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fevereiro 28, 2018
Nazareno na Luciana Caravello, Rio de Janeiro
Exposição na Luciana Caravello Arte Contemporânea traz 16 obras inéditas do artista, que giram em torno da palavra segredo e de seus significados
No dia 6 de março, Luciana Caravello Arte Contemporânea inaugura a exposição Um segredo é a palavra viva entre uma boca e um ouvido, do artista paulistano Nazareno, com 16 obras, que giram em torno da palavra segredo e de seus significados, desde a noção básica aplicada ao senso comum até outras tradições. Serão apresentadas quatro obras tridimensionais e 12 desenhos sobre diversos suportes, como madrepérola, couro, papel, madeira, entre outros. Todos os trabalhos são inéditos e foram produzidos este ano especialmente para esta exposição.
O objetivo do artista é fazer com que o público reflita sobre a questão do segredo, que acompanha a humanidade desde a infância, chegando até a vida adulta e velhice. “As obras funcionam como passagens, tais como os segredos que uma vez revelados desencadeiam inúmeras possibilidades, são trabalhos onde nada se faz aparente e que de fato dependem da ativação do expectador atento”, afirma o artista.
Todos os trabalhos de Nazareno possuem título, que, de acordo com ele, é uma primeira pista para que o segredo da obra seja revelado. Quatro caixas óticas, com conteúdos diversos, fazem parte da exposição. Por um orifício, o espectador poderá visualizar o interior, descobrindo os segredos e objetos inseridos na obra.
Doze desenhos completam a mostra. Nazareno aborda em suas obras aspectos relativos a memória, infância, contos de fadas, entre outros. Um dos desenhos da mostra traz um gato, desenho infantil, no meio de uma aquarela de madeira, com diversas cores. “Cada cor tem um significado, é uma sensação. Por exemplo, dizemos que a pessoa ficou vermelha ou ‘amarelou’”, explica o artista.
Os suportes para os desenhos são diversos e alguns são feitos, por exemplo, sobre madrepérola, que por si só já é um segredo, uma vez que é encontrada dentro das conchas. Outros elementos usados pelo artista em suas obras, como o ouro, por exemplo, também são carregados de segredo. “Quem tem ouro, geralmente esconde”, ressalta. No trabalho do artista, o ouro tb aparece escondido e não é visto por todos.
A partir da mostra de desenhos com inclusão de textos e curtas narrativas o visitante adentrará no mundo criado por Nazareno. Ao tratar o segredo como uma “energia viva”, Nazareno nos apresenta obras onde códigos, cifras e enigmas surgem naturalmente, sugerindo ao espectador uma potencial busca por informações, dados ocultos, entre outros mistérios da socialização que costumamos chamar segredos.
SOBRE O ARTISTA
Graduado no bacharelado em artes visuais na Universidade de Brasília em 1998.
Nazareno aborda em suas obras aspectos relativos à memória, infância, contos de fadas, narrativas… bem como a fragilidade do sujeito contemporâneo frente à impossibilidade de transcendência. Realizadas em variadas mídias como desenho, esculturas, instalações, vídeos, gravuras, entre outras, são trabalhos que potencializam a atenção do espectador pelo caráter de sua miniaturização evidenciando outras realidades e eventualmente conduzindo o adulto/espectador a um estranhamento em seu rebaixamento a uma condição infantil.
Com uma carreira que conta com exposições nacionais e internacionais nos últimos quinze anos, além de prêmios e publicações em revistas, catálogos e livros de arte, as obras do artista estão em diversas coleções públicas e privadas.
SOBRE A GALERIA
O principal objetivo da Luciana Caravello Arte Contemporânea, fundada em 2011, é reunir artistas com trajetórias, conceitos e poéticas variadas, refletindo assim o poder da diversidade na Arte Contemporânea. Evidenciando tanto artistas emergentes quanto estabelecidos desde seu período como marchand, Luciana Caravello procura agregar experimentações e técnicas em suportes diversos, sempre em busca do talento, sem discriminações de idade, nacionalidade ou gênero.
Alair Gomes na Luciana Caravello, Rio de Janeiro
Exposição apresentará 40 obras raras do fotógrafo, que terá, pela primeira vez, uma mostra individual em Ipanema, bairro onde morou e que foi o cenário de quase todas as suas fotografias
Luciana Caravello Arte Contemporânea inaugura, no dia 6 de março de 2018, a exposição Young Male: Fotografias de Alair Gomes, com 40 obras do fotógrafo, que nasceu em 1921 e faleceu em 1992. Pela primeira vez será realizada uma mostra individual do artista em Ipanema, bairro onde ele morou a maior parte de sua vida e que foi cenário de quase a totalidade de sua obra. Curadoria de Eder Chiodetto, serão apresentadas fotografias pertencentes à coleção de Robson Phoenix, feitas ao longo de 20 anos, entre 1960 e 1980, que mostram corpos masculinos, jovens e belos, os "young males" como se referia Alair Gomes em seus diários. A exposição foi apresentada com grande sucesso no ano passado na Casa Triângulo, em São Paulo.
“O olhar do artista, de viés homoerótico, tornou-se complexo e original ao longo de sua produção realizada entre os anos 1960 e 1980. Essa obra de caráter radical, que concilia compulsão pessoal com refinamento de estratégias da linguagem, começou nos últimos anos a ser melhor estudada e legitimada por instituições como a Fondation Cartier pour l'art contemporain, a Loewe Foundation e o MoMA, que recentemente adquiriu obras do artista”, diz o curador Eder Chiodetto.
O acervo de Alair Gomes foi doado para a Biblioteca Nacional por seus herdeiros, sendo raras as obras que surgem no circuito de arte pertencentes a colecionadores particulares, como Robson Phoenix, que tem a coleção desde a década de 1990. “É tempo de celebrá-lo como um dos maiores fotógrafos do nosso tempo: corajoso, furioso, prolífico, controverso, instigante. Estou bastante orgulhoso em trazer à luz minha coleção preciosa, surpreendente, com fotos raras”, diz Robson Phoenix.
OBRAS EM EXPOSIÇÃO
A mostra traz fotografias de três destacadas séries do artista: “Symphony of Erotic Icons” (1966 – 1978), “A Window in Rio” (1977 – 1980) e “Viagens [Europa, Arte]” (1969).
“Symphony of Erotic Icons” foi a primeira composição sequencial realizada por Alair, entre 1966 e 1978. “Considerada sua obra-prima, é dedicada totalmente ao nu masculino e compreende um conjunto de 1.767 fotografias. A série é estruturada em cinco movimentos: Allegro, Andatino, Andante, Adagio e Finale. Para Alair, a construção desse universo fotográfico almejava ‘transcender a sua personalidade’, criando um estado ‘proto-religioso’”, conta o curador Eder Chiodetto.
“A Window in Rio” é uma das séries que Alair fotografou da janela do sexto andar de seu apartamento, em Ipanema, flagrando o movimento dos garotos na calçada e nas janelas de prédios próximos. “Sem ser notado, o fotógrafo exerce sua porção voyeur fazendo de sua teleobjetiva uma espécie de arma com a qual o caçador ‘abate’ e guarda para si o corpo de suas caças”, ressalta o curador.
Já a série “Viagens [Europa, Arte]” apresenta fotografias de estatuárias greco-romanas realizadas na sua primeira viagem à Europa, “que o levaram a trocar a escrita literária dos seus Diários Eróticos pela representação via fotografia. Mais tarde, a estética clássica que sublinha a força e a virilidade do corpo masculino serviria de referência para os retratos dos garotos nus”.
SOBRE O CURADOR
Eder Chiodetto é mestre em Comunicação pela ECA/ USP, jornalista, editor, professor e curador independente, tendo realizado em torno de 100 exposições no Brasil e no exterior. Atuou por 13 anos na Folha de S.Paulo como repórter fotográfico, editor e crítico de fotografia do caderno Ilustrada. É autor dos livros "Geração 00: A Nova Fotografia Brasileira”(Edições Sesc), “Curadoria em Fotografia: da pesquisa à exposição” (Ateliê Fotô / Funarte) e “O Lugar do Escritor" (Cosac Naify), entre outros.
Nos últimos anos editou livros de diversos fotógrafos como Luiz Braga, Cristiano Mascaro, Araquém Alcântara, Rosângela Rennó, Eustáquio Neves, entre outros, em parceria com as editoras Cosac Naify, Edições Sesc, Terra Brasil e Cobogó. Atualmente coordena o Ateliê Fotô centro de estudos avançados em fotografia, em São Paulo, é o publisher da Fotô Editorial (www.fotoeditorial.com) e curador do Clube de Colecionadores de Fotografia do MAM-SP.
SOBRE A GALERIA
O principal objetivo da Luciana Caravello Arte Contemporânea, fundada em 2011, é reunir artistas com trajetórias, conceitos e poéticas variadas, refletindo assim o poder da diversidade na Arte Contemporânea. Evidenciando tanto artistas emergentes quanto estabelecidos desde seu período como marchand, Luciana Caravello procura agregar experimentações e técnicas em suportes diversos, sempre em busca do talento, sem discriminações de idade, nacionalidade ou gênero.
fevereiro 27, 2018
Matheus Rocha Pitta no MAM, Rio de Janeiro
O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro inaugura no próximo dia 3 de março de 2018, às 15h, a exposição memória menor, de Matheus Rocha Pitta, artista mineiro, nascido em 1980, e radicado no Rio de Janeiro. Com curadoria de Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes, a exposição é composta por três estelas, termo usado na arqueologia para definir elementos pré-históricos como lajes ou colunas de pedra, que portam inscrições, sejam elas comemorativas, territoriais ou funerais. As três lápides verticais, encostadas na parede de fundo do foyer, trazem, como inscrições, notícias de jornais sobre três acontecimentos ocorridos no Rio nos últimos cinco anos: o caso Amarildo (2013), o adolescente acorrentado a um poste (2014), e um rapaz vestindo farda policial, depois de detido – que o artista está produzindo especialmente para a exposição. Com 1,80m de altura e cerca de 1 metro de largura, as lápides “são três peças bem simétricas e bem silenciosas, medidativas, e contêm uma violência muito forte dentro delas”, comenta o artista.
O processo de construção do trabalho, que permite que as notícias de jornais estejam visíveis para o público, foi aprimorado por Rocha Pitta a partir de um procedimento que ele viu em um cemitério de Belo Horizonte, durante o restauro de uma sepultura danificada: as famílias que não podem arcar com lápides de granito ou mármore encomendam tampas de concreto. Jornais são usados como a base onde será jogado o cimento. Após secar, uma das faces, a que ficará virada para baixo, mantém, como gravura, o jornal que recebeu o concreto. “Pode-se dizer então que usei um procedimento que nasceu de um contexto funerário, arqueológico. Trata-se de um monumento-funerário”, diz Matheus Rocha Pitta.
No texto curatorial que acompanha a exposição, Fernando Cocchiarale e Fernanda Lopes, destacam que ao contrário das estelas pré-históricas, feitas em pedra ou bronze, as que Rocha Pitta “realiza, ao contrário, são precárias, material e simbolicamente” “Retiradas de sua circulação diária, essas imagens, amareladas e frágeis, surgem como fragmentos difíceis de apagar”.
Matheus Rocha Pitta, Tiradentes (MG), 1980
Formação: História – UFF (1998/2000) Filosofia – UERJ (2002/2004)
Em período curto de tempo e por meio de projetos diversos, Matheus Rocha Pitta sedimentou interesses e estratégias que permitem identificar, em uma obra que se adensa a cada novo trabalho, enunciado crítico sobre os gestos que regem a vida comum. O artista remove os gestos de seu fundo biográfico e os apresenta como atos estéticos com uma dimensão histórica. Atraves do uso de fotografias, videos, esculturas e instalações, Rocha Pitta constroi seu próprio repertório de gestos, que são ativados diretamente com o público de suas exposições. Sem apelar para enunciados discursivos de disciplinas que tomam os gestos de troca como objeto de investigação frequente (economia, filosofia, política), Rocha Pitta articula objetos e imagens que inventa para gerar conhecimento que não cabe naqueles campos de estudo, mas que assumem implicações éticas de grande alcance.
Anna Bella & Lygia & Mira & Wanda no MAC, Niterói
MAC Niterói abre exposição com obras só de mulheres
Uma homenagem a quatro ícones das artes visuais, que fazem parte da coleção MAC – João Sattamini
No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, o Museu de Arte Contemporânea de Niterói recebe, a partir de 3 de março, uma exposição só de mulheres, todas importantes nomes do cenário artístico contemporâneo.
Com curadoria de Pablo León de La Barra e Raphael Fonseca, a mostra Anna Bella& Lygia & Mira & Wanda apresenta obras de Anna Bella Geiger (1933-), Lygia Clark (1920-1988), Mira Schendel (1919-1988) e Wanda Pimentel (1943-), presentes na importante Coleção MAC – João Sattamini.
Cerca de 50 obras, com técnicas variadas (vídeo, pinturas, gravuras e esculturas), farão parte da exposição. Lygia Clark e Mira Schendel foram grandes pesquisadores das relações entre imagem e geometria no Brasil, sendo que, posteriormente, suas formas saem do plano e se dirigem ao espaço. No caso de Lygia Clark, seu interesse chega mesmo à experimentação de diversos sentidos por parte do público. Enquanto isso, Geiger é uma das precursoras do abstracionismo informal no país. Posteriormente, foi conhecida por suas experimentações na gravura e no vídeo, com destaque para a forma como a palavra exerce um lugar crítico e mesmo humorístico na sua pesquisa. Por fim, Wanda Pimentel é uma artista que trabalha predominantemente com pintura, com criações de obras icônicas durante os anos 1960 e 1970 em que o corpo feminino era fundido a objetos domésticos. Além das telas e esculturas, haverá, ainda, alguns vídeos da Anna BellaGeigere um vídeo sobre a Wanda Pimentel (dirigido pelo Antonio Carlos Fontoura, de 1972).
“Em um momento em que as instituições de artes visuais revisam as relações de gênero contidas em suas coleções, se faz essencial que a curadoria do museu proporcione ao público um panorama da arte produzida no Brasil por meio das poéticas de quatro artistas mulheres. Cada uma das áreas do mezzanino será dedicada a uma artista em formato semelhante a pequenas individuais. As diferenças de suas pesquisas virão à tona uma vez que o público realize o seu percurso no espaço e, por consequência, as mudanças de perspectivas na produção de arte no país serão perceptíveis”, esclarece Raphael Fonseca.
O espaço do mezanino é dividido em 4 espaços. Cada espaço será ocupado por obras de uma destas artistas. “Optamos por começar a pensar a Coleção MAC – João Sattamini a partir destas quatro artísticas icônicas das artes visuais no Brasil, no momento em que diversas coleções de arte revisam sua própria história e as questões de gênero implicadas nas mesmas”, finaliza Pablo León de La Barra.
É válido ressaltar, ainda, que o MAC Niterói conta com monitores – todos alunos de universidades públicas de áreas afins às artes visuais -, que estão trabalhando em conjunto com a curadoria e escreverão textos sobre cada uma das quatro artistas.
fevereiro 26, 2018
Renata Tassinari na Lurixs, Rio de Janeiro
A Lurixs Arte Contemporânea abre a programação 2018, em sua nova sede no Leblon, com a individual de Renata Tassinari, A Espessura da Cor, sob curadoria de Felipe Scovino, na quinta-feira, 1 de março, às 18h.
São 15 trabalhos – dez pinturas e cinco desenhos [pintura sobre papel] – realizados entre 2015 e 2017, em que se vê planos geometrizados por cores sobre papel ou estruturas de acrílico em lugar de telas, resultado de uma pesquisa que a artista paulistana faz desde 2003.
Em uma primeira observação, as obras de Tassinari provocam dúvidas: são retângulos e quadrados soltos, justapostos, ou se trata de uma superfície contínua?
A pintura é feita sobre tela por trás da caixa acrílica ou a tinta é aplicada diretamente sobre a placa industrializada que também lhe serve de proteção? Há ainda a madeira nua, sem tinta alguma, que entremeia os planos de acrílico.
Tassinari conta que a forma de seus trabalhos tem inspiração na arquitetura urbana – fachadas, portas e janelas – de linhas e ângulos retos exclusivamente. O desenho da estrutura das pinturas é transformado em caixas de acrílico de cinco centímetros de profundidade.
A parte interna dessas caixas é pintada com tinta acrílica e a face externa ganha camadas de tinta a óleo, sem se sobreporem. O contraste da característica dos materiais, o brilho da placa acrílica, a opacidade do óleo no plano de fora e da madeira, mais o fio branco de tinta nas bordas do suporte criam um volume, que projeta os planos pintados para o espaço. As cores e a materialidade é que provocam a impressão de relevo e depressão, mas a estrutura é absolutamente plana.
Aos olhos do espectador, é quase uma mágica o que Tassinari consegue criar com as cores. E aí entra outro recurso autoral da artista: ela cria sua paleta cromática e todas as cores são bem-vindas. Nenhuma sai do tubo industrializado à venda no mercado.
“Transmitir esse caráter expansivo à cor definitivamente não é pouca coisa. Transformar a cor em algo que magicamente avança em direção ao espaço e que em outros casos, dentro da sua obra, concretamente ganha uma espessura ou dobra, como é o caso das pinturas recentes que fabricam uma imagem, como escrevi há pouco, da fratura, são características notáveis no trabalho da artista”, elogia o curador Felipe Scovino.
Dentro do que está reunido nessa exposição, há a série “Lanternas”, formada por módulos de acrílico pintados e instalados na parede em linhas paralelas verticais ou horizontais, que dão a ilusão de hastes de luz acesas. “A partir das ‘lanternas’, os trabalhos aumentaram sua relação com o espaço”, diz a artista. O conjunto mais recente dessa mostra é o intitulado “Beiras”, que são um desenvolvimento das lanternas, de aparência mais econômica na forma [mais estreita] e composição de cores [tons rebaixados].
Nas pinturas sobre papel, que Tassinari prefere chamar de desenhos, o plano é dividido com linhas de grafite em quadrados e retângulos. Alguns campos são eleitos para receber tinta a óleo em tons intensos ou suaves. Ambos demonstram um toque de leveza, como se o papel merecesse um contato mais fluido por ser frágil.
Críticos detectam na produção da artista um chamado para um olhar mais minucioso e atento do espectador, em contraste com a dispersão vertiginosa do momento.
“Em tempos de uma desatenção acelerada, as obras da artista nos levam a nos determos sobre os detalhes, as minúcias e as singularidades de um gesto sobre o papel, a espessura do óleo ou a fresta branca (o “pulmão da obra”, o risco por onde corre o ar) que percorre os limites da pintura sobre a superfície de material acrílico transparente”, resume o curador Felipe Scovino.
Formada em Arte pela FAAP, SP, onde foi aluna de grandes mestres como Carlos Fajardo e Dudi Maia Rosa, Renata Tassinari tem dezenas de mostras individuais e coletivas em seu histórico, incluindo a retrospectiva no Instituto Tomie Ohtake, SP, em 2015 e mostras solo no MAM RJ, MAM SP e Paço Imperial. Paulo Venancio Filho, Rodrigo Naves, Lorenzo Mammi, Taisa Palhares e Laura Vinci são alguns dos críticos, historiadores de arte e artistas que já escreveram sobre seu trabalho. www.renatatassinari.com.br
"A Espessura da Cor" fica em cartaz até 14 de abril de 2018, de segunda a sexta, das 12 às 20h, e sábado, das 12 às 16h. Livre e grátis.
Arthur Chaves na Anita Schwartz, Rio de Janeiro
Anita Schwartz Galeria de Arte apresenta a partir de 1º de março de 2018, às 19h, a exposição Arthur Chaves – Tem uma bruxa no quintal, com trabalhos inéditos do artista carioca nascido em 1986, e que vem se destacando no cenário da arte contemporânea com suas obras feitas com uma mistura de materiais e técnicas, como pintura, desenho e costura em peças de tecido. Sem forma definida, suas peças. A mostra dá continuidade ao programa de individuais de artistas que estão se destacando no circuito da arte, realizadas no segundo andar da galeria. O crítico Agnaldo Farias é o autor do texto que acompanha a exposição.
De 2007 a 2017, Arthur Chaves participou de exposições no Jacaranda, na Casa França Brasil, na EAV Parque Lage, no Rio de Janeiro; na The School for Curatorial Studies, em Veneza; e no Ateliê Subterrânea, em Porto Alegre. É professor do curso Procedência e Propriedade, no Ateliê Novo Mundo, Rio de Janeiro.
Na Anita Schwartz o artista apresentará uma série nova, diferente de sua produção recente. Lá, ele reunirá dois grupos de trabalhos: os feitos em dois planos – embora contenham colagens que extrapolam uma ideia de superfície reta – e os compostos por aglomerados de tecido, mais fluidos. Todas as obras estarão penduradas na parede, mas o artista ressalta que ele vê os aglomerados de tecido “quase uma roupa sem corpo, um casulo, como se algo tenha passado por ali e não sabemos o que é”.
Um dos trabalhos conterá uma grande placa espelhada que se relaciona com as várias superfícies dos tecidos, como “um portal para outro espaço”, embaralhando a percepção do público, e criando um clima de confusão e mistério, onde as imagens vão se revelando. “Meu trabalho se vale deste ambiente meio nebuloso”, diz o artista.
No contêiner, no terraço da galeria, Arthur Chaves complementará a exposição com um site specific, praticamente transferindo seu ateliê para lá, e produzindo a instalação durante uma semana, contendo todos os elementos que envolvem seu processo de criação. “É uma tentativa de dar conta de uma ordem mais conceitual do trabalho”, comenta.
OBRAS EM TECIDO COMO DESENHOS
A imagem de pinturas acompanha o artista desde a infância, “tanto na bíblia ilustrada da família, como em um livro de história da escola”, e são uma referência importante. Entretanto, Arthur Chaves diz que ainda que várias pessoas digam que seu trabalho é pintura, não é desta forma que ele vê. “Não uso tanto a fatura do pintor, a ideia da execução de uma imagem”, observa. “As obras feitas apenas com tecidos são uma espécie de combustível no meu trabalho, e penso neles como desenhos, embora não saiba se esta é a nomenclatura mais correta, mas sem dúvida partem do raciocínio do desenho, que envolve massa, linha...” “São desenhos com limites mais formais e geométricos, misturados com a falta de controle que os tecidos trazem”, explica. “Têm a natureza do desenho, mais verdadeiro. É o osso, a estrutura, o que acontece antes”. Ele conta que “a partir desse raciocínio, as coisas foram se expandindo, principalmente para os trabalhos que estão em dois planos, ainda que não envolvam apenas papel”. Trabalho sobre uma placa plástica leve, e uso basicamente tecidos e papeis, de várias naturezas. Desde os mais simples, comprados na Saara, até um linho nobre que pertenceu à família de uma amiga”, conta.
SOBRE O ARTISTA
Nascido no dia 1º de março de 1986 no Rio de Janeiro, mas criado em Seropédica, região rural do estado, Arthur Chaves é formado em design de moda pela Universidade Veiga de Almeida (2007), Rio de Janeiro. Ele se dedica ao desenho em suas múltiplas acepções. Suas últimas obras conciliam pintura, desenho e costura em peças de tecido sem forma definida.
Paulo da Mata e Tales Frey no CCJF, Rio de Janeiro
Paulo da Mata e Tales Frey desenvolvem suas pesquisas em parceria há cerca de uma década. Mais do que co-criadores, os dois também são parceiros no campo dos afetos e possuem uma relação em que amor e trabalho se conectam. Desse encontro nasce a Cia. Excessos e essa mistura possibilita a experimentação entre as artes visuais e performativas. Porém, como se nota nessa exposição, estas metades têm pesquisas individuais que, mesmo dialógicas, demonstram suas peculiaridades. Distribuída em duas salas, Enredos para um Corpo parte do elemento mais investigado pelos dois: o corpo humano.
Na pesquisa de Paulo da Mata, a figura humana aparece de modo virtual em registros fotográficos e em vídeo. As tatuagens e a possibilidade de escrever palavras e imagens em seu próprio corpo são formas recorrentes para se refletir, por exemplo, sobre a sexualidade, os relacionamentos amorosos e questões de gênero. O vídeo “Romance Violentado” e o cartão postal impresso em série para “El Minotauro” testam o público quanto aos seus limites perante o som e a visão que insinuam o sexo ou a nudez masculina. Já em “Eu Gisberta” o artista aciona o seu interesse no estudo da História e, por meio de uma tatuagem em seu rosto, escancara o nome e o caso de Gisberta, transexual brasileira assassinada de forma brutal em 2006, no Porto, em Portugal – a mesma cidade em que os dois artistas vivem há dez anos.
Enquanto isso, a pesquisa de Tales Frey advém de sua experiência com as artes cênicas. O artista está interessado na sua presença física perante o olhar do público e seus trabalhos muitas vezes acontecem de maneira efêmera. As fotos que compõem “O Outro Beijo no Asfalto” trazem essas relações desde o seu título, uma citação à peça “O Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues. Duas pessoas se beijam no espaço público; o homem está vestido de noiva e seu par é uma mulher vestida de noivo. As fotos trazem um pouco do incômodo gerado quando algo foge, mesmo que sutilmente, da heteronormatividade. Enquanto isso, em “Re-banho” novamente a sexualidade é abordada, porém em relação à religião cristã. Um grupo de pessoas lava suas partes do corpo perante uma igreja e lembramos dos atos de censura e cerceamento impostos por diferentes religiões quanto à potência libertadora do sexo.
Por fim, “Estar a Par” é o trabalho mais recente mostrado e também executado em parceria. Assim como os outros trabalhos refletem, a partir do corpo, sobre sexualidade, homoafetividade e violência, nessa conjunção entre vídeo, objeto e performance, os artistas trazem essa discussão para uma interseção com sua própria relação afetiva. Dois pares de sapato são transformados em uma única peça que, calçada pelos dois, possibilita uma dança que envolve cautela para que ambos performers não caiam.
O ato de se envolver em uma relação tão duradoura – assim como a opção por pinçar temas tão cautelosos nos tempos recentes – é certamente um balanço entre construção e queda, confiança e precaução. Esses são alguns dos enredos compostos por Paulo da Mata e Tales Frey para os seus corpos. Fica o convite à fruição por parte do público e o desejo de que os espectadores também sejam capazes de relacionar esses enredos com os seus próprios – independentemente de credo.
Josely Carvalho no MAC USP, São Paulo
Museu de Arte Contemporânea da USP apresenta: Diários de Cheiros: Teto de Vidro, por Josely Carvalho
Uma experiência Olfativa
O Museu de Arte Contemporânea da USP, apresenta a partir de 3 de março, sábado, às 11h, a exposição Diários de Cheiros: Teto de Vidro da artista radicada em Nova York, Josely Carvalho. A mostra é um desdobramento do Diário de Imagens que compreende a sua obra desde 1970, e se apresenta de forma multimídia, incorporando uma infinidade de suportes, do desenho e objeto, às instalações olfativas do presente. Nesta exposição, o olfato, nosso primeiro sentido, torna-se o veículo de resgate da memória individual e coletiva.
A mostra consta de duas instalações, sendo a primeira Estilhaços, taças de vinho que se quebradas que contêm as memórias olfativas. Delas foram elaborados seis cheiros: Prazer, Ilusão, Persistência, Vazio, Ausência e do Afetivo, originados de textos de seis escritores, convidados pela artista.Para a instalação seguinte, Resiliência, a artista criou seis cheiros: Pimenta, Lacrimae, Anóxia, Barricada, Poeira e Dama da Noite, inspirados nos estilhaços de vidros das manifestações que ocorreram no Rio de Janeiro em 2013 e que ocorrem globalmente. Para a artista, “os cheiros fortes nos remetem a sensação de perigo, instabilidade, intimidação e fragilidade, com exceção da Dama da Noite, cheiro puro da flor noturna, cheiro inebriante e narcótico que pode chegar a mascarar ou potencializar os outros odores”, conta. Cheiro dos Estilhaços será sentido através do toque. Nanocápsulas são produzidas pela empresa Ananse e serão incorporadas na fotografia impressa em voil transparente.
Para a curadora do MAC, Katia Canton, “a artista nutre-se da experiência pessoal e dos fatos sócio-políticos que mobilizam o mundo, sobretudo, aqueles que tocam a condição do feminino para criar uma teia híbrida, onde costura a relação tempo/espaço de maneira espiralada e contínua, assimilando em seus fluxos imagens, sons, lembranças e, cada vez mais, cheiros retirados de seu cotidiano e de suas histórias de vida”, diz Canton em seu texto de apresentação da exposição.
A intenção da artista é quebrar a santidade da obra de arte sendo a interatividade, parte integral da exposição. O público é convidado a tocar, cheirar, ouvir e ver. O sentir permite a abertura da memória. Ao segurar em suas mãos as esculturas levando-a ao nariz, consequentemente os sentidos do olfato e do tato são ativados. O mito de que uma obra de arte não pode ser tocada é quebrado nesta exposição.
A exposição conta com 13 cheiros originais produzidos em parceria com a Givaudan do Brasil; nano cápsulas de cheiro produzidos pela Ananse, livro de artista, seis esculturas de vidro soprado, vídeo e som para 4 canais e seis crayons olfativos a serem experimentados em uma parede da sala expositiva.
Josely Carvalho é artista plástica e pesquisadora interdisciplinar. Estudou na Escola de Arquitetura da Washington University, St. Louis, MO., tendo lecionado na Faculdade de Arquitetura da Universidad Nacional de Mexico/UNAM e State University of New York/Purchase. Incorpora na sua obra escultura, gravura, pintura, poesia, vídeo, som, livro-arte, fotografia, internet e arte-olfativa em formato de instalações em tempo virtual e real.
Mantem ateliê em Nova York e Rio de Janeiro. Recebeu muitos prêmios de prestigio como: Pollock-Krasner Foundation; Creative Capital Foundation; Rockefeller Foundation, Bellagio International Study Center, Itália; Harvestworks Media Lab Center; New York State Council for the Arts/NYSCA; New York Foundation for the Arts/NYFA; Frans Masereel Printing Center residência, Kasterlee, Bélgica, National Endowment for the Arts/NEA; Art Matters Inc.;Creative Time entre outros.
Seu projeto pioneiro de internet http://www.bookofroofs.com (Book of Roofs/ Livro das Telhas, 1999) além de ser premiado, foi apresentado inúmeras vezes em eventos e exposições no Brasil, Europa e nos Estados Unidos assim como vários arquivos de web art.
Josely Carvalho tem realizado diversas exposições individuais, entre elas: Art/ Science Gallery, Department of Nanotechnology, University of California at Los Angeles (UCLA) 2013-14; Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, 2010-11; Casarão, Viana, Espírito Santo, 2011; SESC, São Carlos, S.P. 2012; Diary of Smells: Re ections & Digressions, Galerie Drei, Dresden, Germany 2010; Octógono da Pinacoteca do Estado de São Paulo, 2007; 1816 Galeria, Bretenoux, França, 2009; Centro Cultural da Caixa, Brasília, 2005; Museu de Arte Contemporânea do Paraná, 2000; Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, 1995 e 2009; ISEA/2002, Nagoya, Japão; Art in General, Nova York, 1994; Centro Cultural da Caixa, Brasília; 2005; SESC Flamengo, Rio de Janeiro, 2004; Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, 2003; Des Lee Gallery, Wildwood Press em St. Louis, MO., 2002; VIPER International Festival of Film/ Video and New Media, Basel, Suíça; File 2002, São Paulo; Intar Gallery, Nova York, 1995; Casa de Las Americas, Havana, Cuba; Museu de Arte de São Paulo/MASP; Museu de Arte Contemporânea do Paraná; Tyler Gallery, Tyler School of Art, Philadelphia; Gallery North, Miami Dade College, Miami; Olin Gallery, Kenyon College, Ohio; Instituto de Arte da Universidade de Brasília; Hillwood Museum, N.Y.; Paço das Artes, São Paulo .
Entre suas exposições coletivas encontram-se: Center for Book Arts, New York, 2016; Casa da America Latina/UNB, 2016; IFPDA INK Miami Art Fair, Art Basel Miami, 2015; Centro Cultural São Paulo, Tendências do Livro de Artista no Brasil: 30 anos depois – 2015/2016; IFPDA INK Miami Art Fair, Art Basel Miami, 2014; St. Louis University Museum of Art, Mark Making/Prints from Wildwood Press 2012; A Printer’s Spotlight, 15 Years of Wildwood Press, Gallery 210, University of Missouri St Louis, 2011; Prints from Wildwood Press, Faulconer Gallery, Grinnell College, Iowa, 2008; Wildwood Press: Ten Years, Usdan Gallery, Bennington College, Vermont, 2007; Decade Show, New Museum of Contemporary Art; Bienal Internacional de Pintura, Cuenca; Mexican Museum, San Francisco; Korean Museum, Los Angeles; Museo del Barrio, N.Y.; Museu de Arte Moderna (MOMA), N.Y.; Franklin Furnace, N. Y.; Museo de Bellas Artes, Caracas; Bronx Museum of Art, N.Y.; Cuenca Bienal de Pintura, Cuenca, Ecuador.
Entre suas obras públicas: Memorial Armênia, Estação Armênia, instalação permanente no Metrô de São Paulo, 1995-2005; Turtle News I, painel eletrônico, Times Square, Public Art Fund, New York. 1988; Noticiário da Tartaruga , painel eletrônico, III Eletromídia da Arte, Brasil, 1999; http://www.bookofroofs.com webwork.
Suas obras estão em coleções privadas e públicas como: Museum of Contemporary Art, Jacksonville, Florida; Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, Brasil; Museu de Arte do Rio de Janeiro/MAR, Rio de Janeiro, Brasil; Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil; Itau Cultural São Paulo; Museo de Bellas Artes, Caracas, Venezuela; Bronx Museum of the Arts, New York City; Museum of Modern Art(MOMA) New York City; Brooklyn Museum, New York; Seguros Sociais, Mexico; Museo de Arte Moderna da Bahia, Brasil; Museu de Arte de São Paulo (MASP), São Paulo; Museu de Arte Contemporânea (MAC), São Paulo; Museu da Gravura, Curitiba, Brasil; Metropolitano de São Paulo, Subway System, Brasil.
www.joselycarvalho.com
http://diaryofsmells.com
www.bookofroofs.com
www.youtube.com/joselycarvalho
fevereiro 25, 2018
Processos Abertos na Mamute, Porto Alegre
A Galeria de Arte Mamute convida para a abertura da exposição de seus artistas representados, Processos Abertos. A mostra concebida como exposição-ação traz uma série de ações, que serão realizadas pelos artistas, durante o período da mostra, para proporcionar ao público uma conexão mais próxima com seus processos criativos. O grupo que integra a exposição é formado por 21 artistas que atuam nas mais diversas linguagens e constroem sua poética a partir de pesquisas individuais centradas no desenho, pintura, fotografia, vídeo, instalação, objeto entre outros meios interligados com outras áreas do conhecimento.
Relações com a natureza, ciência, geografia e tecnologias mais contemporâneas permeiam as produções dos artistas Sandra Rey, Dione Veiga Vieira, Marília Bianchini, Hugo Fortes, Antônio Augusto Bueno e Claudia Hamerski. Nas produções de Sandra Rey, Dione Veiga Vieira e Hugo Fortes a fotografia conecta-se com a natureza e seus processos possibilitam a aproximação com o vínculo pessoal e poético que cada um estabelece com a mesma. Processos orgânicos e manuais constituem a matéria movente da qual se utilizam Claudia Hamerski, Marília Bianchini e Antônio Augusto. O suporte, o traço, o tempo e presença em ateliê, assim como os processos anteriores de observação e coleta acompanham seus percursos.
Bruno Borne procura discutir questões relativas ao espaço e à virtualidade utilizando a computação gráfica para propor a criação de ambientes virtuais através da articulação entre arquitetura, registro fotográfico e as especificidades do local.
A série Randon City da artista Letícia Lampert nos permite pensar na ideia do mundo e do artista globalizado, nas suas imagens fotográficas, com uma imensa e contínua cidade construída pela justaposição de diferentes destinos percorridos. Nas questões que concernem à pintura os cruzamentos entre técnica, apropriação, experimentação do material e do mundo estão presentes nos trabalhos de Goia Mujalli, David Magila, Frantz, Claudia Barbisan, Pablo Ferretti e Clóvis Martins Costa. Goia Mujalli utiliza o processo de lavagem da pintura para a adição e subtração de tinta a cada camada, David Magila coleta na cidade o assunto que mostrará em sua vibrante pintura, resgatando do anonimato objetos, locais e ruínas. Nas pinturas carregas de gestualidade e força de Claudia Barbisan sentimos a vibração da cor mais que podemos explicá-la. Tons mais sóbrios são utilizados por Pablo Ferretti e Clóvis Martins Costa. Ferretti utiliza camadas diluídas de tinta a óleo em contraponto ao uso mais tradicional do material. Por sua vez Clóvis inicia sua tela com a fotografia que permanecerá no histórico da imagem, coleta camadas da natureza e a estas sobrepõe a tinta. Frantz leva a pintura ao extremo ao utilizar a própria tinta como pintura. Suas telas trazem o resíduo e as marcas de processos de outros artistas e experimentadores e sugerem uma atmosfera de ação e movimento ora frenética ora serena.
O equilíbrio entre opostos é um dos fios condutores da produção do duo Ìo e o que mantém suas obras em tensão. Tanto nas obras da Ìo como nas proposições do artista Sandro Ka existe a presença do jogo ora de modo lúdico, ora com um sentido mais antagônico.
De modos distintos, Patrícia Francisco e Emanuel Monteiro têm sua poética voltada para questões de memória, através das diversas camadas que constituem a pintura, o desenho, a fotografia e o vídeo, além de performance e outros meios. Percorrem caminhos que conectam o fazer artístico e a experimentação na construção de obras atuais carregadas de lembranças e vestígios. Material muito presente também nas obras da artista Mariza Carpes que produz suas obras a partir da coleta de materiais como madeira, metal, vidro, plásticos e objetos de afeto de outras pessoas adicionando-os as camadas de sua pintura.
Utilizando-se das ações de apropriação e apagamento, Fernanda Gassen produz na série Vulto, uma paisagem manipulada pelo ocultamento da figura humana que a artista subtrai da imagem fotográfica.
A produção do artista Hélio Fervenza é marcada pela noção de apresentação, seja dentro do espaço de exposição, seja através de outras formas. Em suas obras, desenvolve conceitos como vazio/cheio e continente/contido. Inserindo-as no espaço de exibição como uma espécie de pontuação do mesmo, conseguindo com esse balizamento uma fusão entre obra e espaço.
A exposição Processos Abertos permite revelar e identificar os processos criativos e os procedimentos que movimentam os artistas, possibilitando o contato com essa etapa mais íntima da obra de arte, tanto como observadores, quanto pela interação nas propostas que são um convite a ação.
fevereiro 23, 2018
Francisco Valdés na Adelina, São Paulo
Francisco Valdés inaugura a programação 2018 de exposições da Adelina Galeria
O artista, que esteve na mostra coletiva que inaugurou a Adelina Galeria em 2017, apresenta seu trabalho em exposição individual, que conta com programação paralela incluindo um bate-papo com o artista
Artista chileno que reside em Londres, Francisco Valdés faz sua primeira exposição individual no Brasil a partir de 28 de fevereiro, na Adelina Galeria. A mostra Fantasma escandinavo e outras pinturas reúne 12 telas que combinam texturas, superfícies e cores com o intuito de produzir sensações que imagens e figuras nunca alcançarão por conta própria. A exposição tem texto crítico de Mario Gioia.
Para criar suas obras, Francisco Valdés buscou inspiração em questões levantadas por Denis Diderot e Hercules Florence, o que acabam sendo refletidos em trabalhos que mexem com a visão, sugerindo também texturas e ilusões. "Minhas pinturas visam representar sensações óticas determinadas, não apenas pelas condições atmosféricas naturais, como, por exemplo, a luz e a temperatura capturadas por um filme fotográfico, e representam sensações produzidas pelo efeito encantador da realidade. Como flashes fotográficos ou luzes artificiais que obstruem nossa visão e provocam um confronto visual que impede o olhar, o dissipa e, ao mesmo tempo, o mantém distante”, explica.
Os quadros que fazem parte de Fantasma escandinavo e outras pinturas foram produzidos especialmente para a mostra e combinam texturas, superfícies e cores para produzir sensações que imagens e figuras nunca alcançarão por conta própria. "A estratégia tem sido desacoplar a técnica com a qual eles foram feitos e sua figuração; isto é, primeiro, eles negam a presença - o toque - ou vínculo com um autor e, em vez disso, favorecem o comportamento de uma quantidade abundante de tinta delimitada apenas por uma representação fraca. E, em segundo lugar, exaltam a abstração através da amplificação sensual de imagens que tentam com esforço não ser encontrado ou representado visualmente”, comenta o artista.
O crítico Mario Gioia explica um pouco mais sobre o trabalho de Valdés e suas influências: "Valdés tem se notabilizado pela produção pictórica entendida num campo ampliado, em que a pintura parte do âmbito bidimensional, no qual o óleo, em especial, é disposto em telas dentro de salas e instituições do tipo cubo branco. Assim, há fortes elos de continuidade do cânone da linguagem dentro da história da arte, assinados por um artista em situação de movimento – ele é chileno, mas vive em Londres desde os anos 90 e teve estudos decisivos na Holanda. Contudo, Valdés percorre experimentações que podemos avaliar como pintura expandida, na qual outros meios – desenho, tridimensional, fotografia, cinema e performance, entre outros – se amalgamam e, travestidos de novos significados, discutem e renovam atributos típicos do suporte originalmente investigado.
Francisco Valdés (Santiago do Chile, 1968) obteve o título de MFA (1999) pela Goldsmiths College, University of London, em Londres, Reino Unido e foi pesquisador na Jan van Eyck Akademie, Maastricht, Holanda (2003-05). Atualmente vive e trabalha em Londres. Desde 1990, realizou mais de 20 exposições individuais, entre as mais recentes destacam-se: ‘Tempera’ na Galeria Gabriela Mistral em Santiago, Chile, (2014); ‘ºOpen Guild House’ em Londres, Reino Unido, (2013); ‘Forecast’, Elaine Lévy Project, em Bruxelas, Bélgica, (2012); ‘New Works’ com William Horner. AHF, Londres, Reino Unido, (2012); Gyonggi Creation Center em colaboração com Gyonggi Museum of Modern Art. Seongam Island, Coreia, (2010); ‘From Europe to Asia and back, again. Living in a suitcase.’ com curadoria de Jérôme Sans, Lukas Feichtner Galerie, Viena, Austria, (2009).
Com um trabalho que explora o intercâmbio entre dimensões e meios de reprodução, Francisco Valdés se apropria de imagens tiradas do eBay, livros antigos, YouTube e outros e a mistura com outras técnicas, em quadros de grande escala.
PROGRAMAÇÃO PARALELA
BATE-PAPO COM ARTISTA
Conversa na Adelina: Francisco Valdés e Mario Gioia
Data: 01/03 (quinta-feira), às 19h30.
Local: Adelina Galeria (Rua Cardoso de Almeida, 1285, Perdizes)
As inscrições são gratuitas e as vagas limitadas. Inscrições pelo e-mail: oi@adelinagaleria.com.br
OFICINA
Oficina de Colagem para Crianças a partir da obra de Francisco Valdés
Data: 17/03 (sábado), às 15h.
Local: Instituto Adelina (Rua Cardoso de Almeida, 1372, Perdizes)
As inscrições são gratuitas e as vagas limitadas. Inscrições pelo e-mail: oi@adelinagaleria.com.br
VISITAS EDUCATIVAS
Além de mediações ao público espontâneo, a Adelina Galeria oferece visitas guiadas às suas exposições para grupos mediante agendamento. As visitas são gratuitas e podem ser realizadas para grupos de até 15 pessoas, com duração média de 1h.
Agendamento de grupos
Para agendar uma visita em grupo, basta enviar um e-mail para oi@adelinagaleria.com.br com data e horário da visita, número de pessoas e nome do responsável pelo grupo.
A visitação em grupos é gratuita, mediante agendamento, no horário de funcionamento da galeria.
A noite não adormecerá na Amparo 60 Califórnia, Recife
A noite não adormecerá, primeira exposição do ano da galeria, reúne 11 artistas mulheres sob curadoria de Julya Vasconcelos
A Galeria Amparo 60 recebe, a partir do próximo dia 1 de março, a mostra coletiva A noite não adormecerá, que reúne 15 trabalhos de 11 artistas mulheres. A curadoria de Julya Vasconcelos propõe jogar luz sobre trabalhos produzidos por mulheres dentro de uma perspectiva que não privilegia uma visão limitada de uma suposta expressividade feminina. As obras que compõem a mostra transitam pela violência, pela anarquia, pela crítica política, pelos mergulhos subjetivos, etc Para tecer essa ideia de tratar a produção das artistas mulheres dentro de um espectro profundo, político e também existencial, a curadora reuniu artistas – com poéticas e trajetórias bastante distintas – do casting da galeria (Juliana Lapa, Amanda Melo da Mota, Alice Vinagre) e outras convidadas (Gio Simões, Clara Moreira, Regina Parra, Virgínia de Medeiros, Marie Carangi, Regina Galindo, Juliana Notari e de Maré de Matos). Os suportes que darão corpo às obras das artistas vão do grafite e do desenho à instalação e a vídeo performance. A artista Marie Carangi fará uma performance na abertura da mostra, que acontece a partir das 19h.
Foi a própria galerista Lúcia Costa Santos que teve o primeiro insight para a concepção de uma exposição que reunisse apenas artistas mulheres. Tradicionalmente, nos vernissages em sua galeria, ela costuma reunir os artistas presentes para registrar em uma foto e a presença feminina era sempre pequena. “Então, me perguntei, onde estão as nossas artistas mulheres?”, lembra. Com essa proposta na cabeça, Lúcia convidou Julya Vasconcelos para desenvolver o processo curatorial de A noite não adormecerá, estreia da jornalista pernambucana (que tem mestrado em História das Artes Visuais) no campo da curadoria.
Segundo ela, a ideia é explorar uma sensibilidade que não se predispõe a pactuar com o clichês, uma sensibilidade-combate, com todas as complexidades de um corpo/universo/território muitas vezes posto em segundo plano dentro da sociedade patriarcal. “É o que a Judith Butler chama de corpos que não importam. O corpo da mulher não importa, o corpo da mulher artista e seus temas não importam, ou são lidos de maneira rasa, isso quando não menosprezados em sua profundidade e elasticidade. Estas livres expressões que estão nessa coletiva são absolutamente urgentes. É urgente falar, ouvir e jogar luz. Então quando chamamos esta coletiva de A noite não adormecerá é em alusão à necessidade de adentrar nestas geografias desconfortáveis, indigestas e urgentes. A exposição fala mesmo de uma espécie de insônia e sobre o que estes olhos sempre abertos estão vendo e tramando”, detalha a curadora.
Em meio ao processo colaborativo de curadoria, Julya e as artistas chegaram ao poema A noite não adormece nos olhos das mulheres, de Conceição Evaristo, e dele retiraram o nome para batizar a mostra, reforçando a ideia de emergência de se falar dessa produção. Segundo a curadora não se trata de uma exposição que tem o feminismo como tema, mas é uma reunião de artistas mulheres que prezam pelo tensionamento do “feminino”, extrapolando seus limites e tratando de questões urgentes de maneira complexa. “Temos um grupo heterogêneo de artistas mulheres, contemporâneas, mergulhadas numa crise de ordem política, econômica e moral, que é o que a gente tem vivido nesse país, num processo de cinismo crescente. Como estas mulheres se expressam? Como adentrar e mostrar estes territórios por meio da pintura, da fotografia, da performance, do desenho, do soco no estômago? Acho que esse grupo parte de uma potência discursiva e estética desconcertante e afiada. Não são trabalhos delicados: são ásperos, e essa é definitivamente uma qualidade deles”, esmiúça a curadora.
A pernambucana Juliana Lapa, que acaba de entrar para o casting da galeria, vai apresentar trabalhos de grandes dimensões e bastante impactantes da série Breu, que falam sobre olhar o desconhecido, olhar o breu. Ela e boa parte das artistas são do Recife ou residem na cidade, como é o caso de Maré de Matos, que é de Minas mas tem sua vida e produção radicadas em Pernambuco.“Foi uma tentativa de dar visibilidade a uma geração de artistas pernambucanas muito especial, muito afiada e que tem uma produção de um valor político/estético realmente incrível. Queríamos mostrar isso, queríamos dar a ver essa produção. E era importante colocar estes trabalhos em diálogo com produções de artistas que partem de outras geografias”, afirma Julya Vasconcelos.
Nesse sentido foram convidadas Regina Parra (SP), Virgínia de Medeiros (BA) e Regina Galindo (da Guatemala). Regina Parra participa com a obra Manter-se aterrorizada, tornar-se terrível, uma torção de uma frase do ensaísta martinicano Frantz Franon, trazida para o feminino, em um letreiro de neon. “Como portar-se diante das violências e abusos sofridos, especialmente pelas mulheres? Tornar-se terrível, combater, revidar ou manter-se no estado do medo? É um trabalho que fala sobre como ser transformado pela violência, e sobre a possibilidade do revide”, detalha a curadora.
A baiana Virgínia de Medeiros apresentará algumas peças que compõem a sua exposição processual O Jardim das Torturas, que faz um recorte do universo sadomasoquista a partir do convívio da artista com o Dominador Dom Jaime – filósofo sadomasoquista – e com suas duas Escravas. Vão estar na Amparo 60 as entrevistas em áudio com as escravas, o espartilho e os diários em cobre.
Regina Galindo, por sua vez, tem um trabalho combativo, político, comprometido com a história da Guatemala e com as questões ligadas ao corpo (principalmente o corpo da mulher e o corpo torturado pela ditadura que esteve em vigor por 36 anos no país, e durou até a década de 90). Na Amparo 60 será mostrado seu vídeo Tierra, de 2013, que trata do genocídio indígena cometido pelo governo de José Efraín Ríos Mont.
fevereiro 22, 2018
Zip’Up: Maíra Senise na Zipper, São Paulo
Gárgulas ao sol do meio-dia, exposição individual de Maíra Senise na Zipper, caminha do limite entre o que é inofensivo e o que é hostil. O conjunto de pinturas e pequenas esculturas surgem a partir de um imaginário que mistura fábulas desconcertantes ao cotidiano de ornamentos femininos dos esmaltes de unhas a purpurina. Organizada pelo projeto Zip’Up, a mostra inaugura no dia 1º de março.
As telas de Maira partem muitas vezes de símbolos de um universo infantil, ao mesmo tempo em que se aproximam de uma representação primitiva, em um limiar entre a figuração e a abstração. A tentativa de transformar a pintura em desenho confere mais liberdade nas escolhas e nas técnicas; muitas vezes, a artista opta por deixar a tela crua, se apropriando desta informação como elemento essencial do trabalho. Figuras desenhadas apenas pelo contorno, que surgem a partir de formas anamórficas, como animais em silhueta e seres híbridos, aparecem com frequência nas pinturas a óleo de camadas densas e esmalte.
Já na série “Esculturas de Mão Dobrada”, objetos disformes feitos em argila pintada com tinta acrílica e preenchidos com óleos produzidos pela artista reforçam um processo orgânico que não visa, aparentemente, criar um trabalho escultórico, mas refletir sobre esta ação de algo que se molda no contato com as mãos.
“Picasso dizia que levou a vida inteira para pintar como uma criança porque o que parece destituído de sentido no rabisco da infância é o início da forma, como a geometria na maça de Cézanne. Animais desorientados por raios nos assistem do outro lado perturbador da tela de Maíra a nos acolher na alegria de cores iluminadas e, ao mesmo tempo, nos assustar como as Gárgulas suspensas em castelos ou igrejas a cuspirem as águas das chuvas no arco íris ou no sol do meio-dia”, escreve Katia Maciel, curadora da exposição.
Idealizado em 2011, um ano após a criação da Zipper Galeria, o programa Zip’Up é um projeto experimental voltado para receber novos artistas, nomes emergentes ainda não representados por galerias paulistanas. O objetivo é manter a abertura a variadas investigações e abordagens, além de possibilitar a troca de experiência entre artistas, curadores independentes e o público, dando visibilidade a talentos em iminência ou amadurecimento.
Em um processo permanente, a Zipper recebe, seleciona, orienta e sedia projetos expositivos, que, ao longo dos últimos seis anos, somam mais de quarenta exposições e cerca de 60 artistas e 20 curadores que ocuparam a sala superior da galeria.
“Gárgulas ao sol do meio-dia” fica em cartaz até 7 de abril.
Sobre a artista
Radicada em Nova York, Maíra Senise (Rio de Janeiro) produz, principalmente, pinturas e esculturas em cerâmica. Seu trabalho, frequentemente, reflete sobre os mistérios da relação entre mundos interno e externo, a partir de figurações de seres híbridos. Principais exposições individuais: “Todo el Mundo se come”, Machete Galeria de Arte, Cidade do México (2017). Principais exposições coletivas: “1St Gestures”, Garden Space, NY (2017); “Resilience”, Emma Thomas Gallery, NYC (2016); “Reunião 2”, Castelinho do Flamengo, Rio de Janeiro (2015).
Sobre a curadora
Katia Maciel (Rio de Janeiro, Brasil 1963) é artista, poeta e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sua obra investiga o imaginário próprio das imagens em relações com a paisagem, os objetos e a palavra. Em seus vídeos e instalações, a influência do cinema é flagrante na escala, na poética do movimento, na inclusão do espectador. Recebeu, entre outros, os prêmios: Prêmio Honra ao Mérito Arte e Patrimônio (2013), Prêmio da Caixa Cultural Brasília (2011), Funarte de Estímulo à Criação Artística em Artes Visuais (2010), Rumos Itaucultural (2009), Prêmio Sérgio Motta (2005), Petrobrás Mídias digitais (2003), Transmídia Itaúcultural (2002), Artes Visuais Rioarte (2000). As obras da artista encontram-se nas coleções Gilberto Chateaubriand, Museu de Arte do Rio, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, Oi Futuro do Rio de Janeiro e Maison Européenne de la Photographie, entre outras.
Carolina Ponte na Zipper, São Paulo
A sobreposição de imagens, referências, suportes e técnicas é o pilar central da nova individual da artista Carolina Ponte na Zipper. Os trabalhos miscigenam colagem e pintura, em papel ou tela, a partir de padronagens e ornamentações emprestadas de diferentes culturas. Daí o título Balangandã, um ornamento afro-brasileiro típico da Bahia – também terra natal da artista – que, preso a outros semelhantes, forma um amuleto complexo, em que os elementos se acumulam e mantém relações mútuas. Com texto crítico assinado por Shannon Botelho, a mostra inaugura no dia 1º de março.
Fortemente ligado às práticas populares, o trabalho de Carolina Ponte combina padronizações para que, juntas, formem algo singular. “A sobreposição de etapas e técnicas são mais evidentes nos novos trabalhos. Nossa miscigenação está impregnada, como os objetos que carregamos no corpo: ornamentos, amuletos, guias e terços”, diz a artista.
O processo que resultou nos novos trabalhos teve início em duas residências artísticas realizadas pela artista durante 2017 na Europa. Algo como o ato de olhar para fora para sedimentar sua própria identidade. Na primeira, na Cité des Arts, em Paris, Carolina pesquisou sobre a arquitetura da capital francesa e a ornamentação da joalheria vitoriana. Na segunda, em Viborg, na Dinamarca, a artista tomou o caminho da xilogravura, tendo produzido as impressões que, de volta ao Brasil, deram origem às colagens acrescidas de pintura.
Além dos trabalhos em papel e tela, a artista mostra também obras em crochê. “Balangadã” fica em cartaz na Zipper até 7 de abril.
Sobre a artista
O trabalho de Carolina Ponte (Salvador, Brasil, 1981) tem como referência principal a integração de práticas populares ornamentais à produção contemporânea. O crochê e o desenho são os principais suportes utilizados pela artista, que explora também a combinação entre distintas padronagens, cores e ritmos em obras com forte inclinação instalativa. A artista vive e trabalha em Petrópolis, Rio de Janeiro. Principais exposições individuais: “Carolina Ponte” MDM Gallery, Paris (2016), “E o silêncio?”, Galeria Enrique Guerrero, Cidade do México (2016), “Dusk to dawn… Threads of infinity”, Anima Gallery, Doha (2014), “Filigranas” Zipper Galeria, São Paulo (2013). Principais exposições coletivas: “Aquilo que nos une”, Caixa Cultural Rio de Janeiro (2016), “Watercolour”, Textile Museum of Canada (2015), “Lugar Comum”, SESC Quitandinha, Petrópolis (2012), “Pontos de Encontro: Pedro Varela e Carolina Ponte”, Espaço Cultural da Caixa, Salvador, Brasil (2011).
Texto crítico: Shannon Botelho
Shannon Botelho é doutorando em História e Crítica da Arte pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Escola de Belas Artes/UFRJ. Mestre em Artes Visuais, na linha de História e Crítica da Arte, pelo PPGAV - EBA/UFRJ, possui Bacharelado em História da Arte (EBA/UFRJ) e Licenciatura Plena em Artes Visuais (Centro Universitário Metodista Bennett). Pesquisa a Arte Brasileira e suas instituições no século XX, com ênfase na década de 1950. Atua ainda como pesquisador, curador e professor. É Professor efetivo no Departamento de Desenho e Artes Visuais do Colégio Pedro II.
fevereiro 21, 2018
Persistência e Variação na Raquel Arnaud, São Paulo
A Galeria Raquel Arnaud inaugura a sua agenda 2018 com a exposição coletiva Persistência e variação. Com curadoria de Tiago Mesquita, a mostra reúne um conjunto de obras de cada um dos dez artistas participantes. São repertórios que, em comum, exploram um mesmo tema e procedimento de forma repetitiva e aprofundada. Como dizia o poeta Manuel de Barros, “Repetir, repetir - até ficar diferente. Repetir é um dom do estilo”.
A exposição revela o raciocínio destes artistas e como conseguem pequenas variações utilizando os mesmos elementos. “Vemos o encontro de sentidos simbólicos no uso de figuras mecânicas no trabalho de Carlos Zilio, uma tridimensionalidade complexa em Elisabeth Jobim, e a variação da cor em uma estrutura tão simples como a das pinturas de Cassio Michalany. Já a constância, presente em algumas questões de artistas como Fábio Miguez, Daniel Feingold, Célia Euvaldo, Iole de Freitas, Rodrigo Bivar, Geórgia Kyriakakis e Waltercio Caldas, reforça a insistência no caráter reflexivo da obra de arte”, afirma o curador.
Segundo Mesquita, a avalanche de representações, opiniões e informações da sociedade atual se coloca como sucedâneo da experiência. “A arte muitas vezes entra no jogo, dedica-se a responder questões exógenas a ela, pautadas por redes sociais, mercado e convicções. Assim, a criação sucumbe a uma apreensão fácil do mundo. Persistir em trabalhos nos quais a experiência não se oferece de maneira tão simples significa um esforço importante”.
O curador aponta ainda que a história da arte perderia muito se alguns criadores como Giorgio Morandi, Josef Albers e Piet Mondrian não buscassem uma depuração estética. Ressalta ainda Mesquita que essses mestres abandonaram o que não parecia essencial para atingir um fulcro em suas linguagens. “A busca por uma linguagem mais sintética apontava para o fim da sociedade tradicional, baseada em posições fixas. Esse futuro parece ter sido ultrapassado, para o bem e para o mal. A relação da arte com esse repertório sintético tem hoje outro sentido, que merece reflexão baseada nos trabalhos desta exposição”, completa o curador.
fevereiro 20, 2018
Dani Tranchesi na Galeria Estação, São Paulo
Exposição de fotografias de Dani Tranchesi inaugura a programação de 2018
Depois de inserir a produção não erudita brasileira na cena contemporânea nacional e internacional, ao realizar inúmeras exposições e publicações de criadores autodidatas sob o crivo de críticos renomados, a Galeria Estação passa a contemplar também novos artistas naturalmente observados pelo circuito das artes. Por isso, para inaugurar o ano de 2018, apresenta Caixa-clara, exposição de fotografias de Dani Tranchesi, com curadoria de Cassio Vasconcellos e Paula Braga.
A primeira exposição da artista paulistana é composta de 35 obras, séries desenvolvidas nos últimos dois anos que acessam um arquivo de fotografias digitais produzidas nos últimos dez, em viagens de Tranchesi por mais de sessenta países. Em sua forma particular de construir a fotografia, que parte da ação do fotógrafo, do fotografado e do espectador, a artista cria imagens complexas, que, segundo os curadores, sobrepõe memória à grafia da luz e explora o papel dos três agentes. “Mais do que imagens, os objetos produzidos pela artista são caixas-claras que desafiam o aparelho mesclando os três participantes do triângulo amoroso (que é também triângulo de dominação) formador das imagens de mundo”, ressalta Paula Braga.
Em uma das séries, o uso de camadas transparentes sublinha o processo de acúmulo de imagens mentais por cima da imagem física captada pelo olho. Ao acessar seu arquivo digital, Tranchesi mimetiza lugares da cidade pouco arborizados com paisagens naturais. “Assim, a fotografia de prédios em uma cidade pouco arborizada pode provocar a nostalgia e a memória da floresta, e o resultado é uma terceira imagem, que representa a paisagem urbana concomitantemente com o desejo pelo verde”, afirma Braga. Destaca a curadora, ainda, que, por cima dessa construção, a obra recebe a imagem do espectador, que se vê refletido numa camada de acrílico ou de espelho.
Nas grandes fotos coloridas de rostos, que exploram o tema da fotografia documental eurocêntrica sobre as culturas ditas exóticas, Tranchesi substitui os olhos dos retratados por olhos em preto e banco de quem os vê, muitas vezes os da própria fotógrafa. Em outra série o retratado aparece em caixas de acrílico, dissecado em lâminas. Penduradas no teto, as caixas trazem de um lado o retrato - habitante de um país distante – e do outro o olhar de quem o vê. “De um lado, o retratado congelado e do outro, o olhar congelante”, completa a curadora.
Já em Espelhos Negros, o corpo inteiro da fotógrafa aparece escondido entre a transparência das várias camadas da imagem. “Mas quem é o retratado nos espelhos negros? Essa é a questão, pois, ainda que as várias camadas mostrem pessoas, a câmera aponta para o espectador”, questiona Braga. Para a curadora essa série é uma referência também às telas dos celulares que abriram o capítulo da selfie na história da fotografia. “Os espelhos negros de Dani Tranchesi exploram a ideia da selfie com rara dignidade, convidando o espectador a se reproduzir em imagem para interagir com as camadas da composição. A selfie efêmera aparece na superfície refletora do acrílico preto e junta-se por alguns instantes às imagens do acervo de memórias fotográficas da artista, equiparando-se ao homem indiano, à menina dos balões, à velha chinesa que cozinha em frente a um espelho”.
Completa a exposição Galáxias, em que personagens estão sobrepostos a um espelho, fazendo com o espectador apareça atrás, na última camada. “Por mais que ele queira ser o sujeito observador, não passa de segundo plano, e tem que se procurar atrás das barreiras, olhar pelos vãos das grades, desviar das bolinhas de sabão, se quiser ser objeto”, completa Braga.
Tunga no Octógono da Pinacoteca, São Paulo
A montagem de ‘Tríade Trindade’, exposta pela primeira vez no museu, reconstitui a apresentação do trabalho na retrospectiva do artista realizada na França há mais de 15 anos
Abertura 24 de fevereiro de 2018, sábado, às 11h00 | Em cartaz até 04 de junho de 2018
Pela primeira vez, a Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura do Estado, apresenta Tríade Trindade (2001), do artista pernambucano Tunga, obra adquirida em 2016 pelo Programa de Patronos da Pinacoteca. Ela será exposta no Octógono a partir de 24 de fevereiro e a sua montagem baseia-se na primeira apresentação do trabalho, realizada durante uma retrospectiva do artista ocorrida no museu Jeu de Paume, de Paris (França), em 2001, onde luzes vermelhas coloriam a peça. A mostra tem patrocínio do Iguatemi São Paulo.
“‘Tríade Trindade’ contém as cargas simbólica e energética que particularizam a produção de Tunga. Tanto por sua constituição física, de uma estrutura composta de metais e imãs com cinco metros de altura e quatro toneladas de peso, como pelas representações de trança, cabelereira, sinos, caldeirão, tacape, jarras, taças e outros objetos recipientes. Partes que têm em comum as formas orgânicas e, mais que isso, alusivas ao corpo humano; partes que se “ligam”, conectam-se por magnetismo, entrelaçamento, encaixe, e se dispersam, espalham-se pelo espaço”, explica José Augusto Ribeiro, curador da mostra.
A exposição representa também uma homenagem do museu ao artista, às vésperas completar dois anos de sua morte, em 6 junho de 2016. “Tríade Trindade” permanece em cartaz até 04 de junho de 2018, no primeiro andar da Pina Luz – Praça da Luz, 02. A visitação é aberta de quarta a segunda-feira, das 10h00 às 17h30 – com permanência até às 18h00 – os ingressos custam R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia). Crianças com menos de 10 anos e adultos com mais de 60 não pagam. Aos sábados, a entrada é gratuita para todos os visitantes. A Pina Luz fica próxima à estação Luz da CPTM.
Mais sobre Tunga
Antonio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, consagrado no cenário da arte contemporânea como Tunga (Palmares, Pernambuco, 1952 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016), conhece o modernismo brasileiro muito cedo. Inicia sua carreira nos primeiros anos da década de 1970, época em que se concentra no campo de desenhos e esculturas. No final dos anos 70, o artista se volta para a realização de peças tridimensionais e instalações. Utiliza correntes, lâmpadas, fios elétricos e materiais isolantes, como o feltro e a borracha, atrelados a investigações de diversas áreas de conhecimento, tais como literatura, filosofia, biologia e teatro. Os elementos são bem cuidados formalmente e têm desenho elegante. Tunga busca relações fortes entre os diferentes materiais.
Em 1990, recebe o Prêmio Brasília de Artes Plásticas e, em 1991, o Prêmio Mário Pedrosa da Associação Brasileira de Críticos de Arte - ABCA pela obra “Preliminares do Palíndromo Incesto”. Entre 1989 e 1990, amplia a presença de sua obra no circuito internacional, com mostras individuais em Londres, Chicago, Glasgow e Toronto. Em 1994, participa da 22ª Bienal de São Paulo e da 10ª Bienal de Havana, Cuba.
Mais sobre o Projeto Octógono
Criado em 2003, o projeto Octógono Arte Contemporânea ocupa um espaço importante do museu que apresenta produções de arte contemporânea em consonância com o acervo da Pinacoteca. Ao longo desses 15 anos, o projeto apresentou cerca de 40 sites-specifcs de artistas brasileiros e estrangeiros. Entre eles Carlito Carvalhosa, Artur Lescher, João Loureiro, Rubens Mano, Joana Vasconcelos, Alexandre Estrela, Laerte Ramos, Antoni Abad, José Spaniol, entre outros.
Mais sobre o Programa de Patronos da Arte Contemporânea da Pinacoteca
Programa inédito no momento de sua criação, em 2012, que reúne hoje cerca de 80 casais da sociedade civil que apoiam e incentivam as atividades da Pinacoteca de São Paulo e cujas doações são revertidas em aquisições de obras de arte contemporânea brasileira para o museu. Desde sua fundação, já foram adquiridas 34 obras dentre elas o primeiro vídeo da coleção da Pina, adquirido em 2012 (“Duas Margens (2003-2012)”, de Carla Zaccacgnini) e a primeira performance, adquirida em 2014 (“O nome (2010-2014)”, de Maurício Ianês).
Performance de Maikon K no Sesc Belenzinho, São Paulo
Terrário – Dança Privê num Portal Interdimensional parte da relação do corpo do artista com espelhos, luz e areia e leva experiência sensorial ao público
Em Terrário – Dança Privê num Portal Interdimensional o artista curitibano Maikon K trabalha nas fronteiras entre performance e dança, teatro e ritual. A ação faz apresentações dias 23, 24 e 25 de fevereiro, sexta-feira e sábado às 21h30 e domingo às 18h30.
O foco da arte de Maikon K é o corpo como instaurador de realidades e os limites entre humano e não humano. A ação dá continuidade à pesquisa do artista também presente em DNA de DAN, selecionada pela artista Marina Abramovic para integrar a exposição Terra Comunal, em março de 2015, no Sesc Pompeia, em São Paulo.
Estruturada em duas partes distintas, a performance é sobre observar e ser observado, sem no entanto se deixar tocar. O nome da ação remete ao recipiente que recria as condições ambientais para a criação de animais ou plantas, fora do qual é possível observar o comportamento dos seres vivos em seu interior.
Cubo negro
Na primeira parte de Terrário – Dança Privê num Portal Interdimensional, Maikon K está em pé e aguarda a entrada do público. No chão à sua frente, uma superfície feita com pedaços de espelhos. Ao fundo da sala, um cubo negro de três metros de altura. O performer se ajoelha e, enquanto fala, tira sua roupa. Ele então executa uma dança sobre os espelhos: ilusionismo erótico, corpo estilhaçado, manipulação biológica, hipnose. “Nesta etapa, o foco está na relação com os espelhos, na luz que se reflete e na música”, explica ele.
Num segundo momento, Maikon K entra no cubo. Essa caixa preta é forrada com areia e espelhos cobrem as paredes. Um microfone está posicionado no teto e os sons produzidos no interior do cubo saem em caixas acústicas do lado de fora, manipulados pelo músico Beto Kloster. O público se coloca na posição de voyeur e assiste à performance através de pequenas janelas, podendo escolher para onde quer olhar, captando pedaços e reflexos do corpo que ali se move. O jogo de espelhos permite ao espectador criar diversas perspectivas. O artista se relaciona com a areia e desenterra peças de roupa: um arreio de couro e uma saia negra. “Neste peep show xamânico construo gradativamente uma persona, que emerge através da minha voz, respiração e movimentos. Um jogo de espelhos onde o público observa e também é observado. Contemplando o aparecimento e morte de sucessivos estados e imagens”, conta o artista.
Para Maikon K no mundo atual de webcams e fotos instantâneas, capturamos, selecionamos e oferecemos nossa imagem a uma multidão de olhos. Imagem que se alastra sem controle, viral. “Podemos nos comunicar com o mundo de dentro de nosso quarto, carro, banheiro, prisão. E o mundo vem até nós, fibra ótica, sorvido pelas retinas vidradas. Consumimos um mundo-imagem, e somos por ele consumidos”, acredita ele.
Liberdade de expressão
Como campo de experiências sensíveis, a arte tem potência para dar forma a territórios poéticos heterogêneos, onde coexistem liberdades de expressão e expressões de liberdades diversas. Por meio da presente atividade, o Sesc reitera o seu compromisso com a cultura e com a educação, ao trazer à baila produções e processos artísticos que debatem a liberdade de expressão concretamente, em sua imbricação com a liberdade dos corpos – que precisa ser construída permanentemente.
Sobre Maikon K
Natural de Curitiba – PR, 1982. Trabalha nas fronteiras entre performance, dança e ritual. O foco de sua pesquisa é o corpo como instaurador de realidades e matriz simbólica. Sua formação iniciou-se em 1997 nas Artes Cênicas e agrega diversas áreas de conhecimento: graduado em Ciências Sociais (ênfase em Antropologia do Teatro), há treze anos pesquisa formas de expansão da consciência através de práticas corporais e ritos ancestrais em ligação com os elementos da natureza. Em Guilhotina (2008) – musical xamânico-terrorista para um ator em sala de aula – a ação acontecia numa sala de universidade. Em 2011, como artista residente da Casa Hoffmann (Centro de Estudos do Movimento), realizou Paisagem de Gesto e Voz, em que integrava movimento e sonorização vocal para gerar formas arquetípicas. Em 2013, criou Corpo Ancestral, em que investiga a dança como meio de alcançar estados ampliados de consciência. No mesmo ano estreou a dança-instalação DNA de DAN, contemplada pelo Prêmio Funarte Klauss Vianna 2012. Ambos os trabalhos investigam os limites entre humano e não-humano. Em 2015, criou uma segunda versão de Corpo Ancestral e estreou Terrário – dança privê num portal interdimensional, em que utiliza espelhos e areia como materiais. O centro de seu trabalho é o corpo e sua capacidade de alterar percepções, influenciado pela visão de mundo xamânica, em que o performer se desdobra em diversas realidades através de técnicas corporais específicas, por meio de canção, som não verbal, dança, signos visuais e atividades ritualizadas. Em 2015, foi convidado pela artista da performance Marina Abramovic para apresentar DNA de DAN na exposição Terra Comunal, em março/maio de 2015, no Sesc Pompeia. Para o ano de 2016, prepara seu novo trabalho O Ânus Solar, contemplado com o Prêmio Funarte Myriam Muniz 2015 e inspirado na literatura de Georges Bataille.
Cine Iberê: Apichatpong Weerasethakul na FIC, Porto Alegre
Cemitério do Esplendor é o próximo filme do Cine Iberê
Longa do aclamado diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul terá comentários do cineasta Emiliano Cunha. A entrada é franca
Cemiterio do Esplendor_trailer from Zeta Filmes on Vimeo.
No próximo domingo, 25 de fevereiro, a Fundação Iberê Camargo exibe o longa-metragem Cemitério do Esplendor, do consagrado diretor e artista visual tailandês Apichatpong Weerasethakul. A sessão do Cine Iberê acontece a partir das 16h, e será comentada pelo professor e cineasta Emiliano Cunha, com entrada franca.
Formado em arquitetura e artes visuais, Apichatpong Weerasethakul (também conhecido pelo apelido de Joe), é um profícuo diretor de cinema, escritor e artista. Sua preferência por histórias não convencionais aproxima seu trabalho cinematográfico do campo das artes visuais. No entanto, seu estilo é também descrito como alegre, espontâneo, brincalhão, despretensioso e gentil. Temas recorrentes dos seus filmes incluem religião e misticismo, a natureza e a sexualidade humana, além da realidade de diferentes povos no Sudeste Asiático.
Em Cemitério do Esplendor, soldados com uma misteriosa doença do sono são transferidos para um hospital provisório instalado em uma antiga escola abandonada. Jenjira torna-se voluntária para tratar de Itt, um belo soldado que ninguém vem visitar. No hospital, ela faz amizade com a jovem médium Keng que utiliza os seus poderes para ajudar os parentes a se comunicarem com os homens adormecidos. Um dia, Jenjira encontra o diário de Itt preenchido com palavras e desenhos estranhos. Talvez haja uma conexão entre a síndrome enigmática dos soldados e o mítico local em que o hospital se encontra. A magia, a cura, o romance e os sonhos misturam-se no frágil caminho de Jenjira em direção ao conhecimento profundo de si própria e do mundo a sua volta.
Em 2015, ano de sua produção, o filme foi exibido nos festivais de Cannes (Un Certain Regard), Sydney e no New Zealand International Film Festival.
Apichatpong nasceu em 1970 na cidade de Bangkok, Tailândia. Venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2010 pelo filme Tio Boonmee que pode recordar suas vidas passadas. Seu filme anterior, Hotel Mekong (2012), foi lançado comercialmente nos cinemas do Brasil em 2013. Outros filmes realizados pelo cineasta: Síndromes e um século (2006), Mal dos trópicos (2004), A aventura de Iron Pussy (codireção) (2003), Eternamente sua (2002) e Objeto Misterioso ao Meio-Dia (2000).
Emiliano Cunha é diretor e roteirista, mestre em comunicação e graduado em Cinema. Atualmente é professor de Cinema na UNIRITTER e na Fluxo – Escola de Fotografia Expandida. É realizador dos curtas O Cão (2010) e Lobos (2012), em parceria com Abel Roland, e Tomou café e esperou (2013) e Sob águas inocentes e claras (2017), filmes com participação expressiva em festivais de cinema, no Brasil e no exterior, e que receberam prêmios e menções especiais. Emiliano dirigiu, também, a série para televisão Horizonte B. Seu primeiro longa-metragem, Raia 4, foi gravado recentemente e está em fase de montagem.
A exibição integra o programa Eclipse - atividade cinematográfica paralela à exposição Sol Preto, e tem curadoria de Marta Biavaschi.
fevereiro 18, 2018
A-tensão na Mercedes Viegas, Rio de Janeiro
Mercedes Viegas abre a mostra de esculturas “A-tensão” de 10 artistas contemporâneos de renome internacional
Tunga e Ivens Machado, José Damasceno, Angelo Venosa, José Resende, Frida Baranek, Carlos Bevilacqua, Julio Villani, Luiz Monken e as duas jovens artistas, Cristina Lapo e Daniela Antonelli, integram a mostra de esculturas A-tensão que a Mercedes Viegas Galeria abre no dia 22 de fevereiro, às 19h, na Gávea.
“Há algum tempo venho pensando e observando as esculturas no meu percurso de trabalho. Até que surgiu um tema comum entre as obras que venho selecionando silenciosamente: Tensão. Essa tensão existe tanto nos trabalhos que ficam pendurados à parede ou no teto por fios de linha ou metálicos (como os trabalhos de Ivens Machado, Julio Villani, Frida Baranek e Daniela Antonelli) como nas obras apoiadas nas paredes, como Tunga e Carlos Bevilacqua. O único trabalho que fica apoiado no chão é o do José Resende. Todos conversam entre si”, afirma a galerista Mercedes Viegas, que idealizou a mostra.
A característica mais evidente entre as esculturas selecionadas é a tensão visível na maioria das obras. À exemplo do Tacape do Tunga, cujos imãs e limalhas de ferro, se contrapõem à estrutura de ferro que fica apoiada na parede. A peça Gota, da série pendente, de Daniela Antonelli, a mais delicada da mostra, se constitui de materiais como osso, couro e sementes que pendem do teto por um fio de linha. Também na obra Pontos Pretos, de Luiz Monken, são os fios metálicos que sustentam e unem os círculos de azulejos pretos presos à parede. A originalidade na forma elegante da escultura de Ivens Machado (em cimento, pedra e tela de arame), também presa à parede, chama atenção pela sua forma exótica. A tensão está também presente nos Funis de aço galvanizado de Julio Villani, unidos um contra o outro por uma moldura de madeira. Na obra de Frida Baranek, Inderterminacy III, discos de acrílico prendem-se por vários fios de aço inox, na tensão provocada pelo peso dos discos de acrílico coloridos, que Iluminam o trabalho. Cristina Lapo, jovem artista portuguesa residente no Rio, produz peças em madeira e em aço inox, com linhas tensionadas que atravessam seus trabalhos.
Os materiais utilizados se repetem em vários trabalhos expostos como os tipos variados de aço (galvanizado, inox, cortén e fios de aço), acrílico, arame, azulejos, borracha, cimento, cobre, couro, ferro, limalha de ferro, madeira, pedras, ossos e sementes.
Projeto Latitude apoia a participação de 15 galerias na ARCOmadrid 2018
Na 37ª edição da feira de arte espanhola ARCOmadrid 2018, realizada entre os dias 21 e 25 de fevereiro, participam 15 galerias brasileiras participantes do Projeto Latitude – parceria entre a Associação Brasileira de Arte Contemporânea - ABACT e a Apex-Brasil - Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos –, voltado à internacionalização do mercado brasileiro de arte contemporânea.
A linha de pesquisa desta 37ª ARCOmadrid, em contraste com edições anteriores, deixa para trás o conceito de país convidado ou mesmo de região homenageada para adotar o conceito de “futuro”. A nova seção da feira, intitulada Futuro é curada por Chus Martínez, Rosa Lleo e Elise Lammer, que partem da frase do escritor espanhol Jorge Luís Borges “El futuro no es lo que va a pasar, sino lo que vamos a hacer” [“O futuro não é o que vai acontecer, mas o que vamos fazer”, em tradução livre], abrindo a feira com uma seleção de 20 galerias internacionais, entre as quais figuram as brasileiras A Gentil Carioca (artista Opavivará!) e Galeria Nara Roesler (Eduardo Navarro).
Do Programa Geral participam as brasileiras: Anita Schwartz Galeria de Arte, Athena Contemporânea, Baró Galeria, Casa Triângulo, Dan Galeria, Galeria Jaqueline Martins, Galeria Marilia Razuk, Galeria Raquel Arnaud, Luciana Brito Galeria e Vermelho. Participam da seção Diálogos as galerias Fortes D’Aloia & Gabriel e Galeria Luisa Strina. E, por fim, participa da seção Opening a galeria carioca Cavalo, em sua primeira feira internacional desde sua adesão ao Projeto Latitude.
Galerias participantes, seus estandes e artistas
A Gentil Carioca (7H16) leva o coletivo de artistas OPAVIVARÁ!
Anita Schwartz Galeria de Arte (estande 9D14) leva à feira obras dos artistas Bruno Vilela, Rodrigo Braga e Daniella Antonelli.
Athena Arte Contemporânea (9E15) leva obras de Débora Bolsoni, Laura Belém, Rodrigo Bivar e Vanderlei Lopes.
Baró Galeria (9E12) apresenta os artistas Felipe Ehrenberg, Rasheed Arlen, David Medalla, Maria Lynch, Mônica Nador, Iván Navarro, Paulo Nenflídio, Túlio Pinto, Pablo Reinoso e Lourival Cuquinha.
Casa Triângulo (9D10) apresenta obras dos artistas Albano Afonso, Alex Cerveny, Ascânio MMM, assume vivid astro focus, Eduardo Berliner, Guillermo Mora, Ivan Grilo, Joana Vasconcelos, Lucas Simões, Marcia Xavier, Mariana Palma, Max Gómez Canle, Nino Cais, Sandra Cinto e Vânia Mignone.
Fortes, D’Aloia & Gabriel (7A10) comparece com os artistas Armando Andrade Tudela e Tamar Guimarães & Kasper Akhoej. Os artistas Ernesto Neto, Jac Leirner e Rivane Neuenschwander, também representados pela galeria, participam da coletiva “Visiones de la tierra / El mundo planeado. Colección Luís Paulo Montenegro”, na Sala de Arte Santander.
Galeria Jaqueline Martins (9G06) leva à feira obras dos artistas André Parente e Diango Hernández.
Galeria Marilia Razuk (7C04) apresenta obras de Alexandre Canonico, Johana Calle, Marlon de Azambuja e Vanderlei Lopes.
Galeria Nara Roesler (7H16) artista Eduardo Navarro.
Galeria Raquel Arnaud (7D01) leva obras de Carla Chaim, Célia Euvaldo, Frida Baranek, Sérgio Camargo e Waltercio Caldas.
Luciana Brito Galeria (9A07) apresenta obras de Pablo Lobato, Liliana Porter e Héctor Zamora.
Vermelho (9D05) leva obras dos artistas Ivan Argote e Dora Longo Bahia.
Galeria Luisa Strina (9A12) leva os artistas Juan Araújo e Carlos Garaicoa.
Galeria Cavalo (9OP02) participa pela primeira vez da feira com os artistas Marina Weffort e Pablo Pijnappel.
Latitude - Platform for Brazilian Art Galleries Abroad
É um programa desenvolvido por meio de uma parceria firmada entre a Associação Brasileira de Arte Contemporânea - ABACT, e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos - Apex-Brasil, para promover a internacionalização do mercado brasileiro de arte contemporânea. Criado em 2007, conta hoje com 51 galerias de arte do mercado primário, localizadas em sete estados brasileiros e Distrito Federal, que representam mais de 1000 artistas contemporâneos. Seu objetivo é criar oportunidades de negócios de arte no exterior, fundamentalmente através de ações de capacitação, apoio à inserção internacional e promoção comercial e cultural.
Histórico
Nestes dez anos de atuação, o número de empresas participantes do Latitude cresceu de 5 para 49, contando com as galerias mais profissionalizadas do Brasil. Para atender ao influxo de novas galerias associadas, muitas delas iniciando seu processo de internacionalização, as ações desenvolvidas diversificaram-se e se tornaram mais complexas, por isso são oferecidas às galerias participantes um sofisticado programa de mais de 7 modalidades de ações.
O volume das exportações das galerias do projeto Latitude vem crescendo significativamente. Em 2007 foram exportados US$ 6 milhões, e em 2015 atingiu-se um pico de quase US$ 70 milhões, quantia quase duas vezes maior àquela de 2014. As galerias Latitude foram responsáveis por 41% do volume total das exportações do setor em 2016.
Desde abril de 2011, quando a ABACT assume o convênio com a Apex-Brasil, foram realizadas 48 ações em mais de 26 diferentes feiras internacionais, com aproximadamente 300 apoios concedidos a galerias Latitude. Neste mesmo período, foram trazidos ao Brasil aproximadamente 200 convidados internacionais, entre curadores, colecionadores e profissionais do mercado, em 20 edições de Art Immersion Trips. Além dessas ações, o Latitude realizou cinco edições de sua Pesquisa Setorial, com dados anuais sobre o mercado primário de arte contemporânea brasileira.
fevereiro 15, 2018
Cine Iberê: William Kentridge na FIC, Porto Alegre
Vida e obra do artista William Kentridge são tema do próximo Cine Iberê
O artista visual James Zortéa comenta o filme Certas Dúvidas de William Kentridge, do cineasta Alex Gabassi. A entrada é franca
Trailer VCA Certas Dúvidas de William Kentridge from Videobrasil on Vimeo.
No próximo domingo, 18 de fevereiro, a Fundação Iberê Camargo exibe o documentário Certas Dúvidas de William Kentridge, do cineasta Alex Gabassi. A sessão do Cine Iberê será comentada pelo artista visual James Zortéa e acontece a partir das 16h, com entrada franca.
O documentário acompanha o artista visual sul-africano William Kentridge – um dos mais importantes nomes da arte contemporânea mundial – por Johannesburgo, sua cidade natal, e pelo Brasil. Kentridge fala do impacto da paisagem e das contradições sociais sobre sua obra e comenta a vida de personagens como Felix Teitlebaum, seu alter ego. Certas Dúvidas de William Kentridge mostra que o artista transita com a mesma fluidez por diferentes meios, numa combinação de referências e técnicas que torna único o seu trabalho em filmes, desenho, instalações, teatro, ópera. Realizado em vídeo digital e super-8 ultragranulado (numa referência aos desenhos a carvão do artista), o filme mostra ainda a montagem de uma instalação inédita de peixes virtuais e um carro real, comissionada no ano 2000 pela Associação Cultural Videobrasil para a Mostra Africana de Arte Contemporânea, em São Paulo.
A exibição integra o programa Eclipse - atividade cinematográfica paralela à exposição Sol Preto, e tem curadoria de Marta Biavaschi.
Alex Gabassi é produtor e diretor independente. Foi assistente de direção e stage manager da companhia inglesa de teatro físico Theâtre de Complicité, em Londres. Produziu instalações e uma mostra do artista americano Bill Viola para o Festival Internacional de Arte Eletrônica Videobrasil (1992). Dirigiu séries e especiais para a MTV Brasil. Realizou videoclipes para Marisa Monte, Caetano Veloso, David Byrne e Carlinhos Brown. Para a série Videobrasil Coleção de Autores, dirigiu o documentário Certas Dúvidas de William Kentridge (2000), co-dirigiu Rafael França: Obra como Testamento (2001), junto com Marco Del Fiol, e dirigiu Um Olhar Sobre os Olhares de Akram Zaatari (2004). Dirigiu também o documentário Sobre o Nome (2001) e filmes publicitários.
James Zortéa é artista visual, Mestre em Poéticas Visuais pesquisando a intersecção entre vídeo e desenho. Integrou o coletivo de artistas do Atelier Subterrânea. É docente de Animação nos cursos de Realização Audiovisual da UNISINOS e Produção Audiovisual da ULBRA CANOAS. Recebeu Bolsa de Pesquisa Artística, concedida pelo FUMPROARTE – Prefeitura de Porto Alegre, para o desenvolvimento de estudos em animação do projeto Confronto entre desenhos: traços de carvão e projeção digital animada dividem espaço no ateliê do artista (2010); obteve Menções Honrosas pela produção do audiovisual Acasos lançados ao vídeo, no Festival Conexões Tecnológicas (2008) e pelo vídeo Pequenos Reparos, no Festival de Vídeos para Mídias Móveis ARTEMOV 2008; recebeu os Prêmios Açorianos de Artes Plásticas na categoria Produção Alternativ, pelo trabalho coletivo realizado pelo Atelier Subterrânea em 2008 e Melhor Exposição Coletiva de 2006, com a instalação coletiva chamada Sala dos Passos Perdidos.
Continuum na Iberê Camargo, Porto Alegre
Abre no próximo fim de semana, dias 17 e 18 de fevereiro, a mostra de videoarte Continuum, com curadoria de Henrique Menezes. Três obras audiovisuais dos artistas Ana Rito (Portugal), Cezar Sperinde (Israel/Brasil) e Leonardo Remor e Denis Rodriguez (Brasil) compõem a Mostra, que parte dos conceitos de continuidade e efemeridade capturados pelo gesto artístico. Com uma visualidade surreal e fluída, as narrativas simulam ações sem fim, registrando a potência do instante.
A mostra Continuum poderá ser vista também no fim de semana dos dias 24 e 25 de fevereiro, com entrada franca. (leia o texto curatorial)
Artistas e obras
Ana Rito - Pleura
Vídeo 4k transcrito para full HD, p/b, som, 14’ 17″, [loop]. Dim. Variáveis. 1/1 + 1 PA.
A obra Pleura (2005), da artista portuguesa Ana Rito, abre o percurso do visitante ditando o tom da mostra através de sua sutileza estética. A corrente de um rio passa tranquilamente por uma escultura clássica imóvel, numa permanente evocação do tempo e da finitude. A obra faz parte da Colecção António Cachola, uma das principais e mais respeitadas coleções privadas de Portugal.
Ana Rito - Nasceu em Lisboa, em 1978. Vive e trabalha em Lisboa. É formada em Pintura, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Realizou várias exposições individuais e colectivas em galerias e instituições como a Módulo – Centro Difusor de Arte, em Lisboa; a galeria Mário Mauroner Contemporary Art, em Viena; o Carpe Diem Arte e Pesquisa, em Lisboa; o Voyem Project View, em Lisboa; o CAPC – Círculo de Artes Plásticas de Coimbra; a Plataforma Revólver, em Lisboa; o Museu de Arte Contemporânea de Elvas; o Museu da Cidade, em Lisboa; o Pavilhão 28, em Lisboa; a Arte Contempo, em Lisboa; entre outras. Participou na 50ª Bienal de Veneza, no âmbito da iniciativa “VV2 Vivere Venezia-Recycling the Future” e na 52ª Bienal de Veneza, no âmbito da exposição colectiva “Faccia Lei”. Tem desenvolvido, ainda, actividade de curadoria e reflexão teórica sobre arte contemporânea. As suas obras estão representadas nas colecções Museu Colecção Berardo, CAPC, Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, entre outras.
Cezar Sperinde - Pindorama - dancing palm trees
moving image, in loop, 2014
Pindorama - dancing palm trees (2014), de Cezar Sperinde, é uma projeção em grande formato que registra uma performance do artista em Londres, onde imensas palmeiras infláveis agitam-se em frente a colunas de uma imponente construção neoclássica. Este oásis alegórico, inusitado e anacrônico, explora reflexões sobre identidades e arquiteturas, em análises sociais e históricas que tocam o choque das experiências culturais contemporâneas.
Cezar Sperinde - nasceu em Porto Alegre, RS, em 1981. Vive e trabalha entre Tel Aviv, Londres e São Paulo. Em 2005, emigrou para Tel Aviv, Israel, onde obteve o Bacharelado em Artes Visuais com ênfase em Fotografia pela Bezalel Academy of Arts and Design. Em 2011, na graduação, foi laureado com o prêmio Laureen and Mitchell Presser Award for Excellence in Photography. Em 2012 imigrou novamente, desta vez para a Inglaterra, onde concluiu com mérito o Mestrado em Artes Visuais na renomada Slade School of Fine Arts, UCL, em Londres. Foi premiado ao concluir o mestrado com o Laureen and Mitchell Presser, Arts Directed Grant, New York. Participou de mostras coletivas em espaços institucionais e galerias em Buenos Aires, Tel Aviv, Jerusalém, Oxford, Londres e Istambul. Participou recentemente do projeto Décima residência artística no Red Bull Station, em São Paulo. Possui trabalhos na Coleção Gilberto Chateaubriand, MAM-Rio, RJ.
Leonardo Remor e Denis Rodriguez – Cinema é Cachoeira
Filme 35mm transferido para digital | 13 min 40 seg | cor | stereo | 2015
O filme Cinema é Cachoeira, de Leonardo Remor e Denis Rodriguez, é inspirado em uma citação do cineasta Humberto Mauro e faz um paralelo entre o looping do filme e o fluxo contínuo da água que corre em uma escadaria de Porto Alegre.
Leonardo Remor (Estação/RS – Brasil, 1987) - Cineasta, artista visual e pesquisador independente, artista-gestor da Galeria Península, em Porto Alegre, Brasil: espaço de arte focado em práticas contemporâneas. Através do uso de diferentes mídias – filme, instalação, objeto, escultura, performance, fotografia – investiga o espaço da natureza na lógica do desenvolvimento da cidade e do homem.
Denis Rodriguez - preocupado em mudar o valor das coisas, o artista, curador autônomo e ativista, sempre direcionou seus projetos e imagens para temas que necessitam militância. Assuntos como cultura de paz, proteção animal, pornografia e sensualidade na arte, poluição visual urbana, trânsito, impermanência da arte em espaços públicos, natureza pictórica, estão presentes em seus últimos trabalhos. Graduado em fotografia pelo Instituto Lorenzo de’Medici, Florença, Itália e com especialização em fotografia editorial na escola londrina Saint Martins. O fotógrafo evita repetição de fórmulas artísticas e integra a palavra ao seu percurso de artista visual. Especializado em jornalismo de entretenimento, com competência em arquitetura, artes, decoração de interiores, design e moda. Escreveu e fotografou editoriais para a revista modo de vida (especializada em arquitetura e estilo de vida), editora Glamurama de Joyce Pascowitch, 2008 a 2011. Clicou editoriais de moda para as revistas JP e MODA, da mesma editora, 2007 a 2010. Foi editor de moda interino da Revista da Folha – jornal Folha de São Paulo, 2007 e 2008; criador do canal de moda da rua do portal UOL – 2007 a 2009 e; correspondente latino-americano do site a shaded view on fashion, www.asvof.com, editado por Diane Pernet, 2007 a 2010. Participou de duas edições da revista online FAQ, faqmagazine.net, 2006 e 2007.
fevereiro 14, 2018
Laura Vinci na Nara Roesler, São Paulo
A Galeria Nara Roesler inaugura a agenda de 2018 de sua sede paulistana com a instalação Morro Mundo, de Laura Vinci, e a individual A Carne do Mar, de Brígida Baltar.
Reconhecida por sua narrativa particular, poética e política, em torno do corpo, do espaço e do efêmero, Laura Vinci apresenta a sua obra Morro Mundo, exibida na unidade carioca da galeria no segundo semestre de 2017. A instalação, observada pelo arsenal poético de Carlito Azevedo autor do texto sobre a obra, ocupa uma grande área com uma massa de fumaça branca que convida o visitante para a experiência de desorientar-se no espaço e reorientar-se no corpo. A sua máquina programada para soltar fumaça à medida que seus sensores de presença são ativados, revela-se ao espectador pelos tubos de vidro que atravessam todo o espaço expositivo. Diferentemente de outros trabalhos com vapor d’água, como a artista realizou no MuBE e no Beco do Pinto, em São Paulo, nesta instalação o vapor é anunciado antes de se dispersar no ar. Assim os visitantes podem assistir à fumaça em situação também de controle, antes de ser tragado por ela.
O poeta carioca, Carlito Azevedo, destaca em seu texto que, Laura Vinci, com seus trabalhos sensíveis aos diferentes estados e vibrações da matéria, sabe, porém, que tudo é fumaça, cerração, névoa, nevoeiro. “Uma neblina que aqui, em Morro Mundo, tem marés altas e marés baixas e nos submete a constante flutuação do ponto de vista. É quando a matéria do mundo em ondas nos dança. Quem diz cerração, diz limiar”, completa.
A instalação é composta ainda por objetos dourados, que pendem nas escoras distribuídas pelo espaço, ativando as noções da altura do teto e distância das paredes. “Esses pequenos objetos configuram-se como ampulhetas, bússolas, mapas e outras ferramentas de medição, que podem nos ajudar a seguir viagem”, sugere Laura. As peças carregam pequenas amostras de granada, pedras que, ao simbolizar impulso e determinação, evocam um desejo de transformação.
“E se há algo que flutua, levita, essas escoras em Morro Mundo parecem sugerir que há também algo que cai, ameaça desabar: o céu? o peso aéreo? a linha do horizonte? São escoras contra a desaparição? contra o nosso desamparo, se pergunta a artista? Sustentam a máquina do mundo? Quem diz escoras, diz catástrofe? Interessa descascar as várias camadas de uma pergunta, o mais vigorosamente possível. Mas quem ergue uma escora diz o ruir, a ruína. Morro Mundo é político e seu diálogo com a hora presente é intenso. O invisível, o desaparecido, aquele que necessita da proteção da pedra (granada), da nuvem de fumaça e da escora é de algum modo pensado aqui”, ressalta o poeta.
Azevedo lembra que, já em 2007, a instalação Ainda viva, na qual peças de mármore ao conviver, fixas, duradouras, mas não eternas, com as maçãs espalhadas rumo ao apodrecimento, mostrava que os atritos ou confrontos em Laura Vinci se dão em níveis sutis e complexos. “E não à toa se evoca aqui a instalação Ainda viva, cujo nome dialoga, dez anos depois, com este Morro Mundo, se lermos Morro mais como verbo, como às vezes sugere a artista, do que como substantivo. Morro Mundo Ainda Viva. Ainda Viva Morro Mundo”, conclui.
Laura Vinci nasceu em 1962 em São Paulo, onde vive e trabalha.
Participou de diversas exposições individuais e coletivas desde a década de 1980, destacando-se: Pinacoteca do Estado, São Paulo, Brasil; Bienal de São Paulo, Brasil; Bienal de Cuenca, Equador; Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brasil; Malba, Fundación Constantini, Buenos Aires, Argentina; ArtCenter/South Florida, Miami, EUA; Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil; Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, Brasil; Museo Del Barrio, Nova York, EUA; MAC Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, Brasil; Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil; RMIT University, Melbourne, Australia; Fundação Caloste Gulbenkian, Lisboa, Portugal; Haus der Kulturen der Welt: HKW, Berlim, Alemanha
Coleções que possuem seus trabalhos: Inhotim, Brumadinho, Minas Gerais, Brasil; Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, Brasil; Museu de Arte de Brasília, Brasil; Centro Cultural São Paulo, Brasil; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, Brasil; Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil; Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil; Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil.
Brígida Baltar na Nara Roesler, São Paulo
A Carne do Mar, individual de Brígida Baltar inaugura o calendário 2018 da Galeria Nara Roesler, em São Paulo, simultaneamente a Morro Mundo, de Laura Vinci.
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Segundo a artista carioca, está na sua memória da infância, quando, ao procurar conchas perfeitas nas areias de Copacabana e encontrar apenas fragmentos, o despertar desta série inédita que apresenta na sede paulistana da galeria. “Foi a partir dos fragmentos - cacos da decepção - que descobri as formas orgânicas e aprendi sobre a potência da incompletude”. Baltar acrescenta que ao desenvolver estas obras pensava no sentido da palavra quimera, em seus significados: devaneio, ficção, monstro mítico, peixe.
Em sua produção, a artista costuma investigar o universo feminino e íntimo, extraindo as camadas escondidas nas arquiteturas do mundo, frequentemente a partir de elementos orgânicos e naturais. Já utilizou materiais retirados da sua própria casa - tijolos, saibro, poeira e cascas de tinta -, investigou o sistema das abelhas e capturou a neblina e o orvalho. Agora, também no rastro onírico da memória, Baltar faz do oceano seu espaço íntimo. “Pensado no mar e na palavra quimera descobri que nas profundezas todos os seres são híbridos”, diz.
Em a Carne do Mar, com curadoria de Marcelo Campos, a artista traz 12 esculturas de cerâmica ou porcelana esmaltadas, realizadas em 2017. As obras imprimem narrativas diversas em elementos do universo marinho. Diferentes significados são atribuídos a conchas, como em A concha triste, O berro da concha, A concha fantasma ou na série Vaginas. Em outras, como em As lambidas do mar, ela cria esculturas que remetem a ornamentos da porcelana portuguesa, como a resgatar um mar histórico, o mar que nos descobriu.
“Das experimentações, além do interesse por buscar cores abissais, as peças apresentam uma riqueza nos avessos rosas e azuis profundos. Aproximam-se, então, formas e elementos corpóreos, quase-órgãos, como vaginas, bocas, narizes, olhos. A artista se coloca a perscrutar as queimas do material e suas surpresas, a mudança de brilho e tonalidade, as fissuras, a transparência”, afirma o curador.
Brígida Baltar (1959, Rio de Janeiro) vive e trabalha no Rio de Janeiro, onde fez sua formação na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Deu início a sua carreira na década de 1990, com pequenos gestos poéticos em sua casa e ateliê. Participou de diversas bienais, entre elas a 25ª Bienal de São Paulo (2002); 17ª Bienal de Cerveira, em Cerveira, Portugal (2013); The Nature of things — Biennial of the Americas, em Denver, EUA (2010); Panorama de Arte Brasileira (Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brasil (2007) e 5ª Bienal de Havana, em Cuba (1994). Seus trabalhos foram apresentados em diversas exposições internacionais, como: Cruzamentos: Contemporary art in Brazil, Wexner Center for the Arts, Columbus, EUA (2014); SAM Art Project, Paris, França (2012); The peripatetic school: itinerant drawing from Latin America, Middlesbrough Institute of Modern Art, Inglaterra, (2011); Museo de Arte del Banco de la República, Bogotá, Colômbia, (2012); e Constructing views: experimental film and video from Brazil, New Museum, Nova York, EUA (2010). Sua obra está representada em diversas coleções, incluindo: Colección Isabel y Agustín Coppel, Cidade do México, México; Museum of Contemporary Art, Cleveland, EUA; Fundação Joaquim Nabuco, Recife, Brasil; Middlesbrough Institute of Modern Art, Middlesbrough, Inglaterra; Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil; Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil; entre outras.
Galeria Nara Roesler | São Paulo presents A Carne do Mar [The Flesh of the Ocean], solo show by artist Breigida Baltar curated by Marcelo Campos in which the artist presents 12 sculptures of ceramics or enameled porcelain created in 2017.
According to the Rio de Janeiro artist, the seed for this new series came from a childhood memory, when, searching for perfect seashells on the sands of Copacabana, she found nothing but fragments. "It was in the fragments - shards of disappointment - that I discovered the organic shapes and learned of the power of incompleteness." Baltar adds that by developing these works she was thinking of the meaning of the word "chimera" in its many contexts: daydream, fiction, mythical monster, fish.
In her body of work, the artist often investigates the intimate feminine universe, mining the hidden layers in the architectures of the world, frequently starting from natural, organic elements, Baltar makes the ocean her intimate space. "Thinking of the ocean and the word chimera, I discovered that in the depths all beings are hybrids," she says.
fevereiro 9, 2018
Tomie Ohtake na Nara Roesler, Rio de Janeiro
Esta exposição na sede carioca da Galeria Nara Roesler abre mais uma chave para alcançar o pensamento plástico da consagrada artista brasileira, ao trazer uma pesquisa inédita do curador Paulo Miyada. Debruçado no material arquivado por Tomie em sua casa-ateliê, Miyada encontrou cadernos de estudos, praticamente desconhecidos, mesmo no circuito das artes, nos quais pequenas colagens revelam como se iniciava a experimentação pictórica da artista. A mostra – que no Rio recebe nova composição de obras, depois de passar pelo espaço paulistano da galeria em 2017 – ao exibir esses cadernos, constrói uma ponte entre os estudos, treze pinturas e algumas gravuras, das décadas de 1960 a 1980.
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Os delicados estudos eram feitos a partir de um procedimento singular: rasgar, cortar e colar recortes de papéis comuns do dia-a-dia, como revistas, convites, jornais, folhetos etc. “Prestar atenção nessa processualidade de Tomie Ohtake é ganhar acesso aos vínculos de sua pintura com o acaso, a gestualidade e a ousadia cromática”, assinala o curador.
Miyada aponta que os diminutos estudos são um recurso consistente e recorrente na obra da artista até meados da década de 1980. “As composições encontradas serviam de roteiro para pinturas e gravuras que experimentavam diferentes escalas e combinações cromáticas. É como se a prancheta com papéis recortados fosse uma zona de mineração de formas e encontros de cores”, observa o curador.
Em suas composições da década de 60, Tomie rasgava os pedaços de papel para criar a gênese de suas pinturas. “As figuras, no caso, assemelham-se a formas geométricas simples, porém de contornos tremeluzentes; guardam a memória de terem sido rasgadas com a ponta dos dedos”, ressalta o curador. Já na década de 1970, quando as pinturas começaram a lidar com formas de contornos mais nítidos, os estudos também se transformaram, pois a artista passou a utilizar a tesoura – e nunca régua e estilete – para cortar os papéis. “Era uma forma de lidar com a instantaneidade do gesto e impregnar todo o processo de pintura com seu equilíbrio entre acaso e controle”.
Segundo o curador, ainda, as texturas da pintura, surpreendentemente, muitas vezes nascem na própria colagem, apropriadas de materiais fotográficos diversos. “A paleta cromática também se expande, num corpo a corpo com o cromatismo de uma época que flertava com a psicodelia”, completa.
Held at Galeria Nara Roesler's Rio de Janeiro affiliate, this exhibition opens yet another key front in understanding the visual thoughts of the consecrated Brazilian artist by introducing a new study conducted by curator Paulo Miyada. Focusing on material stored by Tomie in her studio-home, Miyada found notebooks of studies that were virtually unknown, even in the art circuit, containing small collages that reveal how the artist's pictorial experimentations began. By displaying these notebooks, the exhibition – which now features a new configuration of works in Rio after a run at the gallery's space in São Paulo in 2017 – builds a bridge between the studies, 13 paintings and a handful of engravings spanning from the 1960s to the '80s.
The delicate studies were created through a singular procedure: the ripping, cutting and pasting clipping of ordinary papers of everyday use, like magazines, invitations, newspapers, brochures, etc. “By paying attention to the nature of Tomie Ohtake's procedure here we are granted access to the connections her painting has with chance, gesture and chromatic boldness,” notes the curator.
Miyada points out that miniature studies are a consistent and recurring resource employed in the artist's work up until the 1980s. “The found compositions served as the guidelines for paintings and engravings that experimented with different sizes and chromatic combinations. It is as if the drawing board with clippings of paper were a mining zone for shapes and color combinations,” he adds.
For her compositions in the 1960s, Tomie ripped pieces of paper to create the genesis of her paintings. “The figures, in this case, resemble simple geometric shapes, though with fuzzy contours; they hold the memory of having been ripped with the fingertips,” the curator emphasizes. Then in the 1970s, when her paintings began to employ shapes with more defined contours, the studies also transformed, being that the artist went on to utilize scissors – never ruler and razor – to cut the paper. “It was a way to address the instantaneousness of gesture and impregnate the entire painting process with this balance between happenstance and control.”
Furthermore, according to the curator, the textures of the paintings, surprisingly, are often times born out of the collage itself, appropriated from a variety of photographic materials. “The chromatic palette also expands, mirroring the chromaticism of an era that flirted with psychedelia,” he concludes.
Nós / Ninguém + 55 Ocupa na Casa Nova Arte, São Paulo
Para dar a largada para o inicio de 2018 a Casa Nova preparou duas mostras coletivas que inauguram no dia 22 de Fevereiro.
A exposição Nós / Ninguém apresenta um panorama de obras que abordam temas sobre coletividade, apropriação e o uso da paisagem por artistas contemporâneos de vários países como Brasil, Estados Unidos, Espanha, Chile e Colômbia. São eles: Alice Quaresma, Carla Chaim, Courtney Smith, Eric Shaw, Enrique Radigales, Guilherme Callegari, Gian Spina, Lina Kim, Martin La Roche, Santiago Reyes Villaveces e Tatiana Blass.
Através do uso da fotografia, escultura, objeto e pintura os artistas selecionados criam uma discussão sobre como a sociedade hoje levanta problemas que levam a uma errônea interpretação para as relações humanas e qual a função da obra de arte e a responsabilidade dos artistas nos dias de hoje.
Essas intempéries e limites impostos para a interpretação e apropriação de conceitos são, por hora, ainda pouco aceitos pela grande maioria da sociedade fazendo com que estes artistas trabalhem na margem de suas contestações para refletir qual a potencialidade da arte para nossos dias de intolerância.
Paralelamente a 55 SP estará na sala de projetos da Casa Nova dando inicio a colaboração entre os dois espaços com a coletiva 55 Ocupa, apresentando os artistas Bruno Palazzo, Fábio Morais, Fábia Schnoor, Judith Lauand, Juliana Kase, Keila Alaver, Ricardo Alcaide.
O destaque esta para o lançamento da obra “SAÍDA”, produzida pelo artista Fabio Morais que integra a mostra. Esta obra mimetiza as placas de teto que orientam a circulação de prédios ou de lugares de uso público apropriando-se da estética dessas peças de comunicação visual. O artista usa também seu espaço de escrita funcional para compor uma obra de natureza narrativa em dialogo com as outras obras expostas na coletiva.
A 55SP tem como princípio difundir a arte contemporânea, fomentando o novo colecionismo e a relação do comprador com arte e com a produção artística. Para isso trabalhamos divulgando novos artistas e também artistas consolidados, produzindo com o suporte de curadores, edições limitadas e exclusivas de obras. Nossa premissa é mostrar que a arte pode ser acessível.
fevereiro 8, 2018
É um solo que os outros acompanham no MAB Centro - FAAP, São Paulo
Edifício Lutetia recebe mostra dos artistas da primeira turma da pós-graduação em Práticas Artísticas Contemporâneas da FAAP
Os artistas da primeira turma do curso de pós-graduação em Práticas Artísticas Contemporâneas da Fundação Armando Alvares Penteado - FAAP convidam para a mostra É um solo que os outros acompanham. A coletiva reúne trabalhos em diversas linguagens assinados por dez nomes: Carolina Velasquez, Duxo Durazzo, Júlia Milaré, Malka Borenstein, Marietta Toledo, Miriam Bratfisch Santiago, Natasha Barricelli, Pedro Guedes, Roberto Vietri e Sofia Saleme.
A abertura à visitação para o público será no dia 17 de fevereiro de 2018, a partir das 11 horas, no Edifício Lutetia, prédio da década de 1920 de Ramos de Azevedo, localizado na Praça Patriarca, no centro de São Paulo. A mostra, que poderá ser visitada de quinta a sábado durante um mês, terá uma programação intensa com performances e conversas com os artistas.
É um solo que os outros acompanham apresenta o resultado de dois anos de intenso processo de troca e imersão na pesquisa em arte, cuja tônica foi a experimentação aliada a um engajamento constante do artista enquanto formulador de pensamentos – o que levou ao desenvolvimento de ensaios que convivem com os trabalhos visuais. Gestos intensos de partilha marcaram também os diálogos entre os estudantes e os professores - artistas e curadores: Andrea Tavares, Galciani Neves, Lívia Aquino, Marcos Moraes, Paulo Miyada, Regina Parra, Ronaldo Entler, Thiago Honório, entre outros.
O título da mostra é uma apropriação de um trecho de uma entrevista ao filósofo Gilles Deleuze. Quando questionado sobre possíveis rivalidades com Michel Foucault, Deleuze confessa que, embora nunca tivessem trabalhado juntos, ele sabia que quem seguia Foucault e assistia às suas aulas, vivenciava sua intensidade. Tratava-se de uma troca ressonante, como devem ser as “belas aulas” ou como se dá num concerto musical: “é um solo que os outros acompanham”.
fevereiro 6, 2018
Queermuseu no Parque Lage - Financiamento Coletivo
Queermuseu no Parque Lage: Vamos juntos reabrir a exposição e reestabelecer o diálogo interrompido!
A primeira exposição com uma abordagem exclusivamente queer já realizada no Brasil foi censurada e encerrada pelo banco Santander, com apenas 26 dias de mostra, depois de uma campanha difamatória nas redes sociais.
A censura se tornou ainda mais grave quando Marcelo Crivella, prefeito do Rio, misturou política com moralismo e feriu os princípios da democracia ao afirmar (sem consulta!) que a população carioca não queria a exposição. Ninguém nos perguntou nada e chegou a hora de respondermos mesmo assim.
Com curadoria de Gaudêncio Fidelis, foi concebida como uma plataforma de debate e diálogo sobre questões de expressão e identidade de gênero, diferença e diversidade, incluindo a diversidade da forma artística.
Reabrir Queermuseu e o diálogo em torno dela é uma resposta contra o autoritarismo e a censura.
Para realizar a exposição, criamos uma campanha de financiamento coletivo, que, por si só, é uma ferramenta de diálogo e legitimidade do projeto. A exposição acontece se, juntos, quisermos que ela aconteça.
A arrecadação é tudo ou nada. Precisamos alcançar a meta até o final do prazo para receber o dinheiro, entregar as recompensas, realizar a exposição e reabrir o debate.
Caso contrário, o dinheiro volta integralmente para os apoiadores e o projeto não acontece. Convidamos você a se engajar na reabertura da mostra como forma de restabelecer um diálogo aberto, público e respeitoso entre todos e para todos.
É sobre poder olhar e dialogar de forma ampla e aberta sobre as questões que nos tocam como indivíduos e sociedade, com empatia e respeito à opinião e à liberdade de expressão. É sobre resistência.
A exposição, composta por 263 obras de 85 artistas brasileiros, percorre um arco histórico do final do século 20 até a contemporaneidade nas mais diversas modalidades artísticas, estéticas e geracionais da produção artística de todo o país. Queermuseu também representa a primeira exposição com uma abordagem exclusivamente queer da América Latina. Não podemos deixar que calem uma mostra com tamanha representatividade e pioneirismo.
Contribua e compartilhe a campanha e vamos juntos combater a censura e o falso moralismo!
Henrique Detomi na BDMG Cultural, Belo Horizonte
Natureza e arquitetura se relacionam na exposição de Henrique Detomi
Participante da residência artística promovida pela Red Bull Station, em São Paulo, o artista mineiro apresentará pela primeira vez “Espaço Transitório”
Durante a sua participação na residência artística do Red Bull Station, em São Paulo, o mineiro Henrique Detomi girou uma nova chave em seu processo criativo. Habituado a criar intervenções em paisagens previamente idealizadas, nas quais o artista inventava uma paisagem (natureza) para depois acrescentar estranhos volumes remetendo a arquiteturas futurísticas, ele inverteu o processo. Agora, a silhueta dos prédios em sua volta compõem a primeira camada semântica, e é a natureza, ainda inventada, que se relaciona com a arquitetura, neste caso, verossímil e mimética.
Esta mudança de foco experimentada por Detomi destaca o quanto o contexto e a perspectiva sob a qual opera o pensar são determinantes na construção de visões de mundo. No dia 2 de fevereiro, às 19h, ele vai inaugurar a exposição inédita de pinturas, desenhos e objetos Espaço Transitório, com curadoria de Fernando Velázquez, na Galeria de Arte BDMG Cultural. O acesso é gratuito.
A exposição ficará aberta à visitação até o dia 6 de março, diariamente, inclusive sábados, domingos e feriados, de 10h às 18h. Às quintas, o horário é estendido: de 10h às 21h.
Henrique Detomi participou da 13ª residência Artística do Red Bull Station, no ano passado, quando deu início às obras que serão apresentadas na galeria do BDMG Cultural. “A residência no Red Bull Station é um projeto internacional. Fiz a inscrição, fui selecionado e fiquei dois meses em um ateliê desenvolvendo o meu trabalho. Lá, utilizei novas tecnologias para a produção das obras, como a impressora 3D”, explica Detomi.
O principal objetivo do projeto era fazer com que os artistas se relacionassem com o que há na metrópole, fora do prédio onde passaram os 60 dias. “A minha produção foi influenciada pela arquitetura e pelas paisagens urbanas. Iniciei esse processo criativo lá e, no decorrer do ano, após a minha participação, dei continuidade a esse processo para chegar ao resultado desta exposição individual que agora será apresentada em minha cidade natal, Belo Horizonte”, completa.
A curadoria de Espaço Transitório ficou à cargo de Fernando Velázquez, responsável pela curadoria do projeto paulista. Ele organizou as obras que fazem um recorte da paisagem da cidade com a inserção de elementos da natureza, que sugerem movimento, como os slides de cores vivas que emergem da terra ou do céu.
Henrique Detomi se formou em artes plásticas na Escola Guignard (UEMG), em 2010. No ano passado, iniciou seu mestrado em artes visuais pela Escola de Comunicação e Artes (ECA), em São Paulo. Ainda em 2017, participou do curso de “Pintura: Prática e Reflexão”, com Paulo Pasta, no Instituto Tomie Ohtake, na capital paulista. Realizou exposições individuais e coletivas em Minas Gerais e fora do estado.
Daniel Frota na Iberê Camargo, Porto Alegre
No próximo sábado, 3 de fevereiro, a Fundação Iberê Camargo inaugura a exposição Sol Preto, do artista carioca Daniel Frota. A abertura será marcada por uma visita guiada pelo próprio artista, às 16h. A entrada é franca.
A mostra parte da pesquisa do artista sobre uma expedição científica realizada em 1919, na cidade de Sobral, no sertão do Ceará, que teve o objetivo de observar e documentar um eclipse solar. As instalações, esculturas, gravuras e vídeo presentes na exposição investigam o impacto causado pela presença dos pesquisadores britânicos na população local, evocando o choque entre crenças religiosas e científicas, e mostrando as relações de poder estabelecidas pelo contraste entre o avanço do conhecimento científico e a precariedade socioeconômica da região. Com curadoria do artista, Sol Preto fica em cartaz até 08 de abril (confira horários e outras informações no serviço).
Situado entre a pesquisa histórica, a investigação plástica e a especulação filosófica, o projeto de Daniel Frota se debruça sobre o eclipse solar que fez o mundo escurecer por uma fração curtíssima de tempo, e que relativizou não apenas as leis da física formuladas até então, mas toda a dinâmica política e cultural daquele povoado. A expedição científica dos astrônomos britânicos em Sobral resultou no início da física moderna, inaugurando a unificação das noções de espaço-tempo, e seu registro fotográfico foi usado na comprovação da Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein.
Mas, para além das questões científicas, o interesse do artista e sua pesquisa reside na colisão entre dois mundos, que acabou por resultar em um sem-fim de causos e anedotas reveladoras desse episódio histórico. Muito supersticiosos, os moradores de Sobral passaram a suspeitar que o eclipse anunciaria o fim do mundo, pestes e inundações. A imprensa local da época, em vez de desfazer a mística em torno do eclipse e da expedição de astrônomos, optava por “traduzir” o discurso científico em textos “informativos” que, em alguma medida, acabavam por reiterar o fundamentalismo catolicista.
O conflito entre as crenças religiosa e científica aparecem, por exemplo, no vídeo Sol preto (HD, 23 min), que explora os acervos do Museu do Eclipse e do Museu Dom José, ambos localizados em Sobral. Com linguagem documental, a obra narra a história por meio de um duelo entre dois repentistas, que improvisam versos sobre a expedição, o eclipse, o medo, o atraso e o início da modernidade.
Para o curador da Fundação Iberê Camargo, Bernardo de Souza, os descompassos do processo histórico que embalam a humanidade apenas se tornam ainda mais evidentes na obra de Daniel Frota. “Esclarecedora em seu mutismo aparente, Sol Preto nos lança em uma viagem no tempo e no espaço, numa dimensão que corre em paralelo a essa que chamamos presente”, afirma em texto crítico sobre a exposição.
A exposição Sol Preto foi exibida pela primeira vez em São Paulo/SP, no ano de 2017. Selecionada para a Temporada de Projetos do Paço das Artes, a mostra foi apresentada no MIS – Museu da Imagem e do Som. Confira aqui a entrevista realizada pelo curador Bernardo de Souza com o artista.
Daniel Frota (1988, Rio de Janeiro) é formado em design gráfico pela PUC-Rio, tem pós-graduação pela Escola Nacional de Belas Artes de Lyon, França, e mestrado em Tipografia e Práticas Editoriais pelo Werkplaats Typografie, do ArtEZ Institute of the Arts, em Arnhem, Holanda.
Entre as exposições recentes, destacam-se a exposição individual Irrealis Mood (2016), na Fondazione Sandretto Re Rebaudengo, em Turim, Itália; e as coletivas Paraphernalia (2016), no Musée des Confluences, em Lyon; e Panoramas do Sul (2015), no 19º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, em São Paulo.
fevereiro 4, 2018
Resistências na Luciana Brito, São Paulo
A Luciana Brito Galeria tem o prazer de inaugurar seu programa expositivo de 2018 com a exposição coletiva Resistências, um tributo às artistas mulheres de seu elenco de representações: Fabiana de Barros (n. 1957, São Paulo) & Michel Favre, Liliana Porter (n. 1941, Buenos Aires), Marina Abramović (n. 1946, Belgrado), Paula Garcia (n. 1975, São Paulo), Regina Silveira (n. 1939, Porto Alegre) e Rochelle Costi (n. 1961, Caxias do Sul). Face à proeminência que os temas relativos às mulheres, sua produção e seus direitos têm tomado na esfera pública global e com o intuito de contribuir com este diálogo, a mostra tem abertura no dia 3 de fevereiro, sábado, e a visitação segue até 24 de março.
Nestes tempos paradoxais em que a maior visibilidade das causas feministas anda ao lado do recrudescimento de políticas contrárias aos direitos das mulheres, a Luciana Brito Galeria – que é, cabe lembrar, dirigida por mãe e filha – toma o título de sua curadoria de uma série homônima de Fabiana de Barros. Resistências une pela primeira vez em um mesmo contexto expositivo a produção dessas seis mulheres, permitindo a percepção de que suas pesquisas e poéticas singulares são perpassadas por certos temas em comum, os quais, em geral, estão fortemente presentes na produção artística de mulheres da segunda metade do século XX e do XXI: o corpo (seja a mobilização do corpo em si, como no caso de performances, ou o conceito de corpo e a materialidade de seus vestígios no mundo); e a memória e o espaço doméstico, ambos em sua pluralidade de conotações (afetivas, sociais e políticas).
Como mencionado acima, o duo Fabiana de Barros & Michel Favre está presente na exposição com fotografias nunca antes exibidas na Galeria da série Resistências – registros térmicos de desenhos realizados com resistências elétricas que diluem as barreiras entre diferentes linguagens artísticas. Já a argentina Liliana Porter é representada por uma série de fotografias em preto e branco de pequenos bibelôs domésticos sobre os quais ela realiza intervenções (adornando-os com roupas ou máscaras), com uma irreverência leve e bem-humorada que por si só remete à memória afetiva da infância.
São apresentadas pela primeira vez na Luciana Brito Galeria esculturas em grandes dimensões da série Dobras, de Regina Silveira, peças que apenas quando vistas do ângulo exato permitem a visualização do objeto cuja imagem emulam. Fotografias da série Enigma da mesma artista, em que objetos de uso doméstico sofrem interferências de misteriosas sombras, estabelecem um interessante diálogo com as fotografias da série Uma Festa, de Rochelle Costi. Nestas imagens que aludem ao mundo doméstico e à infância, vemos espaços oníricos dos quais as figuras humanas já se ausentaram, deixando para trás os rastros de seus corpos e de suas atividades.
Por fim, Marina Abramović e Paula Garcia, expoentes de duas gerações de performance (Garcia foi uma das pupilas de Abramović), contribuem com obras que problematizam, de maneiras distintas, o corpo enquanto suporte direto para a arte. Enquanto as peças selecionadas de Abramović apresentam questões relativas ao erotismo e à sensualidade, a performance Corpo-Ruído de Paula Garcia explora a violência a que o corpo é submetido em embates pela reconstrução ou desconstrução de espaços (seja este entendido de maneira direta ou metafórica).
Coletivo Lâmina na CAL, Brasília
A atmosfera de guerra que invadiu o espaço urbano no Brasil, nos últimos anos; a inquietação produzida por esse cenário e a matéria cotidiana deslocada de suas funções são a marca dos trabalhos dos três artistas que ocupam os espaços da Casa da Cultura da América Latina da UnB, a partir de 7 de fevereiro, selecionados por meio da Convocatória 2017.
O artista multimídia e produtor musical, João Mascaro, e a pesquisadora e artista visual, Gabriela De Laurentiis, que compõem o Coletivo Lâmina, ocupam a galeria Acervo com Camadas: narratividades visuais da violência. As imagens, produzidas com equipamentos fotográficos analógicos, digitais e até celulares, mostram não só a agressão policial, como, também, a intimidação das tropas de contenção, que impediam as pessoas de circular pelas ruas, especialmente de São Paulo, e das armas que, mesmo não disparadas, provocavam pânico na população.
O material produzido, em diferentes momentos, além de expressar as sensações geradas por essa experiência, dialoga com a história da fotografia. As imagens com texturas variadas, combinando diferentes mídias e utilizando impressões caseiras e fine art, além de projetores, ampliadores e lanternas mágicas, foram divididas nos eixos: Controles, Contenções, Acusma, Luzes, Suporte, Sufocamentos, Choque, Tomos, Marcha e Mímese.
Dia 6 de fevereiro, Gabriela De Laurentiis faz palestra, às 19h, no Auditório Gonzaguinha da CAL (térreo), sobre Louise Bourgeois e modos feministas de criar, sua dissertação de mestrado defendida na Universidade de São Paulo – USP, com entrada franca.
Carlos Garaicoa no Porto Seguro, São Paulo
A exposição traz aprodução recente de um dos mais conceituados artistas latino-americanos da contemporaneidade. Os trabalhos apresentados propõem reflexões acerca das relações entre arquitetura, urbanismo e geopolítica
Em que medida a arquitetura pode ser entendida como moldura de uma sociedade? Quais os papéis desempenhados pela disciplina num contexto de urbanização? Como ela se curva a eventuais pressões políticas, ideológicas ou mesmo sociais? Essas são algumas das indagações que cercam e estruturam a obra de Carlos Garaicoa, artista multidisciplinar cubano que, entre 7 de fevereiro e 6 de maio, tem seu trabalho celebrado pelo Espaço Cultural Porto Seguro.
Com curadoria de Rodolfo de Athayde, a mostra Carlos Garaicoa: ser urbano reúne 8 trabalhos do artista.Entre instalações, vídeos, fotografias, maquetes e desenhos, as obras apresentam a viagem criativa do autor, para quem a cidade tem papel fundamental. O artista constroi uma poética, que coloca em contraste questões sociais, econômicas e políticas que impactam diretamente na formação das subjetividades e dos conhecimentos do mundo contemporâneo.
“A obra de Garaicoa é, literalmente, a construção física de modelos de espaços utópicos ou reais e a conjugação inusitada de símbolos que constituem também um agudo exercício de conhecimento dos fenômenos humanos, no seu contexto contemporâneo por excelência: a cidade moderna”, afirma o curador, destacando que a mostra ganha força em São Paulo, “uma cidade símbolo da utopia urbana e arquitetônica mundial”.
Para o artista, toda utopia é construída de modo a superar as limitações do presente. Paradoxalmente, entretanto, ela já nasce carregando o prenúncio de sua própria superação. O projeto de uma sociedade ideal entra em crise no instante em quese articula aum programa urbano grandiloquente. Tais questões são constantemente evidenciadas nos trabalhos de Garaicoa, que assume as contradições intrínsecas às diferentes correntes do modernismo como agentes catalisadoresde mudança e transformação social.
“Eu considero que a arquitetura é esse espaço onde posso discutir as ideias existenciais, políticas e históricas. Tenho um interesse muito grande pela fotografia e pela representação do espaço urbano em geral, porém tratando de encontrar outra problemática, mais próxima à ficção e à história", afirma Carlos Garaicoa. “Nessa deriva fui me aproximando da arquitetura e, por fim, necessitando trabalhar com arquitetos, em colaboração com uma equipe grande, tratando de convencê-los o tempo todo de que o que estamos fazendo é arte e não arquitetura”, completa.
A mostra abrange desde obras que se relacionam diretamente com o contexto cubano original do artista a produções feitas a partir do olhar de Garaicoa para as diferentes realidades do mundo, incluindo a brasileira. Exemplo do primeiro caso é a instalação Fin del Silencio[Fim do Silêncio] (2010), que traz um conjunto de tapeçarias que, somadas a duas projeções, estampam assinaturas de tradicionais estabelecimentos comerciais pré-revolucionários de Havana, capital de Cuba, ressignificadas pelo artista.
Já Saving the Safe [Trocadilho em inglês, “Safe”, “cofre” e também “protegido”, algo como “Protegendo o Protegido”](2017) conversa diretamente com o contexto brasileiro e apresenta uma escultura do Banco Central do Brasil em ouro colocada dentro de um cofre, fazendo alusão a um dos principais problemas da sociedade contemporânea na visão do artista: as crises geradas pelo mercado financeiro. A exposição também traz a recente instalação Partitura[Partitura] (2017), uma das mais longas criações do artista, desenvolvida durante cerca de 10 anos com a participação de mais de 70 músicos de rua.
[Abaixo, a descrição completa de todas as obras da mostra]
Sobre o artista
Nascido em Havana em 1967, Carlos Garaicoa sempre se interessou pelas intervenções do homem no espaço público. Em sua juventude, trabalhou como desenhista no exército, produzindo mapas. As técnicas que aprendeu nesse período foram empregadas em sua produção artística, iniciada em 1989, quando, aos 22 anos, ingressou no Instituto Superior de Arte.
Já em seus primeiros trabalhos, ele refletia sobre os usos da cidade e as possibilidades de construir alternativas aos modelos hegemônicos. O tema é constante em sua obra, marcada pelo uso de suportes distintos como vídeo, escultura, instalação e fotografia.
Sua obra integra a coleção de instituições renomadas como o Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia (ES), o Guggenheim Museum (EUA) e Tate Modern (UK). No Brasil, Garaicoa já participou da Bienal de São Paulo em 1998, 2004 e 2010. Sua instalação Ahora Juguemos a Desaparecer II [Agora brinquemos de desaparecer II] faz parte do acervo do Instituto Inhotim. O artista teve ainda seu trabalho reverenciado por mostras em importantes instituições culturais do país, entre as quais a Caixa Cultural Rio de Janeiro, a Escola de Artes Visuais do Parque Lage e o Museu de Arte Moderna de São Paulo.
Garaicoa é hoje um dos artistas mais respeitados do circuito contemporâneo internacional, embora mantenha o vinculo referencial criativo com Cuba. Sua obra abre um leque de temáticas universais, que refletem a experiência de uma vida de viagens contínuas, alternadas com sua estadia dividida entre seus estúdios de Madri e Havana. O artista fundou ainda o programa de residência artísticas “Artista x Artista”, que estimula um diálogo reflexivo sobre arte e outros temas caros à cultura contemporânea, além de promover novos artistas.
Sobre o curador
Formado em Filosofia pela Universidade Estatal de Moscou (M. V. Lomonosov), Rodolfo de Athayde é curador e produtor cultural. Fundador da “Arte A Produções”, ele é responsável por mais de vinte projetos expositivos nos últimos 10 anos.
Como curador, teve ao seu cargo mostras de grande repercussão de público e da crítica, tais como Los Carpinteros: Objeto Vital;Construções Sensíveis: A experiência geométrica latino-americana coleção Ella Fontanals-Cisneros; A Virada Russa: A Vanguarda na coleção do Museu Estatal Russo de São Petesburgo; Islã: Arte e Civilização; Kandinsky: Tudo começa num ponto;Arte de Cuba, entre outras.
Relação de obras da exposição
Fin del Silencio[Fim do silêncio] (2010)
Conjunto de tapeçarias que, somadas a duas projeções, estampam no chão assinaturas de tradicionais estabelecimentos comerciais pré-revolucionários da capital de Cuba, Havana. A obra faz alusão a um passado marcado tanto pela fartura de determinados grupos quanto pela desigualdade social. Os textos e símbolos originais são alterados e ressignificados pelo artista: Reina [”Reina”, imperativo de “reinar”], por exemplo, vira Reina destruye o redime [Reina, destrói ou redime]; enquanto La lucha [A luta] torna-se La lucha es de todos [A luta é de todos].
Portafolio [Portfólio](2013)
Instalação onde Garaicoa expõe oito pranchas de latão gravadas com palavras que estamparam as bandeiras e faixas de recentes manifestações populares relacionadas à crise econômica em países como Irlanda, Grécia, Chipre, Portugal, Espanha e Itália, entre outros.
Wer im Glashauss sitzt...[Quem tem telhado de vidro] (2013)
A instalação traz uma representação do Haus der Kunst, edifício icônico de Munique, construído durante o governo de Hitler para abrigar a "verdadeira" arte alemã, em oposição à artedas chamadas vanguardas, tida pelos nazistas como "arte degenerada". Com o uso do vidro translúcido e do metalna construção da peça – materiais bastante utilizados pela arquitetura moderna –, o artista subverte a lógica nazista de construir em pedra e em estilo neoclássico. A obra é uma antítese do prédio original, que nessa versão modernista ganha ares do vanguardismo ao qual se opunha.
Infamous Hidden Houses [Infames casas ocultas] (2014)
Série de quatro desenhos que retratam casas de personalidades tristemente famosas do mundo contemporâneo: o terrorista Osama Bin Laden, a fraudadora financeira norte-americana Ruth Madoff, o empresário espanhol acusado de inúmeros crimes de corrupção Francisco Correa e o austríaco Josef Fritzl, figura que ganhou notoriedade internacional por ter mantido a própria filha em cativeiro por mais de 20 anos. Com um traço bastante sutil, o artista delineia tais edifícios, muitas vezes cobertos por uma vegetação exuberante, como se a natureza ajudasse a esconder esses refúgios do olho do público.
Aniversário(2015)
A instalação traz uma coleção de selos inspirada em um exemplar de 1940 desenhado por Richard Klein – artista alemão simpático ao regime nazista.A partir de uma fotografia de Heinrich Hoffmann, fotógrafo pessoal de Adolf Hitler, a estampa marcava as comemorações do 51º aniversário do ditador alemão. Na instalação, ele apresenta um conjunto de 37 selos, elaborados a partir de retratos de figuras políticas internacionais. Na exposição, cada selo é colocado sob uma lente de aumento individual.
Partitura(2017)
Grande instalação desenvolvida ao longo de 10 anos com a participação de mais de 70 músicos de rua. A obra é formada por um conjunto de pedestais com tablets e fones de ouvido, distribuídos pelo espaço como em uma orquestra sinfônica. Cada dispositivo apresenta um músico individual e seus diferentes instrumentos e especificidades, entre cordas, sopro, percussão, voz e composição. Ao centro, ocupando o lugar do regente, há um pequeno palco com três telas e caixas de som, por meio das quais a interpretação dos músicos pode ser apreciada como um todo.
Saving the Safe (Banco Central do Brasil)) [Jogo de palavras no inglês: “safe”, “cofre”, é também “salvo”, “protegido”. Algo como “Protegendo o Protegido”](2017)
Instalação que traz uma escultura do Banco Central do Brasil em ouro que, colocada dentro de um cofre, faz referência a uma das principais tensões da sociedade contemporânea, as das crises geradas pelo mercado financeiro. Ao mesmo tempoem que instiga desejo, a valiosíssima joia representa a ideia de uma instituição que também pode violentar, justamente por assegurar a si própria e seus interesses em detrimento das dificuldades vividas pelos indivíduos - em parte, ocasionadas por instituições como ela, inevitavelmente presas às flutuações do mercado financeiro e às especulações globais.
Abismo (2017)
A animaçãoestuda a convergência entre a gestualidade teatral de Hitler em seus discursos e sua conhecida obsessão pela música clássica. A melodia que serve de base à obra é uma interpretação de Quatuor pour la fin du temps (Quarteto pelo fim do tempo), peça composta por Olivier Messiaen enquanto estava confinado no campo de prisioneiros de guerra de Stalag VIII-A. A peça foi executada pela primeira vez em 1941, por Messiaen e outros três músicos detentos, no próprio campo de concentração, ante um público estupefato. As mãos reproduzem os gestos mais comuns de Hitler em seus inflamados discursos. Essa mímica alienada, de estéril regente de orquestra, se apresenta em dissonante convivência com a sonoridade vanguardista, nascida em resistência ao cativeiro.