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janeiro 31, 2018
Federico Herrero na Luisa Strina, São Paulo
‘Nascido em San José (Costa Rica), o trabalho de Herrero em tela e suas intervenções urbanas são organicamente coerentes, produzindo uma fantasia do dispositivo lugar/não-lugar (Robert Smithson) de um ponto de vista diferente. O dilema é familiar: como o estúdio pode ser re-imaginado na selva contemporânea, em diálogo com o brutalismo de edifícios de concreto, poluição e trânsito? Qual tipo de mensagem um pintor pode transmitir para uma metrópole sem se tornar diluído nas entranhas de seu caos insustentável?’ (Lisette Lagnado, 2017)
Em sua terceira individual - Pinacoteca Carnívora - na Galeria Luisa Strina, Herrero apresenta trabalhos inéditos: uma série de monotipias sobre papel e um grupo de pinturas monocromáticas; além das suas pinturas em grande formato.
As monotipias apresentam esquemas espaciais que não cumprem uma função representativa; para o artista o papel serve de espaço arquitetônico que informa as telas monocromáticas; expandido a linguagem do artista e criando novas possibilidades de leitura do trabalho. Sete telas pretas enquadram vazios, como se tivessem engolido quem contempla, fazendo-o olhar de dentro para fora.
Exposições individuais recentes incluem: ‘Language Melody’, Sies + Höke Galerie, Düsseldorf (2017); ‘Desordem Alfabético’, Galeria Luisa Strina, São Paulo (2015); Sies + Höke, Düsseldorf (2014); ‘Letras y Volúmenes’, Proyectos Monclova, Cidade do México (2014); ‘El espacio se construye’, Diablo Rosso, Cidade do Panamá (2013); ‘La terraza de Hanzel y Gretel’, La casa encendida, Madri (2013); ‘Aloha Amigo’, 21st Century Art Museum, Kanazawa, Japan (2012); ‘Catarata’, Proyectos Ultravioleta, Cidade da Guatemala (2011); Kunstverein Freiburg, Alemanha (2008) e CCA Wattis Institute for Contemporary Arts, São Francisco (2008).
Exposições coletivas recentes incluem: ‘Under the Same Sun: Art from Latin America Today’ – instalação site specific, South London Gallery, Londres (2016); ‘United States of Latin America’, MOCAD Museum of Contemporary Art, Detroit (2015); ‘Under the Same Sun: Art from Latin America Today’, Solomon R. Guggenheim Museum, New York (2014); ‘P33 Panorama da Arte Brasileira’, MAM-SP Museu de Arte Moderna, São Paulo (2013); Concepción41, Antigua, Guatemala (2013); ‘Una posibilidad de escape’, EACC de Castellón, Espanha (2013); Para/site, Hong Kong (2011) e Art Parcours, Basiléia (2011).
Seu trabalho é parte de coleções institucionais tais como the Solomon R. Guggenheim Collection, USA; Tate Collection, England; Philadelphia Museum of Art, USA; MUAC Museo Universitario de Arte Contemporáneo, Mexico City; CCA Wattis Institute for Contemporary Art, USA; Hara Museum of Contemporary Art, Japan; Museo Reina Sofía, Espanha; MAM-SP Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brazil; Ella Fontanels-Cisneros Collection, USA.
Abre-Alas na Gentil Carioca, Rio de Janeiro
No próximo sábado, dia 03 de fevereiro as 18h, A Galeria A Gentil Carioca, tem o prazer de apresentar as obras do 20 novos artistas e coletivos selecionados para o projeto ABRE ALAS, que está em sua décima quarta edição, nosso “ABRE ALAS 14”, este ano com a curadoria de Clarissa Diniz, Ulisses Carrilho e o artista Cabelo.
Os artistas e coletivos selecionados para o ABRE ALAS 14, foram: Allan Sieber, Amador e Jr. Segurança Patrimonial LTDA., Angela Od, Bia Martins, Caio Pacela, Danielle Cukierman, Enorê, Gustavo Torres, Ivan Schulze, João Paulo Racy, Kammal João, Leandro Eiki, Mariana Paraizo, Maxwell Alexandre, Nathalie Nery, Rafael Pagatini, Ricardo Villa, Thiago Ortiz, VAV- Vendo Ações Virtuosas e Yoko Nishio.
Além da exposição e performances que acontecerão de alguns artistas do ABRE ALAS 14, também serão realizados diversas ativações da Galeria A Gentil Carioca. São elas:
1- O lançamento da “Camisa Educação de n º 76” da artista Cristina Flores: "Mamilo Broche de Mamilo" é você usar seus mamilos feito broches.
2- A “Contaminação Encruzilhada Gentil”, desta vez a cargo da Companhia de Danças Orientais Maira Mattar, que propõe expressões corporais de interpretação científico-histórico-político, com uma linguagem de poesia através dança, de transformação na realidade não só individual como também social. Que nos contemplará com a ativação: “Djinis (invisível)”, performance de danças orientais, onde três danças serão apresentadas: a dança ritualística das Sacerdotisas em Hieróglifos, a dança do bastão com influências do árabe na zambra flamenca e uma performance de improviso com a interação da plateia.
3- O “Tradicional Concurso de Fantasias Gentil + desfile”
Quem tiver a melhor fantasia e performance leva uma cortesia para uma noite e meia de amores no motel Meu Cantinho!
Tirem suas fantasias do armário!
Breve histórico do ABRE ALAS
“O Edital ABRE ALAS 14, recebeu 360 inscrições que foram analisadas pelos curadores, Clarissa Diniz, Ulisses Carrilho, e o artista Cabelo, que selecionaram 20 artistas, considerando os portfólios e trabalhos enviados para galeria entre outubro e novembro de 2017.
Em 2004, final do primeiro ano de vida da galeria, Marcio Botner, Laura Lima e Ernesto Neto perceberam que tinham um tesouro em mãos: cerca de 200 portfólios recebidos de artistas de todo o Brasil. Com isto, eles decidiram que iriam aproveitar todo esse material em uma exposição que acontece desde 2005 – próxima ao carnaval.
O nome “Abre Alas” remete ao carro que inaugura o desfile das escolas de Samba. O projeto é uma exposição que nasceu com o intuito de abrir espaço para jovens artistas. Com o tempo, a exposição passou a incluir a participação de artistas do mundo todo.
A Gentil Carioca, funciona como uma vitrine, e se alegra ao ver que os artistas apresentados no projeto seguem seu caminho fazendo parte dessa rede maior.
Mais de 100 novos nomes participaram do projeto ao longo destes anos. Entre eles: Maria Nepomuceno, Guga Ferraz, Rodrigo Torres e Maria Laet.
Desde 2010 são convidados curadores para realizar a seleção dos trabalhos. Este ano para o comitê de seleção, convidamos Clarissa Diniz, Ulisses Carrilho, e Cabelo.
Vadios e Beatos na Galeria da Gávea, Rio de Janeiro
A Galeria da Gávea inaugura com a exposição Vadios e Beatos, a primeira de uma trilogia relacionada ao Carnaval brasileiro. Em cada ano galeria terá um curador convidado e a exposição será sempre inaugurada uma semana antes do sábado de Carnaval.
A mostra Vadios e beatos reúne cerca de 47 obras, entres eles dois vídeos (Bárbara Wagner e Benjamim Búrca/ Karim Aïnouz e Marcelo Gomes), e 45 fotografias de tamanhos variados, em cor e em preto e branco, em impressões de papel algodão e cópias vintage em gelatina de prata (impressas pelo artista na época em que as imagens foram feitas). As obras abrangem o período dos anos de 1970 até 2018.
A curadoria de Marcelo Campos tem como ponto de partida a afirmação de um dos primeiros teóricos da arte brasileira, Gonzaga Duque, do final do século XIX, que demonstrava desencantamento com o futuro para as artes no Brasil. O critico observava personagens sociais, capadócios de importância que viviam “à boêmia” , “tocando viola nos fados”, jogando capoeira. Assim, foi-se criando uma análise que, anos depois, configuraria uma das mais importantes compreensões sobre os modos como o Brasil lidava com ritos identitários, como o carnaval.
1ª Bienal de Arte Digital no Oi Futuro, Rio de Janeiro
Oi Futuro apresenta 1ª Bienal de Arte Digital com exposições, performances e simpósios sobre linguagens híbridas
Evento começa dia 5 de fevereiro, no centro cultural no Rio, com cerca de 20 artistas e estudiosos nacionais e estrangeiros
Em março, Bienal segue para Belo Horizonte com patrocínio da Oi e apoio cultural do Oi Futuro
O Oi Futuro apresenta a primeira edição da Bienal de Arte Digital, entre os dias 5 de fevereiro e 18 de março, no Oi Futuro, promovida pelo Festival de Arte Digital (FAD). A programação contará com exposições, performances e simpósios de cerca de 20 artistas de diferentes países que exploram o tema “linguagens híbridas”. A proposta da Bienal é se tornar uma agenda nacional de arte digital e mostrar a cada dois anos obras e exposições que reflitam temas sociais importantes, evidenciando que a arte possibilita à tecnologia exibir suas experiências sociais. Após sua estreia no Rio, a Bienal segue para Belo Horizonte, onde a programação ocorrerá entre os dias 26 de março e 29 de abril no Conjunto Moderno Da Pampulha - Museu de Arte da Pampulha (MAP), com patrocínio da Oi e apoio cultural do Oi Futuro.
Artistas do Brasil, Chile, China, Espanha, Estados Unidos, Itália, México e Reino Unido foram selecionados para essa primeira Bienal de Arte Digital. Seus trabalhos têm como finalidade refletir e trazer para debate a experimentação de novas linguagens artísticas com o uso de novas ferramentas e tecnologias. Entre os trabalhos participantes estão temas como o uso da tecnologia de célula de combustível microbiana para obter eletricidade de bactérias anaeróbicas e componentes orgânicos na água, experimento do cientista e artista brasileiro radicado na Holanda Ivan Henriques, que é o destaque conceitual da Bienal, com uma discussão e problematização da sociedade e da relação do homem e o seu meio. A palestra de abertura da Bienal será realizada por Diana Domingues, pioneira no Brasil na relação de arte com ciência.
A Bienal também contará em sua programação com um simpósio internacional, com a presença do americano Joe Davis, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e do Departamento de Genética de Harvard, que mostrará sua visão sobre o híbrido (artista e cientista), no dia 6 de fevereiro. Davis é pioneiro de trabalhos de arte e biologia molecular e arte espacial inclusive em parceria com a NASA. O evento ainda terá oficinas do programa educativo nas exposições, palestras ministradas por profissionais das artes, ciência e tecnologia e de artistas convidados, como o chileno Daniel Cruz, da Universidad de Chile, que vai expor a obra “Bloques Erráticos”, contendo uma mensagem em prol da preservação da natureza.
“O Oi Futuro abre sua programação de 2018 com a primeira edição da Bienal de Arte Digital, um evento que materializa nosso compromisso com a inovação e a experimentação nas artes, ampliando a discussão sobre a convergência de linguagens e fortalecendo o campo da arte e tecnologia”, diz Roberto Guimarães, gestor de Cultura do Oi Futuro.
Os trabalhos escolhidos foram selecionados entre as mais de 600 inscrições realizadas via edital. A seleção foi realizada por um conselho curador formado por acadêmicos, artistas, pesquisadores e produtores culturais como Marina Gazire, Alexandre Milagres, Ivan Luiz Ramos, Gabriel Cevallos, Pablo Gobira, Tadeus Mucelli, Karla Danitza e demais membros da comissão organizadora. Foram cerca de 20 encontros entre os envolvidos e cerca de 400 horas dedicadas às análises.
“A Bienal de Arte Digital surge para pautar a cada dois anos temas importantes e mais amadurecidos relacionados à sociedade. O FAD, que atua desde 2007 entre os eixos da arte, comunicação e tecnologia, percebe que vivemos um momento em que a arte digital deixa de se conceituar como uma arte de nicho”, avalia Tadeus Mucelli, curador e idealizador da Bienal e fundador do FAD. “A arte digital vai em direção à contemporaneidade como um todo. Ou seja, além de ser a arte desta sociedade hipermoderna, é o lugar das experiências sociais.”
SOBRE O TEMA
As configurações atuais da Arte Tecnológica têm se fundido com a vida contemporânea, num processo viral de trocas incessantes entre o mundo real e o simulado. Criam-se trabalhos híbridos, nos quais o digital e o analógico, o natural e o artificial, o real e o virtual, se atravessam. A tecnologia passou a ser vista como um fator constitutivo da vida humana e com a biotecnologia, a própria vida. As pesquisas científicas são reapropriadas e se transformam em linguagens artísticas, através do uso da interatividade, virtualidade, sistemas híbridos e imersão.
Nesta edição especial do FAD o objetivo será exibir trabalhos e conceitos através dos quais as transformações, ao longo do tempo, dos processos digitais na vida, na criatividade e na sociedade através da arte e da comunicação, criam experiências por meio das hibridações imersivas aos visitantes.
OBRAS DE ARTISTAS CONVIDADOS
BLOQUES ERRÁTICOS - Daniel Cruz - Chile - (2016)
Inspirado pela mensagem de preservação das geleiras, Daniel Cruz, da Universidad de Chile, mostra nesta obra um texto poética exibido em 49 garrafas de água distribuídas na obra, utilizando iluminações em uma sequência e convidando o observador a decifrar a importante mensagem de sua arte.
Daniel Cruz é um artista visual que atualmente dirige o núcleo de Objeto Tecnológico de Pesquisa em Arte Contemporânea da Universidad de Chile. Ele é o coordenador do MAM / Magister in Media Arts e vice-diretor do Departamento de Artes Visuais da Faculdade de Letras da Universidad de Chile. Desde 2000 participa em exposições individuais e coletivas em galerias, museus, instituições culturais e espaços públicos no Chile e no exterior.
CARAVEL - Ivan Henriques - Brasil / Holanda (2015)
Desenvolvida em colaboração com cientistas da Faculdade de Bioengenharia da Universidade de Gante, Bélgica, “Caravel” usa tecnologia de célula de combustível microbiana (MFC) para colher eletricidade de bactérias anaeróbicas e componentes orgânicos na água. A forma hexagonal tem a função de combinar e unir outros sistemas para criar uma superfície maior e operar de forma mais abundante.
Ivan Henriques é um artista brasileiro radicado em Haia (Holanda). Ele busca em seus trabalhos híbridos da natureza e cultura (tecnológica) criar novas formas de comunicação entre humanos e outros organismos vivos. Seus trabalhos são exibidos internacionalmente, participando de festivais, residências e palestras.
FACES - Mark Klink – Estados Unidos (2016)
Rostos... seus lugares em nossa experiência é mais fundamental do que qualquer linguagem falada ou escrita... antes de aprender sinais, signos e outras formas de comunicação, “lemos” rostos. Os bebês reagem instantaneamente aos rostos dos adultos que os cercam. Rostos são as primeiras coisas que reconhecemos em um mundo de coisas. Respondemos a eles sem a plena consciência do que está acontecendo, de como a experiência de olhar um rosto nos está afetando. Nesta obra digital, Mark Klink explora os rostos humanos de forma intrigante.
Mark Klink foi e fez muitas coisas: varreu chãos, trabalhou como operário de fábrica, foi atleta, funcionário do governo, salva-vidas, programador e um tradicional printmaker. Durante vinte anos, ele ensinou crianças e outros educadores a usar computadores. Mas o que mais gosta (além da família) é fazer fotos curiosas.
LANGPATH - Solimán Lopez – Espanha (2018)
"Langpath" é uma escultura cinética de arte interativa, trabalhando em tempo real com informações e dados reais que abastecem servidores espalhados pelo mundo. O espectador é o gatilho para criar o movimento e a transferência de informações, provocando a fisicalidade, a visibilidade e materialidade dos dados e informações, alterando a noção do digital enquanto algo invisível ou imaterial. É uma arte de captação de movimentos e transferência de dados ao vivo.
Solimán López é um artista digital espanhol. Desenvolve seu trabalho e investigação aplicando e analisando a tecnologia do ponto de vista técnico e conceitual, criando peças de arte digital, interativa e performance em geral. Ele usa fortes referências da história da arte, as mudanças sociais obtidas pelo paradigma da revolução tecnológica e a nova linguagem proposta pelo próprio digital. Seu trabalho já foi exibido em muitos países, como Venezuela, Cuba, Nicarágua, México, El Salvador, Argentina, Suécia, Portugal, Grécia e outros.
OBRAS DE ARTISTAS SELECIONADOS
JEQUITRAP - Aline Xavier - Brasil (2017)
Jequi é uma denominação indígena de armadilha para peixe, é um ambiente imersivo dedicado à exposição de artefatos etnológicos modelados em 3D. O objetivo da exposição de Aline Xavier é apropriação, disseminação e preservação do patrimônio cultural através do uso criativo de tecnologias. Uma coleção de armas e armadilhas de caça e pesca de diferentes etnias indígenas, selecionadas de acervos museográficos brasileiros, é submetida à digitalização e representada na instalação em mídias distintas - vídeo, áudio e escultura.
Aline Xavier, artista premiada da 19ª edição do Festival de Arte Contemporânea SESC Videobrasil (2015), é especialista em Arte Contemporânea: Curadoria e Crítica (PUC/INHOTIM, 2010) e bacharel em Comunicação Social com formação complementar em Cinema (UFMG, 2006).
ANTARABAVA - Ana Moravi - Brasil (2016)
Videoinstalação da artista mineira Ana Moravi, a obra evoca o estado de transitoriedade das imagens e das experiências humanas através dos gestos. Uma poética dos ritos de passagem onde algo é extinto: se não em si mesmo, na sua forma. O equilíbrio frágil entre integridade e estilhaçamento dos sentidos. Reflexões sobre transcendência do corpo, o silêncio e libertação através da escuta.
Ana Moravi é realizadora e pesquisadora. Vive e trabalha em Belo Horizonte com vídeo, cinema, música e arte-educação. Integra o Colégio Invisível Produtora Audiovisual na qual atua como diretora, roteirista e produtora.
NARVA 2 - André Damião - Brasil (2015)
NARVA 2 é um instrumento audiovisual, parte de uma série de objetos de Música Móvel Crítica, na qual foi pensada uma genealogia dos meios portáteis e sua relação com a obsolescência programada, os meios de produção e seus efeitos no cotidiano.
André Damião é um artista que trabalha de maneira transversal entre os campos da música e arte eletrônica. É formado em Composição pela UNESP e Mestre e doutorando em Sonologia pela USP. Já teve trabalhos apresentados em galerias e salas de concerto de 18 países.
SENSE OF PLACE - Apotropia - Itália - (2016)
Sense of Place é uma obra que busca descrever o senso de lugar que os humanos sentem em alguns locais. O termo “senso de lugar” pode descrever tanto uma série de características que torna um lugar único ou a sensação e percepção do lugar como experimentado pelos corpos vivos que pertencem a ele. O corpo é nosso meio geral para ter um mundo e nossa relação com o espaço está inevitavelmente ligada à cultura e moldada pelo tipo de corpo que temos.
Apotropia é uma dupla de artistas com sede em Roma, formada por Antonella Mignone e Cristiano Panepuccia. Seu trabalho explora as interseções de dança, artes cênicas e produção audiovisual ao vivo. Usando luz, som, movimento, corpo e tempo, eles criam obras que exploram os elementos filosóficos, antropológicos e científicos da cultura humana.
PROTOPLASMIC ROUTES - Axel Cuevas Santamaria - México (2017)
Protoplasmic Routes é uma instalação audiovisual. Trata-se de uma experimentação de bioarte que revela uma metáfora e uma realidade temporal baseada em ficção e pesquisa científica. A obra dá voz a um incipiente microorganismo consciente para narrar uma história sobre o futuro.
Axel Cuevas Santamaria é um artista mexicano radicado em Ohio, nos Estados Unidos. Seus trabalhos de bioarte e outros abordam a relação intrínseca entre a natureza, a tecnologia e a experiência humana.
UN - Bella - Brasil (2017)
O vibrar das águas refletido por uma luz desenha contornos imago-sonoros, criando uma pintura viva formada por som, água e luz. Interface entre ciência e arte, entre registros da realidade (o som, a imagem, a matéria), jogos de linguagem com o cinema primordial.
Bella é uma artista sonora que desenvolve projetos, performances e gravações explorando as relações entre aspectos físicos e conceituais da matéria e do som. Lançou dois discos pelo selo Seminal Records e trabalha com o Meteoro, grupo de experimentação sonora formado por Anais-Karenin, Juliana Borzino, entre outras, que surgiu por iniciativa de Bia Lemos, com o intuito de reunir mulheres para improvisar no Castelinho do Flamengo, espaço cultural no Rio de Janeiro.
BLACK MOVES - Carla Chan - China - (2016)
Black Moves é um loop de vídeo imersivo de 10 minutos com som de fundo personalizado para três diferentes tipos de configuração. Os visuais de várias camadas no vídeo são criados com um conjunto de algoritmos de geração de ruído simulando formações orgânicas e padrões encontrados na natureza. Esses cristais visuais orgânicos semelhantes ao ruído são uma tentativa de naturalizar imagens digitais através da criação de uma paisagem virtual.
Carla Chan concentra-se na interseção de arte e design, inspirada em padrões comportamentais on-line, reproduzidos e às vezes impostos pelo patrimônio cultural e questões de filosofia contemporânea. O resultado se manifesta em compilações de mídias misturadas, ensaios de vídeo, viagens traçadas, livros de artistas, séries de palcos experimentais e oficinas. Formula respostas para uma série de questões críticas. Por exemplo, o impacto de aplicativos móveis em transmissão ao vivo e seu efeito na publicação, a idéia de arquitetura como prática de arte ou o impacto de uma estação de rádio independente em uma rua de mercado.
DUO LUMIA – Duo Lumia - Brasil (2017)
As interações entre música e imagem podem ser exploradas por inúmeros pontos de vista. O trabalho do Duo Lumia se baseia no conceito de multimídia defendido pelo musicólogo Nicholas Cook, em que o processo metafórico cria relações entre as diferentes mídias através de seus significados. Em algumas obras do concerto, predominam recursos originários da Visual Music.
Duo Lumia não é um duo no sentido comum da tradição musical. Composto pela pianista Joana Boechat e o artista visual Henrique Roscoe, traz em sua essência o rico diálogo entre música e imagem. Henrique Roscoe é VJ e artista digital, tendo se apresentado nos principais festivais de imagens ao vivo do Brasil e também no exterior. Joana Boechat é uma pianista com sólida formação em busca de inovação nas formas de apresentação do repertório erudito. Sua ampla atuação no Brasil inclui concertos em importantes festivais.
ATTENTION SEEKER - Georgie Grace - Inglaterra (2016)
O video explora o efeito de paisagens sintéticas no cérebro humano. Todos aceitamos intuitivamente a idéia de passar um tempo em uma paisagem natural afetará positivamente nosso estado mental, mas a pesquisa também mostrou que uma mera imagem de uma paisagem pode ser uma alternativa efetiva. Isso traz o questionamento se é necessária a experiência real ou se podemos receber o benefício através de uma paisagem sintética, combinada com outros componentes que melhorem nosso bem-estar mental.
A forma da paisagem da Attention Seeker é gerada por computador, mas as texturas aplicadas são feitas a partir de fotografias reais. É uma combinação de material sintético e material orgânico digitalizado, produzido dentro de um mecanismo de videogame.
Georgie Grace é uma pesquisadora dos efeitos que a mídia baseada em tela tem em nossos estados mentais. Sua prática testa a capacidade de mover a imagem para capturar, hipnotizar, seduzir ou desestabilizar o espectador.
MANIFESTO CONTRA A GRAVIDADE: SOBRE O NASCIMENTO DE ROBÔS - Jack Holmer - Brasil (2016)
Instalação performática que interage com o observador para criar situações sensíveis (afetivas) subjugando a força da gravidade e emparelhando características da virtualidade digital com as propriedades matéricas do off-line. O objeto criado em ambiente virtual faz sua passagem para o mundo fenomenológico (do concreto) onde as leis da física modificam suas propriedades originárias, concebidas no virtual. A interatividade ativa uma aleatoriedade do movimento, entregando uma possibilidade única, ou um gesto raro em troca da aproximação, do direcionamento da atenção sensível ao objeto que também sente em seus sensores, embora ainda de forma precária, comparado aos sentidos humanos. Mas menosprezar os sentidos e interpretações precárias da máquina pode ser desprezar as primeiras etapas da evolução da vida na Terra. Os primeiros seres vivos pendem mais para uma ação/reação behaveriana do que uma cognição completa.
Jack Holmer desenvolve sua pesquisa e obra sobre poéticas tecnológicas afetivas, que acontece tanto na estratosfera, como em montanhas físicas, em mundos virtuais, e pode manifestar-se fenomenologicamente por meio de seres de inteligência artificial, em espaços digitais ou em robôs de concreto. Os objetos dessa afeição poética habitam esses lugares, sendo humanos ou não-humanos, mas com presença suficiente para o que chamamos de vida. Holmer Pesquisa Vida Artificial e Robótica através da Semiótica, suas interfaces de interação e a gameficação da contemporaneidade, produzindo Robôs Interativos, Seres Virtuais Autônomos, GameArt, Documentários fílmicos e códigos computacionais.
IMPROVISO AMBULANTE - Leandro Aragão - Brasil (2016)
O documentário investiga o fenômeno da improvisação, procurando superar os preconceitos em torno de sua aparente precariedade. Explora-se a ideia de que o ato de improvisar possa ser, antes de mais nada, um mecanismo inerente à natureza humana no sentido de buscar soluções e recursos novos, criando novos saberes, científicos ou não. Coerente com sua proposta, o próprio filme se materializa como vídeo-objeto de estética improvisada.
Leandro Aragão é bacharel em Desenho pela Escola de Belas Artes da UFMG. Entre os anos de 2001 e 2005 residiu em Boston e Los Angeles, época em que iniciou seus estudos em fotografia e vídeo através de experimentações. Nos últimos oito anos realizou inúmeras obras audiovisuais e exposições com Eder Santos, André Hallak. Atualmente, cria também objetos vídeogambiarrísticos e intervenções em espaços públicos.
CORPUS NIL - Marco Donnarumma - Itália / Inglaterra (2017)
Corpus Nil é uma apresentação musical que explora formas híbridas de identidade e musicalidade. A apresentação ocorre através de uma intensa e ritualística interação entre um instrumento musical artificialmente inteligente, o corpo humano e o som. A obra ocorre em um ambiente completamente escuro, com um corpo humano nu e parcialmente pintado de preto performando uma coreografia tensa que aos poucos vai transformando o corpo. Dois tipos de sensores portáteis transmitem dados de seu corpo para um software. Os microfones instalados capturam sons de músculos e órgãos internos e os eletrodos capturam tensões musculares. Através do ritmo do som, vibração e luz, o corpo do artista e o instrumento mutam, fisicamente e conceitualmente; uma criatura desconhecida que desafia a definição comum do ser humano.
Marco Donnarumma é um artista italiano radicado em Berlim, na Alemanha. Distingue-se pelo uso da tecnologia emergente para entregar obras de arte que são ao mesmo tempo íntimas e poderosas, oníricas e intransigentes, sensuais e conflituosas. Trabalhando com biotecnologia, detecção biofísica, bem como inteligência artificial e neurorobótica, Donnarumma expressa a natureza quimérica do corpo com uma nova e inesgotável intensidade. Ele é famoso por seu foco no som, cuja fisicalidade e profundidade ele explora para criar experiências de instabilidade, admiração, choque e arrastamento.
ESPELHO SONORO - Rodrigo Ramos - Brasil (2016-2017)
Espelho Sonoro é um projeto de pesquisa de arte em mapeamento sonoro e streaming com a intenção de proporcionar uma experiência imersiva nas paisagens sonoras da cidade. O projeto Espelhos Sonoros consiste em uma releitura artístico-tecnológica de um localizador sonoro acústico utilizado durante a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1919). Tais objetos se assemelhavam a “conchas acústicas” e eram utilizados para localizar o movimento de aviões, navios e tanques no território de guerra. No centenário da Primeira Guerra Mundial, a pesquisa sobre os espelhos sonoros é motivada pela busca de uma releitura histórica e pela vontade de experimentar uma tecnologia em um contexto para além-guerra. Essa busca visa um apelo sensório pelo material num recorte que mescle passado e presente, como uma viagem sensória-crítica do tempo.
Rodrigo Ramos é formado em Cinema pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com mobilidade acadêmica na Universidade Federal Fluminense (UFF). Atua na área cinematográfica como diretor, roteirista, editor de imagem, técnico de som e designer de som em diversos filmes, e em diferentes áreas artísticas.
PONTOS TERMINAIS EMARANHADOS - Ruy César Campos - Brasil (2017)
Na rede global de infraestrutura de cabos submarinos, os pontos terminais são bueiros onde chegam os cabos, passivos de serem afetados por atores locais, pelo ambiente que os circunda ou por ameaças de segurança. São, portanto, a partir de Nicole Starosielski, pontos de pressão em que microcirculações insignificantes podem possuir um alto impacto sobre a Comunicação intercontinental oceânica, contestando a natureza livre de fricção da comunicação global. O artista busca estabelecer um vínculo fenomenológico com esse ambiente de transição da infraestrutura dos cabos submarinos, partindo dos pontos terminais em Fortaleza, um importante nódulo na rede do Atlântico Sul Global e onde reside, para os pontos terminais em duas outras cidades com as quais Fortaleza está conectada em rede e que se encontram em extremos opostos do Atlântico Sul: Sangano (Angola) e Salgar (Colômbia).
Ruy César Campos é um artista-pesquisador experimentando com vídeo, performance e instalação, criando trabalhos inspirados por temas tais como arqueologia das mídias e da rede, etnografia sensorial, afetividades em torno de infraestrutura e deslocamento. Possui Bacharelado em Audiovisual e Novas Mídias (2015 - UNIFOR), Mestrado em Artes (2018 - UFC - bolsista FUNCAP) na linha Arte e Processo de Criação: Poéticas Contemporâneas e é Doutorando em Comunicação, linha Tecnologias da Comunicação e Cultura (UERJ). Já desenvolveu trabalhos em países como Angola, Colômbia, Alemanha e Holanda e teve seus trabalhos expostos/exibidos em festivais de videoarte e exposições pelo mundo.
janeiro 30, 2018
Arnaldo Pappalardo na Millan, São Paulo
A Galeria Millan tem o prazer de apresentar, de 3 de fevereiro a 3 de março de 2018, a exposição Cine, de Arnaldo Pappalardo, que propõe uma reflexão sobre a ideia de movimento. O premiado fotógrafo adentra as dimensões etimológicas da palavra “cine” — cujo significado em grego é mexer, deslocar, movimentar — para conceber um conjunto de trinta obras inéditas que retratam situações fisicamente instáveis a partir de temas que vão desde a arquitetura, passando pela pintura, desenho até o cinema.
Com o intuito de buscar um novo recorte ao tema tratado, o artista optou por não apresentar "imagens em movimento", como o próprio título da exposição sugere. Para isso, Pappalardo recorre à diversos suportes: grandes livros impressos em tecido, longas peças de resina epóxi com imagens encapsuladas, chapas de vidro fotográficas realizadas em "dusting on", fotogramas em "goma bicromatada" — esses últimos envolvendo processos fotográficos do século XIX — bem como impressões jato de tinta sobre papel algodão, resultando num conjunto caleidoscópico.
As peças se apresentam como pequenos enigmas cujas tramas mostram-se ocultas a espera de serem desveladas pelo observador, tanto de forma visual como manual, no caso de alguns polípticos articuláveis e dos livros. Em um plano poético, Pappalardo busca interpelar os movimentos que se desenrolam no pensamento, com base na afecção entre o olhar e as imagens. Para ele, esse processo tanto poderá se consolidar de forma individual “a partir das partes soltas, imersas em um universo aparentemente caótico, quanto conectadas umas às outras, caso o observador deseje ativar um jogo pessoal com elas”, ele define.
Por ocasião da exposição, o filósofo, ensaísta e professor húngaro radicado no Brasil Peter Pál Pelbart (Budapeste, 1956) fará uma palestra cujo objetivo é menos uma análise crítica da mostra do que a inserção de alguns conceitos relacionados ao tema daquela a partir da perspectiva filosófica. Será dia 22 de fevereiro, quinta-feira, às 19h.
Arnaldo Pappalardo, 1954, São Paulo. Formou-se em arquitetura pelaFaculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e realizou acompanhamento fotográfico com Claudia Andujar (1975) e de desenho com Carlos Fajardo (1977 a 1979). Recebeu importantes prêmios como o The Royal Photographic Society Photobook Award, RM Photobook Award, Reino Unido (2016); Prêmio Itamaraty de Arte Contemporânea, Brasil (2011); Prêmio Fotografia Aplicada – Funarte, Brasil (1997); Leopold Godowsky e JR. Color Photography Awards, EUA (1991). Mostras individuais em espaços incluem Museu da Casa Brasileira, São Paulo, SP (2013); Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP (2008); Galeria Millan, São Paulo, SP (1994); mostra itinerante organizada pela Funarte (Salvador, BA; Aracaju, SE; João Pessoa, PB; Campina Grande, PB; Recife, PE; Maceió, AL; Fortaleza, CE; Teresina, PI; São Luis, MA), 1986; Masp, São Paulo, SP (1984) e Fotogaleria Fotoptica, São Paulo, SP (1982). Também participou de diversas exposições coletivas dentre as quais Ver do Meio, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP (2015); Veracidade, Mam, São Paulo, SP (2006); Novas aquisições 2003: Coleção Gilberto Chateaubriand, Mam, Rio de Janeiro, RJ (2003); Coleção Pirelli de fotografia, Masp, São Paulo, SP (2002); Labirinto e identidades, Centro Português de Fotografia, Lisboa, Portugal e Bienal Internacional de Fotografia, Curitiba, PR (2000); Brasilianische Fotografie 1946 bis, Kunstmuseum Wolfsburg, Wolfsburg, Alemanha (1998); Arte/cidade, São Paulo, SP (1997); Interiores, Mam, Rio de Janeiro, RJ (1996); Reencontres internationales de la photographie, Arles, França (1980 e 1991); Brasil projects , MoMA PS1, Nova York, EUA e Exposicione internazionale della Triennale di Milano, Física Galeria Sotterranea, Milão, Itália (1988); Mois de La Photo, Paris, França (1986); 1ª Bienal de La Habana, Havana, Cuba (1984); entre outras.
Daniel Lie na Triângulo, São Paulo
Em 2018, a Casa Triângulo completa 30 anos de atividade e abre a temporada de exposições comemorativas com a segunda mostra do jovem artista Daniel Lie na galeria, que acontece na semana pré-carnaval e no decorrer da quaresma.
Intitulada Filhxs do Fim, a mostra é composta por uma grande instalação que ocupa sala principal da galeria. A obra é construída por uma combinação de elementos naturais que acentuam a passagem do tempo por meio de seus ciclos naturais. Plantas, sementes, e terra criam a estrutura, que permite o espectador observar a impermanência das coisas, como uma cerimônia lenta, rumo a um fim inevitável. Ao longo da exposição, os elementos dispostos caminham para seus processos de morte e vida, como sementes que brotam e fermentam, flores se decompõem e fungos se proliferam.
A instalação “Filhxs do Fim” é pensada como um altar para a morte, carregando simbologias presentes em alguns rituais de matrizes africanas e asiáticas, temas que o artista vem se aprofundando nos últimos anos, como a presença da figura do Oroboro, imagem que conduz a instalação – o fim como começo.
Oroboro é uma criatura mitológica, uma serpente que engole a própria cauda formando um círculo e que simboliza o ciclo da vida, o infinito, a mudança, o tempo, a evolução, a fecundação, o nascimento, a morte, a ressurreição, a criação, a destruição, a renovação. Muitas vezes, esse símbolo antigo está associado à criação do Universo.
Além da instalação, o artista apresenta uma linha de vasos em cerâmica, desenvolvidos em parceria com a marca Olive Cerâmica, exclusiva para a Casa Triângulo.
Daniel Lie é um artista jovem, que também completa 30 anos em 2018. Nos últimos anos vem participando de importantes exposições em museus de países como Brasil, Inglaterra, Húngria, Indonésia, Áustria, Alemanha e Chile. Tendo o “tempo” como ponto referencial de sua produção, o artista desenvolve trabalhos que questionam tensões entre ciência e religião, ancestralidade, presente, morte e vida.
A instalação “Filhxs do Fim” é uma variação da instalação Death Center for the Living (2017), que foi um dos grandes destaques do Vienna Festwochen, em 2017.
janeiro 27, 2018
Palavra-Coisa na Carbono, São Paulo
A Carbono Galeria inaugura o ano com a exposição PALAVRA-COISA, uma coletiva com curadoria de Daniel Rangel e participação de 8 artistas.
A mostra reúne obras de Almandrade, Antoni Muntadas, Arnaldo Antunes, Fernando Laszlo, Lenora de Barros, Marcos Chaves Tadeu Jungle e Walter Silveira, produzidas especialmente para a exposição que exploram as dimensões verbais, sonoras e p¬lásticas que unem literatura, música e artes visuais.
Sobre a exposição, o curador escreve: “A expressão ‘palavra-coisa’ foi utilizada pelo trio de inventores da poesia concreta brasileira: Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos, em uma das definições no plano-piloto para poesia concreta, que publicaram em 1958. (ler texto curatorial)
A tensão descrita na sentença sugere fronteiras tênues, separadas apenas por hifens que unem ainda mais os vocábulos. A proposta é que a dimensão semântica assuma a identidade e torne-se a própria ‘coisa em si’.
O poema, originário da literatura, é então potencializado por um encontro de aspectos temporais, influenciados pela música, com outros espaciais, conectados sobretudo às artes visuais.
Esta fusão semântica, sonora e plástica é o cerne do termo verbivocovisual, traduzido pelos mesmos teóricos, a partir da obra do poeta irlandês James Joyce. O conceito verbivocovisual tornou-se frequente na produção dos três poetas paulistas desde dos anos 1950. Eles criaram uma nova forma de fazer poesia explorando diferentes suportes e linguagens para formalizar seus poemas, para além do livro tradicional.
Hoje, após exatos sessenta anos da publicação do referido plano-piloto, são inúmeros os que se apropriam do conceito verbivocovisual para criação de suas obras. Alguns mais semânticos que visuais, outros mais plásticos que verbais, contudo, os poucos aqui reunidos, denominamos todos de ‘artista-poetas’. “
As obras, no total 17, passam a fazer parte do acervo de edições da Carbono, que conta hoje com diversos trabalhos de importantes e conceituados artistas. O coletivo escolhido pelo curador, traz tanto artistas que estão normalmente mais vinculados ao universo da poesia visual, como Arnaldo Antunes, Tadeu Jungle, Walter Silveira e Fernando Laszlo, quanto artistas visuais estabelecidos no sistema de artes, mas que flertam constantemente com as palavras e a poesia, como Antoni Muntadas, Marcos Chaves, Almandrade e Lenora de Barros.
“A mostra cumpre ainda, em outro espaço-tempo, um dos principais objetivos almejados pelos criadores da poesia concreta; a de se criar uma “arte geral da palavra”. Comenta Daniel Rangel.
Sobre o curador
Graduado em comunicação social em Salvador, Bahia, é curador, produtor e gestor cultural.
Foi diretor-artístico e curador do Instituto de Cultura Contemporânea (ICCo) em São Paulo. Foi diretor de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, da Secretaria de Cultura do Governo do Estado e atuou como assessor de direção do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) na gestão de Solange Farkas.
Produziu, entre outras, a exposição Ready Made in Brasil (2017), a exposição Quiet in the Land (2000), uma parceria entre o Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York, o MAM-BA e o Projeto Axé, em Salvador. Foi curador-convidado da Bienal Internacional de Curitiba em 2015. Pesquisador Associado do grupo de pesquisas Fórum Permanente do IEA-USP.
Ao longo dos últimos 10 anos realizou inúmeras curadorias no Brasil e no exterior, com destaque para II Trienal de Luanda, em Angola (2010), a 16ª Bienal de Cerveira, em Portugal (2012), a itinerância com arte contemporânea africana chamada Transit_BR (2012/13), que passou por Salvador, Brasília e São Paulo, entre outras importantes exposições individuais e coletivas.
Jardim das delícia com juízo final na Cavalo, Rio de Janeiro
O Rio estereotipado de um paulista em exposição coletiva na Cavalo
No dia 1º de fevereiro inaugura Jardim das delícia com juízo final [sic] na Cavalo, coletiva com curadoria do artista Pedro Caetano (São Paulo, 1979). A primeira exposição de 2018 na galeria carioca conta com trabalhos de 18 artistas de diversas gerações, além de reproduzir o disco homônimo de Nelson Cavaquinho e exibir o documentário de Leon Hirszman sobre o cantor.
O título da exposição, que faz referência a duas obras do pintor medieval Hieronymus Bosch sobre o inferno e o paraíso, reflete também “a visão estereotipada de um paulista sobre a cidade do Rio de Janeiro e suas linguagens - por isso a falta do plural no ‘delícia(s)’ do nome da mostra” conta Pedro. Para ilustrar simbolicamente a imagem de cidade romântica e trágica, o artista/curador escolhe trabalhos menos explícitos de mentores como Jac Leirner, Paulo Monteiro, Leda Catunda e Marcelo Cipis, assim como os artistas de gerações seguintes como Erika Verzutti, Tiago Carneiro da Cunha, Adriano Costa e Marina Perez Simão.
Pedro Caetano encontra no álbum ‘Nelson Cavaquinho’ de 1973 e no curta metragem de mesmo nome lançado por Leon Hirszman em 1969 a ligação entre o Rio de Janeiro histórico, o Rio estereotipado e o Rio atual. Para a mostra na Cavalo, decidiu criar cenários antagônicos nas duas salas expositivas da galeria localizada no bairro de Botafogo. A serenidade das obras na sala de entrada se contrapõe à montagem conturbada da seguinte.
Na sua pesquisa como artista, Pedro confronta humoradamente a linguagem da cultura de massa com as concepções comuns de ‘bom-gosto’. Encontra-se com frequência em sua obra referências ao hedonismo, tanto em suas esculturas com bustos de manequins ou cinzeiros quanto em suas pinturas de picolés e de personagens lisérgicos. A obra de Pedro costuma ter um caráter ambíguo, preocupado em mostrar os lados prazerosos e melancólicos da vida. Acostumado a exercer várias funções, geralmente se apresenta também como curador e ex-galerista, pelo seu tempo na galeria Polinésia, inaugurada em 2007. Durante os três anos em que esteve aberta, Pedro exibiu no espaço em São Paulo uma cena intensa de artistas de sua geração.
‘Jardim das delícia com juízo final’ conta também com trabalhos de Marcius Galan, Alberto Simon, Alexandre da Cunha, Tiago Tebet, do venezuelano Ricardo Alcaide, do português Tiago Mestre, uma parceria entre Laura Lima e Jarbas Lopes além de uma obra do próprio Pedro. Em suas palavras, é uma exposição que presta homenagem à cidade, “essa que fica entre as duas pinturas do Bosch, entre a beleza e a violência, o Rio da Anitta e um outro Rio, o do Nelson, do Cartola, do Noel Rosa e etc.”
janeiro 24, 2018
Experiências do Limite no MON, Curitiba
Mostra apresenta um recorte da produção de videoarte no Brasil a partir dos anos 1970 até hoje
O Museu Oscar Niemeyer (MON) inaugura a exposição Experiências do Limite, dia 20/01, sábado, a partir das 10 horas, na sala 11. A mostra apresenta oito trabalhos que consistem em obras de videoarte e registros de performances, pertencentes ao acervo do museu.
Os vídeos integram o acervo da instituição a partir de duas coleções - a série “Circuitos Compartilhados” (coleção de mais de 200 vídeos reunidos pelo artista Newton Goto) e o programa “Rotação de Culturas” (projeto realizado em 2014 a partir do intercâmbio de artistas visuais de todos os estados das regiões norte e sul do país), desde o Amapá até o Paraná.
A mostra tem um caráter especialmente importante para o museu, pois apresenta, ainda que de modo breve, a produção de videoarte no Brasil a partir dos anos 1970 até hoje, explorando o recurso do vídeo tanto pelo seu viés documental, como pela estética visual das imagens em série. Além disso, será uma oportunidade de mostrar alguns trabalhos que ainda não haviam sido exibidos ao público.
As obras são assinadas por: Grupo Imagem e Cia. no Amapá, Sérgio Cardoso no Amazonas, Daniel Santiago e Paulo Bruscky em Pernambuco, o Coletivo Bijari em São Paulo e, finalmente, Marcelo Nitsche, Key Imaguirre e Ricardo E. Machado no Paraná.
A emergência da videoarte – isto é, o campo da produção artística que tem o vídeo como suporte – no Brasil ocorre nos anos 1970 e encontra-se diretamente ligada às então novas práticas artísticas, como a performance, o happening e a instalação. Tais frentes de investigação traduzem certas tentativas de dirigir a criação artística às coisas do mundo e à tecnologia, à natureza e à realidade urbana. E assim a videoarte também se colocou como um suporte para discussão das relações entre espaço, tempo, luz e o campo de visão do observador, convocando o público para vivenciar o papel entre o espectador do cinema e o observador do museu ou galeria de arte.
A mostra “Experiências do Limite” fica em cartaz até dia 11 de março.
Flávio de Carvalho - Expedicionário na Caixa Cultural, São Paulo
Mostra “Flávio de Carvalho - Expedicionário” na Caixa Cultural São Paulo traz registros de expedições do artista modernista
Projetos experimentais, fotografias, documentos, cadernos de viagem, e filme mostram faceta pouco conhecida do inquieto criador brasileiro
A Caixa Cultural São Paulo recebe, de 9 de janeiro a 4 e março, a exposição Flávio de Carvalho - Expedicionário, que apresenta inúmeras experiências do artista que estabeleceu pontes para práticas libertárias da arte brasileira.
Organizada pelos curadores Amanda Bonan e Renato Rezende, a mostra reúne projetos experimentais, fotografias, filme, documentos, cadernos de viagem e reportagens de jornal, revelando uma faceta pouco conhecida de Flávio de Carvalho.
Para Oswald de Andrade, ele era “o antropófago ideal”. Engenheiro civil, arquiteto, cenógrafo, artista plástico, escritor, performer, estilista… É difícil encontrar uma área de criação pela qual Flávio de Carvalho não tenha se aventurado. Segundo ele mesmo afirmava, o artista é como um arqueólogo, e ele, de certa forma, dá continuidade à herança expedicionária fundadora do Brasil.
Em “Flávio de Carvalho - Expedicionário” foram reunidos resíduos e vestígios deixados por uma série de projetos de cunho experimental e expedicionário levados a cabo pelo artista modernista que se dedicou a quebrar regras, alargar horizontes e romper as formas academicistas de tratar a arte.
Flávio de Carvalho é, ainda hoje, é sinônimo de invenção e polêmica. Apontado como um titã da modernidade, o artista continua provocando o mundo com seu pensamento contestatório. A imagem do artista passeando pelas ruas de São Paulo com o “New Look”, traje que ele criou como sendo ideal para o homem dos trópicos – saia de pregas, blusa de mangas bufantes, meia arrastão e sandália de couro – ainda hoje é capaz de chocar os incautos.
“Flávio de Carvalho - Expedicionário” propõe um olhar original sobre o pensamento múltiplo e incontido do artista. O objetivo da exposição é lançar luzes sobre o aspecto expedicionário como abordagem estética intrínseca à obra de Flávio de Carvalho. O modernista costumava definir-se como “um arqueólogo malcomportado” (“com mais probabilidades de compreender o não-tempo”), que vasculhava as mais profundas camadas de sensibilidade, sem reverenciar o que ele chamava de “catecismo científico”.
A exposição é dividida por expedições, como a “Viagem à Europa” (1934-1935), que rendeu os relatos do livro “Os Ossos do Mundo”, um verdadeiro caleidoscópio de questões e especulações que o artista desenvolveu a partir de observações sobre cada país, “Rumo ao Paraguai” (1943-1944) e “Viagens aos Andes” (1947), contendo dados e documentos dessa incursão do artista à América Latina. São fotografias, recortes de jornais e reproduções de partes de originais escritos à máquina. Há também a expedição “Viagem à Amazônia” (1956), com projeção de uma edição do filme “A Deusa Branca”, que une pesquisa etnográfica e drama ficcional de tons surrealistas a partir da história de uma menina branca raptada por índios.
Flávio de Carvalho (1899-1973)
Inquieto, controverso, performático, anedótico, Flávio de Carvalho não respeitou regras ou convenções para manifestar seu espírito livre e suas ideias visionárias. Nascido em família aristocrática na cidade de Amparo de Barra Mansa, no Rio de Janeiro, em 1899, viveu de 1911 a 1922 na Inglaterra, onde ser formou em Engenharia Civil, ao mesmo tempo em que fazia um curso noturno de artes plásticas na King Edward VII School of Fine Arts. Foi nesta época que teve os primeiros contatos com os vanguardistas europeus.
De volta ao Brasil, não consegue de adaptar ao estilo formal do mercado de construção da época. Em 1926, emprega-se como ilustrador no Diário da Noite, onde conhece Di Cavalcanti, então atuando como caricaturista do jornal, que o apresenta ao grupo antropofágico de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral. Um ano depois, participa do concurso para o Palácio do Governo de São Paulo, com um projeto bastante discutido, que se destaca pelo aspecto monumental do edifício, marcado pela decomposição dos volumes e pela intensidade dramática dos jogos de luzes dos holofotes. Flávio de Carvalho participaria ainda de vários concursos, sem nunca ser premiado – entretanto seus projetos são considerados pioneiros da arquitetura moderna do Brasil.
Pintor, desenhista, arquiteto, cenógrafo, decorador, escritor, teatrólogo, engenheiro e performer, Flávio de Carvalho tinha fascínio pelo nu feminino (que ele explorou em traços de grande erotismo) e pelo retrato. Apresentou seu trabalho pela primeira vez em 1931, durante o Salão Revolucionário da Escola de Belas Artes, ao lado de artistas como Portinari, Cícero dias, Lasar Segall. No mesmo ano, realiza o polêmico Experiência nº 2, em que caminha com boné na cabeça de forma desafiadora, em sentido contrário ao de uma procissão de Corpus Christi. Sua intenção era testar os limites de tolerância e a agressividade de uma multidão religiosa. Foi quase linchado.
Em 1932, luta a favor da Constituição na Revolução Paulista, abre um ateliê e funda o Clube dos Artistas Modernos – CAM, ao lado de Antonio Gomide, Di Cavalcanti e Carlos Prado. Em 1933, cria o Teatro da Experiência, com o qual encena o espetáculo de dança-teatro “Bailado do Deus Morto”. No ano seguinte, faz sua primeira individual, que é fechada pela polícia sob a acusação de “atentado ao pudor” e só é reaberta após ordem judicial.
Nova polêmica viria em 1947, quando realiza os desenhos da “Série Trágica”, na qual retrata a morte da própria mãe. A exposição lhe rendeu a alcunha de “pintor maldito”. Em 1950, representa o Brasil na Bienal de Veneza. Em 1953, desenha os figurinos e o cenário do bailado “A Cangaceira”, de Camargo Guarnieri. Nas décadas de 1950 e 1960, pinta nus femininos, dedicando-se ao desenho, à aquarela e à gravura.
Em 1956, para concluir uma série de artigos sobre moda na coluna “Casa, Homem, Paisagem”, para o Diário de São Paulo, lança o famoso New Look, traje que ele mesmo criou como sendo o ideal para o homem dos trópicos, desfilando pelas ruas de São Paulo, causando escândalo e chocando a multidão.
Flávio de Carvalho assina uma obra permeada pelas propostas surrealistas e expressionistas. Em seus últimos trabalhos, utiliza novos materiais, como tinta fosforescente para luz negra. É considerado um precursor do artista multimídia e da performance no Brasil.
janeiro 20, 2018
Livro que documenta a arte contemporânea brasileira é lançado na Paulo Darzé Galeria, Salvador
O escritor Claudius Portugal entrevista nomes como Mario Cravo Junior, Mestre Didi, Siron Franco, Tunga, Leda Catunda, Florival Oliveira e Bel Borba
Uma publicação inédita reunindo entrevistas com mais de 40 artistas visuais que expressam a arte contemporânea brasileira. Assim é o livro Via E- mail / Encontro com Artistas Brasileiros, que será lançado no dia 23 de janeiro, das 19 às 22 horas, na Galeria Paulo Darzé, no Corredor da Vitória. As entrevistas, todas exclusivas, foram realizadas por correio eletrônico pelo escritor Claudius Portugal, e revelam aspectos da arte produzida no país, englobando linguagens diversas nos campos da pintura, escultura, desenho e fotografia, entre outros gêneros artísticos. Com acabamento em capa dura, traduzido para o inglês, o livro foi viabilizado através da lei Rouanet, com patrocínio da Global Participações em Energia e apoio da Paulo Darzé Galeria de Arte. A edição e concepção gráfica ficou a cargo da P55 Edição.
Nomes como Mario Cravo Junior, Mestre Didi, Siron Franco, Tunga, Leda Catunda, Florival Oliveira, Bel Borba estão na lista dos entrevistados por Claudius Portugal ao longo de dez anos de trabalho. Também estão presentes no livro novos talentos das artes visuais, falando de seus processos criativos, desafios artísticos e contemporaneidade. Acompanham as entrevistas um breve comentário sobre o entrevistado e sua trajetória, além da exibição de suas obras ao longo das 288 páginas do livro – pinturas, esculturas, fotografias, objetos e instalações.
O projeto de fazer o livro Via E-mail foi pensado desde a primeira entrevista realizada, como reconhece Claudius Portugal. “Sou uma pessoa do livro. Toda minha vida, desde a adolescência, primeiro como leitor, e, mais tarde, como escritor e editor, tenho como horizonte o livro. Isso leva a que tudo que escreva venha a se tornar livro. Foi assim com as entrevistas para a revista Exu (da Fundação Casa de Jorge Amado) e os pôsteres de cada edição, que depois se tornaram o livro Outras Cores, 27 artistas da Bahia. Atualmente venho organizando textos que escrevi para catálogos de exposições e espero que um dia se tornem um livro. Como também espero que em algum momento as entrevistas que fiz na televisão para os programas Atelier e Assembleia Literatura também possam seguir este caminho”.
Claudius explica que seu trabalho sempre se resumiu a alguém que usa de uma linguagem para falar de outra linguagem, um profissional das letras atravessando outro universo, o das artes visuais, pelo mundo da poesia. Neste ofício, ele confessa caminhar na divisa entre a literatura e o jornalismo. “A minha intenção com este material, que chamo resumidamente de reportagens plásticas, é de registro e de documentação. Este é meu objetivo. Uma memória da minha época”, explica.
Do Mestre Didi a Bel Borba
No livro, a ordem das entrevistas é cronológica. A primeira conversa utilizando o e-mail foi com Mestre Didi, em abril de 2007. E a última com Bel Borba, em setembro de 2017. Entre os 43 entrevistados, um mereceu uma homenagem especial do escritor: Mario Cravo Junior. Por motivos óbvios:
- Mario é uma força da natureza. Ele é um dos que criam o modernismo na Bahia e por temperamento e pela sua criatividade, leva a ter um trabalho instigante, nunca passivo nem acomodado em seus múltiplos caminhos. É, sim, uma referência questionadora para o sim e para o não. Um pioneiro, um timoneiro. Sua arte é uma arte de invenção. E arte é invenção. E muito estudo e muito trabalho, diz Claudius Portugal.
Em quase sua totalidade, as entrevistas foram realizadas para o site da Paulo Darzé Galeria. Era uma maneira de promover e divulgar a arte e os artistas que passavam pelo espaço. Só que o material coletado acabou revelando-se um substancial documento sobre a arte brasileira contemporânea.
Para o escritor, o fato de as entrevistas serem feitas por e-mail, sem o calor presencial, não compromete o resultado do livro. Se há uma perda pela ausência de réplica, ou falta de gestos e silêncios presentes numa conversa, há, por outro lado, um ganho, “pois o meu interesse estava no processo de trabalho de cada um dos artistas, obrigando-os na resposta a buscar não só a reflexão sobre a obra, mas a exercitar o pensar através da escrita, usando suas próprias palavras. Creio ser este o ponto mais importante de ter conduzido a entrevistas por este meio. Ter não somente a voz, mas a escrita de cada um deles na reflexão sobre sua arte”.
Em meio a tantos depoimentos, opiniões, análises é possível distinguir, segundo Claudius Portugal, um aspecto relevante: a multiplicidade. “São múltiplos os artistas e múltiplas as suas artes. O que sinto neste conjunto é que na arte, como na vida, cada um deve criar o seu próprio caminho. Olhando e lendo o livro vê-se a diversidade e isto é que encanta. Não há um norte. Todos são nortes. Quanto maiores forem as pesquisas, as indagações e as opiniões, mais expressiva será a arte, arte que em si deve refletir o seu tempo”.
Os artistas entrevistados são:
Mestre Didi • Antonio Dias • Siron Franco • Florival Oliveira • Rodrigo de Castro • Evandro Carneiro • Caetano Dias • Márcio Lima • Tunga • Paulo Pereira • Iuri Sarmento • Mario Cravo Neto • Antônio Hélio Cabral • Sante Scaldaferri • Artur Lescher • Daniel Senise • Vauluizo Bezerra • Christian Cravo • Maxim Malhado • Carlos Vergara Fernando Coelho • Almo • André França • Beatriz Franco • Miguel Rio Branco • José Resende • Sérgio Rabinovitz • Gustavo Moreno . Ayrson Heráclito • Leda Catunda • Cristina Sá • Waltercio Caldas • Gonçalo Ivo • Hildebrando de Castro • José Bechara • Sérvulo Esmeraldo • Nádia Taquary • Fábio Magalhães • Paulo Pasta • Zivé Giúdice • Bel Borba • Amilcar de Castro • Mario Cravo Jr.
Sobre a P55 Edição
A P55 Edição teve início em 2002, em Salvador, Bahia, e integra a P55 Comunicação, sob a coordenação de André Portugal e Marcelo Portugal, e possui um conceito editorial com foco nos segmentos das artes plásticas, cultura brasileira, prosa, poesia, antropologia, gastronomia, fotografia e literatura infantil.
Pinacoteca de São Paulo realiza apresentação gratuita do bloco afro Ilú Obá De Min
Evento acontece dia 25 de janeiro, aniversário de São Paulo, a partir das 15h00 no estacionamento da Pina Luz
Para comemorar o aniversário de São Paulo e a programação de exposições deste ano, protagonizada principalmente por mulheres artistas, a Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, realiza uma apresentação do bloco afro Ilú Obá De Min no dia 25 de janeiro, feriado. O evento acontece às 15h00, no estacionamento da Pina Luz, com entrada gratuita.
O Ilú Oba de Min é composto exclusivamente por mulheres ritmistas e, desde 2005, sai às ruas de São Paulo reverenciando e enaltecendo a cultura afro-brasileira, além de destacar a participação e força das mulheres no mundo.
O bloco faz parte de uma associação sem fins lucrativos que foi fundada na capital paulista, há 13 anos, pelas percussionistas Beth Beli, Girlei Miranda e Adriana Aragão. Ele possui uma proposta inovadora, premiada e única em São Paulo, tornando-se referência étnico-cultural e educativa. O objetivo da associação é preservar e divulgar a cultura negra no Brasil.
“2018 será o ano das mulheres na Pinacoteca e o Ilú Obá De Min vem dar sequência a esse calendário tão especial, iniciado antes mesmo do ano virar com um show do coletivo Rimas & Melodias. Estamos muito felizes com esse programa de ações que estamos conseguindo oferecer aos nossos visitantes”, explica Jochen Volz, diretor geral da Pinacoteca de São Paulo.
Bloco Afro Ilú Obá De Min nas redes:
www.facebook.com/iluobademin/
http://iluobademin.com.br/site/
Além do show - Durante todo o dia, foodtrucks de comidas e bebidas estarão no local à disposição dos visitantes, que também poderão conferir de graça as exposições em cartaz nos dois prédios da Pinacoteca – Luz e Estação.
Destaque para a exposição No subúrbio da modernidade - Di Cavalcanti 120 anos, que foi prorrogada e fica em cartaz até 29 de janeiro. É a maior mostra de Di Cavalcanti já realizada desde a morte do artista, em 1976. Entre pinturas, desenhos e ilustrações, estão exibidas mais de 200 obras, realizadas ao longo de quase seis décadas de carreira e que hoje pertencem a algumas das mais importantes coleções públicas e particulares do Brasil e de outros países da América Latina, como Uruguai e Argentina.
Nicolás Bacal na Vermelho, São Paulo
A Vermelho apresenta Movimento Aparente, a segunda individual de Nicolás Bacal (1985, Buenos Aires, Argentina) na galeria. Essa é a primeira vez que o artista ocupa todo o prédio principal e a fachada da Vermelho com sua pesquisa em torno do tempo sensível e da vida emocional. Bacal apresenta obras que utilizam maquinas, sistemas e materiais industriais munidos de inversões românticas que propõe outra maneira de apreciar o nosso redor.
Logo na fachada da galeria, uma elipse arranhada na tinta da parede destaca as diversas narrativas que já passaram pela Vermelho, revelando vestígios dos mais de cem projetos que ocuparam tal fachada. Uma fita de cobre, usada para traçar a forma geométrica, sugere a ativação dessa memória por meio de suas propriedades de condutividade elétrica (o cobre tem a mais alta condutividade dos metais na engenharia).
Na poesia, e na narrativa em geral, elipses referem-se a omissões intencionais de trechos de continuidade que permitem que o leitor preencha as lacunas com suas próprias experiências e entendimentos. Em Movimento Aparente, essas lacunas vêm por via de inversões ou deformações: na primeira sala, um ventilador de teto não sopra vento e nem refresca o ambiente. Suas pás se movem no ritmo de um relógio de ponteiro, levando nosso olhar ao teto, contando minutos. Esse vetor aos céus se repete em Un caño de gas señalando la estrella más grande sobre nuestras cabezas [um cano de gás apontando para a maior estrela acima de nossas cabeças] (2017), um telescópio que mantém apenas o tripé de sua forma original, substituindo o jogo de lentes por um tubo de cobre para instalação de gás de cozinha. O telescópio de Bacal é programado para seguir a estrela que estiver mais próxima da Terra durante a exposição, assim, o visitante pode perceber o lento movimento do cano de gás ao longo do dia.
No segundo andar, em Sem título (2017), 12 pallets (ou páletes) de 7 ripas trazem em si a representação de um ano do calendário lunar pintado com massa corrida sobre os suportes já bastante usados na movimentação de cargas e otimização logística. Dois materiais ligados à produção econômica passam a se referir ao devaneio, à imaginação.
Do mesmo modo, La arquitectura de la soledad (2012-2017) mistura a Terra e o Cosmos, ou ciência e fantasia. Na série de grandes xilografias sobre papel que Bacal vem desenvolvendo desde 2012, intervenções sobre páginas do atlas “The Cambridge Star” trazem comentários e anotações, como em um bloco de notas, sobre as imagens da Via Láctea. O resultado dessas combinações é cavado em placas de compensado e estampados manualmente em papel offset e podem trazer variadas combinações sobre a cartografia celeste: desde constelações (que em si já guardam amálgama entre ciência e mitologia); tempestades de raios; réguas, esquadros e transferidores; volutas e garatujas ou, como em Movimento Aparente, a planificação da icônica bola Telstar.
Em 1970, a primeira bola de futebol produzida pela Adidas para a Copa do Mundo do México, ficou tão famosa que até hoje o modelo de 32 gomos pentagonais e hexagonais é sinônimo visual de bola de futebol. Seu nome faz referência ao satélite Telstar, que transmitiu o sinal da Copa pela primeira vez para o mundo inteiro. Seu design com gomos em preto e branco foi projetado para as transmissões dos jogos, permitindo que a bola ficasse mais visível nas imagens em preto e branco geradas pelas emissoras de TV. O nome Telstar (estrela de televisão) foi inspirado no satélite de mesmo nome, já que também possuía formato esférico, com painéis solares pretos, semelhante a bola da Adidas.
Em Sem título (2017), a mesma planificação aparece recortada em placas de alumínio, aproximando mais uma vez a bola de futebol do engenho colocado em órbita pelo homem. Aberta, a bola-satélite retorna às estrelas, lembrando uma constelação. Se fosse fechada, a composição formaria a bola de futebol de 32 gomos do tamanho, porém, do satélite original.
Dois blocos de construção inclinados formam Sem título (2017). Os blocos em “itálico” os transformam em tipografia de displays de sete segmentos (como as utilizadas em relógios digitais), abrindo uma possibilidade ortográfica para a arquitetura ou, até mesmo, para entende-los como números, como contadores de tempo.
De volta ao primeiro andar, um sino de bronze traça uma trajetória elíptica constante que toma toda a sala principal da galeria em La balística del minuto [A balística do minuto] (2017). Historicamente, sinos estão relacionados a rituais religiosos, seja para convocar fiéis ao culto, marcar momentos de meditação ou oração, ou para anunciar momentos ou pessoas de grande importância. No entanto, sem badalo, o sino de Bacal se torna o próprio badalo da exposição, da galeria, de sua obra e até, quiçá, do cosmos.
Carlos Motta na Vermelho, São Paulo
A Vermelho tem o prazer de anunciar que passa a representar a obra do artista Carlos Motta, nascido em Bogotá, na Colômbia, em 1978 e radicado em Nova York desde 1996. Seu trabalho multidisciplinar parte da história política com o objetivo de criar contra narrativas que reconheçam histórias, comunidades e identidades suprimidas. Motta é conhecido por seu engajamento com questões da cultura e do ativismo queer e por seu empenho em afirmar que as políticas de gênero e sexo representam uma oportunidade de articular posições definitivas contra a injustiça social e política.
Celebrando sua chegada na galeria, a Vermelho exibe seu filme Deseos [Desejos], de 2015, que expõe a maneira com que a medicina, a lei e a religião formataram discursos do corpo generificado através da narração de duas histórias: a de Martina, que viveu na Colômbia no século XIX e foi processada por ser hermafrodita, e a de Nour, que viveu em Beirute durante o Império Otomano e foi forçada a se casar com o irmão de sua amante.
Parte documental e parte ficção, o filme apresenta uma correspondência entre duas mulheres que enfrentaram as consequências de suas relações com parceiras do mesmo sexo, desafiando as normas de gênero.
O roteiro do filme foi escrito por Carlos Motta e por Maya Mikdashi.
Deseos estreou na Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Gothenburg (Suécia), em setembro de 2015, e desde então já foi apresentada no Festival Internacional de Cinema de Roterdã, além de outros festivais pelo mundo.
Carlos Motta nasceu em Bogotá, na Colômbia, em 1978 e vive em Nova York desde 1996. Motta é um artista multidisciplinar cujo trabalho parte da história política com o objetivo de criar contra-narrativas que reconheçam histórias, comunidades e identidades suprimidas. Seu trabalho é conhecido por seu envolvimento com questões da cultura e do ativismo queer, e por sua perseverança em demonstrar que as políticas de gênero e sexo representam uma oportunidade de articular posições definitivas contra as injustiças sociais e políticas.
O trabalho de Motta foi apresentado internacionalmente em instituições como a Tate Modern [Londres], New Museum, The Guggenheim Museum e MoMA / PS1 Contemporary Art Center [Nova York], Institut of Contemporary Art [Filadélfia], Museu de Arte do Banco da República [Bogotá], Fundação Serralves [Porto], Museu d'Art Contemporani de Barcelona [MACBA], Museu Nacional de Arte Contemporânea [Atenas], Castello di Rivoli [Turim], Museu de Arte CCS Bard Hessel [Annandale-on-Hudson], San Francisco Art Institute [San Francisco], Hebbel am Ufer [Berlim], Witte de With [Roterdam], Sala de Arte Público Siqueiros [Cidade do México], além de vários espaços públicos, privados e independentes em todo o mundo.
Em 2017, Motta apresentou as individuais “The Crossing”, no Stedelijk Museum [Amsterdam], “SPIT’, Frieze Projects London [Londres], “Lágrimas”, no Museo de Arte de la Universidad Nacional - Claustro de San Agustín [Bogotá], e no Museo de Arte Moderno de Medellín. Em 2016, apresentou as individuais “Histórias do Futuro’, no Pérez Art Museum (PAMM), Miami; “Réquiem”, no Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires[MALBA]; “Beloved Martina”, no Mercer Union, Toronto; “Deviations”, Galeria PPOW, Nova York; e a performance “Mondo Invertito” na Tenuta dello Scompiglio, em Vorno. No mesmo ano, Motta participou também da 32ª Bienal de São Paulo: Incerteza Viva.
Em 2017, Motta foi premiado com o The Vilcek Foundation’s Prize for Creative Promise, e em 2014 recebeu o prêmio principal do Future Generation Art Prize do Pinchuk Art Centre. O artista participou recentemente de conversas e apresentações no MoMA, Artists Space, New Museum, Frieze New York e no Museo Jumex. Em 2014, Motta integrou o simpósio SF MoMA’s Visual Activism, em São Francisco. Em abril de 2013, Motta cooperou como editor convidado na edição de abril do e-flux journal, “(im)practical (im)possibilities” sobre arte e cultura queer contemporânea.
Motta é graduado pelo Whitney Independent Study Program (2006). Em 2008 foi nomeado Guggenheim Foundation Fellow. O artista obteve subsídios do Art Matters [2008], da NYSCA (2010), do Creative Capital Foundation e do Kindle Project (2012). Motta é docente no Parsons The New School of Design. E é afiliado à The School of Visual Arts, em Nova York.
janeiro 18, 2018
Scapeland no Memorial da América Latina, São Paulo
O aniversário da maior cidade do país é o mote que inspira a exposição Scapeland - Território de Trânsito Livre, a partir do dia 25 na galeria Marta Traba do Memorial da América Latina. A mostra poderá ser vista de terça a domingo, das 9h às 18, com entrada livre para todas as faixas etárias.
A temática recorrente das obras dos 46 artistas convidados pelo curador Laerte Ramos é a paisagem capturada em horizontes, cidades, planos e recortes de lugares reais e imaginários. “Essa coletânea é um presente de aniversário para São Paulo”, diz Ramos.
Artista plástico, gravurista e ceramista, Ramos transita com desenvoltura por outras linguagens, como o vídeo, instalação e performance.
Nos últimos 20 anos realizou diversas exposições individuais no Brasil e no exterior. Entre os artistas que vão participar da Scapeland, estão nomes consagrados das artes plásticas do país, como Regina Silveira, Sérgio Romagnolo e João Loureiro e jovens que já se destacam no cenário contemporâneo nacional como Yuli Yamagata, Thiago Toes e Henrique Detomi.
janeiro 17, 2018
Clarissa Tossin no Blanton Museum of Art, EUA
Os rios Negro e Amazonas se juntam e viajam pela região amazônica para desaguar no Oceano Atlântico. Encontro das águas toma emprestado seu nome da confluência desses rios no porto da cidade brasileira de Manaus. Por quase quatro milhas depois de se encontrarem, as águas preta e bege correm paralelamente entre si, mas não se misturam. O Porto de Manaus serve como outro tipo de ponto de confluência: de capital estrangeiro e as tradições locais. A partir do final do século XIX, o investimento britânico transformou Manaus no centro do boom da borracha e na mais industrializada cidade do Brasil. Depois de 1912, quando os britânicos encontraram fontes alternativas de borracha em suas colônias, a cidade empobreceu. Hoje, o porto facilita o movimento de capital novamente. Após uma década de desregulamentação que começou em 1957, a cidade tornou-se uma Zona de Livre Comércio e agora hospeda as fábricas de empresas como Apple, Sony, LG, Dell, Coca-Cola, Harley Davidson e Honda. As manufaturas produzidas nessas fábricas entram no mercado global em navios de carga que saem do Porto de Manaus.
Tossin explora essa complicada história, através de uma série de objetos que falam sobre o impacto da industrialização e a cultura material dos grupos indígenas da área, que foram explorados por um sistema de trabalho feudal ao longo do boom da borracha. Tossin produz réplicas de iPhones, garrafas de Coca-Cola e cartuchos de tinta Epson em terracota, material usado por diferentes comunidades indígenas na criação de objetos utilitários, como potes e recipientes de armazenamento de alimentos. Feitos a mão durante muitas horas, os eletrônicos de terracota não possuem a funcionalidade das versões reais feitas em linhas de montagem e por máquinas. A artista usa os rejeitos da cultura de consumo, tiras de caixas da Amazon.com, para fazer cestas que remetem à herança dos trançados Baniwa. A rede tecida fala da importância de longa data da pesca na área, enquanto a tapeçaria imita a convergência dos rios e das manufaturas que os atravessam.
Ao combinar materiais e usos de objetos tradicionais e modernos, Tossin nos pede para considerar o impacto da globalização. A indústria estrangeira revitalizou a região, mas apenas após causar sua falência no passado; a indústria traz dinheiro, mas também polui o meio-ambiente e desconsidera a cultura local, transformando Manaus em um dos milhares de centros de produção em todo o mundo que alimentam nosso crescente apetite por mais.
janeiro 16, 2018
Francisco Goya na Caixa Cultural, Brasília
Coleção de gravuras que revela o período mais obscuro do artista espanhol entra em cartaz no dia 10 de janeiro na Caixa Cultural Brasília
A Caixa Cultural Brasília apresenta, de 10 de janeiro a 4 de março, a mostra Loucuras Anunciadas, do artista espanhol Francisco de Goya (1746-1828). A coleção, também chamada de Disparates, que reúne 20 gravuras, é uma edição póstuma da Academia de Belas Artes de Madri, que adquiriu as pranchas em 1864.
O ciclo apresentado em Brasília é considerado o mais obscuro e complexo da produção de Goya. O período em que as gravuras foram feitas não é muito preciso; de acordo com especialistas, devem ser de 1815 a 1820. Goya tinha decidido não publicá-las, por causa da perseguição aos iluministas à época.
As enigmáticas gravuras são as últimas obras gráficas de Goya. Disparates é uma série que revela visões, violência, sexo, deboche das instituições relacionadas com o regime absolutista, crítica aos costumes e ao clero.
Gravuras ampliadas
Segundo a curadora Mariza Bertoli, a exposição contará também com diversas atividades interativas. “Pensei em um espaço que gerasse inquietações e curiosidade. Os participantes estarão vivenciando, de fato, o exercício estético. O estético na arte é o que comove, e a sua finalidade é colocar-nos na obra que está nos nossos olhos; promover um conhecimento sensível”, explica Mariza.
“Será uma experiência forte fotografar-se nestes cenários, que são as gravuras aumentadas. Ver-se entre os loucos é inusitado. Valorizar a liberdade de não estar ‘ensacado’. Afinal, no início da mostra, nos perguntamos: pode-se anunciar loucuras?”, completa a curadora.
A mostra contará com duas grandes gravuras impressas para que as pessoas se fotografem diante das imagens. Uma delas, contará com sacos, tal como na gravura original - “Os ensacados” (Los ensacados), que estará na exposição. A gravura remete à opressão, ao desespero e à própria sensação da surdez. Goya perdeu a audição aos 46 anos.
Acessórios e vestuários também ficarão à disposição, para que as pessoas possam se caracterizar e fazer suas próprias produções para fotografia. As gravuras ampliadas medem 1,8m x 2,75m. Além disso, estarão disponíveis ainda diversas máscaras e dois espelhos, um côncavo e outro convexo, para que os visitantes se vejam por outras perspectivas.
Athos Bulcão na Caixa Cultural, Recife
Mostra apresenta gravuras, azulejos, murais e projetos de um dos ícones da arte moderna brasileira
A Caixa Cultural Recife apresenta dia 21 de dezembro de 2017 a exposição Athos Bulcão - Tradição e Modernidade, que traça um resumo artístico de um dos ícones da arte moderna brasileira. Com curadoria de Marcus de Lontra Costa em parceria com a Fundação Athos Bulcão de Brasília, a mostra é composta por 40 obras em azulejaria, gravuras, serigrafias, vídeos, projetos, plantas, estudos, textos e material iconográfico que ajudam a elucidar a trajetória do artista e a traçar um elo entre sua vida, a arte e a arquitetura. A abertura da mostra acontece no dia 21/12 às 19h e tem entrada gratuita. A visitação vai de 22 de dezembro a 28 de janeiro de 2018, podendo ser feita de terça-feira a sábado, das 10h às 20h, e aos domingos, das 10h às 17h.
A exposição privilegia a produção arquitetônica de murais e azulejaria do artista, de caráter geométricos e monumentais, como os painéis do Sambódromo (RJ), Aeroporto Internacional Presidente Juscelino Kubitscheck, Rodoferroviária e a Igrejinha N. S. de Fátima, em Brasília, e a Embaixada do Brasil em Buenos Aires na Argentina. No intuito de explorar a heterogeneidade e pluralidade modernista de Bulcão, foram selecionadas aproximadamente 40 obras de formatos variados, que abrangem seus fundamentos criativos e signos plásticos poéticos.
Cada um dos seis núcleos artísticos contém um grande mural de azulejos, acompanhado de seu projeto/planta e uma foto de sua aplicação no local de origem (construção/arquitetura), em conjunto com uma monumental instalação cenográfica da fachada do Teatro Nacional de Brasília, marco da arquitetura nacional e ícone da capital brasileira. Há ainda uma sessão dedicada exclusivamente à produção de gravuras e serigrafias, e a exibição de um vídeo-entrevista com o artista.
Athos Bulcão potencializa a arquitetura e trabalha peculiaridades oferecidas pelo espaço projetado, as relações deste com a paisagem e com a natureza, como a incidência da luminosidade solar. Em seus azulejos destacam-se a modulação e o grafismo criados com base nas formas geométricas. Sua obra, inscrita em alguns dos principais edifícios modernos brasileiros, notabiliza-se pelo equilíbrio encontrado nas relações entre arte e arquitetura.
Sua arte também está ligada aos espaços públicos, entre murais, painéis e relevos para os edifícios do Congresso Nacional e Câmara dos Deputados, entre outros. Há mais de 200 obras de integração da arte à arquitetura espalhadas por Brasília - DF. Os azulejos e os painéis de integração fazem parte do acervo da humanidade.
“Athos Bulcão contribuiu de forma decisiva para a história da arte brasileira e agrega valores internacionais na construção das questões vanguardistas do século XX. Considerado um dos mais expressivos artistas de sua geração, a exposição propõe o resgate de sua memória através de uma mostra abrangente e de qualidade relevante”, destaca o curador Marcus de Lontra Costa.
Athos Bulcão (1918-2008) nasceu no Rio de Janeiro e sempre teve incentivo no campo das artes. Em 1939, abandona a medicina para dedicar-se à pintura. Torna-se amigo de Burle Marx, Carlos Scliar e Enrico Bianco. Por Murilo Mendes é apresentado ao casal Vieira da Silva e Arpad Szenas freqüentando o ateliê deles na década de 1940. Trabalha com Candido Portinari na construção do painel de São Francisco de Assis, na Igreja da Pampulha (BH). Sua primeira exposição individual veio em 1944, na inauguração da sede do Instituto dos Arquitetos do Brasil.
Entre 1948 e 1950, vive em Paris com bolsa de estudo concedida pelo governo francês. Realiza cursos de desenho na Académie de La Grande Chaumière e de litografia no ateliê de Jean Pons.
De volta ao Brasil, com os preparativos para a transferência da capital para Brasília, a convite do arquiteto Oscar Niemeyer, torna-se um dos principais artistas a desenvolver uma obra integrada à arquitetura. Trabalha em associação com Oscar Niemeyer e posteriormente com o arquiteto João Filgueiras Lima. Como escultor, trabalha desde 1955 realizando obras de integração arquitetônica. Em 1971, trabalha com Oscar Niemeyer em projetos na França, Itália e Argélia.
Escultura, máscara, pintura, desenho, ilustração, figurino, fotomontagem, mural, azulejaria – tudo é linguagem e expressão do talento de Athos Bulcão. Do contato com a vanguarda modernista no Rio de Janeiro à formação europeia em Paris, esta trajetória levaria o artista a finalmente fixar-se em Brasília nos anos 1960, contribuindo com sua obra para a criação de um novo olhar sobre o espaço urbano, nos grandes projetos dos quais participa e que buscam integrar artes plásticas e arquitetura.
Pelo conjunto de sua obra, Athos Bulcão recebeu vários prêmios e condecorações, como a Ordem do Mérito Cultural (MinC) do ano de 1995. No mesmo ano, ele foi condecorado com o Diploma de Reconhecimento do Instituto dos Arquitetos do Brasil por sua obra em prol da arquitetura nacional. Em 1996, o artista ganhou o título de Cidadão Honorário de Brasília.
Athos Bulcão foi amigo de alguns dos mais importantes artistas brasileiros modernos, como Carlos Scliar, Jorge Amado, Burle Marx, Vinícius de Moraes, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Manuel Bandeira.
janeiro 14, 2018
Júnior Pimenta na Sem título Arte, Fortaleza
Vá em frente, volte pra casa! é a terceira exposição individual do artista Júnior Pimenta, que tem uma trajetória artística de mais de dez anos, com trabalhos em acervos de instituições públicas importantes como: Museu de Arte Contemporânea- Dragão do Mar; Centro Cultural Banco do Nordeste e Coleção da cidade, do Centro Cultural São Paulo.
A mostra faz parte da premiação concedida ao artista na 67ª edição do Salão de Abril, em 2016, que contou com a comissão curatorial de: Clarissa Diniz, Daniel Rangel e Pablo Assumpção. Pimenta recebeu o grande prêmio, que consistia em uma residência artística em São Paulo e, consequentemente, na exposição dos trabalhos desenvolvidos durante esse período. A individual também integra o projeto Rotatórias da Sem Título Arte.
A pesquisa que resultou na mostra, tem início em dois momentos: o primeiro quando o artista, na sua adolescência, muda-se de Orós, no interior do Ceará, para morar em Belo Horizonte, Minas Gerais; onde na escola sofria com agressões xenofóbicas, ouvia sempre coisas do tipo: “o que veio fazer aqui?” “Volte pra sua terra?”. Outro fato marcante, foi o contato do artista com uma matéria, sobre um refugiado do Gabão, Pateh Sabally, de 22 anos, que pulou no canal de Veneza, enquanto moradores e turistas o observavam e filmavam seguido de frases, como: “Deixe-o morrer!” “Estúpido!”, “Vá em frente, volte pra casa!”. Logo, Pimenta busca refletir sobra a ideia de pertencimento durante a residência em São Paulo. Um lugar que também não pertence ao artista, sendo a cidade brasileira que mais recebe imigrantes e refugados.
A residência aconteceu durante o mês de outubro de 2017, no Hermes Artes Visuais, espaço autogestionado dos artistas, Nino Cais, Carla Chaim e Marcelo Amorim. Este último é quem acompanhou a pesquisa de Pimenta, assinando, portanto, a curadoria da exposição.
Essa pesquisa e essa exposição foi desenvolvida com apoio do Salão de Abril, através da Secretaria municipal da cultura de Fortaleza – SecultFor; referente ao grande prêmio do 67º Salão de abril, 2016.
Júnior Pimenta é artista visual, vive e trabalha em Fortaleza. Atualmente cursa o Mestrado em Artes na UFC. Com mais de dez anos de produção artística, realizou duas individuais: “Âmago”, na Sala Nordeste-FUNARTE, Recife-PE; Estação Cabo Branco, João Pessoa-PB; Centro cultural Banco do Nordeste, Fortaleza-CE, com curadoria de Ana Cecília Soares. Em 2014, “Descaminhos”, no Museu de Arte Contemporânea, Dragão do Mar, Fortaleza-CE, com curadoria de Marisa Flórido. Também participou de várias coletivas, entre elas: 67º Salão de Abril; Spa das artes; Hacia un arte del encuentro dos, em Buenos Aires; Transpondo o olhar, UFES, Vitória–ES; Fora do eixo, galeria UNB, Brasília-DF; Lugares, ações e processos, no Centro Hélio Oiticia, UFRJ, Rio de Janeiro – RJ; Carneiro - MAC-CE, Fortaleza-CE; Performance em encontro, SESC-SP, Campinas-SP; Triangulações, Galeria UFG, Goiânia-GO / MAM, Salvador-BA e MAC-CE, Fortaleza-CE; entre outras.
Conquistou o Grande Prêmio do 67° Salão de Abril, 2016, que consiste em uma residência no Hermes Artes Visuais em São Paulo. Também participou de outras residências como, a Residência en la tierra, em Quindio na Colômbia. Residência em sete, no Dança no andar de cima, Fortaleza.
Além de sua produção artística, realizou alguns projetos curatoriais, dentre eles estão: Refrações na paisagem, exposição coletiva, no Dragão do Mar, Fortaleza-CE; e Rito Resigno, no Centro Cultural Banco do Nordeste, Fortaleza-CE.
Pimenta possui obras em acervo das seguintes instituições: Museu de Arte Contemporânea do Ceará - Dragão do Mar, Fortaleza-CE; Centro Cultural Banco do Nordeste, Fortaleza- CE e Centro Cultural São Paulo. Ele também é editor da revista Reticências..., que atua como espaço de reflexão sobre a produção contemporânea, com foco na produção brasileira e latinoamericana. O artista compõe o conselho editorial das revistas Arte ConTexto, de Porto Alegre, e Canguru, de Curitiba.
Pimenta pensa, em todas suas atividades, como forma de contaminação e entrecruzamento de pensamentos, gerando um processo indissociado na construção de sua poética.
Marcelo Amorim (Goiânia, Goiás, Brasil, 1977) é artista visual, curador independente e professor. Entre 2009 e 2016 dirigiu o Ateliê397, espaço independente de arte, onde foi responsável pela concepção e realização de programas de exposições, publicações, debates e cursos voltados para o contexto da arte contemporânea. Pós-graduado em Mídias Interativas pelo Centro Universitário SENAC, é editor formado em Produção Editorial pela Universidade Anhembi Morumbi. Foi coordenador editorial do Paço das Artes, instituição da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, entre 2004 e 2008. É um dos orientadores do grupo de acompanhamento de processos artísticos Hermes Artes Visuais. Entre as curadorias que realizou destacam-se: Contraprova (Paço das Artes, 2015), Lusco Fusco - Karlla Girotto (Ateliê397, 2015), Pintar a China Agora, - Brody & Paetau (Ateliê397, 2015), É fluido mas é legível (Oficina Oswald de Andrade, 2014).
Em sua obra artística, Marcelo Amorim coleciona e apropria-se de imagens para a partir delas produzir principalmente desenho, pintura e vídeo. Retiradas de acervos particulares, manuais, livros didáticos, mídias sociais, as imagens tem procedências diversas e parecem ser de um passado distante. Através de montagens e transposições o artista liberta intenções, particularidades e gestos contidos nas imagens com o intuito de revelar seu papel de conformadoras de comportamentos e levantar questões sobre os valores culturais históricos e sua evolução ao longo do tempo.
Realizou exposições individuais no Ateliê397, Centro Cultural Elefante, Centro Cultural São Paulo, Galeria Zipper, Galeria Jaqueline Martins, Galeria Oscar Cruz, Museu de Arte de Ribeirão Preto, Paço das Artes, além de ter participado de coletivas na Caixa Cultural, Instituto Figueiredo Ferraz, Memorial da América Latina, Paço das Artes e Sesc, entre outros.
janeiro 13, 2018
Ivan Padovani na Zipper, São Paulo
A experiência de congelar em imagens fragmentos de uma cidade em trânsito e, por sua essência, transitória, é uma das questões mais presentes no trabalho do artista Ivan Padovani. São Paulo é a figura-chave nesse processo, embora a capital nunca se apresente de maneira clara ou direta. Suas fotos trazem indícios de uma cidade desmembrada em recortes visuais e detalhes imperceptíveis em seus contextos originais, mas facilmente reconhecidos nesta nova configuração por quem circula nesses espaços urbanos ao mesmo tempo tão genéricos e familiares.
É o caso da nova série que exibe nesta individual, Trauma, primeira mostra do calendário Zip’Up de 2018. O conjunto apresenta imagens de obras de infraestrutura paralisadas – uma paisagem quase padrão na cidade, especialmente nos últimos anos que antecederam as transformações urbanas prometidas para a Copa do Mundo. Mas ao isolar esses blocos de concreto e vigas metálicas de qualquer outro referencial, as estruturas ganham o aspecto de monumentos, evocando um certo ideal de transformação que parece ter ficado em suspenso.
“Busco a subjetividade em relação ao ambiente, especialmente como se dá nossa relação com a cidade, onde, contraditoriamente, a arquitetura vem perdendo grande parte de sua simbologia. Eu me aproprio destas estruturas abandonadas, estes monumentos, para demarcar a memória de um insucesso”, afirma o artista.
Idealizado em 2011, um ano após a criação da Zipper Galeria, o programa Zip’Up é um projeto experimental voltado para receber novos artistas, nomes emergentes ainda não representados por galerias paulistanas. O objetivo é manter a abertura a variadas investigações e abordagens, além de possibilitar a troca de experiência entre artistas, curadores independentes e o público, dando visibilidade a talentos em iminência ou amadurecimento. Em um processo permanente, a Zipper recebe, seleciona, orienta e sedia projetos expositivos, que, ao longo dos últimos seis anos, somam mais de quarenta exposições e cerca de 60 artistas e 20 curadores que ocuparam a sala superior da galeria.
Com curadoria de Nathalia Lavigne, “Trauma” abre no dia 16 de janeiro, junto com a nona edição do Salão dos Artistas sem Galeria, e segue em cartaz até 24 de fevereiro.
Sobre o artista
Ivan Padovani (São Paulo, 1978) é formado em Administração pela FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), pós-graduado em Fotografia pela mesma instituição e é professor na Escola Panamericana de Arte e Madalena Centro de Estudos da Imagem. Seu projeto Campo Cego integrou a exposição Time – Space – Existence, que fez parte da 15ª Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza. Também foi contemplado no Concurso Diário Contemporâneo de Fotografia 2014 e ganhador de bolsa para participar do Programa Descubrimientos no Festival PhotoEspaña 2014. Em 2016, foi finalista do Concurso Conrado Wessel de Fotografia com o projeto Superfície, trabalho também selecionado para o Salão Luiz Sacilotto de Arte Contemporânea 2017.
Sobre a curadora
Nathalia Lavigne (Rio de Janeiro, 1982) é crítica de arte, curadora e pesquisadora. Doutoranda no programa de pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, é mestre em Teoria Crítica e Estudos Culturais pela Birkbeck, University of London e graduada em Jornalismo pela PUC-RJ. Escreve para publicações como ArtReview, Artforum, Select, entre outras. Foi uma das pesquisadoras do projeto “Observatório do Sul”, plataforma de discussões promovida em 2015 pelo Sesc São Paulo, Goethe-Institut e Associação Cultural Videobrasil.
100 anos de Athos Bulcão no CCBB, Brasília
A essência de Athos Bulcão em mostra que celebra o século de nascimento do artista
O ponto de partida dessa grande exposição itinerante é Brasília, cidade que contém em seu DNA a maior expressão da inventividade poética do homenageado
Athos Bulcão está na brasilidade das cores, nos traços inconfundíveis dos desenhos, na personalidade das pinturas, na lógica imprevista das fotomontagens, na força dos cenários e figurinos, na relação univitelina entre arte e arquitetura, no sagrado e no profano, na explosão da azulejaria brasileira. Com curadoria de Marília Panitz e André Severo, a exposição 100 anos de Athos Bulcão, realizada pela Fundação Athos Bulcão e produzida pela 4 Art, irá percorrer as unidades do CCBB Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, a partir de 16 de janeiro de 2018.
Com a intenção de propor um profundo mapeamento e imersão na diversidade dos trabalhos e técnicas do artista, a mostra oferece ao espectador a possibilidade de conhecer o processo de sua produção. Incluindo a exibição de obras inéditas, mais de 300 trabalhos de Athos, grande parte do acervo da Fundação, apresentarão ao público um amplo panorama de sua criação entre os anos 1940 e 2005, contextualizando sua obra e seu pensamento. Além disso também serão apresentados trabalhos de artistas que, de uma maneira mais direta – convivendo com ele, no ateliê e nos chás – ou indireta – artistas mais jovens, muitos nascidos em Brasília, que reconhecem a influência do mestre pelo convívio cotidiano com suas obras públicas.
Dividida em núcleos, “100 anos de Athos Bulcão” vai além da arte da azulejaria: destaca também a pintura figurativa do artista realizada nos anos 1940 e 1950, antes de Brasília. – A série dos carnavais e sua relação com a pintura sacra é extraordinária – afirma Marília Panitz, ao destacar que Athos utilizou uma mesma estrutura composicional para trabalhos sacros e profanos, citando como exemplo A Vida de Nossa Senhora, que está na Catedral de Brasília. A mostra contém ainda os croquis que Athos fez para o grupo de teatro O Tablado, do Rio de Janeiro, os figurinos das óperas Amahl e Os Visitantes da Noite de Menotti, paramentos litúrgicos modernistas, grande acervo de seu trabalho gráfico e até os lenços que desenhou quando estava em Paris.
Outro aspecto da exposição é a interatividade, desenvolvida a partir do caráter urbano e democrático da obra pública de Athos Bulcão inserida nas cidades. Através de um aplicativo criado especialmente para a mostra, o público será convidado a interagir e apropriar-se de projetos. Como num jogo, os azulejos de Athos poderão ser “colocados” em qualquer espaço como, por exemplo, a casa do “jogador”. A realização de mesas-redondas com os curadores e convidados especiais que irão dialogar com os visitantes sobre a vida e obra de Athos Bulcão completam a programação. A primeira delas acontece no dia 17 de janeiro às 17h com a presença dos curadores, Marília Panitz e André Severo, Valéria Cabral, secretária executiva da Fundação Athos Bulcão, além de vários artistas da cena brasiliense.
A EXPOSIÇÃO
– Combinando o viés cronológico com uma aproximação temática, “100 anos de Athos Bulcão” aposta nos vínculos, mais ou menos evidentes, entre diferentes momentos da trajetória do artista e se estrutura a partir de núcleos de obras e estudos que se interpenetram e deixam evidente a diversidade conceitual e material que permeia toda a obra de Athos Bulcão – afirma André Severo.
As obras do Núcleo 1 – A cor da fantasia, têm caráter figurativo, o que é menos conhecido, no conjunto de sua criação. Com figuras simplificadas e uma paleta particular, em que as cores puras e os tons terrosos predominam, o universo imaginário do artista, formalmente aproxima as festas profanas com as imagens religiosas que produziu, ainda no início dos anos 1960, para a Catedral de Brasília. Nesse núcleo estão também as vestes litúrgicas e projetos para painéis e vitrais de igrejas, produzidos pelo artista, assim como desenhos realizados no final de sua vida quando o tema do carnaval que aparece como lembrança ancestral, reaparece.
As fotomontagens são um momento único na obra d Athos Bulcão. No Núcleo 2 – Devaneios em preto e branco, elas apontam para certo pensamento tributário das experimentações surrealistas e de certa vertente construtiva presente nos desdobramentos da experiência da Bauhaus. É também uma utilização daquilo que o aprimoramento do offset e das revistas possibilitou. Aqui é possível identificar a maestria da composição associada a um viés de humor. Além das Fotomontagens pertencentes ao acervo da Fundação Athos Bulcão, serão exibidas pela primeira vez as colagens que deram origem a elas – todas pertencentes a uma coleção particular.
Na abertura do Núcleo 3 – É tudo falso, surge o artista segurando uma máscara que é a reprodução de uma outra, ancestral. O título do núcleo toma uma fala de Athos que questionava a ideia de originalidade e, portanto, o de falsificação, assim como outros artistas seus contemporâneos. Junto a estas “pinturas objetos” estão pinturas, gravuras e desenhos em torno do mesmo tema da documentação antropológica imaginária. Ainda estão presentes alguns dos bichos – coleção de esculturas criada em pequena escala, a maneira dos seres imaginários de Borges e depois construídos em tamanho maior para as crianças na Rede Sarah de hospitais para o aparelho locomotor.
No Núcleo 4 – A geometria e a poesia, se pode observar mais profundamente o Athos grande colorista e sua paleta de cores. Há ali, um tríptico onde estão reunidos os três vieses desse grupo de obras pictóricas desenvolvidos entre o final dos anos 1960 e os anos 1990: as máscaras, que quase desfaziam a figuração; a associação de recortes quadrados que se espalhavam sobre o fundo monocromático; e as texturas com pequenos círculos, pontos, cruzes, quase ideogramas particulares criados pelo artista, que se espalham por toda superfície da tela e definem, sutilmente, formas que nos parecem instáveis dando-se a ver e desaparecendo sob o olhar do observador. Em diálogo com as telas, são colocados estudos de painéis de azulejos, desenhos e gravuras que comprovam o parentesco conceitual nas diversas experimentações: coerência e diversidade.
O Núcleo 5 – A forma reinventada e seus modos de usar reúne as experiências do artista em diversos campos como suas capas de revistas e livros, ilustrações de jornais, projetos de estamparia em lenços e capas de discos. Também são apresentadas suas incursões no teatro – em especial, junto ao grupo O Tablado, de Aníbal Machado – onde foi cenógrafo e figurinista, além de designer dos programas das peças. Ainda é possível encontrar seus projetos para mobiliário realizados em residências particulares, assim como na Rede Sarah. É um bom momento para refletir como, a partir de uma clara proposta estética e conceitual, o artista se aventura por outros campos de fazer.
O Núcleo 6 – Construções/Montagens: a invenção de uma forma de integração da arte à arquitetura é o maior núcleo da mostra. Dele fazem parte os trabalhos dessa integração que se conhece em Brasília mais massivamente, mas também em muitas cidades no Brasil e no exterior. Aqui é possível ver o método do mestre, sua precisão e sua abertura para a surpresa, para o inesperado, que mantêm sua obra com um frescor perene.
À maneira de um jogo, o visitante é convidado a interagir e apropriar-se de projetos de painéis de azulejos (marca maior do trabalho do artista). O exercício proposto no Núcleo 7 – Interagir com Athos, transformar a cidade, é que, por meio de um aplicativo desenvolvido especialmente com este fim, e a reprodução das imagens projetadas na parede do fundo da galeria, o jogador possa experimentar os azulejos de Athos de sua escolha sobre as superfícies de sua casa, por exemplo, ou de um prédio escolhido dentro do repertório de imagens oferecidos pelo jogo.
O Núcleo 8 – Rastros de Athos trata da presença da obra e dos ensinamentos de Athos, como influência no trabalho de artistas contemporâneos. Aqui, os visitantes poderão conferir obras de alguns artistas que reconheçam de alguma forma a presença de Athos em suas poéticas e junto a uma outra, de Athos, que corresponda a esta zona de influência.
Ao longo de toda a mostra podemos ver a reprodução em escala de alguns dos relevos acústicos que foram desenvolvidos pelo artista, assim como algumas divisórias utilizadas em diversos prédios públicos, cuja originalidade e funcionalidade são marca do trabalho, sem precedentes, de integração entre arte e arquitetura proposto por Athos Bulcão.
No espaço externo (marquise e jardins), três cubos, com faces verticais revestidas com doze padrões de azulejos realizados em construções espalhadas por diversas cidades do Brasil e do mundo, como, embaixadas, prédios públicos etc. A cobertura em uma dimensão generosa e realizada com o material real possibilita ao público a experiência do corpo a corpo com os painéis e também propicia a aventura de documentar as viagens imaginárias pelos diversos locais onde estão seus trabalhos, com um só click.
Para além da cronologia, e exposição contextualiza a trajetória de Athos Bulcão, a conexão entre suas obras e um adensamento em sua poética. Será possível visualizar seu caminho no Brasil e exterior, desde sua inspiração inicial pela azulejaria portuguesa, seu aprendizado sobre utilização das cores, quando foi assistente de Portinari, até as duradouras e geniais parcerias com Niemeyer e João Filgueiras Lima, o Lelé. – Para nós, que divulgamos e preservamos seu legado, é sempre uma alegria homenagear o talento desse homem discreto, preocupado especialmente em harmonizar e compor o trabalho do arquiteto na integração de sua arte, mas que também se engrandece quando envolvido em telas, tintas e pincéis, produzindo um dos mais destacados repertórios da arte brasileira – afirma Valéria Cabral, secretária executiva da Fundação Athos Bulcão.
Essa homenagem a Athos quer resgatar o valor individual dessa arte única que foi produzida no Brasil, sua importância no panorama da visualidade moderna, além da valorização, do reconhecimento para a manutenção da memória nacional.
janeiro 12, 2018
Bruno Dunley na Nara Roesler NY, EUA
A Galeria Nara Roesler | New York tem o prazer de apresentar The Mirror, a primeira exposição individual de Bruno Dunley, um dos principais nomes do grupo 2000e8. Nesta mostra, o artista apresenta obras inéditas, desenvolvidas durante residência artística em East Hampton. O trabalho de Dunley questiona a especificidade da pintura, particularmente em relação à representação e à materialidade. Suas telas partem de composições cuidadosamente construídas, passando gradualmente por correções e alterações que, às vezes, revelam as lacunas na aparente continuidade da percepção.
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Nascido em 1984, em Petrópolis Dunley formou-se bacharel em Artes Visuais pela Faculdade Santa Marcelina, e em Fotografia pelo SENAC. Um dos indicados à edição de 2012 do Prêmio PIPA, o artista teve destaque em várias exposições individuais tais como: Ruído (Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil, 2016) e Bruno Dunley (11 Bis, Paris, France 2012); e também exposições coletivas como: A luz que vela o corpo é a mesma que revela a tela (CAIXA Cultural, Rio de Janeiro 2017) e 9999 (The Fireplace Project, East Hampton, New York 2017). Ao lado Marina Rheingantz e de Lucas Arruda, artistas cujas produções ganham cada vez mais notoriedade no cenário atual, Dunley possui obras em importantes coleções institucionais como a do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, da Pinacoteca do Estado de São Paulo, do Instituto Figueiredo Ferraz e do Instituto Itaú Cultural.
De acordo com a definição do próprio artista, seu trabalho é “uma análise da natureza da pintura na qual códigos linguísticos x como o gesto, o plano, a superfície e a representação x são compreendidos como um alfabeto, um vocabulário compartilhado.” Este pensamento permite uma profusão de procedimentos e resultados que criam uma leitura específica do mundo atual.
As obras desenvolvidas durante a residência Further on Air, entre setembro de 2016 e fevereiro de 2017, em East Hampton, expressam um diálogo com a história da pintura, e também o interesse do artista pelos atributos naturais da região que, já na década de 40 e 50 fascinaram também Jackson Pollock (1912-1956), Franz Kline (1910-1962) e Willem de Kooning (1904-1997).
Para atingir, como ele diz, "um certo grau de violência" nas telas expostas nesta mostra, Dunley dedicou-se a estudar os coloristas modernos como Alfredo Volpi (1986 - 1988), Henri Matisse (1869 - 1954), Mark Rothko (1903 - 1970), o que o levou a observar as iluminuras medievais, também composições de cores intensas e contrastantes. A partir de versões da sintaxe aplicada aos pergaminhos e manuscritos das abadias da Idade Média, o artista adentrou um universo de símbolos míticos, referente ao repertório em que se encontram fenômenos naturais e imaginários, figuras do apocalipse e do bestiário. Este léxico aparece em alguns dos títulos Danaë (2016), Sísifo (2016) e Édipo (2017).
Como observa Leda Catunda no texto crítico da exposição, Dunley não trabalha por repetição ou serialização. Seu processo é variável e se sedimenta à medida que as experiências em torno das práticas são absorvidas. Sua poética surge em meio ao acúmulo de experiências, nunca em resposta a uma reincidência simples da linguagem, senão à identificação de um artista em progressiva construção.
No dia 20 de janeiro, a Galeria Nara Roesler lançará uma publicação inédita que reúne trabalhos feitos pelo artista nos últimos 10 anos. O livro foi publicado pela APC - Associação para o Patronato Contemporâneo, uma associação sem fins lucrativos fundada em 2011 pela Galeria Nara Roesler para viabilizar a realização de projetos institucionais e estimular o patronato cultural. Bruno Dunley conta com um projeto gráfico ousado que propõe novas relações entre as obras e os temas essenciais de sua pesquisa por meio de conversas registradas em textos. A publicação é composta por páginas duplas que formam abas que se abrem e se fecham ao gosto do leitor, a publicação possibilita inúmeros arranjos entre as obras, funcionando como uma espécie de exposição gráfica, linear, porém não cronológica.
Galeria Nara Roesler | New York is pleased to present The Mirror, Bruno Dunley’s first solo exhibition in New York. One of the leading names of the Brazilian collective 2000e8, the 33-year-old artist presents a selection of unprecedented works developed during a 2016 artist residency in East Hampton. Dunley’s work questions the specificity of painting, particularly in relation to representation and materiality. His canvases depart from carefully constructed compositions, gradually undergoing corrections and alterations which, at times, reveal the lacunae in the apparent continuity of perception.
Born in 1984 in Petrópolis, Brazil Dunley holds a degree in Fine Arts from Santa Marcelina School. One of the nominees for the 2012 edition of the Pipa Prize, the artist has featured in several solo shows Ruído (Galeria Nara Roesler, São Paulo 2016); Bruno Dunley (11 Bis, Paris, France 2012); as well as group shows including: A luz que vela o corpo é a mesma que revela a tela (CAIXA Cultural, Rio de Janeiro 2017); and 9999 (The Fireplace Project, East Hampton, New York 2017). Alongside Marina Rheingantz and Lucas Arruda, Dunley’s works are part of important institutional collections in Brazil, such as of the Museum of Contemporary Art of the University of São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Instituto Figueiredo Ferraz and Instituto Cultural Itaú.
According to the artist’s own definition, his work is “an analysis of the very nature of painting, its sensitivity and linguistic codes such as gestures, the plane, the surface, the representation…these elements are shared within the realm of pictorial language and understood as an alphabet, a surface for common writing.” This thought allows for a myriad of procedures and results that compete to create a particular reading of the current world.
The works developed during the residency in East Hampton Further on Air, between September 2016 and February 2017 express both a dialogue with the history of painting, as well as the artist’s interaction with the natural attributes of the region, which in the 40s and 50s also fascinated Jackson Pollock (1912-1956), Franz Kline (1910-1962) and Willem de Kooning (1904-1997).
In order to express, "a certain degree of violence" on his canvases Dunley studied modern coloristes such as Alfredo Volpi (1986-1988), Henri Matisse (1869-1954), and Mark Rothko (1903 - 1970). Particularly interested in compositions of intense and contrasting colors, the artist observes different syntax versions applied to medieval parchments and manuscripts. He then enters a universe of mythical symbols, experimenting with the repertoire of natural and imaginary phenomena as well as apocalyptic and bestiary figures. The titles of some of the works featured in the show, Danaë (2016), Sísifo (2016) and Édipo (2017), reflect this lexicon.
As Leda Catunda notes in the exhibition's critical text, Dunley does not repeat or serialize his works. His process is different each time and cemented as the meanings around the practice are absorbed by the viewer. The artist’s narrative grows through the accumulation of experience, never in response to linguistic or symbolic repetition, but the construction of an artistic path.
On January 20th, Galeria Nara Roesler launches a new publication containing a collection of works by Bruno Dunley from the last decade. The book was published by the Association of Contemporary Patronage (APC), a non-profit association founded in 2011 by Galeria Nara Roesler that promotes institutional projects and stimulates cultural patronage. Bruno Dunley is an innovative graphic project, which proposes new relationships between the artist’s works and deciphers the essential themes of his research through conversations recorded in text. The publication is composed of double pages with flaps, which the reader may open and close to form various arrangements between the works – almost an exhibition format, linear, but not chronological.
janeiro 10, 2018
Superfícies sensíveis | Pele | Muro | Imagem na Caixa Cultural, Rio de Janeiro
Superfícies sensíveis Pele | Muro | Imagem apresenta 20 obras de fotografia, vídeo e pintura que discutem tensões entre o corpo e a cidade
A CAIXA Cultural Rio de Janeiro recebe, de 9 de janeiro a 4 de março de 2018 (terça a domingo), a exposição coletiva Superfícies sensíveis | Pele | Muro | Imagem, que reúne trabalhos de 21 jovens artistas contemporâneos brasileiros, realizados no início do século XXI. Sob curadoria de Ícaro Ferraz Vidal Jr. e Laila Melchior, a exposição aborda a temática da superfície como potência, possibilidade crítica e estética, apresentando obras que estão conectadas ao passado de nossa arte ao mesmo tempo que indicam rotas para o futuro. O projeto tem patrocínio da Caixa Econômica Federal e do Governo Federal.
A pele, o muro e a imagem articulam-se de diferentes modos nas obras selecionadas, discutindo as fronteiras entre o corpo e a cidade, bem como suas tensões e desafios cotidianos. Investigadas pelo olhar dos artistas, essas camadas do mundo despontam como áreas paradigmáticas, zonas de atrito e penetração, percebidas não como fragmentos invisíveis do cotidiano, mas como focos privilegiados de nossa atenção: a pele é o maior órgão do corpo e quase todo contato humano é realizado com sua mediação; o muro abriga os corpos e delimita interditos por força de sua extensão, comunica e separa diferentes tipos de espaços; as imagens, por sua vez, habitam o mundo de tal modo que ora é possível e somos convidados a atravessá-las, ora se transformam em barreiras intransponíveis.
Segundo os curadores Vidal Jr. e Laila Melchior a exposição desloca, desde o seu título, o privilégio concedido historicamente ao que se encontra na profundidade do mundo. “O uso corriqueiro e moralizante do adjetivo superficial para desqualificar uma pessoa ou coisa supostamente desprovida de valores testemunha o privilégio correntemente atribuído ao profundo. Se tendemos a opor o superficial e o profundo nos mesmos termos em que opomos o dentro e o fora, o alto e o baixo, Nietzsche, por outro lado, ao elogiar os gregos, embaralha os pares desta oposição afirmando que eles seriam ‘superficiais - por profundidade!’", afirmam. “Restituir a sensibilidade às superfícies é estender ao mundo o que Paul Valèry já havia belamente percebido no humano: que o que há de mais profundo é a pele", complementam os curadores.
Fim de semana na Fundação Iberê tem Bloco Maria do Bairro, sessão de cinema e banho de chuveiro
Tradicional bloco de carnaval da Capital faz seu primeiro ensaio aberto do ano. Cine Iberê exibe filme sobre o poeta Torquato Neto, em sessão comentada com o diretor Eduardo Ades. Os chuveiros do coletivo Opavivará! estarão funcionando para os visitantes. A entrada é franca em todas as atividades
No próximo fim de semana, dias 13 e 14 de janeiro, a programação na Fundação Iberê Camargo terá – além das exposições em cartaz – uma sessão do Cine Iberê com o filme Torquato Neto – Todas as Horas do Fim, a ativação da obra Chuvaverão e o primeiro ensaio aberto do Bloco Maria do Bairro, que vai apresentar em primeira mão o seu samba-enredo para o carnaval 2018. A entrada é franca em todos os eventos.
As exposições em cartaz – Sombras no Sol e Vivemos na Melhor Cidade da América do Sul – foram prorrogadas e poderão ser visitadas até os dias 21 de janeiro e 04 de fevereiro, respectivamente. A visitação está aberta nos finais de semana, das 15h às 20h, com entrada franca.
Confira os detalhes da agenda:
No sábado e no domingo o público vai poder interagir e se divertir com a obra Chuvaverão, do coletivo carioca OPAVIVARÁ! O projeto consiste na instalação de quatro chuveirões ao ar livre, que podem – e devem – ser utilizados pelos visitantes. A intenção do coletivo de artistas é gerar reflexões sobre as experiências cotidianas. Chuvaverão foi realizado pela primeira vez em 2014, na Galeria A Gentil Carioca (RJ), e remete às antigas fontes de água públicas que existiam no Rio de janeiro. O coletivo também participa da exposição Vivemos na Melhor Cidade da América, com a obra Sofaraokê, que pode ser vista e utilizada pelo público na Fundação Iberê Camargo.
No domingo, 14 de janeiro, a partir das 16 horas, a Fundação Iberê Camargo realiza a primeira exibição em Porto Alegre do documentário Torquato Neto – Todas as Horas do Fim, que terá seu lançamento comercial neste ano. Dirigido por Eduardo Ades e Marcus Fernando, o filme estreou em 2017 e foi premiado como melhor filme no Arquivo em Cartaz - Festival Internacional de Cinema de Arquivo e melhor edição, trilha sonora e prêmio especial do júri no Fest Aruanda. A sessão será comentada pelo diretor Eduardo Ades, e a entrada é franca. A exibição de Torquato Neto – Todas as Horas do Fim integra o Cine Iberê, dentro do programa Tropicália | Geleia Geral - atividade cinematográfica paralela às exposições Vivemos na Melhor Cidade da América do Sul e Sombras no Sol, e tem curadoria de Marta Biavaschi.
Torquato Neto (1944-1972) foi um dos pensadores e letristas mais ativos da Tropicália, parceiro de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Jards Macalé. Atuando em múltiplas frentes – no cinema, na música, no jornalismo –, o poeta piauiense engajou-se ativamente na revolução que mudou os rumos da cultura brasileira nos anos 60 e 70.
Eduardo Ades é diretor, roteirista e produtor. Formado em Cinema pela Universidade Federal Fluminense. Produtor executivo dos filmes Morro dos Prazeres (2013), de Maria Augusta Ramos, e Yorimatã (2014), de Rafael Saar, e de diversos curtas. Diretor e roteirista do curta-metragem A Dama do Estácio (2012) e do longa documental Crônica da Demolição (2015).
Ainda no domingo, a partir das 17h, o Bloco Maria do Bairro faz o seu primeiro ensaio aberto para o Carnaval 2018. O Bloco vai apresentar o samba-enredo Um Jardim de Purpurina, que homenageia o compositor Jerônimo Jardim. Com autoria de Zeca Brito, Sapiran Brito e Wandi do Cavaco, o samba lembra poemas e letras de músicas importantes na carreira de Jardim, como Purpurina (grande vencedora do Festival da Canção MPB-Shell 81 da Rede Globo) e Astro Aragano (canção vencedora da Califórnia da Canção Nativa, em 1985). Gravado por interpretes como Elis Regina, Shana Muller e Lucinha Lins, Jerônimo sempre se fez presente na trajetória do Bloco Maria do Bairro, como folião e amigo. A homenagem reconhece a importância de um dos compositores mais sofisticados da musica brasileira que nunca perdeu os vínculos com a cultura popular.
Responsável pela retomada do carnaval de rua de Porto Alegre, o Bloco Maria do Bairro mobiliza há 11 edições números impressionantes de foliões (25.000 pessoas contabilizadas em 2013, 40.000 em 2014, 60.000 pessoas em 2017). A folia – que tradicionalmente acontece na Rua Sofia Veloso, na Cidade Baixa – será realizada neste ano do dia 3 de fevereiro, das 17h às 22h. Além da já tradicional Banda do Bloco em cima do trio elétrico (formada por 16 integrantes que tocam clássicos do samba e marchinhas de carnaval), o Bloco traz convidados especiais: a bateria mirim Areal da Baronesa do Futuro (uma escola de samba com aproximadamente 70 crianças), cantoras, cantores e carnavalescos.
Exposições em cartaz
A mostra Sombras no Sol traz 41 peças do acervo – entre pinturas, desenhos, gravuras e documentos – de Iberê Camargo que retratam sua visão sobre a “Cidade Maravilhosa”, onde morou por 40 anos, apontando para uma paisagem muitas vezes vazia e melancólica, nublada – distante do sol e das cores tropicais. Com curadoria de Eduardo Haesbaert e Gustavo Possamai, a mostra exibe, ainda, um conjunto de documentos que registram a censura a uma de suas obras durante o V Salão Nacional de Arte Moderna, em 1956, no Rio de Janeiro. "Importante trazer à visibilidade e ao debate público o registro de momentos sombrios que apresentam tanta relação com os dias atuais, uma vez que Iberê os vivenciou com resistência, em defesa da arte, do diálogo e do respeito, aspectos tão fundamentais à liberdade de expressão", dizem os curadores.
A exposição Vivemos na melhor cidade da América do Sul, apresenta pinturas, esculturas, fotografias, instalações, vídeos e performances de 28 artistas brasileiros referenciais, como Alair Gomes, Beto Shwafaty, Carlos Vergara, Guga Ferraz, Hélio Oiticica, Iberê Camargo, Maria Sabato, Mario Testino e Rosângela Rennó, entre outros. A mostra, com curadoria de Bernardo José de Souza e Victor Gorgulho, a mostra parte da canção Baby, de Caetano Veloso, para investigar noções contraditórias de tropicalidade, identidade nacional, corpo e violência, e analisa a paisagem estética e política do Rio de Janeiro para lançar uma mirada crítica sobre o Brasil.
Fim de semana na Fundação Iberê Camargo – programação
Dia 13 de janeiro, sábado, das 15h às 20h
Das 15h às 20h - Chuvaverão – ativação da instalação do Coletivo Opavivará!
Das 15h às 20h - Visitação às exposições em cartaz
Dia 14 de janeiro, domingo
Das 15h às 20h - Chuvaverão – ativação da instalação do Coletivo Opavivará!
Das 15h às 20h - Visitação às exposições em cartaz
Às 16h - Cine Iberê - Torquato Neto – Todas as Horas do Fim, de Eduardo Ades e Marcus Fernando (1h27min, 2017, Brasil). Sessão única e comentada por Eduardo Ades
Das 17h às 20h – Bloco Maria do Bairro – ensaio aberto
Marcela Flórido na Anita Schwartz, Rio de Janeiro
Mostra reunirá pinturas inéditas em grande formato da jovem artista carioca que há dez anos saiu do Brasil para estudar em Londres, e depois se radicou em Nova York, após dois anos de mestrado em pintura na Universidade de Yale. Com cores fortes e vibrantes, ela discute o papel da mulher, o afeto e o tabu da figuração na arte contemporânea brasileira.
Anita Schwartz Galeria de Arte apresenta a partir de 10 de janeiro de 2018, às 19h, a exposição Laços – Marcela Flórido, com pinturas inéditas em grande formato da artista carioca, nascida em 1988, e baseada em Nova York. Em 2008, estudante da Escola de Belas Artes da UFRJ, ela foi selecionada para uma bolsa na Foundation in Arts and Design na Central Saint Martins, em Londres, ingressando no ano seguinte no curso de pintura da prestigiosa Slade School of Fine Art, em Londres, onde se graduou em 2013. Em seguida, foi selecionada pela Yale School of Art, nos EUA, onde fez seu mestrado em pintura de 2013 a 2015.
Há um ano Marcela Flórido tem seu ateliê em um galpão industrial no Brooklyn, Nova York, que compartilha com outros quinze artistas dando continuidade a uma prática que sempre prezou: o convívio e a troca de informações e críticas com amigos de ofício. O local abriga todos os ateliês e propicia uma convivência de ideias na prática imersiva e solitária da pintura. Ela mantém constante contato com os amigos das três cidades em que tem vínculos profissionais: Rio de Janeiro, Nova York e Londres, e desde 2013 se corresponde com Anita Schwartz, que acompanha à distância sua trajetória.
Para sua primeira exposição individual na Anita Schwartz Galeria, Marcela Flórido produziu cinco pinturas a óleo em grande formato, em cores vibrantes, que trazem como elemento comum a figura de um coração, presente nos trabalhos recentes da artista. Suas pinturas densas evocam uma atmosfera emocional em cenas de romance e conflitos em paisagens familiares a ela. Apesar de morar fora do Brasil há mais de nove anos, ela não se desconecta das questões do país, e um de seus interesses é a presença da figuração na arte brasileira. A artista também discute em seu trabalho um excesso de elegância, a grande presença da herança construtivista, e um “certo tabu” com a figura feminina.
QUESTÕES EXPANDIDAS EM UM PROGRAMA DE VÍDEOS
Junto com a exposição “Laços”, Marcela Flórido desdobra sua pesquisa fazendo uma curadoria de uma programação no contêiner do terraço da galeria, com vídeos de seis artistas mulheres de diferentes países, que “exploram em seus trabalhos questões de representação do corpo, principalmente o corpo feminino, no espaço”. “Quero expandir as questões levantadas nas pinturas para o vídeo”, diz a artista. Quatro artistas, assim como Marcela Flórido, vivem e trabalham em Nova York: Florência Escudero (1987, Argentina) escultora, fotógrafa e videoartista; Cindy Ji Hye Kim (1990, Coréia do Sul), pintora e videoartista; e Kate Ruggeri (1988, Washington, D.C.), artista, curadora e engenheira de informática, e Colleen Asper (1980, Pensilvânia), pintora, videoartista e performance. As outras duas são as cariocas Katia Maciel (1963, Rio de Janeiro), artista, cineasta e poeta; e Anna Costa e Silva (1988), artista e cineasta. Marcela Flórido selecionou um vídeo de cada artista, que integrará uma sequência exibida em loop.
PRESENÇA NO CINEMA E NO CIRCUITO INTERNACIONAL DA ARTE
Apesar de jovem, Marcela Flórido já tem um respeitável histórico de exposições. Em 2013, já na mostra de conclusão de curso na Slade, em Londres, vendeu todos os trabalhos expostos, e ganhou a atenção da imprensa. A exposição despertou também o interesse da Marvel, que usou seus quadros no filme “The Avengers: Age of Ultron”, o sétimo filme de maior bilheteria na história. Em 2015, a artista recebeu o Prêmio Viridian – selecionado por Lauren Hinkson, curadora do Museu Solomon Guggenheim, em Nova York.
Até 23 de dezembro de 2017, Marcela Flórido participa com duas outras artistas mulheres da mostra “Slip”, na Stems Gallery, em Bruxelas. Em 2014, foi convidada pela sheika Hoor Al Qasimi – apontada pela revista Art Review como uma das 40 mais poderosas personalidades do mundo da arte – presidente da Sharjah Art Foundation, nos Emirados Árabes, para uma residência artística na instituição, que resultou na individual “Contos” e na aquisição de duas telas produzidas naquele período para a coleção permanente da Fundação.
LINGUAGEM CARTOON E CORES VIBRANTES
Na prática intensa e diária do ateliê que a escola londrina proporcionou, e diante da cena artística que encontrou lá – em que o humor e o grotesco são marcantes – Marcela Flórido desenvolveu uma linguagem mais liberta, e próxima à do cartoon, com cores vibrantes, sem a preocupação com o equilíbrio na composição e cores a que estava familiarizada no Rio. Para ela, essa heterogeneidade serve como um desafio feminista às hierarquias históricas da arte e às noções tradicionais de bom gosto. “Precisei me afastar do Brasil para finalmente me perguntar com honestidade sobre o Brasil”, conta ela, que observa que sempre gostou de ser “do contra”. Apesar de ter começado seu trabalho sob forte influência da abstração geométrica, ela percebia ali uma narrativa personificada, embora não se permitisse representar paisagens ou o corpo. A partir desta percepção, passou a pesquisar a razão de a figuração ser tema tabu, considerado exótico ou carnavalesco. Em Yale, por sua forte tradição pictórica, a artista encontrou o apoio necessário para levar suas questões mais a fundo. “Busquei encontrar minha voz própria”, salienta a artista que conta que se abriu “como nunca antes para explorações da figuração e de seus próprios questionamentos emocionais”.
Marcela Flórido ressalta que sua pesquisa sobre o corpo feminino, e a presença da mulher na arte brasileira, “passa sempre pela pintura.”. “Continuar desafiando tradições da pintura, para mim significa permanecer cada vez mais comprometida com suas possibilidades visuais e emocionais”. Ela questiona ainda o fato de artistas homens serem “mais bem recebidos do que as mulheres quando tratam de questões sobre o corpo”. “Não há tanto pudor no caso dos homens”, avalia.
O Espaço da Arte no MNBA, Rio de Janeiro
Uma prévia do cenário da nova Galeria de Arte Brasileira Moderna e Contemporânea, que em breve vai ser reformulada, é o que se antecipa na exposição O Espaço da Arte, que o Museu Nacional de Belas Artes vai abrir dia 13 de janeiro, sábado. Com entrada franca.
O público vai poder descortinar, dentro das salas Flamengo-Holandesa, Boudin e Lúcio Costa, cerca de 51 obras da coleção do MNBA, incluindo nomes como Iberê Camargo, Maria Leontina, Guignard, Ivan Serpa, Candido Portinari, Flávio de Carvalho, Djanira e Fayga Ostrower, entre outras.
Através destes trabalhos, que tiveram impacto na trajetória da arte visual brasileira, a exposição se volta para as transformações da espacialidade da obra de arte, elemento fundamental para a compreensão da transição da passagem do mundo visual moderno para o contemporâneo.
Optando pela abordagem da espacialidade na obra de arte os curadores da exposição “O espaço da Arte” lembram que suas transformações ao longo do século XX são essenciais para se entender as mudanças visuais e conceituais que ocorreram ao longo de mais de cem anos de história, gerando conseqüências no fazer de hoje.
No primeiro dos três módulos nos quais se estrutura a mostra, aborda-se o contato com novos tratamentos da superfície, ou de características óticas e materiais das obras, anunciando as transformações que viriam depois, com mais radicalidade, ênfase e segurança. Trata-se de um estágio no qual os artistas parecem exibir uma postura de timidez e incerteza sobre os rumos que se abraçariam pelos anos subseqüentes.
Posteriormente, o segundo módulo exibe algumas experiências artísticas onde as obras assumem a postura investigativa frente o problema histórico que enfrentam diante do espaço da obra, pesquisando soluções diferentes, mas que, de algum modo, ainda estão presos a certos paradigmas, principalmente relacionados à figuração. Neste segmento, se pode observar o entre-lugar, ou seja, o artista está abrindo uma campo entre o antes e o depois;
Deixando para trás o impasse das fases iniciais, no ultimo módulo, as obras expostas, sem vacilação, assumem seu lugar no mundo real. Caminham para além da representação, buscando se apresentar enquanto si mesmas no espaço real, construindo uma ponte entre dois mundos, antes separados. Nesta fase, a obra de arte não evoca, está presente, ganhou vida própria, emerge como um ente tal qual seu observador e, a partir disso, se põe a modificar as relações em seu entorno.
Os curadores da exposição “O Espaço da Arte” ressaltam, “ainda que se desenhe no tempo, a história da espacialidade, enquanto percurso, está repleta de fraturas, desvios, descontinuidades”. Isso explica, porque dentro da dinâmica da história da arte, “o passado pode conter distantes anúncios de um porvir a ser trabalhado como a também permanência de certos modelos criados dentro da sua trajetória, fazendo com que as noções de espacialidade reverberem continuamente, umas sobre as outras, num fluxo contínuo do fazer e refazer”.
janeiro 9, 2018
Carta de Lisette Lagnado sobre seu desligamento da EAV Parque Lage
Caros professores, funcionários e amigos da Escola de Artes Visuais do Parque Lage,
Comunico meu desligamento da Escola de Artes Visuais do Parque Lage.
Cheguei no início de 2014, a convite de Marcio Botner, Presidente da organização social Oca Lage, então responsável de dois equipamentos de prestígio na cidade, a Casa França-Brasil e a EAV Parque Lage, para atuar como sua vice-presidenta.
Em agosto de 2014, com a saída da diretora da Escola, assumi o cargo, ainda na gestão da Oca Lage, iniciando um novo programa de ensino e exposições.
Quando o estado rompeu com a OS, a então Secretária de Cultura Eva Doris Rosental me pediu para permanecer no cargo.
Em fevereiro deste ano, Eva Doris foi exonerada e o novo Secretário de Cultura nomeou o economista e colecionador Fabio Szwarcwald para meu lugar. Assumi então a função de Curadora de Ensino e Programas Públicos.
Domingo passado, das 11h às 23h, foi aberta a mostra-happening "Escola em Transe", em comemoração aos cinquenta anos do filme Terra em Transe de Glauber Rocha.
O Palacete e os jardins do Parque Lage receberam cerca de 6 mil pessoas, que podiam conferir tanto a mostra final dos alunos nas Cavalariças, com obras selecionadas de professores e ex-estudantes na Capelinha e Galerias 1 e 2, vitrines de documentação, performances, projeções de videoarte, sem contar a III Mostra de Impressos, a II Varanda Sonora e ateliês gratuitos do parquinho lage (núcleo recém-lançado para crianças).
Resultado de um esforço colossal de uma equipe reduzida, das áreas de ensino e produção, além de nossa Biblioteca | Centro de Documentação e Pesquisa, a exposição foi montada em tempo recorde. Graças a nossa determinação coletiva, foi possível apresentar mais de 300 trabalhos de cerca de 200 participantes em menos de 24 horas.
No entanto, foi aberta ainda incompleta, sem a lista de participantes nem fichas técnicas. Cabe informar que parte do atraso se deveu também à chegada tardia de trabalhos após a data prevista, ocorrendo inclusive na própria abertura.
Felizmente, alguns professores estiveram comigo no sábado e dúvidas foram esclarecidas por celular e fotografias com os demais. Puderam testemunhar a quantidade de trabalhos que precisavam subir para paredes monumentais, exigindo uma lógica interna para uma devida valorização.
Fiquei emocionada de ver como os funcionários do ensino e produção se desdobraram para garantir a cada integrante uma visibilidade digna.
É do conhecimento de todos que parte de minha equipe segue trabalhando sem remuneração regular, em condições adversas, pronta a atender solicitações das mais variadas que chegam da Secretaria de Cultura, da Direção e do corpo de professores e alunos. É isso que chamamos de "resistência": manter viva, alegre e atuante uma instituição de ensino a despeito da falta de financiamentos para nossos projetos pedagógico-culturais.
Ressalto que nada disso teria sido possível não fosse a colaboração de Rosa Melo (já exonerada), que se colocou à disposição de forma solidária e veio reforçar a montagem no sábado para podermos honrar a responsabilidade de entregar a exposição prometida.
Hoje, foi feito o levantamento dos ajustes necessários e levado para a Direção, que está ciente dos próximos passos
Gostaria que cada professor transmitisse a suas respectivas turmas o que representou essa montagem em termos de complexidade e coragem no momento político que estamos vivendo. A EAV não é museu, nem galeria. É uma escola de arte!
Nos últimos meses, graças à mobilização de artistas consagrados, a Escola participou da artrio e vendeu a tiragem inteira de múltiplos e arrecadou fundos necessários para garantir um programa de ensino público para 2018. O Jantar Beneficente também foi um sucesso.
No entanto, como se viu acima, a falta de repasses do estado e o desmantelamento da equipe original vem comprometendo a qualidade do meu trabalho, o que me impede de permanecer na estrutura atual.
Ciclos se fecham para que outros iniciem. Devo dizer que foram anos fundamentais para minha vida profissional e afetiva.
Deixo-lhes um forte abraço e meus melhores votos para seguirmos "firmes e atentos" para os novos movimentos de 2018!
Lisette Lagnado
[*] Para aqueles que não puderam ainda ler o texto curatorial, segue abaixo.
Que papel pode ter uma escola de arte frente ao desencanto de um país que, até pouco tempo, afirmava ter conseguido eliminar a pobreza extrema, segundo o estudo "Prosperidade Compartilhada e Erradicação da Pobreza na América Latina e Caribe" do Banco Mundial?
Ao celebrar os 50 anos do mítico filme Terra em Transe de Glauber Rocha, a Escola de Artes Visuais do Parque Lage se transforma novamente no cenário do Palácio de Alecrim. No roteiro do cineasta baiano, um golpe de Estado tomou a realidade de Eldorado, país forjado na ficção e alocado no Atlântico Sul. A intensa verve dos devaneios de um poeta vencido já era conhecida no seu texto-manifesto "Eztétyka da fome" (1965).
Se a poesia e a política são demais para um só homem (frase de Paulo Martins, protagonista do filme), elas se tornam muito mais pesadas para um homem sozinho. Transe é coletivo. Transe é fome. Transe é visceral. Transe é êxtase religioso. Distorção da realidade - delírio.
Mas o que nos une com o filme Terra em Transe (1967) de Glauber? Tentar compreender que país é esse Eldorado levanta questões atuais. Por exemplo: que valores culturais estamos cultuando? Que escola pública queremos?
Como um convite a outros graus de consciência, "Escola em Transe" reúne artistas (entre professores, estudantes e ex-alunos) para abordar esse clássico do cinema político e discutir a atualidade de uma obra que recebeu vários prêmios europeus, porém provocou uma violenta polêmica cultural entre a direita e a esquerda da época.
Integrada à tradicional mostra final dos alunos, a exposição apresenta pinturas, gravuras, esculturas, performances, intervenções, oficinas abertas, documentos históricos, textos, anotações para aulas, fotografias e filmes que dão tônus à atmosfera da EAV, descortinando seu cotidiano interno.
Ao exibir esse emaranho de fluxos criativos, percebe-se sua dimensão utópica. Além de evidenciar práticas pedagógicas de seus professores, alguns deles atuantes desde os anos 1970, o Parque Lage reivindica uma arte com caráter ético-político e capacidade de chacoalhar estruturas, questionando o rumo de instituições que, obcecadas pela produção de objetos, acrescentam níveis de desigualdade na sociedade.
A luta contra a miséria continua. Colocar em transe modelos que não se sustentam mais é uma forma de investir na imaginação política para erguer outras modos de existência, baseados no afeto e na solidariedade. Só interpelando narrativas hegemônicas uma escola saberá colaborar na construção de processos de autonomia e decolonização do pensamento.