|
maio 31, 2019
Julio González no Tomie Ohtake, São Paulo
O Museu Nacional d’Art de Catalunya, a Fundação Abertis e o Instituto Tomie Ohtake organizam pela primeira vez no Brasil, com o patrocínio da Arteris, uma individual do consagrado escultor Julio González (Barcelona, 1876 – Arcueil, França, 1942). Com curadoria de Elena Llorens, a mostra Espaço e Matéria reúne 70 peças, entre esculturas, desenhos, pinturas, fotografias e documentos, que marcam a carreira do artista catalão, hoje reconhecido como o pai da escultura moderna em ferro e um dos nomes imprescindíveis na história da arte do século XX.
O virtuosismo de González ao trabalhar o ferro, trajetória que começa na oficina paterna de serralheria artística na Barcelona modernista do final do século XIX, marcou sua celebrada produção escultórica, majoritariamente concebida na década de 1930 quando já havia completado 50 anos. Entre 1928 e 1929, González é convidado por Picasso a colaborar no projeto do monumento em homenagem ao poeta Guillaume Appolinaire, morto no final da Primeira Guerra. Essa troca de experiência, que se desdobrou em outras colaborações, foi marcante para a produção escultórica do autor de Les Demoiselles d´Avignon e representou a fase mais experimental na carreira do mestre da arte em ferro, o começo do que González chamou de “nova arte: desenhar no espaço”. A partir daí o escultor se integra ao grupo Círculo e Quadrado e assina, em 1934, junto a Pablo Picasso, Fernand Léger e Vassily Kandinsky, o manifesto do grupo Abstração – Criação.
“Sua produção escultórica em ferro deve ser inserida no contexto disruptivo das vanguardas da primeira metade do século, caracterizado por uma intensa especulação formal. Deve-se a González o fato de ter dotado a escultura de uma nova gramática capaz de deslocar, com um material totalmente alheio à tradição, as seculares noções de volume e massa”, diz a curadora
A exposição desvenda cada uma das etapas criativas de González com o objetivo de, por um lado, penetrar em sua rica e complexa personalidade artística e, por outro, transitar pelo caminho que o levou a confiar no ferro como agente renovador da linguagem da escultura. Segundo Llorens, a mostra sugere um percurso que se inicia pelo período de formação do escultor, na oficina paterna de serralheria artística em Barcelona; em seguida, focaliza a pintura dos materiais, vocação que o levou a mudar-se para Paris e à qual só renunciou quando encontrou na escultura o veículo perfeito para se expressar; reúne, no terceiro núcleo, os diversos registros, formatos e linguagens escultóricos que explorou em apenas 15 anos para dar vida à sua original proposta de “desenhar no espaço”; e, para finalizar, traz o grito com que González denunciou perante o mundo o horror da guerra (primeiro a Guerra Civil espanhola, e depois, a Segunda Guerra Mundial). Neste segmento há registros da participação de uma de suas esculturas icônicas, La Montserrat, na Feira Internacional de Paris em 1937 - “a representação de uma camponesa munida de uma arma invulnerável: a dignidade”, completa a curadora.
Depois da morte de Julio González, a sua filha Roberta incumbiu-se da missão de difundir a sua obra e é hoje parte responsável por González figurar entre os nomes próprios da modernidade. Em 1974, Roberta doou ao Museo de Arte Moderno de Barcelona (atualmente Museu Nacional d’Art de Catalunya), cerca de 200 obras entre esculturas, pinturas, desenhos e gravuras, tornando a instituição uma das principais responsáveis pela difusão do legado do artista, cuja obra está representada ainda em outros importantes acervos, como Centre Georges Pompidou de Paris, Museo Reina Sofía de Madrid, IVAM de Valencia e MoMA de Nova York.
Nascido em 1876 em Barcelona, Espanha, Julio González desde cedo teve contato com atividades artísticas. Com apenas 15 anos foi matriculado na escola de artes e ofícios Enseñanzas de Aplicación e começou a trabalhar junto de seus irmãos na empresa de seu pai, que era ourives e metalúrgico. Em 1893, inauguraram uma oficina familiar onde passaram a criar e vender objetos como espelhos, ramos de flores e jardineiras, que também lhes renderam participações em exposições e premiações. Em 1899, ao se mudar para Paris, França, com a família, Julio começa a se dedicar à pintura. Da boemia espanhola, chegou à francesa no bairro de Montparnasse, envolvendo-se com os artistas catalães que lá viviam, entre os quais estava Pablo Picasso. Dez anos mais tarde, casou-se com Jeanne, de quem logo se separou, e teve sua única filha Roberta. A escultura em ferro, linguagem que mais lhe deu reconhecimento, tornou-se prioridade em sua produção em 1927, após trabalhar como aprendiz de soldador na Soudure Autogène Française, e motivou colaborações com o próprio Picasso e com Constantin Brancusi. Em 1937, casou-se com a ourives Marie Thérèse Roux, com quem há anos já namorava. Aos 66 anos, em 1942, Julio González faleceu devido a um infarto.
Elena Llorens, curadora do Departamento de Arte Moderna e Contemporânea do Museu Nacional d’Art de Catalunya (Barcelona). Especialista em arte moderna catalã, publicou estudos sobre interligações artísticas, como Julio González-Picasso; Duchamp’s, Man Ray’s & Picabia’s “Catalan connections”; ou sobre temas, como o primitivismo no meio artístico catalão; os primeiros passos de Miró em Barcelona; entre outros. Foi curadora e co-curadora de diversas exposições, entre as quais The Catalan Object in the Light of Surrealism, Realism(s). The Mark of Courbet, e mais recentemente Pere Torné Esquius. Poetics of the Everyday. No Museu Nacional foi chefe curatorial das mostras Yves Tanguy. The Surrealist Universe (em co-produção com o Musée des Beaux-Arts de Quimper), e Duchamp, Man Ray, Picabia (em co-produção com a Tate Modern). Além disso, é professora em cursos de mestrado em Universidades de Barcelona.
Sandra Antunes Ramos na Mul.ti.plo, Rio de Janeiro
No dia 4 de junho, a artista visual Sandra Antunes Ramos inaugura a mostra Costuras, na Mul.ti.plo Espaço Arte. A individual reúne cerca de 30 pinturas em pequenos formatos, que misturam tinta a óleo e costura sobre papel. Nas obras, Sandra trabalha tanto a questão pictórica, com blocos de cor, sua marca registrada, como rompe com isso, com linhas fluidas costuradas, que remetem ao corpo feminino. São obras delicadas, tanto no formato quanto no acabamento, que tentam equilibrar o geométrico e o orgânico, a rigidez e a fluidez. A mostra fica em cartaz até 11 de julho.
Sobre o papel, base conceitual do trabalho da artista, Sandra utiliza folhas de ouro, chapas de cobre e latão, tinta a óleo, tinta acrílica metalizada, caneta metalizada, cera para dourar e linhas metalizadas, material que a artista garimpa em suas viagens. As pinturas, em média de 21 x 21 cm, são, em sua maioria, quadradas e dividas em três planos. O primeiro, mais pictórico, pintado a óleo, carrega certa profundidade. O segundo é composto por um traçado de linhas que formam uma renda geométrica, que parecem pular para fora do papel. E, por fim, unindo esses dois planos antagônicos, como numa sutura, rompem traços orgânicos de estudos que a artista realiza há anos a partir da observação de modelo vivo em movimento.
Uma das características da obra de Sandra Antunes Ramos são os pequenos formatos. “Essa escala me é familiar e faz muito sentido para o meu trabalho, pois é a escala da mão, da mão que borda, da mão que pinta, da mão que colore compulsivamente até obter uma camada uniforme, quase contrária ao que o material inicialmente propõe”, explica a artista, que abdica do pincel. “Eu pinto com os dedos. O material mais forte que uso é o bastão oleoso, que espalho com a mão”, revela Sandra. Pequenas e delicadas, as pinturas da artista resultam de um processo de fazer lento e minucioso. “O papel é mais frágil do que a tela. Além disso, uso papéis finos, transparentes, que marcam, vincam, reagem mais. A tinta a óleo, mesmo no papel, demora muito para secar e uso diversas camadas. Depois vem a costura, que é lenta também”, explica Sandra.
Para o crítico de arte Alberto Tassinari, Sandra cria peças “no tamanho das coisas que a mão pega”. A arte de Sandra pede contemplação, são trabalhos mais condizentes com um canto sereno de uma casa ou algo equivalente. “Precisam ser olhados de perto. Caso contrário, não pulsarão. Ao aproximar-se deles, é como se o olhar os abrisse com uma grande angular. Ou, ainda, com o foco fechado, ora aqui, ora ali, na superfície de seus movimentos infindáveis. Não enchem a sala, mas inundam o olhar”, explica Tassinari.
Segundo o artista Paulo Pasta, o trabalho de Sandra organiza-se a partir de “uma indefinição muito poderosa, entre o reconhecível e o criado, um lugar entre a figuração e a abstração. E esse lugar ‘entre’ parece algo pessoal e diferente de muita coisa que hoje se vê por ai”. Ele fala também de sua relação com os pigmentos: “Sandra vai descobrindo as cores do desenho à medida que o vai construindo, um pouco como caminhar no escuro. E suas relações de cores possuem também um gosto muito próprio, igual ao seu espaço: são inesperadas, ousadas. Mas principalmente muito vividas e experimentadas”, finaliza.
É a segunda individual da artista no Rio de Janeiro, sendo a primeira em 2014, também na Mul.ti.plo. "Sandra nos mostra como uma artista contemporânea pode retomar o gesto manual como condição de uma escolha do seu consciente processo criativo. As silhuetas costuradas por Sandra fogem às obviedades, insinuam um corpo de enigmas. Desconcertante campo da delicadeza", explica Maneco Müller, sócio da Mul.ti.plo.
Sandra Antunes Ramos nasceu em 1964, em São Paulo, SP, onde vive e trabalha. Sua trajetória em arte visual começou tardiamente. Dedicou-se por cerca de dez anos à atividade de educadora. Posteriormente, migrou para as artes gráficas, onde realizou diversos desenhos de livros e capas. Como designer, teve uma larga experiência na diagramação e no desenho de livros de arte. Em 2014, realizou sua primeira individual, na galeria Mul.ti.plo Espaço Arte, no Rio de Janeiro, com curadoria de Alberto Tassinari. Em 2016, realizou uma exposição individual na Galeria Millan, voltando a expor lá em 2017, em uma coletiva no espaço Anexo Millan. Participou de exposições coletivas, como paratodos 2 (2017), na Carpintaria, Rio de Janeiro, e a mostra impávido colosso (2019), n’A Mesa, também na capital carioca.
Eduardo Haesbaert na Bolsa de Arte, São Paulo
Luz e escuridão são reveladas em exposição de Eduardo Haesbaert, na Galeria Bolsa de Arte
Artista de grande relevância no sul do Brasil, Eduardo Haesbaert ganha sua segunda individual na capital paulista
A Galeria Bolsa de Arte tem orgulho em apresentar Torrente, segunda exposição individual do artista gaúcho Eduardo Haesbaert em São Paulo. Com texto assinado pelo amigo e artista Paulo Pasta, a exposição reúne desenhos e pinturas de paisagens abstratas que fazem um comentário poético sobre a luz e escuridão.
Haesbaert nos mostra um desdobramento dos seus experimentos com a gravura em metal - sua principal técnica, aplicada agora em papel e tela com pastel seco e tinta óleo.
Ao visitar a exposição, o espectador se vê imerso em uma cena de destruição e desequilíbrio, onde o uso da cor é quase totalmente dispensado. O claro e o escuro vislumbram aspectos de coisas, imagens que não chegam a formar ou nos dar a informações visuais de sua totalidade.
São paisagens inundadas e contaminadas por rasgos que sugerem elementos como fogo e água. As obras tratam da transformação, da impermanência e da zona de instabilidade que são provocadas por aludes e torrentes, trazendo cenários movediços de destruição, de alagamentos e o desejo de uma nova sustentação da forma em tempos sombrios de ruínas em movimento.
“Talvez nas obras desta exposição a luz se torne presente de maneira mais curiosa e nova também. O artista recupera o claro não mais pelo acréscimo da tinta branca, mas por meio de rasgos no papel”, comenta o artista Paulo Pasta em texto sobre a exposição.
Fabricio Lopez na Marilia Razuk, São Paulo
Fabricio Lopez apresenta Pintura Salobra, sua terceira exposição individual na Galeria Marilia Razuk, composta por 10 pinturas em nanquim sobre papel e um álbum de gravuras com uma tiragem de 10 exemplares.
A exposição é resultado da residência artística realizada em julho de 2018 às margens do Rio Paraguai, no Pantanal sul matogrossense, através da parceria entre o Acaia Pantanal, a Fazenda Santa Tereza e a Galeria Marilia Razuk.
As pinturas, produzidas na paisagem pantaneira, foram expostas ao tempo, aos insetos e aos animais curiosos que aproximavam-se do papel estendido para verificar, chafurdar e morder o branco refletido no solo, por vezes instalado junto aos pássaros na água, ou no pasto próximo à carcaças de bezerros devorados por onças.
O embate com a paisagem cria um ambiente que favorece respeitosamente o equilíbrio desse ecossistema entre a natureza hostil e as atividades de pesca e gado do homem pantaneiro. O papel encharcado de água dos charcos misturado ao nanquim, permanecia estendido noite e dia, aguardando o lento secar das poças escuras que refletiam a exuberância dos bandos de pássaros, capturavam a lama e seus insetos infinitos e, ao mesmo tempo, traduziam em tons de cinza a luz gradiente multicolor que anunciava o fim do dia.
O álbum de gravuras tem tiragem de 10 exemplares numerados, contendo 20 xilogravuras inéditas de 30 x 38 cm, e foi produzido em parceria com a designer Luciana Facchini.
O resultado desta parceria marca o apoio à Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar, através da doação de 20% das vendas para a instituição.
Miguel Rio Branco na Luisa Strina, São Paulo
“Como uma constelação de flagrantes da entropia da urbanidade em metrópoles distribuídas em latitudes e longitudes variadas, ainda que o olho-razão não resista a procurar pistas de quais cidades e países produziram os espaços retratados, diante de Maldicidade é importante o momento em que o olho-pele assume a impossibilidade da tarefa e percebe que a cidade é uma só, afinal: Qual grande metrópole, se pensada em sua história recente e em sua extensão territorial, pode dizer que desconhece essas imagens?
[scroll down for English version]
(…) ‘Murió El Cuerpo’, estampa o jornal na mão do menino recostado à margem de um assentamento precário. É difícil entender a quem a manchete originalmente se referia, mas, nesse contexto, é o corpo da chamada civilização ocidental que, tendo alcançado escala e poder inéditos na história do planeta, colapsa esmagada sob o próprio peso dos ideais que alimentou”, escreve o curador Paulo Miyada em ensaio inédito, por ocasião da individual de Miguel Rio Branco no Oi Futuro, Rio de Janeiro, em 2017.
Maldicidade, série em andamento de Miguel Rio Branco, existia, até então, como fotolivro, publicado em 2014 pela CosacNaify, e como obras únicas ou conjuntos narrativos (polípticos) de fotografias feitas, ao longo da trajetória do artista, em diferentes cidades às quais sua carreira internacional o levou. Primeiro como filho de diplomata, começando com pintura, até o final dos anos 1960, depois como diretor de fotografia em documentários do cinema nacional e, em seguida, como correspondente da agência Magnum, nos anos 1980. Finalmente, como artista multidisciplinar, expôs em instituições como The Art Institute of Boston; Foto Forum, Frankfurt; Aperture’s Burden Gallery, NY; Maison Européenne de La Photographie, Paris; Rencontres d’Arles; Museu de Arte Contemporânea de Tóquio; Casa América, Madri; Kulturhuset, Estocolmo; e MASP; além de ser um dos contemplados com um pavilhão no Instituto Inhotim. Em junho de 2019, a Galeria Luisa Strina tem o prazer de apresentar a exposição individual Maldicidade, com cerca de 20 obras. Na abertura, o artista lança o livro homônimo, em nova edição, pela editora alemã Taschen.
Ainda que haja novidades na série Maldicidade, o ensaio de Miyada segue atual e preciso. A cidade é uma só. Todas as obras selecionadas por Rio Branco para a individual na galeria mostram a metrópole pulsante, entre exuberância e miséria, entre cores vibrantes e vapores noturnos, entre abstrações poéticas e denúncias francas. Qual grande cidade pode dizer que desconhece esses contrastes? Mesclando fotos publicadas em 2014 a outras, novas, que serão conhecidas apenas no livro da Taschen e na exposição, o artista não considera relevante pensar a imagem nestes termos – “novo”, “inédito” etc. – pois, segundo ele, “o inédito é a construção e a intenção”, ou seja, a edição de um livro ou de um grupo de fotografias para serem ampliadas, a sequência em que são apresentadas as imagens, o contexto em que cada instantâneo é colocado para dialogar com os demais – por aproximação ou repulsa –, formal, narrativo, de cores e assim por diante, cria sempre uma experiência inédita.
“A versão da Taschen tem uma nova dinâmica, talvez um pouco menos melancólica, mas dando importância, além da construção, também à leitura completa de cada imagem. Entramos em detalhes que no formato pequeno não conseguimos ver. Acaba se transformando em outro livro. Um pouco como interpretações musicais jazzísticas. Meu trabalho, em uma exposição na galeria da Magnum, em Paris (1985) foi definido, meio como crítica, por um fotógrafo, Denis Stock, como se eu tentasse criar música com fotografias: talvez o maior elogio que já fizeram sobre a obra”, afirma Miguel Rio Branco sobre o livro.
Desde 1977, com “strangler in a strangled land” e com a exposição Negativo Sujo (1978), vindo da pintura e do cinema, o artista começou a criar narrativas poéticas com montagens feitas com grupos de fotografias; já naquele momento, a ideia de foto única, “instante decisivo”, não lhe bastava, o campo da imagem, para ele, precisava de um contexto narrativo visual. “Um conjunto de peças consegue ganhar um formato final no diálogo entre elas, da mesma maneira que outras, por força individual, não precisam nem conseguem entrar em conjuntos, são mesmo completas individualmente. O cimento que as une em diversas construções é o que cria o ritmo e os conceitos que finalizam, mesmo que provisoriamente, as obras”, explica.
Seguindo esta lógica, na exposição Maldicidade o visitante depara, por exemplo, com o díptico Preto e Rosa com Bandeira, espécie de encontro perfeito entre padronagens geométricas – uma em ambiente interno, outra flagrada na rua – que apresentam, ambas, um elemento em estado de suspensão, o “punctum” de ambas, para falar com Roland Barthes, que as une, ou que cimenta, ainda que provisoriamente, a construção do díptico. Entretanto, próxima ao conjunto, o espectador pode contemplar Sapatos Azul e Vermelho, mostrada como peça individual, com toda a sua força narrativa, sem a necessidade de outra imagem que a complemente, ainda que, na mais recente edição da Bienal de São Paulo, a mesma obra tenha sido vista dentro de um políptico, intitulado Geometria do Desejo.
“O meu trabalho é como uma maré de imagens que podem tomar direções diversas, como um mar de imagens que criam discursos poéticos que desmancham, muitas vezes, sua capacidade apenas documental, criando outros significados. Criam ritmos e sentidos que desmancham uma proposta apenas de retrato da realidade.”
Depois de Negativo Sujo, Rio Branco mostrou, na Bienal de São Paulo de 1983, uma peça audiovisual chamada Diálogos com Amaú, composta de cinco telas translúcidas sobre as quais era projetada uma sequência de imagens de um menino surdo-mudo kayapó dialogando com imagens de sua vida e da civilização branca que cercava sua aldeia. “As conexões tinham um ritmo próprio, mas criavam relações aleatórias, porém significantes pela escolha das imagens; a obra se situa na área do que Hélio Oiticica definia como Quase cinema”, conta o artista. Este trabalho está permanentemente exposto no pavilhão dedicado à obra de Rio Branco em Inhotim, e é considerado uma das obras mais icônicas da fotografia expandida brasileira.
Ainda sobre o livro e a sua relação com as grandes metrópoles, Rio Branco afirma que “as mudanças foram mais por questões relacionadas ao novo tamanho e à cidade que me atrai, claro que nem todas, muito menos as nossas que ficam cada vez mais estruturalmente precárias, mas MALDICIDADE veio de uma mistura do francês “mal d’amour’, dor de amor, e maldita cidade: às vezes sinto repulsa e, outras, atração. Mas continuo achando que as cidades estão em um caminho irreversível de terror depois de um certo tamanho, depois de um exagero de milhões de pessoas. Não acho saudáveis as grandes concentrações de gente; hoje, me parecem grande atrativos para o desastre”.
SOBRE O ARTISTA
Nascido em 1946, em Las Palmas de Gran Canaria, Espanha, Miguel Rio Branco vive e trabalha em Araras, Rio de Janeiro. Formado no New York Institute of Photography e na Escola Superior de Desenho Industrial, Rio de Janeiro, começou a expor fotografias e filmes em 1972, desenvolvendo um trabalho documental de forte carga poética. Nos anos 1980, foi aclamado internacionalmente por seus filmes e fotografias na forma de prêmios, publicações e exposições, como o Grande Prêmio da Primeira Trienal de Fotografia do Museu de Arte Moderna de São Paulo e o Prêmio Kodak de la Critique Photographique, de 1982, na França.
Exposições individuais recentes incluem: Nada levarei qundo morrer, MASP – Museu de Arte de São Paulo (2017); Wishful Thinking, Oi Futuro, Rio de Janeiro (2017); De Tóquio para Out of Nowhere, Galeria Filomena Soares, Portugal (2016); Nova York Sketches, Magnum Photo Gallery, Paris (2016); e Teoria da Cor, Pinacoteca de São Paulo (2014).
Exposições coletivas recentes incluem: Southern Geometries, from Mexico to Patagonia, Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris (2018); 33ª Bienal de São Paulo (2018); Door into Darkness, Galerija Kula, Institute Haru – Milesi Palace e The Institute for Scientific and Artistic Work, Croatian Academy of Sciences and Arts, Split, Croácia (2018); 11ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre (2018).
Possui obras no acervo de instituições como Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu de Arte de São Paulo; Centro George Pompidou, Paris; San Francisco Museum of Modern Art; Stedelijk Museum, Amsterdã; Museum of Photographic Arts of San Diego e Metropolitan Museum, Nova York.
“As a constellation of blatant urbanity entropy in cities distributed on varied latitudes and longitudes, even though the eye-conciousness does not resist looking for clues to which cities and countries the portrayed spaces were produced in, it is important that, in the face of Maldicidade, the moment in which the eye-skin assumes the impossibility of the task and realizes that the city is only one, after all: about what great cities, if its recent history and territorial extension are taken into consideration, could it be said that it does not know these images?
(…) ‘Murió El Cuerpo’, says the headline on the newspaper held by a boy leaning against the side of a precarious settlement. It is difficult to understand who the original headline was referring to, but in this context, it is the body of the so-called Western civilization which, having achieved unprecedented scale and power in the planet’s history, caves in crushed under the very weight of the ideals it has nurtured”, curator Paulo Miyada writes in an unpublished essay, on the occasion of Miguel Rio Branco’s solo show in Oi Futuro, Rio de Janeiro, in 2017.
Maldicidade, a work in progress by Miguel Rio Branco, only existed until now in photobook format, published by CosacNaify in 2014, and as stand-alone works or sets of photographs in narrative (polyptych) made during the artist’s stay in different cities where his international career took him to. Firstly, as a diplomat´s child, beginning with painting, until the end of the 1960s, later as a photography director in Brazilian film documentaries and then as a correspondent of the Magnum agency in the 1980s. Finally, as a multidisciplinary artist, he exhibited in institutions such as The Art Institute of Boston; Photo Forum, Frankfurt; Aperture’s Burden Gallery, NY; Maison Européenne de La Photographie, Paris; Rencontres d’Arles; Museum of Contemporary Art of Tokyo; Casa América, Madrid; Kulturhuset, Stockholm; and MASP; besides being one of the artists honored with a pavilion at the Inhotim Institute. In June 2019, Luisa Strina Gallery is pleased to present Maldicidade, a solo exhibition, showing about 20 works. At the opening, the artist launches a so titled book, in a new edition, by the German publisher Taschen.
Although there are new developments in the Maldicidade series, the text by Miyada continues to be current and precise. The city is one. All the works selected by Rio Branco for the solo show in the gallery picture the pulsating metropolis, between exuberance and misery, vibrant colors and nocturnal vapors, poetic abstractions and honest denouncements. About what big city could it be said that these contrasts are not known? Merging photos published in 2014 with new ones, which will only be revealed in the Taschen’s book and in the exhibition, the artist does not consider it relevant to think the image on these terms – “new”, “unpublished” etc. – because, according to him, “what the unprecedented amounts to is the construction and the intention”, that is, the edition of a book or a group of photographs to be enlarged, the sequence in which the images are presented, the context in which each snapshot is placed in relation to others – by approach or repulsion -, formal, narrative, color and so on, it always creates an unprecedented experience.
“The Taschen version has a new dynamic, possibly a little less melancholy, but placing importance, in addition to the construction, to the complete reading of each image. We see the details otherwise not perceivable in the small format. It ends up becoming a different book. A bit like some jazzy musical performances. As my work was being shown at the Magnum gallery in Paris (1985), it was critically defined by the photographer Denis Stock as if I had tried to create music with photographs: perhaps the greatest praise they have ever been given”, says Miguel Rio Branco about the book, which opens with an essay by art critic and curator Paulo Herkenhoff.
Since 1977, with “Strangler in a strangled land” and also the exhibition Negativo Sujo (1978), coming from painting and cinema, the artist has begun to create poetic narratives with assemblages made with groups of photographs; already then at that moment, the idea of a single photo, “a decisive moment”, has not been enough for him; the field of the image, according to him, needed a visual narrative context. “A set of pieces can reach a final format in the dialogue among them, just as others, by individual force, do not need or cannot be in sets, they are fully complete individually. The cement that unites them in different constructions is what creates the rhythm and the concepts that complete the works, even provisionally”, he explains.
Following this logic, at the exhibition Maldicidade, the visitor is faced, for example, with the Black and Rose with Flag diptych, a nearly perfect meeting between geometric patterns – one in an inside environment, another one caught on the street – where both depict na element in a state of suspension, the “punctum” of both, to connect with Roland Barthes, that unites them, or that cements, although provisionally, the construction of the diptych. Near this set of pictures, however, the spectator can contemplate Blue and Red Shoes, shown as a single piece in all its narrative force, without the need of another image to complement it, even though, in the most recent edition of the São Paulo Biennial, the same work was seen in a polyptych, entitled Geometry of Desire.
“My work is like a tide of images that can take different directions, as in a sea of images that create poetic discourses that often unravel their documentary capacity, generating more meaning. They create rhythms and meaning that obliterate a simple proposal of reality. ”
After Negativo Sujo, Rio Branco showed, at the 1983 São Paulo Biennial, an audiovisual piece called Dialogues with Amaú, composed of five translucent screens on which a sequence of images of a deaf-mute kayapó boy was projected in connection to other images of his life and images of the white civilization that surrounded his village. “The connections had a rhythm of their own, but they generated random, but significant relationships in the images choice; the work falls in the area defined by Hélio Oiticica as Almost Cinema”, tells us the artist. This work is permanently exhibited in the pavilion dedicated to the work of Rio Branco in Inhotim, and is considered one of the most iconic works of expanded photography by a Brazilian artist.
Still on the subject of the book and its relation with great cities, Rio Branco alleges that “the changes were provoked specially by issues related to the new size and by the city that attracts me, clearly not all, even less by ours that become more and more precarious structurally, but MALDICIDADE came from a mixture of the French expression. ‘mal d’amour’, love pain, and a damned city: sometimes I feel revulsion and, sometimes, attraction. But, I still think cities are on an irreversible path to terror after they reach a certain size, after an exaggeration made of millions of people. I do not think large concentrations of people are healthy; today, they seem to me a great attraction to disaster”.
ABOUT THE ARTIST
Born in 1946, Las Palmas de Gran Canaria, Spain, Miguel Rio Branco lives and works in Araras, Rio de Janeiro, Brazil. Graduated in the New York Institute of Photography and at the Superior School of Industrial Design, Rio de Janeiro, he began to show photographs and films in 1972, developing a documentary work with a strong poetic load. In the 1980s, he was acclaimed internationally for his films and photographs in the form of prizes, publications and exhibitions, such as the Grand Prize of the First Triennial of Photography of the Museum of Modern Art, São Paulo, and the prize Kodak de la Critique Photographique, 1982, in France.
Recent solo shows include: Nada levarei qundo morrer, MASP – Museu de Arte de São Paulo (2017); Wishful Thinking, Oi Futuro, Rio de Janeiro (2017); From Tokyo to Out of Nowhere, Galeria Filomena Soares, Portugal (2016); New York Sketches, Magnum Photo Gallery, Paris (2016); and Color Theory, Pinacoteca de São Paulo (2014).
Recent group shows include: Southern Geometries, from Mexico to Patagonia, Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris (2018); 33th São Paulo Biennial (2018); Door into Darkness, Galerija Kula, Institute Haru – Milesi Palace and The Institute for Scientific and Artistic Work, Croatian Academy of Sciences and Arts, Split, Crotia (2018); 11th Mercosur Biennial, Porto Alegre (2018).
The artist has works in the collection of important institutions such as Museum of Modern Art Rio de Janeiro; Museum of Modern Art São Paulo; MASP – Museum of Art of São Paulo; George Pompidou Center, Paris; San Francisco Museum of Modern Art; Stedelijk Museum, Amsterdam; Museum of Photographic Arts of San Diego; and Metropolitan Museum, New York.
Magdalena Jitrik na Luisa Strina, São Paulo
Por que batizar de “silêncio” uma exposição que tem tanto a dizer? Composta de oito pinturas e uma conjunto de objetos, a quarta mostra individual de Magdalena Jitrik na Galeria Luisa Strina é como um enigma a ser decifrado. Talvez a mais misteriosa das pinturas, que à primeira visada aparenta ser a representação de um par de olhos sobre um maciço vermelho concreto, evoca os olhares que nos lançam a figura feminina sentada, no canto direito inferior, da obra Les Demoiselles d’Avignon, assim como a mulher agonizante, braços estendidos em postura de rendição, do lado direito na tela Guernica. A referência a Picasso não é direta nem fundamental, mas é sabido que a artista argentina se vale das vanguardas históricas, de cubismo e surrealismo a De Stijl e Bauhaus, em sua reinterpretação crítica dos modernismos.
[scroll down for English version]
A semelhança com Picasso se deve menos à obra do espanhol do que à apropriação que Picasso fez do primitivismo, afinal, o partido estético de abandonar a perspectiva em favor da bidimensionalidade deliberadamente adotado em Les Demoiselles para “épater la bourgeoisie”, afeita à pintura tradicional europeia, é revista à contrapelo por Jitrik no uso deliberado que a artista faz da perspectiva. Em suas pinturas, Magdalena costuma inserir contradições visuais entre fundo e figura. O efeito esfumaçado em várias das telas apresentadas em El Silencio produz não apenas uma sensação de volume flutuante, como também projeta a figura para trás e para a frente num dinamismo infinito.
Importante lembrar que, em 1907, Matisse classificou As Moças de Avignon como uma piada de mau gosto, e hoje o quadro é considerado a gênese da revolução cubista. Se, por um lado, Les Demoiselles fundou o cubismo, Guernica é o maior ícone do movimento. Como se sabe, o título da pintura monumental de Picasso deriva do nome da aldeia espanhola que foi a primeira área urbana a sofrer o bombardeio aéreo, em 26 de abril de 1937, pela aviação militar alemã, que apoiou a ditadura franquista na Guerra Civil Espanhola, preâmbulo da Segunda Guerra Mundial. Hoje em dia, e ao longo dos anos desde então, o trabalho é considerado um símbolo da paz e libelo contra as atrocidades da guerra, de qualquer guerra. Conta-se que, quando um oficial nazista viu a pintura, ele teria questionado Picasso: “Você fez esse horror, senhor?”, a que o artista respondeu “Não, você fez”.
A exposição de Jitrik pode ser pensada como um manifesto contra o arquipélago de arrogância que condena ao silêncio. As obras mais geométricas da mostra têm um quê mondrianesco, também revisitado à contrapelo, logicamente. É sintomático que os trabalhos reunidos na galeria escancarem a atualidade, um século e duas grandes guerras depois, do Manifesto I (1918), do grupo De Stijl:
1 - Existe uma velha e uma nova compreensão do tempo. A velha está relacionada com o individual. A nova está relacionada com o universal. A disputa entre individual e universal se mostra tanto na Guerra Mundial quanto na arte contemporânea.
2 - A guerra está desestruturando o velho mundo e o seu conteúdo: predominância do indivíduo em todos os campos.
3 - A nova arte trouxe à luz o que a nova compreensão do tempo contém: um equilíbrio entre o universal e o individual.
4 - A nova compreensão do tempo está preparada para se realizar tanto na vida interna quanto na externa.
5 - Tradições, dogmas e o predomínio do individual (do natural) estão impedindo essa realização.
6 - Por isso, os fundadores das novas artes plásticas pedem a todos que acreditam na reforma da arte e da cultura para aniquilar esses obstáculos do desenvolvimento, assim como eles aniquilaram nas novas artes plásticas (abolindo as formas naturais) aquilo que impede a pura expressão artística, a consequência final de todas as formas de arte.
7 - Os artistas do presente, impulsionados por uma mesma consciência em todo o mundo, tomaram parte na guerra mundial contra o domínio do individualismo e da arbitrariedade, de um ponto de vista intelectual. Eles simpatizam, então, com todos que lutam, intelectual ou materialmente, a favor da formação de uma união na vida, na arte, na cultura.
A guerra contra o individualismo, na trajetória de Jitrik, talvez seja mais evidente em sua militância à frente do Taller Popular de Serigrafía, com Mariela Scafati e Diego Posadas, nos anos 2000. Foi com o coletivo, por exemplo, que a argentina participou da 27ª Bienal de São Paulo, em 2006, com curadoria de Lisette Lagnado – exposição que disseminou, no Brasil, o conceito de estética relacional, do francês Nicolas Bourriaud, e é hoje considerada um divisor de águas na história da Bienal, primeiro por ter abolido as representações nacionais, mas, principalmente, por ter colocado na pauta do sistema de artes as pesquisas de artistas que se focam na colaboração e na coabitação, ou seja, nos valores do “viver junto”, que inclusive, emprestada de uma obra de Roland Barthes, foi a expressão que deu nome à Bienal de 2006, Como Viver Junto. A união pela qual lutavam os artistas um século atrás reviveu na América Latina e ao redor do mundo nos anos 2000 e, no início da década seguinte, de novo, na Primavera Árabe (2011) e nas Jornadas de Junho, no Brasil (2013).
Voltemos à pintura que parecia retratar um par de olhos e vejamos ali dois pássaros que tocam a ponta dos bicos, duas pessoas que dialogam, ou ainda o símbolo do infinito. “Foi um quadro cuja visualidade e materialidade emergiu, um pouco arbitrariamente, no processo de produção das obras para a individual na Luisa Strina. Não tenho muito a dizer sobre esta obra, a não ser que vejo nela algo sobre a comunicação, a comunicação como símbolo de algo contínuo, de algo infinito”, reflete Magdalena Jitrik. A exposição da artista nos mostra, ao final, que mesmo quando não podemos falar, o silêncio promove a reflexão que enseja a conversa infinita com o outro.
SOBRE A ARTISTA
Magdalena Jitrik (1966) nasceu em Buenos Aires, onde vive e trabalha. Entre 1974 e 1987, morou no México, onde estudou artes visuais, na Escola Nacional de Artes Plásticas. Ela vem mostrando seu trabalho desde 1990, quando teve sua primeira exposição individual na Galeria del Rojas. Ela foi um dos fundadores do grupo argentino Taller Popular de Serigrafía (2002-2007), junto do qual realizou uma grande intervenção na 27ª Bienal de São Paulo (2006). Jitrik participou também das bienais de Porto Alegre, Brasil (2009); Thessaloniki, Grécia (2009); Trienal Poligráfica de Porto Rico (2009), Istambul, Turquia (2011), e Manifesta 9, Genk, Bélgica (2012).
Exposições individuais recentes incluem: Venceremos // Black is Beautiful, Centro Cultural Universidad Nacional General Sarmiento e Casa Doblas, Buenos Aires, Argentina (2017); Vanguardia – America, MACBA, Buenos Aires, Argentina (2016); Pintura Moderna, Galeria Luisa Strina, São Paulo, Brasil (2014); El Fin, el Principio, Fundación Universidad Di Tella, Buenos Aires, Argentina (2013); International Lantern, The Beltable Center, Limerick, Irland (2012); La Linterna Internacional, Museo Castagnino, Santa Fe, Argentina (2012).
Entre as mostras coletivas de que participou, destacam-se Potência e Adversidade – Arte da América Latina nas coleções em Portugal, Museu de Lisboa / Pavilhão Branco e Pavilhão Preto, Lisboa, Portugal (2017); Verboamérica, Museo de Arte Contemporáneo de Buenos Aires (2016); Retour sur l’Abîme – l’art à l’épreuve du génocide, Les Musées de Belfort, France (2015); El teatro de la pintura, Museo de Arte Moderno, Buenos Aires (2014).
Seu trabalho se encontra nas seguintes coleções públicas: MACBA, Barcelona; Reina Sofia, Madri; Museo de Arte Contemporáneo de Rosario (MACRo), Rosario, Argentina; Museo de Bellas Artes de Bahía Blanca, Argentina; FRAC – Provence-Alpes-Côte d’Azur, Marseille, França; Fundación ARTEBA, Buenos Aires; MALBA – Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires; Centro de Arte 2 de Mayo, Madri, Espanha; Museo Universitario de Arte Contemporáneo, UNAM, México.
Why call “silence” an exhibition that has so much to say? Eight paintings and a set of objects compose Magdalena Jitrik’s fourth solo exhibition at Galeria Luisa Strina. It is as an enigma to be deciphered. Perhaps the most mysterious of the paintings, which at first sight appears to be the representation of a pair of eyes on a red concrete bulky formation, evokes the glances cast by the seated female figure in the lower right corner of Les Demoiselles d’Avignon, as well as the dying woman, outstretched arms in a surrendering posture, on the right side on the Guernica painting. The reference to Picasso is not direct nor fundamental, but it is known that the Argentine artist uses historical vanguards, from cubism and surrealism to the De Stijl and Bauhaus, in her critical reinterpretation of modernisms.
The resemblance to Picasso´s paintings is due less to the work by the Spaniard than to Picasso’s appropriation of primitivism, after all, the aesthetic choice to abandon perspective in favor of the two-dimensionality was deliberately adopted in Les Demoiselles in order to “épater la bourgeoisie”, who was used to traditional European painting, is revised by Jitrik in her deliberate use of perspective. In her paintings, Magdalena usually inserts visual contradictions between background and figure. The smoky effect on several of the pictures presented in El Silencio produces not only a sensation of a floating volume, but also projects the figure back and forth in an infinite dynamism.
It is important to remember that in 1907 Matisse classified The Young Women of Avignon as a bad taste joke, and today the painting is considered the genesis of the Cubist revolution. On one hand, if Les Demoiselles founded cubism, Guernica is the movement’s greatest icon. As it is known, the title of Picasso’s monumental painting derives from the name of the Spanish village that was the first urban area to undergo aerial bombing on April 26, 1937, by the German military air force that backed up the Francoist dictatorship during the Spanish Civil War, prologue to the Second World War. Nowadays, and over the years since then, this work is considered a peace symbol and a libel against war atrocities, of any war. It is said that when a Nazi official saw the painting, he allegedly asked Picasso: “Did you produce this horror, sir?”, To what the artist replied “No, you did”.
Magdalena Jitrik’s exhibition can be thought as a manifesto against the archipelago of arrogance that condemns us to silence. The more geometric works of the show have a Mondrian felling to them, who is also revisited in a sideway manner, logically. It is symptomatic that the pieces assembled in the gallery shed light to the Manifesto I (1918), by the group De Stijl to the present, a century and two great wars later:
1 - There is an old and new understanding of time. The old one is related to the individual. The new one is related to the universal. The dispute between individual and universal is shown both in global wars and in contemporary art.
2 - War is destroying the old world and its content: predominance of the individual in all fields.
3 - The new art has brought to light what is contained in the new understanding of time: a balance between the universal and the individual.
4 - The new understanding of time is prepared to take place in both the inner and outer life.
5 - Tradition, dogmas and the predominance of the individual (of the natural) are preventing this understanding.
6 - Therefore, the founders of the new plastic arts ask everyone who believes in the reform of art and culture to annihilate these development obstacles, just as they annihilated in the new plastic arts (abolishing natural forms) what prevents any pure artistic expression, the ultimate consequence of all art forms.
7 - Current artists, driven by the same consciousness throughout the world, took part in the world war against the domain of individualism and authoritarianism from an intellectual point of view. They commiserate, then, with all who fight, intellectually or materially, for the formation of a life union, in art, in culture.
The war against individualism, in Jitrik’s career, is perhaps most evident in her militancy ahead of the Popular Workshop on Screen Printing, with Mariela Scafati and Diego Posadas, in the year 2000. With this collective, for example, the Argentine took part in the 27th Bienal of São Paulo in 2006 curated by Lisette Lagnado – an exhibition that disseminated the concept of relational aesthetics by the Frenchman Nicolas Bourriaud in Brazil and is now considered a turning point in the history of the Biennial, firstly by abolishing national representations, but mainly for having placed on the agenda of the art system the artists´ researches that focused on collaboration and cohabitation, or else, on the values of “living together”, which was borrowed from Roland Barthes´ work, that was the expression that gave the 2006 Biennial its name, Como Viver Junto. The union that the artists fought for a century ago was revived in Latin America and around the world in the year 2000 and again, at the beginning of the following decade, in the Arab Spring (2011) and in the Days of June, in Brazil (2013).
Let’s return to the painting that seemed to portray a pair of eyes and see there two birds that touch each other with the tip of their beaks, two people who are in dialogue, or yet the symbol of infinity. “It was a picture where visuality and materiality emerged, somewhat arbitrarily, in the process of producing the works for the solo show at Luisa Strina. I do not have a lot to say about this work, unless I see in it something about communication, communication as a symbol of something continuous, something infinite, “reflects Magdalena Jitrik. The artist´s show tells us, in the end, that, even when we cannot speak, silence promotes the reflection that leads to an infinite conversation with the other.
ABOUT THE ARTIST
Magdalena Jitrik (1966) was born in Buenos Aires, where she lives and works. From 1974 to 1987, the artist lived in México, where she studied visual arts at Escuela Nacional de Artes Plásticas. She has been showing her work since 1990, when she had her first solo show at Galería del Rojas. She was one of the founders of the Argentine art collective Taller Popular de Serigrafía (2002 -2007), with whom she created an intervention of graphic art in the 27th Bienal de São Paulo (2006). Jitrik has joined the biennials of Porto Alegre, Brazil (2009); Thessaloniki, Greece (2009); Trienal Poligráfica de Puerto Rico (2009), Istambul, Turky (2011) and Manifesta 9, Genk, Belgium (2012).
Recent solo exhibitions include: Venceremos // Black is Beautiful, Centro Cultural Universidad Nacional General Sarmiento e Casa Doblas, Buenos Aires, Argentina (2017); Vanguardia – America, MACBA, Buenos Aires, Argentina (2016); Modern Painting, Galeria Luisa Strina, São Paulo, Brazil (2014); El Fin, el Principio, Fundación Universidad Di Tella, Buenos Aires, Argentina (2013); International Lantern, The Beltable Center, Limerick, Ireland (2012); La Linterna Internacional, Museo Castagnino, Santa Fe, Argentina (2012).
Recent group shows include: Potência e Adversidade – Art from Latin America at the collections of Portugal, Museu de Lisboa / Pavilhão Branco and Pavilhão Preto, Lisboa, Portugal (2017); Verboamérica, Museo de Arte Contemporáneo de Buenos Aires (2016); Retour sur l’Abîme – l’art à l’épreuve du génocide, Les Musées de Belfort, France (2015); El teatro de la pintura, Museo de Arte Moderno, Buenos Aires (2014).
Public Collections holding her work include: MACBA Barcelona; Reina Sofia, Madrid; Museo de Arte Contemporáneo de Rosario (MACRo), Rosario, Argentina; Museo de Bellas Artes de Bahía Blanca, Argentina; FRAC – Provence-Alpes-Côte d’Azur, Marseille, France; Fundación ARTEBA, Buenos Aires; MALBA – Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires; Centro de Arte 2 de Mayo, Madrid, Spain; Museo Universitario de Arte Contemporáneo, UNAM, México.
maio 28, 2019
Ernesto Neto: Ativação da obra - Línguas, reverência e oralidade na Pinacoteca, São Paulo
Línguas, reverência e oralidade
O encontro traz como temas as saudações e as formas como nos reverenciamos e reconhecemos, considerando as atualizações da cultura ancestral em um contexto contemporâneo; o conhecimento oral e as tecnologias de resistência através da linguagem.
1 de junho de 2019, sábado, das 11h às 16h
Pinacoteca de São Paulo - Octógono
Praça da Luz 2, Centro, São Paulo, SP
APRESENTAÇÃO
A obra de Ernesto Neto envolve um constante imaginar outras possibilidades de estar no mundo, outros modos de convivência entre as pessoas e delas com o ambiente, a natureza, a espiritualidade. Neste sentido, suas instalações mais recentes têm sido concebidas para acolher celebrações coletivas em reverência à essas esferas a partir de saberes ancestrais.
A instalação inédita Cura Bra Cura Té, concebida por ele especialmente para o Octógono da Pinacoteca, faz referências às diversas culturas que moldaram o Brasil. Essa traz como elemento central uma peça de madeira de três metros de altura, semelhante à um tronco, instrumento oficial de tortura, que simboliza um sistema escravocrata contemporâneo encoberto que, segundo o artista, ainda rege a estrutura econômica nacional e internacional.
Uma de suas extremidades tem como “raiz” um tapete com o mapa territorial do Brasil, rodeado de cores que aludem à mestiçagem nacional. O tronco, oco, foi preenchido por mercadorias que tem sido protagonistas da economia brasileira ao longo da história (açúcar, café, ouro, soja). Suspensa sobre a outra extremidade do tronco, há uma “copa” de crochê em formato de gota carregada de folhas curativas provenientes de culturas indígenas e afro-brasileiras.
Ao longo do período expositivo, o artista propõe uma ativação da obra por meio de quatro ciclos que incluem um “banho”, momento no qual o tronco é envolvido pela gota simulando uma cópula – a fusão entre feminino e masculino – assegurando aos participantes uma restauração energética. Após o ato, o tronco é cortado. Até o fim da exposição, este será eliminado totalmente.
Este corte carrega uma intenção de cura individual, coletiva e histórica, ao fazer referência aos processos de violência e espoliação vividos no país por séculos. Essa cura se vale primordialmente do reconhecimento e do respeito à sabedoria dos povos tradicionais africanos e indígenas.
Todos estão convidados a participar.
PROGRAMAÇÃO
11:00h – Meditação com Mbeji
11:45h – Banho - movimento da obra
12:00h – Fala sobre Alimentação com Fatou Mata + Almoço com EBÉ
14:00h – Apresentação de OZ Guarani
15:00h - Cura com Preta Rara
16:00h – Cura com Cristine Takuá e Papa Guarani
PARTICIPANTES
MBEJI
Coletivo intercultural formado por Ariane Molina (voz, atabaque, congas, cuíca e efeitos) e Dee Macaco (surdo, atabaque e efeitos) cuja pesquisa é dedicada à música e à dança de origem brasileira afro-ameríndia e afro-latina voltada para a reconexão com a ancestralidade através de diálogos rítmicos.
OZ GUARANI
Grupo de rap formado por nativos da Terra Indígena Jaraguá em SP. Criado com objetivo de mostrar as dificuldades vividas pelos jovens indígenas dessa etnia na cidade, seu repertório é cantado em sua língua nativa como forma de resistência e fortalecimento da luta indígena por seus direitos e cultura. Integrantes: Xondaro MC, Mano Glowers, Gizeli Para Mirim e Vlad MC .
CRISTINE TAKUA
Filósofa, educadora e artesã indígena, vive na aldeia do Rio Silveira, onde é professora da Escola Estadual Indígena Txeru Ba’e Kuai’ e auxiliar nos trabalhos espirituais na casa de reza. Também é fundadora e conselheira do Instituto Maracá; representante de São Paulo na Comissão Guarani Yvyrupa (CGY); representante do núcleo de educação indígena dentro da Secretaria de Educação de SP e membro fundadora do FAPISP (Fórum de articulação dos professores indígenas do Estado de SP.
PAPA GUARANI
Carlos Papá Mirim é um líder e cineasta indígena do povo Guarani Mbya. Trabalha há mais de 20 anos com produções audiovisuais com o objetivo de fortalecer e valorizar a cultura guarani mbya por meio da realização de documentários, filmes e oficinas culturais para os jovens. Também atua como líder espiritual em sua comunidade. Vive na aldeia do Rio Silveira, onde participa das decisões coletivas e busca ajudar a sua comunidade a encontrar caminhos para viver melhor. É conselheiro do Instituto Maracá.
PRETA RARA
Preta-Rara é rapper, historiadora, turbanista, modelo e influenciadora digital. Nascida em Santos (SP), lançou o CD Audácia em 2015, e a página “Eu, Empregada Doméstica” no Facebook em 2016, que, com mais de 160 mil seguidores, abriu um novo espaço para o diálogo sobre as condições de trabalho das trabalhadoras domésticas no país. Em 2017 foi a vez da websérie “Nossa Voz Ecoa”, que aborda temática relacionada à cultura e estética negra, racismo, machismo, gordofobia e hip hop. Foram convidadas personalidades como a filósofa Djamila Ribeiro, o rapper Criolo, a MC Soffia, a cantora Liniker, dentre outros.
EBÉ - Escola Brasileira de EcoGastronomia
Escola formada por Daniela Lisboa, especialista em Economia Solidária e Escolas de Alimentação Viva; Cassia Cazita, que tem em experiência em movimentos de ocupação cultural e de rua e Fabiana Sanches, ligada à Articulação Agroecológica e militante do movimento Slow Food. O encontro resultou em projetos como o Convívio Slow Food ComoComo, a primeira grande Campanha de Combate ao Desperdício de Alimentos e o Festival Disco Xêpa 2014. A Ebé desenvolveu um cardápio especial — em parceria com agricultores locais, nutricionistas e chefs indígenas e de origem africana — para o almoço disponível aos participantes da ação.
R$ 20 por pessoa.
Próximos ciclos: 29.06 e 13.07
Programação de cada ciclo será divulgada na semana anterior.
Ernesto Neto - Sopro, Pinacoteca de São Paulo - 31/03/2019 a 15/07/2019
Ivan Grilo na Triângulo, São Paulo
Casa Triângulo tem o prazer de apresentar Amanhã, logo à primeira luz, a segunda exposição individual de Ivan Grilo na galeria.
A exposição traz trabalhos inéditos que, no campo do discurso, se situam na ambiguidade entre o relato íntimo e o manifesto político. Ou como diz Tiago de Abreu Pinto que dialoga com o artista e assina o texto da exposição: “Estamos falando de política ou de amor? De algo que conecta essas duas coisas.”
Ivan traz uma narrativa fantasiosa de um rei em derrocada, que através de uma autocrítica da atuação do artista como etnógrafo, constrói objetos e instalações tecendo sobre a atual crise de empatia (que origina a crise democrática), tendo como cenário não apenas o nacional. “O artista nunca foi amigo do rei”, diz o artista a partir de um recorte de jornal que traz consigo.
Parte dos trabalhos foram idealizados durante o período em que o artista esteve em residência em Nova Iorque, no AnnexB Art Residency, por isso tratam o deslocamento e o entendimento de migração como parte da pesquisa. “Implica num contínuo ato de escuta”, diz.
Ivan Grilo, 1986, Itatiba, Brasil. Vive e trabalha em Itatiba, Brasil. Em 2007 concluiu o Bacharelado e Licenciatura em Artes Visuais pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas .
Tem como núcleo central de pesquisa a relevância de arquivos históricos e orais, juntamente com as diferentes possibilidades de leitura sobre um mesmo fato. Tomando como ponto de partida a fotografia principalmente como forma de documentação e registro de tempo, o artista busca dissecar os papéis representativos, políticos, narrativos, conceituais e estéticos da imagem, às vezes questionando ou mesmo reescrevendo de outro ângulo o material original, sutilmente embaçando a memória e a ação do tempo.
Dentre suas principais exposições individuais estão: Escribe una carta de amor (Mana Contemporary + The55project, Miami, 2018), Preciso te contar sobre amanhã (Gal. Luciana Caravello, Rio de Janeiro, 2016), Eu quero ver (Casa Triângulo, São Paulo, 2015), Quando cai o céu (Centro Cultural São Paulo, 2014), Ninguém (Paço das Artes, USP, São Paulo, 2011), além de integrar o Projeto Cofre com Estudo para medir forças (Casa França-Brasil , Rio de Janeiro, 2015).
Dentre as exposições coletivas estão: Quem não luta tá morto – Arte, Democracia e Utopia, curadoria de Moacir dos Anjos no Museu de Arte do Rio, Il coltello nella carne, curadoria de Jacopo Crivelli Visconti e Diego Sileo no PAC – Padiglione d’arte contemporanea di Milano em 2018, além das itinerâncias do Prêmio Marcantonio Vilaça, na curadoria de Josué Mattos: Verzuim Braziel (RJ/CE/GO) e também a exposição Lugares do Delírio, no SESC Pompéia, curadoria de Tania Rivera. Em 2017 participou de duas exposições dentro da BIENALSUR - Bienal Internacional de Arte Contemporânea da América do Sul, e no ano anterior da exposição Avenida Paulista, com curadoria de Adriano Pedrosa e Tomás Toledo, no MASP - Museu de Arte de São Paulo, além de A cor do Brasil, curadoria de Paulo Herkenhoff e Marcelo Campos no Museu de Arte do Rio. Já em 2015, foi convidado por Pablo León de la Barra para Tempos Difíceis, na Casa França-Brasil, e em 2012 participou da 2nd Ural Biennial of Contemporary Art, com curadoria de Raphael Fonseca, na Rússia.
Recebeu em 2012 o XII Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, em 2013 o PROAC Artes Visuais – Governo do Estado de São Paulo, em 2015 o Prêmio illy sustainArt – SP-Arte, em 2016 o Prêmio Foco Bradesco ArtRio, e em 2017 o Prêmio Fundação Marcos Amaro – SP-Arte, além de indicações ao prêmio PIPA - Prêmio Investidor Profissional de Arte.
Nos últimos anos participou de residências em Nova Iorque (AnnexB), Maranhão (Chão São Luís), Portugal (Triangle Network) e Itália (Humus Interdisciplinary Residence).
Das coleções que seu trabalho faz parte podemos destacar: Solomon R. Guggenheim Museum, Pérez Art Museum Miami, Fundación ARCO - CCA2M - Centro de Arte Dos de Mayo de la Comunidad de Madrid, MASP - Museu de Arte de São Paulo, Itaú Cultural, MAM - Museu de Arte Moderna de São Paulo, MAR - Museu de Arte do Rio de Janeiro, MAM/RJ - Col. Gilberto Chateaubriand, Fundação Bienal de Cerveira e Museo de la Universidad de Tres de Febrero.
maio 27, 2019
Talita Tunala no Palácio dos Correios, Niterói
A artista Talita Tunala, em diálogo com a psicologia complexa, investiga em seus trabalhos o esforço civilizatório e seus processos de falência. Por meio especialmente do desenho e da pintura, enfrenta as inquietações que perpassam a interseção entre a vida contemporânea e a prática pictórica.
Na exposição O Melhor Fruto, motivada pelo espaço expositivo dos Correios de Niterói, Talita inspirou-se na carta de Pero Vaz de Caminha escrita em 1 de maio de 1500, por ocasião do descobrimento do Brasil. Com um olhar sobre as estranhezas do tempo presente em contraste com a leitura da carta – a descrição da terra e seus povos, suas promessas e expectativas –, foram editadas e categorizadas instâncias de mundo que serviram de fio condutor para a produção de imagens da atualidade. “É como se as obras expostas traduzissem e respondessem ao texto de Pero Vaz agora na atualidade, em um estilo epistolar textualizado por imagens, não mais em um marco geográfico específico, mas numa visão ampliada em pontos aleatórios do Brasil”, observa a artista.
São mais de 70 imagens colhidas da percepção cotidiana, de sua imaginação, de documentos da história, do cinema e resíduos de memórias, que, associadas pelo princípio da montagem, reconfiguram formas, cores, contextos originários.
A reflexão que é colocada pela artista parte da observação da natureza, dos dispositivos e artefatos da cultura e dos modos de funcionamento das relações humanas do presente e sua distância daquela situação original, transfigurando-se na contemporaneidade muitas vezes em sinais e sintomas das circunstâncias originais fundantes.
Além disso, Talita Tunala produziu uma ação artística convidando 36 artistas para exercitarem também uma suposta resposta ao trecho extraído da carta que serviu como mote da exposição: “Porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente”. Cada um contribuiu com a imagem de uma de suas obras que a seu modo respondeu à carta, cujo silêncio se seguiu historicamente, no sentido de ativar poeticamente esse diálogo.
São eles: Aline Marins, Ana Tereza Prado Lopes, Ana Vitória Mussi, Andrea Guerreiro, Beanka Mariz, Bete Esteves, Brígida Baltar, Carolina Kaastrup, Chang Chi Chai, Cláudia Laux, Cláudia Lyrio, DB Bicudo, Denise Calazans, Duda Las Casas, Dulce Lysyj, Eduardo Garcia, Ivani Pedrosa, Jean Araújo, Julio Castro, Katia Politzer, Marcelo Oliveira, María Andrea Trujillo Mainieri, Maria Fernanda Lucena, Mercedes Lachmann, Myriam Glatt, Osvaldo Carvalho, Paulo Bruscky, Piti Tomé, Priscila Rocha, Roberta Paiva, Rosana Ricalde, Sandra Rocha-Pinto, Selma Jacob, Turenko Beça, Vanessa Rocha e Yoko Nishio.
A curadoria é de Marisa Flórido Cesar. “Melhor Fruto” entra em cartaz em 1 de junho no Espaço Cultural dos Correios, à Av Rio Branco 481, Centro, Niterói. A exposição fica aberta a visitação até dia 13 de julho, de segunda a sábado, das 11 às 18h, exceto feriados. Classificação Livre.
Talita Tunala vive e trabalha no estado do Rio de Janeiro. Graduou-se em psicologia e sua formação artística se deu na Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/RJ.
Hudinilson Jr. na Jaqueline Martins, São Paulo
Universo de Hudinilson Jr. é desmistificado em grande exposição na Galeria Jaqueline Martins
A Galeria Jaqueline Martins tem orgulho em apresentar Hudinilson Jr, a segunda exposição individual do artista paulistano a ser realizada na galeria e a primeira a ocupar dois andares de sua nova sede, com mais de 600 m2. A abertura está marcada para sábado, 01 de junho, das 12h às 18h.
A mostra, sob curadoria da própria galerista Jaqueline Martins, vai reproduzir de maneira simbólica, a casa e o ambiente de trabalho do artista. A ideia é trazer à luz um pouco mais sobre o universo do artista e mostrar outras facetas ainda pouco exploradas. Serão exibidas, por exemplo, pinturas criadas na década de 1970, e trabalhos de conteúdo psicanalítico, que abordam temáticas variadas em um mesmo plano: anatomia animal e humana, arte clássica, naturezas mortas, erotismo e sexualidade.
A exposição apresenta ainda uma seleção inédita de painéis de xerox, trabalhos em que o artista, a partir da produção de imagens do próprio corpo, ampliava e fragmentada as pranchas de xerox obtidas, produzindo fragmentos abstratos que retomam seu sentido apenas quando reunidos num mesmo painel. Junto a este grupo, a exposição traz ao público uma série de obras tridimensionais composta por colagens, esculturas e roupas utilizadas pelo artista, além de documentos, cartas que trocava com amigos, arte-postal e entrevistas que embasam a importância do artista como um dos pioneiros da arte-xerox no Brasil.
Hudinilson Jr. Foi um dos mais importantes artistas brasileiros de sua geração, influenciando toda a cena artística brasileira, não só através de sua produção individual entre as décadas de 70 e 2000 mas, principalmente, por seu papel ativo como personalidade catalisadora de coletivos e exposições experimentais. A xerografia, técnica que se tornou ao longo dos anos sua preferida – tanto por questões praticas quanto conceituais - começou a interessar Hudinilson entre 1977 e 1978. Na Universidade de São Paulo, através de professores e artistas que o apoiavam, ele teve contato direto com a máquina, sem técnicos intermediários. Durante este período, o artista aprendeu a operar a máquina até seu limite, explorando todas as possibilidades gráficas possíveis; ele ampliava detalhes, retalhava-os, ampliava novamente, distorcendo as imagens de seu corpo até o ponto em que se tornavam pura textura abstrata. Ele dizia que esse exercício era um perder-se no ver, um “exercício de me ver”, expressão que deu título a muitas de suas séries. O artista, assim, fez do próprio corpo nu erotizado o elemento central de sua obra, a matriz e a imagem dos trabalhos, sempre.
Nos últimos anos, o trabalho de Hudinilson Jr foi apresentado em importantes exposições coletivas como Histórias da Sexualidade - MASP (São Paulo), Copyart in Brazil - 1970-1990 (University of San Diego), The Matter of Photography in Americas (Stanford University, EUA) e a 31ª Bienal Internacional de São Paulo. O artista teve também seu trabalho apresentado recentemente em exposições individuais no Centro Cultural São Paulo, Museu de Arte Contemporânea da USP e Scrap Metal Gallery (Toronto).
Seu trabalho integra importantes coleções, como: MoMA (Nova York, EUA), Museu Reina Sofia (Madrid, Espanha), Migros Museum (Zurique, Suiça), MAGA Museo d’Arte (Gallarate, Itália), MALBA (Buenos Aires, Argentina), MASP (São Paulo, Brasil), Pinacoteca do Estado (São Paulo, Brasil) e o Museu de Arte Contemporânea da USP (São Paulo, Brasil).
Marina Rheingantz no Fortes D’Aloia & Gabriel - Galpão, São Paulo
Todo mar tem um rio, a mais nova exposição de Marina Rheingantz no Galpão da Fortes D’Aloia & Gabriel, reúne quatro pinturas de grande formato, reintroduzindo o trabalho da artista sob uma escala monumental. Cada uma das telas possui 3 metros de altura, com larguras que variam entre 3 e 5,5 metros, e juntas formam uma faixa quase contínua que preenche o amplo espaço na Barra Funda.
[scroll down for English version]
Desde o início de sua carreira, em 2008, Marina Rheingantz tem na paisagem o tema constante de sua pintura. Ela parte de cenas de viagens ou de recordações da infância – em especial, as vastas searas de Araraquara, cidade no interior de São Paulo onde nasceu – para compor ambientes remotos que tendem à abstração. Emanando uma atmosfera difusa como a própria memória, suas paisagens transitam entre a quietude e a distopia, nas quais a presença humana nunca se revela enquanto figura, mas através de vestígios.
Nos trabalhos recentes, ribanceiras, montes, galhos, ondas e pântanos se confundem com padronagens inspiradas na tapeçaria marroquina. Ao trazer tapetes e topografias para o mesmo plano, Marina parece resgatar o que ambos têm em comum: são locais de passagem, que convidam o espectador a dar um passo à frente e percorrer caminhos. Em Fularagem (2018), a artista transita entre as diferentes escalas através de pinceladas densas e gestos curtos. A noção de perspectiva dilui-se na tela, borrando os limites entre terra e céu, ao passo que inúmeros pontinhos espalham-se como um bordado. De maneira similar, uma trama forma-se em Todo mar tem um rio (2018) – a obra que dá título à exposição – à medida que reflexos dançam cadenciados sobre a superfície da água.
Na paisagem árida de Kalimba (2018), uma camada opaca encobre a vegetação como um manto. Os tons ocres que dominam o quadro são interrompidos por pinceladas elétricas de rosa, laranja e azul, revelando um aspecto peculiar do processo da artista, que muitas vezes usa a superfície da tela como paleta para misturar as cores. É também indício do tratamento quase escultórico que Marina dá às espessas camadas de tinta, como uma argila colorida prestes a ser modelada. Em Rabetão de ouro (2019), a matéria liquefeita do barro (e, em sentido mais amplo, de sua própria pintura) torna-se o próprio assunto da obra. Um gestual enérgico dá forma ao que a artista descreve como “jorro de lama”, que alastra-se com violência por um cenário na iminência de desmanchar.
Marina Rheingantz (Araraquara, 1983) vive e trabalha em São Paulo. Ela também está atualmente em cartaz até 15 de Junho na Carpintaria, Rio de Janeiro, com a exposição Rebote, que promove o diálogo entre suas pinturas e as fotografias de Mauro Restiffe. Outras individuais recentes incluem: Várzea, Bortolami Gallery (Nova York, 2018); Galope, Zeno X Gallery (Antuérpia, 2017); Terra Líquida, Galeria Fortes Vilaça (São Paulo, 2016); Dot Line Line Dot, Nichido Contemporary Art (Tóquio, 2016). Entre as mostras coletivas, destacam-se: On Landscapes – Biennial of Painting, Museum Dhondt-Dhaenens (Deurle, Bélgica, 2018); Mínimo, múltiplo, comum, Estação Pinacoteca (São Paulo, 2018); Projeto Piauí, Pivô (São Paulo, 2016); Soft Power, Kunsthal KAdE (Amersfoort, Holanda, 2016); Prêmio PIPA, MAM Rio (Rio de Janeiro, 2015). Seu trabalho está presente em importantes coleções como: Museu Serralves (Porto), Taguchi Art Collection (Tóquio), Pinacoteca do Estado de São Paulo, MAM Rio (Rio de Janeiro), Itaú Cultural (São Paulo), entre outras.
Todo mar tem um rio [Every sea holds a river], Marina Rheingantz most recent exhibition at Fortes D’Aloia & Gabriel | Galpão, gathers four large-format paintings, re-establishing the artist’s work into monumental scale. Each canvas is 10 feet tall, widths ranging from 10 to 18 feet, and together they comprise an almost continuous segment which fills the wide space at Barra Funda, São Paulo.
From the beginning of her career in 2008, Marina Rheingantz has chosen landscape as a consistent theme of her painting. She builds up from travel scenes or childhood memories – specially the vast fields from Araraquara, country town in São Paulo state where she was born – to assemble remote scenes that verge on abstraction. Exuding an atmosphere as diffuse as memory itself, her landscapes go from quiet to dystopian, in which human presence is never revealed as figure but as imprints.
In her recent works, cliffs, mountains, branches, waves and swamps blend with Moroccan tapestry inspired patterns. While bringing tapestry and topography to the same level, Marina seems to rescue what they both have in common: they’re transient areas, which invite the viewer to step forward and follow paths. In Fularagem (2018), the artist transits between the various dimensions through thick strokes and short gestures. The sense of perspective dissolves on the canvas, blurring the lines between earth and sky, as countless dots are scattered like an embroidery. In a similar manner, a mesh is weft in Todo mar tem um rio (2018) – the work which lends its title to the show – as reflections rhythmically dance on the water surface.
Within the arid landscape of Kalimba (2018), an opaque layer covers the flora like a mantle. The ochre hues that drench the canvas are interrupted by electric strokes of pink, orange and blue, revealing a peculiar aspect of the artist’s process, which often uses the surface of the canvas as a pallet to mix the colors. It’s also an evidence of the almost sculptural treatment Marina imparts to the thick layers of paint, like colored clay to be moulded. In Rabetão de ouro (2019), the liquefied matter of the mud (and in a wider sense of her own painting) becomes the very theme of the piece. An energetic gesture shapes what the artist describes as “mud spurt”, which violently spreads around a set on the verge of collapsing.
Marina Rheingantz (Araraquara, 1983) lives and works in São Paulo. She also currently holds the exhibition Rebote [Rebound] at Carpintaria, in Rio de Janeiro, which sets a dialogue between her paintings and Mauro Restiffe’s photographs, to June 15th. Her recent solo shows include Várzea, Bortolami Gallery (New York, 2018); Galope, Zeno X Gallery (Antwerp, 2017); Terra Líquida, Galeria Fortes Vilaça (São Paulo, 2016); and Dot Line Line Dot, Nichido Contemporary Art (Tokyo, 2016). Notable group shows include On Landscapes – Biennial of Painting, Museum Dhondt-Dhaenens (Deurle, Belgium, 2018); Mínimo, múltiplo, comum, Estação Pinacoteca (São Paulo, 2018); Projeto Piauí, Pivô (São Paulo, 2016); Soft Power, Kunsthal KAdE (Amersfoort, Netherlands, 2016); Prêmio PIPA, MAM Rio (Rio de Janeiro, 2015). Her work is present in the following collections: Museu Serralves (Porto), Taguchi Art Collection (Tokyo), Pinacoteca do Estado de São Paulo, MAM Rio (Rio de Janeiro), Itaú Cultural (São Paulo), among others.
maio 25, 2019
Bárbara Wagner & Benjamin de Burca na Bienal de Veneza, Itália
Para a representação oficial do Brasil na Biennale Arte 2019, Bárbara Wagner & Benjamin de Burca apresentam uma instalação em torno de novo filme comissionado para a ocasião. A mostra tem curadoria de Gabriel Pérez-Barreiro e é organizada pela Fundação Bienal de São Paulo
Entre maio e novembro de 2019, as duas salas do Pavilhão do Brasil no Giardini della Biennale em Veneza estarão ocupadas por uma exposição criada em torno do filme inédito Swinguerra. O mais recente projeto do duo Bárbara Wagner & Benjamin de Burca (Brasília, 1980 / Munique, 1975) teve sua produção iniciada a partir do convite de Gabriel Pérez-Barreiro, apontado como curador pela Fundação Bienal, para realizar uma exposição individual como a representação oficial do Brasil na mais antiga bienal do mundo. A mostra será composta de uma videoinstalação em dois canais do filme comissionado para a ocasião e, na sala menor, uma seleção de retratos dos participantes do novo trabalho, de forma que todo o Pavilhão irá refletir, em duas mídias diferentes, a mesma obra.
Embora sua realização tenha tido início no final de 2018, Swinguerra vem sendo gestado desde 2015, quando, durante a produção de sua primeira obra em audiovisual, Faz que vai (2015), a dupla teve contato com a swingueira. Nesse fenômeno cultural recifense, grupos de dança de 10 a 50 pessoas treinam rigorosamente para se apresentar em competições anuais. “A swingueira é uma espécie de atualização de um conjunto de tradições como a quadrilha, a escola de samba e o trio elétrico, praticada de forma autônoma e independente por jovens que se encontram regularmente em quadras esportivas na periferia do Recife”, explica Bárbara Wagner. “É um fenômeno que nasce da necessidade de integração social, passa pela experiência de identidade e chega ao palco e ao Instagram como uma forma de espetáculo alimentado pelo mainstream, mas que sobrevive absolutamente fora dele”, adiciona.
Assim como nas obras anteriores do duo, Swinguerra toma a forma híbrida de um documentário musical que cria um espaço ambíguo na medida em que as dimensões ficcionais e documentais se encontram, instaurando um terceiro território de linguagem. Fruto de uma prática colaborativa e horizontal com os retratados, o filme acompanha ensaios de três grupos de dança: um de swingueira; outro de brega, movimento já abordado pelo duo no filme Estás vendo coisas (2016), comissionado pela Fundação Bienal para a 32ª Bienal de São Paulo; e um de batidão do maloka, fenômeno surgido em 2018. “Os artistas presentes em nossos filmes são pessoas que conhecemos de perto e com quem colaboramos para os desenhos de roteiro. Nas filmagens, diante da câmera, eles performam a si mesmos, pois é esse tipo de conhecimento trazido no corpo que queremos analisar junto com eles”, afirma a artista.
“Swinguerra apresenta um panorama profundo e empático da cultura brasileira contemporânea, em um momento de significativa tensão política e social. Os corpos predominantemente negros na tela (muitos deles de gênero não binário) estão de muitas formas no centro de disputas contemporâneas sobre visibilidade, direito e autorrepresentação”, afirma o curador Gabriel Pérez-Barreiro. Como nos demais filmes do duo, questões de gênero, raça, poder e classe são abordadas de forma complexa, sem tomadas de posição simplistas ou reducionismos por parte dos artistas. Os fluxos econômicos que acompanham o surgimento desses fenômenos culturais, assim como os conflitos pessoais enfrentados pelos dançarinos, perpassam o filme, No entanto, eles não configuram a narrativa, mas sim constituem o pano de fundo daquilo que é comunicado pelos corpos em cena, seus movimentos e a tradição de que compartilham.
A realização de um catálogo em formato tradicional, que tem acompanhado as últimas representações oficiais do Brasil nas Bienais de Veneza, será substituída, neste ano, por uma publicação de arte que irá apoiar o projeto de forma mais direta: um cartaz realizado em linguagem semelhante à adotada para divulgação cinematográfica, com 48 × 68 cm, bilíngue, com tiragem de 10 mil exemplares.
Anna Maria Maiolino no PAC Milano, Itália
De 29 de março a 9 de junho de 2019, o PAC Padiglione d'Arte Contemporanea de Milão apresenta O amor se faz revolucionário, a mais extensa retrospectiva da artista ítalo-brasileira Anna Maria Maiolino, a primeira a ser realizada em uma instituição pública na Itália.
[scroll down for English version]
Inspirando-se na consciência feminina cotidiana e em uma ditadura opressora e censória - como nos anos 1970 e 1980 no Brasil - Maiolino produziu obras mergulhadas em força vital, que combinam a criatividade italiana com as experimentações das vanguardas brasileiras num estilo inconfundível e inimitável.
Atravessada pelo tema do amor por suas origens, sua família, sua pátria adotiva, seu trabalho, a produção de Maiolino explora as relações humanas e a dificuldade subjacente à comunicação e expressão, percorrendo a pálida fronteira entre a fisicalidade e uma esfera espiritual mais íntima.
Com uma seleção de mais de 300 obras da artista, que vão desde os primeiros desenhos até suas últimas criações, a mostra inclui suas grandes pinturas dos anos 1990, expostas pela primeira vez e obras dos mais importantes museus brasileiros, como MAM no Rio de Janeiro, MASP e Pinacoteca do Estado em São Paulo. Desenhos, pinturas, esculturas, fotografias, vídeos e instalações - incluindo um site specific feito inteiramente de argila - ilustram uma história artística, começando no início dos anos 1960 e ainda viva e fértil hoje, sendo capaz de influenciar muitos artistas das novas gerações.
Promovido pela prefeitura da cidade de Milão e produzido pelo PAC com a Silvana Editoriale, em setembro de 2019, a exposição será transferida para Londres, graças a uma colaboração com a Whitechapel Gallery.
From 29th March to 9th June 2019, PAC Padiglione d’Arte Contemporanea in Milan presents O amor se faz revolucionário, the most extensive retrospective of the Italian-Brazilian artist Anna Maria Maiolino, the first to be held at a public institution in Italy.
Drawing inspiration from the everyday female consciousness and an oppressive, censorial dictatorship – as experienced in 1970s and 1980s Brazil – Maiolino has produced works steeped in vital force, which combine Italian creativity with the experimentations of Brazilian avant-gardes in an unmistakable and inimitable style.
Crossed by the theme of love for her origins, her family, her adoptive homeland, her work, Maiolino’s production explores human relationships and the difficulty underlying communication and expression, travelling the faint boundary between physicality and a more intimate, spiritual sphere.
With a selection of over 300 works of the artist, ranging from the early drawings to her latest creations, the exhibition includes her large paintings from the 1990s, on show for the first time ever, and works from the most important Brazilian museums, such as MAM in Rio de Janeiro, MASP and the Pinacoteca do Estado in São Paulo. Drawings, paintings, sculptures, photographs, videos and installations – including a site-specific entirely made of clay – illustrate an artistic story, starting in the early 1960s and still alive and fertile today, being able to influence many artists of the newer generations.
Promoted by the City Municipality of Milan and produced by the PAC with Silvana Editoriale, in September 2019 the exhibition will move to London, thanks to a collaboration with the Whitechapel Gallery.
Daniel Lie na Jupiter Artland, Reino Unido
Daniel Lie: The Negative Years abre a temporada de 2019 da Jupiter Artland (Edimburgo, Escócia, Reino Unido). Apresentando uma série de instalações interrelacionadas nos espaços internos e externos da fundação, a exposição reúne plantas sagradas, terra e entidades orgânicas para evocar futuros ecológicos não binários.
O trabalho de Daniel Lie na Jupiter Artland oferece novas perspectivas sobre a longa e profunda relação entre espécies humanas e não-humanas em atos de co-criação. The Negative Years é uma manifestação da prática contínua de Daniel em Centro da Morte para xs Vivxs, que começa com o desejo de descentralizar a agência humana em favor de outros seres em nosso campo ambiental e emocional compartilhado. Entidades associadas à morte, apodrecimento, luto e memória, de fungos a bactérias, espíritos e divindades, atuam dentro de cada um dos ambientes deste artista, criando mudanças à medida que o trabalho se desdobra ao longo do tempo. A exposição é resultado de uma pesquisa de dois anos, onde Daniel trabalhou ao lado de micologistas para entender processos de geração de calor e biodigestão; com arqueólogos analisando rituais de morte do passado e presente, e uma rede de estudantes que estudam o ambiente, pós-humanismo, sistemas complexos e organizações através de princípios ecologicamente conduzidos.
Opening Jupiter’s 2019 season is Daniel Lie: The Negative Years, a series of five interrelated environments staged across Jupiter’s indoor and outdoor spaces bringing together sacred plants, earth and organic entities to evoke non-binary ecological futures.
Daniel Lie’s work at Jupiter offers new perspectives on the long and deep relationship between human and non-human species in acts of co-creation. The Negative Years, which is one manifestation of Daniel’s ongoing practice The Death Centre for the Living, begins from a desire to decentre human agency in favour of other actors in our shared environmental and emotional field. Entities associated with death, decay, mourning and memory, from fungi to bacteria, spirits and deities, act within each of the artist’s environments creating change as the work unfolds over time. The culimation of a two-year research partnership between the artist and Jupiter Artland Foundation, Daniel has worked alongside mycologists to understand processes of heat generation and biodigestion; archaeologists to consider death rituals past and present, and a network of students addressing the environment, post-humanism, complex systems and organisations through ecologically-led principles.
maio 23, 2019
Gilvan Samico na Estação, São Paulo
Em junho de 2012, a Galeria Estação realizou a última individual de Gilvan Samico (1928-2013) em São Paulo, com a presença do artista, que faleceria no ano seguinte. Em 2016, a sua obra marcou a 32ª edição da Bienal Internacional de São Paulo. Agora, nesta exposição com curadoria de Ivo Mesquita, a Galeria Estação presta uma nova homenagem ao grande mestre pernambucano, reunindo cerca de 34 obras que permeiam quase toda a sua produção: composições repletas de simbologia que têm na simetria e na verticalidade valores que organizam narrativas sobre a natureza, instâncias sagradas e a vida terrena. Integrante do Movimento Armorial, idealizado por Ariano Suassuna, Samico produzia em sua casa ateliê em Olinda, e foi um dos raros artistas que desenhava, gravava e imprimia manualmente seu trabalho.
A seleção de obras feita pela galerista Vilma Eid e por Ivo Mesquita está dividida em três grupos. No primeiro, Mesquita destaca gravuras que demonstram a influência dos professores de Samico (Lívio Abramo e Goeldi) em sua produção, como em Menina com corrupios, Leitura na praça (ambas de 1958) e Três mulheres e a Lua (1959). O curador ressalta que essas obras já exprimem o pensamento abstrato que articula as composições do artista.
O segundo conjunto reúne a produção dos anos 60, período em que Samico se encanta pelas tradições populares da literatura e da gravura de cordel, repletas de histórias e lendas que aquecem seu imaginário. “Esses trabalhos consolidam sua linguagem plástica, seu estilo direto e enxuto, e seu compromisso com a cultura vernacular, aliada à grande tradição da arte ocidental, representada pela abordagem de temas bíblicos e mitos clássicos da história”, afirma Mesquita. Segundo ele, ainda, é a produção desse período que faz dele um artista de projeção nacional.
No terceiro grupo, evidencia-se o momento em que o artista adota um tamanho padrão de matriz e passa a produzir uma única gravura por ano, que demandava inúmeros desenhos e estudos preparatórios, prática que ele exerce até o final (de 1977 até 2013). Os trabalhos desse período demonstram, segundo Mesquita, os fundamentos do seu compromisso com a arte e da sua prática da gravura desde então, adotando método e procedimentos que põem em movimento uma depuração do trabalho, com composições articuladas a partir da divisão geométrica do espaço, demarcação de campos simétricos, a estruturação hierática da imagem entre séries de figuras, animais, elementos de paisagens, frutas, vegetação, motivos decorativos. “A sua busca por ascetismo e exatidão como programa para aprofundar o processo de pensamento, trabalho, conhecimento, impõe limites à forma como que reduzindo ou restringindo a ação do artista”, completa.
Gilvan Samico (1928, Recife, PE) fundou em 1952 juntamente com outros artistas, o Ateliê Coletivo da Sociedade de Arte Moderna do Recife - SAMR, idealizado por Abelardo da Hora desde 1924. Em 1957 estuda xilogravura com Lívio Abramo na Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP, e, no ano seguinte com Oswaldo Goeldi, na Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. Em 1965, fixa residência em Olinda. Leciona xilogravura na Universidade Federal da Paraíba - UFPA. Em 1968, com o prêmio viagem ao exterior obtido no 17º Salão Nacional de Arte Moderna, permanece por dois anos na Europa. Em 1971, é convidado por Ariano Suassuna a integrar o Movimento Armorial, voltado à cultura popular nordestina e à literatura de cordel.
David Magila na Janaina Torres, São Paulo
Em sua primeira individual na galeria, o artista exibe o resultado de sua pesquisa em locais isolados e remotos, em pinturas e esculturas
Cada artista encontra sua própria “natureza” e faz dela o motivo da sua arte. Para David Magila, que expõe sua primeira individual na Janaina Torres Galeria, com abertura em 29 de maio, a natureza é composta de paisagens suburbanas, clubes de campo fora de temporada, balneários de férias e outras paragens remotas e isoladas nas quais o artista faz seu trabalho de campo.
Nas oito pinturas e três esculturas que compõem a mostra Frequentes conclusões falsas, David Magila exibe o resultado de um trabalho que, partindo do desenho e em um estilo baseado em componentes gráficos, exibe os fragmentos de uma estética do esvaziamento e do abandono.
São cenários de precariedade, em que o elemento inacabado de seu tema se transfere para a própria forma da arte, seja nas pinturas, seja nas esculturas. Magila registra uma ausência - do elemento humano, por certo, mas também da ordem e da lógica que guia o acabamento.
Apesar de cores vivas que irrompem nos trabalhos – como o salmão, o rosa e o verde -, uma certa melancolia está presente nas obras, acompanhando as marcas de uma arquitetura ordinária e predatória e a sensação de desmanche e fragilidade.
A unidade do conjunto é patente. Assim como a originalidade. Nas suas andanças, registrando os cenários com os quais se depara em anotações, recolhimento de objetos e fotografias, Magila busca o olhar “estrangeiro” à paisagem, o estranhamento.
“Quando vou para o ateliê, tento resgatar esse impulso”, diz o artista. “É como se pintasse algo que nunca fora visto e é daí que surgem ideias tanto da estrutura do trabalho como das cores que uso”.
David Magila, nasceu em São Caetano do Sul – SP, em 1979. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. É bacharel em Artes Plásticas pelo Instituto de Artes da UNESP, utiliza como fonte primária do seu fazer artístico o desenho, desenvolvendo sua poética através da pintura, escultura, site specific, vídeo. É integrante do coletivo Base V e participou de diversos cursos de especialização, como Litografia na ECA- USP com Cristy Wyckoff - PNCA – EUA.
Exposições individuais
2019 - Janaina Torres Galeria, São Paulo - Brasil
2017 - Como Vencer o Morro, Galeria Mamute, Porto Alegre, Rio Grande do Sul - Brasil
2016 - Meio-fio, Galeria Oma, São Bernardo do Campo, São Paulo – Brasil; Na quase Platô, Museu de Arte de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, São Paulo - Brasil
2015 - Tudo pelas Beiradas, Galeria Contempo, São Paulo - Brasil
Alexandre Mazza na Luciana Caravello, Rio de Janeiro
Artista ocupará todo o espaço expositivo da Luciana Caravello Arte Contemporânea com vídeos e videoinstalações inéditas, que partem de imagens de cachoeiras para falar sobre milagre
No dia 28 de maio será inaugurada a exposição Somos sua luz, com obras inéditas do artista Alexandre Mazza, que ocuparão todo o espaço expositivo da Luciana Caravello Arte Contemporânea. Em sua quarta exposição individual na galeria, o artista apresentará 15 trabalhos inéditos, produzidos este ano, dentre vídeos e videoinstalações, que dialogam entre si e possuem uma unidade, como se fossem um trabalho único. Em comum, todos eles partem de imagens de águas e cachoeiras. A exposição será acompanhada de um texto dos curadores Bernardo Mosqueira e Bruno Balthazar.
A partir dos trabalhos desta exposição, o artista pretende chamar a atenção para os milagres que estão a nossa volta: “O milagre não é raro, é o tempo todo, a cada segundo. Fenômeno constante. O milagre deve assumir uma nova significação, menos evidente, mais significativa. Uma queda d´água contínua é um milagre, estar vivo é um milagre. Podia ter escolhido vários exemplos de manifestações de milagre, mas escolhi a água”, conta o artista.
Com formação musical, Alexandre Mazza trabalhou durante 18 anos como baixista e compositor e passou a se interessar pela luz e pela eletricidade. Desde 2008 se dedica somente ao que chama de “multiplicação da luz”, utilizando diversos materiais, tais como espelhos, vidros, metais, lâmpadas, acrílicos e madeira. Os trabalhos desta exposição são uma continuidade desta pesquisa.
PERCURSO DA EXPOSIÇÃO
No salão térreo da galeria estarão 12 monitores de televisão de 75 polegadas. Em cada um deles, haverá um vídeo de uma cachoeira, mostrando a água em movimento. Pela imagem, não é possível identificar o local, pois para o artista, o que importa é a imagem e a energia que ela traz. No meio desta sala, estará uma pedra citrino, bruta, em formato de arco, trazendo para dentro da galeria a ideia de natureza, provocando uma verdadeira imersão no espectador.
No terceiro andar, estarão outros três trabalhos, divididos em duas salas. Na primeira delas, uma televisão projeta a imagem de uma queda d´água, que parece perfurar o chão. A ilusão de ótica é possível devido a um espelho colocado no piso, que reflete a imagem, dando a sensação de que a água escorre por um buraco no chão. Nesta mesma sala, haverá um monitor, que projeta a imagem de um redemoinho. Em volta dele, haverá terra, como se ele estivesse quase soterrado.
Ainda no terceiro andar, na segunda sala, haverá uma videoinstalação composta por um tanque de acrílico, com cerca de 300 litros de água, onde será projetada a imagem de um fundo de rio, com areia, pedras, etc, misturando a imagem da água do rio com a água real e translúcida.
SOBRE O ARTISTA
As obras de Alexandre Mazza (Ponta Grossa, RS, 1969. Vive e trabalha no Rio de Janeiro) têm como ponto central a pesquisa do olhar. É principalmente através dos objetos que o artista confronta seus espectadores com jogos visuais: com o que se vê e o que se acredita ver, com o que está ali e o que se imagina estar. Indicado ao prêmio PIPA em 2012 e 2014, o artista já apresentou seus trabalhos em exposições no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio), no Centro de Artes Hélio Oiticica, na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, entre outros. Suas obras estão em diversas coleções privadas e públicas, como a do MAM Rio e do Museu de Arte do Rio (MAR).
maio 22, 2019
Claudia Jaguaribe lança livro na Marcelo Guarnieri, São Paulo
No próximo dia 23 de maio, quinta-feira, às 19h, na Galeria Marcelo Guarnieri (Alameda Lorena 1835, Jardins), a artista visual Claudia Jaguaribe lança “Encontro com Liuba”, livro de fotos e serigrafias que cria uma narrativa visual e um diálogo a partir das obras de Liuba, artista plástica búlgara radicada brasileira. O projeto, produzido especialmente para a trilogia de Jaguaribe sobre mulheres modernistas nas artes no contexto histórico do pós-guerra, é uma extensão autoral da instalação formada por fotografias feitas por Claudia Jaguaribe nos ateliês de Liuba em Paris e em São Paulo.
Nascida na década de 50, período de consagração do modernismo brasileiro, Claudia Jaguaribe propõe em “Encontro com Liuba”, a construção de uma narrativa visual das obras da artista búlgara, que privilegia a imagem como linguagem expressiva dos aspectos da modernidade presentes nas esculturas de Liuba, num diálogo com as questões do mundo contemporâneo. O que permite o encontro dessas duas mulheres artistas, de gerações e linguagens aparentemente diferentes, é o interesse, em ambas, pela tridimensionalidade das obras, a necessidades de ocupar o espaço, sair do plano, e o destaque da abstração do bidimensional.
“As fotografias resultantes desse encontro mostram seres híbridos, mutantes, que retratam a nossa condição de migrantes de diferentes nações, de estados de ser e apoio de sexualidades. A carga dramática dessas formas escultóricas sobrepostas a imagens de hoje acentuam a universalidade das tensões presentes e a dimensão política da nossa condição humana”, analisa Claudia Jaguaribe, que destaca que a tensão, e certo humor, resultantes do trabalho de Liuba figuram desde a fase da figuração plástica ao refinamento abstracionista, e evocam, de maneira muito particular, as vanguardas européias, como o surrealismo e o expressionismo.
Como pontua a autora do projeto no texto de apresentação do livro, trata-se de buscar pelo diálogo das formas, linguagens e conteúdos de duas mulheres artistas - ela e Liuba - a condição político-social do nosso presente histórico; a partir das obras de uma artista imigrante do pós-guerra, o projeto expõe a “equivalências que ressoam no nosso cotidiano ao carregar o passado e o futuro de modo incerto”.
Com apenas 300 exemplares, que serão vendidos exclusivamente na Galeria Marcelo Guarnieri e com a própria artista (R$ 200,00), o projeto integra a trilogia de livros de artistas sobre mulheres estrangeiras, que compuseram o cenário modernista a partir da década de 50 no Brasil. O primeiro volume “No jardim de Lina”, dedicado a arquiteta modernista de origem italiana Lina Bo Bardi, foi lançado em setembro de 2018, com uma exposição na Casa de Vidro, no bairro do Morumbi, em SP. Para o ano de 2020, concluindo a trilogia, Claudia Jaguaribe prepara a edição consagrada à escritora ucraniana, naturalizada brasileira, Clarice Lispector; após o lançamento do último livro, os três volumes serão vendidos numa caixa com edição limitada.
Sobre Liuba (1923 - 2005)
Liuba desenvolveu em seu trabalho uma pesquisa atenciosa sobre o repertório formal dos mundos animal e vegetal e de culturas ancestrais, especialmente as sul-americanas. De 1944 a 1949 estudou com a escultora francesa Germaine Richier, primeiro na Suíça e depois em Paris, onde passou a viver e trabalhar. Em 1949 estabeleceu seu ateliê em São Paulo, mas foi só a partir de 1958 que decidiu viver entre São Paulo e Paris. Participou ativamente do circuito de arte brasileiro, sendo premiada na VII Bienal de São Paulo, em 1963 e integrando também as VIII, IX e XIII edições. Entre as décadas de 1970 e 1980 fez parte de seis edições do Panorama da Arte Brasileira realizado pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo. Suas peças evidenciam uma lógica construtiva por meio da articulação entre cheios e vazios, contornos e ritmos, linhas e forças, explorando formas angulosas e enérgicas. O bestiário que construiu ao longo de sua produção carrega um sentido não somente mágico, como também trágico. O grande interesse que tinha a artista pela aproximação de suas esculturas à arquitetura pôde ser reconhecido em 1965, com sua individual no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Seus "animais" foram dispostos nos jardins do museu, de modo que pudessem dialogar tanto com o prédio, quanto com a área verde, "retornando", enfim àquele que parecia ser o seu habitat natural.
Suas obras integram importantes coleções públicas internacionais como a do Fond National d’Art Contemporain de Paris, do Museu de Saint-Paul de Vence na França, do Kunsthalle de Nuremberg na Alemanha, do Hakone Open Air Museum no Japão e do Musée de La Sculpture en Plein Air de La Ville de Paris; e integram também importantes coleções públicas nacionais como a do Museu de Arte Moderna de São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, Coleção da Bienal de São Paulo e do Museu do Artista Brasileiro em Brasília, DF.
Sobre Claudia Jaguaribe (1955)
Formada em história da arte, artes plásticas e fotografia pela Boston University (EUA), participa de exposições nos principais museus e galerias do Brasil e no exterior desde 1990. Claudia Jaguaribe desenvolve uma pesquisa que explora a ideia de perspectiva e ponto de vista não só no assunto escolhido ou na maneira de fazer – em Entrevistas, por exemplo, série de fotografias produzidas a partir de conversas e visitas a casas de moradores de diversos bairros e classes sociais da cidade de São Paulo, onde são retratados junto às vistas de suas janelas –, mas também na maneira de exibir – em No Jardim de Lina, sua mais recente exposição na Casa de Vidro, em que dispõe as fotografias que fez do jardim, impressas em superfícies translúcidas, à frente dos grandes vidros que separam o interior da casa ao seu exterior, compondo uma cena de imagens sobrepostas.
Seus trabalhos estão em diversos museus e coleções brasileiras e internacionais tais como Museu de Arte Moderna, São Paulo; Inhotim, Brumadinho; Itaú Cultural, São Paulo; Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro; Victoria and Albert Museum, Londres; Maison Européene de la Photographie, Paris; Instituto Ítalo Latino Americano, Roma entre outros. Tem treze livros publicados e reconhecidos pela singularidade da integração fotográfica e projeto gráfico. Em parceria com Iatã Cannabrava e Claudi Carreras fundou, em 2013, a editora de fotolivros Editora Madalena, especializada em fotolivros.
O Rio dos Navegantes no MAR, Rio de Janeiro
Evento de abertura contará com pocket show de Teresa Cristina e apresentação do projeto Pra Gira Girar: uma celebração aos Tincoãs, com a participação especial do músico Mateus Aleluia
O Museu de Arte do Rio – MAR inaugura no dia 25 de maio, com um grande evento gratuito, sua principal exposição de 2019: O Rio dos Navegantes. A mostra traz uma abordagem transversal da história do Rio de Janeiro como cidade portuária, do ponto de vista dos diversos povos, navegantes e imigrantes que desde o século XVI passaram, aportaram e por aqui viveram. “O Rio Dos Navegantes” ocupará integralmente o terceiro andar do pavilhão de exposições e a Sala de Encontro, localizada no térreo, até março de 2020. O diretor cultural do MAR, Evandro Salles, é o idealizador e coordenador de curadoria e Francisco Carlos Teixeira, o consultor histórico. Também assinam a curadoria e a pesquisa Fernanda Terra, Marcelo Campos e Pollyana Quintella.
“O Rio dos Navegantes” reúne cerca de 550 peças históricas e contemporâneas, entre pinturas, fotografias, vídeos, instalações, objetos, documentos, esculturas, etc. Estão confirmados trabalhos de artistas como Ailton Krenak, Antonio Dias, Arjan Martins, Augusto Malta, Belmiro de Almeida, Custódio Coimbra, Guignard, Iran do Espírito Santo, João Cândido (João Cândido Felisberto), Kurt Klagsbrunn, Lasar Segall, Mayana Redin, Mestre Valentim, Osmar Dillon, Rosana Paulino, Sidney Amaral, Virginia de Medeiros, além de jovens artistas como Aline Motta e Floriano Romano.
Entre os destaques da curadoria está um raro tapete feito pela Manufatura dos Gobelins – um complexo de oficinas dedicadas à produção de tapeçarias e mobiliários na França do século XVI. Também promete chamar a atenção do público um painel de cinco metros, pintado em madeira pelo artista Carybé e pertencente ao acervo do Museu do Ingá. Outro destaque é o desenho original de Hélio Eichbauer que foi transformado em um painel na emblemática montagem da peça O Rei da Vela, em 1967, e mais tarde virou capa do disco O Estrangeiro, de Caetano Veloso.
Para ampliar a viagem pela história do Porto do Rio e seus desdobramentos, o museu firmou parceria com 37 instituições públicas e privadas, que cederam trabalhos para a exposição. Do Museu Nacional, destruído por um incêndio em 2018, virão 15 peças de diversas coleções da seção didática do museu, como conchas, corais, artefatos líticos, e frascos que apresentam a biodiversidade da baía de Guanabara. Outro destaque é o vídeo instalação do sul-africano Mohau Modisakeng, exibido na Bienal de Veneza de 2017. A obra simula barcos com figuras submersas e aborda o desmembramento da identidade africana pela escravidão, que promoveu violentos apagamentos de histórias pessoais.
“O Rio dos Navegantes” não se limita aos espaços tradicionais de exposição. Na rampa que leva o visitante ao pavilhão, por exemplo, o público já será ambientando à mostra por meio de uma das cinco obras comissionadas pelo MAR. Vozes, conversas e sons ambientes da Região Portuária foram reunidos pelo artista carioca Floriano Romano no trabalho “O Som do Porto”, que dá a dimensão da diversidade naquela região. Mais quatro trabalhos foram desenvolvidos pelos artistas Aline Motta, Carlos Adriano, Katia Maciel, Regina de Paula e Wilton Montenegro especialmente para “O Rio dos Navegantes”. A mostra também dá voz a personagens famosos e anônimos da região, como Arthur Bispo do Rosário, João Cândido, as polacas Berta, Esther e Rachel, o Dragão do Mar, os comerciantes árabes do mercado popular Saara, entre outros, que terão suas vidas narradas por meio de obras e documentos da época.
A exposição convida o público a refletir sobre os modos de vida que formaram o Rio de Janeiro, a relação entre cariocas e visitantes, a miscigenação, as formas de uso e democratização do espaço público, e os conflitos geográficos, linguísticos, culturais, econômicos e políticos que estão presentes na cidade desde o século XVI. Documentos e imagens raras mostram indígenas escravizados construindo os Arcos da Lapa, evidenciam os problemas das enchentes do Rio desde o século XVI e questionam o mito da praia democrática, evidenciando tensões sociais no espaço público e as praias do subúrbio, como as do Caju, Ramos, Sepetiba e Ilha do Governador.
Sala imersiva Fluxo inaugura no mesmo dia
No dia 25 também será inaugurado o primeiro espaço imersivo do MAR, com o objetivo de propor ao visitante uma experiência sensorial. A instalação de estreia, Fluxo, foi desenvolvida por uma equipe multidisciplinar liderada pela diretora criativa Liana Brazil, da SuperUber. A sala localizada no primeiro andar do pavilhão de exposições é uma aposta da direção do museu, por meio de sua diretora executiva, Eleonora Santa Rosa, e faz parte de um novo núcleo de trabalho da instituição.
Fluxo é uma experiência imersiva que explora o movimento contínuo, fluido, espontâneo. Ao entrar na sala escura, o visitante perceberá que suas pegadas criam rastros que o conectam a um núcleo onde imagens e sons inspirados na exuberante natureza do Rio de Janeiro surgem de todos os lados. Constelações, águas, tempestades e traçados ancestrais são projetados em telas que envolvem o público e o transportam para um espaço-tempo outro, fora da história, livre de começos-meios-fins.
“Esse projeto é um experimento criado a partir de conversas com grupos de jovens convocados pelo museu, visando atrair novos públicos. Possui uma dimensão poética, epifânica e sensorial, que traz, no seu âmago, essa ideia de fluxo pois cria conexões e movimentos por meio de uma movimentação contínua”, explica Eleonora Santa Rosa. Liana Brazil completa: “Esse tipo de arte está cada vez mais presente nos museus do mundo e com a inauguração dessa instalação, o MAR entra na onda da interdisciplinaridade da arte”, observa.
PROGRAMAÇÃO
16h: Abertura da exposição “O Rio dos Navegantes”
16h: Abertura da sala de imersão “FLUXO”
19h: Show do projeto Pra Gira Girar: uma celebração aOs Tincoãs, com a participação especial do músico Mateus Aleluia, remanescente do grupo original
20h: Pocket show - Teresa Cristina canta Paulinho da Viola
Ralph Gehre na Referência, Brasília
Com pinturas inéditas, artista visual radicado em Brasília apresenta na Referência Galeria de Arte a sua mais recente produção em que aborda o embate pessoal com a sua produção através da pintura. Em duas oportunidades, o público poderá conversar com artista na galeria com visita mediada
No dia 25 de maio, das 17h às 22h, A Referência Galeria de Arte inaugura a mostra Jogo de simples, de Ralph Gehre. Um dos mais emblemáticos e importantes artistas visuais de Brasília apresenta 11 trabalhos inéditos de formatos variados, em que aborda a natureza da pintura e os questionamentos que surgem ao longo do processo de produção. A mostra fica em exibição até o dia 13 de julho, com visitação de segunda a sexta, das 12h às 19h, e sábado, das 10h às 15h. A entrada é gratuita e livre para todos os públicos. A Referência Galeria de Arte fica na 202 Norte Bloco B Loja 11 – Subsolo – Brasília-DF. Telefone: +55 61 3963-3501.
Desde os anos 1980, Ralph Gehre produz e expõe seus trabalhos nos mais variados suportes. Seu interesse se direciona neste momento por completo à pintura. Nesta mostra, Ralph Gehre convida o público a participar de uma partida em que cada participante ocupa sua posição na quadra ou no tabuleiro de jogo. Um embate se põe em andamento, à exemplo do que ocorre entre o artista e a pintura, fruidor e obra se duelam e se desafiam. O campo escolhido pode ser a obra como a galeria.
Ralph Gehre afirma que concomitantemente ao ato de pintar surgem as ideias que orientam sua produção. O processo, diz, é difícil, mas conduz bons pensamentos. “O desejo de pintar implica pensamentos lógicos e incoerentes e ambos são importantes”, ressalta. A pintura que Ralph Gehre apresenta em “Jogo de simples” mostra como se relacionam a forma, a cor, a textura, a luz e a sombra. “Na prática, estes trabalhos dizem respeito à minha relação coma a pintura. É um embate entre o artista e a produção, a vida, a pintura e todas as coisas que nos cercam”, afirma. “Sempre penso em jogos, em campos de peleja e espaços relacionais”, completa.
Um artista necessário
A presença de Ralph Gehre é perceptível não apenas através de sua produção, mas nas obras das novas gerações de artistas visuais que surgiram no Distrito Federal e que hoje se destacam nos cenários nacional e internacional. “Para além de sua produção artística, Ralph Gehre se faz cada vez mais necessário para as artes visuais de Brasília e do País”, afirma Onice Moraes, galerista e sócia da Referência Galeria de Arte. A relação de trabalho e amizade ao longo de décadas com o artista gerou exposições individuais e coletivas importantes além de apresentação de sua produção para colecionadores, instituições públicas e feiras internacionais. “O interesse por sua obra cresce a cada dia entre curadores e críticos, havendo uma grande demanda por conhecer mais sobre seu trabalho. A mostra “Jogo de simples” que ele apresenta na Referência apresenta mais uma enorme contribuição à pujante produção cultural de um dos artistas seminais de Brasília”, completa a galerista.
Encontros com o artista
Como parte da programação da mostra, o artista realizará duas conversas abertas ao público. A primeira acontece no dia 31 de maio, sexta, às 16h30, e a outra, no dia 1º de junho, sábado, às 12h. A entrada é gratuita e livre para todos os públicos.
Sobre o artista
Esta é a primeira individual de Ralph Gehre na Referência Galeria de Arte desde 2015, quando realizou a mostra “Coisas impossíveis são possíveis”, na Referência Galeria de Arte; e a exposição individual Recluso e a Oficina Aberta Verso no Museu Correios, Brasília no mesmo ano. Ralph Tadeu Gehre nasceu em Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, em 1952. Vive e trabalha em Brasília desde 1962, tendo iniciando sua carreira de artista plástico em 1980. Tem por formação Desenho e Plástica e Arquitetura e Urbanismo, cursados na UnB no período entre 1972 e 1980. Utiliza diversas mídias gráficas, além do desenho, da pintura e da fotografia. Situa sua pesquisa na relação entre a imagem e a palavra, tratando do processo de leitura, e nas relações entre corpo da pintura e composição.
Hiato na Sim Galeria, São Paulo
A Sim Galeria traz a coletiva Hiato, com trabalhos de Hélio Oiticica, Juan Parada, Lais Myrrha, Ricardo Alcaide e Sam Moyer. Michelle Sommer, que assina o texto expositivo, parte dos Metaesquemas de Hélio Oiticica para discorrer sobre a ideia de interrupção de continuidade. Segundo a curadora, “Nestas produções artísticas, entre a ruptura da estrutura formal da composição pictórica e o vir a ser do espaço extra-pictórico ambiental, reside um hiato. Na abertura, fenda, lacuna, está a interrupção do padrão de um acontecimento contínuo para a confirmação da continuidade dos processos ambíguos”, afirma. Ao evitar abordagens formais e enquadramentos rígidos, a mostra abre caminho para a experimentação e novas linguagens, algo presente em seu conjunto de obras.
Enquanto Juan Parada e Hélio Oiticica compartilham em suas práticas investigações sobre tempos de duração, Laís Myrrha desenvolve o conceito de desconstrução em elementos construtivos ou de desordem frente uma suposta ordem ou ainda sobre o estado transitório e finito das coisas. Já Ricardo Alcaide apresenta uma instalação inédita além de outra obra que, segundo Sommer, se relacionam com as problemáticas urbanas levantadas por Oiticica, ao ativarem “a memória viva do formalismo modernista, em um presente resistente, que tem sua estabilidade friccionada e está em constante limiar da queda”, explica. Por último, Sam Moyer apresenta Grid for Hélio (2019) e Ryōan-ji Path (2019), obras de materialidade minimalista que passeiam entre a pintura e a escultura propondo, segundo a curadora, um “híbrido equilíbrio dinâmico”.
Niobe Xandó na Simões de Assis, São Paulo
Um panorama da produção de Niobe Xandó (1915, Campos Novos Paulista, SP – 2010, São Paulo, SP) pode ser conferido nesta exposição organizada pela sede paulistana da Simões de Assis Galeria, que reúne cerca de 50 obras concebidas de 1960 a 1992. São mais de 30 óleos sobre tela, além de 15 trabalhos sobre papel e cinco Totens que apontam a trajetória de uma das mais originais artistas brasileiras que preferiu dialogar com várias manifestações a se inserir em só um movimento. Com isso tornou-se detentora de uma narrativa particular marcante na história da arte brasileira.
Na exposição há obras da década de 60, período em que Niobe Xandó abandona o figurativo e se aproxima da abstração, quando começa a desenvolver o tema das Máscaras, que percorreu toda a sua obra. O mesmo acontece com os Totens em que a artista recobre volumes de madeira com as linhas e cores usadas nas Máscaras. Essas obras tiveram influência do período em viveu na Bahia e descobriu o Afro, fase em que também somou estudos sobre as artes pré-colombiana e indígena brasileira.
A Abstração na obra de Xandó é o que ela dizia ser o resultado de um choque do homem primitivo com o homem atual, conforme havia declarado para Maria Ignez Corrêa da Costa” (Jornal do Brasil, Rio de Janeiro/RJ, 06/08/1969), segundo a pesquisa de María Iñigo Clavo, em seu texto para esta exposição. Trata-se do embate entre o arcaico e o contemporâneo. “É o que ela chamou de mecanicismo, em um encontro crítico entre o progresso e a ciência com a espiritualidade”, diz a crítica. Segundo Clavo, os retratos mecanicistas de Xandó de subjetividades tecnológicas e arcaicas em desintegração, como em As seis máscaras (1972), Máscaras LXII/ O diálogo (1968) ou Máscaras XXV/ O jogo I (1968), são também futurismos interrompidos pela atemporalidade do jogo, da cor, das repetições seriais imperfeitas, das tecnologias defeituosas e dos gestos.
Neste mesmo período, de 1960 a 1970 Xandó teve sintonia também com o letrismo, movimento que pretendia criar uma nova escrita com base em símbolos. Clavo aponta em seu texto, que Vilém Flusser, teórico que esteve muito próximo da artista, escreveu sobre uma nova língua brasileira pela qual Xandó se interessou em seus grafismos, e que representou uma revolução linguística crucial para o filósofo na forma de pensar desse homo ludens. “Nas obras de Xandó como Máscaras XIII (1980), O Enigma da Nova Escrita I (1966), ou Máscaras (1967), os grafismos podem acompanhar as máscaras, ou inclusive fazer parte delas, mas também, e sobretudo, podem virar as próprias máscaras, tornando-as então, pura linguagem”, destaca a crítica, concluindo que esse pode ser um dos encontros secretos entre o contemporâneo e o arcaico que indicava Giorgio Agamben.
João Trevisan no Adelina, São Paulo
Com curadoria de Mario Gioia, a primeira edição do projeto Perímetros traz mostra de artista de Brasília com programação paralela gratuita, com oficinas, palestras e bate-papo
Em sua nova fase, a Adelina Instituto se volta ainda mais para sua vocação e um dos principais focos do projeto desde o seu início, buscando fomentar o setor das artes, dando maior visibilidade para artistas, curadores, além de contribuir com a formação de público. Para marcar esse recomeço, o espaço recebe a partir de 25 de maio, a exposição Corpo-Trajeto, do artista João Trevisan, que integra o projeto Perímetros, do curador Mario Gioia.
Perímetros é dedicado a artistas prioritariamente sem exposições individuais em São Paulo, de variadas linguagens, origens e investigações. O projeto foi desenvolvido por Mario Gioia, que o apresentou ao empresário Fabio Luchetti quando soube da nova fase da Adelina Instituto. “São Paulo é uma grande vitrine para as artes no País e sabemos que nem sempre é fácil entrar no circuito e conseguir uma mostra individual na programação paulista. A ideia de Perímetros é abrir espaço pra esses nomes e também oferecer ao público nomes que eles nem sempre estão acostumados a ver”, explica o curador.
De Brasília, João Trevisan é um nome conhecido e já esteve em São Paulo para mostras coletivas. Mas essa é sua primeira oportunidade para uma individual. A vertente tridimensional do seu trabalho é uma das características que mais chamam atenção. Mas em Corpo-Trajeto traz também pinturas, desenhos, vídeo/ performance e outros meios com os quais Trevisan se expressa. E alguns dos trabalhos podem surgir ao longo da mostra, que fica em cartaz até 6 de julho. Entre os materiais usados, está madeira, ferro e tinta, mas o artistas diz não ver muita diferença entre eles: “agora, articulo esses materiais como os possíveis desdobramentos da mostra”.
Segundo o curador Mario Gioia, "não se pode desprezar a deriva como elemento disparador de processos do fazer artístico de João, tanto em resultados ‘finais’ como parte relevante do corpo de obra. Por exemplo, a ferrovia perto da residência do artista, outrora vista apenas como mais uma via urbana, adquiriu contornos de uma interminável fonte de formas, projeções, vestígios, passagens etc.
Programação paralela
A mostra também terá uma programação paralela, com oficinas e palestras, todas com inscrições gratuitas e que exploram de diversas maneiras características da produção artísticas de Trevisan. A primeira atividade será em 28 de maio: em uma conversa com o curador Mario Gioia e o próprio João Trevisan, os visitantes descobrem mais sobre o processo de criação do artista para a exposição. No dia 8 de junho, o designer e ator Auber Bettinelli ministrará a oficina Diálogo entre linhas e cores, que parte de elementos das obras de João Trevisan e estimula os participantes a criarem uma instalação tridimensional que dialoguem com a mostra.
Na palestra Entre a escultura e arquitetura, que acontece dia 15 de junho, Cauê Alves, coordenador do curso de graduação em Arte: História, Crítica e Curadoria da PUC-SP, fala sobre como as obras contemporâneas ocupam o espaço e se relacionam com diversos ambientes. No dia 29 de junho, Talita Vinagre, pesquisadora em novas pedagogias do corpo, encerra a programação paralela com Gestos da vida e gestos da arte. Por meio de jogos que envolvem movimentos do corpo e interações com objetos, ela cria uma ação performativa coletiva com os participantes da atividade.
João Trevisan nasceu em 1986 na cidade de Brasília onde vive e trabalha. É bacharel em Direito. Seu trabalho consiste em explorar questões relacionadas a matéria, peso, leveza, tensão, articulação e equilíbrio e a máxima do objeto. Em 2019, abriu a sua terceira individual Corpo, Breve instante, na galeria Karla Osório em Brasília com curadoria Malu Serafim. No ano de 2018 realizou a sua segunda individual com curadoria do artista Bené Fonteles na Galeria Decurators; participou da exposição Brasília Extemporânea com curadoria da Ana Avellar; participou do 43o Salão de Arte de Ribeirão Preto Nacional Contemporâneo; e 46o Salão de Arte Contem- porânea Luiz Sacilotto, em Santo André/ SP; e 15o salão de ar- tes plásticas de Ubatuba; expos na Fundação de Arte de Ou- ro Preto - FAOP de Ouro Preto/ MG. Em 2017 participou do pri meiro Salão/ Residência - Eixo do fora No 05, realizada na cidade de Olhos d'água no estado do Goiás, com exposição no MUN — Museu Nacional da República - DF, com obra adquiri- da para acervo da instituição. No mês de abril de 2017, realizou a sua primeira exposição individual intitulada Estrutura Gestual, na galeria XXX Arte Contemporânea, com curadoria Renato Lins. Participa desde 2014 de exposições coletivas, dentre as quais: Ondeandaaonda I (2015), II (2016) ambas realizadas no MUN – Museu nacional da Republica – DF, e Ondeandaaonda III (2018) realizada no Espaço Cultural Renato Russo na 508 SUL – DF; e INACTU 3a ed. Espaço 406 UNB (2014).
Mano Penalva na Central, São Paulo
Em "Acordo", Penalva apresenta um conjunto de trabalhos inéditos, produzidos entre 2018 e 2019 e construídos a partir de um olhar sobre as coisas do mundo, do gesto e da circulação de mercadorias nas ruas. Materiais e objetos são arranjados, estruturados ou encostados a partir de um deslocamento considerado como um estado normal; panos, cintos, sacolas, objetos ordinários e gestos são reorganizados como fragmentos de uma composição precisa.
No trabalho de Mano Penalva percebe-se comumente uma espécie de “quebra da normalidade” dos objetos – capacidade de reconfiguração surpreendente e inesperada, quando os mesmos deixam suas funções primeiras e imprimem novas possibilidades e formas de pensar a sua existência.
Para "Acordo", foram produzidos dois trabalhos que levam o nome da exposição; uma canção de trabalho, produzida em parceria com o cantor Paulo Neto, e um vídeo, em parceria com o diretor Di Rodrigues e participação dos artistas Fernanda Pavão e Moisés Patrício.
Na música "Acordo" (canção de trabalho do artista) Mano traz refrões como: “Acorda, acorde, acode / O tempo levantou cedo/ 24/7, é labuta o dia inteiro/ Quem sai pra trabalhar, sabe o tempo de quarar”, estabelecendo uma relação entre a fala, ou seja, dos sons guturais associados aos movimentos. O tema “trabalho” reforça a condição de “ofício artístico” que extrapola a relação produtor e produto, deslocando a produção artística de uma prática romântica/criativa, ao mesmo tempo que valoriza a labuta em diversos segmentos e o processo de tentativa e erro, onde o artista passa a ser “Artista etc”; como chamou Ricardo Basbaum.
Tecidos plissados manualmente repousam sobre facas fixadas nas paredes e uma grande cortina corta o espaço. Suas dobras orgânicas se relacionam semanticamente com "Acordo", a canção de trabalho.
Parte das esculturas vem do olhar para gestos e práticas do comércio informal, dos vendedores de rua, e tem seus nomes no diminutivo como “Palhinha”, “Melzinho” e “Quentinho”, estabelecendo também uma relação com a fala coloquial e sua afetividade.
“Quentinho” consiste em um suporte para cones de papel recheados de amendoim, onde o expectador tem a possibilidade de adquirir uma peça com o aditivo da “sorte grande” por um valor simbólico, já que um deles contém um amendoim feito em ouro.
O trabalho de Mano Penalva parte do estudo da Cultura Material, mudanças de comportamento e efeitos da globalização. Sua produção é deliberadamente não-representativa, permitindo que os materiais e objetos ditem a forma e se unam quase que por conta própria a partir de um desejo de existirem no mundo. O artista explora a poesia obtida pelo deslocamento dos objetos de seu contexto cotidiano, trabalhando com diferentes mídias como pintura, fotografia, escultura e instalação. Ao criar os trabalhos, subverte o valor dos objetos do cotidiano, propondo novos agrupamentos estéticos a partir da relação das estratégias de venda do varejo e das suas experiência de coleta!
Em "Acordo", Mano Penalva traz à tona a ideia que a exponencial proliferação de objetos e imagens não se destinam a treinar a percepção ou a consciência, mas insistem em fundir-nos com eles.
maio 21, 2019
Raul Mourão na Nara Roesler, São Paulo
Raul Mourão convida o público para um dia de atividades na Galeria Nara Roesler: no sábado (25/05) haverá programação das 11h às 19h com visita guiada, bate-papo, live vídeo e performance
Raul Mourão apresenta Introdução à teoria dos opostos absolutos, sua terceira individual na Galeria Nara Roesler | São Paulo, entre os dias 25 de maio e 20 de julho. Repleta de antagonismos, a exposição reafirma a produção multimídia do artista – composta de esculturas, fotografias, pinturas e vídeos – e incorpora comentários poéticos sobre o caos social e político atual.
Esse conflito entre o lírico e o real já aparece na vitrine da galeria, onde Mourão expõe a escultura Armário das Maquetes Valendo #1 (2019), reunindo diversas formas suspensas que se movem de diferentes maneiras, ao lado de uma obra de sua mais recente série, batizada de The new Brazilian flag – em que ele recorta o círculo azul da bandeira do Brasil, criando um furo onde havia estrelas e a frase "Ordem e progresso".
"Essa bandeira é um gesto de desconstrução, uma sutil intervenção física num objeto de tecido criando uma obra que tem a síntese de um cartum", explica o artista.
Dentro da galeria, a produção escultórica de Mourão é apresentada em dois conjuntos distintos: grandes esculturas cinéticas – em escala monumental se embaralham ao fundo da sala principal, desenhando uma poderosa instalação. Em contraposição, uma outra série de dez pequenas esculturas cinéticas utiliza objetos do cotidiano, como copos, garrafas e tijolos, criando peças delicadas e bem-humoradas.
A pesquisa do artista sobre iconografias próprias do contexto urbano – como grades, objetos de botequins e elementos gráficos de sinalização – se materializa também em três fotografias em grande formato de um painel realizado com cartazes lambe-lambe na rua do ateliê de Mourão, na Lapa carioca. "Um ano depois da ação, fotografei o muro em escala 1:1 incorporando as intervenções do tempo, pichações e grafites", conta o artista.
Mourão também apresenta Bang-bang, vídeo de 2017 em que dezenas de esculturas de aço e garrafas de vidro são alvejadas por tiros que partem de armas de fogo. Nesta obra, além de retornar ao tema da violência, assunto recorrente em seu trabalho, o artista faz referência ao ódio pela criação artística, ao embate entre quem produz arte e quem deseja atacá-la, destruí-la. "O vídeo incorpora tanto a questão da violência urbana quanto o impulso destrutivo de uma comunidade reacionária que se ergue contra a arte”, ele diz.
Com texto do escritor e professor Guilherme Wisnik, a mostra é dedicada a três artistas paulistas: Dora Longo Bahia, Nuno Ramos e Dudi Maia Rosa. Mourão também dedica alguns trabalhos a outros artistas-colegas: Barrão, Marcelo Cidade, Guto Lacaz e Cafi, morto em 1 de janeiro deste ano.
Na ocasião da abertura da mostra, no sábado, dia 25 de maio, o artista elaborou uma programação diversificada com convidados que se estenderá ao longo do dia, com visita guiada, bate-papo, live vídeo, performance e outras atividades com artistas e especialistas:
11h | abertura
12h | visita guiada com artista e Guilherme Wisnik
13h| entrevista com Fábio Faissal
15h | batepapo com a artista Lenora de Barros
16h | live video com Lúcia Koch
17h | Performance Cabelo participação Afonso Tostes e Dj Nepal
18h | Dj Surpresinha
19h | Encerramento
maio 19, 2019
Vaivém no CCBB, São Paulo
Símbolo da cultura indígena e objeto presente na criação da identidade brasileira, a rede está em trabalhos de cerca de 140 artistas - Com curadoria de Raphael Fonseca, a mostra ocupa todo o edifício e destaca também a participação de mais de 30 artistas contemporâneos indígenas, como Arissana Pataxó, Denilson Baniwá, Duhigó Tukano, Gustavo Caboco, Jaider Esbell e o coletivo Mahku, muitos com trabalhos criados especialmente para o projeto
O Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo inaugura no dia 22 de maio a exposição Vaivém, apresentando as redes de dormir nas artes e na cultura visual no Brasil. Com mais de 300 obras dos séculos 16 ao 21 e a participação de 141 artistas – entre eles, 32 indígenas –, a mostra tem curadoria de Raphael Fonseca, crítico, historiador da arte e curador do MAC-Niterói.
“Longe de reforçar os estereótipos da tropicalidade, esta exposição investiga as origens das redes e suas representações iconográficas: ao revisitar o passado conseguimos compreender como um fazer ancestral criado pelos povos ameríndios foi apropriado pelos europeus e, mais de cinco séculos após a invasão das Américas, ocupa um lugar de destaque no panteão que constitui a noção de uma identidade brasileira”, afirma o curador, que pesquisou o tema por mais de quatro anos para sua tese de doutorado em uma universidade pública.
Com pinturas, esculturas, instalações, fotografias, vídeos, documentos, intervenções e performances, além de objetos de cultura visual, como HQs e selos, Vaivém ocupa todos os espaços expositivos do CCBB São Paulo, do subsolo ao quarto andar, e está estruturada em seis núcleos temáticos e transhistóricos.
PERCORRENDO A EXPOSIÇÃO
Vaivém tem início com Resistências e permanências, que é apresentado no subsolo do edifício e mostra as redes como símbolo e objeto onipresente da cultura dos povos originários do Brasil. “Mesmo com séculos de colonização e até com as recentes crises políticas quanto aos direitos indígenas, elas se perpetuaram como uma das muitas tecnologias ameríndias”, diz Fonseca.
Neste núcleo, a maioria das obras é produzida por artistas contemporâneos indígenas, como Arissana Pataxó. No vídeo inédito Rede de Tucum, ela documenta Takwara Pataxó, a Dona Nega, única mulher da Reserva da Jaqueira, em Porto Seguro (BA), que ainda guarda o conhecimento sobre a produção das antigas redes de dormir Pataxó, feitas com fibras extraídas das folhas da palmeira Tucum.
Carmézia Emiliano começou a pintar de maneira autodidata em Roraima. Se tornou conhecida por telas que registram o cotidiano dos indígenas Macuxi, muitas protagonizadas por mulheres, e terá expostas pinturas feitas especialmente para o projeto, além de obras mais antigas. Também da etnia Macuxi, Jaider Esbell criou para a mostra a instalação A capitiana conta a nossa história. A uma rede de couro de boi estão presos um texto de autoria do artista e uma publicação com documentos sobre as discussões em torno das áreas indígenas de seu estado.
Outro destaque é Yermollay Caripoune, que, vivendo na região do Oiapoque, entre a aldeia e a cidade, participou de poucas exposições fora do Amapá. Na série de seis desenhos que desenvolveu para Vaivém, o artista apresenta a narrativa dos Karipuna sobre a origem das redes de dormir.
O núcleo reúne ainda trabalhos de grandes nomes da arte brasileira, como fotografias dos artistas e ativistas das causas indígenas Bené Fonteles e Cláudia Andujar, e o objeto de Bispo do Rosário Rede de Socorro, uma pequena rede de tecido onde se lê o título da obra.
O segundo núcleo da exposição, A rede como escultura, a escultura como rede, tem trabalhos que mostram redes de dormir a partir da linguagem escultórica e que estão distribuídos por diferentes espaços do CCBB São Paulo, a começar pelo hall de entrada. Rede Social é uma instalação interativa do coletivo Opavivará!, com uma rede gigante que convida o público a se deitar e balançar ao som de chocalhos.
Estão neste núcleo trabalhos do jovem artista Gustavo Caboco, de Curitiba e filho de mãe indígena, e Sallissa Rosa, nascida em Goiânia e filha de pai indígena. Ele apresenta uma série de gravuras em que discute seu pertencimento e não-pertencimento às culturas ameríndias no Brasil. Ela, um vídeo criado a partir de selfies enviadas por mulheres em redes de dormir, que revela uma visão complexa sobre o lugar da mulher indígena na sociedade contemporânea brasileira.
De Hélio Oiticica foram selecionadas fotografias da pouco conhecida série Neyrótika e, de Ernesto Neto, um conjunto de obras do início de sua carreira, nos anos 1980, onde redes não aparecem literalmente, mas são sugeridas em uma dinâmica de tensão e equilíbrio. A ação Trabalho, de Paulo Nazareth, ganha uma nova versão. Com uma vaga de emprego anunciada em jornal, o artista contratou um funcionário, que deverá permanecer deitado em uma rede instalada no CCBB São Paulo durante oito horas por dia, até o fim da mostra. Integram ainda o segmento redes de artesãs de diversas regiões do Brasil.
No segundo andar do edifício estão dois núcleos. Olhar para o outro, olhar para si traz documentos e trabalhos de artistas históricos e viajantes, como Hans Staden, Jean-Baptiste Debret e Johann Moritz Rugendas, que registraram os aspectos da vida no Brasil durante a colonização. Ao lado deles, artistas contemporâneos indígenas foram convidados a desconstruir o olhar eurocêntrico dessas imagens a respeito de seus antepassados e propor novas narrativas.
Entre eles, dois do Amazonas: a pintora Duhigó Tukano, que apresenta a inédita acrílica Nepũ Arquepũ (Rede Macaco), sobre o ritual de nascimento de um bebê Tukano, e Dhiani Pa’saro, ainda pouco conhecido fora de seu estado natal, que expõe a marchetaria Wũnũ Phunô (Rede Preguiça), composta por 33 tipos de madeira e inspirada em duas variações de grafismos indígenas: o “casco de besouro” (Wanano) e o “asa de borboleta” (Ticuna).
O coletivo MAHKU (Movimento dos Artistas Huni Kuin), do Acré, criou para o CCBB São Paulo uma pintura mural que faz referência ao canto Yube Nawa Aibu, entoado para trazer força e abrir os caminhos em cerimônias tradicionais. Já Denilson Baniwá, nascido no Amazonas e residente no Rio de Janeiro, fez intervenções digitais e físicas sobre obras de artistas brancos que retrataram povos indígenas.
Em Disseminações: entre o público e o privado as redes surgem em atividades do cotidiano do Brasil colonial, como mobiliário, meio de transporte e práticas funerárias. Um dos destaques é Dalton Paula, artista afro-brasileiro de Goiás, que lança em suas pinturas um olhar sobre as narrativas a respeito da negritude no Brasil desde a colonização.
Os lugares que as redes ocupam na vida contemporânea no Brasil, em especial na região Norte, também estão pontuados nesse núcleo. Fotografias de Luiz Braga, por exemplo, exibem redes de dormir em cenas do dia-a-dia no Pará.
No terceiro andar do CCBB São Paulo, Modernidades: espaços para a preguiça, a rede passa a ser associada à preguiça, à estafa e ao descanso decorrentes do encontro entre o trabalho braçal e o calor tropical. O ponto central é ocupado por “Macunaíma” (1929), livro de Mário de Andrade. O personagem que passa grande parte da história deitado em uma rede está em obras de diferentes linguagens.
Carybé foi o primeiro artista a fazer ilustrações de Macunaíma. Um desenho pouco exibido de Tarsila do Amaral mostra o Batizado de Macunaíma. Joaquim Pedro de Andrade dirigiu o longa-metragem que, estrelado por Grande Otelo, completa 50 anos em 2019, e os cartunistas Angelo Abu e Dan X adaptaram a história em quadrinhos.
No espaço também estão Djanira, com o raro autorretrato Descanso na rede, em que surge ao lado de seu cachorro, e peças de mobiliário desenhadas por Paulo Mendes da Rocha e Sergio Rodrigues.
No quarto andar está o núcleo Invenções do Nordeste. Nele foram reunidas obras que transformam em imagens mitos a respeito da relação entre as redes e esta região do país, além de trabalhos em que elas surgem como símbolo de orgulho local e de sua potente indústria têxtil. Destaque para uma série de fotografias de Maurren Bisilliat pelo sertão nordestino e as cerâmicas de Mestre Vitalino que retratam grupos de pessoas enterrando entes dentro de redes.
Também no último andar do edifício, uma homenagem a Tunga. O artista que inaugurou o CCBB São Paulo, em abril de 2001, retorna à instituição 18 anos depois. A instalação Bells Falls ganha uma nova versão e é apresentada ao lado dos registros fotográficos da performance “100 Rede”, realizada em 1997 na Avenida Paulista.
ITINERÂNCIA DA EXPOSIÇÃO
Vaivém fica em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo até 29 de julho. A exposição será também exibida nos CCBB de Brasília (setembro/2019), Rio de Janeiro (dezembro/2019) e Belo Horizonte (março/2020).
maio 18, 2019
50 anos de realismo – Do fotorrealismo à realidade virtual no CCBB, Rio de Janeiro
CCBB traz ao Rio 92 obras de 30 artistas para o panorama internacional sobre a representação da realidade na arte contemporânea
Conversa com a curadora Tereza de Arruda e artistas participantes acontece na abertura com entrada franca
A exposição 50 anos de realismo – Do fotorrealismo à realidade virtual que o Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro inaugura, na quarta, 22 de maio, vai provocar perplexidade no visitante: é pintura ou fotografia? É real ou escultura?
A proposta da curadora brasileira Tereza de Arruda, radicada em Berlim, é apresentar um panorama internacional da representação da realidade na arte contemporânea, nos últimos 50 anos, do surgimento do fotorrealismo, o hiper-realismo até a realidade virtual. A mostra é patrocinada pelo Banco do Brasil, com apoio da Cateno e do Banco Votorantim. A coordenação geral é da Prata Produções, por meio da Lei de Incentivo à Cultura.
Arruda selecionou 92 trabalhos, datados dos anos 1970 a 2018, de técnicas diversas de 30 artistas – cinco brasileiros e 25 estrangeiros, de gerações e nacionalidades variadas, radicados na América do Sul, nos Estados Unidos e na Europa.
No final da década de 1960, jovens artistas que trabalhavam nos Estados Unidos começaram a fazer pinturas realistas baseadas diretamente em fotografias. Detalhistas minuciosos, eles retratavam objetos, pessoas e lugares que definiam a vida urbana e rural. Essa produção recebeu rótulos diferentes, entre eles Fotorrealismo.
Diferentemente dos artistas pop, os fotorrealistas não ironizavam seus temas – vitrines brilhantes, carros, plásticos de cores berrantes e cenários do campo e da cidade. Posicionavam-se fiéis à reprodução na tela, no papel ou na escultura do que lhes servia como fonte.
A curadora Tereza de Arruda explica:
– O surgimento do fotorrealismo, pinturas baseadas na representação de cenas fotografadas, deu-se nos Estados Unidos nas décadas de 1960 e 1970. Sua infiltração na história da arte aconteceu como reação ao abstracionismo vigente na época. O hiper-realismo apareceu como uma tendência da pintura no final da década de 1970, amparada na realidade, ainda mais fiel que a própria fotografia. Sua força de expressão é tão significativa que se dissemina até os dias de hoje, diz Arruda.
Mesmo com a reprodução instantânea da realidade pelas câmeras digitais hoje, essas pinturas e esculturas ainda são fascinantes pela precisão cirúrgica e virtuosismo extraordinário.
Essa tentativa de “congelar” o momento e apreciá-lo eternamente em sua exatidão é um dos motivos de apreciação e difusão do hiper-realismo. Ali não há os efeitos da passagem do tempo e “a permanência é a condição da grande arte”, avalia o autor inglês Clive Head.
Circuito
A mostra é dividida em segmentos: histórico, representado por Ralph Goings, Richard McLean, John Salt e Ben Schonzeit; contemporâneo, por Javier Banegas, Paul Cadden, Pedro Campos, Rafael Carneiro, Andrés Castellanos, Hildebrando de Castro, François Chartier, Ricardo Cinalli, Simon Hennessey, Ben Johnson, David Kessler, Fábio Magalhães, Tom Martin, Raphaela Spence, Antonis Titakis e Craig Wylie; tridimensionalidade, por John DeAndrea, Peter Land e Giovani Caramello; e novas mídias, por Akihiko Taniguchi, Andreas Nicolas Fischer, Bianca Kennedy, Fiona Valentine Thomann, Sven Drühl, The Swan Collective e Regina Silveira.
Já no térreo do CCBB estão esculturas/instalações do dinamarquês Peter Land [1966-], em que o ser humano é a figura central. Mais três artistas ocupam a área da rotunda Craig Wylie [Zimbábue, 1973-], radicado no Reino Unido, é premiado pela profundidade psicológica de seus retratos; o inglês Simon Hennessey [1976-] pinta rostos mais detalhados do que o que a fotografia poderia oferecer ao espectador.
No centro da rotunda impera a escultura de uma figura humana, maior do que a real, do jovem paulista Giovani Caramello [1990-] feita especialmente para esta exposição. Autodidata, Caramello iniciou a carreira com modelagem 3-D e se tornou o único escultor brasileiro com produção hiper-realista.
O circuito segue para o segundo andar do centro cultural, ocupando mais quatro salas. O conjunto de trabalhos está subdividido em retrato, natureza-morta, paisagem natural, paisagem urbana e novas mídias.
Um espaço concentra obras de artistas seminais do fotorrealismo e do hiper-realismo como os norte-americanos Ralph Goings [1928-], Richard McClean [1934-], Ben Schonzeit [1942-], John DeAndrea [1941-] e o inglês John Salt [1937-]. Pinturas ou esculturas, as representações são tão realistas que podem causar um certo desconforto pela proximidade do ser e do parecer. É o caso da obra de DeAndrea, um dos pioneiros da escultura hiper-realista. As figuras humanas extraídas de seu universo particular são despretensiosas e sem ornamentos supérfluos.
Uma das salas reúne o gênero recorrente no fotorrealismo e no hiper-realismo que é o retrato. A maioria dos artistas se baseia em modelos que eles mesmos fotografam. As pessoas costumam ser retratadas sem uso de recursos adicionais para manter sua essência, mas há margem para a subjetividade: um olhar que mira o espectador ou a dor do retratado resignado. As pinturas ou desenhos do zimbábue Craig Wylie [1973-], do baiano Fábio Magalhães [1982-], do escocês Paul Cadden [1964-], argentino Ricardo Cinalli [1948-] e inglês Simon Hennessey [1976-] são exemplos.
Na história da arte do século XX, a pintura realista precisou se impor e se defender da ascensão da fotografia contemporânea. Os pintores passaram a incorporar a fotografia como recurso para tornar seus retratos mais precisos. O fotorrealismo e o hiper-realismo fascinam porque o real demanda fidelidade rigorosa a seu contexto. Um dos segmentos da mostra é o que junta natureza-morta e paisagem naturalista ou urbana. Estes temas são cultivados há 50 anos mundo afora como se pode ver pela diversidade de procedência dos artistas: o canadense François Chartier [1950-], os espanhois Pedro Campos [1966-] e Javier Banegas [1974-], o inglês Tom Martin[1986-], o paulista Rafael Carneiro [1985-] e galês Ben Johnson [1946-] exibem naturezas mortas; o espanhol Andres Castellanos [1956-], o grego Antonis Titakis [1974-], a inglesa Raphaella Spence [1978-], o pernambucano Hildebrando de Castro [1957-] e o norte-americano David Kessler [1950-] mostram paisagens.
As novas mídias trouxeram a expansão da realidade e o visitante é o protagonista da obra. O advento da realidade virtual altera a percepção e a relação com o real. Os ambientes virtuais produzem mundos ilusórios para serem experimentados, usando equipamentos adicionais, como os óculos de RV. Esta exposição traz experiências com realidade mista, realidade expandida e realidade virtual do japonês Akihiko Taniguchi [1983-], dos alemães Andreas Nicolas Fischer [1982-] e Bianca Kennedy [1989-], da francesa Fiona Valentine Thomann [1987-], do bahamense Sven Drühl [1968-], de The Swan Collective [liderado pelo alemão Felix Kraus, 1986] e da gaúcha Regina Silveira [1939-].
O Rio de Janeiro é a terceira e última itinerância da mostra, que recebeu mais de 240 mil visitantes nos CCBBs São Paulo e Brasília.
Catálogo
Acompanha 50 anos de Realismo, do fotorrealismo à realidade virtual uma publicação bilíngue [portugês e inglês] de 187 páginas, com textos de Tereza de Arruda, Boris Röhrl, Maggie Bollaert e Tina Sauerländer, e reprodução de todas as obras em exibição.
Conversa com o público
Dia 22 de maio [quarta-feira], às 18h30h, o CCBB Rio promove um bate-papo sobre realismo na contemporaneidade aberto ao público. Participam a curadora Tereza de Arruda, os artistas Bianca Kennedy, Fiona Valentine Thomann, Hildebrando de Castro, Rafael Carneiro, Regina Silveira, Ricardo Cinalli, The Swan Collective e a consultora Maggie Bollaert.
A entrada é franca, mediante retirada de senha uma hora antes do início do evento.
SOBRE A CURADORA
Tereza de Arruda [São Paulo, SP, 1965-] é historiadora de arte e curadora independente, que trabalha junto a instituições, museus e bienais. Estudou história da arte na Freie Universität Berlin, onde mora desde 1989. Assinou a curadoria de: Ilya und Emilia Kabakov ‘Two Times’, Kunsthalle Rostock, em 2018; José de Quadros: A Beleza do Inusitado, Sesc Santo André; Sigmar Polke, Die Editionen, me Collectors Room Berlin, em 2017; Chiharu Shiota – Under the Skin, Kunsthalle Rostock, em 2017; In your heart | In your city, Køs Denmark; Clemens Krauss, Little Emperors, MOCA – Museu de Arte Contemporânea de Chengdu, em 2016; Kuba Libre, Kunsthalle Rostock, em 2016; Bill Viola, Three Women, Bienal Internacional de Curitiba, em 2015; InterAktionen Brasilien in Sacrow, Schloss Sacrow/Potsdam, em 2015; ChinaArte Brasil, Oca Museu da Cidade, São Paulo, em 2014; Wang Qingsong: Follow me!, Køs Museum for Kunst, Copenhague, em 2014; Bienal de Curitiba de 2013; Índia lado a lado, CCBB Rio, São Paulo e Brasília, em 2011|2012; Se não neste período de tempo – Arte Contemporânea Alemã 1989-2010, Masp – Museu de Arte de São Paulo, em 2010. Cocuradora e assessora da Bienal de Havana desde 1997. Cocuradora da Bienal Internacional de Curitiba desde 2009.
CCBB 30 anos
Inaugurado em 12 de outubro de 1989, o Centro Cultural Banco do Brasil celebra 30 anos de atuação com mais de 50 milhões de visitas. Instalado em um edifício histórico, projetado pelo arquiteto do Império, Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, o CCBB é um marco da revitalização do centro histórico do Rio de Janeiro e mantém uma programação plural, regular, acessível e de qualidade. Mais de três mil projetos já foram oferecidos ao público nas áreas de artes visuais, cinema, teatro, dança, música e pensamento. Desde 2011, o CCBB incluiu o Brasil no ranking anual do jornal britânico The Art Newspaper, projetando o Rio entre as cidades com as mostras de arte mais visitadas do mundo. Agente fomentador da arte e da cultura brasileira segue em compromisso permanente com a formação de plateias, incentivando o público a prestigiar o novo e promovendo, também, nomes da arte mundial.
Louise Bourgeois na Coleção Itaú Cultural na Iberê Camargo, Porto Alegre
Fundação Iberê recebe Spider, escultura de Louise Bourgeois, em itinerância promovida pelo Itaú Cultural
Depois de permanecer pouco mais de duas décadas em regime de comodato ao lado do Museu de Arte Moderna, em São Paulo, em dezembro do ano passado, a obra pertencente à Coleção Itaú Cultural começou uma série de itinerâncias pelo país. Primeiro foi levada a Minas Gerais, para ser exibida na Galeria Mata do Inhotim. Agora a escultura chega a Porto Alegre, onde permanecerá por dois meses com uma novidade: a gravura da artista Spider and Snake. Na sequência, viaja para Curitiba e Rio de Janeiro
No dia 18 de maio, a Fundação Iberê abre as suas portas para Spider (Aranha). A obra realizada pela escultora francesa Louise Bourgeois (1911-2010), em 1996, foi vista no Brasil pela primeira vez na 23ª Bienal de São Paulo e adquirida para a Coleção Itaú Cultural. Em 1997, o instituto a cedeu em regime de comodato ao Museu de Arte Moderna – MAM/SP, no Parque Ibirapuera. Lá permaneceu até 2017, em um espaço de vidro de onde podia ser observada da marquise do parque. Na ocasião, a escultura foi enviada à Fundação Easton, em New York, para averiguação e restauro, de modo a garantir a sua longevidade e possibilitar a sua exibição em espaços diversos. Em dezembro passado, Spider botou o pé na estrada.
“Assim como fazemos com grande parte da Coleção Itaú Cultural, tomamos a decisão de circular uma das suas mais importantes obras internacionais e ampliar o acesso do público a esta grandiosa escultura”, diz o diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron.
"Spider reafirma a nossa parceria com a Coleção Itaú Cultural e o nosso compromisso de trazer a Porto Alegre o que há de mais instigante e inquieto na arte moderna no Brasil e no mundo”, arremata o superintendente da Fundação Iberê, Emilio Kalil.
A mostra
Esta Spider é a primeira das seis que a artista produziu em bronze a partir de meados da década de 1990 e que estão espalhadas pelo mundo. A escultura será exibida na Fundação Iberê até o dia 28 de julho. Com ela, chega também a gravura Spider and Snake – a 15ª das 50 realizadas por Louise em 2003, com uma dimensão de 48,2 x 44,1 cm e pertencente ao acervo do Itaú.
Feita em bronze, a escultura pesa mais de 700 quilos – 68kg, cada uma das oito patas; 113kg o corpo e 57kg a cabeça. O seu traslado, exige grande cuidado e dedicação. Com a inexistência do esboço e projeto original da escultura, a equipe do Itaú Cultural criou um aparato para garantir a sua estrutura na desmontagem e remontagem. A produção do instituto desenhou uma plataforma que é colocada debaixo dela para sustentá-la. As patas, cujas pontas são de agulha, são retiradas uma a uma enquanto uma espécie de berço se eleva da plataforma para segurar o corpo do pesado aracnídeo. Na remontagem, o caminho é o inverso.
As viagens da Spider pelo Brasil são acompanhadas de um texto do crítico de arte Paulo Herkenhoff e de um vídeo de pouco mais de cinco minutos, realizado pela equipe do Itaú Cultural, com relato da também crítica Verônica Stigger. Este material foi produzido especialmente para estas itinerâncias.
Entre imagens da escultura, Verônica discorre sobre a vida da artista que se entrelaça com esta sua criação. Ela reproduz de Herkenhoff que as aranhas de Louise Bourgeois representam a mãe da artista, sintetizada em dois adjetivos aparentemente paradoxais: frágil e forte. Diz Verônica: “A fragilidade e a força se conjugam nesta versão de Spider. À primeira vista, é uma peça imponente, até um tanto monstruosa: ela é toda em bronze, com três metros e meio de altura, oito longas patas e um núcleo central duro, todo torcido em espirais, que faz as vezes de cabeça e ventre — um grande ventre capaz de armazenar os ovos.” E conclui: “Em uma olhada mais atenta, percebe-se como, apesar da força e da rigidez do bronze, ela também é frágil, delicada: suas patas são longas e muito finas, dando a impressão de serem insuficientes para sustentar o pesado corpo da aranha.”
O plano de viagem de Spider tem duração garantida por todo 2019, durante o qual ainda poderá ser vista no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, e no Museu de Arte do Rio (MAR-RJ). A previsão é de que a escultura prossiga em sua viagem pelo país no ano seguinte.
maio 17, 2019
Josely Carvalho no MNBA, Rio de Janeiro
Obra é apresentada em diversos espaços do museu, dialogando com o acervo da instituição
O Museu Nacional de Belas Artes – MNBA inaugura no dia 17 de maio de 2019, sexta-feira, às 18 horas, a exposição individual Diário de Cheiros: Affectio, da artista brasileira, radicada em Nova York, Josely Carvalho. A mostra faz parte do projeto de acessibilidade e inclusão de novos públicos intitulado “Ver e Sentir”, trazendo a público a instalação visual, olfativa e tátil “Affectio”, exibida em diferentes espaços do museu.
Faz parte da exposição, ainda, a escultura “Marielle Franco”, em homenagem à vereadora da cidade do Rio de Janeiro, que foi brutalmente assassinada em 2018. A curadoria é assinada por Daniel Barreto da Silva, Rossano Antenuzzi e Simone Bibian.
Incomum no panorama das artes, pautado quase sempre pela visualidade, o estímulo do sistema olfativo é a chave-mestra para a poética de Josely Carvalho, artista que tem desenvolvido uma obra cuja matriz é a criação de imagens sensoriais a partir do aprisionamento e a dispersão de cheiros conceituais que a artista vem realizando desde 2010. Atenta à realidade política e social, Josely tece comentários críticos à contemporaneidade.
A instalação “Affectio” é construída por seis mesas de aço corten com ânforas olfativas feitas em vidro soprado, técnica que a artista abraçou desde 2016 e que continua a desenvolver nos estúdios do Urban Glass em Nova York. Cada ânfora recebe o nome do cheiro criado por Josely com o apoio da Givaudan do Brasil e da empresa Ananse. São eles: “Pimenta”, “Lacrimæ”, “Barricada”, “Anoxia”, “Poeira” e “Dama da Noite”. Este último, contudo, ganha uma sala especial no MnBA, na cor tonalidade carmim que, segundo a artista, remete à sensibilidade, à potência e força feminina, entendidas aqui como possível opção de mediação de conflitos.
Essa instalação é um comentário crítico de amplo espectro, que enaltece a capacidade de obstar-se e de se recobrar de intempéries sociais e políticas a partir de ações de resistência às contradições e violências sociais e institucionais cotidianas, segundo a artista.
A atual mostra é um desdobramento de “Teto de Vidro: Resiliência”, que foi exibida no ano passado no Museu de Arte Contemporânea – MAC USP e concorre, junto de outros cinco projetos, ao The Art and Olfaction Awards 2019, premiação internacional que celebra e premia artistas e perfumistas experimentais e independentes.
Hoje no MnBA, seu projeto proporciona um diálogo com a história do acervo criando uma visita através do nariz. Uma experiência inédita que aguça a capacidade olfativa de cada um. Um mapa dos vários locais onde as obras estarão situadas conduz o visitante como numa caça ao tesouro.
A atual mostra no MNBA é um desdobramento de “Teto de Vidro: Resiliência”, mostra vencedora na categoria de trabalho experimental com cheiro pelo The Art and Olfaction Awards 2019, premiação internacional que celebra artistas e perfumistas experimentais e independentes. Foi exibida no ano passado no Museu de Arte Contemporânea – MAC USP.
Josely Carvalho, www.joselycarvalho.com, artista brasileira. Vive e trabalha em Nova York e Rio de Janeiro. Produz pinturas, esculturas e livros de artista, gravura, vídeo, som, instalações e, desde 2009, dedica-se também à produção de cheiros conceituais. Suas instalações incorporam uma variedade de tecnologias e técnicas na construção de ambientes digitais e físicos, ao passo que seu trabalho de “web concept” (www.bookofroofs.com) usa som, texto e imagens em um ambiente virtual, narrando perspectivas sobre o conceito de abrigo. Uma das artistas convidadas a participar da exposição itinerante internacional “Radical Women – Latin American Art 1960-1985”, organizada pelo Hammer Museum, Los Angeles (EUA). Já expôs seus trabalhos em instituições como Brooklyn Museum, MoMA, MASP, MAC USP, Museo del Barrio (NYC), Casa de las Américas (Havana, Cuba), Museo de Bellas Artes (Caracas, Venezuela), Pinacoteca de São Paulo, entre outros.
maio 16, 2019
Nazareth Pacheco na Kogan Amaro, São Paulo
Em Registros/Records, a artista retorna ao caráter autobiográfico de sua obra e apresenta sua produção dos últimos cinco anos
Expoente de uma geração de artistas que despontou entre as décadas de 1980 e 1990, tempo em que o País entrava em ebulição com pautas relacionadas à mulher, Nazareth Pacheco tomou sua condição feminina e sua biografia, em particular as narrativas relacionadas à história de seu corpo, como matéria-prima para suas obras tridimensionais. Após um mergulho no passado, em meio às lembranças afetivas, a artista emergiu dando vida a trabalhos inéditos, agora exibidos em Registros/Records, individual que estreia no sábado, 18 de maio, na Galeria Kogan Amaro.
A mostra reúne trabalhos que evidenciam sua produção artística dos últimos cinco anos, período em que Nazareth Pacheco viveu o luto de seus pais, figuras importantes em sua trajetória e formação, e algumas tantas intervenções cirúrgicas em seu corpo, decorrentes de um problema congênito que a acompanha desde a infância.
É assim que a artista conjuga passado e presente, ideia aparente em Registros (2019), instalação feita a partir de recortes de exames médicos seus e dos seus pais. Fincada no teto da Galeria, a obra se esparrama até o chão e faz lembrar uma espécie de cascata, densa e fluida como a vida.
Nazareth cresceu em um ambiente de incentivo aos trabalhos artesanais, com mãe e avó adeptas ao tricô e ao bordado. Foi com elas que aprendeu o ofício, na época de extrema importância para lhe ajudar a desenvolver habilidades com as mãos, que também passaram por processos cirúrgicos. É dessa memória que surge Vida (2019), trabalho composto por camisolas de sua mãe, vestes distintas e delicadas, hoje apresentadas com restauros de pérolas e cristais, uma ressignificação singela para as avarias deixadas pelo tempo.
A intimidade com os objetos clínicos é uma constante na vida e na obra da artista, não apenas pelas sucessivas operações, mas, também, por sua figura paterna. Em homenagem a seu pai, médico neurologista, Nazareth exibe DELE (2018), uma tríade de instrumentos fundidos em bronze.
Sem medo ou pudor, Nazareth Pacheco convida o público a imergir em seu íntimo. É o que faz na série Momentos (2017), na qual exibe registros em polaroids do pré e do pós-operatório de uma de suas inúmeras cirurgias.
Na ocasião da abertura, a artista lança um livro que documenta seus mais de 30 anos de trajetória. Intitulada Nazareth Pacheco, a publicação foi idealizada pela artista e contou com a colaboração de colegas de longa data. O livro foi organizado por Regina Teixeira de Barros e contempla análises de autores de diversas gerações, como Ivo Mesquita, Marcus de Lontra Costa e Tadeu Chiarelli, além de críticas inéditas assinadas por Cauê Alves e Moacir dos Anjos.
Alice Miceli na Aymoré, Rio de Janeiro
Exposição traz fotos de Alice Miceli, que andou por espaços com minas terrestres
Alice Miceli traz para a Galeria Aymoré, a partir do dia 18, o trabalho fotográfico que chama atenção pela história por trás das imagens. Na mostra Em Profundidade: (Campos Minados), ela expõe fotografias tiradas em campos minados em lugares como Cambodia, Angola, Bosnia e Colômbia, ainda infestados com minas terrestres. Seu objetivo é documentar sua experiência de transitar por estes campos. As imagens geradas, mesmo que pacíficas e silenciosas, retratam campos que causam risco à sua vida apenas por estar lá. É a primeira vez que as 4 séries produzidas são expostas todas juntas, indicando a conclusão do tema.
As paisagens aparentemente tranquilas guardam a tensão de pisar no limite permitido desses locais, buscando ângulos e aproximações diferentes. A primeira série, Cambodjiana, compõe-se de 11 imagens sobre um mesmo campo gramado com uma árvore no centro, uma visão falsamente pacata, pois semi trata de um campo minado. Cada ponto escolhido pela artista gera uma imagem corrigida em termos de distância de foco.
Dados atuais informam que campos como esse se espalham por 70 países, semeados por 100 milhões de minas, matando ou ferindo uma pessoa a cada duas horas. Tratam-se, portanto, de paisagens assassinas e assassinadas, uma vez que estão abandonadas devido ao perigo que representam.
Mestre em Arquitetura e História da Arte pela PUC-Rio, Alice já expôs na 29ª Bienal de São Paulo e Galeria Nara Roesler em São Paulo, SP e Max Protetch Gallery, em Nova York, EUA. Seu trabalho é exibido em festivais e instituições em diversos países, incluindo: Japan Media Arts Festival, no Japão; Festival TRANSTIO_MX, na Cidade do México, México; Transmediale Festival, em Berlim e Documenta XII, em Kassel, Alemanha. Além de vencer o Prêmio PIPA 2014, Alice foi vencedora do Cisneros Fontanals Art Foundation Grants & Commissions Award (Miami), em 2015.
maio 11, 2019
Bárbara Wagner & Benjamin de Burca / Jesse Wine no Fortes D’Aloia & Gabriel - Escritório Lisboa, Portugal
A Fortes D’Aloia & Gabriel inaugura em 14 de maio a segunda exposição do seu Escritório Lisboa, em paralelo à feira ARCO na cidade. A mostra estabelece um diálogo entre as fotografias da dupla Bárbara Wagner & Benjamin de Burca e as esculturas em cerâmica do inglês Jesse Wine. As obras inéditas orbitam em torno do corpo como tema, ainda que sob abordagens distintas: de um lado, Wagner & de Burca estão centrados no ‘corpo popular’ e suas estratégias de subversão e visibilidade; de outro, Wine apresenta um corpo fragmentado em pés, mãos e cabeças que interpretam de forma subjetiva o comportamento humano.
As fotografias de Wagner & de Burca integram a série Swinguerra (2019), criada especialmente para o Pavilhão do Brasil na 58ª Bienal de Veneza. O trabalho foi desenvolvido em estreita colaboração com grupos de dança da periferia do Recife, acompanhando sua intensa rotina de ensaios para competições em torno de ritmos como a swingueira, o brega e o batidão do maloka. Tratam-se de fenômenos muito populares na região, cujas origens remontam às tradições culturais do país, mas que operam em um circuito fora do mainstream. Em meio às atuais tensões políticas sobre direitos de grupos marginalizados – em especial, negros, mulheres e transgêneros, como muitos dos personagens em cena –, a dança torna-se plataforma de questões como integração social e autorrepresentação. Diante da câmera, os jovens dançarinos performam a si mesmos, revelando o conhecimento que trazem em seus corpos.
Nos trabalhos de Jesse Wine, o aspecto responsivo da argila é testado de diversas formas em um processo aberto à experimentação e ao acaso. Nunca usando moldes e empregando uma ampla gama de técnicas de queima e esmaltagem, o artista dá aos métodos tradicionais da cerâmica uma abordagem fresca e muito particular. Em We all are, act accordingly (2018), por exemplo, Wine manipula cor e textura do revestimento com pó de ferro, atribuindo uma aparência de madeira à superfície da escultura. As representações do corpo em suas obras – muitas vezes através de fragmentos em contornos cartunescos – transitam entre o autorretrato e a abstração. Em How can something so old, be so wrong? (2019) e You Have a New Memory II (2019), cabeças repletas de moedas ou de areia repousam sobre formas ambíguas, algo entre casas e montanhas, indicando uma narrativa onírica. Ao longo de seus empenhos, Wine desperta a argila como um corpo vivo e autônomo.
Sobre os artistas
Bárbara Wagner (Brasília, 1980) e Benjamin de Burca (Munique, 1975) vivem no Recife, onde trabalham em parceria desde 2011. Além de Swinguerra, a Representação Oficial do Brasil na 58ª Bienal de Veneza, a dupla também está em cartaz no Pérez Art Museum (Miami) e no Stedelijk Museum (Amsterdã). Suas exposições recentes incluem individuais em: Fortes D’Aloia & Gabriel (São Paulo, 2018), Wexner Center for the Arts (Columbus), AGYU (Toronto, 2018), MOCAD (Detroit, 2017). Entre as coletivas, destaque para as participações em: FRONT International (Cleveland, 2018); Corpo a Corpo, IMS (São Paulo, 2017, e Rio de Janeiro, 2018); Berlinale Shorts (Berlim, 2017, 2018 e 2019, quando venceram o prêmio especial do júri); Panorama de Arte Brasileira (São Paulo, 2017 e 2013); Prêmio PIPA, MAM (Rio de Janeiro, 2017), ocasião na qual foram anunciados vencedores do prêmio; Skulptur Projekte (Münster, 2017); Bienal de São Paulo (2016); Histórias da Infância, MASP (São Paulo, 2017); 36. EVA International (Limerick, 2014); Biennale Arts Actuels (Reunião, 2013); Suas obras estão presentes em coleções como: MASP (São Paulo), Pinacoteca de São Paulo (São Paulo), Instituto Moreira Salles (São Paulo, Rio de Janeiro), Kadist Art Foundation (Paris), Museum Het Domein (Sittard, Holanda), PAMM (Miami), CIFO (Miami), entre outras.
Jesse Wine (Chester, Inglaterra, 1983) vive e trabalha em Nova York. Suas exposições individuais recentes incluem: Prosper, Phantom Limb, Simone Subal Gallery (Nova York, 2017); Young man red, Gemeentemuseum Den Haag (Haia, 2016); Working title, not sure yet, Mary Mary (Glasgow, 2016); BIG PICTURES, Limoncello Gallery (Londres, 2015). Entre as coletivas, destacam-se: Hot Pot. Further Thoughts on Earthy Materials, GAK (Bremen, 2018); Opening Night, Carpintaria (Rio de Janeiro, 2017); Regarding George Ohr: Contemporary Ceramics in the Spirit of the Potter, Boca Raton Museum of Art (Flórida, 2017); Powerhouse Commission, Battersea Power Station, CASS Sculpture Foundation (Londres, 2017); That Continuous Thing: Artists and the Ceramics Studio, 1920 – Today, TATE St Ives (Cornwall, 2017); Jesse Wine | Peter Voulkos, Parrasch Heijnen (Los Angeles, 2017); Sludgy Portrait of Himself, Museum of Cambridge (Cambridge, 2017); Looking North, Walker Art Gallery (Liverpool, 2017); Paul Heyer, Jeanette Mundt, Jesse Wine, Andrea Rosen Gallery (Nova York, 2016); Luster – Clay in Sculpture Today, Fundament Foundation (Tilburg, 2016).
Sobre o Escritório Lisboa
Comemorando um ano de existência, o Escritório Lisboa da Fortes D’Aloia & Gabriel é localizado em um charmoso prédio pombalino no coração do Chiado, no mesmo endereço onde funcionava o Consulado Geral do Brasil em Portugal. O espaço amplia a atuação internacional da galeria, que desde 2001 promove o vigor e a qualidade da arte brasileira no mundo, e sinaliza um gesto de maior proximidade a artistas, curadores, colecionadores e colegas europeus. Sediada no Brasil, a Fortes D’Aloia & Gabriel mantém ainda espaços expositivos em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Em paralelo à mostra Bárbara Wagner & Benjamin de Burca / Jesse Wine, uma seleção de obras dos artistas representados também estará em exibição no Escritório Lisboa. Os destaques incluem: Ernesto Neto, tema de uma retrospectiva atualmente em cartaz na Pinacoteca de São Paulo; Erika Verzutti, que apresentou neste ano uma grande individual no Centre Pompidou em Paris; Leda Catunda, destaque da última Bienal de São Paulo; fotografias icônicas de Robert Mapplethorpe; e obras recentes dos portugueses Julião Sarmento e João Maria Gusmão & Pedro Paiva.
À Nordeste no Sesc 24 de Maio, São Paulo
Sesc 24 de Maio abre exposição que reúne, a partir da produção artística, imaginários e disputas em torno do Nordeste
Com mais de 250 obras de 160 artistas, À Nordeste reúne um conjunto significativo de obras, peças e experiências de vocações e contextos artísticos diversos, entrecruzados à história e às distintas ideias sobre a região situada a nordeste do Brasil
“A Nordeste de que?”, a indagação e provocação do artista cearense Yuri Firmeza foi o que motivou a exposição À Nordeste, que o Sesc 24 de Maio recebe entre 15 de maio e 25 de agosto. Com curadoria de Bitu Cassundé, Clarissa Diniz e Marcelo Campos, reúne um conjunto de 275 trabalhos, de diversas linguagens e suportes, do barro aos memes, criações singulares de 160 artistas — a maior parte deles nordestinos, mas não exclusivamente. Artistas de contextos, linguagens e interesses diversos dialogam horizontalmente: em comum, uma produção pulsante, que problematiza os imaginários que se têm acerca do Nordeste e questiona os lugares tradicionais — físicos e metafóricos — de se estar no mundo. A crase em À Nordeste surge como elemento desafiador do estereótipo regionalista, pois evita o artigo definido — e, com ele, uma identidade unívoca — de “o Nordeste”:
“Essa exposição não se pretende regionalmente identitária. Com esse conjunto riquíssimo, diverso e heterogêneo de obras e artistas, não temos qualquer pretensão em apresentar ao público o que é o Nordeste hoje, mas, sim, o que é estar à Nordeste. Falamos aqui de uma posição (e seus constantes reposicionamentos) e não de identidade. Sob essa perspectiva, lançamos luz sobre jogos políticos e estéticos, marcados por contraposições em relações às hegemonias, centralidades e, inclusive, outras periferias, em suas mais variadas acepções”, afirma Clarissa Diniz.
A fim de atualizar suas pesquisas já voltadas para a região, conhecer novos artistas e projetos e, de alguma forma, moldar a curadoria da exposição, os curadores revisitaram as nove capitais nordestinas, além de interiores significativos para alguns desses Estados — ora em trio, em dupla ou, raras vezes, individualmente, ainda que na companhia de representantes do Sesc. Na prática, as viagens de pesquisa aconteceram de agosto de 2018 a janeiro de 2019.
“Iniciamos essas viagens e visitas a campo no segundo semestre do último ano, em pleno processo eleitoral. Neste período, o Nordeste vivenciou um momento um tanto quanto singular, revigorante, de contraposição a uma ideia de Brasil que acabou prevalecendo naquele contexto”, pontua Diniz. “Pudemos ver um Brasil em transformação, a partir de um Nordeste de muitas lutas, mobilizações e reivindicações em torno de suas questões”, completa Bitu Cassundé.
“Temos justapostos artistas renomados e criadores culturais que sequer estão inseridos no circuito que hoje entende-se como o circuito da arte contemporânea. Não hierarquizamos aqui as diversas formas de produção de cultura, como outrora se fez entre “cultura erudita” e “cultura de massa”. Esse conjunto cumpre um desejo que é dizer o que é a região hoje e quais são as questões ali em voga. A exposição é muito mais sobre a presença de uma produção do agora e sua potência criativa”, afirma Marcelo Campos.
Para facilitar a navegação do público em meio à exposição, que pelo volume de artistas e obras assemelha-se a uma Bienal, os curadores dividiram os trabalhos em oito núcleos distintos, permeáveis, que se ramificam e contaminam uns aos outros. São eles Futuro, Insurgência, (De)colonialidade, Trabalho, Natureza, Cidade, Desejo e Linguagem. Neles, obras já existentes se articulam a 12 criações inéditas, especialmente comissionadas pelo Sesc 24 de Maio para a exposição. Alguns dos trabalhos, inclusive, foram adquiridos ao longo do processo de pesquisa. Foram comissionados os seguintes artistas: Daniel Santiago (PE), Arhur Doomer (PI), Gê Vianna e Márcia Ribeiro (MA), Ton Bezerra (MA), Isabela Stampanoni (PE), Pêdra Costa (RN), Jota Mombaça (RN), Ayrson Heráclito e Iure Passos (BA), SaraElton Panamby e Nayra Albuquerque (MA), Marie Carangi (PE) e Alcione Alves (PE).
Sob oito chaves de leitura diversas, tal como proposto por seus núcleos, a exposição propõe o mergulho em questões e perspectivas não-hegemônicas em torno do imaginário que se tem dessa região. O Nordeste emerge então não como um lugar, mas como uma posição, uma situação em meio a um pensamento pautado por centralidades impositivas, colonialistas, extrativistas, que posicionam o centro-sul do País como caixa de ressonância e instância normativa para comportamentos estético-formais.
A exposição À Nordeste contará com uma série de recursos acessíveis, como videolibras, audiodescrição, maquetes e reproduções táteis de trabalhos selecionados junto à curadoria.
Futuro
A colonização do território hoje chamado de Brasil teve início no nordeste do País. Talvez por isso, à região comumente atribui-se um imaginário de traços arquetípicos, intrinsecamente conectados a narrativas originárias e patrimoniais. Ainda assim, sempre coube à região um olhar à frente de seu tempo, um desejo de futuro capaz de reescrever sua história. Em meio a seus atravessamentos, andarilhos messiânicos, porta-vozes de uma nova era, a exemplo de Antônio Conselheiro.
Não faltam aos fluxos do Nordeste visões e hipóteses sobre sua existência não enquanto periferia, mas, sim, como centro. Ao mesmo tempo, a torção das tradições e de seus ícones é provocada por artistas que os reinterpretam ao inscrevê-los em novos contextos sociais. É o que faz Tadeu dos Bonecos com a carranca de fibra de vidro e LED na dianteira de sua moto e Tiago Santana, com o registro fotográfico de vaqueiros sobre motos. Prevalecem os sentidos cosmológico das carrancas e o social dos vaqueiros justamente porque têm suas presenças tradicionais reinventadas — prática que se dá em todos os campos da vida e que encontra, na criação, um território profícuo.
Insurgência
Historicamente, o Nordeste insurge-se em revoltas e resistências conduzidas por grupos revolucionários e movimentos messiânicos, sob forma de organização política e religiosa. Atualmente, os feminismos e as lutas negras e indígenas ganham cada vez mais espaço para suas vozes, travando batalhas contra a invisibilidade e a desigualdade, movimentos dos quais a arte participa com produção simbólica, militância e debate crítico. A insurgência impõe-se então como gesto irredutível para a proteção de corpos sujeitos a violações inúmeras.
Nesse contexto, trabalhos como A gente combinamos de não morrer (2019), performance de Jota Mombaça, artista do Rio Grande do Norte que, inspirada em uma obra da escritora Conceição Evaristo, cria uma ação contra a necropolítica, chamando atenção para a vulnerabilidade de corpos periféricos fadados à morte. Também neste núcleo, as armaduras de ferro e couro de Jayme Fygura, artista que há mais de 40 anos caminha pelas ruas de Salvador, armando seu corpo com objetos prosaicos que parecem protegê-lo do mundo, ao mesmo tempo que ameaçar aqueles ao seu redor.
(De)colonialidade
Estruturada por um processo de colonização, a formação social do Brasil possui um profundo lastro na formação do Nordeste. Por trás de cidades ladrilhadas e pintadas a ouro — centros produtores de riqueza dos primeiros ciclos econômicos de um País colonial -, uma região maculada em dimensões das mais violentas e subalternizantes, a exemplo da escravidão e da propagação da monocultura. Entretanto, entre os séculos XVIII e XIX, o Nordeste experimentou uma grande transformação em sua centralidade econômica, social e política, tornando-se no século XX, sinônimo de miséria e vulnerabilidade social — o que lança, sobre seus sujeitos, mais uma dura camada de preconceitos.
Os artistas aqui evocados fazem visível essa quebra de estigmas e estereótipos, lutando pela visibilidade de corpos negros, indígenas, trans, não binários, devolvendo-lhes a soberania cultural, ética, social, moral e estética outrora saqueada pela colonização e ainda hoje em disputa.
Entre os trabalhos desse conjunto, um díptico audiovisual da artista maranhense Zahy Guajajara. Em um dos quadros, o registro de um exame de ultrassonografia da artista, onde seu bebê protagoniza a imagem. No outro, uma performance ritualística em meio a uma floresta, à beira de um rio em que, gestante, Zahy se cobre de barro e folhas. Colocadas lado a lado, as disparidades desses mundos sublinham as violências da colonização e da interculturalidade tal como experimentadas desde a perspectiva da mulher e mãe indígena na atualidade.
O alagoano Jonathas de Andrade apresenta O caseiro, também dois registros audiovisuais em diálogo. Em uma das telas, um trecho de O Mestre de Apipucos (1959), filme de Joaquim Pedro de Andrade que acompanha um dia na vida de Gilberto Freyre. Na tela ao lado, um filme produzido pelo artista em 2016, com um caseiro que vive e trabalha na casa em que viveu Freyre. Os cortes sincronizados entre os dois filmes estabelecem paralelismos que realçam contrastes nas questões de classe e raça, e revelam a ação do tempo sobre a arquitetura, bem como sobre as ideias e a figura histórica do escritor e estudioso, em grande parte responsável pela ideia que se tem hoje do Nordeste.
Trabalho
Se, de um lado, a ausência de chuva que atingiu a região no final do século XIX colaborou para a afirmação da ideia de “sertão”, de outro, a seca forçou migrações de suas populações rumo ao sul do Brasil. Configurando grandes massas de trabalhadores, os nordestinos adentram no século XX quase como sinônimos de mão de obra barata. Muitas vezes são empregados em condições precárias, quando não, mantidos em situação de desemprego e de extrema vulnerabilidade social.
Um trágico exemplo dessa situação histórica são os “soldados da borracha”, grupo de 60 mil trabalhadores nordestinos compulsoriamente alistados pelo Governo Vargas nos anos 1940 para a extração de borracha na Amazônia a fim de atender a uma demanda comercial dos Estados Unidos da América. Na mostra, um conjunto de cartazes de Jean-Pierre Chabloz, suíço radicado no País e criador dos anúncios que sob um discurso épico e ufanista, convidava a população a envolver-se no projeto pelo bem da nação.
Do sergipano Alan Adi, Proibido cochilar, vol. II, conjunto de trabalhos de linguagens diversas. Reunidas, as obras jogam luz ao cotidiano de muitos nordestinos que vivem em São Paulo e que são obrigados a trabalhar enquanto proporcionam a uma elite momentos de lazer e turismo.
Natureza
Com uma área de mais de 1,5 milhão de metros quadrados, o Nordeste brasileiro situa-se entre a Linha do Equador e o Trópico de Capricórnio, inscrevendo-se na parte mais luminosa do planeta e, de algum modo, transformando seu contexto ecológico em gestos políticos ao iluminar as urgências da história: na terra da luz, o Ceará, a abolição da escravidão deu-se quatro anos antes da Lei Áurea; o Recôncavo Baiano, por sua vez, iniciou a luta pela independência antes do resto do país. Pensar a natureza dessa região é, portanto, encarar as perspectivas produzidas sobre ela nas dimensões histórica, simbólica e socialmente, inclusive.
Os artistas reunidos neste núcleo politizam e recriam os sentidos da natureza, de seus biomas, de suas linguagens, das relações entre a espécie humana e outras formas de vida. Entre os trabalhos, destaque para Provisão (2009), de Rodrigo Braga, registro audiovisual de uma performance do artista, que ao lado de um uma árvore cria uma vala, sobre a qual a enterra. Tomando a natureza como sinônimo de riqueza econômica, guarda-a vislumbrando tempos difíceis, jogando luz para as contradições que cercam a relação homem versus natureza no mundo contemporâneo.
O maranhense Cláudio Costa é outro artista que possui alguns trabalhos integrados ao núcleo. Há anos, Costa toma o colecionismo de matérias extraídas da natureza como sua principal atividade, esculpindo a partir de uma situação de “morte” da natureza. Compila porções de terra, folhas e pedaços de árvores, criando a partir desse conjunto, objetos e esculturas únicos.
Cidade
As primeiras capitais do Brasil situavam-se a nordeste de seu território, onde também foram fundadas as primeiras universidades, jornais e portos. Cosmopolitas, as cidades dessa vasta região buscaram também se conectar por terra, abrindo estradas e ferrovias — como a Transnordestina e mesmo a Transamazônica —, sulcando cicatrizes nos mapas e na história política do país, abrindo caminho para uma desigualdade social traduzida numa arquitetura da violência, num urbanismo racista e em formas de organização social que distanciam e que separam, cada vez mais, aqueles que nunca cessaram de borrar as margens que os centros insistem em fortificar.
Do cosmopolitismo estético-político das cidades nordestinas que surgem, trabalhos como Edifício Recife (2013), da dupla Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, que reflete e tensiona as políticas e as memórias patrimonialistas em constante disputa com uma enxurrada de referências contaminadas pela globalização. A obra consiste em um minucioso levantamento cartográfico da cidade de Recife e as esculturas que, por força de uma lei municipal, guardam as entradas de importantes edifícios da capital. A cada um desses trabalhos inventariados, a anexação de depoimentos sinceros e de descrições verdadeiras sobre esses objetos e suas relações com os prédios, a cidade e o entendimento do que é bonito ou feio, relatos levantados pelos artistas junto aos porteiros e faxineiros, muitas vezes responsáveis por sua manutenção.
Sob uma perspectiva mais contemporânea, um conjunto de gifs e letreiros em LED do coletivo Saquinho de Lixo, responsável por uma página de memes no Instagram. Com muito humor e grandes doses de ironia, os trabalhos apresentam ao mundo digital uma radiografia das questões atuais do cotidiano, sob uma perspectiva sobre o que é ser nordestino hoje em dia.
Ainda no núcleo cidade, um trabalho comissionado: Corpografia do Pixo (2019), da dupla Gê Vianna e Márcia Ribeiro. Naturais do Maranhão, as artistas dançam o pixo, traduzindo seus grafismos em uma linguagem corporal que se relaciona diretamente com eles e também com a cidade.
Desejo
Um desejo que foge à norma. Do carnaval aos motins, do sexo à poesia, desejar é um exercício de liberdade e se dá na prática dos corpos, das ruas, dos livros, das assembleias, das paisagens. Em uma região de profundo machismo e de altos índices de homofobia, transfobia e feminicídio, o desejo é disputado por violências e abusos diversos e por seu avesso: um desejar emancipatório, capaz de reelaborar identidades e transicionar gêneros. Desejar é um ato político intensamente explorado também pelos artistas, cuja obra se faz a nordeste de uma heteronormatividade.
Entre os trabalhos que compõem o núcleo, Mimoso, de Juliana Notari, artista pernambucana que, sob as lentes de uma câmera, realiza um vídeo performance, chamando atenção para um dado assombroso que marca a Ilha de Marajó, no Pará: um dos maiores índices de feminicídio do País. Tomando um búfalo como símbolo de masculinidade, a artista se amarra a ele completamente nua, enquanto é arrastada pela areia da praia. Sabendo que o animal seria esterilizado no dia seguinte, ela decide incorporar esse episódio, devorando seus testículos como uma espécie de disputa e desafio em torno de sua proclamada virilidade, em uma experiência que incita reinvenções de nossas ideias de masculinidade e feminilidade.
Ainda sob a chave do desejo, um vídeo comissionado de Alcione Alves, influencer que ganhou as redes ao atribuir narrações descritivas a danças aleatórias encontradas na rede ou mesmo produzidas por ela. Para a exposição, Alcione foi convidada a pensar em uma narração que traga à tona questões intimamente ligadas ao Nordeste.
Linguagem
A alfabetização é um instrumento de poder e de dominação. Ao mesmo tempo em que indivíduos colonizados tiveram de se submeter a linguagem de seus opressores para negociar e reivindicar suas singularidades, alfabetizar-se na língua dominante é um modo de lutar por espaço e voz num mundo global. Assim é que recentemente testemunhamos o ressurgimento e a reinvenção de línguas destruídas pelos genocídios e epistemicídios da colonização. Sob a perspectiva vocabular e gramatical, gírias, sotaques, pajubás e línguas indígenas reescrevem e reinscrevem, a nordeste, as narrativas hegemônicas.
Vinculadas diretamente às matrizes africanas, temos neste núcleo o trabalho de figuras como Rubem Valentim e Mestre Didi que, cada um à sua maneira, evocam com esculturas, certa ancestralidade, visualmente representada por desenhos, formas e materiais que fazem referência aos orixás das religiões afro-brasileiras. Já numa linhagem indígena, as esculturas em madeira em Zé do Chalé, artista de Sergipe, que esculpe figuras alongadas e repleta de camadas em pedaços únicos de madeira.
Sobre os curadores
Bitu Cassundé é mestre pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. De 1998 a 2007, foi curador assistente e coordenador de pesquisa no Museu de Arte Contemporânea do Ceará, integrou a equipe curatorial do Programa Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural em São Paulo e dirigiu o Museu Murillo La Greca em Recife. Dentre os destaques de seus projetos curatoriais estão: Leonilson – Sob o Peso dos Meus Amores, no Itaú Cultural em 2011 e Metrô de Superfície II, no Centro Cultural São Paulo em 2013. Com Clarissa Diniz, formou a coleção contemporânea do Centro Cultural Banco do Nordeste, vinculado ao projeto Metrô de Superfície. Atualmente, é curador do Museu de Arte Contemporânea do Ceará e coordenador do Laboratório de Artes Visuais do Porto Iracema das Artes em Fortaleza.
Clarissa Diniz é mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e doutoranda do Programa de pós-graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Com Cayo Honorato, Orlando Maneschy e Paulo Herkenhoff, publicou o título Contrapensamento selvagem. Realizou curadorias importantes mostras pelo nordeste e sudeste, entre as quais destacam-se Ambiguações, no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro e Pernambuco Experimental, no Museu de Arte do Rio (MAR), ambas em 2013. Clarissa também é crítica de arte foi editora da Tatuí, revista de crítica de arte, entre 2006 e 2015.
Marcelo Campos é doutor em Artes Visuais pela Escola de Belas Artes da UFRJ (EBA-UFRJ), professor e coordenador de graduação no Instituto de Artes da UERJ e da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV – Parque Lage). Tem textos publicados em periódicos e catálogos nacionais e internacionais. Dentre seus projetos curatoriais estão Faustus, de José Rufino, no Palácio da Aclamação, Salvador, em 2009; E agora toda terra é barro, de Brígida Baltar, Centro Cultural Banco do Nordeste; Sertão contemporâneo, na Caixa Cultural RJ, e Salvador, todas realizadas entre 2008 e 2009.
Lista de artistas
Abel Teixeira, Abelardo da Hora, Aberaldo Santos, Abraham Palatnik, Adenor Gondim, Adler Murad, Alan Adi, Alcione Alves, Aldemir Martins, Almandrade, Aloisio Magalhães, Amanda Melo, Ana Lira, Antônio Bandeira, Arthur Doomer, Arthur Scovino, Ayrson Heráclito & Iure Passos, Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, Bispo do Rosário, Bruno Faria, Caetano Dias, Caíque & Alan, Candido Portinari, Carlos Mélo, Catarina dee Jah, Celso Brandão, Chico Albuquerque, Chico da Silva, Cícero, Cícero Dias, Cláudio Costa, Cleiton, Coletivo O Gráfico Amador, Coletivo ORA (Aurora Caballero & Rafael Diniz), Cristiano Lenhardt, Christina Machado, Dalton de Paula, Daniel Santiago, Davi (Cachoeira), Delson Uchôa, Doidão Bahia, Dona Morena, Efrain Almeida, Elielson Sayara, Emanoel Araújo, Falves Silva, Fernando Rodrigues, Ferreira Gullar, Ferreiros do Cariri, Filipe Acácio, Francisco de Almeida, Gabriel Mascaro, Gê Viana, Gilberto Freyre, Gilvan Samico, Glauber Rocha, Goya Lopez, Guiomar Marinho, Heloisa Juaçaba, Ieda Oliveira, Isabela Stampanoni, J. Cunha, J. Medeiros, Jarid Arraes, Jasson Gonçalves, Jayme Fygura, Jean-Pierre Chabloz, João Cabral de Melo Neto, Joãosinho Trinta, Joaquim do Rego Monteiro, Jomard Muniz de Britto, Jonathas de Andrade, José Adário, José Carlos, José Cláudio, José Rufino, José Tarcísio, Josué de Castro, Jota Mombaça, Juliana Notari, Juraci Dórea, Kátia Mesel, Leno, Leonilson, Letícia Parente, Louco Filho, Lourival Cuquinha, Luiz Hermano, Lula Cardoso Ayres, Marcelo D'Salete, Marcelo Evelin, Marcelo Gandhi, Marcelo Pedroso, Marcelo Silveira, Márcia Ribeiro, Márcio Almeida, Márcio Vasconcelos, Marepe, Marie Carangi, Marina de Botas, Mario Cravo Jr, Mário Cravo Neto, Martha Araújo, Matheus Britto, Mauricio Dias e Walter Redieweg, Maurício do Flandre, Maurício Pokemon, Mestre Didi, Mestre Espedito Seleiro, Mestre Galdino, Mestre Guarany, Mestre Irinéia, Mestre Noza, Mestre Vitalino, Michelle Musa Mattiuzzi, Montez Magno, Naiana Magalhães, Nino, Paula Sampaio, Paulo Bruscky, Paulo Freire, Pedro Marighella, Petrônio Farias, Pierre Verger, Racar, Raimundo Cela, Ramiro Bernabó, Ramusyo Brasil, Rodolfo Bernadelli, Rodrigo Braga, Rogério Gomes, Romero Britto, Sabyne Cavalcante, @Saquinhodelixo, SaraElton Panamby & Naýra Albuquerque, Sérgio Vasconcelos, Sérvulo Esmeraldo, Solon Ribeiro, STA!-Pêdra Costa, Sunsarara, Tadeu dos Bonecos, Tertuliana Lustosa, Thiago Martins de Melo, Tiago Sant'Ana, Tiago Satanna, Tom Zé, Ton Bezerra, Torquato Neto, Valtemir do Vale Miranda, Véio, Vicente do Rego Monteiro, Virgínia de Medeiros, Virgínia Pinho, Vitor Cesar, Wellington Virgolino, WG (Mucambo Nuspano), Yuri Firmeza, Zahy Guajajara, Zé de Chalé, Seu Fernando
Rosana Paulino e Maria Fernanda Lucena na dotArt, Belo Horizonte
A memória do passado e do futuro liga as novas exposições individuais da dotART galeria, que serão inauguradas no dia 15 de maio, com as consagradas artistas Rosana Paulino e Maria Fernanda Lucena. Estas são as primeiras mostras de 2019 na galeria e trazem uma temática que está em voga como o feminismo, o ativismo negro e as políticas sociais brasileiras.
São artistas de destaque nacional, portanto a vinda a Belo Horizonte será de grande importância para a agenda de artes visuais da cidade. Rosana Paulino, por exemplo, ganhou uma retrospectiva recente na Pinacoteca de São Paulo, que passou também pelo Museu de Arte do Rio (MAR). As obras que estarão expostas na capital mineira vieram do The Frank Musem of Art, nos Estados Unidos e são inéditas no Brasil. Em setembro ela segue para uma mostra em Harvard, sempre com essa temática do feminismo negro.
“A dotART vai celebrar as questões do feminino e suas novas nuances do feminismo trazendo Rosana Paulino, uma artista que tem uma trajetória internacionalmente conhecida com suas ações focadas nas questões da mulher e da mulher negra perante a sociedade brasileira. Fazendo um contraponto com Maria Fernanda Lucena, artista que busca uma memória do futuro, no qual o que ela desenvolve nessas histórias contadas em suas pinturas não, realmente, interessa, e sim, o que se tornará a partir da realização de sua obra”, comenta Wilson Lazaro, diretor artístico da galeria.
Sobre as exposições
Em Histórias Revisitadas, na galeria 1, a paulista Rosana Paulino mostra que, muitas vezes, é preciso olhar o passado ancestral para construir o futuro. Sua obra ultrapassou regras e transborda em pesquisa que concretiza a criação repleta de história revisitada. Essa busca por identidade pode se dar a partir de elementos pessoais da artista, embora sua força representativa se realize no coletivo.
“Essas histórias contadas em pedaços fazem transparecer o ‘eu’ na criação, porém não se apresentam como relato, mas como campo de inserção de leitura, como espaços para a compreensão do outro, como o ato de escrever uma história sem lhe convir. O que permanece são apenas as pausas – para a artista, o momento mais importante da leitura da sua obra – e seus pensamentos políticos e pensamentos de acolhimento. Rosana Paulino é verdadeira artista nesse momento tão delicado por que passamos”, afirma Lazaro.
Já Maria Fernanda Lucena pensou Intermédios, exposta na galeria 2, especialmente para sua primeira individual fora do Rio de Janeiro, cidade onde nasceu e trabalha. Seu trabalho é marcado pela memória, afeto e passagem do tempo. As narrativas propostas m suas obras refletem realidade e ficção ao apresentar um alguém, um lugar, um objeto e ela mesma.
“Para esta exposição busquei juntar pessoas e objetos de tempos e lugares distintos em uma só imagem, promovendo encontros inusitados. Como, por exemplo, o trabalho ‘Casa Amarela’ que retrata Luzinete nos anos 70, em um bairro de Recife ao lado de Sofia, em um jardim na Toscana em 2018. Para mim, a memória é como uma ilha de edição, onde fragmentos de imagens se juntam para formar um só bloco, no qual encontros, inevitavelmente, acontecem”, comenta a artista.
SOBRE AS ARTISTAS
Rosana Paulino é bacharel em Gravura e Doutora em Artes Visuais pela USP, além de especialista em gravura pelo London Print Studio, de Londres. Foi bolsista do Programa Bolsa da Fundação Ford nos anos de 2006 a 2008 e CAPES de 2008 a 2011. Em 2014 foi agraciada para residência no Bellagio Center, da Fundação Rockefeller, em Bellagio, Itália. Como artista vem se destacando por sua produção ligada a questões sociais, étnicas e de gênero. Seus trabalhos têm como foco principal a posição da mulher negra na sociedade brasileira e os diversos tipos de violência sofridos por esta população decorrente do racismo e das marcas deixadas pela escravidão.
Possui obras em importantes museus tais como MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo; UNM – University of New Mexico Art Museum, New Mexico, USA e Museu Afro-Brasil – São Paulo. Tem participado ativamente de exposições, tanto no Brasil como no exterior, das quais, além de diversas coletivas, se destacam as individuais na Pinacoteca de São Paulo, São Paulo, Brasil - A costura da memória (2018-2019); Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, Brasil - A costura da memória (2019); The Frank Museum of Art, Columbus, Ohio, Estados Unidos (2019); Clifford Art Gallery – Colgate University, EUA – Assentamento (2018); Atlântico Vermelho – Padrão dos Descobrimentos – EGEAC, Lisboa Portugal (2017); Galeria Superfície (Atlântico Vermelho, 2016); Mulheres Negras – Obscure Beuaté du Brésil. Espace Cultural Fort Grifoon à Besançon, França (2014); Assentamento. Museu de Arte Contemporânea de Americana, São Paulo, (2013) Tecido Social – Galeria Virgílio, São Paulo, (2010); Rosana Paulino: Obra Gráfica. Galeria Nello Nuno, Fundação de Arte de Ouro Preto (2007) e Centro Cultural São Paulo, (2000).
Maria Fernanda Lucena tem formação em Indumentária e design de moda, além de diversos cursos da EAV, Parque Lage. A artista se interessa por lugares, personagens, objetos e, sobretudo histórias. Seus trabalhos são caixas de lembranças, relicário de um tempo da vida que alguém viveu.
Entre as exposições coletivas e salões que participou, destacam-se “Somos todos Clarice”, curadoria de Isabel Sanson Portella, RJ / 2016, “29 de Setembro”, curadoria de Marcelo Campos e Efrain Almeida, Largo das Artes, RJ / 2015;” Visão de Emergência”, curadoria de Marcelo Campos, Galeria Colecionador, RJ; “À Primeira Vista”, curadoria de Brigida Baltar, Efrain Almeida e Marcelo Campos, Galeria Artur Fidalgo, RJ / 2014; 12º Salão Nacional de Arte de Jataí, Museu de Arte Contemporânea de Jataí, Goiânia; 31º SAPLARC, XXXI Salão de Artes Plásticas de Rio Claro, SP – Prêmio de Menção Honrosa/ 2013; 19º Salão de Artes Plásticas de Praia Grande, Palácio das Artes, SP; II Salão dos Analfabetos, Universidade Federal de Santa Maria, RS / 2012.
Estamos Aqui! Relevos no Horizonte do Acervo do MAC-PR, Curitiba
Uma coleção composta majoritariamente por artistas homens: 398 contra 229 mulheres. E a diferença torna-se ainda mais gritante quando se fala das 1.800 obras do acervo do Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC-PR); neste caso a discrepância entre homens e mulheres chega a 786 trabalhos. Olhar para o acervo levando em conta essa realidade na busca por reequilibrar esses números é a intenção da mostra Estamos aqui! Relevos no Horizonte do Acervo do MAC, que inaugura no dia 15 de maio, às 19 horas, na sala 9 do espaço (temporariamente, por causa da reforma da sede, o MAC está funcionando nas dependências do Museu Oscar Niemeyer).
A exposição, com curadoria da diretora do MAC-PR, Ana Rocha, reúne o trabalho de 15 artistas mulheres (11 que integram o acervo e quatro convidadas): Ana Gonzalez, Cristina Agostinho, Deborah Santiago, Eliane Prolik, Elizabeth Titton, Erica Storer Araújo, Isabella Lanave, Fabiana de Barros, Guita Soifer, Janete Fernandes, Juliana Gisi, Mainês Olivetti, Marga Puntel, Marta Neves e Maya Weishof. A inauguração contará com uma performance de Erica Storer Araújo, que expõe a obra "Tudo ou Nada", de 2017, e é uma das convidadas pela curadoria.
De acordo com Ana Rocha, mostrar o acervo do museu junto com outras artistas contemporâneas faz parte de um conceito de remixagem, prática que tem origem na música, mas que é levada também para áreas como arquitetura (quando prédios são remodelados para outros fins), moda (com a customização de roupas) e na própria arte.
Todos os trabalhos expostos em "Estamos aqui!", segundo a curadora, referem-se ao corpo de diversas maneiras e o coloca como centro para falar de temas como identidade e consumo. É o que faz Juliana Gisi em seu vídeo "Dueto em três vozes para Mariposa", finalizado em 2019 — ela é a personagem principal da obra, que mostra o seu rosto de duas formas distintas. "Não seria um autorretrato, mas uma discussão que tem muito mais a ver com usar o seu próprio corpo como matéria, utilizar a imagem para uma proposição" explica a artista.
Doutora em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Juliana acredita que é de extrema importância ações que coloquem as mulheres artistas como protagonistas."Existe uma defasagem grande no número de obras dos acervos e em exposições no mundo todo. É uma realidade, é algo forte. A partir da década de 1960, essa tema entrou cada vez mais em discussão e hoje temos ações efetivas para colocar essa disparidade em vista. São ações afirmativas para mostrar que existem mulheres produzindo que são tão boas quanto os homens, e por uma questão estrutural não aparecem tanto. A exposição é uma forma de recontar essas histórias".
O reequilíbrio proposto pela mostra, frisa Ana, não quer negar a disparidade entre gêneros, mas sim superar o silêncio sobre contribuições importantes trazidas ao pensamento da arte pelas mulheres.
Faxinal das Artes
Outro aspecto valorizado pela curadoria na mostra são as obras produzidas durante o Faxinal das Artes, residência artística do começo dos anos 2000 proposta pela Secretaria de Estado da Cultura e que reuniu artistas de todo o país em Faxinal do Céu (sudoeste do Estado), para elaborar projetos e criar obras. Uma das participantes foi a catarinense Mainês Olivetti. Ela desenvolveu a obra "Titãs", uma instalação com globos de vidro e fios de náilon. "Eu já trabalhava com redes de náilon e de pescaria, tinha uma recordação de quando criança: meu pai fazia redes e isso ficou na minha memória", conta. Além de ser exposta na mostra "Faxinal das Artes", realizada pelo próprio MAC-PR no final de 2002, a obra havia sido montada pela última vez em 2003, no Sesc São Paulo. "Estou bem feliz com a escolha. É uma obra que nunca mais foi mostrada e vai interagir bem com outros trabalhos", aponta a artista.
Além do trabalho de Mainês, "Estamos aqui!" reúne outras obras de Faxinal, como "Conversão Diástole", vídeo de Marga Puntel, dois quadros de Débora Santiago e instalações em faixa de Marta Neves.
Ai Weiwei na Simões de Assis e Sim Galeria, Curitiba
A Simões de Assis e a Sim | Curitiba apresentam a primeira individual de Ai Weiwei em galeria na América Latina. Os trabalhos reunidos representam parte do processo da grande produção do artista chinês presente na exposição Ai Weiwei – Raiz, em cartaz no MON – Museu Oscar Niemeyer.
Um dos nomes mais importantes da cena mundial contemporânea traz para a SIM trabalhos que discutem temas seminais de sua obra – humanidade, tradição, liberdade e contemporaneidade. De sua referência em trabalhar a ideia do falso, sendo que na cultura chinesa a ideia do falso pode ser mais valiosa do que a de original, está a série de cadeiras (Fairytale Chair, 2007), e os vasos de porcelanas e bambu, além do capacete de operário em mármore (Marble Helmet, 2010). “Tudo que Weiwei faz é profundamente falso e profundamente verdadeiro”, comenta Marcello Dantas, curador da mostra no MON.
Quando o artista esteve no Brasil em contato com comunidades, artesãos e manifestações culturais, se propôs a pesquisar a cultura local e a produzir trabalhos voltados a biodiversidade, a paisagem humana e a criatividade brasileira. Entre essas obras que estão na Sim, destacam-se as séries de ex-votos, de cerâmica e as de couro de vaca.
Os artesãos de Juazeiro do Norte executaram ex-votos (Obras de Juazeiro do Norte, 2018) em madeira baseados na iconografia de Ai Weiwei, como figas, refugiados, redes socais, zoodíaco chinês, enquanto a série de cerâmica (FODA, 2018) representa os elementos Fruta-do-conde, Ostra, Dendê, Abacaxi. Por sua vez, as obras em couro de vaca (Marcas 3-12, 2018) trazem citações sobre poder e raça. No Nordeste, cada família de criadores de gados possui uma marca, baseando-se nisso, o artista criou um alfabeto. De sua experiência com raízes, ele traz para a mostra um exemplar da primeira série em ferro fundido (Iron Root, 2017)
Ai Weiwei, 28 de agosto de 1957, Pequim, China (Fonte: Fronteiras do Pensamento)
É um dos artistas-ativistas mais destacados da atualidade. Desde a década de 1970, quando se tornou possível defender a liberdade de expressão na China, ele manifesta o ativismo em suas obras. É filho do poeta chinês Ai Qing, um dos primeiros intelectuais a serem politicamente cerceados. Com os amigos do pai aprendeu as habilidades básicas de desenho e estudou cinema na Academia de Cinema de Pequim. Integrante da primeira geração de chineses que estudou fora do país, em 1981 se mudou para os Estados Unidos, onde permaneceu até 1993, voltando para a China por conta da saúde debilitada do pai. Ao longo da carreira, sua postura sempre foi irreverente, como em Dropping a han dynasty urn, na qual ele fotografou-se quebrando um vaso de dois mil anos; ou Sunflower seeds, quando cobriu o chão de uma sala da galeria Tate, em Londres, com sementes de girassol falsas feitas à mão por trabalhadores chineses. Em 2011, foi preso no Aeroporto de Pequim sob acusações de “evasão fiscal”. Passou 81 dias desaparecido, mesmo sob intensos protestos nos Estados Unidos, na França, na Inglaterra, na Alemanha e na própria China. Embora tenha sido solto no ano seguinte, permaneceu em prisão domiciliar em seu estúdio até 2015, impedido de viajar e se engajar nas redes sociais. Atualmente, mora na Alemanha. Ai Weiwei entende que seu trabalho é dar voz aos que não têm como falar. Um de seus grandes projetos sobre essa questão aborda a crise de refugiados em 23 países, tema de seu filme Human Flow – Não Existe Lar se Não Há para Onde Ir, de 2017.
maio 9, 2019
Darks Miranda na UERJ - Candido Portinari, Rio de Janeiro
A Galeria Candido Portinari exibe primeira exposição individual da artista Darks Miranda, com trabalhos antigos e inéditos - leves e pesados, fáceis e difíceis
A exposição Mulher Desfruta propõe mostrar versões de um imaginário brasileiro e gringo, feminino e drag, fetichista e frutífero, uma tristeza travestida de alegria e vice-versa. Com primeira referência na mulher fruta inaugural, Carmen Miranda, Darks incursiona cultura de massa adentro, partindo de meados do século XX, passando pelas mulheres-frutas dos anos dois mil e pouco e pelo flerte com a pós-pornografia e o animismo. Para isso, se faz uso de diversas mídias e formatos, como a instalação, o vídeo em televisão e projeção, banner de revista fictícia, fotografias, lambe-lambe, performance e objetos. Os diferentes trabalhos se contaminam e se completam, formando todos um universo próprio.
Ao cobrir rosto e corpo com seus disfarces, máscaras, lençóis, de forma que possa se proteger. Ser o que quiser, ou deixar que seja sobre ela outras imagens possam ser projetadas, a artista multiplica suas possibilidades de existência enquanto mulher.
A curadora Natália Quinderé define então que “A mulher desfruta não reproduz a imagem da mulher. Ela não é um reflexo ideal nem uma miragem. Nesse sentido, não representa nada nem ninguém. Ela é. (…) Porém, ela não se expõe ao lado da mulher melancia, mulher samambaia, Dany bananinha, loira do banheiro e a mulher de branco que aterroriza, a cada aparição, os moradores de Santana do Agreste em Tieta. A mulher desfruta, com sua cara de abacaxi e braços ásperos da casca do abacaxi, tem um jeito singular daquela mulher que você não esquece. (…) Ela lembra vagamente Carmem Miranda e seus clichês de brasilidade. Ela é uma mulher trans na Praia do Futuro, segurando seu abacaxi”.
Espera-se “uma combinação de auto-ficção e incorporação de forças obscuras e cômicas incontroláveis”, “Darks Miranda é uma entidade pastelão das trevas, de gênero plural (misto).” A artista/persona descreve a origem de sua própria criação enquanto duplo: “Fez sua primeira aparição oficial em 2012, quando equilibrava frutas sobre a cabeça de forma concentrada, assombrada por suas antepassadas - fêmeas espúrias e similares, todas de origens duvidosas e variadas.”
Darks Miranda participou de exposições e mostras coletivas em espaços nacionais e internacionais e estreia na nossa Galeria Candido Portinari (UERJ Maracanã – Rua São Francisco Xavier, 524) no dia 9 de maio, quinta-feira, às 18h, e fica em cartaz até 19 de junho, sempre de segunda a sexta, das 10 às 19h, com entrada franca.
Como falar com as árvores na Z42 Arte, Rio de Janeiro
Rio recebe exposição de obras produzidas em residência artística na Floresta Amazônica
A Amazônia vai aportar no Rio de Janeiro entre maio e junho. Ou pelo menos uma releitura de sons, cores e texturas sobre o território amazônico, feita por artistas que passaram por dias de imersão na floresta para criar suas obras.
De 9 de maio a 28 de junho, a galeria Z42 Arte, localizada no Cosme Velho, Rio de Janeiro, recebe a exposição Como falar com as árvores, projeto de residência artística realizado pelo LabVerde no coração da Amazônia com artistas de todo o mundo interessados em explorar a relação entre arte, natureza e ciência. O projeto, que completa cinco anos em 2019, já recebeu mais de cem artistas de 30 países, e chega ao Rio de Janeiro pela primeira vez, depois de passar por Londres, Oslo, Nova York e São Paulo, com inciativas coletivas propostas pelos próprios artistas residentes.
No Rio, serão apresentadas as obras de 20 artistas do Brasil, Estados Unidos, Itália, Chile e Moçambique, que já participaram do projeto: Bia Monteiro, Bianca Lee Vasquez, Claudia Tavares, Fabian Albertini, Guto Nóbrega, Laura Gorski, Lisa Schonberg, Liana Nigri, Lorenzo Moya, Luisa Puterman, Luzia Simons, Nathalia Favaro, Patricia Gouvêa, Renata Cruz, Pedro Vaz, Renata Padovan, Rodrigo Braga, Sergio Helle, Simone Fontana Reis e Turenko Beça.
Criado pela Manifesta Arte e Cultura, em cooperação com o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA), o LabVerde promove uma vivência intensiva na floresta, mediada por uma equipe de especialistas nas áreas de arte, filosofia, biologia, ecologia e ciências naturais.
Segundo a curadora do projeto, Lilian Fraiji, a exposição comemora os cinco anos do programa, e traz um panorama cultural sobre a paisagem amazônica, envolvendo artistas nacionais e internacionais. “A exposição apresenta uma efervescência de processos, matérias e técnicas poéticas que ressignificam a natureza em um conjunto plural de linguagens”, explicou.
De acordo com Lilian, alguns trabalhos são notadamente engajados e denunciam a extinção da vida na Amazônia, outros dão ênfase à percepção sensorial do artista e seus processos afetivos, enquanto alguns tentam retratar as dinâmicas dos seres em sua complexidade. “Existe ainda a preocupação em dar novo sentido à paisagem, dissolvendo o lugar do sujeito. Há também a vontade de dar visibilidade a fenômenos naturais invisíveis, onde a luz é a grande protagonista nas investigações artísticas”, completou.
Entre as obras que serão exibidas, está a série de instalações "Irreversíveis", produzida pela artista plástica paulista Renata Padovan. Há mais de vinte anos, Renata tem como foco de seu trabalho lugares em que a interferência humana alterou drasticamente a paisagem, afetando, de forma irreversível, as condições ambientais e sociais da região.
Durante a residência, ela fotografou a instalação que criou no cemitério de árvores da usina hidrelétrica de Balbina, um lago de 2.360 km² que inundou parte da floresta causando um impacto ambiental enorme para gerar apenas 250 megawatts, insuficientes sequer para abastecer Manaus.
“Eu já conhecia Balbina, mas o trabalho junto com os cientistas no LabVerde trouxe um novo sentido, ampliou meus conhecimentos. Esta troca é muito interessante. Geralmente a hidrelétrica é considerada uma energia limpa, mas ela traz muitas consequências ruins, como uma alta emissão de dióxido de carbono e metano na atmosfera. O trabalho multidisciplinar propicia esta comunicação, porque o cientista está dentro do laboratório, enquanto o artista é quem vai levar estas questões para o mundo”, explicou Renata sobre o projeto LabVerde.
A noite de abertura terá apresentação do “Uau Show”, baseado na pesquisa da musicista e bióloga Lisa Schonberg, em parceria com o entomólogo Fabrício Baccaro e Erica Valle, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), sobre o ambiente sonoro das formigas. Iniciada durante a residência artística LabVerde, Lisa documentou o ambiente sonoro de inúmeras espécies de formigas da Amazônia para uma investigação científica, em desenvolvimento, sobre como as formigas se comunicam por meio dos sons.
O ambiente sonoro das formigas também serviu como base para a criação de composições do “Uau Show”, que será interpretado pelos músicos americanos Lisa Schonberg e Anthony Brisson na abertura da exposição.
Além da exposição, que ocupa o primeiro andar da Z42, galeria dedicada à arte contemporânea próxima à Estrada de Ferro do Corcovado, no Cosme Velho, o LabVerde reúne artistas do mundo inteiro no Espaço Vazio, casa de residência também localizada no Cosme Velho, e promove roda de conversas shows e performances.
maio 8, 2019
Ecos Mecânicos no MAC USP, São Paulo
A máquina de escrever evoca um passado próximo que destoa no mundo digital. Como uma espécie de tipografia padrão, funcionou como uma prensa portátil e acessível capaz de associar a escrita, a fala e a publicação, além da sonoridade característica de suas teclas que a torna um instrumento musical percussivo. As duas faces – histórica e artística – são abordadas pela curadora Cristina Freire, docente do MAC USP, na exposição Ecos Mecânicos: A Máquina de Escrever e a Prática Artística.
A mostra revela o papel de um inventor brasileiro de meados do século XIX, o padre paraibano João Francisco de Azevedo (1814-1880), que desenvolveu uma máquina de escrever no contexto de uma sociedade colonial e escravocrata. Além disso, a exposição pontua a trajetória da máquina de escrever com base em exemplares e documentos da coleção do Museu Paulista (MP) e do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) - instituições ligadas à Universidade de São Paulo.
No núcleo artístico, a mostra investiga o emprego da máquina de escrever por artistas de várias matrizes e idades, a partir de obras que empregaram a datilografia e sua potência ao longo de quase um século. São 86 obras de artistas como Vera Chaves Barcellos, Julio Plaza, Eduardo Kac, Élida Tessler Mira Schendel, Augusto de Campos, Décio Pignatari, Haroldo de Campos, Glauco Mattoso, Rosana Ricalde e Ruth Rehfeldt entre tantos outros.
No dia da abertura da exposição, 27/10 a partir das 11 horas, acontecem duas performances. Em Performance de uma pessoa escrita, 2013-2018, a artista Tatiana Schunck utiliza uma máquina de escrever para registrar o encontro com os presentes e a experiência de escutar os desconhecidos. 43 estudiantes de Ayotzinapa, 2014, de Javier del Olmo, é a realização pública do trabalho de datilografia de um dos 43 rostos de estudantes secundaristas mexicanos desaparecidos pelas forças policiais no México em 2014.
A exposição integra um projeto de investigação mais extenso de Cristina Freire sobre a arqueologia das mídias, envolvendo os meios mecânicos pré-digitais de produção e reprodução de imagens no Brasil. “Tal universo artístico conforma a memória social de um passado recente onde as possibilidades técnicas que vigoraram até há poucas décadas são matrizes de universos sensíveis, econômicos e sociais”, diz a curadora. Essa pesquisa em andamento tem o apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) no Brasil.
Novas efervescências no Porto Seguro, São Paulo
Espaço Cultural Porto Seguro promove coletiva que levanta reflexões sobre o criar na arte contemporânea
Trabalhos de suportes distintos que sobrepõem e tencionam novas linguagens artísticas. Um conjunto de nove projetos executados por um corpo de dez artistas de diferentes gerações e linhas de pesquisa. Juntos convocam o público a refletir sobre uma pluralidade de questões: episódios da história do País, a relação do indivíduo com o meio ambiente, diálogos com a arquitetura do entorno, entre outros temas da contemporaneidade. Esse é o fio que conduz a mostra Novas Efervescências, coletiva que o Espaço Cultural Porto Seguro recebe a partir do dia 11 de maio, reunindo trabalhos inéditos de Angella Conte, Arnaldo Pappalardo, Daniel Frota de Abreu, Erica Ferrari, Erica Kaminishi, João Angelini, Laura Gorski e Renata Cruz, Pablo Lobato e Tiago Mestre.
Realizada pela instituição que a exibe e pelo Ministério da Cidadania, em parceria da Base7 Projetos Culturais, a exposição é resultado do edital lançado em dezembro de 2018. Formada pelos críticos e curadores Isabella Lenzi, Jacopo Crivelli Visconti e Ricardo Ribenboim, a comissão julgadora analisou projetos de 225 artistas de diversas regiões do Brasil. Inicialmente, o edital previa a seleção de até sete projetos, mas dado o volume de inscrições e a qualidade das propostas e portfólios apresentados, esse número foi ampliado para nove.
Com base nas premissas estipuladas pelo edital, o júri selecionou trabalhos inovadores – no âmbito das discussões e reflexões acerca das produções da arte contemporânea e, ainda, sob uma perspectiva individual fundamentada na trajetória de cada um dos artistas.
"Queremos oferecer ao público experiências de distintas naturezas artísticas e abrir a instituição para o país – daí a importância da chamada aberta. A proposta da exposição dialoga também com a missão do Espaço Cultural Porto Seguro, que é ser uma plataforma para o fazer e a reflexão de manifestações de arte, com ênfase nas relações com a imagem e o entorno", afirma Rodrigo Villela, diretor executivo.
O visitante é instigado a participar da mostra, estabelecendo relações com as obras, rompendo com linguagens ou métodos já pré-estabelecidos e refletindo sobre episódios que construíram a história do País.
A artista Erica Ferrari pesquisa a relação entre construções tridimensionais e a formação da identidade no espaço público. Na mostra, ela traz conceitos que ajudaram a moldar a história brasileira, como religiosidade, opressão, descaso, patrimônio e memória. São ideias que pairam em um dos símbolos mais icônicos de São Paulo: o Pátio do Colégio, marco da fundação da cidade pelos jesuítas. Com a obra De pedra, bronze e palavra (2019), instalação produzida a partir da coleta de vestígios históricos, Ferrari procura refletir sobre o quanto essa construção pode representar o processo de desenvolvimento brasileiro, de sua colonização até a atualidade.
Tomando a interdependência do artista com o entorno que o abriga, a exposição traz uma obra viva que será alimentada pelo público e pelos colaboradores do Espaço Cultural Porto Seguro. Uma metáfora para o modus operandi do circuito de arte contemporânea. Trata-se da escultura Metabolismo#3 (2019), trabalho inédito do artista Daniel Frota de Abreu, feita em concreto armado e pensado para funcionar como um sistema de compostagem. Ao longo do período expositivo, a obra transformará dejetos orgânicos em húmus para adubar o jardim da instituição.
Em meio a reflexões e questionamentos sobre a memória, Tiago Mestre traz um trabalho sobre o esquecimento. O artista propõe um olhar crítico sobre o processo de criação e a matéria utilizada na obra Smog (2019), conjunto de esculturas em argila que forma um mural no espaço expositivo. Mestre levanta problematizações sobre a cultura modernista brasileira, cuja referência é a arte pública monumental no contexto arquitetônico e urbano. Em linhas gerais, o artista traz um olhar turvo e desapaixonado sobre acontecimentos recentes e a construção da história.
Criar espaços partilhados de integração e silêncio é o foco da pesquisa das artistas Laura Gorski e Renata Cruz, que atuam em parceria desde 2015. Em O abismo não nos separa, ele nos cerca (2019), a dupla exibe uma instalação formada por uma coleção de livros que abordam temas clássicos da cultura universal, como a pintura, a escultura, a literatura, entre outros. Os objetos são atravessados por elementos naturais coletados pelas artistas durante uma experiência de imersão vivida na Floresta Amazônica, em julho de 2018.
O espectador é conduzido a produzir associações e criar sua própria história a partir de uma sequência de imagens apresentada de forma não narrativa ou linear, beirando o caótico. Trata-se da instalação Fotoreceptores: cones e bastonetes (2018), de Arnaldo Pappalardo. O artista introduz movimento às imagens estáticas e faz uso de duas operações distintas: o virar das páginas de um fotolivro e a sucessão de fotografias projetadas. Ele parte de dois tipos de células responsáveis pela visão humana: os bastonetes, que mesmo na penumbra captam a luz, mas não registram a cor; e os cones, que percebem as frequências luminosas do azul, verde e vermelho. E é entre as cores e o preto e branco, o livro e o vídeo, que nasce esta instalação.
Os vestígios deixados pelos visitantes devem se tornar parte da obra de Erica Kaminishi. Na obra Loop (2019), a artista exibe peças tridimensionais que, na medida em que são tocadas, mudam gradativamente de cor e absorvem fragmentos deixados pelos espectadores. A instalação é composta por um conjunto de cilindros e, com ela, Kaminishi evoca indagações sobre a compreensão do intocável e do sagrado, e discute a cultura do toque, habitual no Brasil.
O gesto manual de trabalhadores serviu como objeto de estudo para João Angelini. O artista apresenta em Laissez-faire Nº1 (2019) um vídeo e 1.920 desenhos feitos a mão em papel. Angelini decupou os gestos de um soldado da Polícia Militar de Planaltina (DF), sua cidade natal, que realiza a rotina de vistoria e manutenção de sua pistola antes de iniciar o serviço. A intenção do artista ao transpor os desenhos do vídeo para o espaço é revelar o processo laborioso e extremamente demorado que está por trás da produção de uma animação e transferir ao espectador a possibilidade de ordenar a sequência de imagens.
Os limites entre suportes, materiais e métodos distintos surge em A serpente e o castelo (2019), projeto do artista Pablo Lobato. Criada a partir de um arranjo entre as peças de diferentes naturezas, que apesar de autônomas, estabelecem entre si conexões espaciais e de escala com o espaço, determinando a experiência do espectador. Para sua construção, Lobato seguiu os estudos e ensinamentos da pediatra vienense Emmi Pikler, precursora de novas ideias sobre educação infantil. A primeira infância, na abordagem do artista, simboliza um lugar fértil para mudanças urgentes que a sociedade necessita.
Um conjunto de imagens aéreas, em sua maioria, em branco e preto, encerram a exposição levando o espectador à quietude e tranquilidade da obra de Angella Conte. Após uma temporada vivendo na Holanda, em meio a paisagens serenas, baixas temperaturas e a natureza, a artista traz ao público Um vazio e um silêncio (2018), composição de fotografias que abre precedentes para o pensamento sobre a inter-relação entre o indivíduo e seu meio, pautado por histórias, trocas e resquícios.
Sobre os artistas
Angella Conte (1955)
Natural de Jabotical, São Paulo, Angella Conte é uma artista que trabalha com desenhos, pinturas, esculturas, fotografias, instalações, vídeos e performances. O ponto de partida de sua obra é a inter-relação entre o indivíduo e o seu meio. Tem obras em acervos públicos e privados e já expôs em instituições brasileiras e internacionais, como Centro Cultural São Paulo (CCSP), Festival Internacional de Arte Eletrônica (FILE - 2016), SESI - SP, Centro Provincial de Artes Plásticas y Diseño La Habana Cuba e Museu de Arte Contemporânea (MAC - USP). Foi indicada para o 4º Prêmio CNI/SESI Marcoantonio Vilaça e fez residências artísticas em Portugal e Irlanda.
Arnaldo Pappalardo (1954)
Veterano na cena fotográfica brasileira, o paulistano Arnaldo Pappalardo experimenta com imagens díspares e utiliza técnicas diversas do universo fotográfico: dos primórdios da fotografia aos recursos das câmeras digitais. É autor do livro Tensão Calma (2008), que reúne registros da exposição individual apresentada no mesmo ano na Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Daniel Frota de Abreu (1988)
O artista carioca combina escultura, vídeo e publicação em instalações que estabelecem relações estéticas e políticas com seu contexto. Já participou de residências artísticas no Pivô (2019), em São Paulo; no FLACC (2019), em Genk, na Bélgica e no 3 Package Deal (2014-2015), em Amsterdam. Seu trabalho já foi apresentado em instituições como Fundação Iberê Camargo, Paço das Artes e Fundação Sandretto Re Rebaudengo, na Itália.
Erica Ferrari (1981)
Com uma formação que vai das artes visuais à arquitetura e o urbanismo, a paulistana Erica Ferrari busca escavar e analisar as diversas camadas históricas e sociais do tecido urbano. Fez residência artística na Casa Tomada (São Paulo), no Sculpture Space (Nova York) e no Rampa (Madrid). Exibiu individuais em instituições como Pivô, no Paço das Artes, Sesc Vila Mariana na 32ª Bienal de Artes Gráficas, em Liubliana, Eslovênia.
Erica Kaminishi (1979)
Nascida em Rondonópolis, no Mato Grosso, Erica Kaminishi é nipo-brasileira e já viveu entre o Brasil, o Japão e a França. O período no exterior se tornou a base de sua produção visual e de seus questionamentos. Aspectos da arte e cultura tradicional japonesa são centrais em sua obra. A artista parte do desenho, da palavra e de tudo o que envolve esse universo: a palavra escrita, oral, pictórica, literária e os símbolos. Já expôs seu trabalho em instituições como Funarte (São Paulo), Tokyo Opera City Art Gallery (Japão), Aichi Arts Center (Japão), e Museu de Arte Contemporânea do Paraná (Curitiba) e foi reconhecida com os prêmios Mostra de Artistas no Exterior (Fundação Bienal de São Paulo) e Bolsa Produção em Artes Visuais 2011 (Fundação Nomura, Japão).
João Angelini (1980)
O artista nasceu e reside em Planaltina, na periferia rural de Brasília. Seu trabalho tem como enfoque as questões processuais, as reflexões dos modos de fazer, os limites e as convergências de linguagens e técnicas artísticas. Suas pesquisas se desdobram em diversos meios como gravura, pintura, teatro, fotografia, vídeo, música, animação e performance. Seu trabalho já foi exibido em instituições como Museu de Arte do Rio (MAR) e Museu Nacional de Brasília. Acumula premiações como a 5ª edição do Prêmio Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas, pelo grupo EmpreZa (2015) e o Novo RUMOS Itaú Cultural (2014). Sua obra está em coleções do Acervo Banco Itaú, MAR, MAB e Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Laura Gorski (1982) e Renata Cruz (1964)
As artistas Laura Gorski e Renata Cruz trabalham em parceria desde 2015, participando desde então de projetos e exposições. O foco de pesquisa da dupla é a criação de espaços partilhados de integração e silêncio, que normalmente são habitados de maneira individual. A possibilidade do encontro consigo mesmo, de forma acompanhada, as move a criar imagens nas quais está presente a ideia de partilha do tempo e da intimidade. Em 2017, participaram da residência LABVERDE na Reserva Adolpho Ducke, em Manaus, para onde retornaram em 2018.
Pablo Lobato (1976)
Natural de Bom Despacho, Minas Gerais, Pablo Lobato procura atenuar os limites entre distintos suportes, materiais e métodos. Começou no cinema, exibindo seus trabalhos em festivais do mundo todo e, aos poucos, ingressou no circuito das artes visuais. O artista experimenta, sobrepõe e converge diversas linguagens – vídeos, fotografias e assemblages - sem que haja uma linha divisória entre elas ou uma preponderância de uma sobre a outra. Foi um dos criadores da Teia – Centro de Pesquisa Audiovisual, com sede em Belo Horizonte, e indicado ao Prêmio PIPA em 2012.
Tiago Mestre (1978)
O português Tiago Mestre nasceu no Alentejo e desde 2010 vive em São Paulo. Arquiteto de formação, sua pesquisa artística se materializa em diferentes meios e suportes, entre a escultura de cerâmica, o gesso e o bronze, a pintura e o vídeo, os murais e as instalações. É autor de uma produção diretamente ligada às distintas matérias que utiliza e confronta e aos espaços que ocupa. Já realizou exposições em espaços como Real Colégio das Artes e Humanidades, Coimbra, Portugal (2018); Galeria Millan, São Paulo, (2017); Paço das Artes, São Paulo, e Centro Cultural São Paulo (2016); Kunsthalle, São Paulo, SP (2014); e Wiels Residency Projects, Bruxelas, Bélgica (2009), Instituto Tomie Ohtake (2015) e esteve entre os participantes da XV Bienal de Cerveira, em Portugal.
Comissão julgadora
Isabella Lenzi
De nacionalidade portuguesa, é curadora, pesquisadora e editora. É mestre em fotografia pela Universitat Pompeu Fabra e Elisava (Barcelona, Espanha) e em estudos museológicos pela Universidade College London (Reino Unido). Desde 2013, é curadora e consultora cultural do Consulado Geral de Portugal, em São Paulo; foi pesquisadora na Whitechapel Gallery, em 2017, em Londres, e integrou o núcleo de programação da Associação Cultural Videobrasil, em São Paulo, entre 2013 e 2015.
Jacopo Crivelli Visconti
Nascido em Nápoles, Itália, Jacopo Crivelli Visconti vive em São Paulo. É crítico e curador independente. Doutor em Arquitetura pela Universidade de São Paulo (USP), é curador da 34ª Bienal de São Paulo (2020). Entre seus trabalhos recentes mais representativos estão: Untimely, Again, Pavilhão da República de Chipre na 58ª Biennale di Venezia, Itália (2019); Brasile – Il coltello nella carne, PAC – Padiglione d'arte contemporanea, Milão, Itália (2018); Matriz do tempo real, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (2018); Héctor Zamora – Dinâmica não linear, Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo (2016); e Ir para volver, 12ª Bienal de Cuenca, Equador (2014). É colaborador regular de revistas de arte contemporânea, arquitetura e design, além de escrever para catálogos de exposições e monografias de artistas.
Ricardo Ribenboim
Artista plástico, designer gráfico e produtor cultural. Desde 2002, o paulistano é diretor da Base7, produtora especializada em gestão de projetos culturais. Foi diretor do Itaú Cultural entre 1997 e 2002, do Paço das Artes em 1996 e 1997, e do Gema Design entre 1986 e 1995. Como artista, explora os limites entre o design gráfico e as artes visuais, o que se reflete na utilização de diferentes materiais e suportes, tanto físicos quanto eletrônicos. Participou da Bienal Nacional de São Paulo (1974), da 7ª Bienal de Havana (2000), do Open Air Veneza (2001), além de diversas exposições, como City Canibal, Paço das Artes, São Paulo (1998); Ares e Pensares, SESC, São Paulo (2002), entre outras.
Arte Naïf - Nenhum museu a menos na EAV Parque Lage, Rio de Janeiro
Parque Lage abrirá exposição-manifesto com parte do acervo do Museu Internacional de Arte Naïf, em diálogo com obras de artistas contemporâneos
A Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV) abrirá a exposição-manifesto Arte Naïf – Nenhum museu a menos, com curadoria de Ulisses Carrilho e patrocínio cultural de FURNAS, no dia 11 de maio de 2019. A mostra, que receberá mais de 300 obras da coleção Lucien Finkenlstein e ocupará as cavalariças e o palacete, marca a posição da EAV em favor das instituições culturais brasileiras e sua liberdade de expressão.
Parte do acervo do Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil (Mian), que inclui obras nunca antes expostas publicamente, será exibida em diálogo com o trabalho de mais de 40 artistas contemporâneos, entre eles Barbara Wagner & Benjamin de Burca, Barrão, Carmela Gross, Efraim Almeida, Erika Verzutti, Leda Catunda, Marcos Chaves, Nelson Leirner, Rosangela Rennó, Véio e Yuri Firmeza.
Para o Núcleo de Ação Educativa, que atuará com o público na exposição, a EAV firmou parceria com o projeto Afrografiteiras, da Rede NAMI. A programação educativa, que será composta por visitas, debates e oficinas, terá entre os principais eixos temáticos o racismo estrutural e os preconceitos presentes nas classificações da arte. Além da diversidade de poéticas e formas de criar dos artistas populares, historicamente marginalizados ou nomeados de ingênuos por críticos, instituições e historiadores.
A EAV defende instituições culturais e espaços expositivos como zonas de aprendizagem e trocas de conhecimento, bem como territórios de confrontamento e dúvida. A exposição "Arte Naïf – Nenhum museu a menos", que tem projeto gráfico concebido por Rafael Alonso, toma por empréstimo este lema em favor dos museus brasileiros, para afirmar uma causa.
É urgente a adoção de medidas de proteção aos equipamentos públicos e seus acervos históricos, principalmente quando sofrem de vulnerabilidade frente a outras manifestações artísticas. Em 2018, o Brasil foi afetado pela maior catástrofe museológica de sua história, de irreparáveis perdas para a humanidade. Falta de verba e manutenção mantém 261 museus fechados no Brasil. De acordo com o Instituto Brasileiro de Museus, o número representa 7% do universo de 3.789 instituições do país.
Fechado desde dezembro de 2016, o Mian funcionou por 21 anos no Cosme Velho, na zona sul carioca, com um acervo permanente de 6 mil pinturas, de artistas de 120 países. A maior coleção do gênero no mundo inclui preciosidades que nunca foram expostas, como seis telas do artista mineiro Ricardo Ozias, pintadas com os dedos e escovas de dentes, a pedido de Lucien Finkelstein, fundador da instituição.
“O resgate do Mian é fundamental. Trazer luz e mostrar a importância da arte naïf para a cena artística faz parte do nosso papel como uma escola que busca criar mecanismos internos e linhas de atuação externas, que permitam um diálogo produtivo com a cidade e com os circuitos nacional e internacional de arte”, comenta Fabio Szwarcwald, diretor-presidente da EAV Parque Lage.
As pinturas da arte naïf frequentemente narram o cotidiano e o extraordinário que se aloja nele. Ritos e festas populares, experiências de trabalho, convívio social e lazer, esportes e paisagens naturais, manifestações religiosas e espirituais são recortes frequentes. Chamados artistas naïf, os autodidatas (do fazer artístico sem escola ou orientação) foram
frequentemente ligados à arte popular e à arte bruta, esta que define a expressão dos inadaptados, dos loucos, médiuns e alienados em geral.
“Em 2019, faz sentido atualizar esta noção, aliando-se às pautas feministas e antirracistas, à luta antimanicomial e às narrativas decoloniais, que revisam as histórias ligadas à formação do país. Resta o compromisso com o arrojo daqueles artistas que formaram-se por uma prática livre. Tais medidas singularizam esta mostra a partir da EAV Parque Lage, criada em 1975 para ser uma escola de vanguarda, atenta às questões brasileiras e antropológicas, sensíveis às demandas da sua comunidade e de seu tempo”, afirma Ulisses Carrilho, curador da EAV Parque Lage.
A perspectiva ressaltada pela curadoria é pensar, a partir das noções de uma escola de arte livre, a produção de artistas que não recorreram a academias: quais artistas escolheram não formarem-se em escolas e quais aqueles que não tiveram condições para tal experiência? E, de maneira mais contemporânea, pensar esta realidade a partir de um recorte de classe.
Sobre o Núcleo de Ação Educativa, em parceria com as Afrografiteiras da Rede NAMI
O programa educativo será composto por mulheres pintoras que debruçam-se sobre uma pesquisa no campo da arte - pensando suas poéticas como exercício de denúncia e transformação social. Artistas com experiência e inserção na arte urbana, que foram convidadas a atuar na exposição como agentes e autoras de processos educativos orientados para promoção de trocas de saberes e para reinvenção, junto ao público, das ideias de arte e cultura vigentes na sociedade.
Anna Bella Geiger no MAM, Rio de Janeiro
A reconhecida artista ganha mostra com 20 trabalhos emblemáticos pertencentes ao Museu, que inclui a remontagem da histórica “Circumambulatio”, realizada no Museu em 1972
O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro apresenta de 11 de maio a 7 de julho de 2019 a exposição Anna Bella Geiger – Aqui é o centro, com 20 emblemáticas obras de Anna Bella Geiger (Rio de Janeiro, 1933) pertencentes ao acervo do MAM Rio, em curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes. Realizados nas décadas de 1960, 1970, 1980 e 1990, todos os trabalhos revelam o interesse da artista pela construção do espaço, além das noções de história, fronteira, centro e periferia. Em paralelo à mostra, a artista faz uma releitura da “Circumambulatio”, realizada no MAM Rio em 1972.
A mostra “Anna Bella Geiger – Aqui é o centro” se divide em duas partes complementares. A primeira reúne um panorama da produção da artista com 20 obras do início dos anos 1970, todas pertencentes ao acervo MAM Rio. A segunda é a releitura da exposição “Circumambulatio”, apresentada no Museu há quase cinco décadas, e que “se constitui em divisor de águas de seu trabalho, posto que separa o antes modernista – ou seja, sua produção abstrata (1950) e a instigante fase visceral (1960) – do futuro contemporâneo de seu trabalho”, apontam os curadores.
“Resultado de um trabalho coletivo desenvolvido e exposto por Geiger e seus alunos do curso de artes visuais do Museu em 1972, ‘Circumambulatio’ é um dos marcos de sua aproximação com o campo de ressonância de questões da arte conceitual que se reafirmam em sua produção dos anos 1970: incorporação da palavra ao trabalho e experimentação de novas mídias (fotos, vídeos, livros de artista etc)”, observam os curadores no texto que acompanha a exposição. O título da exposição, agora remontada em parceria da artista com a equipe do museu, deriva de “circumambulação”: ritual de andar em espiral ao redor de objetos sagrados, como ocorre em certas cerimônias do budismo, hinduísmo e islamismo. Mais do que mera palavra, “circumambulatio” – conceito poético que então referenciou as pesquisas de Geiger e seus alunos – determinou, igualmente, a seleção de imagens e textos para esta exposição e definiu sua instalação na área expositiva do Museu.
Dentre as ideias fundamentais contidas em texto escrito pela artista para a mostra de 1972, uma é especialmente esclarecedora: “o centro não é simplesmente estático. Ele é o núcleo de onde partem o movimento do uno para o múltiplo, do interior para o exterior. [...] A passagem da circunferência para seu centro equivale à passagem do externo para o interno, isto é, da forma à contemplação”. No caso específico do processo poético de Anna Bella Geiger, parece ser possível entender a noção de centro como local de inscrição e ação, cuja dinâmica até hoje permeia a obra da artista.
Fábio Baroli na Zipper, São Paulo
À primeira vista, a instalação de pinturas de Fábio Baroli na Zipper Galeria pode parecer uma abordagem naturalista de um artista que é reconhecido pela representação de cenas cotidianas do interior brasileiro e da figura humana. Na nova série de trabalhos, ele toma como ponto de partida as paisagens características da Mata Atlântica, visando uma construção poética a partir de referências de vegetações nativas do Brasil. Porém, trata-se apenas do ponto de partida: em Selva-Mata – a primeira individual dele na galeria – Fábio Baroli usa a pintura como método para refletir sobre a ação antrópica no meio ambiente.
Com texto crítico de Mario Gioia, a exposição inaugura no dia 11 de maio, às 12h. O artista cria uma paisagem inventada no andar superior da Zipper, um site specific que expande a pintura das telas às paredes do espaço expositivo. “O intuito é estabelecer a intercomunicação, por meio da arte, entre as complexas e sensíveis relações do ser humano e suas ocupações, em seu amplo sentido de posse, ofício e lugar”, observa.
Como é próprio no trabalho do artista, as pinturas revelam marcas de edição (montagens, colagens, intervenções e interrupções) que aludem à característica da editoração gráfica, revelando uma das leituras do artista em relação à ação antrópica sobre o meio natural. A escolha do tema na nova série se deu da perspectiva da redução dos espaços naturais, tendo como paradigma a drástica diminuição das áreas de Mata Atlântica ocorridas desde a colonização europeia até a atualidade. “No fundo, é uma paisagem humana, uma narrativa não linear. O olhar pode partir de qualquer ponto da instalação”, comenta.
A exposição “Selva-Mata” fica em cartaz até 8 de junho.
Sobre o artista
Descendente do ramo genealógico iniciado no Brasil por Almeida Júnior (1850-1899), o trabalho do artista Fábio Baroli (Uberaba, 1981; vive e trabalha em São Paulo) expressa uma visão de mundo ancorada na vivência interiorana e no imaginário regional. Gêneros tradicionais — como retrato, paisagem e natureza-morta — se misturam à cenas do cotidiano do artista em pinturas com gestos bruscos e marcantes, em trabalhos que revelam marcas de edição (montagens, colagens e intervenções) características de programas digitais. A apropriação e a referência da imagem fotográfica fazem parte do processo do artista. Vencedor dos prêmios Funarte de Arte Contemporânea (2011) e Marcantonio Vilaça (2013), o trabalho de Fábio Baroli consta em coleções como MAM Rio, Museu de Arte do Rio e Museu Nacional de Brasília. Principais exposições individuais: Goliath, MuseumsQuatier, Viena (2017); Deitei pra repousar e ele mexeu comigo, CCBB Brasília (2016); Muito pelo ao contrário, CCBNB, Fortaleza (2014); Vendeta: a Intifada, Funarte, Recife (2013). Principais exposições coletivas: Contraponto, Museu Nacional de Brasília (2017); É tudo nosso, Casa da Cultura da América Latina, Brasília (2017); Vértices – Coleção Sérgio Carvalho, Centro Cultural Correios, Braslília, Rio de Janeiro e São Paulo (2015/2016); Prêmio Aquisições Marcantonio Vilaça, Museu de Arte Moderna MAM Rio, Rio de Janeiro (2013).
Texto crítico: Mario Gioia
Mario Gioia (São Paulo, 1974), curador independente, é graduado pela ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo) e faz parte do grupo de críticos do Paço das Artes desde 2011, instituição na qual fez o acompanhamento crítico de Luz Vermelha (2015), de Fabio Flaks, Black Market (2012), de Paulo Almeida, e A Riscar (2011), de Daniela Seixas, além do acompanhamento crítico da coletiva Ateliê Fidalga no Paço das Artes (2010). Foi crítico convidado de 2013 a 2015 do Programa de Exposições do CCSP (Centro Cultural São Paulo) e fez, na mesma instituição, parte do grupo de críticos do Programa de Fotografia 2012. Em 2015, no CCSP, fez a curadoria de Ter lugar para ser, coletiva com 12 artistas sobre as relações entre arquitetura e artes visuais. Já fez a curadoria de exposições em cidades como Brasília (Decifrações, Espaço Ecco, 2014), Porto Alegre (Ao Sul, Paisagens, Bolsa de Arte, 2013) e Rio de Janeiro (Arcádia, CGaleria, 2016). É colaborador de periódicos de artes como Select e foi repórter e redator de artes visuais e arquitetura da Folha de S.Paulo de 2005 a 2009.
Monica Piloni na Zipper, São Paulo
A exposição individual Ciclo, primeira de Monica Piloni na Zipper Galeria, se situa em algum ponto entre o corpo e o objeto, a escultura e a instalação, o erotismo e o bizarro. A mostra reúne novos trabalhos da artista que distorcem o corpo humano com desmembramentos, omissões ou multiplicação de elementos, gerando formas não naturais, frequentemente incômodas.
A mostra expressa as permanências e as transformações em curso no trabalho desta artista que tem na representação do corpo o seu ponto de partida. Uma das obras, em especial, representa estes dois estágios: em “Gangorra”, a maior na exposição, duas figuras humanas se debruçam em cada uma das pontas de uma mesa, que, num ciclo incessante, oscila como uma gangorra. A inserção de objetos cênicos – como um espelho, um livro que se torna um biombo e mobiliários invisíveis – e a concepção instalativa indicam a transição por que o trabalho dela passa.
No campo das permanências, Monica Piloni mantém o processo de ser o modelo vivo em seu trabalho. A partir de moldes produzidos no próprio corpo da artista, a anatomia original é modificada. Resulta, muitas vezes, que aquelas figuras passem a não ser mais identificados como corpos, mas como objetos, por veze seres misteriosos e desconhecidos. “O dado do irreconhecível é algo que me move. Investigo se há um prazer por trás do medo. Meu trabalho depende da reação do público. Eu preciso desta resposta, deste espelho”, ela afirma.
A exposição “Ciclo” inaugura no dia 11 de maio, às 12h, e fica em cartaz até 8 de junho.
Sobre a artista
Em esculturas, objetos e fotografias, Monica Piloni (Curitiba, Brasil, 1978) distorce o corpo humano com desmembramento, omissão ou multiplicação de elementos, que geram uma forma perturbadora e não natural, muitas vezes mórbida. Seu trabalho, ao mesmo tempo, questiona a sexualização da figura feminina e instiga sensualidade, por meio de corpos nus distorcidos que repelem e atraem. Entre suas exposições individuais, destacam-se “Monica…”, Epicentro, São Paulo, em 2017, e a intervenção urbana “Ilegais”, na Rua da Aurora, em Recife, em 2014. Participou de mostras coletivas como "Demasiado Pasolini”, Biblioteca Mário de Andrade (2015); TRIO Bienal, MNBA, Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro (2015); “Nova escultura brasileira”, Caixa Cultural, Rio de Janeiro (2011), "O Colecionador de Sonhos" Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto (2011), entre outras. Seu trabalho figura em importantes coleções brasileiras, como Inhotim, MAC Niterói e Instituto Figueiredo Ferraz.
maio 5, 2019
Eduardo Frota na Sem Título Arte, Fortaleza
Revolver a terra para semear heterotopias, exposição individual do artista Eduardo Frota celebra seus 40 anos de carreira artística, na Sem Título Arte. Abertura: 2 de maio, às 19h.
A geografia, a história e a cultura do Brasil atravessam a obra do artista Eduardo Frota desde a origem. É nas estrias, entranhas, no miolo da madeira reflorestada que o artista dá a ver toda uma história de miscigenação que nos funda como povo. O novo trabalho tem na pesquisa com o Pau Brasil sua inflexão para a construção da obra redimensionando uma geografia cultural do país.
A matriz da cultura brasileira é a fonte de pesquisa do artista: “Me aproprio da história do Pau Brasil como um signo seminal de articulação do território e da cultura transmutado em uma proposição artística. Esse ecossistema de muitas mutações e vários tipos da espécie dentro da Mata Atlântica, com seu clima tropical e subtropical, traduz também um dado da miscigenação cultural. Não é a cultura que delineia o espaço, mas é o espaço, a topologia, a geografia que delineiam fortemente também um dado da cultural”.
O Pau Brasil protagoniza o primeiro ciclo econômico do país, influenciando na Modernidade Europeia ao desequilibrar as relações da indústria têxtil. É, portanto, fundador do nosso modelo civilizatório extrativista, de tráfico e exploração. O pau de tinta abre o ciclo das Américas com mais influência na economia europeia, junto com a prata e o ouro. Marco do primeiro ciclo econômico e modelo de escravização dos índios.
Em “Revolver a terra para semear heterotopias”, Eduardo Frota refunda o país ao ir às origens, plantando 100 mudas de Pau Brasil. São 27 caixotes-territórios de madeira que compõem a topologia brasileira traçando uma linha orgânica que recodifica simbolicamente as lutas, revoltas e revoluções populares. Revolver a terra é reencarnar no corpo da obra as resistências populares que são constituintes da construção social e cultural do Brasil. “Replantar o Pau Brasil é devolver em gesto coletivo o que foi extraído no primeiro ciclo econômico e de exploração do país.”
A terra é corpo da obra. É preciso adentrá-la para sentir sua sensorialidade. “O espaço sempre foi uma questão preponderante no meu trabalho. Esse trabalho se materializa nos simples gestos de cavar e plantar. Só o gesto radical é capaz de abrir a obra.”
Revoltas do Malês, da Chibata, de Canudos são exemplos de levantes que nomeiam porções desses territórios. “Se a gente pensar que nessas revoltas milhões de pessoas foram mortas, a terra é esse dado de memória fecundo e a colonização é, em essência, a guerra pela terra e suas riquezas que está por trás de todos os crimes ambientais e humanos do país.”
A dimensão pública espacial da exposição está por vir. Ao final da mostra, as mudas serão plantadas nos espaços públicos da cidade evocando o conceito original da obra, “Revolver a terra para semear heterotopias”. A iniciativa do replantio coletivo na cidade será mediado pelo Projeto Pró-Árvore.
A exposição foi contemplada no Edital de Incentivo às Artes da SECULT-CE em 2016 e selecionado no Salão de Abril de 2019. Eduardo Frota é finalista do Prêmio Marcantonio Vilaça 2019.
Ofício: Farpa - Afonso Tostes no Sesc Pompeia, São Paulo
Com a proposta de investigar o uso de técnicas e práticas abordadas nas Oficinas de Criatividade na produção artística contemporânea, o projeto abre com mostra que destaca o uso da marcenaria
“Floresta d’água” apresentará trabalhos de grande escala, criados especialmente para o projeto, utilizando elementos como troncos secos, madeira de demolição, remos, folhas e cordas, que ganham novo significado nas mãos do artista
O Sesc Pompeia estreia em 2019 o projeto Ofício: Farpa. A proposta é investigar o uso de técnicas tradicionais e práticas artesanais – abordadas nas suas Oficinas de Criatividade – na produção artística contemporânea. Começando pela marcenaria, o artista Afonso Tostes apresenta a exposição Floresta d’água, entre os dias 7 de maio e 18 de agosto.
Com curadoria de Daniel Rangel, a mostra explora elementos fundamentais para o ciclo da vida. Troncos secos, madeiras de demolição, remos, cordas, água doce e salgada, pedras e barro são alguns dos materiais e objetos coletados ou negociados pelo artista. Há mais de quatro anos, ele viaja pelas águas e florestas do Brasil em busca de elementos carregados de histórias, que ganham novos significados em suas mãos.
Obras de grandes dimensões, criadas especialmente para a exposição, ocuparão os corredores das Oficinas. Logo na entrada, estará a escultura Igbo (2019), com mais de 5m de altura. Formada por três pedaços de troncos empilhados de maneira irregular, sustentados por outras esculturas. “O trabalho desloca o visitante para um outro espaço e tempo. Seu impacto visual é ampliado pela relação inerente de sua coluna natural com a estrutura amadeirada do telhado do edifício”, explica o curador.
Nos corredores laterais do espaço, duas instalações representam, de modo metafórico, a floresta e o rio. Deitadas (2019) dá nova vida ao tronco de uma enorme árvore, que foi encontrado caído na mata. Cortado ao meio, teve o vazio entre as duas partes preenchido por uma conexão escultórica. Linha do tempo (2019) retrata o percurso de Tostes pelas águas brasileiras à procura de remos de madeira utilizados por comunidades de diferentes regiões. Dois deles, um cromado e outro esculpido, são amarrados por pedaços de cordas, dando aparente instabilidade à obra. Outros objetos recolhidos pelo caminho compõem a instalação, que resgata também as lembranças das realidades a que pertenceram.
No corredor central das Oficinas, “entre a floresta e o rio”, um extenso varal traz pendurados desenhos em pequenos formatos de folhas, flores, frutos e galhos, nos quais o sutil traço do artista se sobrepõe a páginas de antigos livros e revistas. Uma série de esculturas compostas pela união de materiais colhidos e ressignificados por Tostes completam a exposição.
SOBRE O ARTISTA
Nascido em 1965, em Belo Horizonte (MG), Afonso Tostes iniciou sua trajetória artística no Rio de Janeiro, no final dos anos 1980, com o estudo do suporte bidimensional, posteriormente acompanhado por uma vasta produção escultórica com madeiras encontradas nas ruas. O interesse do artista volta-se para o alcance de métodos simples a partir desses materiais descartados, desenvolvendo esculturas aparentemente despojadas de complexidade estrutural e que carregam no corpo os sulcos e marcas dos usos anteriores.
Estudou desenho e pintura na Escola Guinnard, em Belo Horizonte, e na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. Em 2001 foi contemplado pela bolsa RIO ARTE e começou a se dedicar à escultura.
Entre as exposições mais recentes, destacam-se as realizadas na Galeria Millan, São Paulo, SP (2015); na Casa França Brasil, Rio de Janeiro, RJ (2014); no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, RJ (2011), e no Museu de Arte Contemporânea de Niterói, RJ (2009).
A queda do Céu no Caixa Cultural, Brasília
Com curadoria de Moacir dos Anjos, as obras de 21 artistas ocuparão três salas da Caixa Cultural Brasília e abordará a questão indígena no Brasil
No dia 7 de maio, às 19h, a Caixa Cultural Brasília recebe a mostra coletiva A queda do céu. São obras de 21 artistas e ativistas que abordam questões enfrentadas pelas comunidades indígenas e que afetam a sociedade. A mostra ocupará três salas expositivas do espaço - a galerias Principal e as Piccolas I e II - e ficará em cartaz de 8 de maio a 30 de junho, com visitação de terça-feira a domingo, das 9h às 21h. A entrada é franca e a classificação indicativa é livre para todos os públicos.
No dia da abertura às 19h, no Teatro da CAIXA Cultural, acontecerá uma conversa com o líder indígena, ambientalista e escritor brasileiro, Ailton Krenak e com o curador da exposição. O evento contará com tradução em Libras. A entrada é gratuita.
A abertura da exposição será precedida por uma conversa com o Curador Moacir dos Anjos e o ativista Ailton Krenak no Teatro da Caixa, com entrada gratuita e classificação indicativa livre para todos os públicos. A mostra “A queda do céu” é uma realização de Bruna Neiva, da Tuîa Arte Produção, com patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura da Secretaria de Cultura do Distrito Federal. A Caixa Cultural Brasília fica na A CAIXA Cultural Brasília fica no Setor Bancário Sul (SCS) Quadra 4 Lotes 3/4.
“A queda do céu”, é um projeto criado pelo curador Moacir do Anjos que reúne 50 obras artistas e pensadores brasileiros e estrangeiros realizadas nos mais variados suportes e produzidas nos últimos anos. De intenso valor poético, elas evidenciam os processos de violência e de contínua despossessão sofridos pelas comunidades indígenas no Brasil. “O título da mostra é uma referência explícita ao livro do xamã yanomami Davi Kopenawa, escrito em parceria com o antropólogo francês Bruce Albert e publicado originalmente na França (La chute du ciel, 2010). No livro, Kopenawa apresenta a cosmogonia que rege as crenças de seu povo – fundada em intricada e instável relação entre humanos, floresta e espíritos – e narra as ameaças a estes fundamentos de vida que resultam das ações predadoras do “homem branco” ao longo de séculos.
A exposição, informa Moacir dos Anjos, não tem a pretensão de conter as inúmeras ações nocivas contra os povos indígenas do Brasil e da América nem ao meio ambiente afetado pela mineração, construção de barragens, o desmatamento, a introdução de doenças que dizimam populações inteiras. “Ela quer aproximar e articular trabalhos artísticos que prenunciam, evidenciam e combatem a progressiva despossessão sofrida por populações indígenas iniciada em seu contato involuntário com o colonizador branco: aquele que lhes quis e ainda quer subtrair a sua condição de humanos, e que não suporta o convívio com a diferença”, completa.
Sobre os artistas e pensadores
Ailton Krenak nasceu no Vale do rio Doce, Minas Gerais, em 1954, na tribo dos Krenak. Aos 17 anos, Ailton migrou com seus parentes para o estado do Paraná. Alfabetizou-se aos 18 anos, tornando-se a seguir produtor gráfico e jornalista. Na década de 1980 passou a se dedicar exclusivamente à articulação do movimento indígena. Em 1987, no contexto das discussões da Assembleia Constituinte, Ailton Krenak foi autor de um gesto marcante, logo captado pela imprensa e que comoveu a opinião pública: pintou o rosto de preto com pasta de jenipapo enquanto discursava no plenário do Congresso Nacional, em sinal de luto pelo retrocesso na tramitação dos direitos indígenas. Em 1988, participou da fundação da União das Nações Indígenas (UNI), fórum intertribal interessado em estabelecer uma representação do movimento indígena em nível nacional, participando em 1989 do movimento Aliança dos Povos da Floresta, que reunia povos indígenas e seringueiros em torno da proposta da criação das reservas extrativistas, visando a proteção da floresta e da população nativa que nela vive. Nos últimos anos, Ailton voltou a Minas Gerais para ficar mais perto do seu povo. Atualmente, está no Núcleo de Cultura Indígena, ONG que realiza desde 1998 o Festival de Dança e Cultura Indígena, idealizado e mantido por Ailton Krenak, na Serra do Cipó (MG), evento que visa promover o intercâmbio entre as diferentes etnias indígenas e delas com os não-índios. A narrativa de Ailton “O Eterno Retorno do Encontro” foi publicada em “A outra margem do Ocidente”, organizada por Adauto Novaes, Minc-Funarte/Companhia Das Letras, 1999.
Nascida no Rio de Janeiro em 1933, Anna Bella Geiger é escultora, pintora, gravadora, desenhista, artista intermídia e professora. Com formação em língua e literatura anglo-germânicas, iniciou, na década de 1950, seus estudos artísticos no ateliê de Fayga Ostrower (1920 - 2001). Em 1954, viveu em Nova York, onde frequentou as aulas de história da arte com Hannah Levy no The Metropolitan Museum of Art - MET [Museu Metropolitano de Arte] e, como ouvinte, cursos na New York University. Retornou ao Brasil no ano seguinte. Entre 1960 e 1965, participou do ateliê de gravura em metal do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM/RJ, onde passou a lecionar três anos mais tarde. Em 1969, novamente em Nova York, ministrou aulas na Columbia University. Voltou ao Rio de Janeiro em 1970. Em 1982, recebeu bolsa da John Simon Guggenheim Memorial Foundation, em Nova York. Publicou, com Fernando Cocchiarale, o livro “Abstracionismo Geométrico e Informal: a vanguarda brasileira nos anos cinquenta”, em 1987. Sua obra é marcada pelo uso de diversas linguagens e a exploração de novos materiais e suportes. Ainda nos anos 1970, sua produção ganhou caráter experimental: fotomontagem, fotogravura, xerox, vídeo e Super-8. A partir dos anos 1980, dedicou-se também à pintura. Desde a década de 1990, emprega novos materiais e produz formas cartográficas vazadas em metal, dentro de caixas de ferro ou gavetas, preenchidas por encáustica. Suas obras situam-se no limite entre pintura, objeto e gravura.
A formação artística de Armando Queiroz, Belém (PA), 1968, foi constituída através de leituras, experimentações, participações em oficinas e seminários. Desde 1993, expõe e participa de diversas mostras coletivas e individuais no Brasil e no exterior. Integrou projetos como: “Macunaíma”, 1997, no Rio de Janeiro, e “Prima Obra, Brasília”, 2000. Participou do Salão Arte Pará como artista convidado em 1998, 2005, 2006, 2007 e 2008. Na cidade de Abaetetuba (PA), 2003, realiza sua primeira intervenção urbana no Mercado de Carne Municipal como resultado do workshop “Projetos Tridimensionais II”, promovido pelo Instituto de Artes do Pará – IAP. Foi bolsista do mesmo Instituto de Artes em duas oportunidades: com a bolsa de pesquisa “Possibilidades do Miriti como Elemento Plástico Contemporâneo”, 2003. E, em 2008, com a bolsa de pesquisa “Corpo toma Corpo, estudos em Videoarte – O Corpo como Intermediador entre a Vida e a Arte”. Sua produção artística abrange desde objetos diminutos até obras em grande escala e intervenções urbanas. Detém-se conceitualmente às questões sociais, políticas, patrimoniais e às questões relacionadas à arte e à vida. Cria a partir de observações do cotidiano das ruas, apropria-se de objetos populares de várias procedências e tem como referência a cidade. Foi contemplado com a bolsa de pesquisa em arte do Prêmio CNI SESI Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas 2009-2010. Em 2009, seu site specific “Tempo Cabano” recebeu o 2º Grande prêmio do 28º Arte Pará. Em 2010, recebeu Sala Especial no 29º Arte Pará como artista homenageado do salão. Participou da 31ª Bienal de São Paulo. Vive e trabalha em Belém.
Nascido em Bragança, Pará, em 1953, Bené Fonteles é artista plástico, jornalista, editor, escritor, poeta e compositor. Iniciou sua carreira em 1971, expondo no 3º Salão Nacional de Artes Plásticas do Ceará. Em Fortaleza, trabalhou como jornalista. Durante as décadas de 1970 e 1980, integrou anualmente diversas exposições coletivas, nacionais e internacionais, ligadas à arte postal e a pesquisas de novos meios de expressão. Nesse período, participou de quatro edições da Bienal Internacional de São Paulo (1973, 1975, 1977 e 1981). Realizou, ainda, a partir de 1974, diversas mostras individuais, no Brasil e no exterior. Entre 1983 e 1986, dirigiu o Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP) da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). Na década de 1980, envolveu-se em projetos e movimentos voltados à preservação ecológica, procurando uni-los à criação artística. Em 1991, mudou-se para Brasília, onde mantém atuação como ativista ecológico e organizador de eventos artísticos. Em 1997, organizou a montagem da sala especial do artista baiano Rubem Valentim, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM/BA). Entre os livros que publicou, destacam-se “O Livro do Ser” (1994) e “O Artista da Luz“ (2001), sobre Rubem Valentim. Seu trabalho como compositor está reunido no CD “Benditos”, lançado em 2003, que agrupa três trabalhos anteriores, “Bendito” (1983), “Silencioso” (1989) e “Aê” (1991). Em 2003, recebeu da Presidência da República a comenda Ordem do Mérito Cultural.
Cildo Meireles (1948, Rio de Janeiro) desempenha um papel chave dentro da produção artística nacional e internacional. Situando-se na transição da arte brasileira entre a produção neoconcretista do início dos anos 60 e a de sua própria geração, já influenciada pelas propostas da arte conceitual, instalações e performances, as obras de Cildo Meireles dialogam não só com as questões poéticas e sociais específicas do Brasil, mas também com os problemas gerais da estética e do objeto artístico. Durante os anos 1970 e 1980, Cildo Meireles arquitetou uma série de trabalhos que faziam uma severa crítica à ditadura militar. Obras como “Tiradentes: totem monumento ao preso político ou Introdução a uma nova crítica”, que consiste em uma em uma tenda sob a qual se encontra uma cadeira comum forrada com pontas de prego, são alguns trabalhos de cunho político do artista. Neles a questão política sempre vem acompanhada da investigação da linguagem. “Inserções em circuito ideológico: Projeto Coca Cola”, consistiu em escrever, sobre uma garrafa de Coca Cola, a frase “Yankees go home”, para, posteriormente, devolvê-la à circulação. Além da questão política, o projeto faz referência a toda problematização desenvolvida pelos movimentos de vanguarda e por Marcel Duchamp no início do século; uma espécie de ready made às avessas. O artista examina a falibilidade da percepção humana, os processos de comunicação, as condições do espectador, a relação da obra de arte com o mercado. Cildo Meireles participou de várias bienais, entre elas: Veneza (1976), Paris (1977), São Paulo (1981, 1989 e 2010), Sydney (1992), Istambul (2003) e Liverpool (2004). Teve retrospectivas de suas obras realizadas no IVAM Centre del Carme, Valência (1995), Museum of Fine Arts, Nova York (1999), Tate Modern, Londres (2008) e no Museum of Fine Arts, Houston (2009). Em 2008 recebeu o Prêmio Velázquez de las Artes Plásticas, concedido pelo Ministério de Cultura da Espanha. Em 2009, sob a direção de Gustavo Moura, foi lançado o longa-metragem “Cildo”, sobre sua obra. No dia 19 de novembro de 2012, foi realizada em Nova York, no The New Museum, uma retrospectiva de Cildo Meireles, a primeira na história do museu a ocupar todos os três pisos de suas dependências, composta de cinco instalações, em escala ambiente para as salas e com a possibilidade de se caminhar entre elas. Expôs ainda, treze esculturas grandes e vários desenhos. Apresentou ainda uma única pintura do artista Barrenechea, uma homenagem a seu antigo mestre.
A fotógrafa Claudia Andujar nasceu em Neuchâtel, Suíça, em 1931. Morou na Hungria e depois nos Estados Unidos. Em 1957, mudou-se onde passa a dedicar-se à fotografia e trabalhar para publicações nacionais e internacionais, como as revistas “Realidade”, “Claudia” e “Life”. Também começa a lecionar fotografia em vários cursos, entre eles o do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp). Na década de 1970, como parte da equipe de fotógrafos da “Realidade” realizou uma ampla reportagem sobre a Amazônia. Nessa época, recebeu uma bolsa da instituição norte-americana Fundação Guggenheim e, posteriormente, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para estudar os índios Yanomami. As tradições e o modo de vida dos Yanomamis têm sido, desde então, o tema central de sua atividade. Entre 1978 e 1992, participou da Comissão pela Criação do Parque Yanomami e coordenou a campanha pela demarcação das terras indígenas. Entre 1993 e 1998, atuou no Programa Institucional da Comissão Pró-Yanomami. Publicou os livros “Amazônia”, em parceria com George Love (1937-1995), pela editora Praxis, em 1978; “Mitopoemas Yanomami”, pela Olivetti do Brasil, em 1979; “Missa da Terra sem Males”, pela editora Tempo e Presença, em 1982; e “Yanomami: A Casa, a Floresta, o Invisível”, pela editora DBA, em 1998, entre outros. Em 2005, lançou o livro “A Vulnerabilidade do Ser”, pela editora Cosac & Naify. Em 2015, inaugurou a Galeria Claudia Andujar, um pavilhão dedicado a sua obra, no Instituto Inhotim, em Minas Gerais. No mesmo ano, lançou o documentário “A Estrangeira”, que traz sua vida enquanto artista e ativista, dirigido pelo curador de seu pavilhão, Rodrigo Moura.
Fábio Tremonte (1975) vive e trabalha em São Paulo. Mestre em Artes Visuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP) e Bacharel em Artes com qualificação em multimídia e intermídia pela mesma instituição, participou de várias exposições coletivas, com destaques para “Abre Alas” na Galeria A Gentil Carioca, “Não Mais Impossível” no CCBB Fortaleza, “Porque Sim” na Galeria Millan e “Exposição de Verão” na Galeria Silvia Cintra + Box4 (2011), 15º Salão da Bahia no Museu de Arte Moderna da Bahia (2008), Panorama da Arte Brasileira no Museu de Arte Moderna de São Paulo (2005), Ocupação no Paço das Artes (2005), Artista Personagem na Mariantônia (2004) e Vizinhos na Galeria Vermelho (2003). Dentre suas individuais destacam-se “Ilhas” no MARP (2010), “Nada Mais” no Ateliê 397 (2009), “Vista Para o Mar” no Centro Cultural São Paulo (2006), “Paisagem #4” no Paço das Artes (2005). Trabalha como educador em instituições culturais – com oficinas e cursos de treinamento para professores; coordenou o programa educacional da 28ª Bienal de São Paulo. Atualmente é professor de educação fundamental na Escola Ágora.
Jornalista e fotógrafo profissional desde 1989, o pernambucano Fred Jordão trabalha como fotógrafo em projetos de documentação institucional, além de reportagens e publicidade. Já publicou seis livros, com destaque para o “Eu Vi o Mundo”, que registra os making ofs dos filmes em que participou como fotógrafo still, a exemplo do “Baile Perfumado”, de Paulo Caldas e Lírio Ferreira; “Clandestina Felicidade”, de Marcelo Gomes e Beto Normal; “O Rap do Pequeno Príncipe contra as Almas Sebosas”, de Paulo Caldas e Marcelo Luna e “Deserto Feliz”, de Paulo Caldas. Já participou de mais de 15 exposições nacionais e, em 2005, recebeu o prêmio de Pesquisa em Fotografia do 46º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco. Foi curador do Observatório Cultural Malakoff no período de 2002 a 2005.
Harun Farocki nasceu na Tchecoslováquia, 1944, e faleceu em 2014. De 1966 a 1968, frequentou a Deutsche Filmund Fernsehakademie Berlin (DFFB). Além de ocupar cargos em Berlim, Düsseldorf, Hamburgo, Munique e Stuttgart, foi professor visitante na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Farocki fez aproximadamente 120 vídeos, incluindo filmes, ensaios e documentários. Trabalhou em colaboração com outros cineastas como roteirista, ator e produtor. Em 1976, encenou as peças de Heiner Müller “The Battle and Tractor” junto com Hanns Zischler na Basileia, Suíça. Ele escreveu para inúmeras publicações e, de 1974 a 1984, foi editor e autor da revista “Filmkritik” (Munique). Apresentou seu trabalho em mostras pelo mundo, tanto em galerias privadas como em museus. Próximo, em termos geracionais, de Werner Herzog, Wim Wenders e Rainer Werner Fassbinder, Farocki tinha motivações que o distanciavam dos seus pares. “Ele desejava sobretudo interrogar as imagens, até ao máximo”, diz Jürgen Bock, diretor da Escola Maumaus e da Galeria Lumiar Cité. “Mas criando sempre as circunstâncias para o espectador pensar, para tirar as suas próprias conclusões. Nunca insistiu numa verdade, nem na verdade do documentário que, para ele, era também uma manipulação, uma construção”. As convulsões sociais e políticas dos finais da década de 1960 marcariam para sempre o entendimento do cinema por Harun Farocki. Testemunha das revoltas estudantis e do “espetáculo” da guerra do Vietnã na televisão, o cineasta assumiu uma posição militante, criticando a indústria cultural. Posicionou-se sempre diante das imagens para as questionar, sem perder a verve poética do cinema.
Nascido em 1985, Jaime Lauriano vive e trabalha em São Paulo. Graduou-se pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo em 2010. Com trabalhos marcados por um exercício de síntese entre o conteúdo de suas pesquisas e estratégias de formalização, o artista convoca o público a examinar as estruturas de poder contidas na produção da História. Em peças audiovisuais, objetos e textos críticos, Lauriano evidencia como as violentas relações mantidas entre instituições de poder e controle do Estado – como polícias, presídios, embaixadas, fronteiras – e sujeitos moldam os processos de subjetivação da sociedade. Assim, sua produção busca trazer à superfície traumas históricos relegados ao passado, aos arquivos confinados, em uma proposta de revisão e reelaboração coletiva da História. Entre suas exposições mais recentes, destacam-se as individuais: “Nessa terra, em se plantando, tudo dá”, CCBB Rio de Janeiro, 2015; “Autorretrato em Branco sobre Preto”, Galeria Leme, São Paulo, 2015; “Impedimento, Centro Cultural São Paulo, 2014; “Em Exposição”, Sesc, São Paulo, 2013; e as coletivas: “Totemonumento”, Galeria Leme, São Paulo, 2016; “10TH Bamako Encounters”, Museu Nacional, Bamako, Mali, 2015; “Empresa Colonial”, Caixa Cultural São Paulo, Brasil, 2015; “Frente a Euforia”, Oficina Cultural Oswald de Andrade, São Paulo, 2015; “Tatu: futebol, adversidade e cultura da caatinga”, Museu de Arte do Rio (MAR), Rio de Janeiro, 2014; “Taipa-Tapume”, Galeria Leme, São Paulo, 2014; “Espaços Independentes: A Alma É O Segredo Do Negócio”, Funarte, São Paulo, 2013. Suas obras fazem parte do acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, e do MAR - Museu de Arte do Rio.
Jimmie Durham nasceu em Washington, Arkansas (EUA), em 1940. Em 1968, matriculou-se na École des Beaux-Arts de Genebra (Suíça), onde trabalhou principalmente com performance e escultura. Com outros três artistas, formou o grupo Draga, que explorou maneiras de integrar a arte na vida pública. Nesse período, formou uma organização com amigos indígenas da América do Sul chamada Incomindios, uma tentativa de coordenar e incentivar o apoio à luta dos povos indígenas das Américas. Em 1973, retornou aos Estados Unidos para participar da ocupação no Wounded Knee, Dakota do Sul, onde ajudou a organizar o Movimento Indígena Americano (AIM), do qual tornou-se membro do Conselho Central em 1975. Nesse mesmo ano, tornou-se diretor executivo do Conselho Internacional dos Tratados Indígenas (IITC) na cidade de Nova York e foi o representante dos índios americanos na Organização das Nações Unidas (ONU), o primeiro grupo minoritário a ter uma representação oficial dentro da organização. De 1975 a 1980, foi coeditor do “Council News”, um jornal mensal do IITC, e editou a segunda edição das “Crônicas do protestante indígena americano”, 1976, publicado pelo Conselho sobre Livros Inter-raciais para Crianças. Em 1980, deixou o AIM e voltou seu foco para a arte. Ao longo daquela década, seu trabalho abordou questões de identidade, modos de representação e violência colonial e genocídio, especificamente relacionados às experiências dos povos indígenas nas Américas. Foi diretor da Fundação para a Comunidade de Artistas da Cidade de Nova York de 1981 a 1983, e de 1982 a 1985 editou o jornal mensal de “Arts & Artists” (anteriormente “Artworkers News”). Em 2010, recebeu Sala Especial no 29º Arte Pará como artista homenageado do salão. Participou da 31ª Bienal de São Paulo. Vive e trabalha em Belém.
Nascido em Fortaleza, Ceará em 1957, Leonilson faleceu em São Paulo em 1993. Em 1961, mudou-se com a família para São Paulo. Entre 1977 e 1980, cursou educação artística na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) onde foi aluno de Julio Plaza (1938-2003) e Nelson Leirner (1932). Teve aulas de aquarela com Dudi Maia Rosa (1946) na escola de artes Aster, que frequentou de 1978 a 1981. Nesse último ano, em Madri, realizou sua primeira individual na galeria Casa do Brasil e viajou para outras cidades da Europa. Em Milão, teve contato com Antonio Dias (1944) que o apresentou ao crítico de arte ligado à transvanguarda italiana Achille Bonito Oliva (1939). Retornou ao Brasil em 1982. A obra de Leonilson é predominantemente autobiográfica e está concentrada nos últimos dez anos de sua vida. Segundo a crítica Lisette Lagnado, cada peça realizada pelo artista é construída como uma carta para um diário íntimo. Em 1989, começa a fazer uso de costuras e bordados, que passam a ser recorrentes em sua produção. Em 1991, descobre ser portador do vírus da Aids e a condição de doente repercute de forma dominante em sua obra. Seu último trabalho, uma instalação concebida para a Capela do Morumbi, em São Paulo, em 1993, tem um sentido espiritual e alude à fragilidade da vida. Por essa mostra e por outra individual realizada no mesmo ano, recebeu, em 1994, homenagem póstuma e prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA). No mesmo ano de sua morte, familiares e amigos fundam o Projeto Leonilson, com o objetivo de organizar os arquivos do artista e de pesquisar, catalogar e divulgar suas obras.
De Olinda (PE), 1975, Lourival Cuquinha vive e trabalha em Recife (PE) e São Paulo (SP). Seu trabalho aborda o campo político a partir de impressões estritas e pessoais. Não tendo chegado ao fim de nenhum curso acadêmico, mas tendo cursado Engenharia Química, Filosofia, Direito e História, passou dez anos na Universidade Federal de Pernambuco (1993 – 2002). Nas Artes Visuais, inicia-se com um coletivo de artistas, o Molusco Lama, nos idos de 1996 ou 1997, com muitas ações e performances. Depois de algumas participações em salões e exposições pernambucanas e tendo trabalhado como designer, diretor de clip e cenógrafo da banda Textículos de Mary, participou da “Mostra Rio de Arte Contemporânea” em 2002. Nesta mostra, junto com Daniela Brilhante, foi premiado pelo trabalho “1° concurso mundial do Mickey Feio”. Paralelamente, trabalhou no atelier coletivo Submarino (2002 – 2004) onde expôs e participou de várias obras e ações coletivas, como o nunca finalizado filme da “MONGA”. Em 2003, fez pela primeira vez o trabalho “Varal”, no SPA – semana de artes visuais do Recife. Desde então, não para mais de fazê-lo (talvez já esteja na hora, mas adora o processo e alguns trabalhos se tornam autônomos em relação ao artista). Esse trabalho foi premiado no Olinda Arte em Toda Parte, 2003, e no 7º Salão do Mar em 2006.
Nascida em São Paulo, 1961, Maria Thereza Alves trabalha e apresenta sua obra internacionalmente desde a década de 1980, quando cria um corpo de trabalho que investiga as histórias e circunstâncias de locais específicos para testemunhar histórias silenciadas. Seus projetos são baseados em pesquisas e desenvolvem suas interações com os ambientes físicos e sociais dos locais onde mora ou visitas a exposições e residências. Esses projetos começam em resposta às necessidades locais e passam por um processo de diálogo que muitas vezes é facilitado entre as realidades materiais e ambientais e as circunstâncias sociais. Embora ciente dos binários ocidentais entre natureza e cultura, arte e política, ou arte e vida diária, ela deliberadamente se recusou a reconhecê-los em sua prática. Ela escolhe, em vez disso, criar espaços de agência e visibilidade para culturas oprimidas através de práticas relacionais de colaboração que exigem movimento constante em todos esses limites.
Matheus Rocha Pitta nasceu em Tiradentes, Minas Gerais, em 1980. Artista plástico brasileiro que em 2008, recebeu o Illy Sustain Art Prize, tendo participado da Bienal de Taipei e da Bienal Internacional de São Paulo, sua obra faz parte de coleções públicas como as do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e do Castello di Rivoli. Realizou mostras no Museu de Arte do Rio (MAR), na Fondazione Morra Greco, no Palais de Tokyo, no Krannert Art Museum e no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Como ele ressalta, por “obras que não são direcionadas”, Matheus Rocha Pitta produz fotografias, vídeos, esculturas e instalações de mídia mista em que explora como a percepção e o contexto moldam nossa compreensão do mundo. Citando Hélio Oiticica, Robert Smithson, história e filosofia como influências, ele prefere trabalhar fora do estúdio, em resposta direta ao seu entorno. Descontextualização e recontextualização são fundamentais para sua prática. Em sua série “BO” (2010), por exemplo, fotografou vários itens de consumo - como embalagens de papel higiênico e tomates enlatados - cada um dos quais é cortado para revelar o que parece ser contrabando escondido no interior, convertendo efetivamente esses objetos inócuos em recipientes secretos. Em seus vídeos mais recentes, Rocha Pitta vem investigando as fronteiras nacionais, revelando a arbitrariedade e a tênue dessas linhas na sujeira, ao mesmo tempo tão definitiva e abstrata.
Nascido em 1946, Miguel Rio Branco é pintor, fotógrafo, diretor de cinema, além de criador de instalações multimídia. Atualmente vive e trabalha no Rio de Janeiro. Trabalhou intensamente na Europa e Américas desde o começo de sua carreira, em 1964, com uma exposição em Berna, Suíça. Em 1966 estudou no New York Institute of Photography e, em 1968, na Escola Superior de Desenho Industrial no Rio de Janeiro. Rio Branco começou a expor pinturas em 1964, fotografias e filmes, em 1972. Trabalhou como fotógrafo e diretor de filmes experimentais em Nova York de 1970 a 1972. Dirigiu e fotografou curtas metragens e longas durante a década de 1970. Paralelamente, perseguindo sua fotografia pessoal, desenvolveu um trabalho documental de forte carga poética. Em pouco tempo foi reconhecido como um dos melhores fotojornalistas usando filme colorido. Nos anos 1980, Miguel Rio Branco foi aclamado internacionalmente por seus filmes e fotografias na forma de prêmios, publicações e exposições como o Grande Prêmio da Primeira Trienal de Fotografia do Museu de Arte Moderna de São Paulo e o Prêmio Kodak de la Critique Photographique, de 1982, na França, que foi dividido com dois outros fotógrafos. Seu trabalho fotográfico foi visto em várias exposições nos últimos 20 anos, como no Centre George Pompidou, Paris; Bienal de São Paulo, 1983; no Stedelijk Museum, Amsterdam, 1989; no Palazzo Fortuny, Veneza, 1988; Burden Gallery, Aperture Foundation, New York, 1986; Magnum Gallery, Paris, 1985; MASP, São Paulo; Fotogaleria FUNARTE, Rio de Janeiro, 1988; Kunstverein Frankfurt, in Prospect 1996; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, 1996. Miguel Rio Branco dirigiu 14 curtas metragens e fotografou 8 longas. Entre seus trabalhos como diretor de fotografia está “Uma avenida chamada Brasil”, de Otavio Bezerra. Rio Branco ganhou o prêmio de melhor direção de fotografia por seu trabalho em “Memória Viva” de Otavio Bezerra e “Abolição” de Zozimo Bulbul no Festival de Cinema do Brasil de 1988. Também dirigiu e fotografou 7 filmes experimentais e 2 vídeos, incluindo “Nada levarei quando morrer aqueles que mim deve cobrarei no inferno”, que ganhou o prêmio de melhor fotografia no Festival de Cinema de Brasília e o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio da Crítica Internacional no XI Festival Internacional de Documentários e Curtas de Lille, França, 1982.
De Governador Valadares, MG, 1977, Paulo Nazareth é artista performático. Após estudar entalhe em madeira com o escultor baiano Mestre Orlando (1944-2003) em 2005, licencia-se em Desenho e Plástica e torna-se Bacharel em Desenho e Gravura no ano seguinte pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde também estudou linguística, 2006 a 2010. Mora em Santa Luzia, Belo Horizonte, e trabalha em uma barraca de feira onde vende produtos diversos. Chamou a atenção do circuito nacional e internacional de arte a partir de 2010, quando deixou a comunidade de Palmital, em Belo Horizonte, para participar da feira de galerias de arte Miami Basel. Realizou o percurso de Minas Gerais até Miami, Estados Unidos, a pé, fotografando-se com cartazes e anúncios ao longo do trajeto na performance “Notícias da América” (2011-2012). Apresentou na feira a instalação “Banana Market”, uma perua Kombi repleta de bananas. Recebeu convites para a Bienal de Veneza de 2013 e para a 12ª Bienal de Lyon. No Brasil, expôs e recebeu o Prêmio Masp de Artes Visuais 2012, na categoria Talento Emergente. Participou de diversos programas de residência na Argentina, Indonésia e Índia e integrou exposições no Brasil, no Uruguai, na França, na Noruega, na Alemanha e nos Estados Unidos. Voltou a Palmital e reinaugurou sua barraca na feira da cidade, chamando-a de Paulo Nazareth Arte Contemporânea Ltda. Em 2012, foi publicado o livro “Paulo Nazareth, Arte Contemporânea Ltda.”, que narra as viagens do artista.
Considerada uma das fotógrafas mais importantes do Chile, o trabalho de Paz Errázuriz tem um compromisso especial com o retrato em preto e branco e explora várias questões sociais, enfatizando os mundos e trabalhos mais cruéis da sociedade chilena. Sua série de trabalhos chamada “Nômades do Mar” leva-nos através do território do sul do Chile para colecionar os vestígios dos últimos membros do grupo étnico Kaweskar. Testemunhas das grandes abominações do século XX, esses rostos fissurados procuram o olho sensível do espectador. Nascida em Santiago, onde vive e trabalha até hoje, Paz ganhou grande destaque internacional com a exposição “Réplicas e Sombras”, na sala da Fundação Telefónica, Santiago, 2004, na Bienal de Veneza 2015 e na retrospectiva “Adentro-Afuera”, na Fundação Mapfre, Madri (Espanha), 2015-2016. Antes disso, desde a década de 1980, expôs por todo o mundo em instituições de grande renome, tendo trabalhos nas coleções da Tate Gallery, Londres (Grã-Bretanha) e no MoMA, Nova York (EUA). Ao longo de sua trajetória, recebeu as bolsas de estudo Guggenheim (1986), Fundação Andes (1990), Fulbright (1992) e Fondart (1994 e 2009) para a Associação de Fotógrafos Independentes (AFI). Recebeu o Prêmio Ansel Adams, concedido pelo Instituto Chileno Americano de Cultura em 1995, o Prêmio de Carreira Artística do Círculo de Críticos de Arte do Chile em 2005 e o Prêmio Altazor em 2005. Em 2014, recebeu a Ordem do Mérito Pablo Neruda e o Prêmio PhotoEspaña em 2015.
Poraco é um artista Yanomami, do território localizado em Rondônia. As obras do artista presentes na mostra “A queda do Céu” fazem parte da coleção de Carlo Zacquini e de Claudia Andujar, que mantém com o artista laços estreitos há décadas. Os Yanomami não tinham costume de desenhar. Curiosa para conhecer a cultura da tribo, a fotógrafa propôs algo inusitado. Ofereceu papel e pinceis atômicos a um grupo de indígenas e pediu que desenhassem seu habitat, mitos e tradições. Eles nunca haviam tido contato com esses materiais. “Temos o costume de definir arte a partir da tradição europeia. Desde o final da década de 1980 e o início dos anos 1990, alguns grandes museus têm feito tentativas de mostrar trabalhos de fora dos centros hegemônicos. O movimento de olhar para a produção indígena como fizemos aqui vem desse momento. A proposta, é contar uma outra história da arte, baseada em outros temas e formas de produzir”. Os desenhos criados pelos artistas Yanomami também deram origem ao livro “Mitopoemas Yãnomam”, publicado pela Olivetti, e presentes no pavilhão dedicado à Claudia Andujar no Centro de Arte Contemporânea Inhotim. À medida que os indígenas finalizavam as imagens, a artista pedia que narrassem o que haviam criado. Com a ajuda do missionário Carlo Zacquini, que gravou e traduziu as descrições, ela organizou a publicação, que apresenta a mitologia e a visualidade Yanomami. Os desenhos de Poraco reunidos na mostra revelam aspectos diversos da vida dos Yanomami, narrativas de mitos, além de padronagens comuns às pinturas corporais e à decoração de objetos.
Regina José Galindo nasceu na cidade da Guatemala (Guatemala), em 1974, onde ainda vive e trabalha. Artista visual especializada em performance, seu trabalho explora as implicações éticas universais das injustiças sociais relacionadas à discriminação racial, gênero e outros abusos envolvidos nas relações de poder desiguais que hoje atuam em nossas sociedades. Participou de inúmeras bienais pelo mundo, como as Bienais de Veneza, da Bienal de Artes Gráficas de Ljubljana, de Sharjah. de Pontevedra, de Bienal de Sydney, de Moscou, da 1ª Trienal de Auckland, Veneza-Istambul, da Bienal de Arte e Arquitetura das Ilhas Canárias, de Albânia, de Praga e de Lima. Galindo recebeu o Leão de Ouro na 51ª Bienal de Veneza em 2005, na categoria de jovem artista por seus trabalhos “Quem pode apagar as pistas?” e “Hymenoplastia”. Em 2011, recebeu o prêmio Príncipe Claus da Holanda por sua capacidade de transformar raiva e injustiça pessoal em atos públicos poderosos que exigem uma resposta que interrompe a ignorância e a complacência para nos aproximar da experiência dos outros. Em 2011, ganhou ainda o Grande Prêmio na 29ª Bienal de Artes Gráficas em Ljubljana; em 2010, o Primeiro Prêmio em Juannio Guatemala. Em 2007, o Primeiro Prêmio da V edição da Inquieta Imagen, Madco, Costa Rica. Participou de residências artísticas e bolsas de projetos em Trebecise Casttle, (República Tcheca); em Paris (França) com o espaço LePlateau; em San Antonio, Texas (EUA), com o espaço ArtPace e uma concessão para projetos em andamento no CIFO Miami (EUA).
Vincent Carelli (Paris, 1953) é um antropólogo, indigenista e documentarista franco-brasileiro, criador do projeto “Vídeo nas Aldeias” (1987), que forma cineastas indígenas. Filho de pai brasileiro, o artista plástico Antonio Carelli, e de mãe francesa, ele nasceu em Paris e se mudou com 5 anos para São Paulo, onde estudou Ciências Sociais na Universidade de São Paulo. Desde 1973 está envolvido com projetos de apoio a grupos indígenas no Brasil. Com sua mulher, a antropóloga paulista Virgínia Valadão (1952 - 1998), iniciou o projeto “Vídeo nas Aldeias”, em 1986. O projeto, criado no âmbito do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), promoveu, ao longo de mais de vinte anos, o encontro dos indígenas com suas imagens, tornando o vídeo um instrumento de expressão da sua identidade e refletir suas visões de mundo. Além treinar e equipar as comunidades indígenas com equipamento de vídeo, o projeto estimulou a troca de informações e de imagens entre as nações, que discutiam juntas a maneira de apresentar sua realidade para o resto do mundo. Em 2009, seu documentário “Corumbiara”, um longa-metragem que conta a história de um massacre de indígenas ocorrido em 1985 na Gleba Corumbiara, no sul de Rondônia, e a vivência do diretor com os índios isolados, obteve o prêmio de melhor filme do 37º Festival de Cinema de Gramado. Carelli ganhou também o prêmio de melhor diretor, dividido com o cineasta gaúcho Paulo Nascimento. “Corumbiara” também recebeu o grande prêmio do 11° Festival Internacional de Cinema Ambiental (Fica).
Sobre o curador e idealizador
Moacir dos Anjos é pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife (PE). Foi diretor do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães - MAMAM (2001- 2006) e pesquisador visitante no centro de pesquisa TrAIN – Transnational Art, Identity and Nation, University of the Arts London (2008-2009). Foi curador do pavilhão brasileiro na Bienal de Veneza (2011), curador da Bienal de São Paulo (2010), co-curador da Bienal do Mercosul, PoA (2007) e curador do Panorama da Arte Brasileira, MAM SP (2007). Foi curador da mostra coletiva Cães sem Plumas (2014), no MAMAM e de exposições retrospectivas dos trabalhos de Cao Guimarães (2013), no Itaú Cultural, e de Jac Leirner (2011), na Estação Pinacoteca, ambas em São Paulo. Publica regularmente em revistas acadêmicas e catálogos de exposição. É autor, entre outros, dos livros Local/Global. Arte em Trânsito (Zahar, 2005) e ArteBra Crítica. Moacir dos Anjos (Automátia, 2010), além de editor de Pertença, Caderno_SESC_Videobrasil 8, São Paulo (SESC/Videobrasil, 2012).
Sobre a realizadora
Tuîa Arte Produção é uma empresa dirigida por Bruna Neiva, produtora e pesquisadora em artes visuais. Atuando há mais de uma década, a produtora brasiliense tem em seu escopo projetos de produção cultural voltados para as artes visuais, pensamento crítico e arte-educação, pensando a arte como lugar de existência simbólica e concreta para os afetos, os dissensos e o pertencimento.
Geraldo Zamproni na Funarte, Brasília
O Ministério da Cidadania e a Funarte convidam para a instalação Elementos de Risco (Evento de Impacto) do artista Geraldo Zamproni, na Marquise / Entorno da Funarte, que acontecerá entre os dias 9 de maio e 9 de junho. A abertura acontece das 11 às 15 horas do dia 9 e contará com a presença do artista. O projeto foi selecionado pelo Edital Paralelos Artes Visuais Funarte – Atos Visuais Funarte Brasília.
À primeira vista, “Elementos de Risco” faz alusão a um acontecimento extraordinário: a queda de elementos espaciais. O rastro na terra denuncia a velocidade do impacto. Num segundo olhar, porém, vemos que estes elementos não aparentam perfeitamente asteroides ou meteoros, muito menos em sua constituição: são feitos de tapumes de madeira, materiais até precários, improvisados. O termo “risco” que ilustra o título tem aí dupla validade: referente aos objetos intrusos que viajam até o centro da capital do Brasil; e também referente ao próprio material que são feitos: madeiras frágeis desde a criação, incapazes de resistir ao impacto que simulam.
TETXO BANNER
As estruturas rígidas e geometrizadas são a concretização de um longo processo de manipulação de materiais e deslocamentos feito na busca de simular uma experiência, literalmente, universal.
Para alguns, invocar a existência de meteoros e asteroides e imaginar suas viagens pelo espaço é algo de grande fascínio; para outros, desperta o mais instintivo pavor.
No entanto, Elementos de Risco é uma instalação artística que não toma por referência apenas os objetos especiais aos quais se parece, mas também ao local onde eles vieram parar.
Habemus Brasília
Brasília, talvez mais do que qualquer outra capital, constantemente recebe suas doses de elementos de risco, que se apresentam através de diferentes formas, nomes, intenções. Seu tamanho e reputação, às vezes, são apenas máscaras para a fragilidade de sua constituição.
Curiosamente, é seguro dizer que a própria cidade, quando ainda era só planos num papel, um dia foi como um desses elementos.
Com seu plano diretor ousadamente planejado por Lúcio Costa, Brasília foi aterrissar no meio do Brasil, num local relativamente inexplorado e arriscado.
Ainda assim, a cidade tornou-se o mais claro exemplo de algo projetado para o futuro.
“Elementos de Risco (Evento de Impacto)” traz objetos já mergulhados na desconfiança. Sim, são grandes, rígidos, até ameaçadores. Não são, porém, feitos de pedras milenares, mas de algo muito mais instável.
A madeira utilizada vem dos precários tapumes utilizados na construção civil. Frágeis, as placas do frágil material foram forçosamente unidas com a ajuda de parafusos de metal.
Torna-se arriscada a própria existência destes elementos: com sua constituição pouco confiável, será que conseguem manter sua imponência?
O termo “risco” que ilustra o título tem aí dupla validade: referente a estes objetos estranhos, intrusos que viajaram até o centro da capital do Brasil; e também referente ao próprio material que são feitos: madeiras frágeis desde a criação, incapazes de resistir ao impacto que simulam.
Ao fim, este trabalho se resume num projeto artístico que procura materializar discussões sobre deslocamentos, explorações materiais e, principalmente, do impacto físico e social das ações humanas.
ARTISTA
Geraldo Zamproni é um artista brasileiro, que reside em Curitiba (Paraná). Com formação em arquitetura e urbanismo, suas obras visam alterar visualmente o espaço que as rodeiam, explorando a relação entre objeto, ambiente e observador. Em síntese, ele traz provocações aos limites e inconsequências das ações humanas. De forma humorosa e por vezes crítica, ele cria estruturas que relacionam-se espacialmente com o ambiente e instiga reflexões sobre o uso do espaço. Entre as exposições que participou, destacam-se Heysen Sculpture Biennial – Adelaide (AUS), 2019; Sculpture By The Sea - Sydney (AUS), 2016/15/14 e Aarhaus (DIN), 2015; RomArt - Roma (ITA), 2015; Prêmio Funarte de Arte Contemporânea – Brasília (BRA), 2011.
maio 2, 2019
Rios do Rio - as águas doces cariocas, ontem e hoje no MHN, Rio de Janeiro
O compositor carioca Luís Antônio, ao escrever o samba “Eu e o Rio” nos idos dos anos 1960, alertava em seus versos sobre a necessidade da preservação dos rios para a própria sobrevivência humana. E por que eles estão morrendo?
Este é um dos motes para a exposição Rios do Rio - as águas doces cariocas, ontem e hoje, que será inaugurada no dia 24 de abril, às 18h, no Museu Histórico Nacional (Praça Marechal Âncora, S/N, Centro) com entrada franca.
Em cartaz até 16 de junho, a exposição traz à tona a relação dos cariocas com os 267 rios que cortam a cidade do Rio de Janeiro por meio da arte contemporânea e de obras históricas em um diálogo inédito.
Para compor o núcleo histórico da exposição, instituições como Arquivo Geral da Cidade, Fundação Biblioteca Nacional, Fundação Casa de Rui Barbosa, Museu da Chácara do Céu/Museus Castro Maya, Museu Histórico da Cidade do RJ, Museu da Marinha e Museu Histórico Nacional emprestaram obras que têm o tema das águas doces e dos rios como destaque – como bicas d’água dos antigos chafarizes da Carioca e das Marrecas; a pintura do Largo do Depósito, realizada por Almiro Reis em 1901; além de obras originais de Jean-Baptiste Debret e Johann Rugendas.
No núcleo de arte contemporânea participam 18 artistas e um coletivo, cujos trabalhos apontam para a conscientização sobre a preservação dos rios, utilizando diferentes suportes - instalação, videoescultura, fotografia, filme, pintura e mesmo bordado.
No dia da abertura, a artista visual Mariana Maia apresenta a performance individual “Coroação”. Resultado de uma pesquisa entre arte e o corpo da mulher negra , a artista investiga o lugar social que ele ocupa na sociedade brasileira e as relações com sua ancestralidade.
“Rios do Rio” é fruto de mais de um ano de trabalho de Flavia Portela, coordenadora do projeto; e Luciana Frazão, pesquisadora. A curadoria é de Fernanda Pequeno.
“Buscamos ampliar as dimensões das águas doces cariocas para além de uma apreensão idílica, acionando também suas melancolias úmidas, sonhadoras, lentas e calmas”, diz a curadora. Propõe também a reflexão sobre “os poderes curativos das águas doces, como também sobre os processos irreversíveis de soterramento que elas têm sofrido ao longo de evolução urbana”.
A exposição vai muito além, enfatiza a curadora: “Do desafio inicial de procura por fontes com potabilidade e volume suficientes, visando canalizações para consumo, passamos hoje à necessidade premente de preservação das nascentes e dos olhos d’agua, a fim de evitar crises de abastecimento”, sem deixar secar a esperança que move toda a questão: “Nessa luta, a água sempre triunfa, já que seu caráter a princípio submisso e fraco pode atacar violentamente o que é forte e difícil”.
A exposição é uma realização Estúdio F/ Editora Lacre com correalização do Museu Histórico Nacional/Ibram e tem patrocínio do Banco Guanabara por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Andrea Rocco na Silvia Cintra + Box 4, Rio de Janeiro
Aparente Inocência, a primeira mostra individual da artista paulistana Andrea Rocco na galeria, inaugura no próximo dia 6 de maio. Cerca de 70 desenhos de pequeno e dois trabalhos de grande formato em pastel compõe a seleção feita por Andrea para a exposição que começou a ganhar corpo após a artista revisitar a obra da pintora portuguesa Paula Rego.
Andrea, que atualmente está morando em Portugal, se deparou com um texto da portuguesa em que ela diz “...imagine que num quadro, em vez de por a figura num sitio onde fica bem, põe-se num sítio onde fica mal. Começa-se o quadro perversamente errado. Depois tem de se arranjar uma maneira de acertar.” Essa é a mesma estética utilizada por Andrea nesta série, temas espinhosos e controversos como a mistificação de pseudo-heróis, a busca pela fama a qualquer preço, o excesso de consumo e a continuidade de um pensamento escravocrata colonial, ganham um fundo “decorativo pra combinar com o sofá”.
A perversidade da obra de Andrea está na abordagem destes temas de forma fantasiosa, com cenários saídos de contos de fadas, com uma paleta em tons pastéis e envoltos numa parafernália decorativa. A escolha das imagens e o uso do pastel também não foram feita de forma aleatória. “Utilizo material artístico tradicional, porém em papéis de cores berrante, como se quisesse que a informação chegasse num outdoor de propaganda nada sutil, fazendo um contraponto aos tons pastéis do desenho”, ressalta a artista.
Faz parte também da exposição uma vitrine com desenhos de pássaros empalhados que, apesar de mortos, continuam belos. Cada pássaro recebe o nome de uma droga anestésica, como Xilocaína, Aftine, Lidial e são uma referência aos tempos em que estamos vivendo, todos anestesiados diante de tudo o que assistimos diariamente.
Andrea Rocco (São Paulo, 1977) vive e trabalha em Portugal. Estudou pintura e desenho na Parsons School (Nova York), é graduada em Desenho de Moda pela Faculdade Santa Marcelina e em Educação Artística pela FAAP, onde também realizou uma pós-graduação em História da Arte. A artista tem participado de inúmeras exposições coletivas no Brasil e no exterior, como “Brazilian Modern: Icons and Innovation”, em Bruxelas (2012), e “Arte pela Amazônia”, na Fundação Bienal de São Paulo (2008). Apresentou individuais na Galeria Thomas Cohn (2008 e 2010) e Laura Marsiaj (2013). Foi contemplada com o Prêmio Aquisição do Concurso Itamaraty de Arte Contemporânea (2013). Recebeu o primeiro lugar na Exposição Anual de Artes Plásticas da FAAP (2003) e em 2006.
Dudi Maia Rosa na Millan, São Paulo
De 4 de maio a 1 de junho a Galeria Millan apresenta a individual Lírica do artista Dudi Maia Rosa. Na mostra, são expostas 23 novas peças de dimensões e materiais distintos que compõem a produção recente do artista.
Se na poética de Dudi Maia Rosa a resina poliéster pigmentada tem ocupado um papel central, na exposição atual, segundo o próprio artista, são mobilizadas novas coordenadas para lidar com esse material. Desta vez, a resina é acionada não apenas como força pictórica, mas como escultura, entrando em diálogo com outros materiais, como o latão, alumínio e poliestireno.
Em algumas peças é possível identificar uma continuidade da pesquisa que o artista vem desenvolvendo há anos, já outras, extrapolam a dimensão bidimensional e se inscrevem no espaço instaurando novas possibilidades em seu trabalho. Sem construir uma unidade temática para exposição, é possível ver em algumas obras referências de Jean Arp ou da art nouveau de Artacho Jurado. Em outras, Dudi Maia restabelece antigos laços com a escultura, linguagem com a qual inaugurou sua carreira.
Sobre o artista
Dudi Maia Rosa iniciou sua primeiras investigações pictóricas com materiais translúcidos, como a resina poliéster pigmentada em fibra de vidro, em 1984. O artista também se tornou conhecido por conceber trabalhos com volumes e relevos que retêm a luz dentro de si. Seus trabalhos se parecem ora com quadros, ora com telas de projeção, ora com vitrais, alguns com relevos de muranos, objetos que insinuam possuir acontecimentos tridimensionais de cores e formas internos.
O artista apresentou, Pinturas e Esculturas, sua primeira exposição individual no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, SP, em 1978. Desde então, realizou inúmeras exposições individuais, dentre os quais destacam-se: Galeria Millan (1993, 2009, 2012 e 2016); Centro Cultural Maria Antônia, SP (2002 e 2013); Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, SP (2013); e Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP (2008), entre outros.
Dentre as coletivas recentes: Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, Santander Cultural, Porto Alegre, RS, Modos de Ver o Brasil: Itaú Cultural 30 Anos, Oca, SP (2017); Auroras -Pequenas Pinturas, SP (2016); Uma coleção particular – Arte contemporânea no acervo da Pinacoteca, Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP (2015); 10ª Bienal do Mercosul, Mensagens de Uma Nova América, Porto Alegre, RS (2015); Brasiliana: Moderna Contemporânea, Museu de Arte de São Paulo, SP (2006); 5ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS (2005); Mostra do Redescobrimento: Brasil 500 Anos, no Pavilhão da Bienal, São Paulo, SP (2000).
Possui obras em diversas coleções, incluindo Pinacoteca do Estado de São Paulo; Museu de Arte de São Paulo; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, SP; Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, SP; Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP; Coleção de Arte da Cidade, São Paulo, SP; Coleção Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, SP; Coleção Itaú, São Paulo, SP; e Coleção Metrópolis de Arte Contemporânea, Stedelijk Museum, Amsterdã, Holanda, entre outras.
Milú Villela passa a presidência do MAM para a empresária e colecionadora Mariana Guarini Berenguer
Novo comando foi eleito pelo Museu para o biênio 2019-2021. Milú segue na instituição como Presidente de Honra
O Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-São Paulo) confirmou nesta segunda-feira, 29, a eleição da advogada, colecionadora e ex-professora do Insper, Mariana Guarini Berenguer, para a presidência da diretoria do museu no biênio 2019-2021. Ela irá substituir Milú Villela, que foi eleita Presidente de Honra, após mandato de 24 anos à frente da instituição. A executiva tem grande experiência em gestão e ocupou anteriormente os postos de diretora jurídica de grandes grupos empresariais.
“É uma honra e uma responsabilidade muito grande assumir um museu que se tornou referência para o cenário cultural brasileiro”, diz Mariana Guarini Berenguer. “Agradeço à confiança da Milú, do Conselho e dos diretores do MAM. Vamos trabalhar para fortalecer ainda mais o museu neste momento em que a cultura atravessa grandes desafios no país”.
Milú Villela assumiu a presidência do MAM em 1995 e promoveu uma profunda transformação na instituição. “Quando cheguei ao MAM, o museu vivia um estado de dificuldade. O prédio apresentava problemas estruturais, o acervo não era relevante, o público não tinha uma relação com a instituição. Fui literalmente arregaçando as mangas, articulando arquitetos, especialistas, amigos, juntando forças e vontade de trazer de volta ao Museu a importância que ele merecia”, conta Milú.
Passadas mais de duas décadas, o MAM se converteu numa das instituições de cultura mais importantes do país. A sede da instituição foi inteiramente reformada logo em 95 e rapidamente conquistou padrões museológicos e museográficos de nível internacional, atingindo patamares equivalentes aos melhores museus do mundo no que diz respeito a climatização, segurança e conservação de obras.
Começava ali a trajetória de recuperação do MAM. Em pouco mais de duas décadas de gestão, o acervo do museu saltou de 2 mil para 5,5 mil obras e hoje reúne alguns dos trabalhos mais representativos da arte contemporânea brasileira.
O MAM se tornou referência também em arte educação, atividade em que foi pioneiro no país. Entre 1995 e 2019, o Educativo do museu recebeu um público de mais de um milhão de pessoas, principalmente crianças e adolescentes de escolas públicas e privadas da grande São Paulo. Com esta experiência, o museu passou a ser convidado para dar formação e compartilhar tecnologia educacional com diversas instituições do país, como Sesc, Centro Cultural Banco do Brasil, Museu de Arte Moderna da Bahia, Universidades Federais e Estaduais, além de instituições internacionais como Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (MALBA), Smithsonian Museum of the American Indian (EUA), Guggenheim (EUA), entre outras.
O MAM passou a ser, desde 1998, o primeiro museu com prioridade em acessibilidade no país. A instituição foi pioneira no atendimento de pessoas surdas, pessoas com deficiência visual, física e intelectual, além do público da saúde mental e pessoas em situação de vulnerabilidade social. Em 2002, foi criado o programa Igual Diferente, que começou recebendo instituições do terceiro setor e de educação especial para atividades dedicadas à fruição artística, melhora da qualidade de vida e integração social. O programa Igual Diferente recebeu reconhecimento internacional e foi apontado no VSArts, em Washington, como uma das iniciativas mais representativas do gênero praticadas por museus em todo o mundo, entre outros prêmios.
Hoje, esse público vem ao museu por meio dessas parcerias ou de forma autônoma, frequentando não apenas os cursos do programa Igual Diferente, mas toda a programação do MAM, além de integrar sua equipe profissional. O conceito de acessibilidade transversal envolve todas as áreas do MAM, que trabalham na permanente construção de um museu para todos.
O MAM também avançou substancialmente na gestão de recursos materiais. O museu criou uma estrutura profissionalizada para captação de recursos. Hoje o MAM mantém uma eficiente rede de financiamento composta por recursos captados por meio de leis de incentivo à cultura, empresas, área governamental e sócios. Em 1994, o MAM contabilizava 60 sócios (pessoas físicas); ao longo das últimas duas décadas mais de 1,2 mil associados passaram a colaborar com o museu. O programa de patrocinadores, que contava com duas empresas, hoje contabiliza 103. Ainda para potencializar a arrecadação de fundos, o MAM criou sua própria loja, à semelhança do que fazem alguns dos mais prestigiados museus do mundo.
Com essa estrutura de gestão sólida, a área curatorial conseguiu avançar em suas atividades de expansão do acervo, produção de mostras representativas e internacionalização da arte brasileira. Entre 1995 e 2019 o MAM recebeu mais de 5,3 milhões de pessoas em suas exposições e atividades.
“A Milú transformou o MAM numa instituição vibrante e bem-sucedida. Agora tenho a missão de dar continuidade a este projeto potente, buscando novos caminhos de expansão para o museu”, diz Mariana Guarini Berenguer. “Vamos passar por um período de aprendizado e depois vamos apresentar nossas propostas para esta nova fase da instituição”, diz.
“Desejo à Mariana todo o sucesso do mundo. É um prazer passar a presidência do museu a uma outra mulher. A Mariana certamente dará uma grande contribuição para o MAM, garantindo vida longa e vibrante ao nosso Museu de Arte Moderna de São Paulo”, afirma Milú.
A assembleia geral do MAM realizada hoje elegeu os membros da diretoria e novos membros para o conselho.
Diretoria
Presidente
Mariana Guarini Berenguer
Vice-Presidente
Daniela Villela
Diretora Jurídica
Maria Elisa Gualandi Verri
Diretor Financeiro
Rodolfo Henrique Fischer
Diretora Administrativa
Paula Azevedo
Diretores
Camila Granado Pedroso Horta
Cesar Giobbi
Eduardo Saron Nunes
Novos membros do Conselho
Alfredo Egydio Setúbal
Ana Carmen Longobardi
Andrea Pereira
Caio Luis de Carvalho
Eduardo Brandão
Fábio Magalhães
Luís Terepins
Marcos Amaro
Maria Fernanda Mello
Martin Grossmann
Michel Claude Julien Etlin
Paulo Gaio de Castro Jr.
Sérgio Ribeiro da Costa Werlang
Sergio Silva Gordilho
Susana Steinbruch
Telmo Giolito Porto
Vera Negrão
Ernesto Neto: Ativação da obra - Segredo das folhas e território ancestral na Pinacoteca, São Paulo
Ewê, Dau | Agô, Tekoha - Segredo das folhas e território ancestral
Ewê (folha em Yorubá) e Dau (folha em Huni Kuin) remete ao conhecimento proveniente das plantas e ao autocuidado. Agô significa licença ou permissão em Yorubá, palavra que se enuncia sempre que um adentra o território do sagrado, indicando abertura de caminhos. Já Tekoha, em Guarani, seriam os espaços demarcados pela alteridade, sejam de relações de tensão com outros povos ou em relação ao sobrenatural. Ao juntar esses termos, o artista propõe um pedido de licença ao território em disputa para viabilizar caminhos de cura entre os povos e entre humano e natureza a partir do conhecimento das plantas.
4 de maio de 2019, sábado, das 11h às 16h
Pinacoteca de São Paulo - Octógono
Praça da Luz 2, Centro, São Paulo, SP
APRESENTAÇÃO
A obra de Ernesto Neto envolve um constante imaginar outras possibilidades de estar no mundo, outros modos de convivência entre as pessoas e delas com o ambiente, a natureza, a espiritualidade. Neste sentido, suas instalações mais recentes têm sido concebidas para acolher celebrações coletivas em reverência à essas esferas a partir de saberes ancestrais.
A instalação inédita Cura Bra Cura Té, concebida por ele especialmente para o Octógono da Pinacoteca, faz referências às diversas culturas que moldaram o Brasil. Essa traz como elemento central uma peça de madeira de três metros de altura, semelhante à um tronco, instrumento oficial de tortura, que simboliza um sistema escravocrata contemporâneo encoberto que, segundo o artista, ainda rege a estrutura econômica nacional e internacional.
Uma de suas extremidades tem como “raiz” um tapete com o mapa territorial do Brasil, rodeado de cores que aludem à mestiçagem nacional. O tronco, oco, foi preenchido por mercadorias que tem sido protagonistas da economia brasileira ao longo da história (açúcar, café, ouro, soja). Suspensa sobre a outra extremidade do tronco, há uma “copa” de crochê em formato de gota carregada de folhas curativas provenientes de culturas indígenas e afro-brasileiras.
Ao longo do período expositivo, o artista propõe uma ativação da obra por meio de quatro ciclos que incluem um “banho”, momento no qual o tronco é envolvido pela gota simulando uma cópula – a fusão entre feminino e masculino – assegurando aos participantes uma restauração energética. Após o ato, o tronco é cortado. Até o fim da exposição, este será eliminado totalmente.
Este corte carrega uma intenção de cura individual, coletiva e histórica, ao fazer referência aos processos de violência e espoliação vividos no país por séculos. Essa cura se vale primordialmente do reconhecimento e do respeito à sabedoria dos povos tradicionais africanos e indígenas.
Todos estão convidados a participar.
PROGRAMAÇÃO
11h00 – Meditação com Inae Moreira
12h00 – Banho - movimento da obra
12h30 – Fala com Pagu
13h00 – Almoço com EBÉ
14h00 – Fala com Walter Gomes
14h00 – Cura com Negalê Jones – ‘Sonata Quilombola’ e ‘Baoba Centenario’
15h00 – Cura com Isaka Huni Kuin – Saberes ancestrais e óleos essenciais
16h00 – Finalização
CARDÁPIO DO ALMOÇO
Prato principal
Cuscuz nordestino com tomate e coentro + vegetais na brasa: avaxi (milho), jety (batata doce branca e roxa), andai’i (abobrinha), cenoura, cebola, berinjela + komanda (feijão avinagrado)
Bebida
Chá mate com amburana de cheiro
Sobremesa
Mingau de milho com leite de coco e coco fresco.
Rapadura
PARTICIPANTES
EBÉ - Escola Brasileira de EcoGastronomia
Escola formada por Daniela Lisboa, especialista em Economia Solidária e Escolas de Alimentação Viva; Cassia Cazita, que tem em experiência em movimentos de ocupação cultural e de rua e Fabiana Sanches, ligada à Articulação Agroecológica e militante do movimento Slow Food. O encontro resultou em projetos como o Convívio Slow Food ComoComo, a primeira grande Campanha de Combate ao Desperdício de Alimentos e o Festival Disco Xêpa 2014. A Ebé desenvolveu um cardápio especial — em parceria com agricultores locais, nutricionistas e chefs indígenas e de origem africana — para o almoço disponível aos participantes da ação.
R$ 20 por pessoa.
Inae Moreira
Negra, artista e baiana é formada pela Escola de Dança da Funceb. Pesquisadora de diversas técnicas corporais: dança, acrobacias, capoeira angolana, contato-improvisação, teatro físico e performance. A partir dessas experiências, a pesquisadora dialoga com universos populares e contemporâneos e, atualmente, pesquisa o corpo feminino afrodescendente.
Isaka Huni Kuin
Desde 2015 vem pesquisando o processo de destilação de plantas medicinais a partir do conhecimento do povo Huni Kuin que identificou, aproximadamente, 400 espécies diferentes de ervas com propriedades curativas. Valorizando esse conhecimento milenar, Isaka estudou com seu pai Íka Muru (idealizador do livro de cura Una Isi Kayawa, que trata dos conhecimentos na área da saúde do povo Kaxinawá). Também estudou Naturologia na Espanha e Áustria.
Negale Jones
Músico, educador, artista audiovisual e pesquisador de arte, tecnologia, ancestralidade, de ritmos naturais e das relações entre a bioeletricidade humana e a etnobotânica.
Pagu
Patricia Rodrigues ou Pagu é socióloga formada pela USP, militante das Demarcações de Terras Indígenas e Direitos Indígenas. Em 2018, atuou como educadora na Escola Infantil Pedacinho do Céu – Aldeia Indígena Fulni-ô / PE. Foi proponente de Projeto de Lei, para a cidade de São Paulo, que prevê cotas étnico-raciais; foi coordenadora do Movimento Indígena Guarani M’baraete no Estado de São Paulo na luta por demarcação de terras; integrante do Grupo de Trabalho Inter secretarial coordenado pela Funai – Fundação Nacional do Índio junto à Secretaria de Políticas para as Mulheres da Prefeitura de São Paulo; membro do Comitê Povos Indígenas – SMDHC; articuladora do Encontro entre Guaranis M’bya de São Paulo e Guaranis-Kaiowá do Mato Grosso do Sul, na região de Nhanderu Marangatu, MS; articuladora do ato dos Guaranis M’bya da Tekoa de Paranapuã em São Vicente; organizadora do Festival M’baraete – Resistência dos Povos Indígenas, que aconteceu em 2015. Atualmente é membro da Comissão de Assuntos Indígenas da OAB - Ordem dos Advogados do Brasil, jurisdição de SP.
Walter Gomes
Nascido em Goiás, atualmente vive em São Paulo. Walter Gomes trabalhou junto à liderança da UNI (União das Nações Indígenas) e com Ailton Krenak na Campanha da Constituinte (Reforma Promulgada em 1988). Em 1994, abriu a Amoa Konoya Arte Indígena, localizada em Pinheiros, e trabalha com objetos e cosmologias de diversos povos indígenas do Brasil.
Jonas Samaúma
Poeta e contador de histórias e criador da Kombiblioteca, projeto que nutre a memória dos saraus da cidade de São Paulo. Lançou seu primeiro livro aos 13 anos de idade, frequenta a Casa do Sarau do Binho, apresentou diversos poemas no Canal Curta e possui cinco livros publicados. Foi finalista do Prêmio Jabuti, em 2015. Atualmente realizou Contador de Histórias, no SESC Pinheiros.
Próximos ciclos: 01.06, 29.06 e 13.07
Programação de cada ciclo será divulgada na semana anterior.
Ernesto Neto - Sopro, Pinacoteca de São Paulo - 31/03/2019 a 15/07/2019
maio 1, 2019
Giselle Beiguelman no Museu da Cidade, São Paulo
Solar da Marquesa de Santos e Beco do Pinto recebem instalações de Giselle Beiguelman
“Chacina da Luz” e “Monumento Nenhum” discutem a perda de memória no espaço público e as estéticas do esquecimento na cidade de São Paulo
O Museu da Cidade inaugura no dia 04 de maio, sábado, às 11 horas, as instalações Chacina da Luz e Monumento Nenhum, da artista Giselle Beiguelman, nos espaços do Solar da Marquesa de Santos e Beco do Pinto, respectivamente. As obras discutem a perda da memória no espaço público e a relação da cidade com seu patrimônio histórico e cultural. Compostas por fragmentos de monumentos, as instalações reproduzem a situação das peças tal qual foram encontradas pela artista em depósitos públicos, como uma espécie de “ready made” do esquecimento.
“As duas instalações invertem o lugar da arte no campo das políticas públicas de memória. Ao invés de ser seu objeto, a arte aqui pensa essas políticas, sugerindo um debate sobre a produção social das estéticas da memória e do esquecimento no espaço público.”, declara a artista e professora da FAU – USP.
Em “Chacina da Luz “o foco da artista é o conjunto de oito esculturas que se encontravam no lago Cruz de Malta, localizado no interior do Jardim da Luz. Implantadas, em sua maioria, no século 19, foram derrubadas e fragmentadas em 2016, em uma ação de depredação. As obras foram recolhidas e armazenadas na Casa do Administrador do parque. Na instalação apresentada no Solar da Marquesa de Santos, Giselle recupera a cena pós-crime.
Em “Monumento Nenhum”, por sua vez, Giselle refaz nas escadarias do Beco do Pinto as pilhas de bases, pedestais e fragmentos de monumentos que se encontram no Depósito do Departamento do Patrimônio Histórico - DPH, localizado no bairro do Canindé. “Com alguns, ou nenhum vestígio sobre seu passado, esses enigmáticos totens desafiam-nos a perguntar: de onde vieram? por que foram desmontados? E o mais importante: o que sustentavam do ponto de vista material e simbólico?”, indaga.
O projeto das duas instalações dá continuidade a pesquisas que resultaram na intervenção Memória da Amnésia realizada pela artista no Arquivo Histórico Municipal de 2015 a 2016. Começou a ser concebido ainda na gestão de Renato de Cara no Museu da Cidade. Giselle Beiguelman destaca que um dos elementos mais importantes do projeto atual, assim como o anterior, é o fato de ser realizado em parceria com o Departamento do Patrimônio Histórico e o Museu da Cidade de São Paulo. “São projetos que se fazem em diálogo e refletindo sobre as políticas públicas de memória e patrimônio. Não são feitos apenas a partir de autorização de uso das peças e de entrada nos Depósitos, mas também a partir do intercâmbio e negociação de pontos de vista e motivações”, diz a artista.
Além disso, Beiguelman frisa o caráter interdisciplinar desses projetos, que envolvem arquitetos, designers, pesquisa histórica e participação intensiva de membros de seu Grupo de Pesquisa Estéticas da Memória no Século XXI, ligado ao Laboratório para OUTROS Urbanismos da FAU - USP.
Giselle Beiguelman é artista e professora da FAU USP. Entre seus projetos recentes destacam-se: “Memória da amnésia” (2015), “Quanto pesa uma nuvem?” (2016) e “Odiolândia” (2017). Recebeu vários prêmios nacionais e internacionais e suas obras integram coleções privadas e acervos de diversos museus como ZKM (Karlsruhe, Alemanha), Pinacoteca de São Paulo, Jewish Museum (Berlim, Alemanha), MAR (Rio de Janeiro) e outros. Foi editora-chefe da Revista seLecT (2011-2014) e é colunista da Rádio USP e do site da Revista Zum. Seu novo livro, “Memória da Amnésia: políticas do esquecimento”, sai em maio de 2019 pelas Edições Sesc.
O Museu da Cidade de São Paulo é uma rede de casas históricas distribuídas nas várias regiões da cidade. Atualmente, seu acervo arquitetônico é composto pelo Solar da Marquesa de Santos, Beco do Pinto, Casa Nº 1/Casa da Imagem, Casa do Bandeirante, Casa do Sertanista, Capela do Morumbi, Casa do Tatuapé, Sítio da Ressaca, Sítio Morrinhos, Casa do Grito, Monumento à Independência, Casa Modernista e Chácara Lane. Também possui acervos de grande valor histórico como o acervo Fotográfico; Bens Móveis; História Oral e Documental.