na matéria”, a partir de um sopro que a transforma em expressão – “um sopro interior, de plenitude cósmica”.
A plenos pulmões se manifesta a produção recente de Ricardo Siri, artista carioca que inaugura a individual "Organismo", dia 19 de março, na Janaina Torres Galeria, em São Paulo.
Matéria e expressão ganham, com a mostra, uma plenitude inaudita no trabalho do artista. Nas obras de Organismo – esculturas, assemblages e um “ninho habitável”, feito de galhos de árvore, barro e som -, ecoam os gestos e registros do viver e do fazer artístico de Siri, em consonância e tensão com o momento da arte e do mundo atual. Siri sintetiza, em Organismo, uma trajetória singular na arte contemporânea brasileira. Artista sonoro e visual, cujo trabalho transita entre a escultura, performance, instalação, fotografia e vídeo, sua produção estética incorpora uma atuação premiada no universo musical, com cinco CDs lançados e trabalhos com nomes como Sivuca, Hermeto Pascoal e Roberto Menescal.
A partir do habitat, uma casa/ateliê em Santa Teresa, no Rio de Janeiro, Siri se depara com o seu ambiente: folhagens, instrumentos, galinhas, abelhas, barro, ruídos, pássaros, o depósito, o jardim.
Percebe à sua volta, para além da matéria, a conexão “cósmica” com o universo e a urgência do agora; e produz obras como War, uma colmeia/tela na qual a solda do artista molda um mapa-múndi em cera queimada, criando um alerta de pertinência reveladora.
Já em Música Concreta, duas metades de um trompete são unidas, ou separadas, por um bloco de concreto. Em Música Barroca, é o barro que une/divide o instrumento musical. Em ambos os casos, o fluxo sonoro interrompido pela matéria gera outro, imaterial.
Em Colmeia, aglutina trompetes e trompas, que executam uma sinfonia a partir do silêncio e produzem timbres imaginados, que pairam no ar. O mesmo efeito, em que ultrapassa a fronteira do plástico e do sonoro, Siri obtém em Casulo 2, obra feita a partir da junção de uma concha do mar (da qual, como os polinésios, extrai sonoridade em suas performances) e a extremidade de um trompete.
Siri confere, assim, voz e potência a materiais como barro, conchas ou a cera de abelhas que, não por acaso, são registros da fratura, se não do colapso, do modelo insustentável de desenvolvimento atual.
Organismo apresenta um todo, composto de paradoxos e opostos comunicantes: som e silêncio; lar e universo; matéria e manifesto; cultura e natureza; aconchego e desconforto; o eu e o outro. Elementos e experiências que, certamente, encontram-se diante do impasse e da imobilidade contemporâneos, que o toque de Siri transforma em expressividade radical.
Sobre Ricardo Siri
Nasceu em 1974, no Rio de Janeiro (RJ), onde vive e trabalha. Percussionista por formação, graduou-se pela Los Angeles Music Academy, nos Estados Unidos, e aprofundou seus estudos de percussão indiana e africana na Sangeet World Music School (Pasadena/CA). Em 2011, é convidado pelo Comitê Olímpico de Londres para residir e produzir trabalhos no projeto Olímpico – Rio London Ocupation no Battersea Art Center, em Londres. Em 2013, foi convidado para a residência artística na Cité International des Arts, em Paris (França).
Realizou as individuais “Interfaces” (Galeria Portas Vilaseca, RJ 2019), “Habitáveis” (Centro Municipal Helio Oiticica, RJ, 2017), “Escalas Variáveis” (Galeria Mezanino, 2016), “Oroboro” (Espaço Movimento Contemporâneo Brasileiro, RJ) e “Distorções”, (Galeria Amarelo Negro, 2010). Entre as coletivas, destacam-se “Canção Enigmática” (MAM, RJ, 2019), “Monument in miniatura” (Nova York, 2018), “Das Virgens em Cardumes e da Cor das Auras” (Museu Bispo do Rosário, RJ, 2016); “Je Ma pele Siri” (Casa França Brasil, RJ, 2014); “Paisagem Sonora” (Casa Daros, RJ, 2014); “Liana Ampliathum” (Parque Lage, RJ, 2014); “Blank Page” (Victoria and Albert Museum, Londres, 2012). Realizou performances sonoras na “Nuit de la Philosophie” (UNESCO, Paris, 2018); Portikus (Frankfurt, 2013), NBK-Gallery (Berlim, 2013) e Museu Marino Marini (Florença, Itália, 2013), entre outras.
Histórias da dança: Hélio Oiticica no Masp, São Paulo
Exposição abre o ciclo Histórias da Dança e apresenta relação entre a produção do artista carioca e a dança, a música, o ritmo e a cultura popular brasileira
No mês que marca quarenta anos da morte de Hélio Oiticica (1937-1980), um dos mais importantes nomes da arte brasileira, o Museu de Arte de São Paulo realiza, pela primeira vez, uma exposição individual do artista. Com curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, e Tomás Toledo, curador-chefe, Hélio Oiticica: a dança na minha experiência fica em cartaz entre 20 de março e 7 de junho.
A exposição é uma parceria com o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), que receberá a mostra entre 4 de julho e 4 de outubro, e inaugura o ciclo “Histórias da dança”, que norteia a programação do MASP em 2020. Simultaneamente, o museu abre também Trisha Brown: coreografar a vida, sobre uma das coreógrafas e bailarinas mais influentes do século 20.
Inspirada pela produção de caráter experimental e inovador de Oiticica, a mostra traça um panorama da trajetória do artista, reunindo 126 trabalhos relacionados ao ritmo, à música e à cultura popular. “Meu interesse pela dança, pelo ritmo, no meu caso particular pelo samba, me veio de uma necessidade vital de desintelectualização, de desinibição intelectual, da necessidade de uma livre expressão”, escreveu Oiticica no texto “A dança na minha experiência”, de 1965, que inspirou o nome da exposição.
Hélio Oiticica: a dança na minha experiência apresentará uma ampla seleção de Parangolés, incluindo cópias de exposições que poderão ser usadas pelo público. Além disso, outros trabalhos serão reunidos sob a perspectiva da dança e do ritmo, apresentando uma trajetória que culminará no Parangolé, compondo uma espécie de genealogia deste trabalho radical com a apresentação de obras das séries Metaesquemas, Relevos espaciais, Núcleos e Bólides.
Nesta mostra serão exibidos trabalhos dos períodos de investigações geométricas, rítmicas e cromáticas, cada núcleo da exposição representando uma série do artista. Metaesquemas contará com cerca de 60 trabalhos, ilustrações em guache sobre papel cartão, que exploram formas e cores e resultam de seu envolvimento com o concretismo; Relevos espaciais, que dão a impressão de serem dobraduras expandidas, tem a ver, entre outras questões, com a materialização da cor; Núcleos, esculturas de proporções maiores e interativas, Penetráveis, instalações manipuláveis, e Bólides, nos quais Oiticica explora questões como a cor, a solidez, o vazio, o peso e a transparência.
O foco principal da mostra será a seleção de Parangolés, obras de Oiticica que possuem maior conexão com a dança e que demonstram a estreita relação que ele desenvolveu com a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira e com o samba durante sua vida. Os Parangolés são, segundo o artista, anti-obras de arte. Capas, faixas e bandeiras construídas com tecidos coloridos, às vezes com sentenças de natureza política ou poética, os Parangolés podem ser usados, transportados ou dançados pelo espectador que se torna participante, suporte e também intérprete do trabalho. Treze deles, aliás, serão reproduzidos para que os visitantes possam vesti-los, além de um Penetrável e três Bólides que também poderão ser experenciados.
Serão exibidos também três filmes de Ivan Cardoso: “H.O.”, “Heliorama” e “Helioframes”, este último produzido junto com Oiticica.
Nascido no Rio de Janeiro em 1937, Hélio Oiticica iniciou seus estudos no MAM Rio com Ivan Serpa, em 1954. A princípio, suas obras dialogavam com as experiências concretistas da época. O artista participou do Grupo Frente, entre 1955 e 1956, e foi um dos fundadores do Grupo Neoconcreto, em 1959. A partir daí, Oiticica estabeleceu o corpo como motor de sua obra, que se abriu também para o contexto da rua e do cotidiano, apontando para uma relação entre arte e vida. Para ele, o espectador era, na verdade, um participador colocado para circular e vivenciar o espaço, deixando de lado a postura contemplativa diante da obra de arte. Nesse período, o artista criou alguns de seus trabalhos mais importantes, como os Bilaterais, Relevos Espaciais, Núcleos, Penetráveis e Bólides.
Em 1964, Oiticica passou a frequentar a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, no Rio de Janeiro, onde se tornou passista – um divisor de águas na vida e na obra do artista. A atividade o fez aprofundar suas reflexões sobre experiências estéticas para além das artes visuais, bem como das artes plásticas tradicionais, incorporando relações corporais e sensíveis ao seu trabalho através da dança e do ritmo.
Em 1965, Oiticica participou da exposição Opinião 65, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, considerada um marco na história da arte brasileira. Foi a primeira vez que ele apresentou os Parangolés. As capas foram usadas pelo artista e por sambistas e instrumentistas da Mangueira, que chegaram ao MAM Rio em uma espécie de “procissão-festiva”. Impedidos de entrar, realizaram a “obra festa” na parte externa do museu. Dois anos depois, em 1967, Oiticica voltou ao MAM Rio na exposição “Nova Objetividade Brasileira” e apresentou o penetrável Tropicália cujo percurso, segundo o artista, lembrava muito as caminhadas pelo morro. Experimental e crítica, a obra inspirou o nome do disco de Caetano Veloso e Gilberto Gil de 1968 e do importante movimento artístico e cultural liderado pelos baianos.
Naquele mesmo ano, no período mais duro da ditadura militar no Brasil, Caetano exibiu a bandeira “Seja marginal seja herói”, de autoria de Oiticica, em um show na boate Sucata, no Rio de Janeiro. A bandeira foi apreendida e o espetáculo interditado pela Polícia Federal. Em 1969, o artista teve sua primeira inserção internacional: uma exposição individual Whitechapel experience na Galeria Whitechapel em Londres, com curadoria do crítico Guy Brett. Nos anos seguintes ele expôs também no Museu de Arte Moderna de Nova York, na Rhode Island University e no evento coletivo Latin American Fair of Opinion, na Saint Clement’s Church de Nova York.
Na década de 1970, Hélio Oiticica viveu a maior parte do tempo em Nova York, onde foi bolsista da Fundação Guggenheim. Nesse período, fez experiências com filmes em super-8 e dezenas de projetos ambientais, como as Cosmococas, em parceria com Neville D’Almeida. Essas criações faziam parte do que o artista chamou de “quasi-cinema”, levando o corpo a uma situação de imersão na imagem. Oiticica retornou ao Brasil em 1978, quando dedicou-se a alguns eventos coletivos e exposições. O artista morreu em março de 1980 após sofrer um acidente vascular cerebral.
Em 1992 foi realizada uma retrospectiva no Witte de With Center for Contemporary Art, em Rotterdã (Holanda), que itinerou por Paris, Barcelona, Lisboa, Mineápolis e Rio de Janeiro. A mostra foi um marco na consolidação do nome de Oiticica como um dos nomes brasileiros de maior projeção internacional nas artes visuais, tornando-se quase como uma chave obrigatória de leitura e legitimação da arte brasileira, pela crítica, o mercado e os artistas.
CATÁLOGO
Editado pelos curadores Adriano Pedrosa e Tomás Toledo, o catálogo ilustrado terá ensaios Adrian Anagnost, André Lepecki, Cristina Ricupero, Evan Moffitt, Fernanda Lopes, Fernando Cocchiarale, Sergio Delgado Moya, Tania Rivera e Vivian Crockett, além de Pedrosa e Toledo. A publicação inclui ainda nota biográfica de Fernanda Lopes e um extenso material documental, entre fotografias e escritos do artista, que tinha o hábito de registrar suas reflexões sobre a arte e sua produção.
Histórias da dança: Trisha Brown no Masp, São Paulo
Primeira mostra individual da coreógrafa e dançarina norte-americana no Brasil inaugura o ciclo Histórias da Dança e reunirá cerca de 160 trabalhos incluindo fotos, desenhos e vídeos
Uma das coreógrafas e dançarinas mais influentes do século 20, Trisha Brown (1936-2017) ganhará sua primeira exposição individual no Brasil entre 20 de março e 7 de junho. Trisha Brown: coreografar a vida inaugura o ciclo temático do Museu de Arte de São Paulo de 2020, que girará em torno das “Histórias da dança”. No mesmo dia, o museu abre Hélio Oiticica: a dança na minha experiência, que também fica em cartaz até 7 de junho. Com curadoria de André Mesquita, a mostra incluirá cerca de 160 trabalhos, entre desenhos, diagramas, fotos, vídeos e filmes no 1º andar do MASP.
“Dançar é sequenciar e expressar movimentos. Coreografar é projetar a dança, ou seja, organizar essa sequência. Trisha fazia anotações e inúmeros desenhos para sistematizar os gestos do corpo. Com o tempo, ela passou a aproximar a dança ao cotidiano incorporando movimentos corriqueiros, como andar e vestir, em seus trabalhos”, explica Mesquita – daí o título da exposição.
A mostra será dividida em oito núcleos pensados a partir do vocabulário e dos ciclos de trabalho de Trisha: Corpo democrático, Contra a gravidade, Transmitir os gestos, Acumulações, Diagrama em movimento, Impulso contraditório, Máquinas de dança, Desenhar, performar. Trisha Brown: coreografar a vida busca apontar as complexas relações entre dança e artes visuais, exibindo em simultâneo os desenhos com as imagens de suas coreografias. Estarão reunidos trabalhos fundamentais no percurso da artista e que enfatizam o aspecto inovador de sua produção.
Trisha é o nome artístico de Patricia Ann Brown, nascida em Aberdeen, nos Estados Unidos. O contato com a natureza permitiu que ela, na infância, explorasse florestas, praticasse esportes e pescasse com o pai (anos mais tarde, algumas de suas coreografias, como Falling Duet I, de 1968, e Spiral, de 1974, se assemelharão a jogos e brincadeiras).
Ainda em Aberdeen, nos anos 1940, começou a fazer aulas de balé, sapateado, jazz e danças acrobáticas e, em 1954, iniciou sua graduação em dança no Mills College em Oakland, Califórnia. Trisha teve aulas de dança africana com Ruth Beckford (1925-2019) na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e com Louis Horst (1884-1964) no Connecticut College, em New London, um dos principais nomes da composição coreográfica na dança moderna.
Recém-graduada, em 1958, mudou-se para Portland (Oregon) para dar aulas. Lá, fundou o departamento de dança no Reed College, no qual permaneceu até 1960. Já nos primeiros meses, o método convencional de ensino tinha se esgotado, e ela passou então a se dedicar ao ensino da improvisação. Um divisor de águas em sua carreira, a “improvisação memorizada” tornou-se uma de suas técnicas fundamentais e marca distintiva na década de 1970.
Brown fez parte de uma geração de artistas que, liderados por Anna Halprin (1920), contribuiu, por exemplo, para introdução de corpos não habituais na dança, criação de peças como manifestos políticos realizados nas ruas, utilização da improvisação como prática e ferramenta compositiva, utilização da fala e da voz como parte da dança e criação de peças para lugares não tradicionais.
Em 1961, ela mudou-se para Nova York e lá formou o Judson Dance Theater (1962-1964). Com os integrantes, compartilhava uma visão de dança expandida, na qual cabiam gestos cotidianos como andar, correr, cozinhar etc. Essa visão mais ampla possibilitou, ainda, a dança para além do teatro: ele foi substituído por ruas, telhados, fachadas de prédios, estacionamentos, parques e árvores.
Foi no cenário urbano de Nova York que Trisha apresentou uma de suas coreografias mais icônicas, Woman Walking Down a Ladder, em 1973, na qual desce verticalmente por uma escada no topo de um edifício. Já em Floor of the Forest, da mesma década, a dança consiste em vestir e desvestir roupas amarradas em uma grade a mais de um metro do chão –obra que será ativada semanalmente na exposição do MASP.
Outros trabalhos importantes como Acumulation (1971), em que, por meio da repetição, movimentos vão sendo adicionados até formarem uma coreografia completa, e Water Motor (1978), dança sem coreografia, baseada em memória e improviso, também estarão presentes na mostra.
Contrariando o esforço físico inerente a elas, as coreografias de Brown têm em comum transmitir sensações de naturalidade. Mesmo dentro do teatro, Trisha colocava os padrões em cheque. Em If you couldn’t see me (1994), por exemplo, a coreografia é dançada de costas para a plateia, fazendo com que a parede no fundo do palco desapareça ou se abra.
Seu processo de pesquisa criou também um método arquivístico em termos de organização, classificação e agrupamento –os detalhes das coreografias foram registrados em anotações, cadernos e diários durante anos, ou desenvolvidos como desenhos e diagramas.
“Com mais de uma centena de coreografias, diretora de óperas, como L’Orfeo, de Claudio Monteverdi [1567-1643], realizada em 1998, e uma obra visual que relaciona dança com desenhos de tamanhos variados, partituras, anotações e diagramas, o trabalho de Trisha Brown construiu uma narrativa única na maneira de organizar e representar os movimentos do corpo”, diz Mesquita.
Trisha aposentou-se em 2008, mas continuou a coreografar para a Trisha Brown Dance Company (TBDC) até 2011. A companhia continua atuante e foi essencial para a produção desta exposição.
Catálogo
Organizado por André Mesquita, a publicação (com versões em português e inglês) reúne dois textos inéditos, de David M. Sperling e Susan Rosenberg, que discutem as contribuições fundamentais de Brown para a dança e as artes visuais. Textos de Babette Mangolte, uma conversa entre Trisha Brown e Yvonne Rainer e nota biográfica de Adriana Banana também integram o catálogo.
José Bechara na Marilia Razuk, São Paulo
Nos lançamos no desafio de exibir virtualmente a exposição individual Modos de Condenar Certezas do artista carioca José Bechara. Planejada para inaugurar em março de 2020, a exposição já estava pronta quando teve que ser postergada devido à quarentena imposta pela pandemia do Covid-19.
Neste novo formato apresentamos um percurso em vídeo dentro da galeria, com locução do próprio artista, fotos de vistas e detalhes de todas as obras presentes na exposição, além de uma parceria inédita com a curadora Clarissa Diniz, que assina o texto crítico.
É com muita alegria que convidamos todos a visitar virtualmente o conjunto de 11 obras recentes do artista, dentre pinturas de grande formato e uma escultura. Com uma pesquisa cromática mais luminosa, José Bechara constrói espaços geométricos que se deslocam entre rigor formal e ocorrências randômicas.
Se aprofundando em seu caráter experimental e na utilização diversificada de métodos e materiais, o artista permite novas experiências no campo pictórico, revelando tons e tramas, trazendo espaços elaborados a partir de campos que oscilam entre fronteiras para revelar uma construção que se esforça para emergir no plano.
A exposição reúne um conjunto de pinturas nas quais a tradição geométrica, que usualmente afirma um mundo ideal, cede lugar a uma crise de certezas e elogia as imperfeições desse mesmo mundo constituído por dúvidas, receios e falhas, reflexo da atualidade, que se move oscilante, colidindo em seus arranjos sociais.
Material de imprensa realizado por Analu Araujo
março 11, 2020
Editora Madalena lança livro de André Penteado na Lovely House, São Paulo
Editora Madalena lança terceiro livro da série Rastros, Traços e Vestígios, com o fotógrafo André Penteado. Depois de Cabanagem e Missão Francesa, Farroupilha propõe um olhar atual sobre a revolução no Rio Grande do Sul.
14 de março de 2020, sábado, das 15h às 20h
Lovely House
Rua Augusta 2.690 - Galeria Ouro Fino, São Paulo, SP
Uma investigação fotográfica sobre acontecimentos históricos que nos foram ensinados sem o embasamento de imagens. Essa é a premissa do longo projeto realizado pela Editora Madalena em parceria com o fotógrafo André Penteado. A ideia é refletir sobre fatos que ocorreram antes da invenção da fotografia ou da sua chegada. No total serão cinco livros: “Cabanagem” (2015), “Missão Francesa” (2017) - este “Farroupilha” (2020), a ser lançado no próximo dia 14 de março - “Descobrimento” e “Independência”, ambos ainda em processo. “Estimulamos uma reflexão sobre a formação da subjetividade brasileira a partir de um diálogo possível entre passado e presente, através das imagens”, diz Iatã Cannabrava, editor da Madalena. “É um livro importante que apresentam um questionamento sobre as relações de poder na nação brasileira”, completa.
Para construir o fotolivro “Farroupilha”, Penteado viajou por três anos pelo estado do Rio Grande do Sul buscando imagens que pudessem representar toda a complexidade dos desdobramentos que esse fato histórico causou no presente. Para isso, fotografou os mais diversos temas como: o Acampamento Farroupilha e seus visitantes, o desfile do 20 de setembro, atores de uma peça de teatro sobre a Revolução, monumentos à Revolução, campos de batalhas, incluindo o de Porongos, onde ocorreu o massacre dos Lanceiros Negros, a Cidade Cenográfica de Santa Fé, ativistas que revisitam a história dos Lanceiros Negros, os cavalos da divisão montada da Brigada Militar e o Palácio Farroupilha.
O livro se configurou numa sequência de inventários, que de tempos em tempos são “contaminados” por imagens uns dos outros. A narrativa passeia pelos locais fotografados construindo uma rede de consequências que mistura homenagens com a realidade da vida presente.
As fotografias do livro são acompanhadas por textos do historiador gaúcho Jocelito Zalla, do acadêmico Ronaldo Entler e do próprio artista. “O projeto nasceu do meu interesse nas manifestações que aconteciam e do desejo em investigar outros momentos históricos em que o povo brasileiro se rebelou contra o poder estabelecido”, diz Penteado.
A série
André Penteado parte da ideia de que há um paralelo possível entre o trabalho do fotógrafo e o do historiador: se tanto a fotografia quanto a historiografia nascem da realidade, é possível dizer que ambas são resultado de decisões ideológicas daqueles que as realizam. Sendo assim, a fotografia do presente pode ser um instrumento pertinente para reflexão sobre o processo de criação de narrativas históricas e para a investigação do passado.
Rastros, Traços e Vestígios não objetiva ser um projeto documental, mas propor a discussão de questões como: o que é um documento? Como certas narrativas históricas são perpetuadas? Como o passado ainda ecoa no presente?
Todo o projeto até aqui foi financiado pela Lei Rounaet, com patrocínio de Tempo Assist e Wiz, e apoio da Zipper Galeria, Fama – Fábrica de Arte Marcos Amaro.
7 X Artistas - Novas Pinceladas na dotArt, Belo Horizonte
A dotART galeria dá início à programação 2020 com três exposições e o lançamento de um livro, ressaltando artistas e obras contemporâneas. A partir do dia 14 de março, entra em cartaz a coletiva 7 X Artistas – Novas Pinceladas, em que os pintores participantes são personagens do livro homônimo a ser lançado e distribuído gratuitamente na ocasião de abertura. O público poderá apreciar, ainda, a mostra individual Reinventando Paisagens, de Laura Villarosa, e a exposição coletiva 7 Etnógrafos, ambas com curadoia do artista Efraim Almeida.
Todas as obras expostas, mesmo que em mostras diferentes, permitem que o visitante conheça um pouco da produção artística brasileira atual. Todos os autores das telas são brasileiros, mas com estilos e técnicas muito distintos, mostrando a pluralidade e versatilidade da arte contemporânea. O lançamento, que acontece no dia 14, das 11h às 16h, conta com presença de alguns dos artistas cujas obras estão expostas.
7 X ARTISTAS – NOVAS PINCELADAS
A exposição coletiva 7 X artistas- Novas Pinceladas reúne novas obras dos artistas brasileiros Alvaro Seixas, Daniel Lannes Elvis Almeida, Felipe Fernandes, Gilson Rodrigues, Livia Moura e Maria Fernanda Lucena. As obras variam entre instalações, pinturas, composições de materiais, colagens e, sobretudo, mostram o olhar atual do artista plástico brasileiro.
O livro de mesmo nome da exposição, organizado por Wilson Lázaro, será lançado e distribuído na galeria, também no dia 14 de março. O leitor encontra nuances da trajetória dos artistas, com textos de Marcelo Campos, Cesar Kiraly e Efrain Almeida. Além disso, há trechos de perguntas e respostas, detalhes sobre processo criativo e registros de diversas obras.
Vale ressaltar que embora os artistas citados no livro sejam os mesmos da mostra, as obras expostas não se encontram no título por terem sido criadas em momento posterior da organização da publicação.
“Sete estilos, sete registros de um pouco da trajetória da pintura contemporânea, focando os artistas, seus processos e obras. Mais do que nunca, em tempos de efemeridade de redes sociais, parece ser necessário fixar a história em um produto que possa refletir a produção de artistas que estão construindo a arte brasileira do século XXI” diz Wilson Lazaro, organizador do livro.
Sobre os artistas
Daniel Lannes nasceu em Niterói e coleciona exposições individuais e coletivas, bem como indicações a prêmios. Foi ganhador do Prêmio Novíssimos do Salão de Arte IBEU em 2010 e ganhou a bolsa de residência artística no The Idyllwild Arts Program Painting’s Edge, California, EUA, 2008 e Bolsa de estudos na State University of New York em 2004.
O mineiro Gilson Rodrigues se dedica a pintura e suas interseções com outras linguagens como o vídeo e a instalação. Com um trabalho diretamente ligado à história da representação, a produção de Gilson Rodrigues cria diálogos entre a tradição da pintura de paisagem e utensílios domésticos.
Em grande parte de sua produção, Alvaro Seixas explora as possibilidades da pintura na contemporaneidade, tendo como pontos de partida as ideias de abstração, apropriação e ecletismo. Nas pinturas apresentadas desta individual, o artista se vale de densas camadas de tinta à óleo que muitas vezes transbordam da superfície da tela, para conferir aos trabalhos certa dimensão escultórica.
Lívia Moura retira a obra de arte da parede, a fim de expandi-la no espaço, causando um “curto-circuito” no ambiente através de extensões emancipativas onde a arte se derrama na vida. A artista usa a programação estética da própria cultura para recuperar materiais e situações, a fim de usá-los num discurso imediatamente social, por vezes erótico, atraente e luminoso.
Formada em Indumentária e Design de Moda, Maria Fernanda Lucena começou a trabalhar com as linguagens mais específicas do desenho e da pintura. Questões como memória, afeto e a passagem do tempo tornaram-se temas centrais de suas obras quando passou a introduzir em suas pinturas, objetos pessoais de diversas origens. Usa costura, pintura e colagem de elementos de épocas, materiais e mídias distintas na tentativa de criar um universo novo para os olhos e a imaginação.
Desde 2008, Felipe Fernandes desenvolve em seu atelier um trabalho que busca a harmonia entre o gráfico e o pictórico, valorizando a espontaneidade e a livre associação em seu processo criativo.
Já Elvis Almeida nasceu no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Graduou-se em Gravura na UFRJ, em 2013, e frequentou cursos de Serigrafia na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e de História da Arte na ONG Redes da Maré, todos no Rio de Janeiro. Já realizou dezenas de exposições coletivas e individuais.
Laura Villarosa na dotArt, Belo Horizonte
A dotART galeria dá início à programação 2020 com três exposições e o lançamento de um livro, ressaltando artistas e obras contemporâneas. A partir do dia 14 de março, entra em cartaz a coletiva 7 X Artistas – Novas Pinceladas, em que os pintores participantes são personagens do livro homônimo a ser lançado e distribuído gratuitamente na ocasião de abertura. O público poderá apreciar, ainda, a mostra individual Reinventando Paisagens, de Laura Villarosa, e a exposição coletiva 7 Etnógrafos, ambas com curadoia do artista Efraim Almeida.
Todas as obras expostas, mesmo que em mostras diferentes, permitem que o visitante conheça um pouco da produção artística brasileira atual. Todos os autores das telas são brasileiros, mas com estilos e técnicas muito distintos, mostrando a pluralidade e versatilidade da arte contemporânea. O lançamento, que acontece no dia 14, das 11h às 16h, conta com presença de alguns dos artistas cujas obras estão expostas.
REINVENTANDO PAISAGENS
A artista Laura Villarosa vem sendo considerada uma revelação, chamando a atenção pela sutileza e técnicas manuais. 18 de suas obras estão na exposição individual inédita Reinventando Paisagens, que fica em cartaz na Galeria 2 da dotART.
Com curadoria de Efrain Almeida, a mostra trata a paisagem sob uma nova abordagem. A artista identifica a paisagem como algo que só se vê por partes, de modo fragmentado. Desse modo, surge a dúvida sobre o que se está vendo e também a necessidade de reunir as partes para criar uma nova realidade.
As telas, que misturam pintura com tinta acrílica e bordados sobre linho, trazem narrativas variadas. São paisagens físicas, naturais, psíquicas, reais, da memória ou inventadas, sempre sobrepostas. O visitante verá materiais destruídos e reconstruídos em imagens que se modificam a partir da interpretação da artista plástica.
Laura Villarosa vive e trabalha em Niterói. Sua formação artística começa na infância, tendo realizado cursos livres de desenho e pintura em São Paulo, Roma e na EAV do Parque Lage. Tem como repertório a apropriação de objetos, a pintura, a cor e técnicas artesanais como meios para construir narrativas sobre paisagens, tempo, e as ambiguidades da alma humana. Profissionalizou-se na moda e seu trabalho incorpora também o repertório do universo têxtil.
7 Etnógrafos na dotArt, Belo Horizonte
A dotART galeria dá início à programação 2020 com três exposições e o lançamento de um livro, ressaltando artistas e obras contemporâneas. A partir do dia 14 de março, entra em cartaz a coletiva 7 X Artistas – Novas Pinceladas, em que os pintores participantes são personagens do livro homônimo a ser lançado e distribuído gratuitamente na ocasião de abertura. O público poderá apreciar, ainda, a mostra individual Reinventando Paisagens, de Laura Villarosa, e a exposição coletiva 7 Etnógrafos, ambas com curadoia do artista Efraim Almeida.
Todas as obras expostas, mesmo que em mostras diferentes, permitem que o visitante conheça um pouco da produção artística brasileira atual. Todos os autores das telas são brasileiros, mas com estilos e técnicas muito distintos, mostrando a pluralidade e versatilidade da arte contemporânea. O lançamento, que acontece no dia 14, das 11h às 16h, conta com presença de alguns dos artistas cujas obras estão expostas.
7 ETNÓGRAFOS
Na galeria 1, estreia a mostra coletiva inédita 7 Etnógrafos, com novas obras dos artistas Igor Nunes, Reitchel Komch, Vanessa Rocha, Cláudia Lyrio, Ana Tereza Prado Lopes, Katia Politzer e Danielle Cukierman.
Com curadoria de Efrain Almeida, que acompanha o trabalho realizado por eles há dois anos, a mostra faz uma releitura artística do significado de etnografia, comum na antropologia. Na ciência, esse é o método utilizado para estudar povos e civilizações.
Nesse caso, os artistas observaram sua própria vida, numa espécie de etnografia pessoal. “Cada peça criada vai ao encontro da própria história do artista. Eles levaram em consideração o contexto existencial, a biografia, experiências e suas histórias, expressando isso pinturas, instalações e composições”, explica o curador.
Cada trabalho é uma atitude diferente baseado na ideia de etnografia. Igor Nunes, por exemplo, carrega consigo toda a bagagem de sua experiência com o grafite e traz para suas obras o retrato de grafiteiros parceiros. O artista, inclusive, utiliza um caderno de pesquisa de campo em seu dia a dia.
As obras apresentadas por Reitchel Komch buscam conectar com a mitologia africana, com Iroko e as árvores sagradas. Já Ana Tereza Prado Lopes incorpora os relevos arquitetônicos às suas obras, fazendo com que os espaços em que convive diariamente sejam transpostos às telas.
Relacionamentos diversos são retratados por Vanessa Rocha em aquarelas em formatos de postais, congelando-os em momentos sem monotonia e sem o desgaste do tempo. Cláudia Lyrio transforma visitas a museus de história natural em registros de pássaros, dando um novo sentido a eles.
Katia Politzer conecta as mulheres da sua família. Misturando tecidos que carregam memória afetiva, fotos e bordados que entrelaçam as relações. A utilização de linhas e tecidos também é visto no trabalho da artista Danielle Cukierman, que apropria sinalizações cotidianas que geram confusão de informação e dá um novo significado em tecido e bordado.
Tarsila do Amaral na Fama, Itu
Com curadoria de Aracy Amaral e Regina Teixeira de Barros, exposição reúne 203 obras que estavam guardadas por mais de cinco décadas da vista do público
Tarsila do Amaral (1886-1973) tinha o hábito de carregar consigo cadernos de anotações para desenhar. Com o lápis sobre um pedaço de papel, eternizava em desenhos as paisagens por quais passava. Os esboços e estudos ajudavam na formação de seu pensamento artístico e, por vezes, serviam de base para sua obra pictórica, vertente mais conhecida e pela qual é aclamada. Um conjunto raro composto por 203 destes desenhos será exibido na mostra Estudos e Anotações, em cartaz a partir de 14 de março, na Fábrica de Arte Marcos Amaro - FAMA Museu, instituição sediada em Itu, cidade vizinha de Capivari, onde nasceu a artista.
Longe da vista do público há mais de cinco décadas, engavetados em uma coleção privada, os desenhos foram exibidos uma única vez, em 1969, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em exposição organizada pela crítica e historiadora de arte Aracy Amaral, que agora assina a curadoria da atual mostra ao lado da pesquisadora Regina Teixeira de Barros.
Ao chegarem ao acervo da FAMA, com danos ocasionados pelo tempo e pela falta de cuidados museológicos, as obras foram submetidas a um minucioso processo de restauração. "Essa coleção, praticamente desconhecida, tem um valor inestimável para memória da cultura brasileira e vem contribuir, de forma efetiva e criteriosa, como ferramenta pedagógica da instituição para a formação de crianças e jovens estudantes que serão, no futuro próximo, o público de arte", diz Ricardo Resende, curador do museu.
Produzidas entre 1910 e 1940, as obras registram as várias fases da artista e apresenta temas recorrentes em sua linguagem, como as vistas de viagens que ela fez pelo Brasil afora, desde as bucólicas cidades históricas mineiras, até suas andanças pela Europa e passagem pelo deserto do Egito. "O conjunto nos comunica não só as diversas etapas do trabalho de Tarsila, mas também as inúmeras atividades às quais estão relacionados seus desenhos: estudos, academias, esboços de futuras obras, paisagens urbanas ou rurais, registros de viagens, projetos de figurinos para balé, esboços de ilustrações para livros, cenas interioranas pós-década de 1940", explica Aracy Amaral.
São trabalhos feitos com o exímio e rigor que a artista absorveu das aulas com Pedro Alexandrino (1856-1952), pintor acadêmico, formado no esmero da escola francesa, que considerava o desenho a base fundamental da boa pintura. Foi com ele, inclusive, que Tarsila adquiriu o hábito de carregar cadernos de anotações e a preservar o traço das pinturas por meio do decalque. "O costume de levar consigo cadernos de bolso coincidia com as recomendações das academias, que sugeriam que os aprendizes tivessem sempre um deles à mão para anotar, de forma ligeira e sintética, as cenas e os objetos que chamassem atenção", conta Regina Teixeira de Barros.
Após a iniciação sistemática em São Paulo com Alexandrino, Tarsila vai a Paris, onde residiu de 1920 a 1922. Na capital francesa, ela estudou na renomada Académie Julian, na qual deu continuidade aos estudos de cunho acadêmico e, depois, com a pintora Emile Renard, com estudos mais soltos e vigorosos.
"Um intervalo se faz aí, embora tenha tido, ainda em 1922, uma primeira presença no Salon des Artistes Français em Paris. Voltando a São Paulo nesse efervescente ano de 1922, e nesse período, conhece modernistas que já se reuniam para discussões sobre arte", relata Aracy Amaral.
Tarsila, que já conhecia Anita Malfatti, é apresentada aos artistas, escritores e intelectuais que haviam participado da Semana de Arte Moderna, como Mário de Andrade (1893-1945), Menotti Del Picchia (1892-1988) e Oswald de Andrade (1890-1954). O contato com os jovens modernistas impulsiona a artista a buscar novos horizontes para sua obra e, ao regressar a Paris, entre 1922 e 1923, a fim de ampliar e modernizar seu repertório plástico, ela procura orientação de mestres cubistas como André Lhote (1885-1962), Albert Gleizes (1881-1953) e Fernand Léger (1881-1955).
Com Lhote, Tarsila continuou a exercitar o desenho de nus, mas desta vez geometrizando o contorno das figuras. Com Gleizes, troca o corpo humano por formas retangulares e desenvolve uma série de composições que, segundo Aracy Amaral, constituíram uma ginástica de depuração, equilíbrio, construção e simplificação.
De Léger, ela absorve a teoria dos contrastes plásticos, que consistia no agrupamento de valores contrários, como superfícies planas opostas a superfícies modeladas, personagens em volumes opostas às fachadas planas das casas, fumaças em volumes modelados opostas a superfícies arquitetônicas vivas, tons puros planos opostos a tons cinzas modelados ou inversamente. Na exposição, figuram alguns destes estudos e esboços, a exemplo de Mulher de máscara (1925), Saci e três estudos de bichos (1925), e Beatriz lendo IV (1945).
março 10, 2020
Teresa Viana no MARP, Ribeirão Preto
Pensamentos Pictóricos é resultado do projeto de Teresa Viana contemplado pela FUNARTE - Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça, em sua 9ª edição, que consiste em viabilizar esta mostra no MARP - Museu de Arte de Ribeirão Preto Pedro Manuel-Gismondi e na doação de duas de suas obras à instituição.
Além das peças doadas, uma pintura encáustica e óleo sobre tela (2014) e um trabalho em lã de carneiro – feltragem – (2019), a exposição reúne mais duas pinturas do mesmo período e um conjunto de seis pequenas telas (2016), todas na mesma técnica, e duas séries de feltragem: uma composta por dez trabalhos, apresentada na coletiva Another Gesture, na A.I.R. Gallery, em Nova Iorque (2017), e outra com oito trabalhos (2018).
Exibidas pela primeira vez no Brasil, as feltragens decorrem do procedimento têxtil milenar utilizado pelos povos nômades da Ásia. “Assim busco resgatar um modus operandi ancestral ligado a outro espaço-tempo para questionar os processos perceptuais na contemporaneidade”, diz a artista. Estas obras foram ainda anteriormente reunidas e exibidas nos Estados Unidos, Spring Open Studio do ISCP, em 2019, quando a artista foi contemplada pela segunda vez com a bolsa da The Pollock-Krasner Foundation, para dar continuidade à sua pesquisa durante um ano e fazer uma residência artística no International Studio & Curatorial Program (ISCP), em Nova Iorque.
Já em sua pintura, Viana investiga a possibilidade de expandir a experiência do pensamento. Sua produção pictórica emerge na profusão de sensações sinestésicas que se organizam como “pensamento tátil”. Ao utilizar a cera como aglutinante dos pigmentos (encáustica), suas pinturas adquirem volume e caracterizarem-se por uma tridimensionalidade escultórica em cores vibrantes que extrapolam a superfície. Embora o seu meio principal seja a pintura, a artista trabalha também com desenho sobre papel e digital, colagens e, a partir de 2017, com a feltragem.
Teresa Viana (Rio de Janeiro-RJ, 1960 | Vive e trabalha em São Paulo - SP) estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro e mudou-se para São Paulo em 1992. É considerada uma artista dos anos 90, cuja obra tem ocupado lugar próprio na produção contemporânea brasileira. Além das já citadas exposições Spring Open Studio do ISCP, NY, 2019; Another Gesture, A.I.R. Galeria, NY, EUA, 2017, participou de: O MAC USP no século XXI: a era dos artistas, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, 2017; Library of Love, Cincinnati Contemporary Art Center, EUA, 2017; O Estado da Arte, Instituto Figueiredo Ferraz, RP, SP, 2016/2017; Elas: Mulheres Artistas no Acervo do MAB. Museu de Arte Brasileira, Fundação Armando Álvares Penteado, SP, 2016; Centro Cultural São Paulo, 2015/16; Museu de Arte de Ribeirão Preto, SP, 2012; Galeria Virgílio, SP, 2009; Espaço Cultural Sergio Porto, RJ, e Paço das Artes de São Paulo, 2005; Centro Universitário Maria Antônia da USP, SP, 2002; Galeria Baró-Senna, SP, 2001; Panorama da Arte Brasileira do Museu de Arte Moderna de São Paulo, MAM SP, 1999, MAC Niterói, RJ MAC Ceará, CE e MAM Recife, PE, 2000; Pintura dos anos 90, MAM SP, 2000; 9º Festival de Estúdio Aberto, Festival de Arte e Cultura Contemporânea, Buenos Aires, 2006, entre outras. Mais informações: www.teresaviana.com.br
Wanda Pimentel no MAM, Rio de Janeiro
MAM Rio abre exposição em homenagem à artista carioca, aluna do abstrato Ivan Serpa, conhecida por retratar elementos do cotidiano e o universo feminino, nos anos 1960 e 1970, em diálogo com a arte pop
No dia 14 de março (sábado), o MAM Rio abrirá mostra de Wanda Pimentel (1943-2019) com pinturas, serigrafias, objetos e desenhos, que integram o acervo do museu. A exposição em homenagem à artista, falecida em dezembro do ano passado, tem curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes.
Wanda iniciou seus estudos com Ivan Serpa, em 1964, no Bloco Escola do MAM Rio. Ao longo de sua carreira, participou de mais de 20 coletivas no museu, onde realizou uma individual em 2004.
A exposição - que fica em cartaz até 24 de maio - reúne 19 obras da pintora, das quase 30 que integram o acervo do museu carioca, revelando ao público aspectos importantes de sua produção. Além de dois trabalhos da série ‘Bueiro’, que foge à usual representação do espaço doméstico, a mostra exibe um conjunto da série ‘Envolvimento’, a mais importante da artista, que a caracteriza como um dos nomes fundamentais para a nova figuração brasileira da década de 1960. São pinturas de cores fortes, com tratamento mecânico e impessoal da imagem.
Nos espaços domésticos que WP constrói, a presença humana é indicada frequentemente por detalhes de corpos femininos, quase ausentes do quadro. Suas qualidades pictóricas, além da atualidade de questões como a presença/ausência feminina, apontam para uma notável convergência com questões atuais da arte contemporânea, como a discussão sobre a presença das minorias. De tal atualidade talvez decorra a recente, e merecida, reavaliação de seu trabalho.
Irmãos Campana no MAM, Rio de Janeiro
A maior exposição já dedicada a trajetória de 35 anos da dupla reúne peças criadas ao longo das últimas décadas, além de trabalhos inéditos
A ocupação 35 Revoluções dos irmãos Fernando e Humberto Campana no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM RIO), a ser inaugurada no próximo dia 14 de março, é a maior exposição já feita pela dupla em seus 35 anos de trajetória. Reunindo projetos inéditos e instalações, concebidos especialmente para o espaço, e uma ampla seleção de peças de design e esculturas desenvolvidas ao longo das últimas décadas, a mostra pretende desafiar o público com uma montagem ousada, imersiva e provocadora. A exposição não apenas celebra a longevidade da dupla como reafirma a importância do MAM para o design. A instituição abrigou por vários anos o Instituto de Desenho Industrial e reforça esse papel histórico ao estimular a convergência entre as mais diversas formas de expressão visual.
A mostra é realizada em parceria com Natura Ekos, marca que é referência em conservação da sociobiodiversidade amazônica ao estabelecer laços com comunidades extrativistas da região. “O apoio à exposição é um marco inicial para uma ampla parceria, graças a nossas vocações comuns”, explica Andrea Alvares, vice-presidente de Marca, Inovação, Sustentabilidade e Internacionalização da Natura. “A arte gera forte conexão emocional e a união aos Irmãos Campana materializa o poder transformador que há na conexão do homem com a potência da natureza”, afirma.
Na exposição, aproximadamente 1,8 mil metros quadrados do segundo andar do prédio icônico de Affonso Eduardo Reidy serão tomados pela arte irreverente, desafiadora e criativa dos Campana. Numa espécie de caos criativo, os dois designers conceberam um ambiente imersivo, formado por um conjunto de grandes instalações e por um amplo conjunto de peças selecionadas para a mostra, nas quais se sobressaem questões marcantes em sua produção como a capacidade de integrar referências artesanais e industriais, uma profunda ousadia formal e material, um intenso flerte com o surrealismo e uma acentuada preocupação ambiental. O planejamento e organização do projeto são da Pinakotheke Cultural, empresa comandada por Max Perlingeiro.
A definição dos diferentes núcleos e confluências é bastante subjetiva e decorre de uma leitura ao mesmo tempo afetiva e conceitual proposta pela curadora italiana Francesca Alfano Miglietti. A ensaísta realiza uma aproximação entre a obra dos Campana e a ideia de “escultura social”, desenvolvida por Joseph Beuys. “Arte e design, para os irmãos Campana, não é um conceito exclusivamente de museu, mas uma concepção estética revolucionária onde a arte se torna uma prática comum, portanto, capaz de melhorar o relacionamento do homem com o mundo”, conclui ela.
Logo na entrada, o visitante encontrará uma enorme parede de cobogós. São cerca de 1,6 mil tijolos terracota vazados que têm como elemento de repetição uma mão aberta, sinal ao mesmo tempo de alerta e saudação. A estrutura, que remete às paredes de elementos vazados típicos da arquitetura vernacular nordestina, já de início pontua um dos aspectos centrais da obra da dupla: sua capacidade de incorporar e reinventar elementos típicos da cultura brasileira. Outras intervenções de caráter fortemente cenográfico se espalham pela grande sala. Há o gigantesco painel intitulado Pele, estrutura substancialmente orgânica que combina painéis de madeira, argila expandida e tela de galinheiro e que deriva de um desejo de criar novas formas e estruturas para projetos de paisagismo; ZigZag (um mosaico de estruturas na forma de gotas, em diferentes tamanhos, recobertos de fios de um intenso verde limão, e que recobre o teto do espaço expositivo); e uma sala de audiovisual forrada de tecido dourado com sedutores pufes negros, para exibir a história dessa parceria. Neste espaço, o visitante terá a oportunidade de viver uma experiência sinestésica. Como cheiros aguçam lembranças e ampliam a experiência sensorial, a fragrância de Natura Ekos Alma complementa a instalação.
Mas o efeito cênico, feito em colaboração com a Spectaculu Escola de Arte e Tecnologia, ONG criada por Gringo Cardia e Marisa Orth no Rio de Janeiro, não se limita à entrada, paredes e telhado. Pontuando e dando ritmo a esse enorme espaço estão mais de uma centena de elevadas torres, recobertas de palha de piaçava. Funcionando como troncos de uma estranha floresta, em uma clara alusão à questão ambiental, essas estruturas – que foram mostradas, em menor escala, em 2019, na Casa de Vidro de Lina Bo Bardi, em São Paulo – sugerem caminhos, permitem aproximações do público com os núcleos poéticos que organizam a exposição.
Sem hierarquias ou cronologias, estarão em diálogo na mostra desde as antológicas Cadeira Vermelha (1998) e a Poltrona Favela (2003), até trabalhos mais recentes como a série Hibridismo, a Poltrona Sade e algumas investigações de caráter mais coletivo – como as luminárias intituladas Retratos Iluminados –, desenvolvidas através do Instituto Campana, instituição criada em 2009 pelos irmãos para resgatar técnicas artesanais e promover a inclusão social por meio de programas sociais e educativos.
Experimentação e ousadia são elementos-chave no trabalho dos irmãos. Na maioria das vezes é o material que dita o caminho. O interesse é dar forma, sentido e função, a coisas simples, rejeitadas do cotidiano. Elementos descartados como isopor, plástico bolha ou as palhinhas de cadeiras antigas tornam-se, nas mãos desses designers artistas, elementos nobres. “São como falsos brilhantes”, brinca Humberto, demonstrando assim a importância de não deixar nenhum material ser tragado por sua banalidade.
“Depois de 35 anos, não sei se sou designer ou artista, não me preocupo mais se a peça tem funcionalidade ou não”, acrescenta ele. Sobre o trabalho longevo da dupla, ele completa: “Trabalhamos bem juntos, um instiga, provoca o outro”. O irmão Fernando também valoriza essa curiosa combinação, diz que muitas vezes “um pensa e o outro completa”, num processo em que sintonia e diversidade se alternam. “Desde a infância, ele queria ser índio, eu astronauta”, brinca. Uma parceria tão longa não é algo simples, mas Humberto destaca a importância de que ambos, neste longo período, procuraram desenvolver suas expressões individuais, criando trabalhos pessoais, que também estarão presentes na exposição.
Para Fernando, a principal conquista deles foi mostrar que o Brasil não é apenas aquele dos clichês, do samba, futebol e folclore.“Conseguimos levar a excelência do artesanal, o fatto a mano brasileiro à indústria italiana”. Conhecidos internacionalmente por sua obra no campo do design, com parcerias importantes com marcas de renome como Edra, Alessi e Louis Vuitton, presença constante nos grandes eventos e exposições do design mundial e com trabalhos nas principais coleções e museus do mundo, abriram um espaço que até então parecia fechado aos criadores brasileiros.
A mostra também conta ainda com patrocínio de Carpenters Workshop Gallery, Firma Casa e Friedman Benda e apoio das empresas Divina Terra, Fink e Tokio Marine Seguradora.
SOBRE O ESTUDIO CAMPANA
Em 1984, os irmãos Fernando (1961) e Humberto (1953) Campana criaram, em São Paulo, o Estudio Campana, que se tornou reconhecido pelo design de mobiliário e por criação de peças intrigantes - como as cadeiras Vermelha e Favela. Posteriormente, o estúdio expandiu seu repertório para as áreas de arquitetura, paisagismo, cenografia e moda, entre outras.
Atualmente, os irmãos Campana figuram na lista dos arquitetos mais icônicos do mundo da Interni (2018). Em 2015 e 2014 a Wallpaper os classificou, respectivamente, entre os 100 mais importantes e 200 maiores profissionais do design. Em 2013, foram listados pela revista Forbes entre as 100 personalidades brasileiras mais influentes.
Em 2012, Fernando e Humberto Campana foram selecionados para o Prêmio Comité Colbert, em Paris; homenageados pela Design Week de Pequim; receberam a Ordem do Mérito Cultural, em Brasília, e foram condecorados com a Ordre des Arts et des Lettres pelo Ministério da Cultura da França, além de eleitos Designers do Ano pela Maison & Objet de Paris. Em 2008, receberam o prêmio Design Miami/ Designer of the Year Award.
As peças Campana fazem parte de coleções permanentes de renomadas instituições culturais como MoMa de Nova York; Centre Georges Pompidou e Musée des Arts Décoratifs, Paris; Vitra Design Museum, Weil am Rhein; Design Museum de Londres,Philadelphia Museum of Art, Pinakothek Der Moderne Munich, Musée des Beaux-Arts de Montréal, Tokyo Museum of Contemporary Art, Fundação Edson Queiroz, Recife, e no Museu de Arte Moderna de São Paulo.
SOBRE O INSTITUTO CAMPANA
Fundado em 2009, a missão do Instituto Campana é preservar o legado dos Irmãos Campana, utilizando o design como ferramenta de transformação através de programas sociais e educativos. A Associação Civil de direito privado sem fins lucrativos realiza esse objetivo por meio de parcerias e acordos de cooperação com instituições estrangeiras e nacionais, empresas, organizações e entidades públicas e privadas.
Um dos principais atributos do trabalho dos Irmãos Campana é a inspiração pelas técnicas artesanais tradicionais de diferentes partes do Brasil e ao redor do mundo. Foi precisamente a proximidade com as diferentes realidades que deram o impulso inicial para a criação de uma organização com três principais áreas de trabalho: o resgate de técnicas artesanais, o desenvolvimento da inclusão social e preservação da obra dos irmãos para futuras gerações.
SOBRE O MAM RIO
Fundado em 1948, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro – uma sociedade civil sem fins lucrativos – logo se tornou uma das poucas instituições culturais do país em que as vanguardas brasileiras do pós-guerra encontraram estímulo para florescer. Em 70 anos de história, dezenas de eventos e exposições seminais da arte moderna e contemporânea brasileira ocorreram no MAM Rio. A instituição tem um dos mais importantes acervos de arte moderna e contemporânea da América Latina, reunindo três grandes coleções, que somam mais de 16 mil obras, o que reflete sua trajetória interessada não só pela história da arte, em especial da arte brasileira, mas também na jovem produção contemporânea. Foi no MAM que surgiu o embrião da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI), e onde Karl Heinz Bergmiller (1928) criou o Instituto de Desenho Industrial, de grande importância para a área. Em 2016, o MAM criou a curadoria de design, a cargo de Tulio Mariante.
março 9, 2020
Nuestra América na Luisa Strina, São Paulo
Para encerrar a trilogia de mostras em homenagem aos 45 anos da Galeria Luisa Strina, completados em dezembro de 2019, a galeria inaugura em março a exposição Nuestra América. Dedicada à história recente do espaço, cobre o período de meados dos 2000 até o fim da década de 2010, anos em que Luisa Strina se dedica a estreitar os laços entre o meio artístico brasileiro e aquele dos demais países latino-americanos. Em 2006, havia dois artistas latinos de fora do Brasil no time da galeria: o cubano Carlos Garaicoa e o argentino Jorge Macchi; em 2012, já eram 15 artistas representados.
A exposição toma emprestado o título de um ensaio do intelectual cubano José Martí, que continua atual 130 anos depois de sua publicação. Um dos textos fundantes do pensamento contra-hegemônico do Sul geopolítico, Nuestra América é considerado um paradigma teórico pelo sociólogo Boaventura de Souza Santos, que identifica nele o “potencial emancipatório da cultura social e política de grupos cuja vida cotidiana é intensificada pela necessidade de transformar estratégias de sobrevivência em fontes de inovação, de criatividade, de transgressão e de subversão”.
Os artistas de hoje da AL valem-se da transformação de materiais como uma ferramenta estratégica. Da adversidade vivemos, já afirmava Hélio Oiticica sobre a condição latina de resistência a partir da precariedade. Segundo Maria Quiroga, diretora da Luisa Strina: “A geração 2000 na Colômbia, por exemplo, é a primeira a não se sentir na obrigação de tematizar a violência; e um caminho que os artistas encontram é utilizar o papel como suporte para fazer desde desenhos até obras escultóricas; é um material acessível, prático, mas dele os artistas vão fazer usos muito originais”.
A percepção de que havia espaço para trabalhar a arte de argentinos, colombianos, venezuelanos, costa-riquenhos em São Paulo coincide com a emergência nestes países de uma geração que começa a explorar outros caminhos na produção contemporânea. A diretora destaca ainda a permeabilidade dos artistas de países vizinhos em relação à cultura e arte brasileiras: “Aconteceu por parte dos artistas com que viemos a trabalhar um grande fascínio com a arquitetura, o design e a paisagem daqui. E as coleções foram se abrindo para estabelecer diálogos entre as obras de brasileiros e a destes novos artistas que souberam ver e refletir de novas maneiras sobre o País.”
Nuestra América reúne obras dos artistas Alessandro Balteo-Yazbeck, Alfredo Jaar, Bernardo Ortiz, Beto Shwafaty, Carlos Garaicoa, Clarissa Tossin, Eduardo Basualdo, Federico Herrero, Gabriel Sierra, Jorge Macchi, Juan Araujo, Magdalena Jitrik, Marcellvs L., Mateo López, Matias Duville, Nicolás Paris, Pablo Accinelli, Pedro Motta, Pedro Reyes e Thiago Honório.
Artistas da galeria comentam a relação de sua pesquisa com o Brasil:
“Meu relacionamento com o Brasil começa em 2006 com a Bienal de São Paulo, Como Viver Juntos, da qual participei como membro da Taller Popular de Serigrafía, a convite de Lisette Lagnado e sua equipe, e esse foi realmente o começo do meu relacionamento com o Brasil, pois meu trabalho foi sempre muito bem recebido desde então. Assim, nas obras que mostramos ao longo das 4 exposições na galeria, o impacto do Brasil que conheci em 2006, tanto na Bienal quanto na exposição que aconteceu simultaneamente no Museu de Arte Moderna, a reconstrução da Iª Exposição Nacional de Arte Concreta em São Paulo, de 1956, tudo isso ficou implícito nos meus trabalhos seguintes, nos quais me reafirmei na abstração, deixando entrar o animismo, a mistura cultural que alimenta a cultura sul-americana e na qual desenvolvemos nossa identidade.” [Magdalena Jitrik]
“Em 2002, participei da Bienal da Fortaleza, com curadoria de Philippe Van Cauteren, que em 2011 organizou minha retrospectiva no SMAK, em Ghent, Bélgica. Em Fortaleza, conheci Rodrigo Moura e Carlos Garaicoa. Na bienal, mostrei uma obra chamada Fuegos de Artificio, uma instalação com lâmpadas e pregos. Moura gostou dessa peça porque, anos depois, foi adquirida por Inhotim. Essa história parece um jogo de espelhos, mas se você observar as pessoas e os países envolvidos, só poderá pensar na fluidez das relações humanas e artísticas. E isso continuará a acontecer apesar de tudo.” [Jorge Macchi]
“No meu caso, o papel da galeria foi fundamental. Graças à minha segunda exposição na galeria, surgiu o interesse de me convidarem para a Bienal de São Paulo de 2012. Em relação à influência da arte brasileira, no meu caso, novamente, acho que há dois momentos, o anterior à experiência de morar em São Paulo e o posterior. Antes de morar aqui, diria que a influência era atraente, algo difícil de se esquivar ou medir e, talvez, quando fui morar em SP, tive que lutar contra isso e ter outro tipo de influência, de convivência, alerta, de ir e vir pela cidade e pelo circuito artístico. Acho que a minha exposição em Inhotim encerrou um belo primeiro ciclo, para passar para outro. A terceira individual na galeria mostra essa transformação, me parece.” [Pablo Accinelli]
“Agradeço pelo convite para comentar a minha relação com o Brasil e o contexto político desses dois regimes que infelizmente hoje unem a Venezuela e o Brasil, resultado de negligência e corrupção da classe política em nossas histórias. Fiquei, portanto, muito empolgado mas neste momento não quero fazer um relato histórico que muitas pessoas já conhecem, nem me interessa falar de mim, mas sim aproveitar a oportunidade para demonstrar meu descontentamento e o amor que me une ao Brasil, à galeria, aos arquitetos e à liberdade que deve ser defendida sempre.” [Juan Araujo]
“A influência ou o conhecimento da arte brasileira no meu caso remonta há 20 anos, quando estudamos Tunga, Cildo, Oiticica e Lygia Clark na Universidade de Caracas. Até me lembro da visita de Paulo Herkenhoff, que nos contou sobre eles e o manifesto antropofágico. Voltei a encontrá-lo em Nova York, em uma exposição de que participei em 2000. Em 2009, Adriano Pedrosa me convidou para participar do Panorama e de uma residência na FAAP, e então Luisa decidiu me representar. Eu sempre tive em mente o contexto da exposição e a maneira como o meu trabalho pode ser recebido no Brasil.” [Alessandro Balteo-Yazbeck]
“Em 2009, estava trabalhando em uma série de grandes desenhos em carvão, e foi com ela que ocorreu a primeira ponte entre o meu estúdio em Buenos Aires e São Paulo, precisamente na galeria, que foi muito importante, pois minha pesquisa ganhou um novo ar. Em 2010, fiz uma exposição com esses desenhos em grande escala, chamada Este fue otro lugar, todos eram paisagens mentais influenciadas pelo mundo ao nosso redor, mas filtradas por um descampado mental. Lembro-me de chegar a SP várias vezes pela rodovia, desde o aeroporto, e ter a sensação de estar em uma lacuna entre realidade e ficção. Essas e outras impressões foram se acumulando no meu inconsciente e deram origem a obras esculturais nas quais acredito que há muito desse mood paulista.” [Matias Duville]
Inauguração nova sede do IAC, São Paulo
Com a inauguração interrompida pela pandemia, a nova sede do IAC recebe o público a partir do dia 13 de outubro
Seguindo todos os protocolos exigidos para abertura de centros culturais - controle de número de visitantes, medição de temperatura, percurso único, tapetes sanitizantes e fornecimento de máscara e álcool em gel, o Instituto de Arte Contemporânea abre as suas portas com a exposição Luzes da Memória.
Para celebrar o encerramento do ano e da exposição, o IAC promove um encontro entre as artistas Carmela Gross e Iole de Freitas, com mediação dos curadores da mostra Marilucia Bottallo e Ricardo Resende. O evento acontecerá no dia 9 de dezembro, quarta-feira, às 19h no canal do Instituto de Arte Contemporânea no YouTube.
Na confluência das avenidas Dr. Arnaldo e Paulista, importante eixo cultural da cidade de São Paulo, em um prédio de quatro andares integralmente reformado, está instalada a nova sede do IAC, finalmente própria, depois de mais de 20 anos de atuação em espaços cedidos por comodatos de curta duração.
A única instituição no país voltada exclusivamente à preservação de arquivos pessoais de artistas e arquitetos modernos e contemporâneos brasileiros passou a contar com espaços especialmente desenhados e tecnicamente equipados para processar, tratar e proteger seus hoje 13 acervos, agora com capacidade para receber muitos outros. A nova sede dispõe ainda de duas áreas de exposição, um auditório, sala de atendimento a pesquisadores, e estão previstos uma loja/livraria e um café.
Para ficar independente das exigências de outros comodatos, Raquel Arnaud, presidente e fundadora da instituição, optou por uma sede definitiva, viabilizada com recursos próprios. Com projeto de reforma assinado por Felippe Crescenti, o novo espaço atinge a área total do prédio, 900m2. Um leilão realizado em agosto de 2019, com peças oferecidas pelos artistas, garantiu as despesas finais, como transporte das obras, aquisição de mobiliário de reserva técnica para os acervos, ar condicionado, sistema de segurança, telefonia, internet, entre outras.
“Luzes da Memória”, exposição inaugural
Com curadoria do crítico Ricardo Resende e de Marilúcia Bottallo, museóloga e diretora técnica do IAC, a exposição para comemorar a abertura da nova sede apresenta projetos inéditos de artistas que em 2019/2020 passaram a confiar seus arquivos ao Instituto de Arte Contemporânea – Carmela Gross, Antonio Dias, Ivan Serpa, Jorge Wilheim e Rubem Ludolf –, além de obras de dois artistas integrados anteriormente ao acervo, Iole de Freitas e Sérvulo Esmeraldo. A exposição montada e interrompida pela pandemia, ganhou formato em vídeo, que pode ser acessado pelo canal do Instituto de Arte Contemporânea no Youtube.
Luzes da Memória reúne projetos em várias linguagens, como a utópica proposta de reurbanização do Boulevard Augusta (1973), não realizado, proposto pelo arquiteto Jorge Wilheim, ou cartas reveladoras como a de Nise da Silveira no arquivo de Ivan Serpa, em que a médica comenta sobre o trabalho do artista. Em nova obra escultórica, Pele: um corpo para memória (2019/2020), Iole de Freitas projeta o seu filme em super 8, Roteiro Cego (1972/2020), enquanto a máscara do senador Sam Ervin, responsável pelo Watergate, obra de Antonio Dias, pode ser experimentada pelo visitante. Por sua vez, Carmela Gross, a segunda mulher a entrar para o IAC, pinta de dourado as escadarias do prédio, emanando luz dourada para dentro do novo espaço, e Rubem Ludolf um dos artistas fundamentais do construtivismo brasileiro, pouco visto em São Paulo, tem um projeto de pintura reproduzido na parede e algumas de suas serigrafias reunidas que expressam o seu pensamento gráfico e construtivo.
Sérvulo Esmeraldo completa a exposição com uma instalação de luz prismática nunca antes apresentada em São Paulo. Na obra feita de plástico translúcido, água e corda sobrepostos e suspensos, os reflexos produzidos transformam o subsolo do prédio em uma fonte de raios de luz e cor: prismas que preenchem as sombras do lugar.
“O IAC nasceu para ser das mais instigantes e respeitadas instituições culturais do país. Tem a missão de guardar, preservar e disseminar os arquivos de artistas. Aquele material precioso que não se sabe muitas vezes como proceder ou para as famílias herdeiras dos legados, que destino dar para as “coisas” que ficam esquecidas e guardadas em pastas e gavetas nos ateliês dos artistas. Guarda-se de tudo nesses arquivos, o que importa e até o que não importa de uma obra artística. Pensando nisso, fomos buscar projetos curiosos não realizados ou aqueles projetos realizados e pouco vistos que ficaram guardados nas tais gavetas da memória”. (Ricardo Resende, curador e Conselheiro Curatorial do IAC).
Sobre o IAC
O IAC – Instituto de Arte Contemporânea surgiu em 1997 para a preservação inicial de dois acervos confiados a Raquel Arnaud: Willys de Castro e Sergio Camargo. Foram 23 anos de credibilidade, incluindo o Prêmio APCA, em 2006, como melhor iniciativa cultural do ano. Antes desta sede própria, operou por meio de parcerias institucionais com a Universidade de São Paulo (2006-2011) e com o Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (2011-2019).
Se de um lado, com seu potente Núcleo de Documentação e Pesquisa, atende a estudiosos, de outro, o IAC oferece ao público exposições que revelam o processo de trabalho de grandes nomes da arte brasileira, além de cursos, palestras e workshops. Pela interface online ainda, pesquisadores de qualquer parte do mundo podem ter acesso ao seu banco de dados.
Até 2019 o acervo contava com 50 mil documentos aproximadamente, dos artistas Amilcar de Castro, Hermelindo Fiaminghi, Iole de Freitas, Ivan Serpa, Lothar Charoux, Luiz Sacilotto, Sergio Camargo, Sérvulo Esmeraldo e Willys de Castro. Agora, no novo espaço, já estão em vias de processamento mais cinco arquivos documentais: dos artistas Antonio Dias, Carmela Gross, Ivan Serpa, Rubem Ludolf e do arquiteto, Jorge Wilheim.
Como resultado das pesquisas produzidas a partir do acervo do instituto foi lançado Encontros Fundamentais – IAC 20 anos, em maio de 2020, editado em parceria com a editora UBU, com projeto gráfico de Elaine Ramos. Concebido e organizado pelo curador Jacopo Crivelli Visconti, o livro reúne textos inéditos dos críticos Alberto Salvadori, Aleca Le Blanc, Carla Zaccagnini e Michael Asbury, além de Raquel Arnaud, Marilúcia Bottallo e do próprio Crivelli Visconti.
Outro lançamento do IAC em 2020 foi mis piedras – Sergio Camargo – ateliês 1950 ____1990, para celebrar os 90 anos do artista (Rio de Janeiro, RJ, 1930 - idem, 1990). O livro reúne imagens fotográficas, estudos, poemas e excertos sobre o pensamento plástico do artista e sobre sua prática de ateliê. Nesses espaços, Sergio Camargo criava e meditava sobre sua obra e sobre arte. Com vários ateliês no Rio de Janeiro, em Paris e em Massa, Itália, em distintos períodos, as imagens do livro testemunham suas pesquisas e inquietações conceituais e pragmáticas. Com formação na Sorbonne em filosofia e na École Pratique des Hautes Études em sociologia da arte, o livro apresenta uma faceta do artista que, por meio da prática do ateliê, consegue fundir seus interesses em um processo único e em gestos profundamente meditados.
mis piedras – Sergio Camargo – ateliês 1950 ____1990 tem projeto gráfico do artista Carlos Nunes, que também assina a concepção e organização juntamente com Marilúcia Bottallo e David Forell. (Para adquirir as publicações do IAC acessar: contato@iacbrasil.org.br ou os telefones +55 11 3129-4898 e 3129-4973)
Exposição Luzes da Memória: de 13 de outubro de 2020 – Até 20 de dezembro, de terça a domingo, das 11h às 17h, ingresso grátis pelo Sympla, grupo de cinco pessoas por circuito de 45 minutos.
Funcionamento do IAC para pesquisadores: de terça a sexta-feira, das 10h às 16h, mediante agendamento: Sympla (5 grupos por dia, sendo às 11h, às 13h, às 14h, às 15h, às 16h) a venda será liberada no sábado dia 10/10.
março 8, 2020
Milton Kurtz na Ecarta, Porto Alegre
Mostra de Milton Kurtz marca a abertura da programação para 2020 e integra a terceira edição do projeto Seleção Ecarta
Para reconhecer nomes expressivos da arte contemporânea brasileira, a Galeria Ecarta promove, na quinta-feira (12), a abertura do projeto Seleção Ecarta para homenagear Milton Kurtz (in memoriam). O artista teve um papel provocativo permeado pela indústria cinematográfica e por retratos do cotidiano. A curadoria é dos pesquisadores Nicolas Beidacki e Walter Karwatzki e reúne 30 desenhos e pinturas.
A trajetória artística de Kurtz é comprometida com a leitura da própria identidade brasileira. “Os regionalismos, as marcas de uma cultura centralizada na figura masculina e as nuances entre ser americano e americanizado compõem um mosaico estético e político, que é antes de tudo, uma assinatura de resistência”, analisam os curadores.
A mostra é o primeiro projeto expositivo do ano e faz parte da Seleção Ecarta, iniciativa que chega na terceira edição reunindo em torno do artista olhares variados, por meio da produção textual de pesquisadores, críticos e curadores convidados. A intenção é expandir a visão e democratizar o conhecimento sobre as obras em questão, aportando múltiplas e novas narrativas.
Nesta edição de Seleção Ecarta, 20 nomes entre jovens artistas, curadores e estudiosos do tema, discorrem sobre os trabalhos escolhidos para aproximar ainda mais o público da atmosfera densa, libidinosa e provocativa que Kurtz imprime. Os escritos de Carolina Haedrich, Celma Paese, Chico Soll, Cristiano Goldschmidt, Cristina Barros, Diego Groisman, Diego Hasse, Diones Camargo, Felipe Caldas, Guilherme Fuentes, Henrique Menezes, João de Ricardo, Laura Cattani, Marina Roncatto, Mel Ferrari, Nina Sanmartin, Renata Voss, Roger Lerina, Ulisses Carrilho e Vitor Necchi traçam, além de uma singularidade, um panorama diverso que reside no contato entre espectador e obra.
Os textos críticos tornam-se, assim, uma marca do projeto de memória que a Ecarta realiza no ano que completa 15 anos. De acordo com o coordenador da galeria André Venzon, é uma ação curatorial, mas, sobretudo, uma prática educativa que aproxima os distintos públicos do vasto universo que a arte se propõe a ser.
A abertura acontece a partir das 19h na Ecarta (Av. João Pessoa, 943). A visitação tem entrada gratuita e encerra em 19 de abril.
Um pouco mais sobre o artista, os curadores e o local
Milton Kurtz (Santa Maria/1951 - Porto Alegre/1996) – graduado em Arquitetura pela Ufrgs, em 1977. O artista realizou sua primeira exposição na galeria Tina Presser, na capital gaúcha, em 1983. Fez parte do Grupo KVHR, entre 1978 e 1980, e do Espaço No, de 79 a 82. Sua obra versátil e plural percorreu o Brasil, além de Cuba, Estados Unidos e Uruguai.
Nicolas Beidacki - dramaturgo, artista visual e Conselheiro de Cultura do Rio Grande do Sul. É graduado em Teatro pela Universidade Federal de Pelotas.
Walter Karwatzki - artista visual, escritor, professor e doutor em Processos e Manifestações Culturais pela universidade Feevale.
Galeria Ecarta - está completando 15 anos e é um dos cinco projetos da Fundação Ecarta. O espaço recebe, em média, seis exposições anuais e promove itinerâncias, laboratórios de curadoria, residência artística e montagem, entre outras atividades próprias e em parceria com instituições em âmbito local, regional e nacional. A coordenação é do artista, curador e gestor cultural, André Venzon.
março 7, 2020
Sandra Cinto no Itaú Cultural, São Paulo
Entre terras e águas, mares e cosmos, além de referências históricas e contemporâneas, a trajetória iniciada por Sandra há 30 anos tece um caminho pessoal que passa pelo afeto, como revolução íntima, e permeia relações com artistas de todos os tempos em um diálogo de gerações na busca do lugar da arte no espaço social e coletivo. A primeira grande mostra do ano no Itaú Cultural apresenta este trabalho e seus cruzamentos em quase 200 peças, algumas nunca vistas.
Sandra Cinto: das Ideias na Cabeça aos Olhos no Céu abre no dia 11 de março (quarta-feira), no Itaú Cultural, e segue até 3 de maio (domingo). A mostra se estende pelos três andares do espaço expositivo do instituto e tem curadoria de Paulo Herkenhoff, que batizou cada piso de acordo com o espírito do conjunto ali exibido: Chuva, no -2, para começar do andar de baixo para cima; Garoa, no intermediário (-1), e Neblina, por fim, no mezanino. Em um total de cerca de 200 peças(consulte a lista aqui), além de suas obras e projetos, alguns relacionados com a educação, o público encontra outros trabalhos de artistas e intelectuais com os quais ela dialoga.
Em um arco temporal formado pelos três andares dedicados às exposições no instituto – cada um subdividido por núcleos –, o visitante tem contato com a essência da produção da artista e de sua evolução criativa. Traçando uma espécie de panorâmica que perpassa 30 anos de dedicação à arte, navega-se entre desenhos, pinturas, esculturas, vídeos, livros de artista e projetos de arte pública.
Vale começar o percurso, por sugestão do curador, pelo piso -2 (Chuva) onde ensaios testam a corporeidade que Sandra Cinto pretende conferir à arte. É o início de seu processo criativo, entre projetos, estudos, maquetes e anotações que apresentam o método de trabalho da artista em múltiplas faces e elementos de sua agenda, como a educação. O andar seguinte, o -1 (Garoa) reúne desde seus delicados desenhos iniciais às primeiras pinturas de céus e nuvens também entre os primeiros objetos executados por ela – pinturas, caixas, experiências sensoriais e referências históricas – e a complexidade material de suas obras.
Por fim, no piso M (Neblina) chega-se ao cosmos e céus da artista e sua visão poética do universo. Este andar é praticamente tomado por Nós somos poeira de estrela, todos nós somos Luz, um site specific que ela executou durante a montagem da exposição. Vale observar que, neste período, ela também pintou com estrelas e cores azuis, o banco de concreto situado na fachada do instituto, ao ar livre na avenida Paulista.
“Vejo esta mostra não como uma panorâmica ou retrospectiva, mas sim como uma exposição de meus afetos, diálogos e relações com trabalhos de outros artistas”, observa Sandra. Para ela, a verdadeira revolução passa pela afetividade, pela educação e pelo acolhimento e isso se vê em todo o seu percurso artístico. Não há dissociação entre o processo de ensino e aprendizagem em sua carreira artística.
Quem conhece a produção de Sandra Cinto logo pensa em imensas ondas formando mares agitados ou imensos céus estrelados que ela pinta, pacientemente, com caneta de tinta permanente. Quem for ver a exposição, no entanto, constatará que o seu arco é muito mais extenso. Uma das obras nunca vistas pelo público brasileiro é o seu próprio braço esculpido em alabastro branco como nos tempos de Michelangelo, sem nenhuma relação com as atuais reproduções em 3D. Ele foi realizado durante seis meses, entre 2015 e 2016, por especialistas do Graphicstudio, da Universidade do Sul da Flórida (EUA), para onde a artista havia sido convidada a executar algum projeto, e um escultor contratado da Filadélfia. Esta peça acaba de ser incorporada pela Coleção Itaú Cultural de Arte.
Outro projeto nunca visto no Brasil é The Great Sun, realizado em 2016 com alunos e alunas da Public School 56, localizada no Bronx, em Nova Iorque (EUA). Na exposição são exibidos os estudos de composição, amostras de azulejos, maquetes, teste de cores e referências para esta obra cujo resultado é um mural de azulejos que forma um enorme e radiante sol. “A escola deve ser, em qualquer lugar do mundo, um grande sol, mesmo nos dias em que não há sol, no sentido mais completo da palavra”, afirma a artista, para quem a educação é parte indissociável de seu fazer criativo.
A sua relação com outros artistas está patente na exibição de uma série de obras que foram referência para ela ou que dialogam com o seu trabalho. Entre elas, Festa de São João em Ouro Preto, 1961, de Alberto da Veiga Guignard; Azulejos da igrejinha Nossa Senhora de Fátima, 1958, de Athos Bulcão ou A Grande Onda de Kanagawa, 1829-1832, xilogravura sobre papel washi, de Katsushika Hokusai e uma clara inspiração para ela.
Há muitas peças de mulheres nesta mostra, em uma relação de gerações, mestras e alunas. Por exemplo, Projeto para 1.001 Dias (bordados), feito por Regina Silveira, que foi sua professora, e uma acrílica sobre tela, Sem título, de 1990, assinada por Ana Maria Tavares, também ex-aluna de Regina. Há, por sua vez, obras de artistas que foram ensinadas por Sandra, como Lia Chaia de quem é apresentado Setamanco, de 2009.
Não faltam, evidentemente, os mares, céus e cosmos de Sandra Cinto. “O céu da artista se faz por camadas espaciais. Estão ali o céu de nuvens da Terra e os pontos remotos de um universo imaginário, cujos confins a ciência mal começa a conhecer”, aponta Herkenhoff. “Ali, uma instalação em espaço tridimensional curvo indica que a Terra é uma esfera, opõe-se à teoria obscurantista da terra plana”, continua o curador para quem ela leva a grandeza inimaginável do cosmo ao entendimento das pessoas comuns. “Converte os visitantes em exploradores do universo, em cosmonautas poéticos a caminho da consciência ecológica de uma humanidade mais responsável”, completa.
Acessível a todos os públicos
Garantir acessibilidade a todas as suas atividades é um dos grandes motivadores do Itaú Cultural. Nesta exposição, cada andar apresenta piso e obras táteis, audiodescrição, vídeoguias, e audiovisuais com interpretação em Libras, de modo a que os visitantes cegos e surdos possam apreciar o trabalho da artista. Pelo menos 18 áudios e sete objetos táteis, assim como os pisos e o mapa descritivo de cada andar e mobiliário projetado para facilitar a movimentação de cadeirantes permitem o acesso de todos os públicos aos três pisos do espaço expositivo do Itaú Cultural, que abrigam Sandra Cinto: das Ideias na Cabeça aos Olhos no Céu.
Conversa com Anna Bella Geiger e Ulisses Carrilho na Simone Cadinelli Arte Contemporânea, Rio de Janeiro
Anna Bella Geiger (Rio de Janeiro, 1933), uma das mais importantes artistas do país, fará uma conversa aberta e gratuita no próximo dia 12 de março de 2020, quinta-feira, às 19h, na Simone Cadinelli Arte Contemporânea (Rua Anibal de Mendonça 171, Ipanema, Rio de Janeiro). A artista irá comentar seus trabalhos na exposição O ovo e a galinha, em cartaz na galeria até o próximo dia 14 de março, com curadoria de Ulisses Carrilho, que também fará a mediação da conversa.
Uma das obras é a gravura da “Série Lunar I”, realizada entre 1971 e 1973, que integra sua célebre pesquisa com imagens da NASA e discute o sentido político de “superfície”. Na exposição, esta gravura também reverbera a frase de Clarice Lispector (1920-1977): “A lua é habitada por ovos”, que está em seu conto “O ovo e a galinha” (1964), ponto de partida para a exposição. Também na mostra, “Passagens II” (1974), um dos vídeos seminais da artista, em que ela sobe uma escada, infindavelmente.
Ao longo da conversa, a artista e o curador destacarão alguns textos críticos sobre o trabalho de Anna Bella Geiger, e ela contará como títulos de seus trabalhos são pensados de forma estratégica na produção.
Myriam Glatt na Candido Mendes Ipanema, Rio de Janeiro
Myriam Glatt abre a temporada de exposições de 2020 da Galeria da Candido Mendes de Ipanema com a individual “Arquiteturas instáveis”
A Galeria Maria de Lourdes Mendes de Almeida (Candido Mendes de Ipanema) abre o seu calendário de exposições de 2020, no dia 11 de março (quarta-feira), às 19h, com a individual “Arquiteturas Instáveis”, da artista Myriam Glatt, com texto de Paulo Sergio Duarte.
A exposição apresenta cerca de 10 obras em grandes dimensões, que ocupam o piso e as paredes da Galeria. São trabalhos em papelão, ressignificados pela artista.
No dia da abertura, Os Únicos, dupla formada pelos artistas Alexandre Dacosta e Lucília de Assis, farão performance interativa com as obras.
Depois da exposição de Brasília e com prêmio recém-adquirido no salão dos “Artistas sem Galeria” de SP, a obra de Myriam vem confirmando uma geometria que abre espaço para o espectador manipulá-la como nas ‘AbaMóveis’ ou mesmo entrar no trabalho como no caso da ‘Mandala’ cromática, instalada no piso da galeria.
A preocupação com a ecologia está muito presente na produção atual de Myriam Glatt. De uma maneira sutil, um novo olhar pode nascer para os objetos que se formam e se transformam. De um papelão descartado, surge uma obra reformulada. Do descarte ao resgate. Nasce, nesse processo, a vontade de participação do espectador, já que alguns desses trabalhos permitem a alteração de suas formas, por meio da manipulação direta do público ou até pela presença integral de seu corpo, que se coloca em relação à proposição artística como um todo. “Há um ano meu trabalho começou a geometrizar quando comecei a ver o papelão, a caixa de papelão propriamente dita como um fim, e não mais como um suporte para receber minhas pinturas. Começo a olhar sua matéria, suas texturas e sua cor, deixando em alguns momentos vir à mostra sua aparência e seus desgastes”, explica a artista.
Myriam Glatt se dedica há algum tempo a pintura e aqui, nesta exposição, esta linguagem também está presente. O papelão, matéria-prima de sua mostra, recebe cores, texturas e manipulações diferentes. De um lado, o branco e o marron fazem um contraste com as obras que recebem outras tonalidades da parede da frente ou com a enorme mandala multicolorida do centro. Com isso, a artista pretende dar continuidade às investigações próprias da pintura, como a relação modular entre a forma simples e sua repetição, o gesto evidente na pincelada e a impregnação dos campos de cor, a dinâmica entre a superfície da pintura e sua espacialização e, assim, transformando-o em objeto artístico. A fusão entre a pintura e a escultura.
A escolha do papelão aconteceu depois dela ver o excesso deles descartados pela cidade e encontrou em sua superfície um potencial para desenvolver uma pintura que mostrava desde antes, uma vontade de sair do plano e ir para o espaço. E também um desejo ainda mais antigo que Myriam tinha de experimentar novos suportes e fugir da tradição da pintura sobre tela. “Com o papelão, continuei com corta/ cola, mas ele me deu algo mais. Criando relevos, minha pintura foi para o espaço e com suas abas possibilitou o espectador interagir. Nesse momento, penso no neoconcretismo e suas manifestações”, diz
Myriam Glatt é formada em arquitetura pela Santa Ursula R.J. e pós-graduada em arte\filosofia Puc R.J. (2014). Estudou arte no San Francisco Art Institute, no Santa Barbara City College, Ca USA (83/84) e pintura/teoria na EAV Parque Lage-R.J, com Charles Watson (95/97), João Magalhães, Ivair Renaldim, Daniel Senise, Fernando Cocchiarale e Marcelo Campos (2008 a 2013). Participou de grupo de estudos dos curadores Marcelo Campos (2015), Daniela Labra (2017), Keyna Eleison (2018) e Marisa Flórido(2019). Já realizou individuais em locais variados, sendo as principais: “Coletivos, manchas e contornos” - Galeria TAC, Curadoria Mário Gioia (2015); Semente - Galeria Öko, Curadoria Lia do Rio, texto Mario Gioia (2016); “Tempo, da contenção à expansão” - CCJF, curadoria Isabel Sanson Portella (2017); “Descartes” - Centro Cultural Correios SP, texto curatorial Mario Gioia (2018); e “Plano Pictórico Piloto” - Museu dos Correios Brasília, curadoria Ivair Reinaldim (2019); Participou, ainda, de diversas coletivas: “Onde estou” - Galeria Tac Galpão Curadoria Marcelo Campos (2013); “Soy mujer soy latina americana” - Espaço Cultural Cedim H. Studart, Curadoria Lucia Avancini (2015); “Qual o seu link?”- Galeria VG Cassino Atlântico, Curadoria Lucia Avancini e Marilou Winograd (2016); “Circuito Interno fevereiro” - Fabrica Bhering (2017); “Carpintaria para Todos” - curadoria Marcelo Campos, Bernardo Mosqueira e Luisa Duarte (2017); “Ocupação corredor cultural” CCBB/Casa França Brasil/ Correios RJ – Curador Paulo Branquinho (2018); “11º Salão Artistas sem Galeria” – Galeria Zipper SP, Galeria Lona SP, Galeria Murilo Castro BH , curadoria Celso Fioravante (2020); entre outras. Recebeu, este ano, 3º lugar no 11º Salão Artistas sem galeria.
março 5, 2020
Ivan Grilo na Luciana Caravello, Rio de Janeiro
O artista abre sua terceira individual na Galeria Luciana Caravello que ocupará o primeiro piso da galeria com obras inéditas
No dia 5 de março a Luciana Caravello Arte Contemporânea abre ‘Aqui estou, estamos’, terceira exposição individual de Ivan Grilo na galeria. Os trabalhos de Ivan tem como núcleo central de pesquisa a relevância de arquivos históricos e orais, juntamente com as diferentes possibilidades de leitura sobre um mesmo fato. Tomando como ponto de partida a fotografia principalmente como forma de documentação e registro de tempo, o artista busca dissecar os papéis representativos, políticos, narrativos, conceituais e estéticos da imagem, às vezes questionando ou mesmo reescrevendo de outro ângulo o material original, sutilmente embaçando a memória e a ação do tempo.Há nos trabalhos mais recentes uma busca pela intersecção entre amor e política — “Uma busca utópica de encontrar esse pequeno conjunto no frágil momento presente.”
Parte dos novos trabalhos nasce do binômio PALAVRA e SONHO, como relata o próprio artista: “Trago as duas palavras comigo no bolso há anos. Acho que a primeira vez que as ouvi juntas foi em 2016. Eu estava longe, mas me lembro do C. e do M. no Capanema falando que isso era só o que tínhamos. E era com isso que lutaríamos. […] De lá pra cá, eu usei isso todos os dias e sigo com as duas, agora não mais nos bolsos, mas entre as mãos. Bem apertadas. E aqui estou. Estamos.”
Na exposição, que conta com objetos em bronze, fotografias e pequenas instalações, é possível notar a influência das pesquisas do neurocientista Sidarta Ribeiro e das palavras de Dona Vanja, da Comunidade Quilombola de Novo Airão (AM) — “Antigamente eu sonhava com histórias assim. Não eram histórias que eu inventava. Tudo que eu sei vem de sonho.”
A exposição conta com texto da curadora e pesquisadora Natalia Lavigne, com quem o artista vem dialogando desde a residência que realizou em Nova Iorque, no AnnexB Art Residency, enquanto a curadora participava do programa de pesquisas da universidade The New School.
SOBRE O ARTISTA
Ivan Grilo é formado em Artes Visuais pela PUC-Campinas (2007). Em 2016 realizou a exposição individual “Preciso te contar sobre amanhã” na Luciana Caravello Arte Contemporânea (RJ), em 2015 “Quero ver” na Casa Triângulo (SP), em 2014 “Quando Cai o Céu”, no Centro Cultural São Paulo, e participou da exposição coletiva “Novas Aquisições da Coleção Gilberto Chateaubriand”, no MAM e “Pororoca, a Amazônia no MAR”, no Museu de Arte do Rio. Em 2013, exibiu o projeto “Estudo para medir forças” na Casa França-Brasil, e também foi premiado no PROAC Artes Visuais. Foi um dos três vencedores do prêmio FOCO Bradesco ArtRio 2016 e em 2012 recebeu o Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia.
As principais exposições solo incluem “Sentimo-nos Cegos”, na Luciana Caravello Arte Contemporânea, “Quase/Acervo”, no Museu da República, “Ninguém” no Paço das Artes, e “Isso é tudo de que preciso me lembrar”, no SESC Campinas. Entre suas exposicões coletivas estão: Bienal MASP Pirelli de Fotografia, em São Paulo, 1ª Bienal do Barro em Caruaru, 2ª Bienal Ural de Arte Contemporânea, Rússia, 16ª Bienal de Cerveira, Portugal, 11ª Bienal do Recôncavo, São Félix e Arte Pará , no Museu Histórico do Estado do Pará.
Seu trabalho faz parte das coleções do Museu Pérez, Miami, Museu Solomon R. Guggenheim, Nova York; Col. Fundação ARCO, CCA2M - Centro de Arte Dos de Mayo da Comunidade de Madri; Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu de Arte do Rio; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro / Coleção Gilberto Chateaubriand; Fundação Bienal de Cerveira e outros.
Élle de Bernardini na Luciana Caravello, Rio de Janeiro
A artista abre sua primeira individual na Galeria Luciana Caravello que ocupará o terceiro piso da galeria com obras inéditas e traça uma relação com a civilização egípcia
No dia 5 de março a Galeria Luciana Caravello abre a exposição “Black and Gold”, primeira individual da artista gaúcha, Élle de Bernardini, que vive e trabalha em São Paulo. A mostra tem curadoria de Raphael Fonseca e traz 12 trabalhos inéditos da série, “Formas Contrassexuais”. Série de trabalhos que já foi apresentada no Masp, na exposição, “Histórias Feministas” (2019). Onde a artista desenvolve o que ela chama de “novo modelo de sociedade”, que pensa o sujeito sem as categorias de homem ou de mulher, e é baseado no conceito homônimo do filósofo transexual espanhol, Paul Preciado. “Em meu trabalho proponho rescrevermos a História da Humanidade e a História da Arte, por meio de um modelo de sociedade alternativo ao modelo vigente cis-branco-macho- heteronormativo-eurocentrado, que determinou o modo como a história no ocidente vem sendo escrita e contada a mais de 4000 mil anos. Este novo modelo é baseado em Paul Preciado”.
Na exposição a artista traça uma relação com a civilização egípcia, mais precisamente o modo como eles registravam a história. O uso dos símbolos na constituição de sua linguagem. Os famosos hieróglifos foram a referência crucial que levou a artista no começo de seu processo com a série das “Formas Contrassexuais” em 2018 a desenvolver uma legenda própria que representa graficamente às cinco principais zonas erógenas do corpo humano, e que caracterizam os gêneros, são elas: pênis, vagina, seios, escroto e ânus. Combinando e (re)combinando o alfabeto simbólico criado por ela mesma, a artista propõem escrever a história de uma civilização futura, baseada no conceito da contrassexualidade. Uma sociedade sem a necessidade de classificação dos sujeitos por gêneros. Uma sociedade não branca, não-binária, não eurocentrada, não patriarcal e nem matriarcal.
A artista escolheu como matérias-primas de sua nova pesquisa o couro e a pintura em acrílica com traços gráficos livres e simples que remetem à escrita. Então o que veremos exposto é uma série de acrílicas sobre couro que remetem ao modo como os egípcios registravam sua história nas paredes das tumbas a milhares de anos atrás. Porém trazida para a contemporaneidade e utilizada como referência para a inscrição de uma sociedade ainda em parte utópica, mas em processo lento de formação. As figuras icônicas da civilização antiga, como as três pirâmides e a múmia do faraó, aparecem desconstruídas e recriadas numa série de 4 esculturas de metal e tecidos. Placas de couro trazem desenhadas códigos que parecem contar uma história, mas que para a artista funcionam como dispositivos para (re)pensar a geografia corporal. A localidade das zonas erógenas, sua repetição, e como o corpo do homem e da mulher está socialmente determinado. As “Formas Contrassexuais” apresentam um corpo desconstruído, um corpo livre para ser o que quiser ser, relevando a artificialidade das normas impostas ao corpo, por meio da demonstração de uma linguagem que também é ela mesma artificial.
Na exposição, “Black and Gold” a artista utilizando da estética egípcia relaciona a artificialidade da linguagem com a corporalidade para demonstrar que a geografia corporal, ou seja, como o corpo está socialmente estruturado é também uma determinação artificial tal como a linguagem, e dependente da história. Ao passo que apresenta uma saída para o problema, a saída da contrassexualidade que vemos desenhadas nas peças expostas. E que nada mais são do modos de pensar um corpo que se constrói da forma que quer, com dois, três ou mais seios, nas costas ou na parte da frente, com clitóris em outras partes do corpo. “Esse rompimento com a geografia corporal é o caminho para a destruição das categorias de gênero, homem e mulher. Se nos deparamos com um corpo que possui três seios, um pênis, um clitóris no cotovelo, em qual categoria de gênero vamos coloca-lo, na de homem, ou na de mulher? Em nenhuma das duas é possível segundo a norma inerente a cada uma das categorias. Sobrando apenas duas opções, forjarmos uma categoria nova, ou não categoriza-lo. Não categoriza-lo está fora de questão, pois ele precisa existir na linguagem para existir no mundo humano que é determinado pela linguagem”. A arte para artista é uma linguagem que se utiliza de símbolos e códigos para comunicar a mensagem que se quer passar ao público.
Élle de Bernardini (Itaqui, 1991) vive e trabalha em São Paulo. Tem formação em ballet clássico pela Royal Academy of Dance de Londres. É uma mulher transexual com uma produção permeada por sua biografia. Suas obras abordam a intersecção entre, questões de gênero, sexualidade, política e identidade com a história da humanidade e da arte. Seu trabalho vem sendo exposto em instituições nacionais como, Museu de Arte de São Paulo/MASP, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte do Rio/MAR, Museu de Arte do Rio grande do Sul/MARGS, Museu Nacional da República, Memorial da America Latina, MAC-RS, Pivô Arte e Pesquisa, Farol Santander, Centro Cultural São Paulo. Suas obras integram importantes coleções como, Museu de Arte do Rio Grande do Sul / MARGS, Porto Alegre. MAC-RS, Porto Alegre. MAC-Niterói, Rio de Janeiro. Coleção Santander Brasil, São Paulo. Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro. Museu de Arte Moderna do Rio, Rio de Janeiro. Fundação de Artes Marcos Amaro, Itu e Museu Nacional da República, Brasília. Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo.
março 4, 2020
Como olhar para trás na Z42, Rio de Janeiro
Reabertura da exposição “Como olhar para trás”, na Z42 Arte: a mostra foi reaberta dia 1 de setembro, seguindo todos os protocolos sanitários, após a publicação do decreto que liberou a abertura dos museus e centros culturais fechados por conta da pandemia do novo coronavírus.
No dia 12 de março, será inaugurada a exposição Como olhar para trás, com obras inéditas das artistas Ilana Zisman, Maria Amélia Raeder, Mariana Sussekind e Priscila Rocha, que ocuparão todo o espaço expositivo da Z42 Arte, no Cosme Velho. Com curadoria de Fernanda Lopes, a mostra traz o tema da memória, em diferentes aspectos, através de obras produzidas em diversos suportes, como fotografia, instalação, desenho, pintura e objeto.
“A exposição apresenta possibilidades de estudo sobre a memória: memória como invenção, como tornar presente algo que está ausente, como reconstrução de algo que ficou, que é presença, e também o que sobrou da memória de algo que não se conhece. Muitas vezes a memória aparece como rastro, como pista, como insinuação”, diz a curadora Fernanda Lopes.
A ideia da mostra surgiu a partir de um grupo de estudo das artistas com a curadora. Ao longo de seis meses, elas se encontraram para discutir seus trabalhos e questões relacionadas a eles e identificaram que todas vinham, mesmo que de formas diferentes, tratando sobre o tema da memória em suas produções.
PERCURSO DA EXPOSIÇÃO
No hall de entrada do casarão de 1930 que abriga a Z42 Arte estará uma única obra: “Museu de História (Des)natural” (2019), da artista Priscila Rocha, composta por uma mesa de mármore com peças em gesso dispostas como se estivessem em uma vitrine de museu, inclusive com legendas descritivas. “A ideia da construção da memória está presente nesse trabalho, onde faço uma brincadeira entre a ficção e a realidade”, diz a artista. Nesta vitrine, estará um pedestal construído com imagens de soldadinhos, um brinquedo comum da infância, fundidos, quase irreconhecíveis; um retângulo de gesso que lembra um campo de batalha e pequenas peças, também com a imagem dos soldadinhos, muitas delas em pedaços, com a legenda “flashes”, como se fossem flashes de memória. “Pelo fato de serem facilmente reconhecidos e reproduzidos em diversas culturas, localidades e épocas, pensei nas imagens e significados destes brinquedos como memória de infância e a relação desta com o espaço. Inevitavelmente pensei na banalização da guerra, nas condecorações, nos motivos levianos, na relação com o consumo, nas indústrias que ela alimenta e é alimentada, chegando novamente na indústria do brinquedo e nos brinquedos de guerra e como a questão da memória e do esquecimento é articulada neste ciclo no qual a brincadeira se insere”, conta Priscila Rocha.
As quatro salas seguintes serão ocupadas cada uma por uma artista. Na primeira delas, à direita, estarão obras de Ilana Zisman, como “Arquivo 1”, da série Lavagem ou Taharah (ritual judaico pelo qual o corpo passa antes de ser enterrado, que respeita e dignifica o corpo), que mede 170 cm X 350 cm e é composta por vários pedaços de papel de seda tingidos de tons de vermelho, colocados uns sobre os outros. “As unidades podem remeter à vida ou à morte”, explica a artista, que tinge cada um dos papéis manualmente. A curadora Fernanda Lopes ressalta que “os trabalhos têm uma forte presença física, mas, ao mesmo tempo, são feitos com materiais frágeis que nos remetem à ideia de sofrimento, por estarem amontoados e terem a cor vermelha, que nos lembra o sangue, a carne”. A pesquisa da artista parte de uma busca sobre a história de sua família, que viveu o holocausto, mas cujos registros são poucos, e seu trabalho fala sobre "aqueles que foram privados da sua história, que a tiveram eliminada pela violência e pelo esquecimento”. “Apesar do tema, a obra pode ser enquadrada no sofrimento de muitas minorias”, acrescenta a curadora.
Na parede oposta a essa grande obra estarão três pinturas feitas sobre camadas de papéis vegetais, que são transparentes. “Esses trabalhos trazem outro aspecto da minha pesquisa, que fala que o passado não pode ser olhado como foi. Ele é nebuloso e sua opacidade traz a não certeza ou evidência do que aconteceu. Utilizando um papel translucido e colocando-os sobrepostos, tento falar de como não se consegue ver as capas do tempo, porque parece uma coisa só. Coloco as formas em diálogo. Não se pode mudar o passado- no meu processo, recolho os restos e experimento como eles podem chegar no presente”, explica a artista.
Com trabalhos voltados, nos últimos anos, para o jornal como objeto central de investigação, Maria Amélia Raeder apresentará, na sala seguinte, a grande instalação “Estratégia para permanecer” (2019), com 230 desenhos feitos em nanquim sobre papel vegetal, “reproduzindo” uma imagem que foi publicada no jornal The New York Times. Os desenhos são feitos a partir de um método desenvolvido por ela que permite a criação de infinitos percursos dentro da mesma imagem. “Parece o percorrer de um labirinto, só que ao invés do objetivo do percurso ser encontrar uma saída, a intenção é manter-se nele o maior tempo possível”, explica a artista, que ressalta, ainda, que “o resultado desse exercício de permanência não pretende ampliar a visualidade da imagem nem sua comunicação; acaba, talvez, apenas por reforçar a invisibilidade das imagens jornalísticas - sua vocação ao esquecimento”, afirma a artista.
A folha de jornal onde a imagem foi publicada originalmente estará exposta, mas com as imagens e os textos recortados, apenas deixando visível a legenda da foto. “Os desenhos resultantes deste processo contêm, cada um, o rastro de um percurso diferente. O mistério que há no rastro instiga um olhar mais atento e investigativo. Não mostro a imagem original porque a intenção é proporcionar ao espectador uma pausa investigativa, um alargamento do tempo de permanência no trabalho”, diz Maria Amélia Raeder. No corredor ao lado, a mesma pagina de jornal estará reproduzida quatro vezes, mas com as imagens cobertas pelas cores utilizadas na padronização da reprodução da imagem pelo jornal.
Seguindo o percurso da exposição, chega-se na sala com as obras de Priscila Rocha, que além da vitrine no hall de entrada da Z42, apresentará pinturas, objetos e instalações também partindo da imagem dos soldadinhos de brinquedo. Marcas de pegadas desses soldados aparecem na pintura “Valsa ensaiada” (2019) e bonecos e pedaços de mármore fragmentados estão em “Favor não brincar” (2019). Em sua pesquisa sobre os soldadinhos, Priscila Rocha chegou na folha de acanto e na memória histórica que ela carrega. “Há diversos significados ao longo do tempo, como se entrelaçou com o militarismo e como se disseminou como estética ornamental apagando seus significados históricos”, afirma. Com isso, serão expostos desenhos em que a folha de acanto aparece, além de um livro de artista com o contexto histórico, além de uma linha do tempo explicativa (como normalmente há em museus históricos). Por coincidência, as grades de ferro das portas de sala que será ocupada pela artista possuem folhas de acanto, assim como as sancas em gesso. A artista instalará, ainda, um papel de parede com imagens dessas folhas na sala.
No último salão expositivo, estarão os trabalhos de Mariana Sussekind que acompanhou, ao longo de nove meses, o desmonte de um apartamento após a morte de sua proprietária. Sessenta fotografias desse processo irão compor a instalação “No dia que tiraram os lustres”, uma “pesquisa sobre o processo de olhar para trás, reolhar, descartar e preservar”, conta a artista. “Mariana fotografou o apartamento compulsivamente, com luz natural, sem interferência. As fotos, de tomadas diferentes e até algumas repetidas, serão montadas de forma instalativa, como se estivesse montando um filme, destacando como a memória é montada”, afirma a curadora Fernanda Lopes.
A instalação conta com um áudio ambiente, que ajuda a construir a ideia de memória e de passado. “São tempos distintos e desorganizados que criam uma narrativa lacunar onde o espectador é convidado a construir sua própria montagem. Uma grande história em andamento, mas que nunca dará conta de traduzir o que foi”, afirma Mariana Sussekind.
SOBRE AS ARTISTAS
Ilana Zisman Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Formada em Psicologia na Universidade Santa Úrsula-RJ, fez cursos livres na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Filosofia e Arte Contemporânea na PUC-Rio, Processo Criativo com Charles Watson e curso de Especialização em saúde mental no Instituto de Psiquiatria da UFRJ. Desenvolve, desde 2015, uma pesquisa artística através do que chama “tecnologia do fragmento”, na tentativa de reconstruir uma memória do inenarrável e do silêncio. Investiga como materiais que remetem às histórias podem ser utilizados para acessar um passado fraturado no tempo.
Maria Amélia Raeder Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Possui Pós-graduação em Arte e Filosofia pela PUC-Rio, especialização em artes pelo The Art Institute of Houston-USA e graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Bennett-RJ. Fez cursos livres na The Glassell School of Art (Houston-USA), na Associacion Estimulo de Bellas Artes (Buenos Aires–AR), na EAV-Parque Lage, na Escola Sem Sitio, no Paço Imperial, no Ateliê Mundo Novo, de Charles Watson, e participou do Laboratório de Estudos em Arte Contemporânea de Frederico Carvalho – UFRJ (RJ-Brasil). Pesquisa as camadas de significação das imagens, em especial na produção de sentido das imagens nas mídias de comunicação.
Mariana Sussekind Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Formada em Comunicação Visual pela PUC-Rio, pós-graduada em Fotografia na UCAM e em Cinema Documentário na FGV, com mestrado em Comunicação e Estética na ECO-UFRJ. Desde 2001 trabalha com montagem de cinema e vídeo se aprofundando em vídeoarte e documentário e leciona teoria e prática de montagem em cursos de cinema. Através da experimentação, do descontrole das imagens, e de uma angustiante observância do tempo, a artista mergulha no território feminino, onde seu corpo é a medida, a forma justa de suas possibilidades no agora.
Priscila Rocha Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Pós-graduada em história da arte e da arquitetura pela PUC-Rio, frequentou durante sua formação cursos do Parque Lage, no Rio de Janeiro, no Instituto Tomie Othake e na FAAP, em São Paulo. Pesquisa as relações dos vestígios do tempo no espaço e como o homem se relaciona com eles. Busca encontrar nessa memória espacial, elementos que possam ser apreendidos e ressignificados artisticamente por técnicas distintas, sublimando a experiência desapropriada.
SOBRE A CURADORA
Fernanda Lopes vive e trabalha no Rio de Janeiro. Doutora pelo Programa de Pós-Graduação da Escola de Belas Artes da UFRJ, Fernanda Lopes atua como Curadora Assistente do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. É organizadora, ao lado de Aristóteles A. Predebon, do livro Francisco Bittencourt: Arte-Dinamite (Tamanduá-Arte, 2016), e autora dos livros Área Experimental: Lugar, Espaço e Dimensão do Experimental na Arte Brasileira dos Anos 1970 (Bolsa de Estímulo à Produção Crítica, Minc/Funarte, 2012) e “Éramos o time do Rei” – A Experiência Rex (Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça, Funarte, 2006). Entre as curadorias que vem realizando desde 2008 está a Sala Especial do Grupo Rex na 29 a Bienal de São Paulo (2010). Em 2017 recebeu, ao lado de Fernando Cocchiarale, o Prêmio Maria Eugênia Franco da Associação Brasileira dos Críticos de Arte 2016 pela curadoria de exposição Em Polvorosa - Um panorama das coleções MAM-Rio.
Marcelo Macedo e Thainan Castro na Matias Brotas, Vitória
‘Terceiro Céu’ é a exposição que abre o calendário de 2020 da Matias Brotas Arte Contemporânea
A Matias Brotas Arte Contemporânea abre o calendário de 2020 apresentando os trabalhos de dois novos artistas que acabam de ingressar ao grupo de artistas representados pela galeria, Marcelo Macedo e Thainan Castro, além da poetisa convidada Catarina Lins - finalista do Prêmio Jabuti em 2018, a mais tradicional premiação literária do País -. A mostra, intitulada ‘Terceiro Céu’, busca amplificar os sentidos, os sentimentos e as memórias através das obras inéditas inspiradas em particularidades e vivências próprias, explorando a carga memorial afetiva e novas criações.
Garimpo, coleções e construções. É através dessa tríade que o artista Marcelo transita entre o criar e recriar, ressignificando objetos e/ou parte deles que foram descartados. Dessas combinações e possibilidades é gerado um grande quebra-cabeça. São nos encontros entre essas peças que os objetos passam a ter uma nova vida em um novo corpo, transformando-se em obras de arte.
Já o artista carioca Thainan apresentará trabalhos que se desdobram em lembranças de memórias afetivas da infância com a família e dele mesmo. O papel de poesia que o artista usa como base para os desenhos eram do acervo da sua avó que dava aulas de declamação, conta ele, e possui pontos de luz feitos de ouro. “Essa série sobre memória, encontrada e perdida, traz imagens se diluindo em meio a palavras apagadas, histórias que ouvimos, que lembramos um instante mas se esvaem no tempo, no esquecimento e na correria do nosso dia a dia, mas ao mesmo tempo estão lá, eternizadas naquele pequeno momento, no papel”, conta Thainan.
Sobre os artistas
Marcelo participou de exposições como De Fora pra dentro, Centro Cultural dos Correios Rio de Janeiro (2019) - curadoria Carlos Bertão; Travessia, Espaço Cultural Sergio Porto, Rio de Janeiro (2016) - curadoria Julieta Roitman; Refração, Centro Cultural João Nogueira, Rio de Janeiro (2017) - curadoria Marcelo Duarte; Deslocado, P31 Hospital Psiquiátrico Julio de Matos, Lisboa, Portugal (2015) - curadoria Sandro Resende. Participou de residências como FBAIr (Facebook Artist in Residence), Facebook Headquarter, São Paulo Brasil (2017) - curadoria Jayelle Hudson, 3Fish Printmaking Studios, San Francisco EUA (2014) - curadoria Amy Rupple.
Thainan é um artista plástico nascido no Rio e Janeiro. Formou Desenho Industrial Projeto de Produto pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Design Comunicação Visual pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Participou recentemente da Feira Arte Formatto, em São Paulo (2019); Exposição solo “Daquele Verão” na Galeria Escafandro, no Rio de Janeiro (2019) e da Casa Cor Vitória e Miami (2019).
Dia Internacional da Mulher no MASP, São Paulo
Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, todas as mulheres terão entrada gratuita no MASP (Av. Paulista 1578) no dia 8/3, domingo, no horário de funcionamento normal da instituição, das 10h às 18h.
Na loja, todos os catálogos do museu de artistas mulheres terão 50% de desconto e todos os livros de outras editoras sobre mulheres ou escritos por mulheres terão 30% de desconto.
Já as mulheres que almoçarem no restaurante A Baianeira no domingo ganharão um shot de brinde da batidinha da casa, feita com amendoim e catuaba. Lembrando que, para acessar a loja e o restaurante, não é necessário pagar ingresso para entrar no museu.
Além disso, durante todo o domingo basta usar o código 8DEMARÇO para ter 30% de desconto da adesão de qualquer categoria do Amigo MASP, o programa de sócios do museu.
Juan Melé na Mul.ti.plo, Rio de Janeiro
Mostra de um dos expoentes do Movimento Madi reúne trabalhos raros e nunca expostos no Rio de Janeiro
A Mul.ti.plo Espaço Arte apresenta uma verdadeira surpresa: a exposição do pintor e escultor argentino Juan Melé (1923-2012), um dos expoentes da arte concreta na América Latina. A individual Juan Melé - construtor de poesia contempla 20 obras do artista, entre os seus clássicos gofrados (gravura em metal) e pinturas, que serão apresentadas, em seu conjunto, pela primeira vez no Rio de Janeiro. Trata-se de uma rara oportunidade de conhecer a imensa criatividade desse inovador artista latino-americano. A exposição na Mul.ti.plo abre dia 5 de março (quinta-feira), às 19h, com entrada franca, e fica em cartaz até 23 de abril de 2020, no Leblon.
Melé foi membro da Associação Arte Concreto-Invenção e cofundador do Grupo Arte Nuevo, eventos inaugurais do Movimento Madi, na Argentina. Segundo o próprio Melé, “a geração de 1940 assume uma genuína atitude criadora, quer dizer, não só de receber influências senão, sobretudo de trazer novos elementos criativos ao desenvolvimento da arte”. É importante lembrar que, naquele tempo, Buenos Aires era culturalmente a cidade mais importante latino-americana, rivalizando apenas com Rio de Janeiro. O grupo de jovens artistas construtivistas do qual Melé faz parte deu um basta nas meras influências europeias e passou a ser protagonista de uma arte reconhecida como inovadora em todos os centros de vanguarda, nomeadamente Paris.
Obras de Juan Melé fazem parte de importantes acervos e hoje é disputado nas mais significativas casas de Leilões. "A leitura de sua irrestrita admiração por Cézanne, a sua proximidade fraterna com Max Bill e a sua primeira visita ao recluso atelier de Constantin Brancusi foram aos poucos me encantando. A cada passo reconhecia no seu trabalho um rigor poético capaz de transbordar uma visibilidade de tirar o tapete de baixo dos pés dos meros influxos europeus, conquistando voz e luz própria", conta Maneco Müller, diretor da galeria.
Juan Melé (15 de outubro de 1923 - 29 de março de 2012)
Nascido em Buenos Aires, Argentina, Juan Melé frequentou a Escola Manuel Belgrano de Belas Artes, onde conheceu Gregorio Vardánega e Tomás Maldonado. Mais tarde, estudou na Escola Nacional de Belas Artes “Prilidiano Pueyrredón”, formando-se em 1945. Um ano depois, ingressou na Associação de Invenção de Arte Concreta. Em 1948 e 1949, estudou na École du Louvre, em Paris, com uma bolsa do governo francês, e conheceu artistas como Georges Vantongerloo, Antoine Pevsner Constantin Brancusi, Sonia Delaunay, Max Bill e Michel Seuphor. Em 1950, voltou à Argentina, onde continuou sua carreira artística, começou a ensinar e publicou vários artigos. Melé expôs seu trabalho na 2ª Bienal de São Paulo (1953), Cayman Gallery (Nova York, 1978); Arch Gallery (Nova Iorque, 1983 e 1985); Museu “Eduardo Sívori” (Buenos Aires, 1986); Museu de Arte Moderna (Buenos Aires, 1987); Argentina Art-Invention Concrete 1945. Madi Group 1946, Galeria Rachel Adler (Nova York, 1990); Arte-invenção concreta - Madi art. Argentina 1945-1960, Haus für Konstruktive e Konkrete Kunst (Zurique, 1991); Museu de Arte Moderna (Sevilha, 1994); Arte abstrata do Rio da Prata. Buenos Aires e Montevidéu 1933/53, Sociedade das Américas (Nova York, 2001); Juan Melé, pensamento construtivo, Universidade Três de Fevereiro (Buenos Aires, 2012); Corpo a corpo em diálogo, Expotrastiendas (Buenos Aires, 2011). Em 1999, publicou suas memórias, La vanguardia del 40. Morreu em Buenos Aires, em 2012.
março 3, 2020
Eleonore Koch e Alfredo Volpi na Marcelo Guarnieri, São Paulo
A Galeria Marcelo Guarnieri apresenta, de 9 de março a 9 de abril de 2020, em sua sede de São Paulo, a primeira exposição do ano, que reúne obras de Eleonore Koch e Alfredo Volpi. Pinturas produzidas por Volpi nas décadas de 1950 e 1970 dividem o espaço das duas salas da galeria com pinturas que Eleonore Koch produziu nas mesmas épocas. Além destas, um dos cadernos de desenho da artista elaborado entre as décadas de 1950 e 1980 e um farto conjunto de estudos em gravura, pintura e desenho produzidos por ela entre as décadas de 1970 e 1990 também integram a mostra. O diálogo entre Volpi e Eleonore Koch nesta exposição ressoa a importante relação de trocas que tiveram ao longo dos anos – inicialmente como professor e aluna e depois como amigos e parceiros de profissão – dando continuidade ao programa iniciado pela galeria em 2019, que apresenta de maneira simultânea obras de artistas que possuíram um diálogo durante a sua trajetória ou que podem ser lidas a partir de aproximações conceituais e poéticas.
Naturezas-mortas, jardins ingleses, ambientes domésticos, marinhas e desertos. Ao longo de sua produção, Eleonore Koch (Berlim - Alemanha, 1926) explorou, através destes temas, o manejo de cores e formas que materiais como a têmpera, o pastel, o óleo, o grafite e o carvão lhe permitiam. Os campos de cores que preenchem os elementos de suas composições evidenciam sua estrutura através das pinceladas ou dos traços em paralelo que os compõem, transparência de um fazer que se traduz também no uso da perspectiva – quando a representação de alguns objetos mostra-se fiel a um ponto de fuga ao mesmo tempo em que a de outros ignora-o completamente, reduzindo-os a formas geométricas planificadas. Koch permite aos seus jarros de flores que flutuem no espaço e que o chão e o teto se distingam apenas pela cor. Seus estudos em grafite nos mostram que sua preocupação não centrava-se somente na cor, mas também no arranjo das geometrias – das linhas e superfícies – e no balanceamento de tons que o lápis lhe permitia explorar através das intensidades do traçado.
Frequentemente mencionada como discípula de Volpi, Eleonore Koch possuiu uma formação bastante diversa, através de professores artistas como Yolanda Mohalyi, Samson Flexor, Bruno Giorgi, Elisabeth Nobiling e Arpad Szenes e também de suas temporadas de estudo e trabalho fora do Brasil, em Paris entre 1949 e 1951 e em Londres entre 1968 e 1989. A maioria dos estudos e pinturas que integram a exposição foram produzidas justamente durante os vinte anos que viveu na Inglaterra, onde admitiu ter sofrido grande influência da pop art britânica, através do trabalho de artistas como David Hockney. Estão reunidos na mostra alguns conjuntos de estudos que permitem ao público observar o desenvolvimento de uma pintura ou de um pastel a partir de pequenas variações dos elementos que as compõem – como a composição de uma mesa e cadeira que em uma das versões se apresenta somente em traços esquemáticos e em outra já se soma outra cadeira à frente de um fundo negro em carvão, variando em mais três versões. O trabalho com texturas, presente no emprego da têmpera e do carvão, se completa no uso da colagem de papel cartão e papel jornal que dão forma e cor aos vasos, árvores, pétalas e até mesmo aos degraus das escadas dos seus jardins. Recortes do que parecem ser listas telefônicas dos residentes da cidade de Londres dão profundidade e ritmo às frondosas copas das árvores através dos grafismos dos números e das letras que os compõem.
Pertencente a uma geração anterior de imigrantes europeus que fixaram residência no Brasil, Alfredo Volpi (Lucca - Itália, 1896) estabelece-se em São Paulo ainda mais jovem que Eleonore, com apenas um ano de idade. O encontro com Koch se daria dali a 56 anos, em 1953, em seu ateliê no bairro do Cambuci, por intermediação do colecionador, crítico e psicanalista Theon Spanudis. Naquele mesmo ano, Volpi receberia o prêmio de Melhor Pintor Nacional conferido pela Bienal de São Paulo, onde havia apresentado suas "Casas", representações de fachadas de casas populares sintetizadas em formas geométricas. A década de 1950 marcava um momento de maturação da pesquisa de Volpi sobre a simplificação formal de suas composições. Já distanciada de um certo figurativismo que havia guiado sua produção até então, empenhava-se na construção de um vocabulário de formas elementares que surgiam das portas, janelas, arcos e bandeirinhas que faziam parte de seu cotidiano e que lhe serviram para explorar as possibilidades da técnica e da composição.
Volpi inicia seu contato com a pintura em 1911, trabalhando como pintor decorativo de paredes, ofício que mantém até pelo menos a década de 1940. Sua expertise artesanal também lhe deu suporte quando trocou a tinta a óleo pela têmpera, indo na contramão do imaginário industrial da década de 1950. Foi com Volpi que Eleonore Koch aprendeu as técnicas de uso e preparo da têmpera e de pigmentos feitos a partir de terras naturais, e foi também a partir dali que passou a adotá-las frequentemente em suas pinturas, definindo seu estilo. Os debates figuração vs. abstração, formalismo vs. informalismo eram bastante intensos naqueles anos que Koch passou com Volpi em seu ateliê, entre os anos de 1953 e 1956.
Em 1953 o MAM/RJ organiza em Petrópolis a 1ª Exposição Nacional de Arte Abstrata, reunindo diversas tendências do abstracionismo no Brasil, do lírico ao geométrico, e em 1956 o grupo Ruptura organiza a I exposição Nacional de Arte Concreta no MAM/SP, que já explicitava divergências dentro do próprio movimento concreto. Apesar de ter sido um dos participantes desta última mostra – que também ocorreu no Rio de Janeiro no ano seguinte –, Volpi preferia abdicar da associação a grupos ou movimentos, optando pela liberdade de poder incorporar em suas obras elementos plásticos de variadas ordens. Tal posicionamento pode ser explicitado não somente pelos afrescos que produziu na capela de Nossa Senhora de Fátima em Brasília, mas também pela pintura da década de 1950 apresentada nesta exposição, na qual figura um anjo humanóide sobre um fundo de losangos verdes e azuis. Essa fluidez entre a figuração e a abstração ou entre o formal e o informal também pode ser encontrada nas pinturas da década de 1970, como "Fitas e Mastros", por exemplo. Neste caso, a obra transita entre uns e outros através de uma composição ritmada formada pelo intercalamento de cores em uma malha geométrica irregular.
José Roberto Bassul na Referência, Brasília
Com curadoria de Marília Panitz, o fotógrafo apresenta duas séries multipremiadas no Brasil e no exterior em um abordagem crítica da arquitetura por meio de fragmentos de construções modernas e pós-modernas
No dia 7 de março, sábado, a partir das 17h, a Referência Galeria de Arte inaugura a mostra “Sobre quase nada”, do fotógrafo José Roberto Bassul. Com curadoria de Marília Panitz, a exposição apresenta 36 imagens de duas séries inéditas: “Poéticas mínimas” e “Quase nada”. Fragmentos de edificações modernas e pós-modernas destacam o inusitado no espaço comum e resultam em quase abstrações. Ao abordar a arquitetura de forma crítica e reflexiva, o artista procura "desenhar pensamentos, projetar desejos, construir espaços para a imaginação. A mostra fica em cartaz até o dia 11 de abril, com visitação de segunda a sexta, das 10h às 19h, e sábado, 10h às 15h. A entrada é gratuita e a classificação indicativa é livre para todos os públicos. A Referência Galeria de Arte fica na 202 Norte Bloco B Loja 11 – Subsolo, Asa Norte, Brasília – DF. Telefone (61) 3963-3501.
Bassul afirma que fotografa a arquitetura na tentativa de desenhar pensamentos, de projetar desejos, de construir espaços para a imaginação. “Poéticas mínimas” apresenta um recorte operado pelo artista quando olha a arquitetura modernista que define a cidade onde vive. Já “Quase nada” traz um mergulho (para o alto) na arquitetura pós-moderna das grandes superfícies espelhadas, que apreende com seu olhar de viajante. “No espaço expositivo, as obras parecem criar duas possibilidades aparentemente opostas de abordagem: uma que pressupõe deixar-se penetrar pela quase invisibilidade de cada imagem, absorvidos que somos por sua discreta veemência; e outra, oferecida pela visão do conjunto, forma incidentalmente uma espécie de escrita pictográfica, que transforma a (quase) abstração da imagem em um (quase) tratado sobre o exercício de (re)ver a mesma paisagem urbana como descrição inusitada daquilo que, de tão visto, torna-se invisível aos nossos olhos”, afirma a curadora Marília Panitz.
Sobre “Poéticas Mínimas”
As fotografias desta série são singelas. Contrastam com o mundo em que vivemos, saturado por imagens de cores vibrantes, apelos consumistas e signos hedonistas de realização pessoal. Buscam refúgios visuais na paisagem urbana, também poluída por excessos. Não por acaso, concentram-se em edifícios de linguagem modernista. De sentido estético e ético, o modernismo pautava-se pela economia de formas e de meios. Guiava-se por uma utopia político-social de caráter coletivo e universalista. Na pós-modernidade, ao avesso, convivemos com a ressurgência dos nacionalismos xenófobos, com a exacerbação do consumo predatório e com a disseminação do individualismo e da ostentação.
Minimalista, com poucos elementos geométricos expressos em cores esmaecidas, "Poéticas Mínimas" toma a arquitetura como objeto fotográfico para evocar a necessidade de pausas e silêncios. Para valorizar o vazio como instância de reflexão, como espaço de conscientização crítica no contrafluxo das torrentes imagéticas. Na síntese de David Le Breton, “ficar em silêncio e o caminhar são hoje em dia duas formas de resistência política”.
Sobre “Quase Nada”
Na era do consumo e do individualismo, a arquitetura tem sido concebida pelas corporações como espetáculo, como imagem que afirma poder e determina relações sociais. A série "Quase Nada" consiste em representações abstratas dessa arquitetura contemporânea. Frações quase irreconhecíveis de edifícios notáveis articulam singelas composições geométricas. Tomadas em diferentes cidades, cada fotografia é o resultado de apenas um frame, sem nenhum acréscimo ou justaposição em processos de pós-produção. Os efeitos visuais são obtidos tão-somente pela busca de ângulos incomuns, com o propósito de reduzir ao mínimo os elementos expressivos das edificações.
As imagens resultantes aludem ao minimalismo tanto como linguagem visual quanto como atitude crítica em relação à “sociedade do espetáculo” (Guy Debord) em que vivemos. Em resumo, ao despir edifícios pretensiosos de sua representação simbólica, “Quase Nada” pretende contrapor-se à arquitetura como signo de poder.
Séries premiadas
Apresentadas em premiações internacionais, as duas séries receberam reconhecimento de críticos e curadores. “Quase nada” foi premida no Int'l Photography Awards - IPA 2019, ficando em segundo lugar, no Moscow Int'l Foto Awards 2019 ganhou a medalha de prata e recebeu menção honrosa no ND Awards 2019 e no Budapest Int'l Foto Awards 2019. “Poéticas mínimas” venceu a medalha de ouro do Moscow Int'l Foto Awards 2019, ganhou o prêmio de melhor portfólio no FotoRio 2018 e medalha de bronze no Prix de la Photographie Paris 2019 e no Tokyo Int'l Foto Awards 2018.
Sobre José Roberto Bassul
Arquiteto e fotógrafo, José Roberto Bassul nasceu no Rio de Janeiro e vive em Brasília. Sua fotografia volta-se para a arquitetura, a paisagem urbana e para aspectos contemporâneos da vida nas cidades. Periodicamente ministra cursos e oficinas sobre “fotografia autoral de arquitetura”. Recebeu diversos prêmios, entre os quais o 1° lugar no International Photography Awards – IPA 2018, além de gold awards no Prix de la Photographie Paris – PX3 2016 e 2017 (architecture e fineart) e no Moscow International Foto Awards – MIFA 2019. Publicado em revistas especializadas no Brasil, França, EUA, Inglaterra, México e Argentina, seu trabalho tem sido frequentemente exposto em festivais, galerias e museus, em mostras individuais e coletivas, no Brasil e no exterior. Em 2018 publicou o fotolivro Paisagem Concretista, já esgotado. Tem obras nas Coleções Joaquim Paiva e Sérgio Carvalho e outras importantes coleções privadas, e nos acervos do Museu Nacional da República, em Brasília, e do MAR – Museu de Arte do Rio.
Bruno Munari na Bergamin & Gomide, São Paulo
Na primeira exposição do ano, entre os dias 7 de março a 18 de abril de 2020, a Bergamin & Gomide apresenta Bruno Munari: Sempre uma coisa nova, do artista italiano que rompeu os paradigmas entre arte e design. A exposição reúne cerca de 40 obras que compreendem o período de 1947 a 1995, dentre colagens, gravuras, desenhos, pinturas, esculturas, entre outras.
Bruno Munari (1907-1998) foi artista, designer gráfico e pedagogo. Constantemente versátil e inventivo, é considerado um dos maiores gênios do século XX. Grande parte de sua obra esteve associada ao interesse pedagógico e ao desejo de expandir a compreensão do homem sobre o mundo, através do desenvolvimento de novas formas de comunicação visual.
Serão apresentadas na exposição obras como a série “Negativo Positivo” (1950-1995), compostas por formas geométricas de cores vibrantes, onde o artista explora os princípios da Gestalt. Esta série foi o ponto de partida para trabalhos tridimensionais, esculturas cinéticas e fixas, como a série “Scultura da Viaggio” [Esculturas para Viagens] (1989). Criadas para aqueles que viajam com frequência - já que podem ser dobradas -, elas são feitas de materiais comuns, como madeira, fita, plástico, barbante e papelão cortado, e demonstram o interesse contínuo de Munari na ressignificação do objeto de arte. Munari também incorpora o metal nas esculturas, como na série “Macchina inutile sincron” [Máquina sincrônica inútil] (1956-1970).
Além disso, poderão ser vistas pinturas e colagens das séries “Curve di Peano” [Curva de Peano] de 1995 e “Studio di design” (1947), onde explorou a abstração e as relações espaciais na tela e no papel. A icônica série de Munari, “Forchette Parlanti” (1958), também será exibida. Em português, os “Garfos Falantes” são feitos de prata e dobrados propositalmente com o objetivo de distorcer a função do objeto, encorajando o expectador a fazer um exercício de imaginação. Aliás, a imaginação fértil foi uma característica presente ao longo de toda a trajetória deste artista singular, reconhecido por ser um espirituoso inventor incansável.
SOBRE O ARTISTA
Bruno Munari nasceu em 1907 em Milão, na Itália, e iniciou sua carreira ainda jovem, influenciado pela segunda geração do futurismo italiano. Em 1927, expôs pela primeira vez, enquanto já exercia atividades como diretor de arte e ilustrador. Embora Munari tenha se afastado rapidamente do futurismo nos seus vinte e poucos anos, os temas que desenvolveu durante esse período permaneceram presentes ao longo de sua produção artística, como a importância do toque, dos sentidos e das realidades imaginadas.
Ele foi um dos fundadores do Movimento Arte Concreta (1947) na Itália, o que aproximou seu trabalho da abstração. Após a Segunda Guerra Mundial, a prática de Munari se expandiu para incluir o design de produtos, layouts, bem como brinquedos e livros para crianças, pelos quais é mais conhecido pelo público em geral. Os livros de Munari, particularmente aqueles feitos para crianças, enfatizam sua crença nos potenciais pedagógicos da arte e do design.
Bruno Munari exibiu extensivamente ao longo de sua vida, participou de relevantes exposições internacionais como a Documenta 3 e Documenta 4 em Kassel (1964-1968), e de nove edições da Bienal de Veneza. Seu trabalho também foi exibido em instituições que incluem o MoMA em Nova York, o Museum Fridericianum em Kassel, o Stedelijk Museum em Amsterdã, entre outros.
Fabio Cardoso na Bolsa de Arte, São Paulo
Fabio Cardoso reúne paisagens mentais em exposição na Bolsa de Arte
A Galeria Bolsa de Arte tem o prazer de apresentar, a partir de 7 de março, das 11h às 15h, Ode ao Pássaro, exposição inédita do artista paulistano Fabio Cardoso. A mostra é composta por 12 pinturas de paisagens mentais inspiradas nos movimentos sinfônicos de Beethoven.
A Paisagem na pintura é sempre uma paisagem mental, que vai além da visualidade do real, do natural. Para o artista, a mata é a mais sinfônica das paisagens e essa é sua maior ligação com Beethoven, um revolucionário musical e pioneiro do movimento romântico.
A célebre “Nona sinfonia” de Beethoven é especialmente famosa por seu movimento final, que reúne coro e solistas para interpretar versos da “Ode à Alegria, de Friedrich Schiller, gênero até então exclusivamente instrumental, considerado um de seus mais notórios atos de visionarismo e rebeldia artística.
Em suas últimas séries de trabalhos, como as exibidas em São Paulo na Caixa Cultural, em 2016, Cardoso usava apenas tinta preta nas paisagens, em um processo de criação singular de subtração, onde o artista começa com uma tela coberta de tinta preta, que vai sendo removida com terebintina, até que as figuras apareçam.
Criadas em 2019 e 2020, as obras exibidas agora na Bolsa de Arte transitam entre a pintura e o desenho, que assim como a nona sinfonia de Beethoven ganhou vozes, pouco a pouco foram ganhando cor. Com uma nova concepção de luz, as novas paisagens de Fabio Cardoso permitem que todo o ambiente seja percebido e a perspectiva facilita o posicionamento dos elementos de cor em relação ao seu contexto físico.
José Guedes na Amparo 60 Califórnia, Recife
Na quinta-feira, dia 5 de março, a partir das 18h, a Galeria Amparo 60 inaugura a sua primeira exposição de 2020, Fênix, do cearense José Guedes. O artista foi convidado pela galerista Lúcia Costa Santos para abrir a temporada 2020, apresentando essa série inédita na cidade, mas que já passou por Fortaleza, São Paulo, Rio de Janeiro, Paris e Guayaquil. O texto crítico da mostra é assinado por Daniela Bousso (extraído do livro homônimo, no qual quase todas as obras da série estão reproduzidas).
São 19 trabalhos recentes, produzidos em 2019, da série Fênix. A premissa do artista está exposta no título que remete ao pássaro da mitologia grega que, ao morrer, entrava em autocombustão, mas ressurgia das próprias cinzas. A proposta de Guedes é fazer isso com obras de arte consagradas. Ele selecionou artistas que, segundo ele, têm uma caligrafia marcada, aqueles cujos trabalhos rapidamente são reconhecidos, para ter como base de sua série. “Toda destruição não deixa de ser uma reconstrução”, afirma.
“Meu trabalho sempre teve essa relação com a história da arte. Eu sempre revisitei grandes artistas. Tenho uma série que dialoga com as fendas do argentino-italiano Lúcio Fontana, em outra trabalho com o azul criado pelo artista francês Yves Klein, o Internacional Klein Blue. Enfim, a história da arte está sempre presente”, complementa.
As obras da série passaram por um longo processo. “O trabalho se inicia com a fotografia. Muitas dessas obras eu fotografei ao longo dos anos em visitas a museus e outras instituições, outras tive que conseguir imagens em excelente resolução para que pudesse realizar o projeto. Com essas imagens em alta qualidade, selecionei um tipo de papel específico, tamanho A3, com 200g, no qual faço a impressão”, detalha Guedes. Depois, com a obra impressa neste papel, ele o amassa e posteriormente fotografa esse “objeto”. Essa imagem, então, trabalhada e recortada digitalmente e posteriormente impressa numa folha de alumínio. Todo esse processo garante um efeito tridimensional à obra, que, é na verdade, bidimensional.
E é no suporte bidimensional, a pintura, que está o âmago da trajetória artística de 47 anos do cearense. “A base é a pintura e meus trabalhos buscam formas de expandi-la, colocando-a em contato com outros suportes, a exemplo da fotografia. Tenho trabalhos que trazem as duas técnicas, metade pintura, metade fotografia. Tenho um trabalho encima das fotografias da Califórnia de Ansel Adams. Posso dizer que em 90% do meu trabalho a pintura está presente”. A dedicação a esse suporte faz com que Guedes tenha, em todas as suas obras, uma preocupação e uma atenção especial a três aspectos que jamais podem sair da cabeça de um pintor: o espaço, a cor e a textura. São elementos que sempre estão muito marcados em seus trabalhos, ainda quando são desenvolvidos em outros suportes. “Estou sempre pensando em arte, em novas obras e propostas. Geralmente tenho uma ideia e a partir dela vejo qual seria o melhor suporte para desenvolvê-la, estão sempre surgindo novas plataformas para fazer arte”, conta lembrando que há anos vem desenvolvendo um projeto chamado Agora, em sua conta no Instagram e no Facebook.
Guedes, que já coordenou o Centro Dragão do Mar, em Fortaleza, por 10 anos, e que hoje gerencia o espaço Casa D´Alva, tem uma relação especial com o Recife e com artista de Pernambuco de sua geração, como João Câmara, Gil Vicente, José Patrício e José Paulo. O artista já participou de algumas exposições na cidade. Em 1999, apresentou a individual Moradia, na Galeria Vicente do Rego Monteiro, da Fundaj, expôs no Panorama da Arte Brasileira, que circulou pelo Brasil em 2003, passando pelo Mamam. A sua última mostra no Recife, Sobre Pintura, aconteceu em 2004, na própria Amparo 60. A exposição Fênix quebra esse hiato de mais de 15 anos sem expor em Pernambuco.
José Guedes
Nascido em Fortaleza em 1958, formou-se em Direito pela Universidade de Fortaleza, em 1983. Foi diretor de instituições como Casa de Cultura Raimundo Cela (1986 a 2000) e Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar (1998 a 2003, e 2007 a 2012). Participou de inúmeras mostras coletivas, realizou diversas exposições individuais, possui intervenções urbanas em Fortaleza, Edimburgo, Glasgow e Paris, tem obras em importantes instituições como Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte de Santa Catarina, Museu de Arte Moderna da Bahia , Museum of Latin American Art de Long Beach, Daros Latinamerica – Zurique, Neuhoff Gallery - Nova York, International Mobil Madi Museum – Budapest, IVAM de Valência, na Espanha, entre outros.
Isabela Sá Roriz na Simone Cadinelli, Rio de Janeiro
A artista ocupará uma edificação desocupada anexa à galeria com uma instalação que discute estratégias de potência e intensidade dos corpos, diante das tentativas de controle das percepções. A exposição se insere na programação da galeria dentro do tema arte, arquitetura e urbanismo.
Simone Cadinelli Arte Contemporânea inaugura no próximo dia 9 de março de 2020, às 19h, a exposição A vulnerabilidade da solidez, com uma instalação inédita criada pela artista Isabela Sá Roriz (Rio de Janeiro, 1982) na edificação desocupada anexa à galeria. Usando polímeros de diferentes densidades, como cera, látex e silicone, ela discute de que maneira se pode escapar de “perspectivas formativas”, e assim “escorrer, sair, resistir aos limites”.
Na instalação, barras geométricas de cera suspensas do teto sustentam um polímero de catalisação lenta, que escorrem em direção ao chão até o seu estancamento, sugerindo “uma deformidade sobre a forma”. Oriunda da escultura, a artista escolheu esses materiais por possuírem macromoléculas semelhantes às encontradas no corpo humano. “Para responder à questão que me fiz, sobre como resistir à autoridade das formas, minha primeira ideia foi desestabilizar a autoridade da razão sobre o resto do corpo, invertendo a ordem racionalista. Assim, o corpo força o pensamento a pensar, e não mais é o obstáculo do pensamento”.
Isabela Sá Roriz comenta que “já que nossa sociedade é uma construção disforme, e que passamos por vários processos autoritários de formatação, quis apresentar distorções de corpos, fluxos, insubordinações de materiais, o disforme enquanto potência, em contraposição e tensão, às contenções geométricas e aos processos de formatação”, A artista quis propor uma diferente relação do corpo e a espacialidade, “com potência e intensidade”. “A cera, com uma densidade diferente, um sólido maleável, geométrico, apresenta uma estrutura de formatação, mas ao mesmo tempo é um material que está contido, na imanência de derreter, de sair, escorrer. É portanto uma solidez temporária, capaz de ser transformada”, diz.
A artista vem sedimentando sua pesquisa a partir dos diferentes estudos sobre o corpo dentro da estrutura sociopolítica, desenvolvidos, entre outros pensadores, por Georges Bataille (1897- 1962), Gilles Deleuze (1925-1995), Barbara Szaniecki, Helena Katz (1950) e pelo conceito de autopoesis criado nos anos 1970 pelos biólogos chilenos Francisco Varela (1946-2001) e Humberto Maturana (1928). Isabela Sá Roriz se interessa em discutir “a borda entre corpo e espaço e a permanente troca e produção de conhecimento entre eles”. “Portamos os espaços que habitamos no corpo, na carne, assim seus processos de formação seguem conosco”.
“Como resistir à autoridade das formas?”, indaga novamente a artista. “Como se pode conseguir, diante de perspectivas formativas, escorrer, sair, escapardos limites? O escorrimento do corpo pode ser uma estratégia de libertação”, afirma.
Isabela Sá Roriz mostrou parte desse processo de pesquisa na coletiva “Formação Deformação” (2018), nas Cavalariças da EAV Parque Lage, com curadoria de Ulisses Carrilho, e agora apresenta o projeto completo.
ARTE, ARQUITETURA E URBANISMO
A exposição se insere na temática “Arte, Arquitetura e Urbanismo”, que Simone Cadinelli Arte Contemporânea destacará em sua programação deste ano, em conexão com a escolha pela UNESCO de que o Rio de Janeiro em 2020 é a Capital Mundial da Arquitetura, em função da realização do UIA (União Internacional dos Arquitetos), a ser realizado em julho na cidade.
Para Simone Cadinelli, “as intervenções urbanas e a arquitetura proporcionam mudanças significativas e renovação de espaços em diversas escalas nas ruas, bairros e cidades”. Com a iniciativa, ela pretende “dar um novo sentido, experimentar algo que proporcione uma mudança positiva, assim como a arte tem o poder de se manifestar”. “Foi pensando no trinômio Arte, Arquitetura e Urbanismo, inspirada na minha história profissional (arquiteta de formação), e motivada pelo Congresso Mundial de Arquitetura que será sediado no Rio de Janeiro, neste ano de 2020, que propus à artista visual Isabela Sá Roriz a realização de uma instalação, fruto da sua pesquisa em torno de experimentações de materiais e da borda entre corpo e espaço”, conta. “Proponho repensar o espaço fechado em uma edificação da vila que abriga a galeria, e ressignificá-lo com uma intervenção artística, que vai proporcionar ao visitante a leitura da intenção da artista com a exposição, e possibilitar uma mudança na relação deste espaço interno com a rua e com o bairro”, afirma Simone Cadinelli.
ISABELA SÁ RORIZ
Nascida em 1982, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha, Isabela Sá Roriz é artista visual, mestre em Linguagens Visuais pela UFRJ (2012), onde por quatro anos foi professora temporária no curso de Artes Visuais/Escultura da Escola de Belas Artes. Ganhou o primeiro lugar na XX Bienal de Santa Cruz de La Sierra, em 2016, e foi finalista do III Prêmio Reynaldo Roels Jr., em 2018, e selecionada para o programa de imersões artísticas, ambos na EAV Parque Lage, em 2019. Participou doPrograma Incubadora Furnas Sociocultural, que abrigou e investiu em artistas plásticos emergentes. A artista participou de mostras no Brasil e no exterior em importantes espaços culturais, como: Fundação Eugênio de Almeida, em Évora, Portugal, Museu de Arte Contemporânea de Niterói, Solar dos Abacaxis, Museo de Arte Contemporáneo de Santa Cruz de La Sierra, Bolívia, e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
A construção de alguns de seus trabalhos evoca instabilidades físicas para desestabilizações ideológicas, propõem uma ação confrontadora diante de perspectivas dominantes e resignações pessoais, construindo pequenos “ataques” subjetivos, apontamentos poéticos, entendendo também a impermanência de sua temporalidade. Assim, “a instância política é poética, e entendo o espaço como uma categoria produtiva, um acontecimento, o local das transformações sociais e não um fundo à priori homogêneo ou heterogêneo, onde as ações se estabelecem”.
Ganhou as bolsas de pesquisa Formação Deformação – Qualquer Direção fora do centro, na EAV Parque Lage, 2018; Capes (Mestrado), 2011; e Iniciação Artística e Cultural, UFRJ (Graduação), 2006 e 2007.
março 2, 2020
Emilia Estrada e María Sabato na Residência Adelina, São Paulo
Questões como identidade, territorialidade, memória, história e pertencimento são alguns dos temas abordados pelas argentinas María Sabato e Emilia Estrada
No próximo dia 15 de fevereiro, às 13h, a Adelina Instituto abre a temporada de ateliês abertos com exibição dos processos de pesquisas de duas artistas que fazem parte do 4º círculo da residência.
A ideia da Residência do Instituto Adelina é proporcionar aos artistas uma troca maior com o público durante o seu processo de criação, uma vez que o espaço poderá ser visitado no horário de funcionamento do instituto, assim como acontece com uma exposição. E os frequentadores do espaço poderão acompanhar as artistas trabalhando, interagir com elas e entender mais as pesquisa e obras.
As artistas María Sabato e Emilia Estrada, dividem o espaço dos ateliês e expõe ao público seus processos e pesquisas. Apesar de temas diferentes, as duas encontram pontos de similaridade para trocas.
Emilia Estrada, é a segunda geração, filha de imigrantes palestinos que vieram no século passado na região andina argentina de Cuyo. Encontra-se mapeando e pesquisando sobre a existência de territórios batizados com o nome Palestina na América Latina, fazendo foco nas quatro maiores, presentes do interior do Brasil nos Estados de Alagoas, Goiás, Pará e São Paulo. Para aprofundar sua pesquisa, Emilia passou uma semana na cidade de Palestina, aproximadamente 500 km da capital de São Paulo, recortando material historiográfico e produzindo registros fotográficos e audiovisuais como entrevistas com os habitantes, orientadas particularmente à uma indagação sobre possíveis vestígios culturais palestinos remanescentes, que serão organizados e expostos durante a Residência Artística na Adelina Instituto. O resultado da experiência e da pesquisa traz à tona outras narrativas ligadas à ampla história da ocupação do interior pelo regime colonial e religioso, posteriormente pelo movimento migratório no começo do século XX. Um repertório amontoado, amalgamado, aglomerado de símbolos aparecem na constituição do imaginário de uma “terra prometida”, pouco relacionado com uma procedência imigrante palestina e muito próxima aos efeitos históricos da dominação de supremacia ideológica.
María Sabato, propõe-se a apresentar um trabalho em co(e)laboração com a artista Anna Bella Geiger (Rio de Janeiro, Brasil, 1933). A proposta de criação e investigação artística visa a reencenação e ressignificação do vídeo ‘Mapas Elementares nº3’ (1976), criado pela artista carioca. Trata-se de um poema visual onde pode-se ver Anna Bella traçando o mapa da América do Sul. A cada traço, ela transforma aquele território em um amuleto, uma mulata e uma muleta. Os versos e o ritmo do bolero "La Virgen Negra", interpretada por Los Chaynas, estabelece a ordem da aparição desses três objetos. Assim, ela traz à tona uma relação lúdica entre o caráter antropomórfico do Cone Sul e o jogo semântico entre o formal e o metafórico que possibilita a linguagem. Através dessa operação, Anna Bella refere-se às imagens associadas ao misticismo, a mestiçagem e a dependência econômica, caraterísticas socioculturais e históricas da América Latina. “Neste trabalho aparecem dois elementos comuns com a minha própria poética: repertórios populares e representações topográficas. Desde que começou o meu período de residência, viajo ao Rio de Janeiro para documentar nossos encontros que acontecem, principalmente, na sua casa-ateliê. O processo de pesquisa constitui-se como um desafio anacrônico ao presente. Me pergunto como a diferença intergeracional pode acrescentar dados que ressignifiquem ao mesmo tempo que atualizem um trabalho do passado.”, diz María Sabato sobre sua pesquisa.
Sobre os artistas
Emilia Estrada é artista e pesquisadora, nascida em Córdoba, Argentina. Desde 2014, vive e trabalha no Rio de Janeiro. Estudou Artes Visuais na Faculdade de Artes da Universidade Nacional de Córdoba e na Universidade Federal Fluminense. Em 2015 foi bolsista do programa de Práticas Artísticas Contemporâneas na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde em 2016 atuou como curadora assistente e artista convidada no projeto/exposição “Depois do Futuro”. Em 2017, recebeu a bolsa do programa de Residências Internacionais para Investigação e Produção (RIP), para realizar um relevamento arqueológico na península de Zorrozaurre, um dos últimos vestígios industriais da cidade de Bilbao (Euskadi). Em 2019, fez parte da primeira edição de residências artísticas do Museu da Imigração do Estado de São Paulo, onde trabalhou com o acervo e coleção da instituição para pensar novas formas de abordagens históricas do movimento migratório no Brasil.
Seu trabalho se desenvolve a partir do resultado de escavações, tanto nas camadas históricas do tecido urbano presente, quanto na busca de imagens referentes à produção carto e iconográfica da expansão marítima europeia do século XVI em diante. Estas ações poético arqueológicas indagam como se constrói e divulga a narrativa histórica, e de que forma o relato hegemônico ocidental tem operado na construção de imagens, estipulando uma teorização visual do sistema colonial. Emilia trabalha em espaços e em obras propondo plataformas de encontro com outros profissionais e promovendo convergências entre a arte e diferentes campos das ciências sociais. Desde 2018 participa da coletiva “escutadores”, corpo clínico-artístico composto por artistas e profissionais formado a partir do convite da artista Graziela Kunsch e do psicanalista Daniel Guimarães, integrantes-fundadores da Clínica Pública de Psicanálise (SP).
Maria Sabato (Cidade de Buenos Aires, Argentina, 1984). Fotógrafa formada pela Escola de Fotografia criativa de Andy Goldstein, Buenos Aires, Argentina. Regressou recentemente de Madri, onde finalizou o mestrado em Prática Cênica e Cultura Visual, Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia. Em 2015, como bolsista, concluiu o Programa Anual “Práticas de Arte Contemporânea II”, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Participou de diferentes exposições coletivas e realizou projetos de exposição individual em cidades como Buenos Aires, Rio de Janeiro e Tóquio. Também fez residências na FAAP (San Pablo) e Despina, no Rio de Janeiro, Brasil, onde viveu 3 anos.
Em 2018, participou do Programa de Agentes da CIA (Centro de Investigação Artística) e foi residente dos ateliês em residência Marco Arte Foco, também na cidade de Buenos Aires.
A investigação prática de María tem sido guiada nos últimos anos por deslocamentos físicos e simbólicos inerentes a sua condição de mulher branca estrangeira.
Sua pesquisa é apresentada em forma de fotografias, vídeos e ações participativas em diferentes espaços público-estéticos, nos quais o seu corpo é geralmente o principal suporte. Através de diferentes práticas artísticas, Sabato problematiza e reflexiona sobre assuntos como sua trajetória nômade, consumo, mídia massiva, o espaço e representação da mulher na sociedade, desterritorialização, memória e possibilidade de socializar ou criar comunidades efêmeras.
Anna Maria Maiolino no SCAD Museum of Art, EUA
O SCAD Museum of Art apresenta uma grande mostra panorâmica da renomada artista Anna Maria Maiolino. O caminho de vida de Maiolino informa muito de seu trabalho. A artista nascida na Itália emigrou para os EUA e Venezuela antes de finalmente se estabelecer no Brasil, onde se tornou uma das artistas mais importantes e consagradas do país.
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Maiolino trabalha em vários mídias, incluindo desenho, gravura, poesia, vídeo, performance, instalação e escultura. Em sua prática artística, gestos aparentemente simples, como desenhar linhas irregulares ou fazer bolas de barro, tornam-se meditações complexas e articuladas sobre o poder das ações. Suas obras de arte são orgânicas e poéticas, mergulhando magistralmente nos atos de criação e destruição para revelar elementos de intimidade e domesticidade.
Por um fio apresenta uma ampla gama de obras da artista de 1972 até o presente, incluindo um trabalho de grandes dimensões especialmente encomendado de sua aclamada série Terra Modelada. Tomando o título de um trabalho fotográfico de 1976 que retrata a artista, sua mãe e sua filha literalmente unidas por um fio, a exposição destaca noções formais e conceituais de interconexão em uma tentativa deliberada de enfatizar a humanidade, a empatia, o sustento e a privação como elementos integrais de sua prática.
Desde 1964, o trabalho de Maiolino vem sendo apresentado em inúmeras exposições individuais na Itália, Suíça, EUA, Reino Unido, França, Chipre e Portugal, entre muitos outros países. Exposições recentes incluem Making Love Revolutionary, na Whitechapel Gallery, Londres; Anna Maria Maiolino no MoCA – Museum of Contemporary Art, Los Angeles; e O amor se faz revolucionário, no PAC – Padiglione d’Arte Contemporanea, Milão, Itália.
Por um fio tem curadoria de Humberto Moro, curador adjunto de exposições do SCAD.
The SCAD Museum of Art presents a major survey exhibition of work by Anna Maria Maiolino, a renowned São Paulo-based artist. Maiolino’s life path informs much of her work. The Italian-born artist emigrated to the U.S. and Venezuela before ultimately establishing herself in Brazil, where she has become one of the most significant and accomplished artists in the country.
Maiolino works in various mediums including drawing, printmaking, poetry, film, performance, installation, and sculpture. In her artistic practice, seemingly simple, primal gestures, such as drawing erratic lines or forming balls of clay, become complex and articulated meditations on the power of actions. Her artworks are organic and poetic, masterfully delving into the acts of creation and destruction to reveal elements of intimacy and domesticity.
Por um fio (By a Thread) presents a wide range of the artist’s works from 1972 to the present, including a specially commissioned large-scale work from her acclaimed series Terra Modelada. Taking its title from a photographic work from 1976 that depicts the artist, her mother, and her daughter literally joined by a thread, the exhibition highlights both formal and conceptual notions of interconnectedness in a deliberate attempt to emphasize humanity, empathy, nourishment, and deprivation as integral elements of her practice.
The exhibition is presented as part of SCAD deFINE ART 2020, the university’s annual program of exhibitions, lectures, and performances held Feb. 18–20 at locations in Atlanta and Savannah, Georgia.
ABOUT THE ARTIST
Since 1964, Maiolino’s work has been presented in numerous solo exhibitions in Italy, Switzerland, the U.S., the U.K., France, Cyprus, and Portugal, among many other countries. Recent exhibitions include Making Love Revolutionary at Whitechapel Gallery, London; Anna Maria Maiolino at the Museum of Contemporary Art, Los Angeles; and O amor se faz revolucionário at PAC Padiglione d'Arte Contemporanea, Milan, Italy.
março 1, 2020
Estopim e Segredo na EAV Parque Lage, Rio de Janeiro
Esta exposição não conclui um curso: ela o integra e, mais além, o prorroga.
Concebida com e pelas pessoas artistas do programa de Formação e Deformação da Escola de Artes Visuais do Parque Lage – que ao longo de 2019 conviveram intensivamente e, juntas, vivenciaram um curso marcado menos pelo que se ensina e mais por saberes compartilhados num processo de mútua aprendizagem –, Estopim e segredo é uma exposição em cinco cortes.
Como uma anti-conclusão, a mostra não desfecha o curso, mas o mantém em aberto através da invenção de outras formas de habitá-lo. Com uma abertura e um encerramento coletivos entremeados por cinco cortes durante os quais as cavalariças do Parque Lage serão ocupadas por pequenos grupos das artistas do programa, Estopim e segredo estende-se até março de 2020 em estado de contínua criação: desta vez ampliando as escutas e as trocas que fundaram os aprendizados do curso ao convocar, para este espaço-tempo de interlocução, os outros públicos da Escola e do Parque. Estende, assim, aos visitantes e participantes da exposição, algumas das perguntas que a conformaram: o que podemos aprender no exercício de expor? Pode uma exposição ser uma escola?
Prorrogar o curso por meio de uma exposição em cinco cortes – e assim permanecer no Parque Lage – é um gesto político. Assentar, em um dos bairros de maior IDH (índice de desenvolvimento humano) do Rio de Janeiro, pessoas que historicamente apenas transitam por esse território é um desdobramento da campanha EAV para TODES. Organizada pelas integrantes dos cursos de formação de artistas ofertados gratuitamente pela Escola de Artes Visuais, o projeto mobilizou a própria instituição e a sociedade em prol do levantamento de fundos destinados à permanência dessas artistas em formação – ou seja, a garantir transporte e alimentação às participantes. Nesse esforço, endereçou publicamente a incontornável e inadiável necessidade de justiça social e de reparação histórica das assimetrias que constituem o Brasil e, como tal, a arte que aqui se faz e se legitima. Por isso, em seu processo de ocupação e de imantação do Parque Lage, Estopim e segredo reverbera algumas das nevrálgicas perguntas da EAV para TODES: como chegamos até aqui? E, fundamentalmente, como permanecemos neste lugar?
Se esta edição do curso de Formação e Deformação teve como pontos de partida os termos emergência e resistência – tomados de empréstimo da exposição Espaço de Emergência, Espaço de Resistência (EAV, 1978), que documentava os três anos iniciais de atuação da Escola –, decerto os processos experimentados pela coletividade que pedagógica e afetivamente o constituiu em 2019 são a evidência de que persistimos a despeito do período de retrocessos que a cultura e a educação têm enfrentado. Forças que eclodem em estado de urgência e de luta.
É pelo desejo de salvaguardar e estimular tais forças que esta exposição opera por cortes. Como na poda de uma árvore, num parto ou na edição de um filme, os cinco cortes que se seguirão darão a ver – e a brotar – existências prenhes de singularidades. Celebrando o estar e o aprender juntas, o que se forma e se deforma em coletividade, articulamos autorias individuais e coletivas num regime de respeito às diferenças, aos inegociáveis e, por vezes, aos segredos que nos tornam tão estranhas quanto cúmplices.
clarissa diniz, gleyce kelly heitor e ulisses carrilho
coordenadoras e interlocutoras do curso Formação e Deformação – Emergência e Resistência
PROGRAMAÇÃO
CORTE 1
18 a 30 de dezembro de 2019
aliança heterogênea formada numa espécie de bolha-tempo protegida. de quantos espaços-tempo somos feitos? corpo é território? quais estratos nos compõem? quando órbitas podem colidir? o que sobra da colisão? é possível escavar sem ferir? quantos universos cabem na ponta de uma agulha? quando um corte é soma? depois do corte, vem a cicatriz? por que se comprometer em lembrar? somos nossas memórias? como catalogar o olhar? a escuta constrói o tempo? qual o tamanho da voz? o que acrescentamos ao espaço? adições somam ou subtraem? é a rotina que nos constrói? como aprender sem destruir vestígios e esvaziar sentidos? qual é a cor do nada? o que cabe no centro? transbordar para dentro? quando a porta de acesso é um limite? e quando tudo era junto? o acaso liberta? quais movimentos nos fazem ausentes? como fisgar o invisível? arte é um risco? o perigo é iminente? por que pactuar com o impossível? a explosão não acontecerá? perguntas fissuram espaços? de tanto cavar, inventar a origem, raiz desse encontro.
ana carolina videira, arthur palhano, juan barbosa e michel masson
CORTE 2
03 a 13 de janeiro de 2020
Iniciamos aqui esse corte como também uma dobra do que podemos chamar de nós. O nós é um contexto a ser reencenado. Nada está fixo. Pedras que se movem. Rosto balaclava. Paredes perfuradas e chão cravado. Brotam chifres de onde não se via.
Interessa mais como incisão e força produzir outros modos de viver. E o que vemos neste lugar faz parte das evidências de um tempo incontornável. Partes do que foi criado espalhadas pelo chão e também suspensas no ar.
Fomos inventades pela ousadia das pessoas que vieram antes de nós, sucessivamente, desde o tempo da violenta Grande Travessia Atlântica. A partir disso, me dedico a criar tempos de vida, volátil, leve e misteriosa, como um reflexo ou energia que se desloca de um ponto a outro. Imaginando o que pode aparecer e o que desaparece. Cosmogonias que foram inicialmente desinventadas para que o Ocidente branco fosse forjado.
Portanto daqui chamamos de um tempo muito aleatório, com certas dificuldades em se fazer um chamado com uma língua límpida, clara e uníssona. Chamo meus grupos com sua língua manchada preta ou dourada. As galinhas estão soltas por aí também. Gente e bicho e terra tem as mesmas decomposições e suas semelhanças familiares.
A verdade como mito. O ponto final como menos importante, como o problema… o problema, a pergunta. Vírgula, reticências, interrogação… alguma exclamação aqui ou alí. Assim apresentamos esse corte, confusão no tempo, espaço para ampliação. Quantas camadas de quantas coisas cabem em uma imagem?
Uma reunião de trabalhos que consiste em trazer também o que foi produzido na Residência Raquel Trindade, a Kambinda, no MUHCAB (Museu Histórico da Cultura Afro Brasileira), entre novembro e dezembro de 2019, sobre um solo de ossos e memórias de pessoas negras na região portuária do Rio de Janeiro.
O que sentimos com os órgãos externos e o que sentimos com os órgãos internos. O material e a vontade. O que dobro com a mão e o que dobro com o fígado.
Visível e invisível ao mesmo tempo.
Desencadeia. Não conclui.
ana clara tito, gilson plano, pv dias e max wíllà morais
PERFORMANCES
SEX. 03 JAN. 14h – LÍNGUA PRETA
max wíllà morais
SÁB. 04 JAN. 15h – OS USOS DA RAIVA | MOMENTO 7
ana clara tito
SEG. 06 JAN. 14h – CORDA DOURADA
max wíllà morais
QUA. 08 JAN. 14h – AÇÃO DE JUSTIÇA OU ACORDAR OS QUE NÃO DORMEM⠀
gilson plano
SEX. 10 JAN. 13h – SUCO PRETO E CARNE DOURADA⠀
max wíllà morais
SEX. 10 JAN. 14h – GUARDA-VOLUMES
gilson plano
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SEX. 10 JAN. 16h – “OLHA O PASSARINHO!”
max wíllà morais
CORTE 3
15 a 27 de janeiro de 2020
acabou – não
Acabou. O mundo tem acabado com frequência. Imaginando sobreviver, nos recolhemos aos pedaços. Procuramos, em meio aos escombros, os cacos com os quais remontamos as formas que sinalizam esse fim. Algo está ruindo e a vibração nos desloca à perplexidade.
Há quem faça, apesar do prazo perdido. Há quem acumule dúvidas, há quem encontre o que fazer com a poeira que dorme na tampa do pote. Há quem guarde folhas mortas, há quem faça drenar desenhos de águas paradas. Há quem mate a sede decantando a umidade do ar em horas mortas. Há quem faça máquinas meditarem, há quem encontre poesia em trajetos redundantes. Há quem sonhe com os ouvidos. No silêncio da catástrofe, seres estranhos continuam aparecendo. Em desequilíbrio seguimos.
alexandre brasil, fernanda andrade, gabriel martinho, jonas esteves e nathalie nery
CORTE 4
29 de janeiro a 10 de fevereiro 2020
A travessia não é a mesma para todes e muito menos as estruturas que esbarramos. Estruturas que podemos desejar alcançar ou simplesmente destruir.
Não é fácil colocar as coisas em perspectiva. Nos agarramos ao que é mais confortável para nós e depois que tomamos partido, escolhemos lados, precisamos quebrar mil barreiras dentro de nós para conseguir enxergar uma situação por mais de um ponto de vista.
Pôr as coisas em perspectiva não é necessariamente abrir mão da nossa opinião. Problematizar não é sempre ter repulsa. Deboche não é sempre desrespeito. Bom que às vezes seja também, porque nem tudo é para ser respeitado.
Entendemos que para viver bem com a autonomia do outro, sem surtar, precisamos abraçar a complexidade dos seres e das situações. Quisemos nos perguntar aqui o que a autonomia no fazer artístico dos nossos pares tem a nos ensinar sobre a nossa própria prática. Nossas experiências artísticas estão dispostas a reavaliar e reinventar o comum a partir de aspectos e compromissos não hegemônicos, expandir a definição e alargar os limites das possibilidades de vida na arte.
Ser objetivo, subjetivo, direto, falar nas entrelinhas, criticar o sistema, criticar a obra, ver a cidade que é água, passar a mensagem, guardar o segredo, ouvir. Chegar em conclusões, consciente, atente, e com tranquilidade para colocar fogo em tudo, ou só observar o pavio apagado. Realizar a necessária ressignificação dos termos e também criar expressões novinhas em folha.
Sabemos onde queremos chegar, estamos pensando sobre como fazê-lo e quisemos deixar o caminho aberto para que você também pense sobre isso.
ana almeida, camilla braga, carla villa-lobos, matheus bastardo e mulambö
CORTE 5
12 de fevereiro a 02 de março 2020
Pro ritual ter força, precisa ser junte
Depois de inúmeras versões, etapas e processos: nosso quinto corte.
Surgimos fabulando uma gestação em espiral, proposta que remonta e acumula memórias que passaram. Um corte inconclusivo que vai ao ar e movimenta o tempo. Após três meses de segredo e estopim, o que é isso que se solta?
Aqui nos referimos ao aspecto ritual da vida. Tanto cotidiano, urbano, rotineiro, quanto natural, selvagem, diaspórico. O ritual se caracteriza por uma brecha espaço-temporal, onde através do corpo em relação às materialidades, se gesta um estado de presença. A presença é convocada, pela ação, pelo sentir.
Nossos trabalhos convocam corpos e corpas. Acionando outra temporalidade em nós, indócil e anti-civilizatória, em relação. Ressignificar ritos do dia-a-dia: dormir, sonhar, trabalhar, comer, descansar, observar, manifestar, respirar. O corte 5 é carne viva, lambe os fios, afia as fissuras, cria espaços. Convoca à ancestralidade cortante.
Os públicos são bem-vindos a colocar máscaras, deitar-se na tenda-mar, mirar através das pedras, pelas pedras e com as pedras, apoiar-se em travesseiros para escutar sons, adentrar espaços de (con)vivência. Encontramos aqui estratégias de cuidado que materializam, através de imagens, sons, elementos e movimentos, demandas individuais e coletivas.
daniel santiso, lorena pazzanese, sophia pinheiro e viviane laprovita
PERFORMANCES
QUA. 12 FEV. 16h – OS USOS DA RAIVA | MOMENTO 7
Daniel Santiso
DOM. 01 MAR. 15h às 17h – CARNALAGE
Sophia Pinheiro, Daniel Santiso, Lorena Pipa e Viviane Laprovita
Conferir programação atualizada na EAV Parque Lage
Como nos movemos, como queremos nos mover? na EAV Parque Lage, Rio de Janeiro
Como nos movemos, como queremos nos mover? é uma exposição coletiva proposta pela turma de 25 bolsistas do Programa de Formação Gratuito – Exercício Experimental da Liberdade e pensada como desdobramento das provocações e diálogos não só com os quatro professores presentes no programa (Camilla Rocha Campos, Fernanda Lopes, Fernando Cocchiarale e Keyna Eleison), mas pelas negociações com a própria Escola de Artes Visuais do Parque Lage e seus espaços. Fora pensada sobretudo a partir da heterogeneidade de um grupo de estudantes em suas muitas narrativas desenvolvidas ao longo de uma caminhada conjunta durante o ano de 2019.
Em Como nos movemos, como queremos nos mover? a questão da mobilidade se impõe, tanto por sua implicação prática e social, relacionada à como de fato se chega e se permanece numa escola de artes, quanto por seus desdobramentos poéticos e suas possíveis espessuras como parte da formação de cada pesquisa iniciada ou desenvolvida em aula. Trata-se de uma exposição questionamento, contendo um ponto de interrogação necessário em seu enunciado. Os trabalhos que ocupam a Galeria 1 e a Capela do Parque Lage buscam apoio uns nos outros para propor uma rede de relação entre estruturas móveis, que não deixam seus deslocamentos simbólicos estratificarem por completo pois se mostram sempre abertas à dúvida e atentas aos espaços que as rodeiam.
Participantes:
Ághata Miranda
Andréa Almeida
Bel Petri
Bernardo Liu
Bruno Magliari
Charles Pereira
Daniela Avellar
Duda Borowicz
Frederico Tauil
Gabriela Serfaty
Iah Bahia
Isabelle Rocha
Júlio Menezes
Lucas Carvalho
Marcus Lemos
Natasha Ribas
Rafael Amorim
Vinícius Monte
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#duplaPlus ocupa a Galeria Casa no CasaPark, Brasília
Em março, o coletivo #duplaPLUS ocupa a galeria do casapark com uma retrospectiva dos últimos cinco anos de suas foto-proposições em dança, performance e fuleragem
Dando início ao ciclo 2 de ocupações, a Galeria Casa recebe a mostra (CORPO)sições para danças tímidas antes do meio-dia, do coletivo #duplaPLUS. Formado originalmente por Ary Coelho (RIP) e Luisa Günther, este coletivo precisou ampliar o sentido da presença do outro, instaurando novos significados para a parceria e a cumplicidade no fazer artístico. Além de ser uma retrospectiva das foto-proposições realizadas ao longo de cinco anos (2015-2020) em diferentes paisagens brasileiras, a exposição, marcada pela ruptura da ausência e os sentidos para a elaboração de novos formatos de parceria, também questiona a fronteira do ideal que faz de Brasília uma cidade-sonho. A exposição será inaugurada no dia 4 de março, às 17h, e fica em cartaz até o dia 29 de março, com visitação de terça a sábado, das 14h às 22h, e domingo, das 14h às 20h. A entrada é gratuita e a classificação indicativa é livre para todos os públicos. A Galeria Casa fica no casapark, 1º Piso, ao lado do Espaço Itaú de Cinema. Telefone: 61-3403-5300.
A exposição articula sete nucleações para as mais de 150 imagens apresentadas, sendo quatro destas referências às escalas propostas por Lúcio Costa para o Plano Piloto e, as outras três, escalas inventadas, como também foi Brasília um dia. Temos então: residencial – monumental – gregária – bucólica & (poli)ética – (pan)estética – (pre)enfática. Sim. Para além de tudo que já acontece, novas palavras precisam ser inventadas para capturar imaginários alheios. Acredita-se aqui que seja preciso extrapolar os limites do próprio contexto e compreender as possibilidades: de si como parte do cotidiano de outros; do momento histórico como uma dimensão das biografias individuais; do artístico como uma prática cultural híbrida; das coisas como extensão das ideias como extensão das coisas.
Residência artística temporária
Além destas nucleações, a retrospectiva é uma obra-em-processo de tempo estendido. Para isto, propõe o formato de uma residência-artística-temporária, com a presença da artista Luisa Günther durante o período da exposição. Esta intenção em promover uma residência-artística-temporária, nos horários de funcionamento do espaço, tem por intuito desdobrar visualidades a partir da presença alternada e continuada, para assim dimensionar a própria galeria como um espaço aberto à criação de novos sentidos artísticos e não somente para a apresentação de conteúdos que supostamente já estão prontos.
Ao se fazer presente no espaço destinado a acolher a visitação fugaz dos curiosos inaugura-se uma rotina que acomoda as demais proposições da maneira mais permanente possível. Esta presença continuada é necessária para que uma rotina seja engendrada em nossos corpos como ações próprias de um cotidiano comum. Acordar e deslocar-se; permanecer até entediar-se; retornar, dormir e novamente acordar; amanhecer novas possibilidades. Ações continuadas, [que serão divulgadas diariamente pela conta de Instagram da própria Galeria Casa, quais sejam: performances; foto-danças; aulas públicas sobre temas avulsos em sociologia da arte e arte contemporânea; conversas com interlocutores; mediação com grupos escolares; devaneios com público espontâneo; oficinas de percepção corporal; ateliê aberto desenho; produção de texto; leitura de portfólios; etc.] que de tantas vezes repetidas, promovem também um estranhamento com a própria condição deslocada que, por sua vez, transforme-se em uma familiaridade inconsequente.
Afinal, por qual motivo alguém frequenta um espaço de arte?
Frequentar o espaço expositivo já é fazer arte?
Ademais, o interesse em dimensionar a possibilidade de uma rotina como residência-artística-temporária, advém de uma vontade de desmistificar os processos criativos e espaços expositivos, bem como em proporcionar uma acessibilidade imediata às qualidades mais experimentais de uma ação. Como materialidade desta proposição irão permanecer os registros e impressões configuradas como fotos, hashtags e postagens em redes sociais, que por sua vez, deshierarquizam procedimentos e protocolos, tornando também o público parte desta configuração de elaboração de sentidos e significados.
Galeria Casa | ciclo 2
A abertura da mostra “(CORPO)sições para danças tímidas antes do meio-dia”, do coletivo #duplaPlus marca o início do ciclo 2 de ocupações da Galeria Casa. A nova etapa traz como eixo os 60 anos de Brasília e os artistas e galeristas que fazem parte da história da cidade e da construção de sua identidade, direta ou indiretamente. Em abril, será a vez de a Galeria Celso Albano ocupar a Galeria Casa. Um dos principais galeristas e pioneiro no mercado da capital federal, Celso Albano foi responsável por realizar importantes mostras de artistas contemporâneos brasileiros, além de atuar no mercado de arte nacional.
Sobre os artistas
O bailarino e coreógrafo Ary Coelho realizou, desde 1995, coreografias autorais nas quais busca elaborar novos conhecimentos e formas de expressão, a partir de ações cotidianas do corpo como poética da dança. Começou seus estudos acadêmicos em Dança em 1990 na Faculdade de Dança da Pontifícia Universidade Católica PUC/PR. De 1991 à 1994 fez parte do corpo de baile do Ballet Teatro Guairá onde participou das montagens do Ballet Quebra-Nozes; Ballet Petruska; Ballet O Trono; Ballet Circo Místico e na Ópera Aïda. Em 1998 retorna a Porto Alegre onde ingressa no Terpsi Teatro de Dança e participa das montagens: Tolouse Lautrec e Orlandos. Em 2000, Ary Coelho recebe o PRÊMIO AÇORIANOS de melhor bailarino, concedido pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre, pelos espetáculos A + E = D e Náufragos em Manhattan. Em 2003, estabeleceu-se em Brasília para dar continuidade a seu trabalho solo. Aqui, participou do Festival Internacional da Nova Dança entre 2003 e 2007. Apresentou o espetáculo Destilando a Sensibilidade no Teatro Nacional Cláudio Santoro, no Espaço Cultural Renato Russo, e no Espaço Quasar, em Goiânia. Foi contemplado pelo FAC/DF em 2005 com o projeto LAB-5; 2008 com o projeto Desconexadança; e, 2010 com o projeto Pensar é o que o cérebro faz quando está sentindo. Graduou-se na Licenciatura em Artes Visuais pela Faculdade de Artes Dulcina de Moraes em 2010. Cursou o mestrado no PPG-Artes/UnB, na linha de pesquisa em Processos Composicionais para a Cena, no qual desenvolveu pesquisa sobre o dançar absurdado a partir de Beckett.
Luisa Günther é professora do Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília, atua no PPG-Arte na Linha de Pesquisa de Educação em Artes Visuais a partir de projeto de pesquisa em que elabora pedagogias sensoriais em investigações poéticas. Mestre (2007 / Neoconcretismo: Manifesto e Práxis) e Doutora (2013 / Experiências (des)compartilhadas: Arte Contemporânea e seus Registros) em Sociologia da Arte, entre diferentes e distintos interesses, desenvolve considerações verbovisuais em: desenho/grafismo/ilustração; escritos de artista/livrobjeto/intermidia; metodologias para o ensino das artes visuais; métodos de pesquisa em artes visuais; panfletagem e mecanismos de circulação; performance/videodança/dança contemporânea; sociologia da arte e crítica cultural. Realizou exposições individuais no Conjunto Cultural da Caixa de São Paulo e Salvador (Pangrafismos: coisas de Ler); no MARCO/MS (Pós-projetos de Pré-possíveis); na Endossa (Sobre Manchas e Outros Seres); na Galeria Almeida Prado (A delicada imagem de um pensamento). A visualização de algumas proposições artísticas está disponível em www.luisagunther.com.