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janeiro 31, 2019
Acervo na Luciana Caravello, Rio de Janeiro
Mostra ocupará os três andares da galeria com cerca de 50 trabalhos recentes e inéditos
Nesta segunda-feira, dia 4 de fevereiro, Luciana Caravello Arte Contemporânea inaugura a primeira exposição do ano: um recorte de seu acervo, com obras recentes e inéditas que ocuparão os três andares da galeria. Serão apresentados cerca de 50 trabalhos, em diferentes suportes, como pintura, gravura, escultura e fotografia.
Um dos destaques da mostra é a obra “Universos Paralelos (Rio de Janeiro)”, 2018, de Marina Camargo, em que o desenho do mapa da cidade do Rio de Janeiro é colocado em uma caixa de luz, sendo parcialmente coberto por uma folha de acrílico com furos que desenham o mapa do céu do hemisfério sul, o céu do momento em que o trabalho foi feito.
A exposição contará também com a escultura “Florida 266-267 (The World)”, 2018, de Daniel Escobar, em que o artista monta paisagens com recortes de guias de turismo que saltam aos olhos através de um relevo, à moda de pop-up, superando as fronteiras do volume impresso. Para Escobar, apesar da agenda do turismo, “a obra acaba criando um foco crítico em relação ao próprio sistema de arte e sua sintonização com a circulação de pessoas e produtos pelo mundo”.
Produzida este ano, a obra “Brasas”, da série “Queimadas”, de Pedro Varela, traz imagens de queimadas, pintadas em acrílico sobre linho, em um conjunto de nove telas dispostas lado a lado.
Também fará parte da exposição uma escultura da série “Borda e Alegria” (2018), de Igor Vidor, em que o artista cria composições a partir de armações de pipas, vazadas, com seus respectivos padrões geométricos desenvolvidos em papéis de seda. A série faz parte de um levantamento sobre o desenvolvimento de padrões geométricos por artesãos e produtores de pipas. Além de ser um objeto lúdico e tradicional, as pipas originais trabalham a complexidade de construção dos padrões geométricos em sua confecção, independentemente de qualquer padrão já postulado pela história das vanguardas brasileiras.
A obra “Que valor tenho eu pra ti?” (2018), de Ivan Grilo, em bronze, também estará na mostra. O trabalho faz parte da série “Escribe una Carta de Amor”, que recentemente passou a fazer parte da coleção do Pérez Art Museum Miami. A série fez parte do Solo Project 2018 do The55project, resultado de uma parceria entre o The55project, Mana Contemporary e Downtown Miami.
Angelo Venosa na Nara Roesler, São Paulo
Um dos poucos artistas dedicado à escultura egresso da Geração 80, cuja tônica era a pintura, o paulistano radicado no Rio de Janeiro, Angelo Venosa, traz a sua cidade natal a exposição Penumbra. Com curadoria da historiadora e curadora de arte Vanda Klabin, a mostra na Galeria Nara Roesler deriva de outra de mesmo nome realizada no ano passado em Vila Velha – ES.
Na galeria paulistana estarão expostas oito esculturas. Dessas, seis são provenientes da exposição no museu capixaba, enquanto as outras duas, ainda que produzidas em 2017, serão exibidas pela primeira vez. “Inquietas e interrogativas, suas obras problematizam a visão do espectador, residem em um mundo fluido permeado pela artesania e pela tecnologia digital, que fazem parte de sua lógica de trabalho e ampliam o campo da sua poética”, pontua a curadora.
A mostra reúne obras produzidas em materiais como bronze, madeira, tecido e fibra de vidro que exploram áreas cheias e vazias, criando formas que adquirem inesperada plasticidade. As esculturas formam com a sombra produzida pela iluminação incidente um corpo enigmático e, juntas, constroem particular atmosfera onírica. “A inclusão real da sombra abre um espaço possível, articula a nossa percepção, os nossos modos de ver, e essa simultaneidade de acontecimentos que segmenta um novo território parece sonegar a verdade do olho e possibilita uma grande variedade de acessos a uma realidade cifrada”, afirma a curadora.
Segundo Klabin, ainda, a nova série de trabalhos de Angelo Venosa desperta muitas desconcertantes indagações. “O agenciamento de outros materiais para construir um novo continente de trabalho vai presidir a criação de um núcleo de obras envoltas em incidências luminosas que se desenvolve numa turbulência interna, em que as formas oscilam e tomam posição, no sentido de multiplicar os planos, criar uma ambiguidade espacial”.
Angelo Venosa (n. 1954, São Paulo, Brasil; Vive e trabalha no Rio de Janeiro) é um dos poucos artistas da chamada “Geração 80” que se dedicou à escultura, em detrimento da pintura então em evidência. A partir da década de 1990, passou a utilizar materiais como mármore, cera, chumbo e dentes de animais, realizando obras que remetem a estruturas anatômicas, como vértebras e ossos. Mais recentemente, o artista começou a utilizar impressão em 3D e desenho assistido por computador para criar estruturas e exoesqueletos de compensado e metal que se assemelham a corais. Participou de exposições como a 19a Bienal de São Paulo (1987), a 45a La Biennale di Venezia (1993) e a 5a Bienal do Mercosul, Porto Alegre (2005). Uma grande retrospectiva em comemoração pelos seus 30 anos de carreira foi realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) em 2012, passando pela Pinacoteca do Estado de São Paulo em 2013 e pelo Palácio das Artes, Belo Horizonte, e pelo Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (MAMAM), Recife, em 2014. Atualmente, possui esculturas públicas instaladas em diversos locais do país, como Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Jardins), Museu de Arte Moderna de São Paulo (Jardim do Ibirapuera), Pinacoteca de São Paulo (Jardim da Luz) e Praia de Copacabana/Leme, Rio de Janeiro.
janeiro 30, 2019
Ritz Jardins reapresenta instalação dos artistas Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti
Criada para o restaurante, “Vitrine” é um dispositivo interativo com placas espelhadas que é acionado quando um cliente passa pela porta giratória, criando efeitos cinético-espaciais
O Ritz Jardins reapresenta em suas vitrines a partir deste sábado, 1 de dezembro de 2018, a instalação Vitrine, da dupla de artistas Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti.
Criada especialmente para o restaurante e exposta pela primeira vez em 2014, a obra é um dispositivo ótico composto por duas placas metálicas espelhadas que se conectam à porta giratória do Ritz por meio de um sistema de engrenagens, polias, rolamentos e correias.
Quando um cliente entra ou sai do salão, as placas são giradas pelo mecanismo e produzem efeitos cinético-espaciais dentro e fora do restaurante. Sem interação, os espelhos param.
A instalação ficará em exposição no Ritz até dezembro de 2019.
SOBRE OS ARTISTAS
Formada em 2005, a dupla Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti (www.cantoni-crescenti.com.br) participou de mostras como Ars Electronica em Linz, em Berlim e na Cidade do México; do The Creators Project em Nova York e em São Paulo; dos festivais Glow e STRP em Eindhoven; do Espacio Fundación Telefônica, em Buenos Aires; do Copenhagen Contemporary Art Festival em Copenhague; do File em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre; do Zeebrastraat em Ghent. Em 2010 receberam os prêmios Vida 13.2 por Fala e menção especial do Prix Ars Electronica para Túnel.
Fernando Zarif na Luciana Brito, São Paulo
A Luciana Brito Galeria inaugura seu programa de 2019 com uma individual de Fernando Zarif (São Paulo, 1960 – 2010). Figura de destaque na cena cultural paulistana a partir dos anos 1980, Zarif desenvolveu, em sua curta trajetória, uma extensa produção artística interdisciplinar, que abrangeu desde as artes visuais à ópera, literatura e artes gráficas.
Ao concentrar-se em três séries bastante distintas entre si, a mostra, por um lado, apresenta a diversidade de sua produção, ao mesmo tempo em que aponta para o caráter de quase compulsão que a criação diária desempenhava para o artista. Superficialidade e profundidade não eram, afinal, encarados como opostos por Zarif, que os conciliava ao cobrir, com seu trabalho, um extenso território de manifestações, sem, por isso, recair em platitudes.
Dezenas de telas em pequenas dimensões apresentam retratos duchampianos, colagens sobre tela de objetos tão díspares quanto fósforos, fios, papel ou vidro, em que o aspecto construtivo e bem-humorado de sua produção é acentuado. Cinco esculturas flutuantes, criadas a partir do acúmulo de elementos como moedas, cadeados ou chaves, compõem retratos e autorretratos tridimensionais e simbólicos. Por fim, cinco pinturas pretas em grandes dimensões, realizadas com a aplicação direta das bisnagas de tinta acrílica sobre a tela, transmitem uma gestualidade rápida e expressiva.
Composta por cerca de 50 obras, a exposição se dá na esteira de um ciclo de três encontros sobre o artista, promovidos, em 2018, pela Luciana Brito Galeria em parceria com o Projeto Zarif e conduzidos pelo curador Rafael Vogt Maia Rosa.
Perdona que no te crea na Carpintaria, Rio de Janeiro
Teatro,
Lo tuyo es puro teatro
Falsedad bien ensayada
Estudiado simulacro
Perdona que no te crea
Me parece que es teatro*
A exposição coletiva Perdona que no te crea, curadoria de Victor Gorgulho, explora o cruzamento entre os campos das artes visuais e do teatro, investigando noções de teatralidade, representação e simulação, tanto nas interseções quanto nas particularidades de cada disciplina. O conjunto de obras reúne produções de artistas contemporâneos ao lado de registros fotográficos históricos e trabalhos pertencentes a acervos teatrais. O título inspira-se no refrão do bolero Puro Teatro, do compositor porto-riquenho Tite Curet Alonso, famoso na gravação de 1970 da cantora cubana La Lupe. Durante o período de sua realização, a exposição será ativada por leituras e encenações de solos teatrais feitas por diversos convidados.
* Trecho de Puro Teatro de Tite Curet Alonso
janeiro 27, 2019
Casa Triângulo anuncia nova diretora
Casa Triângulo tem o prazer de anunciar que Camila Siqueira passa agora a integrar o time de diretores da galeria juntamente com Ricardo Trevisan, Sócio-Fundador e Rodrigo Editore, Sócio.
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Nos últimos 10 anos, Camila Siqueira foi Diretora da Galeria Leme em São Paulo, onde adquiriu vasta experiência organizando dezenas de exposições e feiras tanto no Brasil quanto no exterior.
Camila traz consigo uma vida dedicada à arte e à promoção de artistas, partilhando naturalmente os princípios da Casa Triângulo.
Casa Triângulo is pleased to announce that Camila Siqueira is now joining the team of gallery directors along with Ricardo Trevisan, Founding Partner and Rodrigo Editore, Partner.
For the past 10 years, Camila Siqueira has been a Director of Galeria Leme in São Paulo, where she has acquired vast experience organizing dozens of exhibitions and fairs both in Brazil and abroad.
Camila brings a life dedicated to the art and promotion of artists, sharing naturally the principles of Casa Triângulo.
Almeida & Dale e Leme anunciam fusão com foco no mercado de arte contemporânea
Caros amigos, clientes e parceiros,
É com imenso prazer que anunciamos a fusão das operações das galerias Almeida & Dale e Leme voltadas para o mercado de arte contemporânea. Com a reorganização empresarial, a Galeria Leme/AD passa a atuar conjuntamente nos setores nacional e internacional do mercado de arte primário, intensificando suas relações institucionais e buscando, ainda, inovação na abordagem e operacionalização de suas atividades.
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No mercado primário desde 2004, a Leme tem concentrado seus esforços na promoção da diversidade na arte e do intercâmbio cultural. Por outro lado, a Almeida e Dale conta com experiência de mais de 20 anos no mercado secundário, sempre incentivando as relações do público com a arte e sua história, contribuindo com exposições históricas, de qualidade museológica.
Fruto da soma de expertises distintas, a Galeria Leme/AD funcionará no prédio de 600m² projetado por Paulo Mendes da Rocha. Localizado no Butantã, na zona oeste da capital, o edifício funcionava como sede da Galeria Leme.
Para dar início a suas atividades, a Galeria Leme/AD anuncia a representação de Thiago Martins de Melo. O artista maranhense abre a programação no ano, com uma exposição individual prevista para o mês de março.
Para nós é um prazer contarmos com a sua parceria. Esperamos vocês para uma visita em nosso espaço e, futuramente, para a abertura da exposição que marcará o início de uma nova fase.
Abraços,
Antonio Almeida, Carlos Dale e Eduardo Leme.
Almeida & Dale and Galeria Leme announce the merger of activities aiming the contemporary art market
Dear friends, clients and partners,
It is with great pleasure that Almeida & Dale Galeria de Arte and Galeria Leme announce the merger of their operations, focusing on the contemporary art market. With this corporate reorganization, Galeria Leme/AD begin to work jointly within the national and international sectors of the primary art market, not only intensifying its institutional relations, but also pursuing innovation in the approach and operationalization of its activities.
Operating in the primary art market since 2004, Galeria Leme has focused its efforts on promoting diversity in art and cultural exchange. As for Almeida & Dale Galeria de Arte, gathers more than 20 years of experience in the secondary art market, always encouraging the public to engage with art and its history, as well as contributing with historical and museum standard exhibitions.
As a result of the combination of different experiences, Galeria Leme/AD will be based in the 600m² building designed by Paulo Mendes da Rocha. Located in Butantã (São Paulo, Brazil), the building has already been the headquarters of Galeria Leme since 2012.
To start its activities, Galeria Leme/AD is delighted to announce the representation of Thiago Martins de Melo. The Brazilian artist from the northeastern state of Maranhão opens its 2019 program with a solo show scheduled for upcoming March.
It would be great to count on you. We look forward to your visit.
With best regards,
Antonio Almeida, Carlos Dale and Eduardo Leme.
Nota oficial de Inhotim sobre desastre ocorrido na Mina Feijão, em Brumadinho
Nota oficial de Inhotim sobre desastre ocorrido na Mina Feijão, em Brumadinho
Nota originalmente publicada no site de Inhotim em 25 e 26 de janeiro de 2019.
Como parte da comunidade de Brumadinho, o Instituto Inhotim lamenta profundamente o desastre ocorrido na Mina Feijão, em Brumadinho (MG), no início da tarde de hoje, 25/01, e se solidariza com todos os atingidos. Estamos em contato com a Prefeitura do município e com a Defesa Civil e nos colocamos à disposição para dar o suporte necessário.
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As autoridades locais instalaram na Faculdade ASA de Brumadinho, na MG-040 – km 49, o ponto de apoio para a população, onde está centralizando informações e doações. Quem quiser fazer doações deve entrar em contato com a Defesa Civil de Brumadinho pelo telefone: (31) 3571-6067. O Inhotim vai utilizar seus canais de comunicação para ampliar a divulgação das informações que forem sendo disponibilizadas pelos órgãos competentes.
Seguindo recomendação da Polícia Civil, mais cedo o Instituto realizou o esvaziamento da área de visitação do Museu. Todos os funcionários e visitantes deixaram o local em segurança.
Informamos também que, até o momento, a área do Inhotim não foi atingida, não havendo vítimas nem prejuízo às obras, jardins e outras instalações do Museu.
O Inhotim não abrirá sábado nem domingo (26 e 27/01/2019). Aguardamos mais informações para definir a data de reabertura.
ATUALIZAÇÃO (26/1 – 10H30):
A Prefeitura de Brumadinho informou que estão recolhendo doações de água na Quadra de Esportes Municipal, na Rua Itaguá – 1000. Este é o único item essencial no momento.
As equipes de resgate estão concentradas na Faculdade Asa. O espaço não está recebendo doações neste sábado. Elas estão sendo recolhidas na Quadra de Esportes – Rua Itaguá, 1000.
Quem quiser se voluntariar para ajudar as pessoas atingidas deve ir até a Estação Conhecimento, na entrada de Brumadinho, ao lado do Restaurante Fazendinha. Os cadastros e direcionamentos estão sendo feitos neste local.
Press Statement
As part of the Brumadinho community, the Inhotim Institute deeply regrets the disaster that occurred at Feijão Mine, in the city of Brumadinho, Minas Gerais, early this afternoon, January 25, and expresses its solidarity with all those affected. We are in contact with the City Hall and the Civil Defense and we are available to provide the necessary support.
Local authorities installed the support point for the population at Faculdade ASA de Brumadinho, MG-040 – km 49, where they are centralizing information and donations. Whoever wants to donate should contact the Civil Defense of Brumadinho by phone: (31) 3571-6067. Inhotim will use its communication channels to broaden the dissemination of the information that is being made available by the competent bodies.
Following the recommendation of the Civil Police, the Institute carried out the emptying of the Museum’s visitation area. All staff and visitors left the place safely.
We also inform that, as of now, Inhotim’s area has not been affected, with no victims or damage to the artworks, gardens, and other facilities of the Museum.
Inhotim will not open this Saturday and Sunday (January 26 and 27, 2019). We will wait for more information to decide on the date of reopening.
janeiro 25, 2019
Jorge Fonseca na Caixa Cultural, Brasília
Obras da exposição dão um novo significado a objetos do imaginário coletivo e apontam brechas de afeto em coisas simples do cotidiano
A Caixa Cultural Brasília recebe, de 13 de janeiro a 3 de março de 2019 (terça-feira a domingo), a exposição Jorge Fonseca - Labirinto de amor. As mais de 20 obras reunidas na mostra, produzidas entre 1998 e 2018, dão um novo significado a objetos do imaginário coletivo e apontam brechas de afeto em coisas simples do cotidiano. Praticamente todas do acervo do próprio artista, elas contam um pouco da trajetória desse artista autodidata mineiro, que foi maquinista de trem e marceneiro por mais de 15 anos.
Costurar, pintar e bordar o amor. Enfeitar e dar graça a desilusões, tropeços, desavenças. É assim que Jorge Fonseca concebe sua obra. “A mostra sugere a observação da nossa vida e da vida do outro de um jeito diferente. São obras que contam histórias, falam de percalços, sofrimentos, humores e alegrias tão familiares às pessoas", explica o artista, em atividade desde o início dos anos 1990 e cujas obras compõem acervos de grandes instituições e colecionadores. "É como o nome da exposição sugere: a vida nada mais é que um grande labirinto de situações inesperadas”.
Em criações singulares que misturam artesanato, arte conceitual, pop, kitsch, há uma forte atitude contemporânea, uma crítica contundente às relações humanas. Fonseca dá outra leitura a materiais comuns, tecidos, miudezas de armarinho ou objetos simples que habitam o imaginário de muita gente. “É o que chamo de 'obra desfrutável'. As pessoas se envolvem emocionalmente com as histórias contadas por cada peça", diz a crítica de arte Fernanda Terra, curadora da exposição.
"Elas se reconhecem, recordam vivências ou lembram de alguém que viveu aquilo. É algo que fala do real, da vida como ela é, mas não de uma forma endurecida e sim cheia de afeto. É difícil observar uma das obras e não abrir um sorriso. E ao mesmo tempo é ácida, irônica, remete aos sentimentos mais íntimos”, ressalta Terra. A curadora destaca ainda que Fonseca é um grande observador do cotidiano, das relações, dos sentimentos. “Por mais que sua obra aborde questões da cultura popular novelística, folclore e religiosidade, o amor se destaca. É um reflexo de como ele enxerga o outro, sempre de um jeito carinhoso”.
Sobre Jorge Fonseca:
Jorge Fonseca nasceu em Conselheiro Lafaiete (MG), a 100 quilômetros da capital mineira. Era nos intervalos da jornada de trabalho, como maquinista, que ele aproveitava para dar vida às suas criações, no início dos anos 1990. “Isso ajuda a explicar a predominância do bordado na minha obra nessa fase. Eu passava longos períodos no trem, em demoradas viagens, quase não tinha tempo para exercer o ofício em casa. Levava para a cabine tecidos, linhas, agulhas, materiais de armarinho e bordava ali mesmo, durante as longas paradas do trem”, conta o artista.
Nessa época, em 1995, ele foi convidado a integrar o Salão de Arte Contemporânea de Campos (RJ). No ano seguinte, conquistou seu primeiro prêmio, no mesmo salão fluminense, e no 53º Salão Paranaense. Em 2009, Fonseca foi contemplado com uma bolsa da Fundação Pollock-Krasner (Nova York), para estímulo à produção. Foi o vencedor do último Prêmio PIPA Online, em 2017. Sua obra integrou dezenas de exposições coletivas e individuais em espaços como a Pinacoteca de São Paulo, o MAM Rio, a Funarte do Rio de Janeiro e de Brasília, o Palácio das Artes, a 6ª Bienal de Arte Contemporânea de Kaunas, na Lituânia, a Feira Internacional de Arte de Buenos Aires e a Quadrienal de Praga, na República Tcheca.
MASP recebe 21 obras de artistas afro
Em 2018, o Museu de Arte de São Paulo dedicou o seu programa de exposições, publicações, workshops, cursos e seminários às histórias afro-atlânticas, dando continuidade à estratégia de desenvolver um eixo temático anual com histórias que desafiem narrativas históricas e canônicas da arte tradicional. O museu recebeu monográficas de artistas afro como Aleijadinho, Maria Auxiliadora da Silva, Emanoel Araujo, Rubem Valentim, Sonia Gomes, Melvin Edwards e Lucia Laguna, assim como Kader Attia, Ayrson Heráclito, Khalil Joseph e John Akomfrah, entre outros.
Nesse contexto, 21 obras de 19 artistas afro foram doadas ao museu. São eles: Abdias Nascimento, Chico Tabibuia, Dalton Paula, Emanoel Araujo, Flávio Cerqueira, Jaime Lauriano, José Alves de Olinda, Lucia Laguna, Maxwell Alexandre, Mestre Didi, Rosana Paulino, Rosina Becker do Vale, Rubem Valentim, Sènéque Obin, Sonia Gomes, e os coletivos Ad Júnior, Edu Carvalho & Spartakus Santiago e Frente 3 de Fevereiro. Esse conjunto de trabalhos reforça a presença de artistas afro no MASP e marca o ciclo de 2018 na coleção de um museu conhecido por seu acervo clássico europeu. Muitas dessas obras serão, a partir de abril de 2019, expostas no Acervo em transformação, mostra de longa duração que guarda a coleção do MASP nos icônicos cavaletes de vidro de Lina Bo Bardi.
Todos os trabalhos doados foram exibidos nas monográficas dedicadas aos artistas (no caso de Araujo, Gomes, Valentim e Laguna) ou na exposição coletiva Histórias Afro-atlânticas. A última, realizada em parceria com o Instituto Tomie Ohtake, dedicou-se às relações entre a África, as Américas, o Caribe e também a Europa, do século 16 ao 21. A exposição foi eleita como a melhor de 2018 pelo New York Times e Hyperallergic, e ganhou o Grande Prêmio da Crítica da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).
“A programação dedicada às histórias afro-atlânticas está sendo pesquisada desde 2014, e essas aquisições excepcionais agora deixam uma marca definitiva na coleção, outrora conhecida por seus mestres europeus clássicos. Estamos seguindo a missão do museu, que redefiniu recentemente o MASP como 'plural, inclusivo e diverso'. Os esforços feitos em relação às obras de artistas afro são os mesmos que agora serão dedicados às artistas mulheres, e vamos continuar ampliando o escopo de trabalhos que trazemos para nossa coleção e expomos nos cavaletes de vidro”, diz o diretor artístico do museu, Adriano Pedrosa.
Temporada de Projetos: Haroldo Saboia em Paço das Artes no MIS, São Paulo
Exposição apresenta uma construção iconográfica de imagens do Distrito Federal
O Paço das Artes – instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo – inaugura no dia 29 de janeiro “A história dos nossos gestos”, primeira exposição da Temporada de Projetos 2019. A mostra, do artista selecionado Haroldo Saboia, fica em cartaz até 24 de março no MIS – Museu da Imagem e do Som – e tem entrada gratuita.
A história dos nossos gestos, cujo título foi emprestado por Haroldo Saboia do livro homônimo do historiador e antropólogo potiguar Câmara Cascudo, apresenta imagens históricas do período pré-construção de Brasília até a construção do memorial Juscelino Kubitschek, no começo da década de 1980, também localizado no Distrito Federal.
Por meio de vídeos e fotografias, Saboia objetiva tensionar relações na história recente do Brasil e mapear uma história menor que a compõe, apresentando imagens de gestos de indivíduos deste período, políticos ou anônimos. Tal cruzamento contribui para a construção de uma memória imagética e documental que pensa a ambivalência de Brasília no sentido de integração nacional e, ao mesmo tempo, de caráter de vigilância e opressão.
Segundo o artista, a mostra “gera relações e entendimentos sobre o atual momento histórico do país como os 30 anos da redemocratização brasileira”. E, também, levanta questionamentos como “O que podemos encontrar nessa coreografia social que observamos ao juntar tais imagens?” e “O que aprendemos com esses gestos?”.
Dentre as obras apresentadas na exposição estão Didática do Contato, projeção de vídeo com, aproximadamente, 5’ de duração em que uma mão toca e marca uma superfície lisa, e Integração Nacional, um painel com 76 fotografias gestuais, coloridas e PB, de personagens de Brasília em ação, com foco, principalmente, em suas mãos.
Sobre a Temporada de Projetos
A vocação experimental do Paço das Artes é constatada, principalmente, por meio da Temporada de Projetos, que foi criada com o objetivo de abrir espaço à produção, fomento e difusão da prática artística jovem. Concebida em 1996, a Temporada de Projetos teve sua primeira exposição realizada em 1997 e se tornou, ao longo dos anos, um rico celeiro para a cena da jovem arte contemporânea brasileira.
Anualmente, a Temporada abre uma convocatória nacional selecionando nove projetos artísticos e um projeto de curadoria para serem desenvolvidos e produzidos com o respaldo do Paço das Artes. Os selecionados recebem acompanhamento crítico, a publicação de um catálogo sobre suas obras e um cachê de exibição. Desde seu surgimento, quando ainda era bienal (tornando-se anual em 2009), o programa possibilita a emergência de inúmeros artistas, curadores e críticos, muitos deles presentes na cena artística contemporânea. O júri da atual Temporada é composto por Ana Pato, Hugo Fortes, Márcio Harum, Priscila Arantes e Thereza Farkas.
Em 2014, o Paço das Artes lançou a plataforma digital MaPA (mapa.pacodasartes.org.br), concebida por Priscila Arantes, que reúne todos os artistas, curadores, críticos e membros do júri que passaram pela Temporada de Projetos.
Josafá Neves na Baró, São Paulo
Baró Galeria abre agenda anual com individual de Josafá Neves
A Baró Galeria tem o prazer de apresentar, a partir de 31 de janeiro de 2019, a exposição Visceral Art, do artista brasiliense Josafá Neves. Sob curadoria do carioca Marcus Lontra, a mostra reúne pinturas, gravuras, instalações e objetos que investigam a identidade e a cultura afro brasileira.
Depois de duas grandes mostras individuais nos espaços da Caixa Cultural Brasília (2017) e São Paulo (2018), Josafá reúne na Baró Galeria uma série de trabalhos inéditos que dão seguimento à sua pesquisa em torno do patrimônio imaterial da herança negra no Brasil. Um dos destaques da mostra é a pintura de grande dimensão intitulada “Amordaçados”. A obra é um símbolo visceral, que nos remete a violação da constituição e nos leva a repensar o mundo sobre outros pontos de vista.
Nos últimos 20 anos, as pesquisas estéticas de Josafá se baseiam no contexto social, político e cultural do Brasil, que resultam em obras de diferentes suportes, técnicas e materiais, com o objetivo de revisar impressões gravadas na memória coletiva de mestiços, dos índios, e principalmente dos negros.
Suas pinturas e esculturas são permeadas por vermelhos, azuis, verdes, amarelos e laranjas, as cores marcantes dos orixás, do candomblé e da umbanda, ora por formas geométricas, ora por formas orgânicas, ora pelo realismo. Num ritmo sensual, como dos corpos gingados pela capoeira, Josafá sintetiza as influências do continente africano na construção da espiritualidade, do imaginário, do cotidiano e da cultura do povo brasileiro.
janeiro 23, 2019
MASP anuncia a programação de 2019
Ao longo do ano, eixo temático ‘Histórias das mulheres, histórias feministas’ vai embasar exposições monográficas de Djanira da Motta e Silva, Tarsila do Amaral, Lina Bo Bardi, Anna Bella Geiger, Leonor Antunes, Gego e uma mostra coletiva internacional
O tema “Histórias das mulheres, histórias feministas” será pauta do programa de exposições do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand em 2019. Já estão confirmadas seis monográficas de artistas mulheres, além de uma grande mostra coletiva que levará o título do eixo temático. A exposição se integra à série de mostras e seminários elaborados, nos últimos anos, em torno da noção de histórias, que abarcam narrativas reais, fictícias, relatos pessoais e históricos, apresentadas de maneira mais aberta e plural. Nos três anos anteriores, o MASP apresentou exposições coletivas de destaque dentro de um eixo temático anual, Histórias da infância (2016), Histórias da sexualidade (2017) e Histórias afro-atlânticas (2018), recorde de visitação da atual gestão, com 180.000 visitantes.
As mulheres sempre experimentaram uma realidade distinta da vivida pelos homens no que tange a direitos civis e papéis sociais. Ao longo da história, a diferença de gênero teve momentos dramáticos, como no século 19, em que teorias de suposta base científica foram forjadas para explicar e justificar a dominação masculina. O sociólogo positivista francês Auguste Comte, por exemplo, procurou naturalizar a desigualdade em sua teoria da ordem espontânea da sociedade humana, de 1839. Já que as mulheres eram vistas como naturalmente incapazes de entender e raciocinar, não seriam, portanto, capazes de produzir algo tão complexo como a arte.
Muitos esforços têm sido empreendidos desde o final do século 19 para afirmar a importância das mulheres artistas e de suas obras, como a fundação, em Paris, da Union des femmes peintres et sculpteurs [União das mulheres pintoras e escultoras] em 1881 e, mais recentemente, o surgimento do movimento #MeToo, contra o assédio sexual, em Hollywood. A programação do MASP em 2019 se une a essa rede de esforços que questionam os valores de gênero dentro da história da arte e celebram as histórias e os trabalhos de mulheres que, de modo deliberado ou não, foram ignoradas ao longo dos séculos.
Para aprofundar as pesquisas que embasam o programa de 2019, o MASP organizou dois seminários neste ano: “Histórias das mulheres, histórias feministas”, em fevereiro, e “Histórias feministas, mulheres radicais”, em novembro, numa parceria com a Pinacoteca do Estado de São Paulo. Dos seminários, sairá parte do conteúdo do catálogo e da antologia que serão lançados com a exposição coletiva.
As monográficas de Djanira da Motta e Silva, Tarsila do Amaral e Lina Bo Bardi estão previstas para o primeiro semestre, e a coletiva Histórias das mulheres, histórias feministas, e as mostras de Gego, Leonor Antunes e Anna Bella Geiger, para o segundo. O ciclo em torno das histórias das mulheres e histórias feministas terá, além das exposições, palestras, oficinas, filmes, seminários e outras atividades. A programação pode ser acompanhada no site do MASP.
Em paralelo ao eixo temático, e na sequência das importantes parcerias que tem estabelecido, em junho o museu promove a mostra Comodato MASP Landmann: têxteis pré-colombianos. Com curadoria de Marcia Arcuri, será a primeira exposição dedicada à importante coleção arqueológica, que abarca diferentes tipologias, períodos e territórios, cedida ao museu em comodato por um período de 10 anos. A mostra terá têxteis produzidos no atual Peru entre 800 a.C. e o século 16.
Também em paralelo ao eixo temático de 2019, o MASP exibe o Acervo em transformação, exposição da coleção do museu nos cavaletes de cristal de Lina Bo Bardi. Estão ali nomes como Rafael, Gauguin, Renoir, Van Gogh, Toulouse-Lautrec, Bosch, Teresinha Soares, Claudio Tozzi, Anna Maria Maiolino, Anita Malfatti e Sonia Gomes. A seleção das obras, que podem ser localizadas por mapas impressos, passa por alterações periódicas, que permitem identificar características comuns aos trabalhos e propiciam diálogos entre os diversos artistas, assim como propor novos percursos para o visitante redescobrir a arte.
EXPOSIÇÕES 2019
Djanira: a memória de seu povo
2º subsolo - março a maio, MASP
junho –outubro, Casa Roberto Marinho, Rio de janeiro
Curadoria: Isabella Rjeille, curadora-assistente, MASP, e Rodrigo Moura, curador-adjunto de arte brasileira, MASP
Artista identificada com a segunda etapa do modernismo brasileiro, Djanira da Motta e Silva (Avaré, São Paulo, Brasil, 1914 – Rio de Janeiro, Brasil, 1979) dedicou seus 40 anos de carreira à pintura a óleo e à têmpera, ao desenho, à azulejaria e à gravura. Sua produção foi inicialmente categorizada como “primitiva” pela crítica dos anos 1940, o que resultou em um lugar problemático para a sua arte e na marginalização da artista dentro das narrativas depois construídas sobre o modernismo no Brasil. Essa mesma categorização permitiu, no entanto, que Djanira se posicionasse de maneira independente no cenário artístico, fazendo uso de seu autodidatismo como ponto de partida para se afastar de tendências dogmáticas ou escolas e para criar uma combinação única entre temática social e síntese formal. Com obras produzidas entre os anos 1940 e 1970, a mostra vai revisitar sua produção a fim de reposicionar Djanira da Motta e Silva no contexto da história da arte moderna no Brasil. Esta exposição é co-organizada pelo MASP e pela Casa Roberto Marinho, no Rio de Janeiro, para onde irá itinerar em junho. Os principais temas de sua pintura serão abordados nos diferentes núcleos da exposição – como os retratos e autorretratos (que marcam o início de sua produção); as diversões e os festejos populares; as representações do trabalho e do trabalhador; a religiosidade afro-brasileira; as diversas paisagens do Brasil e os índios canela do Maranhão.
Tarsila Popular
1º andar - abril a julho
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP, e Fernando Oliva, curador, MASP
Centrada na obra de Tarsila do Amaral (Capivari, São Paulo, Brasil, 1886 - São Paulo, Brasil, 1973), a exposição, de cerca de 120 trabalhos, propõe uma nova abordagem da produção da artista, em geral apresentada como parte da tradição modernista europeia. Sem ignorar os aspectos modernistas canônicos e formais de sua obra, o projeto busca enfatizar seus personagens, temas e narrativas, especialmente em relação a questões sociais, políticas, raciais e de classe, bem como chamar atenção para as aproximações com a arte popular e vernacular.
Lina Bo Bardi: Habitat
1º subsolo - abril a julho
Curadoria: José Esparza Chong Cuy, curador, Museum of Contemporary Art Chicago (MCA), Julieta González, diretora artística, Museo Jumex, Cidade do México, e Tomás Toledo, curador-chefe, MASP
Lina Bo Bardi: Habitat é uma exposição panorâmica, co-organizada pelo Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), Museo Jumex, Cidade do México, e Museum of Contemporary Art Chicago (MCA), que olha para a vida, a obra e o legado cultural da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi (1914–1992). Como uma imigrante italiana no Brasil, Bo Bardi entendeu que as ideias modernistas europeias não poderiam ser aplicadas na América Latina sem adaptações, contaminações e diálogos com o contexto sociocultural local. Esta percepção permitiu a ela mergulhar no contexto e no habitat brasileiro para criar uma linguagem única e radical de design, arquitetura e curadoria.
Organizada em três eixos – O habitat de Lina, Repensando o museu e Da Casa de Vidro à cabana –, a exposição irá se debruçar sobre a ampla atuação de Bo Bardi, com seus projetos de arquitetura, mobiliário e empreitadas editoriais, além de propostas pedagógicos, expográficas e curatoriais para museus e centros culturais. Os temas principais da exposição giram em torno dos projetos fundamentais da carreira da arquiteta, bem como de momentos decisivos de sua trajetória pessoal, como a chegada do casal Bardi ao Brasil, o MASP e sua radical pinacoteca com cavaletes de vidro, a Casa de Vidro, a revista Habitat, sua experiência em Salvador, na Bahia, a exposição A mão do povo brasileiro, os projetos de edifício e cenário para teatro, o SESC Pompeia e uma ampla seleção de mobiliário. Junto com a abertura, haverá o lançamento de um catálogo de 272 páginas, amplamente ilustrado, com oito ensaios acadêmicos, material de arquivo e traduções dos escritos de Bo Bardi.
Histórias das mulheres, histórias feministas
1º andar, 1º e 2º subsolo - agosto a novembro
Curadoria: Isabella Rjeille e Mariana Leme, curadoras-assistentes, e Lilia Schwarcz, curadora-adjunta de histórias
A exposição será dividida em duas grandes seções. A primeira, Histórias das mulheres, incluirá obras de diversos territórios, estilos e gêneros pictóricos, do século 16 ao final do século 19, incluindo retratos, naturezas-mortas e paisagens, além de cenas históricas e religiosas. Como diálogo e contraponto, Histórias feministas reunirá artistas de diferentes nacionalidades que trabalham no século 21 em torno das ideias de feminismo ou em resposta a elas. A exposição será organizada a partir de eixos temáticos com obras de diferentes linguagens que buscarão lançar um olhar crítico à história das mulheres e dos próprios feminismos, bem como apresentar uma reflexão sobre os projetos de futuro e imaginários que os feminismos contemporâneos propõem.
Anna Bella Geiger (título a confirmar)
2º subsolo - novembro a março de 2020
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico, e Tomás Toledo, curador-chefe
Mostra da artista carioca (1933, Rio de Janeiro, Brasil), ainda a ser detalhada.
Leonor Antunes (título a confirmar)
1º subsolo - dezembro a março de 2020
Curadoria: Amanda Carneiro
A monográfica de Leonor Antunes (Lisboa, Portugal, 1972) será realizada em parceria com o Instituto Bardi e irá ocupar dois locais de exibição, o MASP e a Casa de Vidro, ambos projetos de Lina Bo Bardi. As esculturas de Antunes dialogam com a arquitetura, o artesanato e o design locais e tomam nomes de artistas e arquitetas importantes para a história do modernismo, como é o caso de Bo Bardi. Por essa razão, os trabalhos de Antunes serão realizados especialmente para a exposição que contará também com a publicação de um catálogo, com ensaios inéditos, em português e em inglês.
Gego (título a confirmar)
1º andar - dezembro a março de 2020
Curadoria: Pablo Léon de La Barra, curador-adjunto de arte latino-americana, MASP, Julieta González, diretora artística, Museo Jumex, Cidade do México, e Tanya Barson, curadora-chefe, Museu d’Art Contemporani de Barcelona (MACBA)
O MASP, junto a Fundación Jumex, México, o Museu d’Art Contemporani de Barcelona (MACBA) e a Tate, Londres, que também receberão a mostra, organiza uma grande retrospectiva dos trabalhos de Gego [Gertrude Goldschmidt] (Hamburgo, Alemanha, 1912 - Caracas, Venezuela,1994), uma das artistas mais significativas do pós-guerra a emergir na segunda metade do século 20, na América Latina. Sua produção artística interdisciplinar variou entre a arquitetura, o design, a escultura, o desenho, a impressão, o tecido, as instalações site-specific, as intervenções nos espaços, a arte pública e a pedagogia. Por isso, a mostra vai abranger uma variedade de mídias, desde a metade dos anos 1940 ao começo dos anos 1990, de modo a dar conta da extensa produção da artista.
Formada em engenharia e arquitetura pela Technische Hochschule, em Stuttgart, Gego enfrentou a perseguição nazista em 1939, o que a levou a uma imigração forçada para a Venezuela, onde se tornou pioneira na abstração geométrica e na arte cinética, nas décadas de 1950 e 1960. A artista explorou as relações entre linha, espaço e volume em um ousado e sistemático arranjo tridimensional de esculturas de fios. Posteriormente, suas formas orgânicas, estruturas lineares e abstrações modulares tratavam, metodicamente, de noções de transparência, energia, tensão, relação espacial e movimentação óptica.
Thora Dolven Balke na Cavalo, Rio de Janeiro
No dia 24 de janeiro a Cavalo apresenta Flow, primeira individual no Brasil com trabalhos inéditos da artista norueguesa Thora Dolven Balke. Através de fotografias, esculturas e uma videoinstalação, as obras da exposição partem de uma reflexão de Thora sobre o corpo humano e suas situações de extrema vulnerabilidade. A artista trabalha desde 2012 desdobrando seus registros analógicos e digitais em trabalhos esculturais.
‘Flow’ é um estudo sobre corpos como sistemas de fluidos, intercalando registros pessoais de eventos de fragilidade e cuidado (como gravidez, parto, enfermidade, luto) com cenas de animais marinhos e moldagem de fontes. São rostos de pedra coletados do Museu do Açude e posteriormente refeitos em resina pigmentada, uma iconografia que a artista visitou frequentemente e despertava sua curiosidade desde que se mudou para o Rio de Janeiro há 3 anos.
Uma prática constante no trabalho de Thora são as fotografias Polaroid, que também expõe em sua individual. Nelas, imagens profundamente íntimas são pela primeira vez justapostas por uma moldura personalizada de silicone, simulando propriedades e sensações da pele humana. A videoescultura presente no chão da galeria exibe cenas de uma carcaça de baleia branca encontrada no extremo norte da Noruega.
Thora Dolven Balke nasceu em Oslo e começou sua carreira em 2005. Desde então exibiu constantemente na Noruega e internacionalmente. Em 2008 foi parte da exposição ‘Lights On – Norsk Samtidskunst’, no Museu Astrup Fearnley. Seu trabalho foi posteriormente apresentado como parte de ‘The Collectors’, no Pavilhão Nórdico da Bienal de Veneza de 2009. Ela foi uma das duas curadoras da bienal ‘Lofoten International Art Festival’ em 2011 e co-fundadora do espaço REKORD em Oslo de 2006 a 2010.
Através de Iberê: Francisco Dalcol e Frantz conversam na FIC, Porto Alegre
Projeto Através de Iberê discute a obra Desdobramento
O diretor do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) Francisco Dalcol e o artista Frantz são os convidados da primeira edição de 2019 do projeto Através de Iberê. Pesquisador, curador e crítico de arte, Dalcol abordará a obra Desdobramento (1978), enquanto Frantz apresentará um trabalho desenvolvido a partir de reproduções de obras de Iberê Camargo. O encontro ocorre no dia 26 de janeiro, sábado, às 16 horas, no auditório da Fundação. A entrada é gratuita.
Através de Iberê tem como ponto de partida o convite a um curador/crítico/artista/amigo de Iberê Camargo para que eleja uma obra do acervo da Fundação e a explore discursiva ou performaticamente diante do público. Durante a fala do convidado, a obra fica exposta e, mais do que uma análise histórica, são propostas questões envolvendo a vida e a obra do artista, em uma abordagem livre e exploratória nos mais diversos sentidos plásticos, narrativos ou mesmo históricos.
Ao eleger a pintura Desdobramento para observar a importância dos carretéis na obra de Iberê Camargo, Francisco Dalcol explora a presença e a recorrência deste objeto pensando-o como motivo de obsessão pelo artista. Acompanhando essa análise e reflexão, Frantz propõe um trabalho que integra o projeto Roubadas, em que se apropria de reproduções de obras de Iberê a partir de um catálogo de uma exposição dedicada aos carretéis na Fundação Iberê Camargo.
A obra
Desdobramento
Criador: Iberê Camargo
Data: 1978
Local: Rio de Janeiro
Dimensões físicas: 100 x 141 cm
Técnica: Óleo sobre tela
Coleção: Maria Coussirat Camargo, Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre
Para saber mais, acesse o verbete no Google Arts&Culture: https://artsandculture.google.com/asset/desdobramento/kAEaIWxNibUt9A
Francisco Dalcol
Pesquisador, crítico, curador, editor e jornalista. Vive e trabalha em Porto Alegre (RS). Doutor em História, Teoria e Crítica de Arte pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPGAV) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com estágio de doutoramento no exterior pela Universidade Nova de Lisboa (UNL). Também mestre em História, Teoria e Crítica de Arte, sua dissertação é resultado de um estudo sobre a institucionalização de Iberê Camargo a partir do programa curatorial e de exposições da Fundação Iberê Camargo. É membro da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA), da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) e da Associação Brasileira de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP).
Frantz
Vive e desenvolve seu trabalho artístico em Porto Alegre, com ênfase na pesquisa em pintura e suas reverberações em proposições conceituais. Sua prática artística é marcada pela apropriação de resquícios e elementos residuais, que são incorporados à sua poética, tornando-se a própria pintura. Os trabalhos dessa produção são realizados em formatos diversos, desdobrando-se em objetos, livros, instalações e mesmo quadros bidimensionais. Em sua trajetória iniciada nos anos 1980, já apresentou diversas individuais e participou de dezenas de exposições coletivas. Em 2018, foram as mostras coletivas O tempo das coisas – módulo 2, na Pinacoteca Ruben Berta de Porto Alegre; O lugar enquanto espaço, na Galeria Baró, em São Paulo; ambas com curadoria de Francisco Dalcol; Aã, na Fundação Vera Chaves Barcelos, em Viamão; e Torus, na Galeria Mamute, em Porto Alegre, estas duas com curadoria do duo ÍO.
Serviço
Projeto Através da Arte | Francisco Dalcol e Frantz
Quando: 26 de janeiro | Sábado | 16h
Local: Auditório da Fundação Iberê Camargo
Endereço: Avenida Padre Cacique, 2000, Porto Alegre, RS
Classificação indicativa: Livre
Cecily Brown na Iberê Camargo, Porto Alegre
Depois de passar pelo Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba, e Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, Se o paraíso fosse assim tão bom inaugura em Porto Alegre no dia 26 de janeiro.
A Fundação Iberê Camargo recebe no dia 26 de janeiro a exposição Se o paraíso fosse assim tão bom, da artista britânica Cecily Brown, um dos nomes de maior destaque na pintura contemporânea mundial. A abertura ocorre às 14 horas e a mostra pode ser visitada até o dia 17 de março, no terceiro andar. A entrada é gratuita.
Com curadoria de Paulo Miyada, a exposição reúne um conjunto de obras que especula sobre a ideia de paraíso. Para isso, traça diálogos com a história da arte, em contato com artistas tão diversos quanto Hieronymus Bosch, Michelangelo Buonarroti, Jan Brueghel e Peter Paul Rubens.
Cecily emergiu nos anos 90 e, atualmente, é uma das pintoras mais celebradas internacionalmente. As 16 pinturas e os oito desenhos selecionados pela artista representam a frequente reflexão sobre um assunto que a tem fascinado: o paraíso.
As obras são repletas de cor e movimento; faces – animais e humanas – espreitam os espectadores por entre véus de cor; figuras exploram o espaço pictórico e recusam-se à imobilização e fixação. Tudo está movimento, nada está assentado.
Para o curador, “Seus aspectos associáveis ao inferno (dinamismo, choque e confusão) seriam talvez bem-vindos para os cidadãos do presente, tão apaixonados pelo espetáculo de gratuidade e destruição que desfila nas velhas e nas novas mídias dia após dia, minuto a minuto”.
Sobre a artista
Cecily Brown nasceu em Londres em 1969. Seu trabalho figura em coleções públicas como Solomon R. Guggenheim Museum, Nova York; Whitney Museum of American Art, Nova York; MFA, Boston; Tate Gallery, Londres; Hirshhorn Museum and Sculpture Garden, Washington, D.C.; e National Gallery of Art, Washington, D.C..
As suas principais exposições individuais incluem mostras em museus como Hirshhorn Museum and Sculpture Garden, Washington, D.C. (2002); Macro, Roma (2003); Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madri (2004); Museum of Modern Art, Oxford (2005); Kunsthalle Mannheim (2005–06); Des Moines Art Center, Iowa (2006); Museum of Fine Arts, Boston (2006–07); Deichtorhallen, Hamburgo (2009); Kestner Gesellschaft, Hanôver (2010, itinerante para GEM, Museum of Contemporary Art, Haia); e Galleria d’Arte Moderna e Contemporanea, Turim (2014).
A artista também realizou inúmeras exposições individuais em galerias, incluindo Gagosian Gallery, Maccarone Gallery, Victoria Miro, CFA, Kukje Gallery, entre outras. Cecily Brown vive e trabalha em Nova York.
janeiro 21, 2019
Chiara Banfi + Marilá Dardot + Detanico & Lain na Vermelho, São Paulo
A Vermelho apresenta, de 22 de janeiro a 2 de março, novos projetos de Chiara Banfi e de Marilá Dardot. Essas ações fazem parte de uma série de projetos que a Vermelho receberá ao longo de 2019. São mostras que se caracterizam por apresentar recortes de pesquisa ou series especificas dos artistas do elenco da galeria. Ainda estão previstos projetos de Cinthia Marcelle, Rosângela Rennó e Marcelo Cidade para os próximos meses. Na Sala Antonio de projeção, a Vermelho exibe Timewaves (capítulo II), da dupla Angela Detanico e Rafael Lain. A exibição do trabalho ocorre paralelamente a inauguração da mostra Meterológica, individual de Detanico e Lain que ocupa o Espaço Cultural Porto Seguro, em São Paulo.
The Runout é a sétima apresentação individual de Banfi na galeria. A artista mostra um conjunto de obras que dialogam diretamente com suas duas últimas exposições na Vermelho, “Gravações perdidas”, de 2013 e Notações, de 2016.
A pronúncia do mundo, também é a sétima ocupação individual de Dardot na Vermelho. O projeto compila articulações que Dardot vem realizando com livros publicados em idiomas não dominados por ela desde 2015. As obras de A pronúncia do mundo formulam novas compreensões literárias a partir de edições publicadas em diversas línguas.
Chiara Banfi: The Runout
“Ouvir música depende do reconhecimento dos entre tons, das suas posições e espacialidade.”
Do texto Interaction of color (Interação da cor), 1963, de Josef Albers
Os displays de vinis nas agora quase extintas lojas de discos mostravam paredões com muitas capas e as vezes os próprios discos, os LPs pretos e coloridos. Via aqueles displays como desenhos, como formas, e pensava menos sobre qual a música, qual o som que aqueles discos continham.
Desenhei grupos com discos sem nada gravado e os organizei conforme as qualidades e as informações dos envelopes de papel que protegiam os discos e seus sulcos. Com isso, criei, alguns anos atrás, a série Discos vazios.
Esses trabalhos me levaram ao movimento de retirar todas as outras informações que vem com o LP, a arte das capas e as informações das gravadoras nos envelopes. Queria chegar a ausência do som, desenhando uma imagem do silêncio.
Relacionei capas e discos como um estudo de forma com pontuações de cores e os chamei de “Coleção Albers”, uma referência a Josef Albers e ao seu trabalho que explora a interação cromática entre quadrados sobrepostos.
Montei coleções de ausências com sobreposições de silêncios. São discos transparentes com algumas cores, sem som; ou, discos com o ruído final, conhecido como the runout groove: uma ranhura em espiral que sinaliza o fim. Não é música, é a sonoridade de uma memória de um som que acabou.
Chiara Banfi nasceu em São Paulo, em 1979. Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Banfi já teve seu trabalho exposto em instituições nacionais e internacionais como The National Art Museum of China (Beijing, 2018), Oi Futuro (rio de Janeiro, 2017), Instituto Tomie Ohtake (São Paulo, 2016), Museu de Arte Moderna (São Paulo, 2016), DHC/Art Foundation for Contemporary Art (Montreal, 2015), Museum of Contemporary Art San Diego (San Diego, 2013), Astrup Fearnley Museet (Oslo, 2013) e Fondation Cartier (Paris, 2005). Sua obra está presente em importantes coleções como Museu de Arte do Rio – MAR (Rio de Janeiro), Pinacoteca do Estado de São Paulo (São Paulo), Harvard University (Cambridge) e Museu de Arte Moderna – MAM RJ (Rio de Janeiro)
Marilá Dardot: A pronúncia do mundo
“Existir, humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, se volta problematizado aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar.”
Do texto Pedagogia do oprimido, de Paulo Freire, 1968
Desde 2014 tenho feito trabalhos construídos a partir de pedaços de livros. Tudo começou quando fazia uma residência em Viena. Rodeada de livros escritos numa língua que não leio, minha atenção voltou-se para suas partes, para a matéria mesma de que eram feitos. Libertos de suas palavras, daqueles livros eu lia seus corpos: capas, miolos e folhas de guarda; cores, formas e desenhos de tempos e origens diversos. Lá comecei as séries Minha biblioteca e Código desconhecido. Ao longo dos anos pedaços de livros foram se acumulando no meu atelier, e daí vieram outros trabalhos: Investigação, Antologia de Inverno, Flyleaf, A pronúncia do mundo.
Alguma vez me perguntei por que eu, amante dos livros, ousava destruí-los. Descobri que a bibliofagia, como a antropofagia, podia ser libertadora. Entendi que, para além do prazer que gozo na prática formal dessas experimentações, esses trabalhos sem palavras, mudos à primeira vista, encarnam outras potências e aberturas. Seus silêncios engendram a construção dialógica de novas narrativas, um novo pronunciar do mundo, um ato de criação.
Marilá Dardot nasceu em Belo Horizonte, em 1973. Vive e trabalha em Lisboa, Portugal. Dardot já teve seu trabalho exposto em instituições nacionais e internacionais como Galpão VB (São Paulo, 2018), Seattle Art Museum (Seattle, 2017), Pera Museum (Istambul, 2017), Museu da Cidade (São Paulo, 2016), MAC Lyon (Lion, 2014), Astrup Fearnley Museet (Oslo, 2013) David Rockefeller Center for Latin American Studies (Cambridge, 2012), 29ª Bienal de São Paulo (São Paulo, 2010) e 27ª Bienal de São Paulo(São Paulo, 2016). Sua obra está presente em importantes coleções como Pera Art Museum (Istambul), Pinacoteca do Estado de São Paulo (São Paulo) e Museu de Arte Moderna – MAM SP (São Paulo). Além disso, Dardot tem no Instituto Inhotim (Brasil) um pavilhão instalado de modo permanente com uma de suas instalações, A origem da obra de arte.
Angela Detanico e Rafael Lain: Timewaves (capítulo II)
Em Timewaves, palavras aparecem e desaparecem com o passar do tempo. O movimento, como de ponteiros de relógio, quebra a sintaxe de uma página do livro The Waves, de Virginia Woolf, criando novas leituras. O trabalho marca as horas do local onde é exibido a partir do texto de abertura de cada um dos nove interlúdios do livro de Woolf, que acontecem entre o alvorecer e o anoitecer de um dia.
Apropriando-se do texto de Woolf, Angela Detanico e Rafael Lain provocam o espectador a decifrar novos códigos provenientes da linguagem verbal. Forma e sentido pedem tempo e atenção do observador, que se torna cúmplice da construção da obra.
Angela Detanico e Rafael Lain nasceram em Caxias do Sul, Brasil, em 1974 e 1973, respectivamente.Vivem em trabalham em Paris, França. Detanico e Lain já tiveram seu trabalho exposto em instituições nacionais e internacionais como Musée de l'Abbaye Sainte-Croix (Les Sables-d'Olonne, 2018), Moderna Museet (Estocolmo, 2017), Musée des Arts Décoratifs (Paris, 2017), Garage Museum of Contemporary Art (Moscou, 2015), MAC Lyon (Lion, 2014), Astrup Fearnley Museet (Oslo, 2013) 8ª Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2011), 10ª Bienal Habana (Havana, 2009) 28ª Bienal de São Paulo (São Paulo, 2008), 52ª Biennale di Venezia – Padiglione Brasile (Veneza, 2007), 27ª Bienal de São Paulo (São Paulo, 2006), 9ª Biennale Internazionale di Architettura (Veneza, 2004), 26ª Bienal de São Paulo (São Paulo, 2004) e Palais de Tokyo (Paris, 2003/ 2002). Sua obra está presente em importantes coleções como Fonds national d'art contemporain -FNAC (Paris), Taguchi Art Collection (Japão), Cifo-Cisneros Fontanals Art Foundation (EUA) Pinacoteca do Estado de São Paulo (São Paulo), Musée des Sables d’Olonne (França) e Museu de Arte Moderna – MAM SP (São Paulo).
Pedro Moraleida no Tomie Ohtake, São Paulo
Parte da vigorosa e extensa produção de Pedro Moraleida, interrompida precocemente com sua morte aos 22 anos, em 1999, é apresentada pela primeira vez em São Paulo. Desde 2016, o Instituto Tomie Ohtake tem trabalhado para viabilizar a primeira retrospectiva do artista fora de sua cidade, Belo Horizonte.
Em Canção do sangue fervente, o curador Paulo Miyada reúne uma seleção de cerca de 200 trabalhos, de pinturas a poemas, que revelam a singularidade de uma obra que não se encaixou em nenhuma tendência e nem ao seu tempo. Com palavras, figuras, cores e traços, Moraleida construiu, segundo o curador, uma narrativa épica a partir de grandes séries povoadas de alegorias, símbolos e imagens de desejo, castração e violência. ‘Seu leme parece ter sido a decisão de se colocar em desacordo com toda sorte de consenso, fosse ele estético, moral ou comportamental”, destaca Miyada.
Os contemporâneos do artista na Universidade Federal de Minas Gerais, na década de 1990, surpreenderam-se por sua dedicação à pintura numa época tomada pelo conceitualismo e pelas instalações. “Pedro Moraleida rebelou-se contra o conformismo de sua geração e contra os atalhos ‘inteligentes’ que lhe pareciam estar em pauta no ensino da arte contemporânea. Decidiu que a arte precisava ser sempre um grito, um gozo, uma pústula, uma canção do sangue fervente. Alimentar-se de nossos desejos e traumas inconfessáveis, ao invés de polir a superfície cromada dos ambientes sofisticados”, afirma Miyada.
Nesta exposição, todo o esforço foi feito pelo curador para que as obras aparecessem com sua potência disruptiva e, ao mesmo tempo, amplamente contextualizadas pelas ideias e pulsões do artista. Entre os trabalhos estão diversos conjuntos de desenhos e pinturas, entremeados a textos, histórias em quadrinhos, listas, fotografias e poemas, com destaque para Faça você mesmo sua Capela Sistina, a mais ambiciosa de suas proposições, ocupando quase uma sala inteira. “Encontram-se do retrato passional da amizade até a escatologia visceralmente lançada sobre todo e qualquer símbolo de poder, passando por desabafos de inadequação social e por desaforos ao bom mocismo intelectualóide, com inúmeras referências ao sexo, invariavelmente combinadas com sinais de violência, mutilação e morte – obsessão por um prazer que por algum motivo permanece interditado”, ressalta Miyada. Para o curador ainda, toda provocação emanada pela obra de Moraleida foi antes de tudo vivida por ele, em uma trajetória de excessos e angústias. “Era ele mesmo quem não aceitava se assentar em qualquer senso comum ou atenuação da arte e da vida. Essa intensidade custou sua vida”.
Após a morte do artista, seus pais Luiz Bernardes e Nilcéa Moraleida convidaram o jovem professor Gastão Frota e colegas – Cinthia Marcelle, Emílio Maciel, Pedro Bozzolla e Sara Ramo – para fazer o primeiro levantamento da obra de Moraleida e a curaradoria de uma exposição que ocupou todas as salas de um antigo hospital infantil abandonado, em Belo Horizonte com uma ampla seleção de suas mais de 450 pinturas, 1450 desenhos, 400 textos e 100 experimentos sonoros.
Desde então, pesquisadores e curadores como Marcos Hill, Rodrigo Moura, Camila Bechelany, Maria Inês Coutinho, Solange Pessoa, Augusto Nunes Filho, Adriano Gomide, Walter Sebastião e Veronica Stigger debruçaram-se sobre seu trabalho em mais de uma ocasião. Ainda assim, este só circulou amplamente há pouco tempo, primeiro quando Juliana Cintra mostrou seus trabalhos, na 5ª Edição da “Exposição de Verão” da Galeria Box 4, em janeiro de 2008, no Rio de Janeiro, mas, principalmente, quando Cinthia Marcelle indicou a participação de Moraleida na mostra itinerante Imagine Brazil (Oslo, Lyon, Doha, Montreal e São Paulo, entre 2013 e 2015). No ano passado, uma mostra retrospectiva no Palácio das Artes em Belo Horizonte cativou amplo debate público.
Marcia Beatriz Granero na Darling's Attic, Reino Unido
Darling Pearls & Co convidou Márcia Beatriz Granero e Jaque Jolene para residência artística no Darling’s Attic em dezembro de 2018 para produzir um novo corpo de trabalho como parte de sua primeira exposição individual no Reino Unido. A curadora Alessandra Falbo, fã de Jaque, queria ser a pioneira nessa aventura.
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Jaque Jolene foi inicialmente relutante em aceitar o convite, devido ao clima de Londres. Márcia convenceu Jaque de que o espaço que ficaria é quente, seguro e silencioso no qual paparazzi não iria encontrá-la. Mas não foi o que aconteceu!
Darling Pearls recebeu a celebridade brasileira, que participou de muitos eventos especiais além de trabalhar em quatro diárias de filmagem e fotografias. Ela esteve nessa turnê em Londres em grande estilo!
Pining for Pearls reúne, neste contexto, três Pérolas [Pearls] [1], peças de videoarte, acompanhadas por série de fotografias que, em sua maioria, registram alguns momentos que os paparazzis perseguiram Jaque Jolene em Londres.
Marcia Beatriz Granero vive e trabalha em São Paulo como artista visual e produtora independente. Seus projetos exploram a criação do personagem Jaque Jolene, gravado em vídeos e fotografias. Jaque é o centro do trabalho, uma entidade fictícia que habita o corpo de Marcia Beatriz. A artista colabora com a criação em ações performativas que resultam em vídeos, fotografias e instalações. A linguagem cinematográfica é explorada não para minar as falácias de construções cinematográficas, mas como um dispositivo para investigação e apresentação de seus arredores.
[1] O termo vídeo Pérolas foi escolhido pela artista como desvio do termo “vídeo-pílula”.
[2] Tablóide neste caso é referência à palavra “Tabloid”, usada inicialmente por uma companhia farmacêutica inglesa quando esta começou a comercializar remédios em forma de cápsulas e, ao mesmo tempo, ao sentido da palavra adquirido no contexto do jornalismo no começo da década dos anos mil e novecentos. O “The Sun” é um exemplo atual de jornal tablóide.
Darling Pearls & Co invited Márcia Beatriz Granero and Jaque Jolene for a residency @Darling’s Attic in December (2018) to produce a new body of work as part of their first solo UK exhibition. They are an established duo in Brazil that has been collaborating in performances for over eight years. Reflections about the sites in which these take place as well as about class, gender and the self are inherent to their practice.
Jaque Jolene was initially reluctant to accept the invitation due to the London weather. After all, her country of origin is tropical. Márcia convinced her that the attic is warm and very private, a safe and silent location in which paparazzi would not find her. Márcia has also dedicated some time looking at and showing to J.J. the origin of tabloids and the news about the Royal Family as presented by Brazilian media outlets. She states that J.J. and Di would have been great friends and confidants as they are, in many ways, similar. These two have in common a history of winning the day with a hat trick!
As Jaque Jolene finally agreed to the trip, Darling Pearls is happy to announce that the speechless Brazilian celebrity is booked to attend a few special meetings. She will be touring London in style!
On December 15th there will be a meet and greet with her at Darling’s Attic. At the event, exclusive Pearls will be presented. These will be short films and photographs that document Jaque Jolene’s path and discoveries about herself in London. We’re looking forward to seeing you at the ceremony which will also include jars of Hard Christmas Candy.
A note from Alessandra Falbo, the curator:
Darling Pearls has been a fan of Jaque Jolene since she saw a couple of pieces in which she features at the event and exhibition Carnaval at Belli Fuori (London, UK)[1]. From different backgrounds, the cat and J.J. share a certain love for luxury and are constantly receiving jeweled gifts. They’ve been pining for their fabulous encounter while Márcia and I work day and night to ensure their safety in this joint venture.
[1] Belli Fuori is Darling’s favourite beauty salon. Its first branch, where Carnaval took place by Giovanna Distefano’s invitation, is located on Chatsworth Rd., just five minutes walk away from Darling’s Attic. The artworks there shown were soon also included in the exhibition Southern Revelries (Athens, Greece). And, on the following year, Darling presented a screening of three of the artist’s films at Topologies of an Ad Hoc Future (Athens, Greece). Darling reached the amazing people and businesses involved in J.J.’s exhibitions this far for help and/or advice. She has also partnered with Paper Dress Vintage, best store she’s seen in Hackney for “vintage garments sourced from the UK from 1900-80’s”, meeting, in this way, J.J.’s outfit and accessories needs. Special thank you to all of you who made J.J.’s visit possible !!!!!
Marcia Beatriz Granero is a Brazilian artist and independent producer currently based in São Paulo. Her projects explore the creation of the character, Jaque Jolene, recorded in videos and photographs. Jaque is the centre of the work, a fictional autobiographical entity who from time to time inhabits Márcia Beatriz Granero’s body. The artist collaborates with her creation in performative actions as they visit historic buildings where cultural institutions are established. These performances result in videos, photographs and installations. In them, cinematic language is explored not in order to undermine the fallacies of cinematic constructions but as a device for investigation and presentation of their surroundings. (www.marciabeatrizgranero.com)
Daniela Antonelli na Mul.ti.plo, Rio de Janeiro
Daniela Antonelli volta à Mul.ti.plo a partir de 22 de janeiro explorando diferentes elementos em sua pesquisa
Recorrendo à figuração e à mistura de cores, Daniela Antonelli exibe na Mul.ti.plo Espaço Arte, no Leblon, sua individual Las equivocaciones se págan, de 22 de janeiro a 9 de março. Casas, bonecos, árvores, pirâmides, peixes e frases surgem sobre papel e telas aguadas de nanquim criando composições que geram certo estranhamento e curiosidade. Nesta exposição, sua visão de mundo e referências aparecem de forma mais direta, em um universo que reúne cerca de 25 desenhos em pequenos formatos feitos com nanquim e pigmentos sobre papel algodão, juntos a duas telas em maior formato e alguns objetos. Os trabalhos foram selecionados dentre uma centena deles, realizados ao longo de 2018, num contexto pessoal e sócio-político de alguma luz, muitas sombras e incertezas.
Esperamos você no dia 19 de fevereiro, terça-feira, às 19h, para uma Conversa entre a artista Daniela Antonelli e o curador Felipe Scovino. Não deixe de confirmar a sua presença por email. Lugares limitados.
Foi do filme “Los Olvidados” (Os Esquecidos, 1950), do diretor Luiz Buñuel - cineasta de fundamental posição no movimento surrealista, que a artista retirou o título “Las equivocaciones se págan”, ou simplesmente “Os erros se pagam”. Trata-se aqui de uma frase dita no filme, aludindo a violenta rotina de meninos de rua na Cidade do México..
Daniela conta que nestes últimos 10 anos convergiu sua pesquisa e trabalho na busca do essencial na sua composição, explorando os limites das cores primárias, grids, pontos, traços e linhas criando composições abstratas.
“Demorei muito tempo para misturar as cores, pois não queria usá-las de maneira gratuita. Assim trabalhei durante anos com azul, vermelho, preto e amarelo separadamente. Em determinado momento percebi que era hora de experimentar as cores em conjunto. Também comecei a utilizar elementos figurativos para expressar ideias. Meu trabalho, que sempre foi abstrato, ganhou uma nova camada.
Para o curador Felipe Scovino, que assina o texto crítico da exposição, a obra de Daniela tem uma delicadeza do traço, mas ao mesmo tempo é forte, já que cai no terreno da morte, da angústia, de escolhas de vida. Ele ressalta que a exposição vai abranger as três técnicas que a artista trabalha porque existe uma relação em comum entre as obras:
“Os trabalhos conversam com questões como corpo, carnalidade, matéria e esses campos estão presentes nestes três suportes. Além do fato de que é um trabalho muito onírico, tem a ver com sonhos, experiências, questões existenciais. É uma artista muito autoral”.
Maneco Müller, sócio da Mul.ti.plo, ressalta que “o espetáculo não interessa à Daniela”:
“Daniela escolheu ser uma caminhante. No processo, ela vai criando sem ver o que há depois da curva. É uma trajetória muito singular e corajosa. Ela não está preocupada em ‘construir catedrais’, mas com o caminho e as encruzilhadas que se apresentam. Quando você acha que ela vai dobrar à direita, ela vai para a esquerda. Sempre uma surpresa, mesmo que você seja um conhecedor de suas obras. É um trabalho que leva o espectador, desde o mais culto ao mais ingênuo, a indagações. Como uma pergunta, que nos faz pensar”.
Sobre Daniela Antonelli
Rio de Janeiro. 1981. Formada em design gráfico, Daniela Antonelli desenvolve sua pesquisa no campo do desenho e da escultura. Participou de exposições coletivas, dentre as mais recentes “Elas por elas”, na galeria Mercedes Viegas, Rio de Janeiro (2018), “Molde, conversas em torno da escultura e do corpo feminino” na galeria Anita Schwartz, Rio de Janeiro (2017) e “Mues”, na Galerie 24b, Paris (2016). Participou também de salões como o Novíssimos, na Galeria de Arte Ibeu, e Abre Alas, na galeria A Gentil Carioca (2011. Realizou sua mais recente exposição individual intitulada “Telúrica” na galeria Cândido Portinari - UERJ (2016) além de ter realizado mostras individuais nas Galerias Mul.ti.plo (RJ), Mercedes Viegas (RJ) e Oscar Cruz (SP). No ano de 2013, participou da residência Residency Unlimited, em Nova York, através do Programa de intercâmbio e Difusão Cultural, com patrocínio do Ministério da Cultura. Também em 2013 foi contemplada com uma bolsa-residência na Fundação West Dean, na Inglaterra.
janeiro 20, 2019
Antonio Dias na Nara Roesler NY, EUA
Galeria Nara Roesler | New York tem o prazer de apresentar, pela primeira vez nos Estados Unidos, Ta Tze Bao (1972), obra seminal de Antonio Dias. De uma série que remete ao Watergate, a instalação composta de 14 partes empresta seu título dos jornais murais chineses, que cobriam paredes das cidades na China com slogans, denúncias e sátiras durante a Revolução Cultural Chinesa. Em Ta Tze Bao, o artista se apropria da forma como uma lente para examinar a política e o papel da mídia no Ocidente. A obra foi exibida, pela primeira vez em 33 anos, em setembro de 2018 na Galeria Nara Roesler | São Paulo, como parte do que se tornou uma exposição em memória do artistas, falecido semanas antes.
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SOBRE ANTONIO DIAS
Antonio Dias (1944– 2018) é um dos nomes mais importantes da arte brasileira no século XX, tendo conquistado reconhecimento internacional logo no começo da carreira, em meados dos anos 1960. Iniciou sua produção artística produzindo obras marcadas pelo conteúdo de crítica política na forma de desenhos, pinturas e assemblages permeados por elementos do Neofigurativismo e da Pop Art brasileiros, o que lhe rendeu o rótulo de representante da Nova Figuração brasileira e o conduziu à IV Bienal de Paris (1965), na qual recebeu o prêmo de pintura. Sua prática, no entanto, estabelece um diálogo com o legado dos movimentos concreto e neoconcreto e o impluso revolucionário da Tropicália.
A premiação da Bienal de Paris possibilitou ao artista seguir para a Europa, onde, depois de um período em Paris, acabou se estabelecendo em Milão. Ali, adotou uma abordagem conceitual, criando pinturas, filmes, vídeos, registros e livros de artista, utilizando cada uma dessas mídias para questionar o sentido da arte. Ao abordar o erotismo, o sexo e a opressão política de forma lúdica e subversiva, construiu uma obra ímpar e conceitual, repleto de elegância formal, entremeada por questões políticas e críticas contundentes ao sistema da arte. Na década de 1980, voltou novamente sua atenção à pintura, realizando experimentos com pigmentos metálicos e minerais como ouro, cobre, óxido de ferro e grafite, misturados a aglutinantes diversos. A maioria de suas obras desse período possuem um brilho metálico e contêm uma grande variedade de símbolos – ossos, cruzes, retângulos, falos – que remetem às suas primeiras produções.
Antonio Dias apresentou suas obras em mais de uma centena de exposições individuais e coletivas nas mais importantes instituições do mundo. Suas principais individuais mais recentes incluem: Anywhere Is My Land, Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo (2010), e Daros Latinamerica, Zurique, Suíça (2009-2010); e Antonio Dias – O país inventado, que itinerou por diversas instituições brasileiras entre 2000 e 2003, como o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ) e o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP). Entre as coletivas, pode-se destacar: Memories of Underdevelopment: Art and the Decolonial Turn in Latin America, 1960-1985, apresentada no Museum of Contemporary Art San Diego (MCASD), San Diego, EUA, como parte do II Pacific Standard Time: LA/LA (2017); Internatio nal Pop, Philadelphia Museum of Art, Philadelphia, e Walker Art Center, Minneapolis, EUA (2015-2016); The World Goes Pop, Tate Modern, London, RU (2015-2016); Transmissions: Art in Eastern Europe and Latin America, 1960-1980, The Museum of Modern Art (MoMA), Nova York, EUA (2015), e Made in Brasil, Casa Daros, Rio de Janeiro (2015). Participou de diversas edições de bienais, como a Bienal de São Paulo (1981, 1994, 1998 e 2010), a Bienal do Mercosul (1997, 2005) e a Bienal de Paris (1965 e 1973). Suas obras estão presentes em importantes coleções institucionais ao redor do mundo, como: Coleção Sattamini – MAC-Niterói, Rio de Janeiro, Brasil; Daros Latinamerica Collection, Zurique, Suíça; Instituto Itaú Cultural, São Paulo, Brasil; Museum Ludwig, Colônia, Alemanha; Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA), Buenos Aires, Argentina; Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), São Paulo, Brasil; The Museum of Modern Art (MoMA), Nova York, EUA; e Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil.
SOBRE PAULO SERGIO DUARTE
Paulo Sergio Duarte (n. 1946, João Pessoa, PA) é crítico, historiador e professor de arte. Estudou Filosofia na Universidade Federal do Rio de Janeiro e Ciências S ociais na Universidade Católica do Rio de Janeiro. Em 1969, mudou-se para Paris onde morou até 1978 e estudou na Universidade de Paris VII e na École des Hautes Études en Sciences Sociales. Seu primeiro texto sobre arte contemporânea foi publicado em 1973, na Art Press, n. 6, sobre o trabalho de Antonio Dias. Além de suas atividades docentes, publicou muitos artigos e ensaios sobre a arte moderna e contemporânea, dirigiu programas educacionais e culturais para o governo federal, estadual e municipal no Rio de Janeiro e foi curador de exposições no Brasil, dentre elas a 5ª Bienal do Arte do Mercosul em 2005 e o programa Rumos Itaú Cultural 2008-2009.
Galeria Nara Roesler | New York is pleased to present for the first time in the United States, Antonio Dias’ seminal work, Ta Tze Bao (1972). From a series addressing Watergate, the fourteen-part installation takes its title from the “big character posters” which covered public spaces in China with slogans, denunciations, and satire during the concurrent Cultural Revolution. In Ta Tze Bao, the artist appropriates the form as a lens to examine media and politics in the West. The work was shown in September 2018 at Galeria Nara Roesler | São Paulo for the first time in 33 years, as part of what became a memorial exhibition just weeks after Dias’ untimely death.
ABOUT ANTONIO DIAS
Antonio Dias (1944–2018) is one of the leading figures in 20th century Brazilian art, having achieved international recognition early on in his career, during the mid-1960s. His early offerings were politically-infused drawings, paintings and assemblages permeated by elements from Brazilian Neo-Figurativism and Pop Art, which earned him the status of representative of New Brazilian Figuration and got him into the IV La Biennale de Paris (1965), whose painting prize he won. His practice, however, converses with the legacy of the concrete and neo-concrete movements, as well as the revolutionary drive of Tropicália.
The Biennale de Paris prize enabled him to travel across Europe, and following a stint in Paris he settled in Milan. There, he embraced a conceptual approach, creating paintings, films, videos, documentation and artist’s books, and tapping into each of those mediums to question the meaning of art. In approaching eroticism, sex and political oppression in a playful, subversive way, he built an unparalled, conceptual oeuvre brimming with formal elegance, interspersed with political issues and scathing critiques of the art system. In the 1980s, he turned to painting anew, experimenting with metallic and mineral pigments like gold, copper, iron oxide and graphite, mixed with various binders. Most of his works from this period boast a metallic sheen and contain a wide variety of symbols – bones, crosses, rectangles, phalluses – reminiscent of his earliest works.
Antonio Dias’ work has been featured in over a hundred solo and group shows in major venues around the world. Recent solo shows include: Anywhere Is My Land, São Paulo State Art Gallery (Pinacoteca), São Paulo (2010), and Daros Latinamerica, Zurich, Switzerland (2009-2010); and Antonio Dias – O país inventado, featured in several Brazilian venues from 2000 to 2003, including the Rio de Janeiro Museum of Modern Art (MAM-RJ) and the São Paulo Museum of Modern Art (MAM-SP). Group shows include: Memories of Underdevelopment: Art and the Decolonial Turn in Latin America, 1960-1985, at the Museum of Contemporary Art San Diego (MCASD) in San Diego, USA, as part of II Pacific Standard Time: LA/LA (2017 ); International Pop, Philadelphia Museum of Art in Philadelphia, and the Walker Art Center in Minneapolis, USA (2015-2016); The World Goes Pop, Tate Modern, London, UK (2015-2016); Transmissions: Art in Eastern Europe and Latin America, 1960-1980, The Museum of Modern Art (MoMA), New York, USA (2015), and Made in Brasil, Casa Daros, Rio de Janeiro (2015). His work was also featured in several biennial shows, including the São Paulo Art Biennial (1981, 1994, 1998 and 2010), the Mercosur Biennial (1997, 2005) and La Biennale de Paris (1965, 1973). Dias’ art is in major institutional collections around the world, including: Coleção Sattamini – MAC-Niterói, Rio de Janeiro, Brazil; Daros Latinamerica Collection, Zurich, Switzerland; Instituto Itaú Cultural, São Paulo, Brazil; Museum Ludwig, Cologne, Germany; Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA), Buenos Aires, Argentina; São Paulo Museum of Modern Art (MAM-SP), São Paulo, Brazil; The Museum of Modern Art (MoMA), New York, USA; and São Paulo State Art Gallery (Pinacoteca), São Paulo, Brazil.
ABOUT PAULO SERGIO DUARTE
Paulo Sergio Duarte (b. 1946, João Pessoa, PA) is an art critic, historian and professor. He studied Philosophy at the Federal University of Rio de Janeiro and Social Sciences at the Catholic University of Rio de Janeiro. In 1969, he moved to Paris where he lived through 1978 and studied at the University of Paris VII and at the École des Hautes Études en Sciences Sociales. His first essay on contemporary art was published in 1973 in Art Press, n. 6, about (the) Antonio Dias’ work. In addition to his teaching activities, he published many articles and essays on modern and contemporary art, directed educational and cultural programs for Rio de Janeiro’s federal state and municipal government and curated exhibitions in Brazil, including the the 5th Art Biennial of Mercosur (5th Mercosur Biennial) in 2015 and the Rumos Itaú Cultural 2008-2009 program.
janeiro 15, 2019
Angela Detanico & Rafael Lain no Porto Seguro, São Paulo
Dupla Detanico Lain apresenta mostra inédita no Espaço Cultural Porto Seguro: Casal de artistas toma a linguagem como objeto e muitas vezes como tema para a criação de seus trabalhos; mostra Meteorológica tem curadoria de Rodrigo Villela e estabelece íntimo diálogo com o espaço expositivo situado no centro de São Paulo
Tomar o mundo trabalhando a partir dos próprios códigos de percepção e compreensão. Apropriar-se dos códigos e linguagens que nos cercam e deslocá-los, até mesmo subvertê-los, atribuindo a eles novas camadas de significados. Escrever sua história de um modo um tanto particular, exigindo do outro um certo estranhamento, um instante de suspensão para compreendê-la e interpretá-la. Essas são algumas das características do trabalho da dupla Angela Detanico e Rafael Lain, artistas que adotam a linguagem como tema e objeto de sua obra. A partir de 19 de janeiro de 2019, o casal apresenta Meteorológica, mostra realizada no Espaço Cultural Porto Seguro, em São Paulo.
Com curadoria de Rodrigo Villela, a exposição apresenta ao público paulistano um conjunto de 14 trabalhos, a maior parte deles instalações inéditas, criadas a partir das mais variadas linguagens artísticas. Vídeos, textos, animações, objetos, esculturas e instalações se combinam, levando o visitante a refletir não apenas sobre temas diversos, mas sobre o processo mesmo de reflexão e constituição do conhecimento.
"Dotados de um formalismo rigoroso, a dupla Detanico Lain parte de uma pesquisa de representação para a criação de uma linguagem ao mesmo tempo rica de significados e repleta de poesia", afirma o curador. "Nesta exposição, muitos dos trabalhos dialogam diretamente com o nosso espaço. O percurso, por si só, possui uma narrativa própria. A mostra ganha corpo e reverbera na dimensão do aqui e agora", completa.
Em uma área do Espaço Cultural Porto Seguro que é ao mesmo tempo interna e externa, um trabalho site-specific já enuncia a mostra da dupla e instiga a curiosidade de quem passa pela rua. No corredor envidraçado e panorâmico que conecta dois dos pavimentos do centro cultural, colunas de larguras diversas em vinil preto sucedem umas às outras. A alternância entre transparência e opacidade traz ritmo à entrada da luz no espaço e também entre o dentro e o fora. As faixas de diferentes larguras são na verdade um alfabeto criado pelos artistas e apresentam ao público o título da exposição: Meteorológica.
"O nome da mostra vem de um tratado homônimo de Aristóteles, em que o filósofo grego fala das coisas físicas do mundo natural. São teorias criadas pela observação e descrição dos fenômenos físicos, materiais, do planeta. Essa é uma ideia que permeia toda a exposição", afirma Angela Detanico. "Nós tentamos criar nessa mostra um microcosmo. Nesse sentido, fazemos referência também ao Japão, adotando uma concepção japonesa do jardim, marcado por um espaço reduzido, mas que evoca a paisagem das montanhas, dos mares, do oceano", completa Rafael Lain.
Logo na entrada principal do espaço expositivo, sobre uma parede inclinada, a projeção de Cachoeira do céu (2018), vídeo que parte do procedimento de "alongar" verticalmente os pixels de uma fotografia digital do céu, desenhando sobre o suporte uma cachoeira de luz. Em seguida, o visitante se depara com Da luz ao paraíso (2018), escultura em aço patinável que traz um percurso gráfico entre os dois bairros paulistanos, configurado conforme sua topografia e seguindo um trajeto afetivo, opção de caminhada dos dois artistas, que já viveram em São Paulo, por lugares de que gostam ou guardam na memória. À frente, Analema (2015) poema escrito na forma de um calendário infinito, em que cada letra corresponde a um dos 365 dias do ano. O percurso da escrita na parede remete à figura que simboliza o infinito.
Na mesma sala, Ulysses (2017), uma animação construída com o texto do romance homônimo de James Joyce. As palavras se combinam e dão forma a uma silhueta humana, que parece caminhar, apesar de estar fixa em um ponto único. A história avança a cada passo do personagem - a sequência de passos revelando a sequência de frases. Uma jornada tal qual a de Leopold Bloom, protagonista do autor irlandês, que ao longo de 18 horas transita pelas ruas de Dublin de 1904.
No mezanino, Nuvens de são paulo (2018), vídeo projetado em uma das paredes que traz um poema de Memórias sentimentais de João Miramar, romance marco do modernismo brasileiro, obra-prima de autoria de Oswald de Andrade. Com diferentes graus de desfoque, as palavras flutuam no ar e e aos poucos esvanecem.
Ao seu lado, 28 luas (2014), vídeo de 28 minutos que traz o ciclo de 28 dias da lua formado por frases do livro Sidereus nuncius, livro do século XVII, de Galileu Galilei. A obra é considerada o primeiro tratado científico baseado em observações astronômicas realizadas com um telescópio, com uma descrição minuciosa da superfície da lua. As frases aparecem e desaparecem em um movimento de foco e desfoco, que recria a experiência da observação de um corpo celeste através de uma luneta.
Sob os céus, o mar. Formada com minúsculos grãos de sal, a instalação Onda (2010) apresenta a própria palavra que lhe dá título por meio de um alfabeto criado pela dupla. De forma metalinguística, a nova linguagem é caracterizada por ondas de diferentes comprimentos. No sistema inventado pelos artistas, a letra A, por exemplo, é uma onda curta, um pequeno suspiro. Já a letra Z, no fim do alfabeto, é uma onda larga, mais longilínea. No caso da obra, quatro curvas concretizam a palavra onda.
No subsolo do Espaço Cultural Porto Seguro, o visitante se depara com Quadrado branco, traduções visuais e em movimento de três poemas do japonês Kitasono Katue, um dos mais importantes poetas de vanguarda do Japão – Espaço monótono, Un autre poème e Gestalt do branco.
Mares da lua (2018) é uma videoinstalação em que os nomes como Mar da Tranquilidade, Mar da Chuva, Mar das Ilhas, e assim por diante, são projetados sobre o chão. Os termos designam planícies basálticas que, vistas da terra, formam manchas escuras na superfície da lua – onde, por algum tempo, pensou-se que houvesse água. Como gotas, pequenos feixes de luz mancham o piso em círculos de pedriscos brancos, que enunciam cada um dos "mares", pouco a pouco, quase como um sussurro, ao mesmo tempo em que remetem aos jardins japoneses da tradição zen budista.
Pintura mural sobre um fundo preto, Alguma coisa está fora da ordem (2018) traz a frase que dá título à obra escrita segundo o sistema "timezonetype". Criado em 1802 pelo astrônomo e físico norte-americano Nathaniel Bowditch, o sistema associa uma letra do alfabeto a cada uma das 24 divisões de fuso horário do globo. Na obra, o resultado é um novo mapa-múndi, mescla de familiaridade e estranhamento com a representação cartográfica do planeta Terra.
Não por acaso, logo ao lado, Ruído branco (2007), vídeo apresentado por Detanico Lain na Bienal de Veneza. A obra toma uma imagem fotográfica feita por satélite da floresta amazônica, que vai sendo apagada gradualmente. Aos poucos, a mata é tomada por pontos brancos, até desaparecer, ao mesmo tempo em que o aumenta o "ruído branco" da instalação – termo usado para designar sons que o ouvido humano não consegue distinguir como portadores de algum significado, ou cuja fonte não pode ser identificada.
Na última sala da exposição são apresentados os principais registros documentais da produção da dupla: vídeos especialmente desenvolvidos para a exposição e catálogos das principais exposições mundo afora, que acabam por dar a dimensão do trabalho, explorando as relações artísticas do casal com o Brasil.
Por fim, já no pátio externo, duas obras: Percurso (2018), escultura metálica construída mais uma vez por um dos códigos concebidos pela dupla. A palavra que a intitula ganha forma a partir de um sistema de equivalência entre barras metálicas e a ordem alfabética. Na fachada do prédio, Entre o ontem e o amanhã (2018) uma grande instalação de neon que chama a atenção para seu traçado irregular: é o registro gráfico, tridimensionalizado pela dupla, da linha de fuso horário que determina a mudança de data no calendário, passando de um determinado dia para o seguinte. No mesmo mundo, na mesma hora, nesta linha imaginária é possível que o ontem conviva com o amanhã.
Para Rodrigo Villela, curador da mostra, "a poética da dupla se dá tanto pela abordagem frontal como pelas temáticas contundentes – ao tratar de questões universais de maneira tão peculiar, os artistas transformam conceitos muitas vezes eruditos em obras de uma força visual potente, que dialogam com diferentes tempos, geografias, histórias e literaturas. Vem daí muito da força e do interesse que despertam", aponta.
SOBRE A DUPLA
Angela Detanico e Rafael Lain trabalham juntos desde 1996. Semiologista e designer gráfico, nascidos respectivamente em 1974 e 1973, em Caxias do Sul (RS), moram e atuam em Paris. Seus trabalhos, em grande parte conceituais, mesclam gráficos, textos, sons e vídeos, quase sempre imbuídos de referências científicas, matemáticas e literárias.
"A gente só diz que um trabalho acontece quando os dois se apropriam muito de determinado processo, e isso passa por diálogos e discussões muito intensos. É uma pesquisa que nasce da curiosidade pelo mundo. Pesquisamos para tentar dar conta do mundo em que a gente vive por meio da arte", afirma Detanico. "Mesmo que seja uma prática artística, o percurso é realmente filosófico", completa Lain.
Em 2002, a dupla participou de uma residência artística na capital francesa, no Palais de Tokyo. Dois anos depois, venceu o Nam June Paik, um dos mais prestigiados prêmios internacionais. No mesmo ano, em 2004, Angela e Rafael participam da Bienal de São Paulo, feito que se repete nas duas edições seguintes, em 2006 e 2008. Nesse meio tempo, em 2007, representaram o Brasil na 52ª Bienal de Arte de Veneza.
Ainda em Paris, a dupla deu início a um projeto de colaboração com dois coreógrafos de Quioto, o que rendeu ao casal algumas temporadas no Japão, e, consequentemente, a participação em bienais e exposições pelo país asiático, dotando-os de certa intimidade com a cultura japonesa, algo hoje refletido em sua produção e, mais especificamente, na mostra Meteorológica.
"A exposição começou a ganhar forma depois de nossa visita ao espaço. Os desníveis, que para muitos poderiam soar como um desafio, nos permitiram diferentes pontos de vistas e sugeriram uma topografia para a ideia que tínhamos em mente, a de construção de uma paisagem artificial, da racionalização do ambiente natural, tal qual um jardim japonês", afirma Lain.
No Brasil, o casal já participou de uma série de exposições coletivas, a exemplo de Ready Made in Brasil (2017), no Centro Cultural Fiesp, em São Paulo; e Manifesto Gráfico (2017), no próprio Espaço Cultural Porto Seguro. Entre as individuais, uma série delas na Galeria Vermelho, que os representa; e Alfabeto Infinito (2013), realizada na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre.
janeiro 11, 2019
Palavras Somam no MAB FAAP, São Paulo
Mostra abre ao público em 17 de janeiro, com obras do acervo do museu e de artistas convidados, em uma homenagem à arte e à resistência dos artistas no exercício de sua liberdade e força política
O MAB FAAP joga luz sobre a presença e a potência da palavra nas artes visuais com a exposição de longa duração Palavras Somam, que inaugura a programação de 2019. A partir do dia 17 de janeiro, o público poderá conferir cerca de 80 obras que compõem o acervo do museu, além de produções de artistas contemporâneos convidados.
Ainda dentro da proposta curatorial, haverá um núcleo temporário que contará com obras de artistas que irão se revezar ao longo do ano, como forma de incentivar as discussões, as relações e a dinâmica entre as obras. Walmor Corrêa e Beth Moysés, no primeiro semestre, apresentam trabalhos que subvertem a dor de mulheres que sofreram algum tipo de violência e transformaram o sentimento em arte; Regina Parra e Rosana Paulino, no segundo semestre, expõem obras que discutem o lugar da mulher na sociedade.
A exposição tem curadoria de Laura Suzana Rodríguez e retrata um amplo período da história da arte brasileira - desde a década de 1940 até os dias atuais. "A palavra sempre está presente na obra, mesmo que seja no título, para somar outros sentidos e possibilitar outras leituras", explica a curadora. Isso pode ocorrer também a partir de uma interferência poética, na crítica ferrenha ao status quo, na criação de uma grafia própria e indecifrável que instiga o observador ou nos textos que ampliam o sentido da obra.
"A palavra é usada também como forma de registrar a presença dessas obras na coleção. As obras penduradas em painéis de acrílico têm a função de exibir o seu verso com as inscrições originais feitas pelo artista que codificam as informações sobre a obra", explica Laura.
Arte Postal
No conjunto de obras do acervo apresentadas na exposição haverá ainda um núcleo de arte postal das décadas de 1970 e 1980 de artistas atuantes durante a ditadura, além de obras mais recentes puramente textuais ou nas quais a linguagem e a comunicação são parte fundamental no processo artístico.
Grande parte dos trabalhos expostos foram enviados (por correio) ou doados pelos artistas ao MAB FAAP por ocasião da exposição Arte Novos Meios/Multimeios - Brasil 70/80, realizada em 1985 pela curadora e docente Daisy Peccinini.
Também chamada de Mail Art ou Arte Correio, a prática artística internacional ganhou projeção entre as décadas de 1970 e 1980 no Brasil, quando diversos artistas passaram a se valer dos correios e outros sistemas de circulação em seus trabalhos. "Enviadas para todo o mundo, por vezes ganhando intervenções a cada novo destinatário e por outras retornando ao seu próprio remetente, as obras criaram uma rede comunicativa de informações e afetos entre seus autores", finaliza a curadora.
Gratuita, a exposição fica em cartaz até 15 de dezembro de 2019.
janeiro 10, 2019
Leila Danziger na Caixa Cultural, São Paulo
A exposição individual Navio de Emigrantes de Leila Danziger, em cartaz na Caixa Cultural São Paulo de 15 de janeiro a 31 de março de 2019, com curadoria de Raphael Fonseca e produção de Anderson Eleotério, convida o visitante a uma experiência expandida do espaço do arquivo e tem como ponto de partida memórias da família da artista, ampliando-se na construção de narrativas da memória coletiva e reconfigurações geopolíticas.
A mostra reúne duas grandes séries, intituladas “Navio de Emigrantes” e “Mediterrâneo”. A primeira série parte das listas de passageiros de quatro navios que chegaram ao porto do Rio de Janeiro entre 1935 e 1939, trazendo refugiados do nazismo. O levantamento dos documentos foi desencadeado por lembranças afetivas da artista (o pai e avós de Leila escaparam da Alemanha nazista a bordo do navio Aurigny). A segunda série parte de material encontrado na internet acerca daqueles que nos últimos anos tentam fugir do Oriente Médio e da África, atravessando o Mar Mediterrâneo.
“A pintura ‘Navio de Emigrantes’, de Lasar Segall (c. 1939/41, óleo s/ tela, 230 x 275 cm) que retrata a viagem de famílias ou solitários fugindo, num navio, da guerra, fome e miséria de sua terra natal, é crucial neste projeto”, destaca Raphael Fonseca. “A obra, uma das referências do modernismo, orienta os dois eixos da exposição: um que diz respeito à sobrevivência, o início de uma nova vida em um novo país; e o outro à incerteza, uma vez que os refugiados retratados na pintura encontraram um navio, mas não sabemos se encontrarão um porto”, explica o curador.
Em torno desses eixos, são apresentadas séries de imagens realizadas a partir de operações de apropriação, transferência, deslocamento e ressignificação dos documentos. Segundo a artista, “na exposição busquei construir uma cartografia sensível, a partir da memória dos sobreviventes, assim como, dos vestígios dos náufragos e desaparecidos”.
“Ao se apropriar, deslocar e ressignificar imagens e textos oriundos de arquivos de história, da história da arte e da mídia em geral, a exposição contribui decisivamente para a elaboração de novas narrativas históricas, baseadas em horizontes locais, mas pensadas a partir da nova configuração geopolítica internacional”, avalia o curador.
Apresentando a produção mais recente de Leila Danziger, em diálogo com a obra de Lasar Segall, a mostra "Navio de Emigrantes" atesta a atualidade do artista (falecido em agosto de 1957), evidenciando e rendendo homenagem aos 60 anos de sua morte. Em seu processo de trabalho, Leila desenvolve ações de inscrição e apagamento, tendo a página impressa e o documento histórico no centro de sua produção artística, orientada pela interface entre arte e história desde a década de 1990. Com 25 anos de produção ininterrupta, a artista assume a escrita da história, consciente de que esta tarefa não cabe apenas ao historiador, mas também ao artista.
"Navio de Emigrantes", ao propor o cruzamento entre presente e passado, reforça a dimensão histórica dos fatos recentes e contribui para que o visitante seja especialmente sensibilizado para uma importante reflexão sobre as políticas da memória na contemporaneidade e contribui para o conhecimento da história da arte no Brasil.
Com patrocínio integral da Caixa e produção da Adupla Produção Cultural, a exposição apresenta um conjunto inédito de obras gráficas e vídeos construindo uma narrativa visual em que imagem e palavra (escrita e sonora) problematizam-se mutuamente. A exposição conta também com duas gravuras da série “Emigrantes” de Lasar Segall, reimpressas pelo Museu Lasar Segall, São Paulo, reforçando o diálogo da artista com a obra do modernista lituano-brasileiro.
SOBRE A ARTISTA
Leila Danziger – Artista visual, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisadora do CNPq. Graduou-se em Artes pelo Institut d’Arts Visuels, Orléans, França. Doutora em História, PUC-Rio, com pós-doutorado na Bezalel Academy of Arts and Design Jerusalém, Israel. Ultimas mostras: “Ao sul do futuro” (individual), Museu Lasar Segall, São Paulo (2018); “Hiatus”, Memorial da Resistência, São Paulo (2017); “Livres uniks, Topographie de l’art”, Paris (2017); “Mémoire des livres”, Galerie Dix9, Paris (2016); “ComPosições Políticas”, Centro de Arte Hélio Oiticica, RJ (2016); “Asas a raízes”, CAIXA Cultural Rio de Janeiro (2015); “Há escolas que são gaiolas e há escolas são asas”, MAR, RJ (2014); “O que desaparece, o que resiste” (individual), Funarte BH (2014).
Celina Portella na Caixa Cultural, São Paulo
A Caixa Cultural São Paulo inaugura na terça-feira, dia 15 de janeiro de 2019, às 19 horas, a mostra individual Reunião – Celina Portella. A mostra com patrocínio integral da Caixa, tem curadoria de Daniela Labra e apresenta uma seleção de vídeos e fotografias dos últimos 10 anos da artista, evidenciando a forma original e inusitada como ela vem operando no ambíguo campo chamado multimídia.
Dentre o conjunto de obras que serão apresentadas, destacamos a videoinstalação “Derrube” (2009), em que Celina interage com seu duplo em escala real e o tríptico de vídeos “Deságua” (2014). A série “Quadros Cortados” (2015), com fotografias do corpo emolduradas em formatos irregulares, por sua vez, adentra o campo da escultura. Já nas fotografias da série “Dobras” (2017), cujo tema, entre outras coisas, aborda as articulações do corpo, a artista estabelece relações formais com o espaço expositivo, tomando partido da arquitetura da sala para sua instalação. Na série “Puxa” (2015–2016), Celina também extrapola o campo visual da moldura ou o limite visual determinado por ela, criando tensão entre as cordas representadas nas fotografias e aquelas que, de fato, ocupam o espaço real e se conectam materialmente ao espaço. Na foto-instalação “Fotonovela da opressão” (2018), Celina parte da experimentação e interação entre pintura e imagem para criar uma narrativa com seis fotografias em que sua retórica corporal parece reagir ao avanço da tinta sobre o vidro dos quadros.
Segundo Daniela Labra, Celina cria roteiros para o corpo nos espaços e tempos inventados por si mesma, procedimento relacionado ao âmbito da dança, meio por onde ainda transita. Para a curadora, as ideias da artista se materializam nas galerias de arte e museus numa pesquisa híbrida, sendo esta exposição uma grande oportunidade para adentrarmos em seu universo de diversas narrativas ficcionais feitas de imagem, movimento, objetualidade, gesto e performance.
“Embora as maiores referências da Celina venham de situações observadas na rua e da vivência coreográfica, sua pesquisa se aproxima à de artistas conceituais e performáticos como Bruce Nauman e Dan Graham, que experimentaram o esgarçamento e sobreposição do tempo e imagem na vídeoarte dos anos 1960-70”, escreve Daniela Labra em texto de apresentação da mostra.
SOBRE A ARTISTA
Celina permeia o universo das artes plásticas e da dança, estabelecendo diálogos entre arquitetura, cinema, performance e ultimamente escultura. Utilizando frequentemente o próprio corpo como objeto de experimentações, caracteriza sua pesquisa nos campos da representação do corpo e sua relação com o espaço. A artista combina práticas quase artesanais em vídeos e fotografias que desafiam características de cada suporte e a percepção por parte do observador.
Recebeu indicação aos prêmios ICCO/SP-Arte 2016; EFG Bank & Art-Nexus, na SP-Arte 2015 e Pipa 2013 e 2017. Foi premiada na XX Bienal Internacional de Artes Visuales de Santa Cruz, na Bolívia, em 2016, e no II Concurso de Videoarte da Fundaj, em Recife, 2008. Foi contemplada pela Bolsa do Programa de Estímulo à Criação SEC + Faperj, em 2016; pelo I Programa de Fomento a Cultura Carioca, 2013 e com a Bolsa de Apoio a Criação da SEC/RJ, 2012. Participou das residências artísticas Bag Factory Artists’ Studios em Joanesburgo, Centre Récollets em Paris, LABMIS em São Paulo, entre outras.
De participações em mostras coletivas, destacam-se a Frestas Trienal de Artes, no Sesc Sorocaba, 2017; III Mostra do Programa de Exposições CCSP, 2012 e Nova arte nova, no CCBB-RJ e SP, 2009. Como bailarina e cocriadora trabalhou com os coreógrafos Lia Rodrigues e João Saldanha.
Celina é carioca e vive atualmente em São Paulo. Estudou design na PUC-Rio e se formou em artes plásticas na Université Paris VIII.