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abril 27, 2018
Chiara Banfi na Silvia Cintra + Box 4, Rio de Janeiro
Aquele Disco é o título da quarta individual que a artista Chiara Banfi apresenta na galeria. A mostra, como toda a obra da artista, explora as relações entre memória, música, som e natureza. Desta vez, a pesquisa se baseia nas capas dos discos de vinil e a relação afetiva que elas acabam criando com o público ao longo do tempo.
A série Capas, formada por cinco trabalhos, consiste em três tipos de capas que são comuns na indústria da música. A capa simples, que se resume apenas a capa e contracapa, a capa dupla que tem também duas outras capas internas e a tripla, com mais quatro espaços para se trabalhar a imagem. Este trabalho de Chiara trata justamente desse processo industrial antes da capa virar capa. A escolha da imagem, o conjunto dessas imagens e a criação do objeto final.
Todas as imagens são de plantas, encontradas aleatoriamente na natureza. A partir delas, a artista manipula a geometria natural do desenho dos veios, das marcas e das cores e propõe uma nova leitura dessa imagem enquanto capa de disco, restrita a um espaço de 31x31cm. A capa vira o sujeito do disco e não mais o artista ou a gravadora.
Faz parte ainda da exposição a série Aquele Disco. São frottages de giz de cera branco sobre papel de algodão preto, onde em cada folha temos um disco, sua capa e o seu envelope. Esses desenhos “congelam” para sempre a memória de um disco, a lembrança de uma época ou de uma canção.
Pedro David na Gávea, Rio de Janeiro
Mostra apresenta obras de diferentes períodos do artista, com esculturas e vídeo inéditos
O premiado artista mineiro Pedro David inaugura a exposição Extração Inframundo na Galeria da Gávea, no dia 5 de maio. A sua segunda exposição individual na galeria percorre seis anos da trajetória do artista que busca em sua produção artística interpretar as relações entre o homem e o seu ambiente por meio de diversas vertentes da fotografia.
A exposição reúne cerca de 27 de fotografias, em preto e branco e cor , em diferentes formatos, das séries 360 metros Quadrados, Terra vermelha, Madeira de Lei, e como desdobramentos desta última – o vídeo Campo Clone, e sete esculturas em bronze e cimento da série Ossos, apresentados pela primeira vez ao público. A exposição Extração Inframundo relaciona trabalhos originários de duas situações nas quais o artista atinge a sua maior produtividade: viagem física ao interior do país e viagem interior ao redor do seu cotidiano.
A série Madeira de Lei dá uma guinada na questão ambiental na obra do artista. Nas fotografias não se veem pessoas, mas sim as árvores remanescentes do Cerrado em um ambiente totalmente modificado. Infindáveis campos de eucalipto, encarceram os últimos exemplares de mata nativa, protegidos por lei do corte, mas não da secura que o eucalipto impõe. Premiada no Conrado Wessel, Arte Pará, Situações Brasília, e Itamaraty de Arte Contemporânea, a série mostra parte do processo de obtenção, em larga escala de carvão vegetal, material de suma importância para a fusão, em alto forno, com o minério de ferro para obtenção de aço.
Pedro conta que “no ciclo de renovação e morte que estas árvores enfrentam, suas perdas podem ser vistas nos galhos que jazem a seus pés”. O artista inquieto aproveita estes achados para dar continuidade à sua pesquisa, transformando os galhos encontrados nas esculturas da série Ossos. A partir de modelos colhidos nas plantações de eucalipto, o artista secciona-os na serra de fita e entrega-os à fundição para que sejam realizados os moldes de cera perdida e fundidos em bronze.
Na série Terra Vermelha, a objetividade cede lugar à abstração. O fotógrafo retrata nesse trabalho os rastros violentos que as retro escavadeiras deixam na terra. Estes registros brutos são encontrados nos lotes dos vizinhos do artista, que para terem terrenos planos modificam a sua superfície, fazendo o uso de terraplanagem, e expondo, involuntariamente, as entranhas da terra.
A retro escavadeira, a ferramenta magistralmente utilizada como instrumento de registro pelos artistas norte americanos Michael Heizer, Robert Smithson, e outros expoentes da Land Art, norte-americana dos anos 60, passam pelas ruas do bairro Vale do Sol, no subúrbio de Nova Lima – MG, onde Pedro David mora desde 2009, gerando indesejados Earthworks.
A localidade é rodeada por grandes minas de ferro e por um urbanismo ainda pueril. Pedro interessado em investigar subjetivamente os minerais extraídos, e pensar em todos os aspectos sociais, ambientais e econômicos desta extração, almeja transmitir, com suas imagens, a sensação de violência, de degradação e decadência, que em plano fechado e com pouca referência de escala, trazem à vista as suas fotografias.
O título Terra Vermelha faz referência à cor predominante do minério de ferro bruto. Algumas fotografias desta série foram incorporadas, no início de 2018, ao acervo da Biblioteca Nacional da França.
Em 360 Metros Quadrados, O artista registra a construção do seu mundo particular, ficcional mas verossímil, em uma viagem minúscula em proporções geográficas, mas profundas em significados, dentro dos limites do terreno da sua casa. Esta série foi criada entre 2012 e 2017, com auxílio do Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia e da Bolsa Residences Photoquai, concedida pelo Museu Quai Branly, da França.
A série representa uma mudança de direção no enfoque do seu trabalho. Com a constatação de que nada poderá impedir a escalada de destruição no meio ambiente, Pedro resolve dar vazão a uma necessidade pessoal de experimentar intensamente a liberdade de expressão e criatividade dentro do seu ambiente pessoal. Segundo Pedro, “é o registro de um mundo impossível, mas ainda sonhado”, com tomadas diretas de objetos encontrados, combinados ou construídos, e cenas casuais ou projetadas. As fotografias foram realizadas em película instantânea de grande formato, chapas Polaroid 55. Um filme outrora muito utilizado por artistas, mas hoje extinto. Algumas fotografias desta série estão em cartaz na exposição coletiva Feito Poeira ao Vento, no MAR, com curadoria de Evandro Salles.
Pedro David nasceu em Santos Dumont/MG em 1977. É formado em jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica – PUC-Minas e cursou pós-graduação em artes plásticas e contemporaneidade na Escola Guignard, Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG.
Dedica-se a interpretar, através de diversas vertentes da fotografia, as relações entre o homem e seu ambiente.
É autor dos livros Fase Catarse (Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, 2104); Rota Raiz (Tempo D’Imagem, 2013) e O Jardim (Funceb, 2012); e co-autor do livro Paisagem Submersa (Cosac Naify, 2008).
Participa de coleções de arte privadas e públicas, dentre elas: Coleção Joaquim Paiva – MAM-RJ; Musée du Quai Branly, Paris/FR; Palácio do Itamaraty, Brasília/DF; Museu de Arte Moderna de São Paulo, MAM/SP; Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul – MACRS, Porto Alegre/RS; Museu de Arte de Santa Catarina, Masc, Florianópolis/SC; Noorderlicht Photography, Groningen/NL; Museu Casa de Guimarães Rosa, Cordisburgo/MG; Museu Mineiro, Belo Horizonte e Coleção Pirelli/ MASP de Fotografias, São Paulo/SP.
Foi contemplado com o Prêmio Iberoamericano Nexo Foto (2014); Prêmio Fundação Conrado Wessel de Arte (2013); Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia (2012); Prêmio Situações Brasilia de Arte Contemporânea (2014 e 2012) Prêmio Itamaraty de Arte Contemporânea (2013 e 2012); Prêmio Especial do 31º Arte Pará (2013); Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger (2011); Prêmio União Latina – Martín Chambi de Fotografia (2010) e Prêmio Porto Seguro Brasil de Fotografia (2005).
Realizou as seguintes exposições individuais: 360 Metros Quadrados, nas galerias Blue Sky (Portland – EUA, 2015) e Astarté (Madri – Espanha, 2014); Sufocamento, no Museu Provincial de Bellas Artes Frankin Rawson (San Juan – Argentina, 2014); Fase Catarse, no Museu Mineiro (Belo Horizonte – MG, 2014), nas galerias, Gávea (Rio de Janeiro – RJ, 2014) e Casa da Luz Vermelha (Brasília – DF, 2014) e no Centro Cultural Sesi Fiemg (Outro Preto – MG, 2015); Além de O Jardim, Homem Pedra, Rota Raiz e Paisagem Submersa, que tiveram várias montagens nacionais e internacionais.
Participou de exposições coletivas, festivais e salões de arte contemporânea como: Changing Landscapes - American Art Museum - Washington D.C. - EUA; Fotofest – Houston /EUA; Photoquai, Paris/FR; I Bienal de Fotografia do MASP, SP; Memento Mori, Santo Domingo/República Dominicana; Esquizofrenia Tropical, Photo España, Madri/ES; Iberoamericanos, Cebtro Cultura de Espanha, La Paz/Bolívia; O Espaço que Guardamos em Nós, Museu da Imagem e do Som – MIS, São Paulo/SP; Geração 00 – A Nova Fotografia Brasileira, Sesc Belenzinho, São Paulo/SP; Cinquième Biennale Internationale de la Photographie et des Arts Visuels de Liège, Mammac/BE; Arte Pará, Museu do Estado do Pará, Belém/PA e Salão Nacional Victor Meirelles, Museu de Arte de Santa Catarina, Florianópolis/SC.
abril 26, 2018
Cristina Huggins e Marcelo Silveira na Torre Malakoff, Recife
Uma investigação de Marcelo Silveira e Cristina Huggins sobre a memória
Dupla lança, no próximo dia 2 de maio, o livro Ouvi dizer... e abre exposição homônima na Torre Malakoff
No próximo dia 2 de maio, o artista Marcelo Silveira e pesquisadora Cristina Huggins lançam, às 19h, o livro Ouvi dizer..., na Torre Malakoff. A publicação, patrocinada pelo Funcultura, marca a conclusão de uma sequência de projetos interligados que vêm sendo desenvolvidos pelos dois desde 2013. Trata-se de uma documentação simbólica dos dois projetos anteriores (Você lembra da Escada da Felicidade? e Nomes), que têm como fio condutor a memória e que se relacionam com a comunidade do Alto do Cruzeiro, em Gravatá, onde Marcelo mantém um ateliê há mais de 30 anos. O livro, cujos exemplares terão capas feitas num processo manual de encadernação, por um grupo de pessoas da região, terá tiragem reduzida e será distribuído para instituições culturais e educacionais.
Além do lançamento da publicação, os artistas organizaram uma mostra, que fica em cartaz até 27 de maio, também intitulada de Ouvi dizer..., na qual apresentam – pela primeira vez ao público recifense – um recorte do que foi produzido nos dois projetos anteriores. A ideia é transformar o espaço expositivo no próprio livro. “A exposição seria o esqueleto e a vestimenta seria o livro”, pontua Cristina Huggins.
Você se lembra da Escada da Felicidade? Foi o ponto de partida de todo esse processo. O projeto, ligado à área de arte e patrimônio e patrocinado pelo Iphan, tinha como objetivo reavivar a história da escadaria construída, em 1953, com o intuito de facilitar o acesso ao Alto do Cruzeiro. Os autores procuraram ouvir moradores que haviam presenciado a construção da escadaria e outros que tiveram um contato mais recente com ela. A todos foi feita a mesma pergunta: “Você se lembra da Escada da Felicidade?”. A proposta era discutir a acessibilidade das pessoas ao patrimônio. O patrimônio é delas? É do estado? Como eles percebem isso? Por que quando elas se aborrecem com o estado, muitas vezes, expõem seu descontentamento destruindo o patrimônio?
A partir dessas respostas, Marcelo e Cristina produziram uma série de lambe-lambes que foram espalhados pela comunidade do Alto do Cruzeiro, algumas serigrafias, e um grande painel de madeira articulado com as fotos e depoimentos dos 12 entrevistados. Esse material foi exibido no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, entre maio e junho de 2014, e, em Gravatá, por meio de totens, em vários pontos da cidade; em ações educativas, em escolas do município, e atingiu a culminância em uma noite expositiva, no Bar do Biu, no Alto do Cruzeiro.
Mas a riqueza dos depoimentos e das histórias que eles descobriram no Alto do Cruzeiro os empurrou a levar adiante o trabalho. “Muitas vezes nós passávamos uma tarde inteira conversando com as pessoas, colhendo informações e, só ao final, é que elas realmente respondiam às nossas perguntas”, conta Cristina Huggins. A partir desses elementos, a dupla deu seguimento ao trabalho, agora com Nomes, que se iniciou ainda em 2014.
Quando da construção da Escada da Felicidade, cada um dos 365 degraus ganhou um nome, grafado nele. Eram nomes de pessoas da cidade, pessoas “ilustres”, que haviam ajudado na construção da escadaria. “Me parece que esses nomes eram colocados por ordem de importância, os mais importantes comoo do padre e o do prefeito, estavam lá no topo. Mas nossa questão era: que nomes são esses, que “ilustres” são esses que não frequentam a escada, que não usam a escada?”, pontua Marcelo Silveira.
A dupla voltou a ouvir os moradores, entender porque alguns amavam a escada e outros a detestavam; recolheu material iconográfico, fotos antigas e realizou novas fotos do lugar. “A gente queria colocar o Alto do Cruzeiro no mapa. Ao longo da sua história não foi dada a devida importância ao local. Paulo Bruscky já havia feito uma performance, em 1979, intitulada Via Crucis, na qual ele subia a escadaria lendo nome por nome”, explica Marcelo. A partir do material coletado, eles discutiram como essas informações poderiam chegar ao público e decidiram por uma escultura constituída por caixas de madeira, inspiradas nos relicários. Quando aberta, cada uma das caixas exibe fotos pessoais e documentais, em sépia. Organizadas em conjunto, e observadas de cima, as caixas formam uma espécie de escada.
Em Você se lembra da Escada da Felicidade?, os artistas discutiam a memória e o patrimônio, já em Nomes buscaram um debate sobre a memória afetiva, um vínculo com uma memória mais individual. Juntos, os dois trabalhos, formam uma documentação simbólica dessas relações da memória. Após a temporada no Recife, a dupla pretende levar a mostra Ouvi dizer... a Gravatá.
A parceria entre Marcelo Silveira e Cristina Huggins começou há alguns anos. Inicialmente, ela o auxiliava na produção de alguns textos e em trabalhos que passavam por um viés de pesquisa. “Porém, quando da elaboração da obra Zoom, um múltiplo que me foi solicitado pelo MAM de São Paulo, em 2011, o papel de Cristina cresceu, deixando de ser uma assistência, e passando a ser de autoria conjunta”, pontua o artista. Desde então, já são cinco projetos em coautoria. “O que faz essa dupla funcionar é a complementaridade, a riqueza da conversa, da troca da informação, do diálogo. Isso não é fácil de encontrar”, conclui o artista.
abril 25, 2018
Catálogo on-line Evocações da Arte Performática - Inscrições
O catálogo on-line "Evocações da Arte Performática" visa a catalogar artistas atuantes na performance arte e body art tanto do Brasil como de Portugal.
Esse projeto parte da publicação impressa “Evocações da Arte Performática (2010 - 2013)” organizada por Tales Frey e eu e publicada pela Paco Editorial em 2015.
abril 24, 2018
Acervo na Luciana Caravello, Rio de Janeiro
No dia 26 de abril, a galeria Luciana Caravello Arte Contemporânea completa sete anos. Para comemorar, será apresentada uma exposição com obras de seu acervo, que ocupará os três andares da galeria em Ipanema. A mostra terá pinturas, esculturas, desenhos e serigrafias dos artistas Afonso Tostes, Alexandre Mazza, Ana Linnemann, Bruno Miguel, Daniel Lannes, Eduardo Kac, Eliane Prolik, Fernando Lindote, Gê Orthof, Gisele Camargo, Igor Vidor, Ivan Grilo, João Louro, Lucas Simões, Luiz Hermano, Marcelo Solá, Nazareno, Pedro Varela e Ricardo Villa.
Dentre os trabalhos em exposição estará a obra “Brasileiro #1” (2017), do artista paulistano Ricardo Villa, que mistura em uma trama as bandeiras do Brasil e do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. O artista multimídia procura demonstrar em seus trabalhos como ideologias dominantes determinam nossa compreensão histórica do conhecimento e do mundo enquanto natureza.
Outra obra em exposição será “Tênis Clube 6” (2017), do artista paulistano radicado no Rio de Janeiro Igor Vidor. O trabalho é composto por 42 bolas de tênis usadas por três jovens - Maylon, Lucas e Raphael – que trabalham aos sábados, fazendo malabares em sinais de transito, na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro. Igor Vidor passou a trocar as bolas usadas pelos garotos por novas. Após a troca, o acordo determina que no ato da venda do objeto, seja qual for sua configuração formal, o valor da venda seja igualmente dividido em três partes. Uma parte para a galeria, outra para o artista, e outra para o garoto. “Vejo o trabalho como um método involuntário de pintura que produz mínimas esculturas sociais. Há uma pregnância da economia marginal, do trabalho infantil, da pulsão de vida, da destreza individual versus a imobilidade social inserida no pós-colonial sob a forma de pós-escravismo. Essas bolas em movimentos são “sólidos piramidais”, pois são um sintoma da estrutura social rígida imóvel. A adição da palavra escrita parte do meu convívio com os garotos, insere uma camada de subjetividade, de individualidade, são códigos nativos, gíria-linguagem, que se projeta como voz diante da comum invisibilidade.”
Alexandre Mazza apresentará o trabalho “Na escuridão, a luz”, em que faz uma analogia entre o simbolismo da coruja - que para muitos povos simboliza mistério, inteligência, sabedoria, conhecimento e reflexão - e o artista, que pode cair em uma escuridão e vazio após todo o processo vivido para produção de uma exposição.
A mostra também terá esculturas da série “White Lies”, de Lucas Simões, em forma de coluna, feitas de concreto e pilhas de papel. As peças serão organizadas em forma de grade, como se fossem pilares para um edifício imaginário em processo de construção ou demolição. O papel e o concreto parecem uma cascata em direção ao solo ou subindo para o céu num padrão regular, congelando o momento antes de cada pilar derrubar. Os elementos severos de concreto são inspirados pelo movimento pós-moderno, o Brutalismo, a arquitetura e contrastam bruscamente com o papel fino que os suporta.
A série “Space Poetry [Poesia Espacial], de Eduardo Kac, é uma edição em bordado inspirada na obra em papel “Telescópio Interior”, concebida especificamente para ser realizada no espaço, em gravidade zero. Os bordados “Space Poetry” foram emuldurados procurando transmitir a ideia de flutuação da obra original.
Do artista Fernando Lindote estará a pintura “O Sismógrafo de Aby”, que apresenta a floresta polissêmica a partir da concepção não linear de Aby Warburg. A referência a Warburg se dá em vários níveis, desde a referência ao fígado de Piacenza quanto à efígie de Nietzsche ou a própria figura de Warburg. A escultura de Maria Martins aparece no mesmo sentido de permanência\imanência das imagens. A noção de pensador como sismógrafo aqui pode ser estendida as possibilidades do pintor e seu empenho\desejo de entender de modo mais intenso.
A obra “Máquinas mínimas”, de Gê Orthof também integrará a mostra. A partir da admiração, de longa data, pelos poetas Francis Ponge e Murilo Mendes que nos apontam, em seus devaneios, para a potência imensurável das mínimas ações; máquinas mínimas criam diminutos arquipélagos de viagens que contrapõem culturas distintas geometrias improváveis e a potência de tesouros dos despossuídos. As assemblages, criadas a partir de postais descartados, nos provocam em reavaliar o sentido das viagens, seus registros e os instrumentos que parecem aferir nossas distraídas vulnerabilidades em tempos de complexas acelerações.
Fundada em 2011, o principal objetivo da Luciana Caravello Arte Contemporânea é reunir artistas com trajetórias, conceitos e poéticas variadas, refletindo assim o poder da diversidade na arte contemporânea. Evidenciando tanto artistas emergentes quanto estabelecidos desde seu período como marchand, Luciana Caravello procura agregar experimentações e técnicas em suportes diversos, sempre em busca do talento, sem discriminações de idade, nacionalidade ou gênero.
abril 23, 2018
Selva na Funarte, Brasília
A mostra, com obras marcadamente experimentais, foi uma das selecionadas do Prêmio Funarte Conexão Circulação Artes Visuais – Atos Visuais Funarte Brasília | Acre, que visa promover o intercâmbio de exposições por diversos estados para estimular a multiplicidade e a diversidade de linguagens e tendências da arte contemporânea. Além da apresentação da exposição em Brasília, Selva será apresentada, também, na galeria do SESC Rio Branco, no Acre.
A reunião de Analu, Carla, João e Rochelle procura criar diálogos entre obras e conceitos que se relacionem entre si e com o espaço expositivo. Procura também pensar a ideia de selva como um lugar de alta biodiversidade, confrontando os conceitos de biodiversidade à uma possível ‘urbediversidade’. A produção mais recente dos artistas de Selva, tem se caracterizado pelo caráter investigativo, reflexivo e experimental em constante diálogo com novas tecnologias e propostas teóricas.
Analu Cunha irá apresentar a videoinstalação “Silva, Serpente” e o vídeo digital “Guariba, Guarida”, em que ambos refletem a ideia de selva como intrínseca e complementar aos conceitos de civilização e universalidade. Aqui, Silva, o sobrenome mais presente nas famílias brasileiras, segue o entendimento de ‘selvagem’, ainda que recalcado, percorre nossos corpos e âmagos sempre que é falado, escrito e assinado.
Carla Guagliardi traz a instalação “O Lugar do Ar”, na qual vergalhões de ferro pendem do teto através de bandas elásticas. Série iniciada pela artista em 1993 que se desenvolve a partir dos conceitos de interdependência, equilíbrio precário e vulnerabilidade, conceitos que norteiam o trabalho da artista. Carla também apresenta “Partitura IV, (vertical)”, nesta peças de madeira articuladas e bolas de espuma mantém um equilíbrio precário e vulnerável através da interdependência de suas partes. Em parceira com João Modé, a obra “Sete Flechas & Pena Branca” consiste numa instalação centrada no áudio de uma conversa entre os dois artistas feita com apitos de madeira. O ambiente receberá uma luz verde fluorescente pendendo de luminárias que se movimentam quase imperceptivelmente.
João Modé vai expor “Floresta com Anni Albers e Willys de Castro”, da série “Paninhos”, que são trabalhos feitos em tecido de uso cotidiano da casa do artista (panos de cozinha, lençóis, lenços) costurados e bordados. Esta série de trabalhos começou no final de 2013 é uma homenagem à tradição brasileira de arte construtiva. Outra obra que o artista exibe é a instalação “Sem título”, que apresenta um agrupamento de objetos com lâminas de vidro e lâmpadas que criam um espaço de abrigo e de diálogo entre estes objetos.
“Margens”, de Rochelle Costi, apresenta uma série de fotografias que retratam a vida dos cidadãos ribeirinhos, também chamados de beiradeiros, população que vive na beira dos rios, às margens da floresta e subsiste da pesca, do extrativismo, do cultivo de pequenas lavouras ou da chamada marretagem (venda de produtos a bordo de embarcações). Os ribeirinhos são, na sua maioria, descendentes de sertanejos outrora levados alí para trabalhar na extração da borracha ou no garimpo e que, uma vez esgotados esses ciclos, foram abandonados à própria sorte por seus patrões. Miscigenados às mulheres indígenas, são íntimos da selva e manejam de seus benefícios com habilidade. Circulam com fluidez pelos rios e igarapés, trocam sua morada de lugar e não se consideram donos da terra que habitam, mas pertencentes a ela. Em “Margens” serão mostradas longas superfícies fluidas com imagens fotográficas impressas em material maleável, trazendo ao espaço expositivo a amplitude desse lugar sem endereço.
A palavra selva deriva do latim – Silva - sobrenome que possivelmente surgiu no Império Romano para denominar os habitantes de regiões de matas e florestas. Muitos desses habitantes se refugiaram do império justamente na península Ibérica (hoje Portugal e Espanha). O primeiro “Silva” a fixar raízes no Brasil foi o alfaiate Pedro da Silva, em 1612.
Sobre os artistas
Analu Cunha - vive e trabalha no Rio de Janeiro, curadora e professora de fotografia e video no IART/UERJ e de videoarte na EAV/Parque Lage. Doutora em Linguagens Visuais (EBA/UFRJ e Universite Sorbonne-Paris 1), nos anos 90 participou do grupo carioca de arte contemporânea Visorama. Em 2014 lancou o livro “Analu Cunha” com textos de Tania Rivera, Wilton Montenegro e Elisa de Magalhaes, entrevista realizada com Gloria Ferreira e imagens de seus trabalhos nos ultimos 30 anos. Desde 2004 trabalha com videoarte e pesquisa as interfaces nos elementos constitutivos do audiovisual.
Carla Guagliardi - vive e trabalha entre Berlim e Rio de Janeiro. Estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, e fez o curso de Especializacao em História da Arte e Arquitetura no Brasil, na PUC do Rio de Janeiro. Foi membro fundador do grupo Visorama, que promoveu debates acerca de arte contemporânea entre final dos anos 1980 e a década de 1990. Participou de várias residências artísticas, entre elas: Kunstlerhaus Bethanie, Berlim, 1999; HIAP/Cable Factory, Helsinki, 2001; Khoj, Mysore, 2002 e Villa Aurora, Los Angeles, 2007. Sua trajetória artística resulta de uma pesquisa predominantemente escultórica focada em diversas ideias, mas que tem o tempo como o seu principal agente.
João Modé - vive e trabalha no Rio de Janeiro. Seu trabalho articula-se por uma noção plural de linguagens e espaços de atuação. Participou da 28ª Bienal de São Paulo [2008], da 7ª e 10ª Bienal do Mercosul [2009/2015] e da Trienal de Aichi, Nagóia [2016]. Alguns projetos, como REDE – desenvolvido em diversas cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo, Berlim, Stuttgart, Rennes – e ‘Constelações’, envolvem a participação direta do público. Participou dos Panoramas da Arte Brasileira de 2007 e 2017. Com formação em Arquitetura e em Programação Visual, com mestrado em Linguagens Visuais pela UFRJ. Foi membro fundador do grupo Visorama, que promoveu debates acerca das questões da arte contemporânea entre o final dos anos 1980 e a década de 1990.
Rochelle Costi - Vive e trabalha em São Paulo. Trabalha com fotografia, vídeo e instalação. Sua concepção de fotografia como forma de colecionar e refletida diretamente em seu trabalho, geralmente organizado em series. A artista mistura fotografias com outras formas de expressão artística e muitas vezes as leva para a instalação. Trabalha com escalas diferentes e as confronta em suas imagens. Joga com pontos de vista causando certo estranhamento e desconforto, sensacoes que nos prendem em suas imagens e nos fazem refletir sobre elas. Impossível vê-las, e preciso olha-las.
Almofadinhas e Arthur Bispo do Rosário no mBrac, Rio de Janeiro
Grupo "Almofadinhas", formado por três artistas homens que bordam, participa de residência artística e exposição no Museu Bispo do Rosário
O grupo, formado por Fábio Carvalho (RJ), Rick Rodrigues (ES) e Rodrigo Mogiz (BH), três artistas que tem o bordado como ponto em comum de suas produções, participa neste mês de abril da Residência Artística CASA B, seguida de exposição no Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea. A exposição contará com trabalhos dos três “Almofadinhas”, tanto obras já existentes quando as que serão criadas durante a residência artística, junto a trabalhos de Arthur Bispo do Rosário, criando-se um diálogo simbólico entre a produção do grupo com a de Bispo do Rosário.
O Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea (mBrac) integra o Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira, outrora uma instituição manicomial conhecida como Colônia Juliano Moreira, localizada na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O Museu é responsável pela preservação, conservação e difusão da obra de Arthur Bispo do Rosário – um dos expoentes da arte contemporânea, de reconhecimento nacional e internacional e que viveu internado na Colônia por 49 anos. Além de realizar exposições do acervo de Bispo do Rosário e artistas contemporâneos, a instituição toma para si o desafio de integrar arte e saúde, criando novas perspectivas sobre arte, educação e cuidado e expandindo suas ações através da Escola Livre de Artes.
O grupo "Almofadinhas" surgiu em meados de 2015, quando os três artistas começaram a realizar conversas à distância, por meio das redes sociais, sobre as afinidades conceituais e imagéticas de suas obras.
O convite para participar do programa partiu do curador do mBrac, Ricardo Resende, que também foi o curador da primeira exposição do grupo, realizada em 2017, em Belo Horizonte. Nesta nova edição a curadoria contará com Diana Kolker, gerente de educação do mBrac e coordenadora do programa de residências CASA B junto à Ricardo Resende.
A Casa B – Residência Artística é o programa de residência da Escola Livre de Artes (ELA) do Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea (mBrac), dedicado a artistas, curadora(e)s e educadora(e)s para o desenvolvimento de pesquisas e poéticas através do diálogo com a comunidade, o território e com outros programas desenvolvidos pelo museu. A criação do programa foi motivada pelo potencial artístico-cultural da Colônia, que registrou na sua história a passagem de importantes nomes na arte brasileira como Arthur Bispo do Rosário, Ernesto Nazareth, Stela do Patrocínio e, atualmente, os artistas que compõem o Atelier Gaia.
Pensando em estimular essa potência artística e estabelecer uma via de diálogo entre o trabalho artístico produzido pelos participantes dos programas da Escola Livre de Artes e artistas contemporâneos, a Casa B – Residência Artística atua como uma plataforma de trocas, encontros, discussões e debates, principalmente relacionados ao contexto histórico e as noções de gestão de um espaço de arte dentro de uma instituição de saúde mental.
Os trabalhos de Arthur Bispo do Rosário compreendem coleções de objetos e bordados. Nos bordados Bispo usava os tecidos disponíveis, como lençóis ou roupas, e para obter linha para bordar desfiava o uniforme azul de interno. Bispo começou a produzir suas peças para atender a um "chamado" místico, e preparar um inventário do mundo para o dia do Juízo Final, quando ele se apresentaria a Deus, com o manto especial no qual ele trabalhou por todos os anos em que se dedicou ao inventário. Bispo fez também estandartes, fardões, barcos, mobiliário, faixas de miss, fichários, objetos do cotidiano, entre outros, num total de mais de 800 peças, nas quais bordou desenhos, nomes de pessoas e lugares, memórias dos tempos de marujo, frases com respeito a notícias de jornal ou episódios bíblicos.
Ricardo Resende, no texto para a exposição dos Almofadinhas em 2017, ao comentar o uso do bordado pelos artistas do grupo, afirma:
Têm essa linguagem como suporte do devaneio estético que dá um novo sentido ao gesto de bordar e, consequentemente, ao bordado. Enfeitar, adornar é um desvio da vida prática de resultados que pauta a tal sociedade do desempenho. Para Fábio Carvalho, Rick Rodrigues e Rodrigo Mogiz, o bordado permite uma experiência interior estética. Cada um à sua maneira, todos imprimem com o bordado a sua mensagem poética.
Os três artistas têm necessidade dessa técnica ancestral de “enfeitar” tecidos. Usam a técnica para expressar visões do mundo e desde que se encontraram influenciam e interferem um no trabalho do outro. O resultado do que fazem com a técnica, como não poderia deixar de ser, é bonito, tocante e sedutor. Causam impacto pelas cores, pela delicadeza e, claro, quando mais se aproxima e com atenção redobrada para os trabalhos, descobre-se que não é só de estética que tratam. Surpreendem. Na verdade, causam estranhamento.
Mimetizam a beleza vista nos objetos de pano pois, de fato, leva-se um ‘susto’ quando se descobre o real motivo dos bordados, pois estamos acostumados com o bordado de enfeite. São questões ainda tabu para a humanidade o que abordam com seus trabalhos. Gênero, sexualidade, memória, família, guerras, violência e os costumes, a ambiguidade de ser sensível na sociedade contemporânea, subvertendo o universo cultural da feminilidade em suas poéticas. Os artistas aqui não são seres disciplinados, tão pouco conformados e, muito menos, ‘bonzinhos’. Não. Eles subvertem os modos, subvertem a própria arte ao fazerem da frugalidade dessa atividade, arte.
Essa nova experiência que se desenvolve através da proposta de residência artística na Casa B possibilita que a interface entre arte e sociedade, não se reduza ao momento expositivo, mas que seja parte de um processo experimental que se desenvolve na intercessão entre arte e cuidado, criando convergências entre as práticas artísticas, curatoriais e educacionais.
abril 22, 2018
Edith Derdyk lança livro na Casa Tombada, São Paulo
A obra, que se chama "Edith Derdyk, 1997-2017", tem lançamento oficial agendado para o dia 24 de abril de 2018, das 18h às 22h, na Casa Tombada (Rua Ministro Godoi, 109, em Perdizes), em São Paulo.
Foram dois anos de organização, compilação, seleção dos conteúdos (imagens e textos), cuidadosamente “desenhados” pela artista-designer Ruth Alvarez, cuja impressão será feita na Gráfica Ipsis. O livro está sendo produzido de forma independente, sem apoio, patrocínio ou edital. Participar da pré-venda é uma maneira de se tornar apoiador do projeto, comprando o livro no custo da produção, ou 50% do valor de venda após o lançamento.
“Desde sempre, sempre desenhei. O desenho é a matriz e a energia motriz de meu traçado: ir e vir com o grafite no espaço do papel ou com a linha zapeando o espaço, quando o corpo vira a ponta do lápis.” São com estas palavras que a esteta inicia a apresentação do livro que abraça 20 anos de instalações - de 1997 a 2017 - realizadas com materiais efêmeros - linha de costura e folhas de papel. O livro contempla textos críticos de Jacopo Crivelli, Peter Pál Pelbart, Noemi Jaffe, João Bandeira, Arturo Gamero, Alice Ruiz, Angélica de Moraes, Ivo Mesquita, Juliana Monachesi, Arnaldo Antunes entre outros; textos autorais, desenhos e registros das instalações capturadas por fotógrafos como Katia Kuwabara, Gal Oppido, Krisz Kanck, Filipe Bernt entre outros.
A venda antecipada terá dois valores, começando com R$ 60,00 [livro enviado pelo correio com frete a pagar] e R$ 90,00 [livro + fineart 20 X 30 cms, enviado pelo correio com frete a pagar]. Os pedidos devem ser efetuados pelo email livroedithderdky@gmail.com. O livro poder ser visualizado neste link.
Sobre a artista
Edith Derdyk tem realizado exposições coletivas e individuais desde 1981 no Brasil (Museu de Arte Moderna- SP e RJ; Pinacoteca do Estado de São Paulo, Centro Cultural Banco do Brasil-RJ; Museu de Arte de São Paulo, Centro Cultural São Paulo, Instituto Tomie Ohtake, entre outras) e no exterior (México, EUA, Alemanha, Dinamarca, Colômbia, Espanha, França). Prêmios.Bolsas.Residências: 2017. Título Doctora Honoris Causa_17,Instituto Estudios Criticos_Cidade do México.México; 2015.Edital PROAC_Incentivo à Literatura_Poesia; 2014. Edital PROAC_Livro de Artista; 2013_Residência_Can Serrat_Espanha; 2012_Prêmio Funarte Artes Visuais; 2007_ Residência_The Banff Centre_Canadá; 2004_Prêmio Revelação Fotografia Porto Seguros;2002_Bolsa Vitae de Artes; 2002_Categoria Tridimensional _APCA; 1999_The Rockefeller Foundation_artista pesquisadora_Bellagio Center, Itália; 1993_Artista residente_MAC-USP/Vermont Studio Center_USA; 1990_ Bolsa Fiat_Artes Visuais. Coleções Públicas: MAC-USP. Fundação Padre Anchieta. TV Cultura. São Paulo; Câmara Municipal de Piracicaba; Museu de Arte de Brasília/MAB; Museu de Arte Moderna de São Paulo/MAM; Secretaria Municipal da Cultura – Santos; Museu de Arte de Santa Catarina/MASC; Museu de Arte Moderna da Bahia; Casa das Onze Janelas - Belém/Pará; Pinacoteca Municipal – Centro Cultural São Paulo; Pinacoteca do Estado de São Paulo;Casa de Cultura Judaica_Biblioteca José Mindlin.
abril 20, 2018
Marcos Chaves na EAV Parque Lage, Rio de Janeiro
No próximo dia 24 de abril, terça-feira, às 19h, serão abertas nas galerias 1 e 2 do palacete Escola de Artes Visuais do Parque Lage, as exposições Academia, de Marcos Chaves, e Estás Vendo Coisas, da dupla Barbara Wagner e Benjamin de Burca, como parte do programa público de 2018. A curadoria é de Ulisses Carrilho.
A academia de ginástica ao ar livre do Aterro, com seus equipamentos feitos com baldes, latas e cimento, criada e conservada por uma cooperativa da praia, entrou para a série Sugar Loafer (2014), de Marcos Chaves. E foi reinterpretada pelo artista na instalação Academia (2015), feita com esculturas de cimento, tubos de ferros, madeira e tapewares.
A ideia de Academia grega é o ponto de partida do trabalho, muito embora ele seja uma investigação visual das academias de pedras, das praias e subúrbios. Estas estruturas são dispositivos sociais e comunitários, que geram experiências complexas e sofisticadas, apesar de surgirem a partir de uma pobreza econômica.
A mostra nega o conhecimento anódino das escolas, das teorias descoladas da experiência, e abre caminho para o saber que funde-se com a carne e a vida, visto nas entrelinhas do cotidiano, que se constrói em resposta à necessidade diária.
“Instaurar uma academia no hall de entrada da Escola de Artes Visuais, que foi pensada como uma anti-academia pelo artista Rubens Gerchman, é lembrar que o conhecimento existe para além das instituições. Que passa pelo corpo, pela experiência. Não se trata apenas de algo mental, mas uma perspectiva mais contemporânea de entender o conhecimento e os saberes. A cabeça como parte do corpo”, avalia Ulisses Carrilho, curador da EAV Parque Lage.
De acordo com a crítica de arte Luisa Duarte, “a ‘Academia’ de Marcos Chaves evoca, pela ironia, um equilíbrio tênue, sem receita ou bula, entre corpo e razão, gesto e pensamento. A cidade olímpica de 2016 é incensada e questionada, a um só tempo. Nesse gesto, valendo- se dos materiais mais simples, Marcos Chaves nos devolve uma consciência insuspeita sobre onde estamos e instaura a pergunta: para onde vamos?”.
Barbara Wagner & Benjamin de Burca na EAV Parque Lage, Rio de Janeiro
No próximo dia 24 de abril, terça-feira, às 19h, serão abertas nas galerias 1 e 2 do palacete Escola de Artes Visuais do Parque Lage, as exposições Academia, de Marcos Chaves, e Estás Vendo Coisas, da dupla Barbara Wagner e Benjamin de Burca, como parte do programa público de 2018. A curadoria é de Ulisses Carrilho.
Na paisagem social e profissional da música Brega do Recife, a indústria dos videoclipes é catalisadora de uma ideia de futuro pontuada pelo desejo de sucesso, tal qual encorajado pelo capitalismo. “Estás vendo coisas” observa esse mundo onde a autorregulação e a manipulação da imagem têm papel crucial na construção da voz, status e identidade de toda uma nova geração de artistas populares. Escrito e encenado por participantes do brega, o filme acompanha dois personagens principais – o cabeleireiro / MC Porck e a bombeira / cantora Dayana Paixão – em seus percursos entre o estúdio e o palco. Semelhante a um musical, Estás vendo coisas é filmado no interior de uma casa noturna, onde gestos são seguidos de canções sobre amor, fidelidade, sucesso e riqueza. Retirada de seu contexto mediatizado, a linguagem do Brega é desconstruída e rearranjada a fim de expor o vocabulário do espetáculo experimentado como uma nova forma de trabalho.
Brega é um termo informal usado para definir várias formas de música popular de massa produzidas no Brasil desde os anos 70 e fortemente associadas a uma noção de mau-gosto. Enraizado em contextos socio-econômicos mais amplos, hoje o Brega incorporou métodos de produção e distribuição sofisticados, dando conta da visibilidade de uma classe média que extrapola as favelas do Brasil. Diferentemente de outras abordagens que comumente satirizam o assunto e enfatizam seus aspectos carnavalescos, Estás vendo coisas adota um tom psicológico e melancólico para refletir em como uma expressão cultural responde a uma condição da economia.
“O brega do filme de Barbara Wagner e Benjamin de Burca é, antes de tudo, entendido como parte de um sistema econômico que gira em torno da estética pop e do entretenimento de uma sociedade cujo paradigma do espetáculo é fundamental. Este trabalho, assim como a Academia, de Marcos Chaves, dinamitam uma ideia perversa e elitista da arte como algo ‘para poucos’”, conclui Carrilho.
Dá Licença na Tramas, Rio de Janeiro
Para inaugurar o calendário de 2018 da Tramas Arte Contemporânea, o galerista João Sobral e a curadora Vanda Klabin uniram ideias e decidiram inovar. A dupla lança o projeto Dá licença, que tem como proposta reunir artistas da galeria e convidados para uma troca de experiências nas mais diversas formas, técnicas e linguagens. A mostra coletiva, que ganhará edição anual, será inaugurada no dia 26 de abril com obras de Evandro Prado, Fernando Ribeiro e Yara Dewatcher, da Tramas, ao lado de Felipe Oliveira Mello, Flávia Metzler e Rafo Castro.
Os seis nomes selecionados pela curadora apresentam mais de 20 obras que transpiram uma linguagem visual pop, com temática extraída da cultura contemporânea. “Eles utilizam imagens instantaneamente familiares e reconhecíveis na vida cotidiana, que estão presentes nos produtos de consumo, no universo das histórias em quadrinhos, nos cartazes publicitários ou no diálogo com a arte. São diferentes intervenções estéticas que evidenciam diversas dicções, instigantes em suas tramas e contrapontos visuais”, explica Vanda Klabin.
Evandro Prado exibe séries em que reproduz imagens do Papa Francisco em sequência, todas em guache ou aquarela sobre papel. O artista conserva ornamentos e símbolos originais e, através de uma repetição compulsiva, ressignifica os objetos de devoção. Felipe Oliveria Mello mostra a série Majesty, de 2016, na qual trabalha com fotos da família real britânica retiradas de revistas e jornais sensacionalistas, com rostos bloqueados e carregadas por lacres vermelhos e linhas de costuras com fios dourados.
Ex-aluno de Nelson Leirner, Fernando Ribeiro desenvolve seu trabalho através de pinturas, assemblage, ready made e tridimensional usando o humor como ferramenta. Faz ainda uma passagem pela história da arte, com a releitura atual e divertida de obras de grandes pintores, como Picasso, Matisse e Miró. Com pinturas a óleo sobre linho e sobre madeira, Flávia Metzler provoca com seus trabalhos o distanciamento do mundo real, um sentido de mistério, alucinação, como o fragmento de um sonho ou narrativa.
O trabalho de Rafo Castro transita entre grafite, pintura, tatuagem, ilustração e designer. O artista, que tem estampa os muros de várias cidades brasileiras, leva para “Dá licença” seus personagens divertidos sobre tábuas de cortes usadas como suporte. Já Yara Dewachter apresenta duas séries. Em Museu da História Ficcional, ela utiliza brinquedos, como heróis, personagens da Disney e bonecos, mergulhados em cera e “aprisionados” em armários. Já em Pensamento, faz releituras de pinturas consagradas de artistas como Tarsila do Amaral e Klimt.
Sobre os artistas
Evandro Prado - Bacharel em Artes visuais pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Vive em São Paulo e participa do Grupo Aluga-se, no qual desenvolve diversas exposições e ações. Além das inúmeras individuais e coletivas, participou, entre outros do 24º Salão de Arte Pará, Rumos Itaú Cultural (2006), Abre Alas - A gentil Carioca (2014); 8º Salão Nacional de Jataí – GO; 37º Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilotto; e 11º Bienal do recôncavo.
Felipe Oliveira Mello - Bacharel em Artes Visuais em pintura, escultura e gravura pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Desde 2010, participa de exposições individuais no eixo Rio-São Paulo. Entre os destaques, "Majesty", no escritório de arte dconcept (São Paulo, 2015); SP-Arte (São Paulo, 2013); Os Legitimados, no Ateliê 397 (São Paulo, 2012); Arte Postal Os Livros, na Galeria Gravura Brasileira (São Paulo, 2011); Coletiva Casa ao Cubo (São Paulo, 2011); Mostra Edital da Galeria 13 do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (São Paulo, 2010). Em 2011, recebeu o 2º Prêmio Belvedere Paraty de Arte Contemporânea, na Galeria Belvedere.
Fernando Ribeiro - Interessado pelo universo dos gibis, iniciou sua carreira ainda jovem, como cartunista e roteirista de história em quadrinhos. Aluno de Nelson Leirner, tornou-se produtor do artista nos anos seguintes e também seu assistente em exposições nacionais e internacionais. Estudou Pintura e desenho na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Possui obras nos acervos do Museu Salvador Allende (Chile), no Centro Cultural Banco do Nordeste do Brasil (Fortaleza) e no Museu Afro Brasil (São Paulo).
Flávia Metzler - Em 2004 ingressou no curso de Pintura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde iniciou sua produção. Em 2009 realizou sua primeira exposição individual através do Programa Anual de Exposições do Centro Cultural São Paulo, apresentada também na Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, pelo Projeto Trajetórias. Em 2011 realizou individual no Museu Victor Meirelles, em Florianópolis. A artista participou de diversas coletivas, entre elas da 12ª Mostra Internacional de Arte, no Museo de Arte Contemporáneo – MACUF (Espanha) e de Artesur: Collective Fictions, no Palais de Tokyo (Paris, França).
Rafo de Castro - Formado em programação visual, trabalhou como designer ao lado de nomes como Marcelo Sommer, Gringo Cardia e Oestúdio. Atualmente faz parte da equipe de Artes da Osklen e Om.art e mantém o projeto #StreetArtRio, portal de mapeamento da arte de rua, do qual é idealizador, em parceria com o Estúdio Touch.
Yara Dewachter - Formada em Comunicação social, realizou cursos livres em história da arte, encáustica, pintura e desenho. Participou das individuais Quase Verdades no dconcept escritório de arte (São Paulo, 2015); Museu Victor Meirelles (Florianópolis, 2009); Galeria Municipal de Arte Victor Kursancew (Joinville, 2009); Galeria Iberê Camargo (Porto Alegre, 2009). Fundou o Grupo Aluga-se a partir da exposição “Aluga-se”, que contou com a participação de 33 artistas durante 3 meses em uma casa dos anos 50 no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Entre as principais ações do grupo estão as exposições Casa Selvática – Paralela a Bienal Internacional de Artes de Curitiba (Curitiba, 2013); Feira PARTE; “Feios Sujos e Malvados” no Museu SAK (Dinamarca, 2011);
Cristina Salgado na Mul.ti.plo, Rio de Janeiro
Estruturas sintéticas que sugerem o corpo humano são a razão poética da nova exposição de Cristina Salgado, na Mul.ti.plo, de 24 de abril a 26 de maio
O corpo humano apenas sugerido, se tanto, por estruturas muito sintéticas. Exteriores Internos, nova exposição da Mul.ti.plo Espaço Arte, reúne trabalhos inéditos e recentes da artista plástica Cristina Salgado: desenhos em pastel seco e esculturas em tapete, borracha, parafusos e acrílico. A abertura será no dia 24 de abril, às 19h, e a mostra fica em cartaz até 26 de maio.
A série "Corpos furados" e as obras "Um" e "Dois" trazem alguns elementos de trabalhos anteriores, como a série "Mulheres em dobras" (2006) e "Grande nua na poltrona vermelha" (2009): as sobreposições de camadas de tapete, o uso dos parafusos produzindo pregas e as cores que remetem ao orgânico. Um procedimento novo, nesse caso, seria a compactação das camadas em "Corpos furados", no interior de cubos de acrílico. "Rostos que conheço", estabelece uma conexão com "Rostos", da série "Mulheres em dobras" (2006), mas talvez deles se distancie por um caráter mais sombrio.
Os desenhos se dividem em dois grupos: a série "Exteriores internos", com desenhos em pastel seco, aplicado de modo bastante denso, com sobreposições de camadas de cores sobre o fundo negro; e a série "Dois lugares", com desenhos meio híbridos, que trazem consigo, além do pastel seco, elementos palpáveis, presentes nas esculturas.
"A exposição revela um novo momento na trajetória da artista em que suas obras estão cada vez mais densas e enigmáticas, com um vocabulário próprio, capaz de convocar o nosso olhar”, diz o diretor da Mul.ti.plo, Maneco Muller.
Segundo Cristina, há, na realização desses trabalhos, a intenção de lidar com relações muito primárias entre os materiais, as cores e as formas:
"O desejo é de que o modo de o corpo se expor como imagem se dê menos relacionado a códigos de representação e mais a uma dimensão não verbal − talvez pré-verbal −, mas inquestionável na sua existência".
Sobre a artista
Nascida no Rio de Janeiro, em 1957, Cristina Salgado Kauffmann vive e trabalha na cidade. Estudou na EAV/Parque Lage-RJ, em 1977-78 e é Mestre em Comunicação e Cultura (ECO/UFRJ) e Doutora em Linguagens Visuais (EBA/UFRJ). Sua primeira exposição, em 1980, foi a coletiva A nova geração, na Galeria FUNARTE-Sérgio Milliet. Participou de inúmeros salões oficiais, recebendo, entre outros, o prêmio CEMIG de pintura no XVIII Salão Nacional de Belo Horizonte e o Prêmio Arte Contemporânea de Ocupação dos Espaços Funarte-BH. Tem trabalhos nas coleções Museu de Arte do Rio, Gilberto Chateaubriand (MAM-RJ); João Sattamini (MAC-Niteroi); Shell do Brasil, YSP e UECLAA/University of Essex, Inglaterra; British Council, Rio de Janeiro.
Foi artista residente no Yorkshire Sculpture Park, Inglaterra, em 1991, pelo British Council; em 1999, ganhou Bolsa RIOARTE e em 2006, Bolsa Capes de Pesquisa no Exterior, pelo Chelsea College of Arts and Design, University of the Arts London.
Suas exposições individuais mais recentes são: No interior do tempo, no Paço Imperial, 2015; A mãe contempla o mar, Galeria Laura Marsiaj, 2014; Ver para olhar, Paço Imperial, 2012; Vista, Projeto Cofre, Casa França-Brasil, 2009; e Grande nua na poltrona vermelha, Cavalariças, Escola de Artes Visuais do Parque Lage, 2009. Algumas coletivas recentes: A cor do Brasil, MAR, RJ; Nós, Caixa Cultural, RJ, 2016; Espelho Refletido: o Surrealismo e a Arte Contemporânea brasileira, Centro Helio Oiticica, 2012; Entre trópicos 46º05 Cuba/Brasil, Caixa Cultural, RJ, 2011; Entre artistas – Tremores e permutações. Galeria Paradigmas Arte Contemporânea, Barcelona, 2011.
Em 2015, publicou, em coautoria com Gloria Ferreira, o livro Cristina Salgado, sobre sua produção artística, pela Editora Barléu.
Como professora, atuou no Departamento de Artes e Design da PUC-RJ de 1993 a 2013; no curso de Fundamentação da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, durante o ano de 2009; e, desde 1997, é professora adjunta no Instituto de Artes da UERJ, onde participa do Programa de Pós-Graduação em Artes, na linha de pesquisa em Processos Artísticos Contemporâneos.
Abraham Palatnik na Nara Roesler, Rio de Janeiro
Em sua sede carioca, a Galeria Nara Roesler celebra os 90 anos de Abraham Palatnik. A exposição - Em movimento - demonstra o pleno vigor do mundialmente reconhecido mestre do movimento e da luz, ao apresentar como obra central um inédito Objeto Cinético em grandes dimensões (205 x 226 x 40 cm), realizado em 2018. A obra em destaque simboliza a continuidade de uma extensa pesquisa à qual o artista se dedica ao longo de sua carreira, tornando-se, após justo revisionismo histórico, uma referência no campo da arte cinética e óptica.
Nesta mostra de Palatnik estão reunidos outros trabalhos também de sua produção mais recente: relevos sobre acrílico, sobre madeira, da série W, e sobre papel cartão, que passaram a receber uma camada de tinta spray na superfície. São peças bidimensionais que alcançam profundidade e dinamismo devido à composição de padrões rítmicos, por meio cortes sequenciais, que remetem a ondas de caráter irregular, características formais que conectam à genealogia da produção de Palatnik a partir dos anos 1960.
Recentemente, a importante retrospectiva Abraham Palatnik: a reinvenção da pintura, com curadoria de Peter Tjabbes e Felipe Scovino, tem circulado pelas capitais brasileiras. No final do ano passado esteve no Centro Cultural Banco do Brasil - Rio de Janeiro (2017) e já havia sido apresentada na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre (2015), no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba (2014), no Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM-SP (2014) e no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília (2013).
A obra do artista também tem recebido destaque em mostras internacionais, como em The other trans-Atlantic: kinetik and op art in Eastern Europe and Latin America 1950's - 1970's, que esteve em cartaz no Museu de Arte Moderna de Varsóvia, Polônia e atualmente está no Garage Museum of Contemporary Art, Moscou, Rússia. A mesma exposição chega ao Sesc Pinheiros, em São Paulo, em 25 de julho de 2018; Delirious: Art at the limits of reason, 1950 – 1980, Met Breuer, New York, EUA; e Mario Pedrosa: on the affective nature of form, Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madrid, Espanha.
Já a Galeria Nara Roesler realizou sete individuais de Palatnik em seus espaços: 2017 (GNR SP), 2016 (GNR NY), 2015 (GNR SP), 2012 (GNR SP), 2008 (GNR SP), 2004 (GNR SP) e 2000 (GNR SP). Atualmente, a GNR NY destaca um cinecromático de Palatnik (década de 1950) na mostra Almir Mavigner: privileged form.
Para comemoração dos 90 anos, ainda, a Associação para o Patronato Contemporâneo - APC, instituição sem fins lucrativos fundada por Daniel Roesler em 2011, que viabiliza projetos institucionais dos artistas da galeria, prepara uma nova publicação, organizada por Luis Camillo Osório, com lançamento previsto para o final deste ano.
Abraham Palatnik (1928, Natal, Brasil) vive e trabalha no Rio de Janeiro. As investigações desse pioneiro da arte cinética no Brasil levaram a uma compreensão inédita dos fenômenos visuais. Em 1932, Palatnik mudou-se para Tel Aviv, onde cursou especialização em Motores de Combustão Interna na Montefiore School, além de estudar pintura, desenho e história da arte no Instituto Municipal de Arte. Em 1947, de volta ao Rio de Janeiro, Palatnik passou a visitar o Hospital Psiquiátrico Dom Pedro II, coordenado pela Dra. Nise da Silveira. Ao ver obras de pacientes esquizofrênicos, que apresentavam uma produção excepcional, mesmo sem treinamento artístico prévio, percebeu que sua própria produção era impotente à luz do trabalho daqueles artistas que, em sua maioria, nem sabiam o significado da palavra “arte”. Assim, abandonou o trabalho com pincéis e adotou uma relação mais livre entre forma e cor. O resultado inicial de sua pesquisa, seu primeiro Aparelho Cinecromático – uma escultura de luz motorizada que criava um jogo de luz e sombra no espaço – foi premiado na 1ª Bienal de São Paulo, em 1951. Desde que recebeu uma menção honrosa do júri internacional pela obra Objeto Cinecromático: Azul e Roxo em Primeiro Movimento (Aparelho Cinecromático: Abraham Palatnik -- W-861, 2016 – acrílico sobre madeira -- 70 x 80 x 5 cm Azul e Roxo em Primeiro Movimento, 1951) na 1ª Bienal de São Paulo, em 1951, participou de oito edições da Bienal de São Paulo (entre 1951 e 1963) e da 32ª Bienal de Veneza (1964). Na década de 1950, além de criar aparelhos cinecromáticos e objetos cinéticos, Palatnik mudou de foco, passando a desenvolver composições em papelão e madeira. Por mais de sessenta anos, a prática de Palatnik questionou o tempo, o movimento e a relação do homem com a natureza. Para ele, a função do artista é disciplinar a percepção do caos.
abril 18, 2018
Cobogó lança livro de Rodrigo Matheus na Carpintaria, Rio de Janeiro
Livro reúne obras do artista Rodrigo Matheus inspiradas em objetos do cotidiano
O trabalho de Rodrigo Matheus parte de um olhar atento aos materiais do cotidiano e se desdobra em esculturas e instalações, deflagrando novos sentidos para os objetos além de sua função original. O livro Rodrigo Matheus, publicado pela Editora Cobogó, que apresenta um panorama da trajetória do artista, será lançado no dia 12 de abril, às 10h, na abertura da exposição individual do artista, na Fortes D’Aloia & Gabriel | Galpão, na semana da SP-Arte/2018. “A obra de Matheus nos oferece, com sua elegância e sobriedade características, inúmeros pontos de entrada numa narrativa forçosamente incompleta e não-linear sobre a condição humana no mundo contemporâneo”, afirma a curadora e crítica de arte Kiki Mazzucchelli, em texto publicado no livro.
Os primeiros trabalhos do artista foram influenciados pelo design industrial. Matheus se apropriou da estética do espaço corporativo para construir situações inusitadas no espaço expositivo. Ele criou uma empresa fictícia que batizou de Engeoplan, a partir da qual produziu uma série de obras relacionadas aos elementos encontrados nos escritórios das grandes empresas. Em Área de fumantes, por exemplo, é representada uma cabine em que as pessoas podem fumar dentro, transgredindo as regras da proibição de fumar do ambiente tido como liberal do museu de arte.
Na Europa, em 2011, Matheus mudou sua forma de observar o Brasil e suas obras se voltaram para os vestígios de um passado colonial. “A maior mudança que podemos atribuir ao meu deslocamento foi a ‘recontextualização’ da minha perspectiva”, diz. Os cartões postais e as imagens vintage do Rio de Janeiro encontrados nos mercados de pulgas e a coleção de documentos do século XX que registravam as transações comerciais entre Brasil e Inglaterra, mostravam que o recente boom da economia brasileira continuava dependente do mesmo tipo de commodities que o país exportava no passado. A partir dessa observação o artista cria trabalhos em que esses materiais antigos são pendurados na parede de forma irregular, como em Island, uma obra feita com impressões variadas, cartão-postal, fios e alfinetes, apresentada nas primeiras páginas do livro.
Com participação em mostras no Brasil e no exterior, em algumas apresentações Matheus utilizou a improvisação para adaptar projetos aos lugares expositivos, o que resultou em novas formas finais de exibição. “Este é o momento em que eu não estou realmente no controle, e conteúdos imprevistos entram à força”, destaca Matheus. Foi assim em Hug, com folhas e galhos de plantas artificiais organizados em linha pelas paredes, obra sem configuração definitiva, que sempre está submetida à arquitetura que ocupa. “As obras residem na ideia de aderência: em seu potencial para incorporar qualquer espaço com que sejam confrontadas”, diz.
Nos últimos anos, Rodrigo Matheus vem ampliando seu repertório da cultura material cotidiana, transformando aquilo que é lugar-comum em extraordinário, propondo a possibilidade de múltiplas interpretações. Um de seus trabalhos recentes é One – Entre – in the Middle, em que a arquitetura dialoga com os materiais do dia a dia e é discutido o absurdo por trás do desejo de progresso baseado nos sistemas de produção em massa. “É fascinante observar como esse artista brasileiro, ao atualizar certas lutas das vanguardas do século XX, prossegue e desenvolve procedimentos fundamentais da arte contemporânea, assim como a capacidade que a arte pode ter ou não de se articular com o real”, escreve o curador Matthieu Lelièvre, em outro texto da publicação.
Rodrigo Matheus nasceu em 1974, em São Paulo, e atualmente mora e trabalha em Paris. Formado em Multimídia e Intermídia pelo departamento de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA-USP) e com mestrado em Escultura pelo Royal College of Arts, em Londres, realizou exposições em instituições e galerias de diversos países. Entre suas exposições individuais mais recentes estão Soft Spectacle, em 2017, na Ibid Gallery, em Los Angeles; Atração, em 2015, na Galeria Fortes Vilaça, em São Paulo; e Hollywood, em 2010, na Galeria Silvia Cintra + Box 4, no Rio de Janeiro. O artista participou também de coletivas como a Museum ON/OFF, em 2016, no Centre Pompidou, em Paris, a Le parfait flâneur, em 2015, no Palais de Tokyo, e a Work in Progress, em 2012, no Royal College of Art, em Londres. Matheus foi cinco vezes indicado ao Prêmio PIPA, a mais relevante premiação brasileira de artes visuais, uma parceria entre o Instituto PIPA e o MAM-Rio.
Cobogó lança livro de Carla Chaim na Carpintaria, Rio de Janeiro
Obras da artista Carla Chaim que abordam corpo, espaço e desenho são reunidas em publicação da Editora Cobogó com parceria da Galeria Raquel Arnaud que representa a artista desde 2012
A publicação monográfica da artista busca ultrapassar os limites da concepção tradicional do desenho e será lançada na semana da SP-Arte/2018
O livro Carla Chaim terá dois lançamentos na semana da SP-Arte/2018: no dia 09 de abril, às 18h, na abertura da exposição individual da artista, na Galeria Raquel Arnaud e, no dia 14 de abril, das 15h às 16h, no Lounge da SP-Arte. A publicação percorre a trajetória dessa jovem artista, apresentando sessenta e seis obras em diferentes formatos: desenhos, esculturas, videoinstalações e videoperformances que exploram o corpo em sua imperfeição e incapacidade de tornar-se um mecanismo exato. Naquilo que é deficiente, o corpo responderia ao desejo de libertação de um sistema de controle em uma sociedade que impõe, cada vez mais, regras.
Uma das principais linhas de força da artista está em relacionar o corpo e a expansão do desenho para meios e suportes diferentes daqueles em que a técnica esteve tradicionalmente confinada. Em vídeos como Lua certa e Trópicos (ambos de 2011), que são apresentados no livro através de frames, é possível observar como um corpo pode ser o instrumento de execução de um projeto. Para o crítico Jacopo Crivelli Visconti, que assina o ensaio (bilíngue) do livro, a repetição de gestos elementares pode ser interpretada ao mesmo tempo como uma “mecanização” do corpo e uma válvula de escape, no sentido de que os rastros deixados durante a repetição, ao evidenciar as diferenças entre um gesto e o seguinte, acabam expondo também sua natureza muito pouco mecânica. Esse procedimento é evidenciado, por exemplo, na obra Movimento singular do verde para seu complementar no tempo desaparecido (2008), em que a artista usa seu corpo para marcar a parede com bastão oleoso, deixando rastros obtidos pela repetição do movimento.
Outro ponto que se destaca no trabalho de Carla Chaim é a relação entre formas geométricas elementares — como quadrados e triângulos —, e como estas interagem, por sua vez, com o corpo e o espaço como, por exemplo, na obra Triangle Piece (2017), que ilustra a capa do livro.
“O corpo entra como régua e dita limites reais/físicos e de discussão conceitual. Trata-se de objeto vivo, com seus limites e intenções. Uso meu corpo não como sendo ‘o da Carla’, de um só indivíduo. A discussão vai para além do indivíduo, ele é um corpo universal”, conclui a artista.
O livro Carla Chaim também será lançado junto com o livro Rodrigo Matheus, no Rio de Janeiro, no dia 19.04, às 19h, na Galeria Carpintaria.
Carla Chaim nasceu em 1983 em São Paulo, onde vive e trabalha. É graduada em Artes Plásticas (2004) e pós-graduada em História da Arte (2007), ambos pela FAAP. Seu trabalho esteve em exposições coletivas, como: Frucht & Faulheit, Lothringer13 Halle, Munique (2017); CODE, Osnova Gallery, Moscou (2017); Ao Amor do Público I, Museu de Arte do Rio – MAR, Rio de Janeiro (2016); Film Sector, Art Basel, Miami (2015); Into the Light, Galeria Raquel Arnaud, São Paulo (2015); Ichariba Chode, Plaza North Gallery, Japão (2015); Impulse, Reason, Sense, Conflict, Cisneros Fontanals Art Foundation – CIFO, Miami (2014). A artista recebeu no Brasil prêmios como o CCBB Contemporâneo e o FOCO Bradesco ArtRio, ambos em 2015. Recebeu, ainda, o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea e o Prêmio Energias na Arte (2012 e 2009, respectivamente). Em 2016, foi nomeada para o Future Generation Art Prize, onde em 2017 apresentou instalações e fotografias no Pinchuk Art Centre, em Kiev, e no Palazzo Contarini Polignac, em Veneza, em um evento paralelo à Bienal de Veneza. Sua obra faz parte de coleções como Ella Fontanals-Cisneros, Miami; Museu de Arte do Rio – MAR, RJ; e Ministério das Relações Exteriores, Itamaraty, Brasília.
abril 17, 2018
museu do louvre pau-brazyl lança livro com conversa e brunch na Tapera Taperá, São Paulo
Dia 05/05, sábado, às 11h, o museu do louvre pau-brazyl lança o livro onde está pedro américo?, a partir da performance Desdito de Lais Myrrha, na Tapera Taperá (avenida São Luís 187 – Galeria Metrópole, 2º andar).
O museu do louvre pau-brazyl, projeto artístico-curatorial que se desenvolve desde janeiro de 2016, surge da relação entre o edifício Louvre localizado na avenida São Luís (São Paulo), projetado por Artacho Jurado nos anos 1950, e o Museu do Louvre em Paris. Desde seu primeiro desenho, o prédio foi dividido em quatro bloco frontais – Da Vinci, Rembrandt, Renoir e Velásquez – e cinco blocos de fundos, denominados genericamente por Pedro Américo. Ao contrário dos europeus, nem o nome do pintor brasileiro tampouco reproduções de obras suas foram incorporados nos respectivos halls de entrada.
A partir desse apagamento, surge a performance Desdito de Lais Myrrha realizada no dia 18 de novembro de 2017 no museu do louvre pau-brazyl. A artista propôs uma reencenação do quadro Independência ou Morte! (1888) de Pedro Américo. Músicos de fanfarras de rua se dispuseram sobre as escadarias localizadas no térreo do prédio, vestidos na paleta de cor da pintura. O Hino da Independência tocado pela fanfarra durante toda a performance foi reconfigurado e dividido em cinco movimentos musicais por Henrique Mendonça. No decorrer da ação, as notas iam perdendo o contorno até se desmancharem completamente. A banda percorreu o prédio por uma rota em formato espiral (desenhado pelo Vão), passando pela calçada, adentrando a garagem, até chegar novamente nas escadarias, repetindo a formação inicial, mas desta vez espelhada. O fotógrafo Pio Figueiroa registrou a formação inicial e final dos músicos, o que resultou em duas fotografias posteriormente expostas durante o mês de dezembro no hall referente ao bloco Pedro Américo no edifício.
O livro onde está pedro américo? parte da performance para ampliar os sentidos desse trabalho. O músico Rômulo Fróes escreve uma crítica da performance a partir de sua interpretação da música e de seus movimentos ganhando outros significados com a arquitetura do prédio. O historiador e economista Andrej Slivnik recupera a independência do Brasil e analisa o papel das elites e dos arranjos políticos nos eventos históricos. As antropólogas e historiadoras Lilia K. Moritz Schwarcz e Lúcia Klück Stumpf escrevem sobre a figura de Pedro Américo, sua relação com a corte de D. Pedro II, e tecem relações da pintura Independência ou Morte! com o presente. O historiador Kleber Amancio discute a representação imagética dos negros na pintura brasileira desde o século XVII até os modernistas. A curadora Jéssica Varrichio relaciona a performance com três ritos (parada militar, carnaval e procissões religiosas) possíveis para se pensar o Brasil como nação. O antropólogo e curador Guilherme Giufrida conecta o papel das imagens, tema presente por todo o livro, com as disputas políticas brasileiras recentes.
Haverá o lançamento do vídeo de registro da performance seguido de uma conversa com os autores do livro:
- Lais Myrrha, artista
- Andrej Slivnik, historiador e economista
- Guilherme Giufrida, editor do livro e curador do museu do louvre pau-brazyl
- Henrique Mendonça, músico e compositor
- Jéssica Varrichio, editora do livro e curadora do museu do louvre pau-brazyl
- Lúcia Klück Stumpf, antropóloga e historiadora da arte
- Vão (Anna Juni, Enk te Winkel e Gustavo Delonero), escritório de arquitetura e urbanismo
Ao final, haverá um brunch oferecido pelo Paribar.
Manoel Veiga na Alfinete, Brasília
A narrativa perturbadora de Franz Kafka e o inigualável jogo de luz e sombras de Caravaggio são motor da nova série de trabalhos de dois artistas que vêm se destacando no universo da arte contemporânea brasileira e que expõem, a partir do dia 21 de abril, nas duas salas da Alfinete Galeria. Gisele Camargo apresenta, na Sala Um, as obras que integram a série de pinturas Construção. Já Manoel Veiga exibe, na Sala Dois, os trabalhos de Matéria escura. Ambas as exposições poderão ser vistas até o dia 12 de maio, sempre às quintas e sexta-feiras, das 14h30 às 18h, e aos sábados, das 15h às 20h. Entrada franca.
O pernambucano Manoel Veiga penetrou o universo pictórico do italiano Caravaggio (1571-1610), para encontrar os espaços vazios, os intervalos no magnífico jogo de sombras e luzes que caracteriza a obra deste que é considerado por muitos como um dos maiores nomes da pintura barroca no mundo e certamente o maior pintor da Itália de seu tempo. Manoel Veiga atua apresentando o que seriam recortes de vestes dos personagens de Caravaggio. Pedaços de corpos apenas insinuados, destacando gestos e revelando os movimentos vigorosos por trás de cada figura.
“(...) chegamos ao exercício de Manoel Veiga ao adentrar as narrativas visuais de Caravaggio. Reparem na escolha pelo verbo “adentrar” e na atribuição às criações do mestre como narrativas. Veiga foge do hábito categórico das possíveis lógicas de (re)construção da história da arte como mecanismo de apropriação, o que a tantos artistas é estratégia habitual. Os procedimentos são internalizar, adentrar, deixar-se perder num labirinto de anatomias humanas e de espaços e seus comportamentos. Frear a cada parte de corpo encontrada, tatear às cegas o ar que preenche o espaço. Não é a consonância com um caráter progressista ou conservador, revolucionário ou nostálgico em relação ao passado – no seu caso, personificado em Caravaggio. É que na série “Matéria Escura”, o artista dribla a demonstração arqueológica que se estabelece como estudo de processos, de métodos e que se demonstra nas leituras sobre o pintor na história da arte. O interesse de Veiga recai na premissa de que nas dimensões espaciais de Caravaggio que relatam cenas e parecem registrar instantes há um “onde” a ser reevidenciado como vazio. É com esse sentido de ausência que Veiga traduz Caravaggio. O artista simula outra profundidade na perspectiva arquitetada pelo pintor e lhe acrescenta intervalos vazios. São interstícios constituídos de negros.
Assim, o gesto de adentrar lhe cai como prática. O artista extrai a composição cromática das pinturas, reorganiza o espaço a partir de um desenho de escuro e o que sobra são os intervalos entre as coisas: vestimentas e suas pregas e dobras, reentrâncias, ilusórias perspectivas de baixos-relevos, além dos caimentos de tecidos que formulavam uma espécie de moldura teatral dos espaços caravaggescos. Nestes novos cenários, formulados por uma presença de um negro profundo, Veiga também executa uma reconstrução da imagem do corpo que, nas narrativas de Caravaggio, lhe conferiam tanto um sentido de ação como de escala, mas não com a intenção de aniquilar os personagens e seus gestos. O intuito do artista é dissolver tais performatividades e transpô-las como índices nas vestes dos personagens e nas relações destas com o novo espaço que formula.
Estas arquiteturas traduzidas desde Caravaggio por Manoel Veiga verbalizam uma imagem/espaço que abre como possibilidade de percepção uma análise do ambiente caravaggesco. E neste rasante, o artista torna visível os limites destes objetos, ou seja, a fronteira descritível entre corpo e espaço. Vale também pontuar que com estas extrações de corpos, Veiga fabula uma outra topografia de Caravaggio, ou melhor, a sua versão de relevos para as narrativas do mestre: sugestões de braços, pernas, dorsos, troncos que se misturam esquartejados; modulações de altos e baixos entre um corpo e outro; fronteiras entre primeiro e segundo plano e ponto de fuga; borramentos entre corpos, objetos e espaço e também entre o visível e a sua sombra. Há nesse jogo de inventividade geográfica a evocação de partes do corpo em plena atuação e seus espectros que vibram no escuro da matéria negra que é espaço. Daí que nos parece oportuno relembrar o célebre trecho de um diálogo de Hamlet, quando este indaga a rainha: “Não estás vendo nada ali?”. E ela o responde: “Absolutamente nada, mas tudo o que há eu vejo”.
Galciani Neves
Janeiro 2017
MANOEL VEIGA
Nasceu em 1966, em Recife (PE). Vive e trabalha em São Paulo (SP). Graduado em Engenharia Eletrônica pela UFPE, em 1994 dedica-se às Artes Plásticas. Estudou na Escola Nacional Superior de Belas-Artes e na Escola do Louvre em Paris, França. Em São Paulo, estudou com Rodrigo Naves, Leon Kossovitch, Carlos Fajardo e com Nuno Ramos.
Realizou mostras em instituições e galerias do Brasil e do exterior, com destaque para Galeria Dengler Und Dengler, de Stuttgart (Alemanha); Memorial da América Latina, Paço das Artes e Instituto Tomie Ohtake (São Paulo); Galeria D’Estet D’Ouest, em Paris (França); Museu Oscar Niemeyer e Museu de Arte Contemporânea do Paraná, em Curitiba; Museu Murillo La Greca, MAMAM Recife, Fundação Joaquim Nabuco, Recife (Pernambuco); Familie Montez Kunstverein, de Frankfurt (Alemanha) e Centro Cultural Parque de Espanha, em Rosario (Argentina).
Recebeu prêmios “Mostras de Artistas no Exterior” (Fundação Bienal de São Paulo / Ministério da Cultura do Brasil), em 2010; Jabuti (Ilustração para Livro Infantil), em 2010; Flamboyant (Salão Nacional de Arte de Goiás) e Menção Especial (Bienal do Recôncavo), ambos em 2006.
Tem obras em coleções públicas como MAC USP São Paulo (SP), Museu Oscar Niemeyer (PR) e MACParaná, em Curitiba (PR), Fundação Joaquim Nabuco, em Recife (PE); MAC Goiânia (GO); MAC Sorocaba (SP); MAMAM Recife (PE).
Gisele Camargo na Alfinete, Brasília
A narrativa perturbadora de Franz Kafka e o inigualável jogo de luz e sombras de Caravaggio são motor da nova série de trabalhos de dois artistas que vêm se destacando no universo da arte contemporânea brasileira e que expõem, a partir do dia 21 de abril, nas duas salas da Alfinete Galeria. Gisele Camargo apresenta, na Sala Um, as obras que integram a série de pinturas Construção. Já Manoel Veiga exibe, na Sala Dois, os trabalhos de Matéria escura. Ambas as exposições poderão ser vistas até o dia 12 de maio, sempre às quintas e sexta-feiras, das 14h30 às 18h, e aos sábados, das 15h às 20h. Entrada franca.
A jovem e premiada artista carioca Gisele Camargo foi buscar nas linhas do conto ‘A Construção’, já apontado por parte da crítica como uma espécie de testamento literário de Kafka (1883-1924), o sopro de criação para suas pinturas. No livro, o grande escritor tcheco apresenta o cotidiano frenético e angustiante de uma criatura que vive sob a terra, entre túneis e esconderijos, sempre temendo invasores, demoronamentos, ataques etc. Por isso, passa a vida escavando, alargando, criando artimanhas. A paisagem sempre despertou interesse em Gisele Camargo, que busca trabalhá-la a partir de perspectivas diferentes. “A pintura é um meio inesgotável”, já afirmou a artista, indicada ao Prêmio Pipa por cinco anos: 2012, 2013, 2014, 2015 e 2018.
A série de pinturas "Construção" está sendo desenvolvida pela artista Gisele Camargo ao longo deste ano de 2018. Para a Alfinete Galeria, a artista trará o que é considerada a primeira parte, uma série de 60 pinturas dentre um total de 170 obras de pequeno formato. Com um detalhe: todo o valor arrecadado com a venda dos trabalhos será convertido para a construção da Residência Artística Serra Morena, na Serra do Cipó, MG.
Segundo informa a artista, as pinturas começam a partir de uma forma aleatória. “Assim, vai surgindo um caminho espacial por onde a pintura vai. A paleta de tons muito próximos vai mudando no ritmo das formas, como uma construção mesmo, remetendo ao conto "A Construção", de Kafka, de onde veio a idéia para o titulo pra série”, disse Gisele Camargo.
GISELE CAMARGO
Nascida no Rio de Janeiro/RJ, em 1970. Vive e trabalha entre a Serra do Cipó, em Minas Gerias, e o Rio de Janeiro. É graduada em pintura pela Escola de Belas Artes da UFRJ. Recebeu diversos prêmios, tais como: Prêmio Arte Patrimônio pelo Iphan (2013), Prêmio Ibram de Arte Contemporânea (2011) e Prêmio Sim de Artes Visuais (2008).
Das exposições individuais recentes, destacam-se: “Noite americana ou Luas invisíveis”, Galeria Luciana Caravello (Rio de Janeiro, RJ, 2014), “Cápsulas e Luas”, Paço Imperial (Rio de Janeiro, RJ, 2014), “Falsa Espera”, Galeria Oscar Cruz (são Paulo, SP, 2012), “Metrópole”, Galeria Mercedes Viegas (Rio de Janeiro, RJ, 2011), “A Capital” e Galeria IBEU (Rio de Janeiro, RJ, 2011).
E das coletivas recentes: “Cruzamentos”, Wexner Center for theArts (Columbus, EUA, 2014), “Duplo Olhar”, Paço das Artes (São Paulo, SP, 2014), “Paisagens Artificiais”, Galeria Pilar (São Paulo, SP, 2012), “Dez anos do instituto TomieOhtake”, Instituto TomieOhtake (são Paulo, SP, 2011), “Coletiva 11”, Galeria Mercedes Viegas (Rio de Janeiro, RJ, 2011), “O Lugar da linha”, MAC (Niterói, RJ, 2010).
abril 16, 2018
Mauro Restiffe no IMS Paulista, São Paulo
Em 2012, a convite da revista ZUM, o fotógrafo paulista Mauro Restiffe fotografou o bairro da Luz, região que abriga a famosa Cracolândia e que passava por controversa intervenção municipal e estadual. Em 2013, Restiffe foi convidado a estender o trabalho e registrar a transformação da cidade no período que antecedeu a realização da Copa do Mundo. A exposição São Paulo, fora de alcance, que abre em 14 de abril no IMS Paulista, é o resultado de muitas caminhadas diárias que o fotógrafo realizou durante cerca de três meses em bairros centrais e periféricos, como Brás, República, Pinheiros, Vila Congonhas e Itaquera. Conhecido pelas séries fotográficas que desenvolve em torno de questões urbanas de relevância histórica, política e arquitetônica, Restiffe produziu centenas de fotografias com a câmera Leica e o filme preto e branco de alta sensibilidade que fazem parte sua poética artística.
As 19 obras escolhidas para a exposição apresentam a cidade, o espaço urbano e seus habitantes. Longe de cartões-postais, as fotografias atualizam o repertório visual de São Paulo ao olhar para espaços públicos e construções importantes como o Itaquerão, o Templo de Salomão, a praça Roosevelt, o vão livre do Masp e o Museu do Ipiranga.
Os usos que os habitantes fazem da cidade e os diversos estágios de construção e conservação do patrimônio arquitetônico se combinam para narrar visualmente a experiência fragmentada que caracteriza a vida urbana. Nas imagens da exposição, os deslocamentos diários ou os passeios de fim de semana se misturam a fatos extraordinários, como o incêndio no Memorial da América Latina ou um dos vários protestos realizados em 2013. O preto e branco granulado também serve de metáfora para os conflitos temporais e a organização precária das cidades.
As obras de Restiffe, que variam de 60 centímetros a 2 metros de largura, são penduradas em painéis espalhados pelo espaço expositivo, em vez de estarem afixadas nas paredes, como numa exposição fotográfica tradicional. A montagem faz alusão ao percurso não linear das cidades e obriga o visitante a confrontar-se com as obras e contorná-las, construindo planos, perspectivas e bloqueios conforme caminha. O título da exposição também sugere a impossibilidade de representar uma cidade grande e complexa como São Paulo.
O projeto expográfico é de Martin Corullon, do escritório Metro Associados, e a identidade visual de Daniel Trench.
Publicado para acompanhar a exposição, o fotolivro São Paulo, fora de alcance exibe 50 fotografias de Mauro Restiffe e texto do curador Thyago Nogueira em 112 páginas e formato 22 x 29 cm (R$ 89,90).
Mauro Restiffe nasceu em São José do Rio Pardo, em 1970. Formou-se em cinema pela Faap e estudou fotografia no International Center of Photography e na New York University. Suas obras foram expostas, entre outros lugares, no MAC-SP (2011) e na 27ª Bienal de São Paulo. Seu trabalho faz parte de coleções importantes, como as da Tate Modern, do MoMA de São Francisco, de Inhotim e da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Foi indicado ao prêmio BES-Photo de 2011 e, em 2013, foi premiado pela Fundação Conrado Wessel. Expôs no Rio de Janeiro em 2006, na galeria Laura Marsiaj.
Douglas Gordon no IMS Paulista, São Paulo
O escocês Douglas Gordon apresenta o trabalho Îles flottantes (Se Monet encontrasse Cézanne, em Montfavet), videoinstalação que foi exibida uma única vez, em 2008, na exposição Où se trouvent les clefs? (Onde estão as chaves?) realizada na Coleção Lambert, em Avignon, França.
A obra audiovisual registra uma ação que Gordon empreendeu na residência de Yvon Lambert, fundador da coleção. O escocês inverteu o fluxo do sistema de canalização do local, inundando o seu jardim. No vídeo, a água se espalha, encobrindo progressivamente crânios humanos dispostos pelo artista no local.
Conhecido por criar obras em múltiplos formatos, Gordon costuma fazer referências a grandes ícones da arte. No trabalho exibido no IMS, ele alude à obra do pintor francês Paul Cézzane (1839-1906), que passou grande parte de sua vida na Provença, cuja paisagem inspirou várias de suas obras. Em seus últimos anos, pintou uma série de naturezas-mortas compostas apenas por conjuntos de crânios dispostos sobre uma mesa. A obra também estabelece um contraponto entre a produção de Cézzane e a do pintor Claude Monet (1840-1926).
“Ao colocar os crânios numa paisagem aquática, Gordon estabelece uma tensão entre duas maneiras opostas e complementares de ver, próprias de dois mestres do impressionismo: a transparência e a docilidade dos reflexos do jardim inundado, marco das paisagens aquáticas de Monet, se sobrepõem à consistência volumétrica e à concentração luminosa de Cézanne”, pontua Lorenzo Mammì, curador da mostra e de programação e eventos do IMS.
Como parte da programação da mostra, o artista carioca Daniel Jablonski ministrará, no dia 26/4, às 19h, uma aula sobre a videoinstalação de Douglas Gordon. O artista discutirá a presença do símbolo do crânio na instalação, abordando como a morte e seus signos foram retratados ao longo da história da arte.
Além do IMS Paulista, Gordon exibirá seu trabalho na mostra individual I will, if you will..., que a galeria Marília Razuk recebe de 9 de abril a 26 de maio. A exposição reunirá obras em diferentes suportes, entre vídeos, desenhos e esculturas, que dialogam com a videoinstalação apresentada pelo IMS.
Douglas Gordon nasceu em Glasgow, Escócia, em 1966. Vive e trabalha em Berlim, Glasgow e Paris. Em 1996, tornou-se o primeiro artista a receber o prêmio Turner trabalhando com vídeos. Em 2010, participou da 29ª edição da Bienal de São Paulo. Entre suas obras mais conhecidas, estão 24 Hour Psycho [Psicose 24 horas], de 1993, em que desacelera o filme Psicose, de Alfred Hitchcock, fazendo-o durar 24 horas; Zidane: A 21st Century Portrait [Zidane: um retrato do século XXI], com Philippe Parreno, de 2006, e o recente I Had Nowhere to Go [Eu não tinha para onde ir], de 2016, um retrato de Jonas Mekas, padrinho do cinema americano de vanguarda.
abril 13, 2018
Emmanuel Nassar na Pinacoteca, São Paulo
Pinacoteca de São Paulo apresenta retrospectiva de Emmanuel Nassar
A partir de 14 de abril, a Pinacoteca Estação recebe a retrospectiva do artista paraense Emmanuel Nassar (Capanema, PA, 1949). Com patrocínio de Credit Suisse, Emmanuel Nassar: 81-18 abre o calendário de exposições do prédio, que é da Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura do Estado.
Com sua produção, Nassar provoca reflexões sobre o “erudito” e o “popular”. Suas pinturas e objetos estão marcados por interações aparentemente banais: das logomarcas pintadas em fachadas de rua à geometria rigorosa que remete ao concretismo brasileiro; da pintura popular do circo e do parque de diversões que circula o país à ironia da arte-pop americana. Além disso, o uso de símbolos como a bandeira nacional, a logomarca da Coca-Cola e a referência à Hollywood estão também presentes sem hierarquias, mas apresentadas com um senso de humor irônico.
“O trabalho de Emmanuel Nassar é muito potente. Fez com que a crítica do sudeste repensasse a noção idealizada que existia do pintor dito ingênuo”, explica o curador Pedro Nery.
A mostra apresenta quatro décadas de produção, reunindo trabalhos conectados por temas que são recorrentes ao longo desse período. Serão abordadas questões sobre identidade, a pop-arte ou a iconografia circense. Serão mais de cem trabalhos, entre eles Receptor, de 1981, o mais antigo presente na retrospectiva e que marca uma guinada em sua produção artística. Também Fachada, obra do acervo da Pinacoteca que representa em escala real o pórtico de um circo de rua e que foi feita para servir de entrada para a sala do artista na Bienal de 1989.
Vale lembrar que esta individual dá continuidade ao programa de exposições que pretende realizar uma revisão da carreira de artistas que iniciaram suas trajetórias na década de 1980 e construíram um percurso destacado no contexto da arte contemporânea brasileira.
“O que há de mais perene no conjunto da obra de Nassar é, possivelmente, a ambiguidade de dois mundos brasileiros, um informal das ruas e da experiência mundana em contraste com a formalidade geométrica e utópica”, completa Nery.
A Pinacoteca prepara um catálogo que reunirá dois textos inéditos escritos pelos autores Pedro Nery e Thierry Dufrêne, historiador da arte. O livro trará ainda reproduções das obras expostas.
“EN: 81-18” permanece em cartaz até 02 de julho de 2018, no quarto andar da Pina Estação – Largo General Osório, 66. A visitação é aberta de quarta a segunda-feira, das 10h00 às 17h30 – com permanência até às 18h00 – e entrada gratuita. A Pina Estação fica próxima à estação Luz da CPTM.
abril 12, 2018
Laura Vinci no Ling, Porto Alegre
Abertura da mostra acontece no dia 17 de abril, com palestra da curadora Virginia Aita e da artista
De 17 de abril a 21 de julho de 2018, o Instituto Ling apresenta a exposição Todas as Graças, da artista paulista Laura Vinci. Com curadoria de Virginia Aita, Todas as Graças é uma instalação concebida especialmente para a galeria do Instituto Ling, com peças das séries Graças, Pins e Mundos, produzidas entre 2015 e 2018, em que a artista trabalha com materiais como latão (banhado a ouro e prata) e vidro borosilicato. São 21 peças da série Graças, quatro peças da série Mundos e 180 Pins, dispostas no solo e paredes, em conjuntos que se relacionam entre si e preenchem de forma harmônica o espaço da galeria.
Por ocasião da abertura da exposição, na terça-feira, 17 de abril, às 19h, a curadora e a artista farão uma conversa aberta com o público. A entrada é franca, por ordem de chegada.
Conhecida do público portoalegrense por suas participações na Bienal do Mercosul (1999, 2005, 2009 e 2015), Laura Vinci é escultora e artista intermídia, com atuação em cenografia teatral. A artista se interessa, principalmente, pelo espaço e suas possíveis configurações. Com sua narrativa particular, poética e política em torno do corpo, do espaço e do efêmero, seus trabalhos são intervenções que provocam mudanças no ambiente, muitas vezes diante dos olhos do espectador. Laura VInci investiga diferentes materiais, explorando suas diversas propriedades e seus potenciais de transformação visível, como nas passagens de estado (como mármore, pó e vidro, ou água, gelo e vapor) ou nas metamorfoses desses materiais.
Desde o final dos anos noventa, Laura também se dedica ao teatro, fazendo cenografia e direção de arte. Em 1998 fez Cacilda!, com o diretor José Celso Martinez Correa; em 2010 trabalhou na adaptação da novela de Dostoievski, O Idiota, com a Mundana Companhia. E, em 2013, também com a Mundana Companhia, fez O Duelo - uma adaptação teatral da novela de Anton Tchekhov.
Suas obras fazem parte dos acervos da Pinacoteca do Estado de São Paulo, do Inhotim (MG), do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo e do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.
Segundo a curadora Virginia Aita, “a instalação Todas as Graças é um recorte peculiar na sua produção: mais intimista, solicita uma ‘escuta’ sutil das formas, que se coagulam num desenho despojado, pontuando elegantemente um silêncio aparente. Condensações de espaço e tempo, essas esculturas funcionam num conjunto dinâmico”, diz em seu texto curatorial (acesse o texto completo).
A exposição é organizada pelo Instituto Ling com patrocínio da Crown Embalagens e realização do Ministério da Cultura / Governo Federal.
Sobre a artista
Laura Vinci se formou em Artes Plásticas na FAAP, fez mestrado na ECA-USP e iniciou sua produção nos anos 1980, participando de várias exposições no Brasil e no exterior. Entre elas, destacam-se: Estados (CCBB, SP), a 26ª Bienal Internacional de São Paulo, duas edições da Bienal do Mercosul e Papéis Avulsos (Art Center, South Florida, Miami), além de participar do programa de residência The South Project na RMIT University (Melbourne, Austrália). A artista também expôs no Octógono da Pinacoteca de São Paulo; produziu as instalações Ainda Viva, No Ar e Morro Mundo na Galeria Nara Roesler (RJ em 2017 e SP em 2018); apresentou a obra LUX na capela do Morumbi (SP) e no Carpe Diem (Lisboa); e realizou a instalação Diurna no Farol Santander (SP, 2018). Além disso, atuou como diretora de arte e cenógrafa nas peças Cacilda! (2001), dirigida por José Celso Martinez Corrêa; Só (2009), de Letizia Russo; O idiota (2010-11), baseada na obra de Dostoiévski e realizada pela Mundana Companhia; O Duelo (2013); e A última palavra é a penúltima - 2 (2014), com a companhia Teatro da Vertigem. Em 2015, participou da criação de Na Selva das Cidades, de Brecht.
Sobre a curadora
Com breve incursão pelas artes nos anos 1990 e mestrado e doutorado em Filosofia, Virginia Aita especializou-se em filosofia moderna, estéticas anglo-americanas e Arthur C. Danto. Estudou Filosofia e História da Arte na Universidade de Columbia (Barnard College, NY), onde realizou seu pós-doutorado em Estética entre 2015 e 2016, e participou de cursos temporários na School of Visual Arts. Lecionou na UFRGS, na UFBA, na Casa do Saber (SP) e no Instituto Ling, fez curadorias na Fundação Iberê Camargo e em projetos independentes e produz na área de filosofia e crítica de arte, tendo participado de congressos na Espanha (2014, 2016), em Nova York (NYU, 2016) e na Filadélfia (ASA, 2017).
Conversa com Cabelo, Davi Kopenawa Yanomami e Lisette Lagnado no BNDES, Rio de Janeiro
Exposição Luz com Trevas recebe xamã Davi Kopenawa
Na quinta-feira (19/4), o Espaço Cultural BNDES e a Rosa Melo Produções Artísticas convidam o público carioca a participar de uma conversa aberta com o xamã Davi Kopenawa Yanomami. A diálogo acontece das 15h às 18h e integra a programação da exposição do artista visual, poeta e músico Cabelo, Luz com Trevas, com curadoria da crítica de arte Lisette Lagnado.
Porta-voz dos índios Yanomami do Brasil, Kopenawa nasceu por volta de 1956, em Marakana, extremo norte do Amazonas, e testemunhou a invasão do território Yanomami por garimpeiros em busca de ouro. Para impedir a extinção do seu povo, engajou-se em uma luta que percorreu o mundo, sendo reconhecido como um dos maiores defensores da Amazônia e de seus primeiros habitantes. É coautor do livro “A Queda do Céu, Palavras de um Xamã Yanomami” (Companhia das letras, 2015) e fundador da Associação Hutukara, que representa a maioria dos Yanomami no Brasil.
No encontro, Kopenawa, Cabelo e Lagnado conversam com o público sobre “xapiri, entidades e espíritos; entendendo que a floresta é o mundo, e a interrelação incontornável entre natureza e cidade, contextualizando a energia poética que Cabelo traz na exposição, e a transversalidade com a imanência dos xapiri”, explica a curadora. Na cultura indígena, xapiris são xamãs ou “pessoas-espírito”.
Xapiri, entidades e espíritos – conversa aberta ao público com Davi Kopenawa Yanomami, Cabelo e Lisette Lagnado
Quando: quinta 19/4, das 15h às 18h
Onde: Espaço Cultural BNDES (av. Chile, 100, Centro, Rio de Janeiro. Próximo ao metrô Carioca)
Classificação etária: livre
A EXPOSIÇÃO
“Luz com Trevas” é um rap de Cabelo, produzido por Kassin e Nave, e integra o disco Cabelo Cobra Coral, já em fase de gravação. O universo poético da música deflagrou propostas de ações coletivas e a produção de pequenos filmes e objetos como “ovos-bomba”. Segundo Lagnado, “o ovo-bomba retoma a teoria do não-objeto de Ferreira Gullar. Quando manipulado por artista e participantes, funciona como um coquetel Molotov, um bólide que atravessa a atmosfera de um espaço qualquer e instaura um ritmo novo, um compromisso com a potência da poesia. Luz com Trevas pode ser definida como uma anti-exposição.”
Durante a abertura da mostra foi lançada uma publicação bilíngue e ilustrada, contendo um pequeno ensaio de Lagnado e um glossário dos termos recorrentes que vêm acompanhando Cabelo ao longo de duas décadas. A curadora, responsável pelo convite feito a Cabelo em 1996 para participar da antológica mostra “Antarctica Artes com a Folha” (Pavilhão Manoel da Nóbrega, Parque Ibirapuera), traça linhas de discussão com suas referências e homenagens: David Medalla, Hélio Oiticica, Rogério Sganzerla, Tarsila do Amaral e Tunga, entre outros.
O ARTISTA
Em 1997, Cabelo foi um dos artistas brasileiros na Documenta X (com curadoria de Catherine David), prestigiada exposição internacional organizada a cada cinco anos na cidade de Kassel (Alemanha). Entre outras coletivas, destacam-se a Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2009), a Bienal de São Paulo (2004) e “How Latitudes Become Forms: Art in a Global Age” (Walker Art Center, Minneapolis, EUA, 2003).
Em muitas de suas obras, Cabelo utiliza a música, seja ela improvisada com um microfone ou com uma banda no palco de um teatro, transformando em raps poemas de Baudelaire ou Gerardo Melo Mourão. Também faz trilhas sonoras que integram instalações, como em Caixa Preta, com Paulo Vivacqua, misturando funks proibidões com as vozes de Glauber Rocha e Hélio Oiticica. Como compositor, tem músicas gravadas por Cidade Negra, Monobloco, Osvaldo Pereira, Ney Matogrosso e Pedro Luis e a Parede, entre outros. “Luz com Trevas” entre outras poderão ser ouvidas no site do artista: www.cabelo.etc.br/disco/
A exposição Luz com Trevas fica aberta até o dia 11/5. Todas as atividades do Espaço Cultural BNDES têm entrada franca.
Ronald Duarte na Artur Fidalgo, Rio de Janeiro
Artista ocupará a Artur Fidalgo Galeria com uma grande instalação feita com bambus e uma série de pinturas feito com bastão oleoso que pertenceu ao artista norte-americano Richard Serra
Artur Fidalgo Galeria inaugura, no dia 17 de abril, a exposição Ronald Duarte – Bambuzal, com uma grande instalação composta por diversos bambus e 19 pinturas em óleo sobre tela, que se relacionam com a instalação. Todos os trabalhos são inéditos e foram produzidos este ano especialmente para esta exposição.
Com curadoria de José Damasceno, a exposição é uma ocupação espacial da galeria a partir de um único material: o bambu. Por todo o espaço expositivo, o material distribui-se em diferentes formas, onde cria-se uma grande instalação com bambus que se organizam segundo o jogo entre ordem e desordem produzindo novos espaços. Deparamo-nos, então, com esse bambuzal inventado, esse bambuzal experimental. Espaço de liberdade e convívio. A escolha do material foi proposital: “Bambus vêm da ideia de resistência, que enverga, mas não quebra, como o momento atual que vivemos”, diz o artista.
Completa a mostra uma série de pinturas que fazem parte da série inédita “Bambuzal”, que faz parte de uma pesquisa que o artista vem desenvolvendo desde 2015, em que imprime o gesto através de um bastão a óleo sobre a tela, configurando energias das transversalidades e atravessamentos no espaço. As obras da série “Bambuzal” foram feitas utilizando bastão paint stick, dado de presente para o artista pelo escultor norte-americano Richard Serra (San Francisco, 1938), em 1997, quando realizou exposição no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, no Rio de Janeiro. Ronald Duarte foi assistente do artista nessa mostra e, após produzir os trabalhos com esse bastão oleoso, Serra o deu de presente para Ronald, que agora, mais de 20 anos depois, cria os desenhos em que representa bambus com esse mesmo bastão.
SOBRE O ARTISTA
Ronald Duarte (Barra Mansa, 1963. Vive e trabalha no Rio de Janeiro) é mestre em história da arte com habilitação em linguagens visuais pela UFRJ.
Nos últimos 20 anos participou de importantes exposições e eventos culturais no Brasil e no Mundo. Faz sua primeira individual em 1999 no IBEU de Copacabana, Rio de Janeiro, RJ, em seguida em 2000 expõe no Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, RJ; em 2001 e 2002 ganha o Prêmio Interferências Urbanas em Santa Teresa, Rio de Janeiro, RJ, com os trabalhos “O Que Rola Vc Vê” e “Fogo Cruzado”; em 2004 ganha da Funarte o Prêmio Projéteis em Arte Contemporânea e realiza pela primeira vez o “Nimbo//Oxalá”; em 2005 apresenta o “Fumacê do Descarrego” no Ano do Brasil na França no evento Nuit Blanche em Paris, França; em 2006 ganha o Prêmio Marcantonio Vilaça – Funarte com a série de vídeo “Guerra é Guerra”; em 2007 interfere no Museu Imperial de Petrópolis, RJ com o trabalho “Funk da Coroa Imperial” “O Museu como lugar”, Petrópolis, RJ; em 2008 ganha o Prêmio Iberê Camargo, apresentando a Performance “Alvo Fácil” na Cidade do Porto, Portugal, Fundação Serralves, Portugal; em 2009 convidado a participar da 10ª Bienal de Havana, Cuba com o trabalho “Nimbo//Oxalá”, que será apresentado também na 2ª Bienal do Fim do Mundo, Ushuaia, Patagônia, Argentina; no mesmo ano propõe uma guerra civil em Paint Ball no Museu Het Domain, Sittard, Holanda.
Em 2010 participa como convidado da 29ª Bienal de São Paulo, SP, e participa da exposição Afro-Modern na Tate Galery, Liverpool, Reino Unido, essa mesma mostra foi para o Centro Galego de Arte Contemporânea, Santiago de Compostela, Espanha; em 2011 ganha o Prêmio da Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro, RJ, apresenta o trabalho “Peito de Aço” é convidado pra fazer a Abertura da Art Basel, Miami, EUA e em seguida representa o Brasil na Europália, Bélgica, no mesmo ano participa da 4ª Bienal de Porto Santo, no arquipélago da Madeira, Portugal, apresentando o trabalho “O Brilho dos Olhos”; em 2012, Ano do Brasil em Portugal, é convidado como curador e artista no projeto “Tranza Atlântica” em Guimarães, Portugal, Capital Cultural Européia; em 2013 é convidado a participar da Feira do livro de Frankfurt no Ano do Brasil na Alemanha; em 2014 apresenta “Matadouro/Boiada de Ouro”, no Neuen Berliner Kunstverein, Berlim, Alemanha.
Ronald participa do Festival de Arte de Accíon, em Cuenca, Equador, no ano de 2015, construindo um espiral de brasas: “Ancestral”. Em 2016, com a ação “Tapete para Encantados” e “Ferramenta de Exu” compõe a exposição ORIXÁS, na Casa França-Brasil, RJ. No ano de 2017, em parceria com o Coletivo Carne e Lourival Cuquinha, acionam o “EiXU DA TERRA”, resultado de uma das oficinas do evento Criaturas Urbanas, Recife-PE. No mesmo ano faz a “Boiada de Ouro”, no centro de Nova Friburgo e a instalação “Boiada do Chico”, na galeria KM7, em Nova Friburgo, Rio de Janeiro.
abril 11, 2018
Conferência sobre León Ferrari no MAM, São Paulo
León Ferrari: valor de culto e valor de exposição
Mediação: Lisette Lagnado
Apresentação: Anna Ferrari (Fundação Augusto e León Ferrari Arte e Acervo -FALFAA)
Depoimento: Regina Silveira
Participantes: Pablo León de la Barra (Guggenheim, New York) e Victoria Northoorn (Museu de Arte Moderno de Buenos Aires.
12 de abril de 2018, quinta-feira, às 18h
MAM-SP - auditório
Av. Pedro Álvares Cabral s/n°, Parque Ibirapuera, São Paulo
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Por que León Ferrari é um artista tão essencial para o momento atual? O que sua obra representa em termos de horizonte estético? A Conferência León Ferrari: valor de culto e valor de exposição é uma plataforma reflexiva que acompanha as exposições León Ferrari, por um mundo sem Inferno, com curadoria da crítica de arte Lisette Lagnado, que acontecem na Galeria Nara Roesler, em São Paulo e Nova York, a partir de abril, trazendo distintas seleções para cada cidade. O objetivo principal consiste em evidenciar a complexidade desse itinerário, a fim de evitar a cristalização de falsas dicotomias dentro de uma emblemática produção do século 20.
Nos últimos anos, a obra do argentino León Ferrari (1920-2013) vem merecendo diferentes enfoques. Em 2009, a mostra organizada pelo Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) estabeleceu um diálogo com Mira Schendel e ressaltou uma reflexão sobre a linguagem com destaque para as caligrafias, ao passo que a curadoria da 31ª Bienal de São Paulo (2014) deu ênfase à sua releitura da Bíblia. Para isso, o coletivo argentino Etcétéra revisitou a imensa colagem de textos Palabras ajenas [Palavras alheias]: conversas de Deus com alguns homens e de alguns homens com alguns homens e Deus (1967), compilação que denuncia os responsáveis dos crimes contra a humanidade, na qual o artista coloca, na mesma balança, nazismo, imperialismo e Igreja católica.
Partindo da obra de Ferrari, a Conferência León Ferrari: valor de culto e valor de exposição reúne comunicações de renomados críticos e diretores de museus com a tarefa de trazer para a contemporaneidade uma série de questões levantadas pelo artista desde os anos 1960, que ainda repercutem hoje: a relação entre religião e capitalismo; os desafios que a obra coloca às instituições após a morte de seu autor; onde termina a política e onde começa a vanguarda artística; qual a ressonância da obra nos artistas latino-americanos mais jovens?
No momento em que vivemos o retorno da censura a obras e exposições, justifica-se resgatar uma trajetória de mais de seis décadas atravessada por sua densidade, ética e coragem. Ao reforçar a dialética entre experimentalismo artístico e engajamento político, a trajetória de León Ferrari coloca um desafio importante a ser considerado pelas próximas gerações.
A Conferência é uma realização da Galeria Nara Roesler e tem apoio da SP-Arte , da Revista ARTE!Brasileiros e do Consulado Argentino.
*As falas da conferência serão realizadas no idioma original dos participantes (português e espanhol).
Andressa Cantergiani e Maurício Ianês na Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre
Mostra dos artistas Andressa Cantergiani e Maurício Ianês foi selecionada no Edital para Exposições Temporárias 2018 e fica em cartaz até o dia 3 de junho. A entrada é franca
O próximo fim de semana na Fundação Iberê Camargo, dias 14 e 15 de abril, será marcado pela abertura da exposição Avesso, dos artistas Andressa Cantergiani e Maurício Ianês. A mostra – selecionada pelo Edital para Exposições Temporárias 2018 – é uma ação-instalação concebida e executada pelos artistas, que pretende tornar visíveis e presentes as estruturas, trabalhadoras e trabalhadores da Fundação Iberê Camargo, assim como os seus visitantes. Avesso é uma ocupação performática e relacional com duração de um mês e meio, ocupando o 4º andar até o dia 03 de junho, com a presença dos artistas aos sábados e domingos. Durante a semana, quando acontecem as visitas mediadas para grupos, o trabalho estará aberto para visitação e participação do público.
Ao “virar do avesso” a instituição, a obra propõe um questionamento sobre como as relações são criadas dentro de um espaço institucional artístico, ampliando e revelando as possibilidades de criação de forma coletiva e transparente.
A ação se desdobra em diferentes momentos:
No primeiro momento, os artistas ocuparão o espaço expositivo e seu entorno (salas internas de trabalho da instituição, a cafeteria, o espaço externo do museu e sua vizinhança), criando diálogos com os visitantes, funcionários e pedestres da área externa. Estes diálogos levarão à construção de ações temporárias específicas, de acordo com o desejo dos participantes.
Num segundo momento, Cantergiani e Ianês irão buscar objetos não-perecíveis nas lixeiras e depósitos da instituição, da cafeteria e da área externa da Fundação. Esses objetos serão usados para construir esculturas temporárias efêmeras, com a participação dos visitantes. As esculturas e instalações produzidas irão ocupar o espaço expositivo. Além daquelas construídas com o público, Cantergiani e Ianês poderão também construir peças individualmente ou em dupla, usando os objetos para criar microperformances coletivas dentro da obra. Para a manipulação destes objetos, serão usadas luvas protetoras amarelas que ficarão à disposição do público.
O terceiro momento será a marcação com fita isolante dos corpos dos participantes e visitantes. A técnica de demarcação de silhueta é utilizada em perícias médico-legais científicas pelo Instituto Médico Legal para demarcar cadáveres ou corpos vivos em cenas de crime. A ação consiste em abordar o público e usar fita isolante preta para demarcar as posições dos corpos, em relação à arquitetura da Fundação. As relações, assim como o desenho com as fitas, vão acontecendo lentamente e se expandindo pelo espaço, criando intersecções e acumulações. O acúmulo destas marcações de corpos irá, pouco a pouco, preencher todo o piso da sala, criando uma rede labiríntica de corpos ausentes.
O quarto momento será a marcação da presença dos visitantes e funcionários da Fundação nas paredes. Será solicitado às pessoas que escrevam seus nomes nas paredes, diariamente, junto aos horários do período em que ficaram presentes, usando sempre a mesma caneta preta. Esta rede de nomes irá compor o processo de ocupação do espaço, junto das outras ações.
Espera-se que, durante o processo, a sala termine preenchida com nomes, marcações de corpos e esculturas de resíduos, criando uma grande ação-instalação em processo.
Avesso é a primeira mostra contemplada no Edital para Exposições Temporárias 2018, que também apresentará a exposição Náufragos na Correnteza do Tempo, de Denise Gadelha.
A Fundação Iberê Camargo tem o patrocínio de Itaú, Grupo GPS, IBM, Oleoplan, Agibank, BTG Pactual, Banrisul e apoio SLC Agrícola, DLL Group e Sulgás, com realização e financiamento do Ministério da Cultura / Governo Federal.
Sobre os artistas
Andressa Cantergiani (1980, Caxias do Sul, RS, Brasil) é doutoranda em Artes Visuais pelo PPGAV/UFRGS. Mestre em Comunicação e Semiótica da PUC/SP. Graduada em Arte Dramática pela UFRGS/RS. Estudou Performance art na Universidade das artes em Berlin UDK/ALEMANHA. É fundadora, artista e gestora da Galeria Península. Em sua produção recente destacam se: QUASEUMA ILHA, curadoria e vídeoperformance (Galeria Península, Porto Alegre/RS(2014). ATERRO, performance e exposição individual (Prêmio MINC-Intercâmbio Brasil/Cultura. Galeria Guillherme Cossoul. Lisboa, 2015). JOGOS DE APROXIMAÇÃO, residência artística e exposição coletiva (Galeria Península,Porto Alegre/RS, 2015). Exposição Coletiva Memórias e Identidades (Museu dos Direitos , 74Humanos, Fórum Social Mundial. Porto Alegre, 2016). Residência artistica TERRA UNA/MG(2016). Residência artística no Museu Bispo do Rosario de Arte Contemporânea, RJ (2016). Exposição individual TRANCE, Espaço Saracura, RJ (2017). PPPP-PROGRAMA PÚBLICO DE PERFORMANCE PENÍNSULA, concepção e curadoria(Porto Alegre/RS, 2016/2017). Residência artística no AGORA COLLECTIVE através do Prêmio CDEA em Berlim, Alemanha (2017).
Maurício Ianês (1973, Santos, SP, Brasil) é formado pela Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo, SP. Vive e trabalha em São Paulo, SP. Seu trabalho questiona as linguagens verbal e artística, suas possibilidades expressivas e limites, suas funções políticas e sociais, muitas vezes propondo a participação do público em suas ações para criar situações de troca onde a linguagem e os seus desdobramentos sociais entram em jogo. Ianês busca referências e influências em filosofia, poesia, crítica social, literatura e música. Ações e performances que buscam questionar a relação entre espectador e artista, tirando o espectador do papel de observador passivo e transformando-o em parte importante da criação da obra são parte importante do trabalho de Ianês. Já participou de importantes exposições nacionais e internacionais, como as 28ª e a 29ª Bienais Internacionais de São Paulo, SP; Des Choses en Moins, Des Choses en Plus (Palais de Tokyo, Paris, França); Avante Brasi” (KIT Kunst im Tunnel, Düsseldorf, Alemanha); Il Va se Passer Quelque Chose (Maison de L’Amérique Latine, Paris, França) e Chambres Sourdes (Parc Culturel de Rentilly, França).
Liliana Porter na Luciana Brito, São Paulo
A exposição Linha do Tempo, como o título sugere, mostrará desde obras históricas de 1970 até a mais recente produção da argentina radicada nos EUA Liliana Porter (n. 1941), configurando-se como uma espécie de pequena retrospectiva.
A individual antecede a presença de sua obra na cidade de São Paulo com a coletiva “Radical Women: Latin American Art, 1960–1985”, que chega à Pinacoteca em agosto, depois de ser exibida no Hammer Museum (Los Angeles) e no Brooklyn Museum (Nova York). Ainda em 2018, a artista apresenta três individuais institucionais nos EUA – no Perez Museum (Miami), El Museo del Barrio (Nova York) e OMI International Art Center (Ghent, NY) –, além de uma nova performance no legendário espaço The Kitchen, em Nova York.
Liliana Porter tem se interessado, desde o início de sua carreira, em explorar o espaço ambíguo entre realidade e representação. Nas obras da década de 1970 que compõem “Linha do Tempo”, essa investigação se manifesta através de linhas que atravessam diferentes espaços de representação, bem como pela superposição de diferentes temporalidades, que passam a se concentrar em um único momento – outra característica essencial à obra da artista. Nessas obras, Porter mescla fotografia e desenho, extrapolando os limites da primeira através de linhas em grafite que começam como intervenções sobre o papel fotográfico e se expandem para a parede, como que inserindo o que está fotograficamente representado no plano arquitetônico tridimensional.
Suas obras mais recentes são marcadas pela constante presença de pequenas figuras e bibelôs, sejam eles representados em fotografia, gravura e vídeo, ou diretamente inseridos em pinturas e instalações. Essas miniaturas, colecionadas há décadas pela artista, representam personagens, objetos inanimados, brinquedos e animais, entre outros. Para Porter, esses objetos “têm uma existência dupla. Por um lado, eles são mera aparência, ornamentos sem substância, mas, ao mesmo tempo, possuem um olhar que pode ser animado pelo espectador que pode projetar a inclinação para conferir interioridade e identidade a coisas”. Chamadas de “vinhetas teatrais” pela artista, as situações criadas com essas figuras abordam afetuosamente a condição humana, a simultaneidade de humor e desespero, da banalidade e do que tem significado.
Obra exemplar dessa pesquisa e um dos destaques de “Linha do Tempo” é Man with axe [Homem com machado], peça inédita de 2018 composta pela miniatura de um homem de terno e chapéu brandindo um machado e destruindo a plataforma sobre a qual ele se encontra. A obra é parte de uma série que inclui a instalação Man with the Axe_Venice, que Porter exibiu ano passado na 57ª Bienal de Veneza, “Viva Arte Viva”, a convite da curadora Christine Macel, e que agora integra a coleção do Perez Museum, Miami. Na série, variações desse pequeno boneco são inseridas em um cenário de caos e destruição, desproporcional ao alcance de sua pequena ferramenta. A instalação – que a artista já interpretou como uma metáfora do tempo, onde o rastro de todas as memórias aparece condensada no mesmo espaço – sintetiza os pontos essenciais da pesquisa da artista, a saber, a apresentação de situações sugestivas, cuja narrativa deve ser completada pelo espectador; a simultaneidade de diferentes temporalidades; e o jogo entre realidade e representação.
abril 10, 2018
Dias & Riedweg na Vermelho, São Paulo
A Vermelho apresenta CameraContato, a quarta exposição individual de Dias &Riedweg na galeria. Os artistas revisitam os arquivos, a atividade profissional, o engajamento e a vida do fotógrafo norte-americano Charles Hovland em videoinstalações e séries de fotografia, que traduzem a fotografia analógica feita por Hovland para o universo digital.
Na Sala Antonio de projeção, o filme Esperando um modelo, de 2017, documenta a vida e o trabalho de Hovland, que registrou as fantasias sexuais de anônimos novaiorquinos entre os anos 1980 e 2000.
No sábado, 14 de abril, às 15h, a Vermelho recebe Charles Hovland, a crítica de arte e curadora independente Luisa Duarte e Dias & Riedweg para uma conversa em torno da exposição e da atuação de Hovland.
CameraContato procura apontar como a popularização da fotografia digital sobre a analógica coincide com uma profunda mudança no entendimento, na representação e nas formas de comunicação das questões ligadas a sexualidade.
Os trabalhos foram concebidos e desenvolvidos através de um mergulho nos arquivos, atividade profissional e vida pessoal do fotógrafo, artista e ativista norte americano, Charles Hovland (1954). Nascido em uma fazenda em Northfield, Minnesota, Hovland publicou semanalmente, desde os anos 1980, quando se mudou para New York, um mesmo anúncio no jornal semanal, The Village Voice - um jornal independente que nasceu para dar voz a comunidade criativa da cidade - oferecendo seus serviços para fotografar as fantasias sexuais de interessados.
Hovland fotografou durante mais de 20 anos todos os tipos e representações de sexualidade de jovens, idosos, gordos, magros, loucos, ilustres e ilustres desconhecidos no seu estúdio/apartamento em Manhattan. Assim, ele reuniu um arquivo de 3.000 rolos de filme preto e branco 35mm, com as respectivas provas de contato.
Durante o mesmo período, Hovland produziu mais de 450.000 cromos fotografando nus masculinos para revistas como Mandate, Honcho, Playguy e Inches, revelando mais de 1.500 novos modelos para este nicho editorial. Hovland é também um ativista e participou de vários movimentos e organizações não governamentais na luta contra a AIDS, como God’s Love We Deliver e ACT UP.
Em Arquivo fantasia (2017) as folhas de contato PB de Hovland foram recriadas em animações de vídeo digital. Cada folha de contato analógica foi redimensionada a um só contato numa nova folha coletiva de modelos diversos, mostrando o processo químico da passagem de negativo para positivo de cada imagem na temporalidade do vídeo. O resultado é apresentado em cinco vídeos verticais, cujo áudio revela as anotações do fotógrafo sobre seus modelos, lidas em voz alta por ele mesmo. Essas notas, chamadas por Hovland de Log Book, catalogam a data da sessão fotográfica, a fantasia sexual de cada modelo e o valor que eles pagaram pela execução dessas imagens, possibilitando assim uma nova organização de arquivo, onde a identidade e o gênero de cada modelo são substituídos por sua própria fantasia.
Arquivo romance (2018) projeta fragmentos de corpos nús documentados por Hovland a partir de uma intervenção de Dias & Riedweg. A dupla filmou as imagens do fotógrafo através de um caleidoscópio, fragmentando-as mais uma vez em novos reflexos e inesperadas geometrias, como se penetrássemos o espaço da câmera escura aonde as fotografias eram reveladas, editadas e ampliadas. O audio também é construído a partir de fragmentações, mas com base em músicas que faziam sucesso na Nova York do período em que as fotos foram realizadas, associando as imagens do fotógrafo a memórias românticas.
Nas séries de fotografias Caleidoscópicas (2018), Dias & Riedweg refotografam as fotos de Hovland a partir de layouts para revistas da época e a partir da tela do computador durante a edição dos vídeos que integram CameraContato. Como em Arquivo Romance, os artistas utilizam um caleidoscópio entre a câmera e as imagens de Hovland. Em ambos os trabalhos, a câmera é guiada pelo movimento do caleidoscópio, fazendo o foco passar de um espelho ao outro e, consequentemente, de uma parte à outra da imagem final. Além disso, a técnica não permite acompanhar em tempo real o registro da câmera, de modo similar ao que ocorria com as câmeras analógicas, que só permitiam a visualização dos registros após a revelação do filme. A tentativa de fragmentar a imagem em mais de um foco possível em novas estruturas revela a recorrente narrativa de vozes plurais das obras de Dias & Riedweg.
Esperando um modelo
Em Esperando um modelo, Dias & Riedweg documentam a vida e o trabalho do fotógrafo americano Charles Hovland, que registrou as fantasias sexuais de anônimos novaiorquinos em cerca de 3 mil filmes fotográficos negativos 35mm, e mais de 450 mil cromos de nús masculinos para revistas pornográficas americanas entre os anos de 1980 e 2000.
Vivian Caccuri no MAC, Niterói
O Museu de Arte Contemporânea de Niterói abre, no dia 14 de abril, sábado, a partir das 10h, duas novas exposições: Senhor dos caminhos, do artista Ayrson Heráclito; e Água parada, da artista Vivian Caccuri. Ambas têm a curadoria de Pablo León de la Barra e Raphael Fonseca.
No projeto que ocupará a varanda do museu, Vivian Caccuri dá prosseguimento à sua pesquisa sobre o som e como ele pode afetar de diferentes maneiras o corpo humano e sua experiência estética. Por meio de caixas de som espalhadas no espaço, a artista apresenta uma trilha inédita feita a partir dos ruídos de mosquitos.
No último ano, Vivian tem investigado as relações de veneração e medo proporcionados pelos mosquitos em diferentes culturas, em especial no Brasil e na África. “Responsável pela transmissão de doenças em tempo recorde, o mosquito tende a incomodar as pessoas devido ao seu zumbido que parece anunciar uma picada e faz com que a resposta física seja imediata. Nessa instalação, portanto, o público será recebido por faixas de fumaça que tornam a experiência da varanda peculiar e, somada ao ruído insistente, ofereceram uma experiência estética em que a visão será totalmente mediada pela audição e pelo tato”, explica Raphael Fonseca.
Ayrson Heráclito no MAC, Niterói
O Museu de Arte Contemporânea de Niterói abre, no dia 14 de abril, sábado, a partir das 10h, duas novas exposições: Senhor dos caminhos, do artista Ayrson Heráclito; e Água parada, da artista Vivian Caccuri. Ambas têm a curadoria de Pablo León de la Barra e Raphael Fonseca.
Nascido e residente em Salvador, na Bahia, Ayrson leva ao museu uma série de novos trabalhos feitos na linguagem do vídeo e da fotografia. O artista segue, com sua pesquisa em torno das maneiras de trazer para a contemporaneidade elementos sagrados das religiões africanas com uma linguagem que geralmente está na fronteira entre o documental e o ficcional. Há um claro diálogo de sua pesquisa com certa perspectiva espiritual e transcendental, mas sempre a afirmar seu lugar urbano e precário. Essa exposição está baseada em dois elementos centrais. Em primeiro lugar, se trata de uma homenagem ao orixá Ogum, reconhecido nas religiões afro-brasileiras como o "senhor dos caminhos". Ferreiro, senhor das guerras e da agricultura, Ogum é transformado no sincretismo católico na figura de São Jorge e, portanto, é uma das culturas afro-brasileiras mais celebradas.
Na abertura da exposição será oferecida uma feijoada em homenagem a Ogum para os frequentadores do museu. Os elementos restantes dessa ação performática tomarão conta do centro do Salão Principal da exposição junto a duas grandes videoinstalações. Em uma, há um trem filmado em Cachoeira, na Bahia e, ao seu lado, outro vídeo em que aparece um ferreiro. Em outros dois, podem ser observados detalhes de uma feijoada sendo cozinhada, lembrando a ação da abertura. Em segundo lugar, outros três vídeos, também inéditos, partem da leitura feita pelo artista do livro ‘História do futuro’ (escrito em 1649 e publicado em 1718), do padre Antonio Vieira. A publicação, que chegou a ser acusada de heresia, devido à sua linguagem livre e cheia de teorias filosóficas, faz um elogio ao império português.
“O artista se apropria de fragmentos da escrita de Vieira e cria as suas próprias histórias do futuro, aqui representadas por três episódios: hidromancia, agromancia e aeromancia. Estas são as histórias do futuro escritas pela parceria inusitada de Ayrson e Vieira e filmadas nas viagens do artista pela África”, finaliza Pablo León de la Barra.
Monica Mansur no Ateliê da Imagem, Rio de Janeiro
A Galeria do Ateliê da Imagem inaugura no dia 13 de abril a exposição O instante mais longo da artista Monica Mansur com obras realizadas em filmes de pinhole (mais conhecido como o “buraco da agulha” ou ainda câmera escura) - imagens obtidas em dispositivos que não utilizam lentes. Essas imagens são registradas em material sensibilizado pela luz, como papel fotográfico ou filme. O Ateliê da Imagem fica na Avenida Pasteur 453, Urca (2541-6930). Entrada franca.
Diferente do congelar do instante fotográfico, a câmera captura o exato mais que o instante, aquele instante que é mais longo, o construído pela imagem captada e prolongado no movimento de ir e vir do fotógrafo sujeito. O pinhole captura a imagem inerte, um lampejo, o não movimento, um tipo de ”para sempre”.
Cada um dos filmes recebe aproximadamente entre 85 e 80cm x 6cm de imagem original em negativo, posteriormente ampliadas, em tamanhos variados e instaladas de formas diferentes - dispostas em sinuosas superfícies, como um labirinto, em carretéis que desenrolam no seu comprimento, material para vídeos que são QUASE cinema – se mostram ou se ocultam, da mesma maneira que a paisagem se descortina perante o olhar e a câmera da artista.
QUERO FALAR DO QUE ESTÁ E DO QUE NÃO ESTÁ...
Paisagem inventada e infinita, ela é construída pelo ir e vir, pelo passado/presente da presença da luz: resultam faixas de imagem que sugerem um horizonte não linear. O estudo da linearidade – construção deste novo horizonte, imaginário – é feito pelo movimento do olhar e do passear do fotógrafo – ecoa nele como um dos observadores da paisagem, juntamente ao espectador, o caçador das narrativas.
A imagem através do pinhole é quase a captura de um não instante, pois não congela o movimento: não há movimento capturável pelo buraco da agulha, a velocidade necessária é lenta e movimentos são impossíveis.
Monica Mansur é artista visual, nascida no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Graduada pela FAU/UFRJ em 1980, frequentou a EAV/Parque Lage por alguns anos, onde iniciou sua carreira como gravadora com o desaparecido mestre José Lima, em cujo ateliê passou a trabalhar desde final do ano de 1989 – ano em que começou a expor coletiva e individualmente – até o ano de 1992. Cursou a Pós-Graduação em História da Arte e Arquitetura no Brasil na PUC-Rio e obteve o título de Mestre pelo PPGAV/EBA/UFRJ, tese defendida em 2000. Organizou e coordenou vários coletivos e grupos de artistas, como Dialeto (com a artista Lia do Rio), Coletivo Buraco de Fotografia, Espaço Figura e Atelier Rio Comprido (ambos espaços para cursos, bate-papos e exposições). Fundou a Binóculo Produção e Editora (2007), associando-se em 2009 à artista Claudia Tavares. Editou e publicou inúmeros livros - textos teóricos e projetos de arte - inclusive livros de artista. Iniciou sua pesquisa fotográfica utilizando câmeras estenopeicas em 2007 e também pratica outros procedimentos fotográficos alternativos. Sua obra é citada em artigos, pesquisas internacionais e publicações brasileiras, exposta em mostras nacionais e internacionais, faz parte de coleções públicas e privadas.
Sara Ramo no Fortes D'Aloia & Gabriel - Galpão, São Paulo
A Fortes D’Aloia & Gabriel tem o prazer de apresentar duas exposições individuais simultâneas: Hiato de Rodrigo Matheus e Cartas na mesa de Sara Ramo ocupam o Galpão (Barra Funda) de 12 de abril a 19 de maio de 2018. Na ocasião da abertura, Rodrigo Matheus lança ainda seu livro monográfico pela Editora Cobogó, uma publicação com textos de Matthieu Lelièvre, Philip Monk e Kiki Mazzucchelli que abrange sua trajetória artística dos últimos 10 anos.
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Cartas na mesa, a nova exposição de Sara Ramo em Fortes D’Aloia & Gabriel | Galpão, apresenta esculturas, colagens e intervenções e os configura como objetos cênicos repletos de alegorias. Invocando as particularidades do teatro, em especial o teatro do absurdo, a artista reage de maneira poética às atuais tensões políticas e sociais para questionar os elementos que nos constituem enquanto nação.
O trabalho que dá título à mostra é uma série de 10 colagens feitas com tecido, papel, tinta e costura que guardam forte relação com estandartes festivos. Três dessas peças integram a exposição, como cartas perdidas de um jogo de adivinhação. Quando reunidos, os títulos de cada colagem formam uma espécie de poema ou marchinha de carnaval.
CARTAS NA MESA
1) À fé de todos, espelho meu
2) Às filhas e aos filhos deste solo
3) Margens não tão plácidas
4) Há histórias não contadas
5) O rei está nu
6) Berços de ouro
7) Ganância não é tudo
8) Festejar importa
9) A alegria nos move
10) Salve o sonho delirante!
Os ideais de coletividade do poema também são desenvolvidos em outras obras. Em Contrato social, a artista equilibra pedras falsas em varetas de metal enquanto uma pedra de verdade se avizinha do conjunto, mas solta no chão. Detrito-origem, também com pedras falsas, traz cédulas de dinheiro incrustadas nas peças. Aqui, a artista realiza uma geologia do desejo pelo viés do consumo: o modo como o dinheiro se estrutura em nossas vidas e condiciona nossas experiências e relações.
Seu interesse por criar vestígios geológicos se reflete ainda nas obras Evidência e Buraco negro. Se na primeira a artista promove a verticalização do solo – um triângulo de terra deslocado na parede –, na segunda a operação é inversa: Sara abre um orifício cavernoso na parede, suscitando curiosidade e repulsa.
Bianca Dias, em texto criado especialmente para a exposição, afirma: “A dimensão alegórica se presentifica não como velamento, mas como maneira de tocar o real, como ficção que engendra o que há de horror e de abjeto na cultura. Como uma ética que contorna, pelo chiste e pela ironia fina – este lugar impossível que não para de se inscrever e que vem se realizar tanto como lugar de gozo como de causa do desejo.”
Sara Ramo nasceu em Madrid em 1975. Atualmente vive e trabalha em São Paulo. Suas exposições individuais recentes incluem: Para Marcela e as outras, Capela do Morumbi (São Paulo, 2017); Punto Ciego, EAC - Espacio de Arte Contemporáneo (Montevidéu, 2014); Desvelo y Traza, Matadero (Madrid, 2014) e Centre d’Art la Panera (Lérida, 2014); Penumbra, Fundação Eva Klabin (Rio de Janeiro, 2012). A artista já participou das Bienais do Mercosul (Porto Alegre, 2013 e 2007), de Sharjah (Emirados Árabes, 2013), de São Paulo (2010), de Veneza (2009), entre outras. Sua obra está presentes em importantes coleções como Fundación Botin (Santander, Espanha), Fondazione Cassa di Risparmio di Modena (Itália), MAM (Rio de Janeiro), Pinacoteca (São Paulo), Inhotim (Brumadinho), entre outras.
Fortes D'Aloia & Gabriel is pleased to present two exhibitions Hiato [Hiatus], by Rodrigo Matheus and Cartas na Mesa [Cards on the Table] by Sara Ramo at the Galpão (Barra Funda) from April 12 to May 19, 2018. On the occasion of the opening, the artist will also launch his monograph by Editora Cobogó, a publication with texts by Matthieu Lelièvre, Philip Monk and Kiki Mazzucchelli that cover his artistic career over the last 10 years.
Sara Ramo’s new exhibition at Fortes D'Aloia & Gabriel | Galpão, Cartas na mesa [Cards on the Table], presents sculptures, collages, and interventions arranging them as props filled with allegories. Invoking singularities of the theatre, in particular of the Theatre of the Absurd, the artist reacts poetically to the current political and social tensions in order to question the elements that make us as a nation.
The work from which the show is named after is a series of ten collages made with fabric, paper, ink, and sewing that are strongly related to celebratory banners. Three of these pieces are part of the exhibition, such as lost cards from a guessing game. When combined, the titles of each collage constitute a kind of poem or carnival march.
CARDS ON THE TABLE
1) To everyone's faith, my mirror
2) To this land's daughters and sons
3) Not such placid riverbanks
4) There are untold stories
5) The emperor has no clothes
6) Silver spoons
7) Greed is not all there is
8) Celebrating matters
9) Joy moves us
10) Save the delusional dream!
The poem's ideals of collectivity are also developed in other works. In Contrato social [Social Contract], the artist balances fake gems on metal rods while a real gem lies near the set, dropped on the floor. Detrito-origem [Detritus-Inception], also featuring fake gems, has money bills encrusted in the pieces. The artist creates a geology of desire through a consumption bias here: the way money is structured in our lives and shapes our experiences and relationships.
Her interest in creating geological remains is also reflected in Evidência e Buraco negro [Evidence and Black Hole]. Whether in the former the artist brings about the verticalization of the ground – a soil made triangle shifted on the wall –, in the latter the action is reversed: Sara opens a cavernous hole in the wall, arousing curiosity and repulsion.
In an essay specially created for the exhibition, Bianca Dias states: “The allegorical dimension appears not as veiling, but as a way of approaching reality, as fiction which engenders what is horrible and abject in culture. Like ethics that bypass (through jokes and irony) this impossible place which doesn't stop inscribing itself and which happens as a place of joy as well as a cause of desire.”
Sara Ramo was born in Madrid in 1975. She currently lives and works in São Paulo. Her most recent solo exhibitions include: Para Marcela e as outras, Capela do Morumbi (São Paulo, 2017); Punto Ciego, EAC - Espacio de Arte Contemporáneo (Montevideo, 2014); Desvelo y Traza, Matadero (Madrid, 2014) and Center d'Art la Panera (Lleida, 2014); Penumbra, Fundação Eva Klabin (Rio de Janeiro, 2012). The artist has taken part in the followings Biennials: Mercosur (Porto Alegre, 2013 and 2007), Sharjah (United Arab Emirates, 2013), São Paulo (2010), Venice (2009), among others. Her work is featured in important collections such as Fundación Botin (Santander, Spain), Fondazione Cassa di Risparmio di Modena (Italy), MAM (Rio de Janeiro), Pinacoteca (São Paulo), Inhotim (Brumadinho), among others.
Rodrigo Matheus no Fortes D'Aloia & Gabriel - Galpão, São Paulo
A Fortes D’Aloia & Gabriel tem o prazer de apresentar duas exposições individuais simultâneas: Hiato de Rodrigo Matheus e Cartas na mesa de Sara Ramo ocupam o Galpão (Barra Funda) de 12 de abril a 19 de maio de 2018. Na ocasião da abertura, Rodrigo Matheus lança ainda seu livro monográfico pela Editora Cobogó, uma publicação com textos de Matthieu Lelièvre, Philip Monk e Kiki Mazzucchelli que abrange sua trajetória artística dos últimos 10 anos.
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Em Hiato, nova exposição de Rodrigo Matheus em Fortes D’Aloia & Gabriel | Galpão, materiais oriundos da arquitetura urbana são rearticulados em obras que evocam o ambiente doméstico. O artista explora assim a relação interior/exterior, como uma maneira de lidar poeticamente com a própria natureza do seu trabalho escultórico. Esse deslocamento semântico cria um intervalo de significados – e é precisamente nessa zona limítrofe que Matheus opera, forjando novas e inesperadas relações aos elementos que compõem suas esculturas.
Na ocasião da abertura, Rodrigo Matheus lança ainda seu livro monográfico pela Editora Cobogó, uma publicação com textos de Matthieu Lelièvre, Philip Monk e Kiki Mazzucchelli que abrange sua trajetória artística dos últimos 10 anos.
Moeda é uma escultura cinética com centenas de lantejoulas douradas, cujo aspecto sedutor contrasta com a natureza nociva do grid que lhe serve de suporte. O artista usa aqui espículas anti-pássaros, um dispositivo arquitetônico cuja função é impedir que aves pousem no parapeito das janelas. Rodrigo Matheus incorpora esse teor para sua obra, mas também o subverte. Em texto publicado no livro do artista (Editora Cobogó, 2018), Kiki Mazzucchelli analisa: “Uma das operações mais evidentes na metodologia do artista é a neutralização da função original dos objetos. Embora imediatamente reconhecíveis, já não possuem serventia alguma no contexto em que se encontram inseridos, num movimento de obsolescência forçada que ressalta seu potencial estético e narrativo. A perda da funcionalidade é somada à aproximação e ao encadeamento de elementos díspares, resultando em composições que sugerem uma espécie de narrativa incompleta e não linear que permite inúmeros pontos de entrada e saída, como se cada objeto correspondesse a um signo de uma linguagem ao mesmo tempo familiar e indecifrável.”
Rodrigo Matheus explora ainda a armação modular das espículas em outras obras da exposição. Em Margem, o material é suporte para um emaranhado de fios de lã, enquanto a paisagem de Janela é criada com telas coloridas de algodão. A presença dos gravetos em Ascensão, por sua vez, contrapõe-se à composição triangular das espículas, desenhando linhas orgânicas no espaço.
De maneira análoga, Cortina e Arco trazem pesadas esferas de concreto – também empregado como barreira arquitetônica, esse material é usado em praças públicas e privadas para delimitar a circulação de pessoas. Nessas obras, porém, torna-se a base de estruturas autoportantes e recebem arranjos com voal, zíper e penas.
Rodrigo Matheus nasceu em São Paulo em 1974 e atualmente vive e trabalha em Paris. Entre suas exposições individuais recentes estão: Soft Spectacle, Ibid Gallery (Los Angeles, 2017); Ornament and Crime, Galerie Nathalie Obadia (Bruxelas, 2016); Do Rio e para é to Rio and from, Galeria Silvia Cintra + Box 4 (Rio de Janeiro, 2014); Colisão de Sonhos Reais em Universos Paralelos, Fundação Manuel António da Mota (Porto, 2013). Suas participações em coletivas incluem: Fade in 2: Ext. Modernist Home – Night, Museum of Contemporary Art (Belgrado, 2017); Fade in: Int. Art Gallery – Day, Swiss Institute Contemporary Art (Nova York, 2016); Museum On/Off, Centre Pompidou (Paris, 2016); What separates us, Sala Brasil, the Embassy of Brazil (Londres, 2016); Le parfait flâneur, Palais de Tokyo hors les mûrs, Halle Girard (Lyon, 2015); 3ª Bienal da Bahia, MAM Bahia (Salvador, 2014); Imagine Brazil, Astrup Fearnley Museet (Oslo, 2013); 32ª Panorama da Arte Brasileira, MAM SP (São Paulo, 2011). Sua obra está presente em importantes coleções, como Instituto Inhotim (Brumadinho), MAM (Rio de Janeiro), MAM (São Paulo) e Pinacoteca do Estado (São Paulo).
Fortes D'Aloia & Gabriel is pleased to present two exhibitions Hiato [Hiatus], by Rodrigo Matheus and Cartas na Mesa [Cards on the Table] by Sara Ramo at the Galpão (Barra Funda) from April 12 to May 19, 2018. On the occasion of the opening, the artist will also launch his monograph by Editora Cobogó, a publication with texts by Matthieu Lelièvre, Philip Monk and Kiki Mazzucchelli that cover his artistic career over the last 10 years.
In Hiato [Hiatus], a new exhibition by Rodrigo Matheus at Fortes D'Aloia & Gabriel | Galpão, materials from urban architecture are rearticulated in works that evoke the domestic environment. The artist thus explores the relationship between interior/exterior as a way of dealing poetically with the very nature of his sculptural work. This semantic shift creates a range of meanings – and it is precisely at this borderline that Matheus operates, forging new and unexpected relationships to the elements that make up his sculptures. On the occasion of the opening, the artist will also launch his monograph by Editora Cobogó, a publication with texts by Matthieu Lelièvre, Philip Monk and Kiki Mazzucchelli that cover his artistic career over the last 10 years.
Moeda [Coin] is a kinetic sculpture with hundreds of gold sequins. The seductive aspect of the circles contrasts with the harmful nature of the grid that supports it: they are bird spikes, an architectural device whose original function is to prevent those animals from landing on windowsills. Rodrigo Matheus incorporates this in his work, but also subverts it. In a text published in the artist's book (Cobogó, 2018), Kiki Mazzucchelli writes: “One of the most evident operations in the artist’s methodology is a neutralization of the objects’ original functions. Although immediately recognizable, they no longer possess any use whatsoever within the context into which they find themselves inserted, in a movement of forced obsolescence that underscores their aesthetic and narrative potential. Loss of functionality is thus added to the proximity or combination of disparate elements, resulting in compositions that suggest an incomplete, non-linear narrative of sorts that allows for countless points of entry and exit, as if each object corresponded to a simultaneously familiar and undecipherable language.”
Rodrigo Matheus explores the modular structure of the spikes in other works of the exhibition. In Margem [Margin] the material supports a tangle of woollen yarn, while the landscape of Janela [Window] is created with coloured cotton screens. The presence of the twigs in Ascensão [Ascension], in turn, contrasts with the triangular composition of the spikes, drawing organic lines in the space.
In an analogous way, Cortina [Curtain] and Arco [Arch] have heavy concrete spheres – also used as an architectural barrier, this material is used in public and private squares to delimit the movement of people. In these works, however, it becomes the basis of self-supporting structures with added voile, zipper and feather arrangements.
Rodrigo Matheus was born in São Paulo in 1974 and currently lives and works in Paris. Among his recent solo exhibitions are: Soft Spectacle, Ibid Gallery (Los Angeles, 2017); Ornament and Crime, Galerie Nathalie Obadia (Brussels, 2016); Do Rio e para é to Rio and from, Galeria Silvia Cintra + Box 4 (Rio de Janeiro, 2014); Collision of Real Dreams in Parallel Universes, Manuel António da Mota Foundation (Porto, 2013). His participation in group shows include: Fade in 2: Ext. Modernist Home – Night, Museum of Contemporary Art (Belgrade, 2017); Fade in: Int. Art Gallery – Day, Swiss Institute Contemporary Art (New York, 2016); Museum On/Off, Center Pompidou (Paris, 2016); What separates us, Brazil Room, the Embassy of Brazil (London, 2016); Le parfait flâneur, Palais de Tokyo hors les mûrs, Halle Girard (Lyon, 2015); 3. Bienal da Bahia, MAM Bahia (Salvador, 2014); Imagine Brazil, Astrup Fearnley Museet (Oslo, 2013); 32. Panorama da Arte Brasileira, MAM SP (São Paulo, 2011). His work is present in important collections; such as Instituto Inhotim (Brumadinho), MAM (Rio de Janeiro), MAM (São Paulo) and Pinacoteca do Estado (São Paulo).
abril 9, 2018
A Poesia e as Artes Visuais na Superfície, São Paulo
A partir de texto do crítico Frederico Morais, “A Poesia e as Artes Visuais” propõe diálogo entre artistas das décadas de 1950 a 1980 e seus herdeiros, nossos contemporâneos. Entre eles, Alighiero Boetti, Detanico & Lain, Ferreira Gullar, Guga Szabzon, Lenora de Barros, Leonilson, Lygia Clark, Lygia Pape, Mira Schendel, Neide Sá, Waldemar Cordeiro, Willys de Castro e Wlademir Dias-Pino
Após reforma para ganhar um novo andar, a Galeria Superfície abre, dia 10 de abril, a exposição A poesia e as artes visuais, nos Jardins, em São Paulo. Com organização de Gustavo Nóbrega, a mostra reúne um conjunto de obras de artistas de distintas gerações em um recorte panorâmico, que destaca o uso da palavra, sua transformação e até mesmo sua exclusão via associação e codificação.
A seleção de obras tem como referência o texto do crítico Frederico Morais, ‘A Poesia e as Artes Visuais’, publicado originalmente no jornal Diário de Minas em maio de 1957, e considerado o primeiro texto crítico sobre a obra, ‘A Ave’ de Wlademir Dias-Pino. A mostra apresenta o legado de poetas e artistas de vanguarda, em diálogo com artistas contemporâneos, herdeiros ou sucessores do uso da palavra na imagem
Com obras de Alighiero Boetti, Detanico & Lain, Guga Szabzon, Lenora de Barros, Leonilson, Lygia Clark, Lygia Pape, Mira Schendel, Neide Sá, Waldemar Cordeiro, Willys de Castro, Wlademir Dias-Pino, entre outros, a exposição fica em exibição até o dia 30 de maio e pode ser visitada de terça a sexta-feira, das 10h às 19h, e sábado, das 11h às 17h, com entrada gratuita.
“A ideia é criar uma narrativa entre os artistas que usaram da poesia e os poetas que usaram das artes. Ao final, a sequência de obras forma um grande poema”, conta Gustavo Nóbrega.
Exposição “5 + 5” - Anita Schwartz dez anos na Gávea, Rio de Janeiro
Anita Schwartz Galeria de Arte apresenta a partir de 4 de abril próximo, a exposição “5 + 5”, que dá início às comemorações de dez anos de seu espaço na Gávea. Cinco artistas da galeria – Arthur Chaves, Estela Sokol, Luiza Baldan, Nuno Ramos e Rochelle Costi – convidaram outros cinco, somando dez nomes da arte contemporânea. Arthur Chaves chamou Cadu; Estela Sokol, Marcelo Cipis; Luiza Baldan, Lenora de Barros; Nuno Ramos, Eduardo Climachauska; e Rochelle Costi, Fernando Limberger. As obras estarão no grande espaço térreo. No segundo andar, estarão obras de dois artistas históricos: Wanda Pimentel (Rio de Janeiro, 1943) e Abraham Palatnik (Natal, 1928), emblemáticos na história da galeria.
Quando foi inaugurado, em 2008, depois de um ano e meio de obras, o novo espaço da galeria Anita Schwartz na Gávea causou frisson no meio da arte do país, pelo ineditismo da construção – um prédio de três andares, com uma arquitetura generosa dedicada à arte contemporânea. Pela primeira vez se construía uma galeria com essas dimensões – um total de quase 800 metros quadrados – em que se destacava o “cubão branco”, o salão térreo, com mais de sete metros de pé direito e perto de 200 metros quadrados.
O projeto do arquiteto Cadas Abranches, que comentou, em seu recente livro lançado na galeria. “Gostei muito de fazer, pela simplicidade da arquitetura”, escreveu. Com fachada de ardósia cinza fatiada, o prédio parece flutuar em um espelho d’água, e a ponte de acesso ao prédio é de vidro. A reserva técnica, no segundo andar, tem uma grande janela voltada para o salão principal, para facilitar o manejo das obras de arte em exposição. O terceiro andar possui um terraço com um deque de madeira, com vista para o Corcovado, onde está um contêiner, com capacidade para vinte pessoas, usado pelos artistas para exibição de vídeos ou instalações.
Nascida em Recife, e radicada com a família no Rio de Janeiro desde 1973, Anita Schwartz inovou ainda conceitualmente, ao oferecer seu amplo espaço na Gávea para a livre criação dos artistas, que por muitas vezes transformaram o “cubão branco” praticamente em um laboratório de pesquisa, em exposições de cunho institucional. A ousadia deste gesto se tornou outra característica marcante da galeria.
BARCOS COBERTO COM SABÃO, E GLOBOS DA MORTE
Um exemplo emblemático desta atuação é Nuno Ramos. Na exposição “Mar Morto”, em 2009, Nuno Ramos colocou dois barcos pesqueiros no salão térreo, e os cobriu com sabão fabricado por ele dentro da própria galeria. No dia da abertura da exposição, caiu um temporal, e Nuno precisava usar guarda-chuva a cada vez que atravessava o terraço para chegar ao contêiner. A partir de então criou-se uma lenda, pois geralmente chove nas noites de vernissage... Em 2012, Nuno Ramos, em uma parceria com Eduardo Climachauska, faz exposição “O globo da morte de tudo”, em que cobriu de alto a baixo as quatro paredes do grande salão com prateleiras de aço, com mais de 1.500 objetos frágeis coletados por ele para este fim. Dois globos da morte, colocados perto um do outro, sugerindo a imagem de infinito, foram usados durante dois minutos por motociclistas profissionais em uma performance, criando uma tal trepidação que os objetos caíam e se espatifavam no chão. “Vou dizer, foi das montagens mais leves. Durante quinze dias os artistas, a Sandra (mulher de Nuno, também artista) coordenaram um mutirão. Foi maravilhoso”, lembra Anita Schwartz. “Quis abrir meu espaço para os artistas, já que eu podia oferecer um grande salão para que pudessem delirar, fantasiar, o que acabou sendo realidade”. Ela complementa: “talvez seja justamente esta matéria viva que é o artista o que me faz voar e me tirar um pouco os pés do chão, e realizar coisas que não são somente objetivas, materiais. Quando um projeto me encanta, eu viajo com os artistas”.
Outras marcas da galeria são a realização de conversas abertas sobre arte, e o programa “Trajetórias em Processo”, com curadoria de Guilherme Bueno, criado para dar visibilidade a jovens artistas. Realizado em várias edições anuais, com exposições coletivas, o programa se desdobrava em individuais no segundo andar da galeria, dos artistas que se destacavam. A artista Estela Sokol, que já ganhou três individuais na galeria, participou em 2009 deste programa.
MEU PROJETO DE VIDA
Foram 22 anos até Anita Schwartz chegar em 2008 ao espaço na Gávea, que chama de “meu projeto de vida”. Em 1986, Anita Schwartz passou a ocupar uma loja no Rio Design Center Leblon, shopping então recente, com um perfil voltado para arquitetura, decoração, antiquários e arte. Em 2000, abriu outra galeria no Rio Design Center Barra, mantendo os dois espaços até 2006, quando deixou a Barra, mantendo a loja do Leblon, já com planos de ter sua própria casa. “Procurei bastante no Rio, até achar o que queria na rua José Roberto Macedo Soares, na Gávea. Sabia que seria meu projeto de vida”, afirma. A casa que existia ali, com cômodos pequenos, era inviável para a ideia de um amplo espaço dedicado à arte contemporânea, e foi derrubada, para dar lugar ao prédio de três andares. “A Gávea é um bairro charmoso, agradável, gostoso de se passear, com que mantemos uma convivência muito boa”, diz. Tradicionalmente, a galeria abre suas exposições às quartas-feiras, dia menos agitado da região, mas os sábados também têm abrigado eventos. Outra novidade criada pela galeria foi oferecer nos vernissages pacotes de biscoito Globo, tradicional marca das praias cariocas.
Um fato curioso é que a galeria é vizinha de uma igreja evangélica e tem a sua frente uma sede da Perfect Liberty, uma religião de origem japonesa. No jardim da galeria foi plantada uma espada-de-São-Jorge, e, à entrada, vê-se o símbolo de proteção judaico, a mezuzá, comprada no bairro do Marais, em Paris, e abençoada pelo rabino Nilton Bonder. “Estou protegida por todos os lados”, brinca a galerista.
Com a exposição “5 + 5”, a galeria aponta para o futuro, e mais uma vez encara um desafio, já que os artistas tiveram liberdade de escolher seus pares. “Nunca sabemos de tudo. Estamos sempre em movimento, avançando. É uma profissão que demanda muita determinação e perseverança. Todo o trabalho é um desafio, e nos próximos dez anos vamos celebrar mais realizações, ainda com mais intensidade”, diz Anita Schwartz.
SOBRE A EXPOSIÇÃO “5 + 5”
Arthur Chaves (1986, Rio de Janeiro) mostrará uma obra deste ano, em técnica mista, com aglomerado de tecidos. De Cadu (1977, São Paulo) estarão dois desenhos de 2017, em óleo e grafite sobre papel. Arthur fala sobre Cadu: “O trabalho de Cadu é fruto do comprometimento impressionante em propor mecanismos que permitem o desvelamento de detalhes da natureza em si”.
Estela Sokol (1979, São Paulo) terá duas obras na exposição: uma em madeira, e a outra em granito e parafina pigmentada, ambas deste ano. Marcelo Cipis (1959, São Paulo) mostrará três pinturas de períodos variados, em acrílica e óleo sobre tela, e óleo sobre madeira. Estela Sokol fala sobre Marcelo Cipis: “ele transita entre o representado e o não representado, entre o onírico e uma realidade criada, com a liberdade que lhe é peculiar”.
Luiza Baldan (1980, Rio de Janeiro) participa com duas fotografias deste ano, enquanto Lenora de Barros (1953, São Paulo) mostra quatro trabalhos da série "Ping-Poems to Boris” (2000), em que homenageia o escritor russo radicado em São Paulo Boris Schneidermann, morto em 2016, aos 99 anos. Luiza Baldan fala sobre Lenora de Barros: “acompanho o trabalho da Lenora há muitos tempos, por quem tenho profunda admiração, e que considero uma das maiores artistas brasileiras, e é uma honra poder trabalhar com ela, lado a lado, em uma exposição. Será a primeira vez em que isso acontece, e acho que será muito legal”. As duas farão em abril uma performance juntas, em data a ser confirmada.
Dois trabalhos de Nuno Ramos (1960, São Paulo) estarão na exposição: “Algo mais espantoso ainda/ Na noite seguinte eu vou matá-la” (2006), uma escultura em mármore, cobre, vidro soprado, vaselina e vaselina líquida, e o desenho “Rocha de Gritos 28” (2017), em vários materiais sobre papel. Eduardo Climachauska (1958, São Paulo) mostra um conjunto de quatro caixas compostas por chumbo e mármore. Nuno Ramos é amigo e parceiro de longa data de Eduardo Climachauska (1958, São Paulo), e já compuseram juntos dez músicas e realizaram três filmes: “Iluminai os terreiros” (2007), “Casco” (2004) e “Para Nelson – Luz Negra” e “Duas Horas” (2002), os dois primeiros com o cineasta Gustavo Moura. Nuno Ramos fala sobre Climachauska: “Gosto de uma mistura perfeita de imaginação e rigor formal. Além do que, acho que o trabalho do Clima é um desses tesouros da arte brasileira, subdimensionado, ainda a ser descoberto. Quem achar, verá”.
Rochelle Costi (1961, Caxias do Sul, Rio Grande do Sul), artista radicada em São Paulo, vai mostrar duas fotografias em grande formato feitas em 2013, “Dentro” e “Fora”. Fernando Limberger (1962, Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul), também radicado em São Paulo, apresenta a obra “Abraçadinhos”, um conjunto com três cabaças pintadas em tinta acrílica. Rochelle fala sobre o artista: “Limberger lida com a natureza das coisas. Ao nos colocar diante do brotar de uma semente ou pondo cores onde não costumamos vê-las, nos mostra a força da natureza. Através de estratégias simples, mas extremamente cuidadosas, faz nos darmos conta de que há leis sutis, porém poderosas, regendo silenciosamente o que há de vivo ao nosso redor”.
No segundo andar, estarão obras de Wanda Pimentel (1943) e Abraham Palatnik (1918).
abril 8, 2018
Gabriela Machado na Marcelo Guarnieri, São Paulo
A Galeria Marcelo Guarnieri apresenta, em mostra individual da artista Gabriela Machado, uma seleção de pinturas e esculturas produzidas entre os anos de 2013 e 2018. As pinturas fazem parte de diversas séries que a artista desenvolveu durante esses cinco anos em residências artísticas e viagens pelo mundo, já as esculturas são oriundas da série Vibrato, concebida entre Portugal (em residência na fábrica de cerâmica São Bernardo) e Rio de Janeiro e apresentada em 2016 no MAM-RJ.
Embora produza a partir de variadas dimensões desde a década de 1990, tiveram maior destaque em sua carreira as pinturas de grande escala e cores vibrantes, interessadas por elementos da paisagem que abarcavam desde visões de florestas, praias e morros, aos detalhes de um ramo de flores pousado na mesa de seu ateliê. A partir de 2013, Gabriela passou a concentrar-se na pintura de pequenas dimensões, rebaixando os tons de sua paleta de cores e compondo imagens menos festivas e mais silenciosas. Trabalhar em telas menores estimulava uma prática que ia além do espaço do ateliê: a mobilidade do material permitia à artista produzir em diferentes contextos, contaminando-se por eles. Foi o que aconteceu nos cinco anos seguintes, quando desenvolveu novas séries enquanto viajava para países como Portugal, Estados Unidos e regiões como a Patagônia, o sul de Minas Gerais e o litoral da Bahia. As pinturas apresentadas na exposição compõem um recorte de cada uma dessas séries, semelhantes por suas dimensões, mas distintas em suas particularidades enquanto conjuntos.
Em 2016, no período que passou em residência nos Hamptons, cores menos pálidas retornam a suas telas, pouco intimidadas pelo efeito que a escala diminuta do suporte produzia em qualquer elemento da composição. Voltaram à cena os vermelhos e rosas, embora ainda envoltos em cores mais geladas como o cinza e o bege. Nas pinturas mais recentes, produzidas a partir de 2017, aparecem os amarelos e verde-neons mergulhados em azuis escuros, vermelho-carmim misturado ao preto e ao laranja. Ainda se trata da paisagem, das flores, dos bichos, do mar e da floresta, mas agora há uma especial fascinação pelas visões noturnas, pela lua e pelos efeitos da luz.
As esculturas da série Vibrato se configuram em materiais diversos tais quais porcelana, madeira, bronze, gesso, argila e pedras. Oscilam não só a partir dos materiais, mas também a partir dos formatos, das alturas que alcançam e das cores que incorporam, compondo, juntas, uma espécie de sinfonia. Como observou Ronaldo Brito: “Daí o modo coerente como se apresentam em exposição – dispostas meio aleatoriamente sobre uma mesa comprida, em bases provisórias, que pertencem e não pertencem às esculturas. Ora falam, conversam à vontade entre si, ora se distanciam, isoladas em sua unidade formal particular.” As peças foram produzidas entre 2013 e 2015, período em que experimentou traduzir alguns procedimentos de suas pinturas para a escultura.
A exposição, que será inaugurada na noite de 10 de abril dentro da programação do Gallery Night, será acompanhada do lançamento de seu último livro “pequenas pinturas”, que também reúne os trabalhos desenvolvidos entre 2016 e 2018. O lançamento ocorre no dia 13 de abril, das 19h às 20h no Lounge de Lançamentos da sp-arte, localizado no piso térreo do prédio da Bienal.
Lugares do Delírio no Sesc Pompeia, São Paulo
Reunindo mais de 40 artistas, a mostra coloca obras de Cildo Meireles, Dias & Riedweg, Laura Lima e Maria Leontina lado a lado a de artistas diagnosticados com transtornos psiquiátricos, como Arthur Bispo do Rosário e nomes pouco conhecidos do público, entre eles, Aurora dos Santos e Ioitiro Akaba, da Escola de Artes do Juquery, e Geraldo Lúcio Aragão, que frequentou os ateliês de Nise da Silveira
A noite de abertura terá duas performances: In ATTO, de Anna Maria Maiolino, e Tresformance, de Arlindo Oliveira (Atelier Gaia – Museu Bispo do Rosário)
O Sesc Pompeia abre no dia 10 de abril, terça-feira, às 20h, a exposição Lugares do Delírio. Com curadoria da psicanalista e professora Tania Rivera, a mostra propõe uma reflexão política e ética sobre a arte e a loucura e coloca lado a lado obras de artistas consagrados e de artistas diagnosticados com transtornos psiquiátricos, conhecidos ou não do grande público. Com entrada gratuita, a mostra fica em cartaz até 01 de julho de 2018 na Área de Convivência da unidade.
A exposição visa afirmar que os lugares do delírio são muitos e variados, e tenta assim explorar e questionar as fronteiras entre normal e patológico, entre arte e vida, entre o museu e o mundo. Suas obras vêm de locais diversos — do circuito artístico tradicional ou de instituições psiquiátricas, do campo de interseção entre terapia e arte ou de propostas diversas de interação e construção poética entre sujeitos “fora dos trilhos”, afirma Tania Rivera, curadora da mostra.
Exibida no Museu de Arte do Rio (MAR) no início de 2017, a partir de proposta de Paulo Herkenhoff, a exposição chega à cidade de São Paulo modificada e ampliada. São cerca de 170 obras de mais de 40 artistas, formando um conjunto de grande diversidade de gêneros e linguagens. Instalações, pinturas, objetos, fotografias, mapas e performances serão expostos de maneira que se entrecruzem e dialoguem no espaço, criando um ambiente onírico no qual se observa a diversidade de pontos de vista sobre o mundo.
Abrindo a mostra, Razão/Loucura (1976/2017), obra de Cildo Meireles, põe-se em questão a distinção entre os termos, construindo dois objetos com varas de bambu curvadas quase ao ponto de se quebrarem e assim mantidas por correntes de metal que unem suas extremidades. Cada um deles traz uma pequena placa de metal onde estão gravadas as palavras do título. Ao lado do trabalho de Cildo, está posicionada a obra Arco e Flecha (s/d), produzida com madeira envergada por barbante e fios por Arthur Bispo do Rosário, artista que viveu por mais de 50 anos na Colônia Juliano Moreira, instituição psiquiátrica em Jacarepaguá (RJ).
Minha intenção ao aproximar essas duas obras era criar uma espécie de definição poética de “Lugares do Delírio” e salientar a dimensão conceitual do trabalho de Bispo do Rosário, tentando distanciá-lo do universo da arte popular, naïf ou categorias como a de “arte bruta”, explica Rivera.
Ainda do artista – que integrou a Marinha do Brasil antes de ser diagnosticado como “esquizofrênico-paranoico” –, uma coleção com diferentes peças em forma de barcos. Bastante recorrente na mostra, o barco é tema da obra de Maurício Flandeiro, Bernardo Damasceno e Luiz Carlos Marques, relembrando sua ligação com a história da loucura, desde a Idade Média, quando os considerados “insanos” eram abandonados à deriva no mar, nas chamadas “naus dos loucos”.
Além do único ensaio fotográfico da carreira de Cildo Meirelles – uma série de 42 imagens do hospital Vila de São Cottolengo (1974), que atende pessoas com deficiências físicas e mentais em Goiás –, os visitantes poderão conhecer o trabalho de Geraldo Lúcio Aragão, único fotógrafo no acervo do Museu de Imagens do Inconsciente, fundado por Nise da Silveira nos anos 1950, no Rio de Janeiro. Feitas nos ateliês de arte da psiquiatra, seus retratos de composições geométricas e natureza morta, só foram recentemente redescobertos pela instituição, que também cede à exposição desenhos e pinturas de Fernando Diniz e Raphael Domingues.
A Camisa de Força (1969/2017) é uma obra emblemática, porém pouco divulgada, de Lygia Clark, que convida à percepção de nosso frágil equilíbrio e delicada autocontenção. Laura Lima, que relata que sua decisão de tornar-se artista foi marcada pelo surto psicótico vivenciado por seu irmão, mostra obras que revelam uma experiência de angústia e transformação. Novos costumes (2006/2016) propõe uma revisão dos hábitos por meio de peças de roupa e adereços a serem vestidos e usados conforme a invenção e o desejo de cada um. Já a performance Ascenseur (2013) eleva uma parede para fazer surgir dela uma mão que parece buscar um molho de chaves.
A dupla brasileiro-suíça Dias & Riedweg expõe dois trabalhos oriundos de projetos participativos com frequentadores do IPUB – Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o vídeo Corpo Santo (2012) e a instalação sonora Nada absolutamente nada (2015). Do educador francês Fernand Deligny, a mostra conta com um vasto conjunto de mapas originais traçados por seus colaboradores na tentativa de entender os deslocamentos e gestos das crianças e adultos, em muitos casos, em áreas de convivência, para a reflexão sobre o tratamento em saúde mental.
MONTAGEM AMPLIADA EM SÃO PAULO
“Lugares do Delírio” traz ainda ao público obras de diversos outros artistas, incluindo nomes que não participaram da montagem no Rio de Janeiro, como Flavio de Carvalho, Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Maria Leontina e Osvaldo Vicente Francisco, que está vinculado a um Centro de Assistência Psicossocial (CAPS) no município de Santo André e foi premiado na categoria esculturas e instalações, da 7° edição do Prêmio Bispo do Rosário (2014).
Presentes exclusivamente na seleção do Sesc Pompeia, estão trabalhos de Aurora Cursino dos Santos e Ioitiro Akaba, que frequentaram a Escola Livre de Artes Plásticas do Hospital do Juquery, criada nos anos 1950 pelo psiquiatra Osório Cesar, dando origem ao acervo do museu que leva o seu nome em Franco da Rocha (SP). Também fazem parte dessa coleção, uma obra inédita de Alcina, que foi aluna da artista Maria Leontina na instituição do Juquery entre 1949 e 1951.
PERFORMANCES NA NOITE DE ABERTURA
No dia 10 de abril, duas performances serão apresentadas no espaço expositivo de “Lugares do Delírio”, a partir das 20h.
In ATTO, de Anna Maria Maiolino e com participação de Sandra Lassa se desenvolve a partir da relação entre duas personagens: uma jovem e outra anciã. Através de aspectos rituais, do contato com o público e improvisações, a obra tenciona questões sobre a vida e a morte, a velhice e a juventude e os processos e implicações de se desfazer de amarras.
Arlindo Oliveira é integrante do Atelier Gaia, espaço de arte e criação administrado pelo Museu Bispo do Rosário que reúne artistas que usam ou já passaram pelo serviço do Instituto Municipal de Assistência à Saúde Colônia Juliano Moreira. Ele performa Tresformance, em que evoca a história de sofrimento e resistência pela arte de Arthur Bispo do Rosário, atualizando-a de modo singular através de suas próprias vivências manicomiais.
SOBRE A CURADORA
Tania Rivera é psicanalista, curadora e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF). Autora, entre outros, de Arte e Psicanálise (2002), Hélio Oiticica e a Arquitetura do Sujeito (2012) e O Avesso do Imaginário - Arte Contemporânea e Psicanálise (2013), vencedor do Prêmio Jabuti de Psicologia/Psicanálise em 2014.
DOMA na Adelina, São Paulo
Conhecidos por suas obras repletas de discurso político e ironia, os argentinos apresentam Plato del día, além de estarem presentes na SP-Arte dentro do estande da Adelina Galeria
O coletivo DOMA, formado por artistas argentinos, inaugura Plato del día na Adelina Galeria no próximo dia 10 de abril, terça-feira, a partir das 19 horas. Expondo pela segunda vez no País, os artistas criaram as peças depois de uma residência em São Paulo, onde puderam se aproximar mais da cultura brasileira.
Assim como em outros trabalhos, o DOMA apresenta uma exposição carregada de ironia e com fortes críticas políticas. Em 11 peças que compõem Plato del día, o público poderá refletir sobre machismo, o efeito do uso excessivo de celulares, o culto ao corpo perfeito, bem como uma cultura de ostentação fruto de uma sociedade baseada no consumo e, claro, também falam sobre o conturbado momento político nacional.
“O DOMA usa os conceitos de site specifc art. Criamos a partir da necessidade do espaço onde vamos expor ou, como é o caso dessa mostra, baseados numa relação com o local - muito mais ligada à questão da experimentação social e cultural. Fiquei cerca de quatro meses em São Paulo, buscando referências, tentando me aproximar mais da cultura brasileira e dos seus costumes, o que acaba se refletindo nas peças. A exposição é o resultado de uma experiência, de um encanto pelo diferente e uma fascinação pelo ridículo, pelo injusto e pelo verdadeiro estilo brasileiro”, explica o artista Orilo Blandini, um dos criadores do DOMA ao lado de Julian Pablo Manzelli.
DOMA é um grupo de artistas argentinos que começou a trabalhar com arte urbana em Buenos Aires, em 1998 fazendo instalações, estêncils, projeções na rua e campanhas absurdas. Eles estudaram Ilustração, Cinema e Design Gráfico, mas depois trabalharam com diferentes mídias e formatos, explorando novas áreas e técnicas. Desde o início eles criavam universos conceituais, mundos diferentes e personagens que se desenvolveram até criarem vida com a especialização em instalaçōes, brinquedos, animação, dioramas e objetos de arte contemporânea. Em mais de uma década eles desenvolveram um estilo reconhecido, caracterizado por uma ácida e absurda visão da realidade. DOMA é formado por Julian Pablo Manzelli/Orilo Blandini.
VISITAS EDUCATIVAS
Além de mediações ao público espontâneo, a Adelina Galeria oferece visitas guiadas às suas exposições para grupos mediante agendamento. As visitas são gratuitas e podem ser realizadas para grupos de até 15 pessoas, com duração média de 1h. Para agendar uma visita em grupo, basta enviar um e-mail para oi@adelinagaleria.com.br com data e horário da visita, número de pessoas e nome do responsável pelo grupo. A visitação em grupos é gratuita, mediante agendamento, no horário de funcionamento da galeria.
abril 6, 2018
Maya Weishof na Zipper, São Paulo
Pensar o corpo como uma possível medida do mundo é uma das questões que permeiam a primeira individual de Maya Weishof em São Paulo, em cartaz a partir de 10 de abril no projeto Zip’Up. Após desenvolver uma série anterior utilizando mapas, em que discutia temas como a cartografia e território, a artista curitibana volta-se desta vez para os limites e deslocamentos do corpo, retratando-o por meio de seus fragmentos e extremidades.
Estruturas que se multiplicam e compartilham o mesmo espaço ou membros em dimensões protuberantes surgem em formas diluídas no conjunto de pinturas sobre módulos tridimensionais e óleos sobre tela. Complementa a mostra Há sempre um corpo que sobra o vídeo “Novo Atlas Escolar Português” (2017). Desenvolvido logo após uma residência em Portugal, o trabalho parte de uma ação quase pictórica, na qual a artista usa um pó de talco para redesenhar as fronteiras dos mapas, caminhando sobre as páginas arrancadas do atlas.
“Há uma vontade de dimensionar o plano que vivo, uma intenção de compreender o espaço inalcançável pelos nossos pés, um pouco refém da dimensão do mundo e da incapacidade de mudança”, afirma a artista.
Com curadoria de Nathalia Lavigne, a mostra fica em cartaz até 12 de maio.
Idealizado em 2011, um ano após a criação da Zipper Galeria, o programa Zip’Up é um projeto experimental voltado para receber novos artistas, nomes emergentes ainda não representados por galerias paulistanas. O objetivo é manter a abertura a variadas investigações e abordagens, além de possibilitar a troca de experiência entre artistas, curadores independentes e o público, dando visibilidade a talentos em iminência ou amadurecimento. Em um processo permanente, a Zipper recebe, seleciona, orienta e sedia projetos expositivos, que, ao longo dos últimos seis anos, somam mais de quarenta exposições e cerca de 60 artistas e 20 curadores que ocuparam a sala superior da galeria.
Sobre a artista
Maya Weishof (Curitiba, PR) é graduada em Artes Visuais pela Universidade Federal do Paraná - UFPR. Participou do grupo de investigações práticas em pintura, sob orientação de Regina Parra e Rodolpho Parigi; e do Núcleo de Artes Visuais SESI, sob orientação de Ricardo Basbaum. Em 2016, foi selecionada para o programa de residência artística da Zaratan Arte Contemporânea em Lisboa, Portugal. Exposições individuais: “Tente ver o oceano” (Boiler Galeria, Curitiba PR. Curadoria de Ulisses Carrilho, 2016) e “Existe uma medida do mundo” (Acervo Independente, Porto Alegre - RS. Curadoria Isadora Mattiolli, 2017). Principais exposições coletivas: “A Vastidão dos Mapas” (Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, 2017), com curadoria de Agnaldo Farias; “Confluências Poéticas” (SESC Paço da Liberdade, Curitiba, PR).
Sobre a curadora
Nathalia Lavigne (Rio de Janeiro, RJ) é crítica de arte, curadora e pesquisadora. Doutoranda pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), é mestre em Teoria Crítica e Estudos Culturais pela Birkbeck, University of London e graduada em Jornalismo pela PUC-RJ. Escreve para publicações como Artforum, Select, Folha de São Paulo, entre outras. Foi uma das pesquisadoras do projeto “Observatório do Sul”, plataforma de discussões promovida em 2015 pelo Sesc São Paulo, Goethe-Institut e Associação Cultural Videobrasil. Realizou curadorias como "Imagem-Movimento" (Zipper Galeria, 2016), "Apagamento - Renato Castanhari" (Galeria Sancovsky, 2017), entre outras; e o acompanhamento crítico da mostra “Still Brazil”, de Daniel Jablonski (Paço das Artes, 2018).
Katia Maciel na Zipper, São Paulo
Poetisa e artista reconhecida pela realização de vídeos e instalações, Katia Maciel experimenta, em sua segunda exposição individual na Zipper, a construção de uma série de objetos que se definem a partir da relação entre palavra, superfícies refletoras e o espectador. A artista revisita a própria produção ao se apropriar de títulos de trabalhos anteriores e propor, em estruturas de espelho e vidro, uma montagem de fragmentos da sua obra – daí o título da mostra, Trailer. Com curadoria de Ismar Tirelli Neto, a mostra inaugura no dia 10 de abril, durante o Gallery Night no bairro dos Jardins, roteiro de galerias que antecede a abertura da SP-Arte.
“Duchamp considerava o título de suas obras como uma tinta invisível. Nesta exposição, coloco o título em primeiro plano e a palavra e seu uso se constituem como objeto poético. Títulos antes referidos ao meu trabalho em vídeo não são retirados do seu campo semântico, o que há é o desdobramento da obra como imagem de si mesma, deslocada da situação de projeção para a de pura reflexão”, afirma a artista.
A sequência de objetos-poema usa como suporte o espelho e o vidro, e, portanto, o reflexo do observador é incorporado ao trabalho. Como na obra “Círculo Vicioso”, em que as duas palavras, impressas em torno do objeto circular no nível do chão, giram a partir do gesto do espectador, que se vê aprisionado na imagem em movimento. Ou em “Mesmo Assim, Assim Mesmo”, em que as palavras podem ser combinadas pela ação do espectador a partir do deslocamento da palavra em primeiro plano no trabalho.
A exposição apresenta, ainda, dois vídeos: “Repetir é esquecer o esquecimento” e o trabalho que dá nome à individual, “Trailer”, sucessão acelerada do primeiro frame de cada vídeo ou filme produzido pela artista. “Após anos dedicados a demonstrar – com calma característica – a instabilidade fundamental das imagens à nossa volta, Katia Maciel, ela própria arquiteta de imagens, propõe-se agora desestabilizar seu próprio trabalho, friccionando-o contra um campo até então inexplorado”, escreve o curador da exposição.
“Trailer” fica em cartaz até 12 de maio.
Sobre a artista
Katia Maciel (Rio de Janeiro, Brasil 1963) é artista, poeta e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sua obra investiga o imaginário próprio das imagens em relações com a paisagem, os objetos e a palavra. Em seus vídeos e instalações, a influência do cinema é flagrante na escala, na poética do movimento, na inclusão do espectador. Seus trabalhos estiveram em exposições no Brasil, na Colômbia, no Equador, no Chile, na Argentina, no México, nos Estados Unidos, na Inglaterra, na França, na Espanha, em Portugal, na Alemanha, na Lituânia, na Suécia e na China. Recebeu, entre outros, os prêmios: Prêmio Honra ao Mérito Arte e Patrimônio (2013), Prêmio da Caixa Cultural Brasília (2011), Funarte de Estímulo à Criação Artística em Artes Visuais (2010), Rumos Itaucultural (2009), Prêmio Sérgio Motta (2005), Petrobrás Mídias digitais (2003), Transmídia Itaúcultural (2002), Artes Visuais Rioarte (2000). As obras da artista encontram-se nas coleções Gilberto Chateaubriand, Museu de Arte do Rio, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, Oi Futuro do Rio de Janeiro e Maison Européenne de la Photographie, entre outras.
Sobre o curador
Ismar Tirelli Neto (Rio de Janeiro, Brasil, 1985) é poeta, ficcionista, tradutor e roteirista cinematográfico. Já teve textos publicados em O Globo, Folha de São Paulo, Suplemento Pernambuco, Modo de Usar & Co., Escamandro, Blog do Instituto Moreira Salles, Revista Pessoa, Neue Rundschau (Alemanha), Relâmpago (Portugal), Jacket2 (EUA), entre outros. Vive atualmente em Curitiba. É autor dos livros “synchronoscopio”, “Ramerrão” e “Os Ilhados”, todos lançados pela editora 7Letras.
Rodolpho Parigi na Triângulo, São Paulo
Casa Triângulo estreia exposição de Rodolpho Parigi em paralelo à SP-Arte
A Casa Triângulo tem o prazer de apresentar Sem Título, exposição individual do artista paulistano Rodolpho Parigi, que marca sua estreia no hall de artistas representados pela galeria. A mostra conta com quinze trabalhos inéditos em diferentes formatos e linguagens, que vão do desenho à pintura e à gravura. O texto e a curadoria são assinados pelo crítico e curador Ivo Mesquita.
Retomando sua pesquisa com a volumetria de uma forma pictórica inédita, Parigi explora as possibilidades de um universo sci-fi habitado por figuras híbridas e andróginas de beleza suigeneris e formas que aparecem na superfície. O profundo interesse e fascinação do artista pelas entranhas, desenhos detalhados de anatomia, gravuras japonesas e pornografia, transparece nos trabalhos em exibição. Entre eles, vale destacar as aquarelas agigantadas em papel situadas na fronteira entre entre desenho e pintura, representando formas anamórficas e híbridas que remetem a tranças e músculos, lembrando grandes esculturas.
O interesse do artista pela transformação do natural, metamorfoses e hibridismos, se funde em ideias de corpos, fauna e flora, revelando os limites entre o mundo material e o artificial. Com referências que vão da história da arte clássica ao modernismo brasileiro e até mesmo ao pop americano, o artista cria uma realidade visual, virtual e barroca que se torna visível através de uma representação naturalista de objetos, formas e corpos inventados.
A abertura está marcada para 10 de abril, das 18h às 22h, junto com a programação do Gallery Night, evento promovido pela SP-Arte.
abril 5, 2018
Roesler Hotel: Screenspace na Nara Roesler, São Paulo
Simultaneamente à mostra de León Ferrari, a Galeria Nara Roesler – SP, na 28a edição de seu programa Roesler Hotel recebe Screenspace, exposição que apresenta produções recentes de dezenove artistas dedicados a pensar a cultura visual contemporânea por meio das problemáticas que envolvem a linguagem fotográfica em um contexto pós-digital.
Na atual edição do Roesler Hotel, a curadoria é de Vik Muniz - artista representado pela galeria -, Lucas Blalock e Barney Kulok, cujos trabalhos também integram a exposição. Screenspaces é apresentada como um sintoma de que a fotografia digital mudou definitivamente a nossa percepção sobre o mundo ao nosso redor.
A construção das noções de verdade e realidade, ou o vínculo indicial entre o que é fotografado e sua representação, temas tradicionalmente caros à fotografia, seguem presentes nas pesquisas desses artistas. No entanto, o que mais se destaca na mostra é o interesse por pensar as tecnologias digitais não como simples ferramentas, senão como dispositivos capazes de remodelar nosso imaginário e o modo como nos relacionamos com as imagens.
Artistas participantes: Awol Erizku, Barney Kulok, Chris Wiley, Daniel Gordon, Deana Lawson, Dilon DeWaters, Erin Shirreff, Hannah Whitaker, Jibade-Khalil Huffman, John Houck, Jonathan Ehrenberg, Leah Beeferman, Leslie Hewitt, Lucas Blalock, Mariah Robertson, Paul Mpagi Sepuya, Sara Cwynar, Vik Muniz, Whitney Hubbs.
Como parte da programação da SP-Arte, no dia do vernissage, às 18h, durante o Gallery Night, quando o circuito das galerias funciona em horário estendido para receber o público, os curadores realizam um bate-papo sobre a exposição.
O projeto Roesler Hotel foi criado pela Galeria Nara Roesler em 2002 para promover o diálogo entre as comunidades artísticas nacional e internacional, convidando curadores e artistas a realizar experimentos em seu espaço.
León Ferrari na Nara Roesler, São Paulo
León Ferrari, nome consagrado com o Leão de Ouro na Bienal de Veneza (2007) e representado pela Galeria Nara Roesler no Brasil e no exterior, recebe a primeira individual de grande alcance dentro de uma galeria, após a sua morte ocorrida em 2013. Com curadoria de Lisette Lagnado, a mostra panorâmica cobre quase meio século do processo criativo do artista multimídia, ao reunir uma seleção de obras realizadas entre 1962 e 2009.
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“Por ser dono de vasta erudição sobre os evangelhos canônicos, León Ferrari dedicou boa parte de seu tempo para defender sua tese principal, segundo a qual o patrimônio artístico da cultura ocidental está assentado sobre promessas de castigos e torturas, tendo o Inferno e o Apocalipse como imperativos categóricos de uma humanidade ímpia”, afirma a curadora. Segundo ela, no universo contemporâneo das práticas artísticas, raros são os encontros com uma massa tão expressiva de escritos engajados.
Lagnado destaca, ainda, que a figura pública do artista argentino tornou-se parte indissociável de sua extensa e multifacetada produção, a qual classifica como obsessiva, controversa e bem-humorada. Contudo, a curadora alerta sobre o conceito de ativismo, expresso em seus trabalhos. “Percebe-se logo que a chave do ´’ativismo’ é redutora para explicar a monumentalidade de uma obra que compreende uma coleção extraordinária de reproduções recolhidas da história da arte”. Para Lagnado, essa fartura acabou revelando um aspecto pouco comentado até hoje, a característica, à primeira vista, antes iconófila do que iconoclasta. “Propõe-se aqui recuperar essa extensa iconografia, sem fazer tábula-rasa de sua aura artística nem religiosa, e sim jogar um olhar científico que possa extrair um sentido primitivo nas figuras retratadas. Não se trata de estabelecer um enfrentamento com a dimensão espiritual da religião, mas depreender o que “está sendo dado a ver”, a estrutura e morfologia de cada cena”, completa a curadora.
Em abril, no mês da SP-Arte, Ferrari será presença relevante no circuito das artes. Além da individual na Galeria Nara Roesler – SP e em seu estande na feira ser o nome central, o artista é tema de conferência no MAM-SP, com a mediação de Lisette Lagnado e participação de nomes, como Catherine David, curadora do Centre Pompidou, Pablo León de la Barra, do Guggenheim NY, Anna Ferrari, da Fundação Augusto e León Ferrari Arte e Acervo – FALFAA, Victoria Northoorn, Diretora do Museu de Arte Moderno de Buenos Aires e da artista Regina Silveira. Ferrari também participa da exposição Esculturas para ouvir, no MuBE. Além disso, a Galeria Nara Roesler inaugura, em sua sede de Nova York, outra exposição do artista.
No dia do vernissage, às 19h, durante o Gallery Night, quando o circuito das galerias funciona em horário estendido para receber o público, a galeria Nara Roesler oferece uma visita guiada por Lisette Lagnado na exposição de León Ferrari. Para participar, o interessado precisa antes confirmar presença pelo e-mail rsvp@nararoesler.art.
León Ferrari (1920, Buenos Aires, Argentina – 2013, Buenos Aires, Argentina) é um dos artistas latino-americanos mais consagrados mundialmente, aclamado na Bienal de Veneza de 2007, pela qual recebeu o prêmio Golden Lion em reconhecimento por sua obra que, até o fim da vida, o motivou a contestar o mundo em que vivemos. Em sua prática artística, faz uso de distintas linguagens como a escultura, o desenho, a escrita, a colagem, a assemblage, a instalação e o vídeo. Este conjunto heterogêneo de práticas integra temas que revelam seu caráter de pesquisador e ativista como a investigação estética da linguagem, o questionamento do mundo Ocidental, o poder e a normatização que dita os valores da religião, da Arte, da Justiça e do Estado, a reverência à mulher e ao erotismo e a representação da violência. A repetição, da ironia e da literalidade também são recursos de sua poética, reconhecidos desde suas obras iniciais.
Na década de 1960, os desenhos e as esculturas de Ferrari são permeados, em especial, pelo questionamento ético da religião e a denúncia contra o Imperialismo. Em 1976, um golpe militar forçou o artista e sua família a deixar Buenos Aires, mudando-se para São Paulo, onde permaneceram até a década de 1990. Durante sua permanência no Brasil, Ferrari integrou-se ao circuito da vanguarda experimental local, envolvendo-se com o processo de revitalização da linguagem através da produção de heliografias, fotocópias, instrumentos musicais, concertos e arte postal. Ao retornar à Argentina, o artista continuou a produzir obras de arte politicamente engajadas, questionando os desaparecimentos que aconteceram durante a Ditadura Militar.
Seus trabalhos foram exibidos em grandes exposições internacionais, como: The Words of Others: León Ferrari and Rhetoric in Times of War, Pérez Art Museum Miami (PAMM), Miami, EUA, 2018, e Roy and Edna Disney/CalArts Theater (REDCAT), Los Angeles, EUA, 2017-18; La donación Ferrari, Museo de Arte Moderno de Buenos Aires (MAMBA), Buenos Aires, Argentina, 2014; León Ferrari - Brailles y relecturas de la Biblia, Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA), Buenos Aires, Argentina, 2012; Tangled Alphabets: León Ferrari and Mira Schendel, Museum of Modern Art (MoMA), New York, USA, 2009; 2006; Retrospectiva León Ferrari, Pinacoteca do Estado do São Paulo, Brazil, 2006; Retrospective León Ferrari, obras 1954-2004, Centro Cultural Recoleta (CCR), Buenos Aires, Argentina, 2004; e Politiscripts, The Drawing Center (TDC), New York, 2004. Participou de Think with the Senses, Feel with the Mind: Art in the Present Tense na Bienal de Veneza (Pavilhão da Itália e Arsenal), em 2007, e recebeu o prêmio Golden Lion. Suas obras estão presentes em importantes coleções institucionais, como: Perez Art Museum, Miami, USA (PAMM); Art Institute of Chicago (AIC), USA; Centro Wifredo Lam, Havana, Cuba; Daros Latinamerica Collection, Zürich, Switzerland; Fondo Nacional de las Artes, Argentina; Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA), Argentina; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM- RJ), Brazil; Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), Brazil; Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brazil; The Museum of Fine Arts (MFAH), Houston, USA; The Museum of Modern Art (MoMA), New York, USA; Tate Modern, London, ENG; entre outros.
León Ferrari, a name honored with the Golden Lion at the 2007 Venice Biennale and represented by the Nara Roesler Gallery in Brazil and abroad, receives the first large-scale solo exhibition inside a gallery, after his death in 2013. Curated by Lisette Lagnado, this panoramic exhibition covers almost half a century of the multimedia artist’s creative process, gathering a selection of works made between 1962 and 2009.
The curator states: “A profound erudite on the canonical gospels, León Ferrari dedicated much of his time to defending his main thesis: the artistic heritage of Western culture is based on promises of penalties and torture, with Hell and Revelation as categorical imperatives of impious humankind”. According to her, in the contemporary universe of artistic practices, encounters with such an expressive mass of engaged writings are rare.
Lagnado also emphasizes that the Argentine artist’s public figure has become an inseparable part of his extensive and multifaceted production, which she defines as obsessive, controversial and good-humored. The curator, however, issues a warning on the concept of activism, as it is expressed in his works. "One soon realizes, however, that the ‘activism’ key is too reductive to explain the monumentality of an oeuvre that contains an extraordinary collection of reproductions collected from the history of art". For Lagnado, this abundance ended up revealing a so far disregarded aspect, i.e., a rather iconophile than iconoclastic characteristic, as it appears at first sight. "The proposition here is to recover this extensive iconography, without making a blank slate of its artistic or religious aura, but directing a scientific gaze that might extract a primitive meaning from the figures portrayed. It is not about establishing a confrontation with the spiritual dimension of religion, but understanding what is ‘being given to see’, the structure and morphology of each scene", the curator completes.
In April, Ferrari will be a relevant presence in the art circuit. Aside from his solo exhibition at the São Paulo Nara Roesler Gallery and his figurehead status at the SP-Arte fair, the artist is the theme of a MAM-SP seminar, with the mediation of Lisette Lagnado and the participation of names such as Catherine David, curator of the Centre Pompidou, Pablo León de la Barra from Guggenheim NY and Anna Ferrari from Fundação Augusto e León Ferrari and León Ferrari Arte e Acervo - FALFAA, among others. Ferrari also participates in the MUBE exhibition Esculturas para ouvir. In addition, another exhibition of the artist will open at the Nara Roesler Gallery in New York.
León Ferrari (1920, Buenos Aires, Argentina - 2013, Buenos Aires, Argentina) is one of the most celebrated Latin American artists worldwide. He was acclaimed at the 2007 Venice Biennale, where he received the Golden Lion Award in recognition of a work that motivated him until the end of his life to challenge the world we live in. In his artistic practice, he used such different languages as sculpture, drawing, writing, collage, assemblage, installation and video. This heterogeneous set of practices integrates themes that reveal his character as a researcher and activist such as the aesthetic investigation of language, his questioning of the Western world, power and the set of rules that dictates the values of religion, Art, Justice and the State, the reverence for women and eroticism and the depiction of violence. His poetics, recognized since his early works, also include repetition, irony and literality as resources.
In the 1960s, Ferrari’s drawings and sculptures are especially permeated by his ethical questioning of religion and his denunciation of Imperialism. In 1976, a military coup forced the artist and his family to leave Buenos Aires and move to São Paulo, where they remained until the 1990s. During his stay in Brazil, Ferrari joined the circuit of the local experimental avant-garde and became involved with the process of language revitalization through the production of heliographies, photocopies, musical instruments, concerts and postal art. Upon his return to Argentina, the artist continued to produce politically engaged art works, inquiring on the missing victims of the Military Dictatorship.
His works were shown at major international exhibitions such as: The Words of Others: Leon Ferrari and Rhetoric in Times of War, Perez Art Museum Miami (PAMM), Miami, USA, 2018, and Roy and Edna Disney / CalArts Theater (REDCAT) , Los Angeles, USA, 2017-18; La donación Ferrari [The Ferrari donation], Museo de Arte Moderno de Buenos Aires (MAMBA), Buenos Aires, Argentina, 2014; León Ferrari - Brailles y relecturas de la Biblia [León Ferrari - Brailles and re-readings of the Bible], Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA), Buenos Aires, Argentina, 2012; Tangled Alphabets: Leon Ferrari and Mira Schendel, Museum of Modern Art (MoMA), New York, USA, 2009; 2006; Retrospectiva León Ferrari, Pinacoteca do Estado do São Paulo, Brazil, 2006; Retrospective León Ferrari, obras 1954-2004, Centro Cultural Recoleta (CCR), Buenos Aires, Argentina, 2004; and Politiscripts, The Drawing Center (TDC), New York, 2004. He participated in Think with the Senses, Feel with the Mind: Art in the Present Tense at the 2007 Venice Biennale, and received the Golden Lion Award. His works are found in important institutional collections, such as: Perez Art Museum, Miami, USA (PAMM); Art Institute of Chicago (AIC), USA; Wifredo Lam Center, Havana, Cuba; Daros Latinamerica Collection, Zürich, Switzerland; Fondo Nacional de las Artes, Argentina; Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA), Argentina; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM- RJ), Brazil; Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), Brazil; Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brazil; The Museum of Fine Arts (MFAH), Houston, USA; The Museum of Modern Art (MoMA), New York, USA; Tate Modern, London, ENG; among others.
abril 4, 2018
Imannam no Pivô, São Paulo
Em 8 de abril, o Pivô recebe a exposição coletiva imannam, das artistas Ana Linnemann, Anna Maria Maiolino e Laura Lima, com curadoria de Tania Rivera.
Abrindo as atividades de seu Programa Anual de Exposições, o Pivô tem o prazer de apresentar “imannam”, das artistas Ana Linnemann, Anna Maria Maiolino e Laura Lima, com a curadoria de Tania Rivera. Complementando a exposição, uma peça gráfica de Bernardo Ortiz ocupará a coluna central da recepção do Pivô.
O projeto “imannam” foi construído a partir de uma articulação entre as três artistas para propor obras em profundo diálogo em torno da busca do outro e de operações de reversão do espaço e de objetos do mundo. O título da mostra é um jogo de palavras entre os nomes das artistas, replicando a dinâmica de entrelaçamento entre seus trabalhos no ambiente. “imannam” surge da opção pela subversão da ideia da arquitetura como o local comum entre o eu e o outro, em busca de outras lógicas de relação através da proposição de situações que convidam a um acontecimento – um revés – no mundo. Utilizando a arquitetura singular do Pivô como ponto de partida, as artistas apresentam propostas de experimentação em suas diversas áreas com instalações, intervenções arquitetônicas, trabalhos sonoros e filmes concebidos especialmente para este projeto.
No ponto de chegada à exposição, o público será saudado por um trabalho sonoro inédito de Anna Maria Maiolino. Ao continuar o trajeto até a galeria, o espectador irá deparar-se com um pé direito anormalmente baixo por Laura Lima. Obrigado a se encurvar, seu olhar inclinado logo detectará a obra Os Invisíveis Número 11, de Ana Linnemann, em que uma coluna de sustentação realiza um giro rápido de 360 graus por minuto.
Entre os trabalhos que Anna Maria Maiolino selecionou para a exposição está uma série de curtos vídeos experimentais – “entre-documentários” ou “a-documentários”, segundo a definição da artista – motivados pelo real e seu entorno. Os vídeos são capturados através de câmera digital ou de celular, dispostos junto a textos em prosa poética, trechos de canções e comentários diversos sobre arte e mundo.
Quarto Incapacitado, de Laura Lima, por fim, ocupará o espaço central do Pivô. A obra consiste na construção de uma sala suspensa que funcionará como uma espécie de pequeno escritório a ser ocupado pela equipe do Pivô. Por uma fresta existente entre a lateral e o chão desta plataforma, o público poderá espiar os movimentos dos pés de seus ocupantes.
O Programa Anual de Exposições promove o trabalho de artistas em meio de carreira e de diferentes nacionalidades, oferecendo aos visitantes um extenso panorama da produção contemporânea recente, ao mesmo tempo em que estimula intercâmbios geracionais entre os agentes envolvidos em toda a programação do Pivô.
Ana Linnemann é doutora em Linguagens Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Já expôs em instituições como o Centro Cultural Maria Antônia (São Paulo), Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio), Oslo Kunstforening (Oslo), Museo del Barrio (Nova Iorque), o MALBA (Buenos Aires) e Museu Imperial de Petrópolis.
Anna Maria Maiolino é uma artista ítalo-brasileira que vive e trabalha em São Paulo. Em 1989, recebeu o Prêmio Mário Pedrosa por melhor exposição do ano. Em 2012, foi contemplada com o 1º prêmio MASP Mercedes-Benz de Artes Visuais. Em 2017 teve sua obra apresentada numa retrospectiva no MOCA Los Angeles, além da participação na 13ª Documenta de Kassel, 14ª Bienal de Lyon e 24ª e 29ª Bienal de São Paulo.
Laura Lima é formada em Filosofia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Participou de diversas exposições em instituições como Bienal de São Paulo; Bienal do Mercosul (Porto Alegre), Chapter Art Centre (Cardiff), Kunst-Werke (Berlim), Casa França-Brasil (Rio de Janeiro), entre outras. Junto aos artistas Ernesto Neto e Márcio Botner, é sócia-fundadora da galeria A Gentil Carioca.
Tania Rivera é doutora em Psicologia pela Université Catholique de Louvain. Ensaísta, psicanalista e professora do Departamento de Arte e da Pós-Graduação em Estudos Contemporâneos das Artes da Universidade Federal Fluminense. Curou a exposição “Pulsar”, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio), em 2013, e “Lugares do Delírio” no Museu de Arte do Rio, em 2017.
Hartwig Burchard no Pivô, São Paulo
No dia 8 de abril, o Pivô inaugura a exposição Hartwig Burchard: Poeta de Vários Mundos, com curadoria de Veronica Stigger.
Em abril, o Pivô apresenta a terceira edição de seu programa “Fora da Caixa”. Nessa ocasião, o espaço expositivo do segundo andar da instituição será tomado pelas monotipias do artista Hartwig Burchard, com curadoria de Veronica Stigger.
A exposição de Hartwig Burchard (1920 – 2014) apresentará cerca de 20 monotipias realizadas entre 1998 e 2000, nas quais nota-se a estreita relação que o artista estabelece entre a escrita e o trabalho plástico. Esta relação o alinha juntos à artistas contemporâneos que não apenas inserem a palavra em suas pinturas e gravuras, mas fazem dela o elemento central da obra, como Mira Schendel, Leonilson, e os internacionais Cy Twombly e Anselm Kiefer. Em suas monotipias, a escrita aparece ora mais ora menos definida. Em algumas é possível identificar certas palavras por vezes apresentadas de trás para frente em função da impressão. Já em outras, como nas quatro da série azul que fazem parte da mostra, as palavras se tornam quase ilegíveis, restando mais como gesto do que como grafia.
Na história da arte recente, Burchard permaneceu submerso ao longo das últimas décadas, cada vez menos reconhecível e reconhecido no presente, em movimento análogo a como o artista descreve sua própria obra: “as palavras desenhadas, pintadas ou impressas quase que afundam, tornando-se menos reconhecíveis, como numa terceira dimensão”. Reencontrado neste momento, Burchard dá a impressão de nunca ter se ausentado de todo. Não à toa, a extrema contemporaneidade de sua obra teve a capacidade de dialogar com o que de mais intenso estava se produzindo nas artes plásticas brasileiras e estrangeiras de cada época de sua trajetória.
O programa Fora da Caixa tem como objetivo revisitar obras e projetos artísticos exibidos no passado e que agora permanecem guardados em acervos públicos ou privados. Procura-se assim investigar a produção artística dos últimos 50 anos e refletir sobre sua influência na atualidade, promovendo interlocuções possíveis com o panorama da produção contemporânea recente.
Hartwig Burchard expôs duas vezes no MASP. Possui obras nos acervos de instituições como o MAM, a Biblioteca Nacional, Metropolitan Art Museum de Nova York, Musee d’Art Moderne de Estraburgo, Museé de l’Affiche de Paris,
Museu de Arte Brasileira de São Paulo
e no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP).
Veronica Stigger é escritora, crítica de arte e professora universitária. Doutora em Teoria e Crítica de Arte pela USP. É coordenadora do curso de Criação Literária da Academia Internacional de Cinema e professora das Pós-Graduações em História da Arte e em Fotografia da FAAP. Publicou “Os anões”, “Delírio de Damasco” e “Opisanie świata”.
abril 3, 2018
Douglas Gordon na Marilia Razuk, São Paulo
Douglas Gordon apresenta sua primeira individual no Brasil na Galeria Marília Razuk
Em cartaz a partir de 7 de abril, mostra reúne cerca de 25 trabalhos do consagrado artista britânico, entre vídeos, fotos, desenhos e esculturas
Com um viés provocativo, o escocês Douglas Gordon é autor de trabalhos multidisciplinares, que não podem ser enquadrados em categorias estanques. O artista já produziu filmes sobre personalidades famosas, possui trabalhos que tomam fotografias de astros do rock como ponto de partida, além de vídeos que reconstroem obras clássicas do cinema. A partir de 7 de abril, parte dessa produção singular poderá ser conferida pelo público na mostra I will, if you will..., primeira individual do artista no Brasil, promovida pela galeria paulistana Marilia Razuk. No mesmo mês, o artista apresenta um trabalho no Instituto Moreira Salles, também na capital.
A exposição reúne 25 obras do artista, entre vídeos, fotografias, desenhos, esculturas e textos de parede. Com curadoria de Martina Aschbacher, a mostra engloba diferentes épocas da trajetória de Gordon, um dos maiores nomes das artes visuais e performáticas do mundo, cuja produção já passou pelas mais importantes instituições artísticas do globo. O artista é ainda vencedor do Turner Prize, consagrada premiação de arte contemporânea oferecida pela Tate Gallery, de Londres.
Optando por formatos simples, com os quais o público costuma se identificar, o artista discute temas profundos, que lhe são caros. As dualidades universais que atormentam a humanidade são recorrentes em suas obras. Vida e morte, certo e errado, profano e sagrado são alguns dos duplos presentes em seus trabalhos, apresentados tanto em exposições de arte quanto em salas de cinema.
No vídeo Twin Blades, por exemplo, é possível ver duas passagens idênticas, sobre as quais se apoiam dois jovens, vestidos de modo semelhante. Cada um deles possui uma faca em mãos, afiada de tempos em tempos. A imagem, simples quando vista de relance, se revela pouco a pouco uma construção complexa.
Trata-se de duas sequências do mesmo personagem, filmado exatamente no mesmo local, mas em momentos diferentes. Para se dar conta de que não se trata de uma cena única, mas de imagens duplicadas e espelhadas sem sincronia, o espectador precisa se ater a pequenos detalhes que revelam a ilusão: a chuva, a sombra de uma mão. Nesse jogo de ótica, o artista trata ainda da oposição entre Leste e Oeste, uma vez que a obra é filmada na cidade de Tânger, no Marrocos, porta de entrada do movimento de emigração para a Europa.
A cidade também é o cenário de Self Portrait in Tangier, vídeo que dialoga com a primeira obra. Em um enquadramento fechado, o trabalho traz uma mão masculina que, ao longo de todo o filme, afia uma colher de prata. Alternando-se entre superfícies côncavas e convexas, os reflexos do objeto apresentam ao interlocutor os famosos terraços da cidade africana e ainda imagens do próprio artista, que costuma incluir a si mesmo em diversas de suas produções.
As mãos, por sinal, também aparecem em outros trabalhos presentes na mostra. É o caso de The Left Hand Can’t See That The Right Hand Is Blind, videointalação que traz duas mãos cobertas por luvas de couro que tentam se desvencilhar uma da outra. A exposição traz ainda um conjunto de cinco esculturas em mármore Carrara, pequenas réplicas e fragmentos de seus próprios braços, mãos e dedos.
“A mão é um elemento recorrente no trabalho de Gordon, que as utiliza como símbolo do comportamento humano, evocando identidade, sexualidade, fetichismo, dominação ou mesmo insinuando a inabilidade do ser humano em se comunicar”, afirma a curadora.
Narciso
Ao longo de sua carreira, Gordon também criou vários autorretratos, investigando os mecanismos de construção da identidade. Em suas obras, ele se apropria de imagens de celebridades, abordando o papel dos ídolos na memória individual e coletiva. A obra Self Portrait of You + Me (Triple head Elvis), por exemplo, reúne três retratos de Elvis Presley. As imagens, que foram queimadas, são sobrepostas a um espelho, de modo que o público possa ver seu próprio reflexo sobreposto a imagem do cantor.
O trabalho Self Portrait as Kurt Cobain as Andy Warhol as Myra Hindley as Marilyn Moore, por sua vez, é composto por uma imagem do próprio artista. Em frente a um fundo vermelho, Gordon aparece com uma peruca loira, evocando as personalidades citadas no título.
Sua pose também faz referência a Rrose Sélavy, alter ego feminino do artista Marcel Duchamp. Partindo novamente da ideia do duplo, Gordon discute os impasses da construção de uma obra, numa linha tênue entre o particular e o geral. “Metade do tempo, você tenta esconder as coisas, na outra você tenta deixar as coisas explícitas”, costuma pontuar o artista.
Além da mostra na Marília Razuk, o público poderá conferir a obra do artista escocês no Instituto Moreira Salles, instituição que receberá a vídeoinstalação em grande formato Iles Flottantes, a partir do dia 14 de abril.
Sobre o artista
Nascido em 1966 na cidade de Glasgow, Douglas Gordon estudou artes em sua cidade natal, aproximando-se do universo do cinema. O artista, que é representado pela galeria Gagosian, ganhou projeção internacional na década de 1990, com a obra 24 Hour Psycho, que consiste numa versão desacelerada do clássico do cineasta Alfred Hitchcock, com duração de um dia.
Em 1996, consagrou-se como o primeiro artista a receber o Turner Prize por uma produção em vídeo. No ano seguinte, representou a Grã-Bretanha na Bienal de Veneza. Sua obra também foi exibida em grandes instituições como o Museum of Modern Art (MoMA) e a Tate Modern.
No Brasil, participou da 29ª Bienal de São Paulo, com a obra Pretty much every film and video work from about 1992 until now, uma retrospectiva de seus trabalhos em filme e vídeo apresentados até então. Essa é a segunda vez que o artista expõe na galeria Marília Razuk, tendo participado da coletiva E Pluribus Unum, em 2015.
Produziu ainda, em coautoria com Philippe Parreno, o filme Zidane - Um Retrato Do Século 21, em que reencena um jogo de futebol a partir da perspectiva do esportista. Em 2016, lançou o longa-metragem I Had Nowhere to Go, centrado na figura do cineasta lituano Jonas Meka. Atualmente, desenvolve um projeto de arte pública para a estação de metrô da Tottenham Court Road, em Londres, com inauguração prevista para dezembro deste ano.
Lucia Koch no Sesc Pompeia , São Paulo
A artista é a convidada da 3ª edição do projeto “Plano Expandido” e o ocupa o hall do teatro da unidade com intervenção que explora o uso de filtro de cor e disponibiliza estruturas de madeira para o manuseio do público
O Sesc Pompeia convida a artista multimídia, escultora e fotógrafa Lucia Koch para a 3ª edição do projeto “Plano Expandido”, que visa ampliar e problematizar a linguagem gráfica, a partir de diversas apropriações do espaço da Unidade. Koch apresenta entre os dias 7 de abril e 8 de julho a instalação A Longa Noite, pensada especialmente para ocupar o hall do teatro.
Desde 1990 trabalhando com intervenções que exploram a percepção da luz –cores, nuances, sombras, refração e projeção – e a interação do espectador com o ambiente, a artista revisita neste site specif sua experiência com o uso de filtros de cor, dando ao espaço um tom de violeta contínuo. Neste local, ela também acrescenta os elementos estruturais das treliças usadas na arquitetura de Lina Bo Bardi, disponibilizando filetes de madeira que podem ser manuseados, montados e desmontados livremente pelo público.
LUCIA KOCH – Nascida em Porto Alegre (RS), em 1966, vive e trabalha em São Paulo, onde ministra aulas de Artes Visuais na Escola de Comunicação e Artes (ECA/USP). Tem doutorado em Poéticas Visuais pela Escola de Comunicação e Artes - ECA/USP e fez graduação e mestrado em Artes Visuais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Participou da II e da V Bienal do Mercosul (1997 e 2005), da Bienal de Pontevedra, na Espanha (2000), Panorama da Arte Brasileira, no Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP (2001), Squatters/Ocupações, em Porto, Portugal (2001), e da exposição Shift, em Nova York, EUA (2002). Em 2004, foi contemplada com o Prêmio Marcantonio Vilaça Artes Plásticas. Suas obras fazem parte das coleções do Centro Galego de Arte Contemporâneo, Santiago da Compostela e da Fundação ARCO, Madri.
PLANO EXPANDIDO – Compreendendo o desenho como organizador do pensamento visual, mas também como recurso poético autônomo, o projeto do Sesc Pompeia propõe a diferentes artistas a criação de intervenções que apresentem e problematizem questões atuais de sua produção autoral e elementos fundamentais da linguagem no contexto da arte contemporânea. A 1ª edição, em junho de 2016, teve participação do artista argentino Nicolás Robbio com a obra “Questões ao traçar uma linha”. A 2ª, em dezembro de 2016, apresentou Walmor Corrêa com a instalação “Achillina Giuseppina Maria | Bo Achillina | Achillina Giuseppina | Achillina Bo Bardi|Lina Bo Bardi | Lina Bo”.
abril 2, 2018
A condição básica na FVCB, Viamão
No dia 7 de abril de 2018, a Fundação Vera Chaves Barcellos inaugura A condição básica, exposição coletiva que reúne trabalhos de mais de 30 artistas, entre brasileiros e estrangeiros, pertencentes ao acervo artístico da FVCB. A mostra conta também com obras dos artistas Elida Tessler e Guilherme Dable, especialmente convidados para a exposição. Fotografias, vídeos, serigrafias, livros de artista, obras gráficas e objetos, além de pinturas, esculturas e colagens integram a nova mostra com organização da Fundação Vera Chaves Barcellos que problematiza a questão da apropriação no universo das artes visuais na contemporaneidade.
Reunindo um diverso conjunto de trabalhos formados a partir de diferentes elementos, alguns alheios ao campo das artes visuais, a exposição apresenta a apropriação como procedimento criativo, reconhecendo o hibridismo e a contaminação como fundamentos integrantes da arte e da cultura.
O título da exposição é apropriado de um texto da crítica Aracy Amaral, pela primeira vez exposto em uma mostra de arte. Inserido no livro Arte e o meio artístico – da feijoada ao X-burger (1966), o qual é um não-texto já que constituído por uma colagem de palavras e frases de fontes diversas (entre outras, obras ficcionais, linguagem da propaganda e da crítica de arte) que ironiza alguns discursos vazios que até hoje povoam o mundo da arte.
Entre os destaques internacionais da mostra, temos a reedição da FVCB de um livro de artista do espanhol Julio Plaza (1938–2003) La evolución de la revolución (1972); a obra emblemática da argentina Noemí Escandell (1942), na qual se compara a famosa foto de Chê Guevara morto, rodeado de militares, com A lição de Anatomia, de Rembrand; e o trabalho do italiano Guglielmo Achille Cavellini (1914–1990), no qual o artista se auto mitifica ao lado de grandes figuras da história da humanidade e da arte do passado e da contemporaneidade.
Destaca-se ainda a participação expressiva na mostra de Anna Bella Geiger (1933), decana carioca das artes brasileiras com diversas obras; trabalhos do brasileiro/holandês Claudio Goulart (1954-2005), artista do qual a quase totalidade da produção foi recentemente incorporada à coleção da FVCB. Ainda é destaque a presença provocativa de obras de Hudinilson Junior (1957 – 2013), que assim como obras do polonês Klaus Gröh (1936) e de João Castillo (1978), podem chocar espectadores desavidados e mesmo ser alvo de controvérsias. Recentes aquisições de trabalhos, incorporadas ao acervo artístico da FVCB, como as obras dos brasileiros Helena D’Avila e Sandro Ka serão exibidos pela primeira vez na Sala dos Pomares, assim como a inédita produção de Vera Chaves Barcellos, Mulheres Ilustradas (2018), composta a partir de apropriações de imagens.
A Fundação Vera Chaves Barcellos espera que esta exposição contribua para a extensão da compreensão da cultura como um palimpsesto, no qual camadas de influências de diversas origens se superpõem num constante processo de mutação e renovação, fenômeno que se estende fora dos limites da arte.
Para o evento a FVCB disponibilizará transporte gratuito em dois horários: às 11h e às 14h, com saídas em frente ao Theatro São Pedro, Centro Histórico de Porto Alegre. Inscrição prévia: info@fvcb.com, 51-3228-1445 e 51-98102-1059.
Manata Laudares na Sé Galeria, São Paulo
No sábado, 7 de Abril de 2018, acontece a abertura da exposição After Nature, primeira individual do duo Manata Laudares em São Paulo, na Sé. Os artistas ocupam todo espaço expositivo com trabalhos inéditos e históricos, que vêm sendo produzidos desde 1998 nos mais diversos suportes. A exposição marca o início da representação da dupla carioca pela Sé Galeria.
After Nature é a primeira individual do duo, composto pelos artistas Franz Manata e Saulo Laudares, em uma galeria em São Paulo. Os artistas, que vêm trabalhando à margem do mercado de arte formal, têm desenvolvido trabalhos abertos, em processo e colaborativos.
“Não se trata de resistência, mas, sim, opção política e conceitual”, afirma Manata. Ao longo dos anos, enquanto desenvolvem seus projetos, os artistas “editam o mundo” e realizam o que chamam de “produtos” ou “desdobramentos” do trabalho, que são apresentados nesta mostra na Sé Galeria.
Segundo a crítica Lisette Lagnado, que assina o ensaio para o livro e o texto de apresentação da exposição: "Nesse momento em que o digital e o virtual investem um poder de inclusão do outro, cabe examinar propostas que se mantiveram à margem da lógica da manufatura de um objeto puro. Compartilhar, colaborar e transferir ao público o uso de 'produtos' são as três operações fundamentais que norteiam um percurso cuja visibilidade permaneceu oculta do sistema formal de mercado, mesmo atuando intensamente na economia política das artes."
AFTER NATURE
A série After Nature surgiu em 2008, a partir da instalação sonora realizada no “Recanto dos animais”, no Aterro do Flamengo, RJ, e contemplada com o Prêmio Interferências Urbanas daquele ano (imagem 01).
A instalação já foi realizada em outros sítios e é composta por uma trilha sonora feita a partir da ecologia acústica do próprio local. Sons de pássaros, animais e vestígios humanos são somados a texturas e filtros, para depois serem reproduzidos em pequenos alto-falantes posicionados na copa das árvores.
Segundo Lisette Lagnado: “O duo cria um ambiente sintético-real, trazendo reminiscências conceituais (de John Cage a Guilherme Vaz) para repropor a poética em extinção dos passeios românticos. O conceito de panorama, anterior à invenção da fotografia, retorna aqui no tema da paisagem, com elementos reais, sonoros e representados. Talvez seja possível creditar à sua origem mineira a parcela de afinidade com uma melancolia difícil de ser nomeada, nó górdio que os artistas não desatam como meio de resistência ao movimento irremediável da proliferação de híbridos.”
Para os artistas, “After Nature abre na paisagem uma pequena trilha e convida o passante a desacelerar o ritmo da vida contemporânea, ao mesmo tempo que fala sobre prazeres: orgânicos, sintéticos, eletrônicos, sonoros... E trata daquilo que “parece ser” e que confunde nossos sentidos.”
A EXPOSIÇÃO
No primeiro andar da Sé Galeria, o duo apresenta os produtos derivados da série After Nature, que refletem sobre como é viver em um mundo mediado pelas experiências virtuais e, ao mesmo tempo, permeado pela memória da tradição. Apresentam trabalhos que dialogam com os mais diversos suportes: desenhos, pinturas, esculturas, bordados, objetos sonoros e instalações.
SP 8 Bits - Um tríptico feito em tapeçaria bordada em ponto cruz mostra uma vista aérea da cidade de São Paulo em sua mais alta densidade, convertida em 8 bits. A série - que é realizada a partir de imagens dos locais afetivos e de trabalho do duo - surge pela primeira vez em 2012, com a captura de uma imagem que mostra o Leme - bairro da Zona Sul do Rio, lar e ateliê do duo - em um site de geolocalização que comemorava os 25 anos do lançamento da primeira imagem em 8 bits.
Nesse jogo lúdico de “ida e volta” os artistas misturam técnicas e procedimentos, cruzando o erudito com o popular para apresentar duas esculturas em bronze que mimetizam peças de artesanato e utilitários: “Quem fez isto comigo?”, um pequeno pássaro sobre uma base-pódium, e “Ninho”, uma caixa de mercado popular que traz meia dúzia de ovos pousados sobre feno.
O pequeno pássaro brasileiro dançador-de-coroa-dourada descoberto em 1957 e dado como extinto, foi redescoberto em 2012 e é o mote para vários trabalhos. Uma gravura apresenta o pássaro transformado em pixel e enclausurado em sua moldura (imagem 02). O mesmo pássaro, pixelizado, transforma-se na escultura em 3D "Até parece que viu passarinho verde" (imagem 03).
No final de 2017, pesquisadores canadenses anunciaram que o Dançador era primeira espécie híbrida de pássaros da Amazônia, algo raro e que foi atestado apenas cinco vezes na natureza. Ele é resultante do cruzamento de duas espécies distintas: ouirapuru-de-chapéu-branco e o dançador-de-coroa-prateada. Inspirados nessa outra parte da história, os artistas apresentam na aquarela "Delírio" uma cena que flagra os três pássaros a contemplar uma antiga caixa de som.
Este ambiente onírico se completa com uma instalação After Nature Tiradentes, com os sons da ecologia acústica de uma manhã de outono na cidade mineira onde sons de pássaros, animais e charretes se misturam às vozes de crianças, ao sino da igreja e outros eventos. O trabalho foi apresentado na programação da Radio documenta 14 - Every time a ear di soun', em 2017.
SOBRE O DUO
O duo teve início em 1996, em Belo Horizonte MG, a partir da observação dos artistas sobre o universo do comportamento e da cultura da música eletrônica contemporânea e, desde lá, o pensamento cresceu.
“Atuamos na membrana do sistema e na formação de artistas, gostamos de agir como ‘catalisadores’, acelerando os processos.” ressalta Manata.
Os artistas afirmam seu interesse em atuar na “economia política da arte” criando espaços de convivência e troca de informações que podem assumir vários formatos (residências, workshops, instalações e programas em processo). A estratégia passa pela utilização de signos universais, tais como: cantos de pássaros, batidas do coração, quebra-cabeças, a forma do alto falante ou o próprio, como artifícios utilizados na construção de uma rede que aguça os sentidos dos participantes.
O som, no trabalho do duo, atua como “dispositivo social” e tem valor agregador e possibilitador. Ele promove um resgate da memória e o intercâmbio cultural, sem pedir especialistas, ao mesmo tempo em que é tratado como um canal de afeto.
“Nossas atividades sonoras são capazes de agregar tanto iniciados quanto os que não têm acesso aos discursos acadêmicos e aos espaços específicos do sistema, como as galerias e salões.” diz Laudares. Os artistas propõem arte contemporânea na forma de mediação e intervenção pública ao afirmar: “Nós somos o Sistema de Som (SoundSystem)”.