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outubro 30, 2017
7ª Mostra 3M de Arte Digital no Largo da Batata, São Paulo
Realizado entre 3 de novembro e 3 de dezembro, evento que acontece no Largo da Batata apresenta obras inéditos de Guto Lacaz, Giselle Beiguelman, Maurizio Zelada, Alexis Anastasiou, Gisela Motta e Leandro Lima
São Paulo, outubro de 2017 – Com o intuito de democratizar o acesso à arte, a 7ª Mostra 3M de Arte Digital ocupa o Largo da Batata, no bairro de Pinheiros, na capital paulista, entre os dias 3 de novembro e 3 de dezembro. Com trabalhos inéditos dos renomados artistas Guto Lacaz, Giselle Beiguelman, Maurizio Zelada e Alexis Anastasiou e da dupla Gisela Motta e Leandro Lima, a mostra que tem curadoria da produtora cultural Elo3, propõe a discussão da relevância da tecnologia, da ciência e do mundo virtual na sociedade contemporânea.
Realizada com recursos da Lei Rouanet, a instalação, que é totalmente gratuita, vai ao encontro do propósito dessa política pública de fomento e distribuição de arte e cultura. Já o Largo da Batata, localizado na zona oeste da capital, pertence a uma área revitalizada que integra o esforço da sociedade civil para transformar a cidade em um espaço de convívio e ocupação por parte da população. Com a circulação diária de aproximadamente 150 mil pessoas, o espaço tornou-se um símbolo de resistência pública abrigando ocupações, manifestações políticas, blocos de Carnaval e atividades de lazer e entretenimento cotidiano de paulistanos de todas as idades e classes sociais.
Total liberdade criativa
Os artistas convidados tiveram total liberdade criativa na concepção das obras que aproveitam a área livre local como ambiente de expressão. Algumas terão um tom mais crítico, outras, mais lúdico, mas todas exploram a diversidade de pontos de vista do público e várias experiências sensoriais.
O catálogo da exposição, com informações completas sobre as obras, artistas, e o programa pedagógico terão recursos interativos e poderão ser vistos no celular, por meio do aplicativo Mostra 3M de Arte Digital, ou no site www.mostra3mdeartedigital.com.br. O Facebook mostra 3M de arte digital e o Instagram mostra3mdeartedigital também vão manter o público conectado.
Novos talentos de videoarte também serão revelados - Outra novidade desta edição para o público será o container.art, espaço dedicado aos novos artistas da videoarte. Dentro de um container montado no meio do Largo, funcionará uma sala de exibição com programação diária das 8 às 20 horas. As obras são de jovens artistas pré-selecionados por uma comissão julgadora.
Lançamento do livro Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, na EAV Parque Lage, Rio de Janeiro
Publicado em 1928, Macunaíma representou por muito tempo o símbolo do “povo brasileiro” ou ainda daquilo que chamamos de “nação”. Esta edição, que conta com o estabelecimento do texto de Telê Ancona Lopez e Tatiana Longo Figueiredo, oferece uma nova chave de leitura ao romance, com foco especial para as fontes
indígenas utilizadas por Mário de Andrade em sua composição. Como disse o próprio autor: “copiei, copiei às vezes textualmente[...], não só os etnógrafos e os textos ameríndios, mais ainda, na “Carta pras Icamiabas”, pus frases inteiras de Rui Barbosa, de Mário Barreto, dos cronistas portugueses coloniais”. No texto de Lúcia Sá, se explicita a cópia de trechos inteiros do mito de Makunaíma, tal qual recolhido pelo viajante alemão Theodor Koch-Grünberg.
Como sugere a apresentação de Eduardo Sterzi, mais do que alegoria da formação nacional, Macunaíma seria uma grande realização literária da antropofagia, “capaz de colocar tudo o que existe sob o signo da devoração [...], em que comer o inimigo é não mera destruição e assimilação de outro corpo, mas, antes de tudo, um modo
de experimentar o ponto de vista do inimigo sobre todas as coisas, especialmente sobre si”, citando Eduardo Viveiros de Castro.
As ilustrações do artista carioca Luiz Zerbini são feitas com um procedimento similar ao de Mário com as fontes indígenas em seu texto. As monotipias não são “representações” da vegetação tropical: são as próprias plantas e objetos entintados que são colocados na prensa, imprimindo e dando relevo com sua textura ao papel.
Para completar a edição, recuperamos os prefácios inéditos de Mario de Andrade, bem como o glossário de Diléa Zanotto Manfio, feito para a edição crítica de 1988, há muito fora de circulação. Nele, o leitor tem acesso ao significado de todas as palavras indígenas e regionais utilizadas ao longo do romance.
LANÇAMENTO
O lançamento será no Salão Nobre, e contará com uma fala do Luiz Zerbini, que fez o projeto gráfico do livro, e de Florencia Ferrari, diretora editorial da UBU. Eles falarão sobre o processo de edição do livro.
EAV do Parque Lage - Salão Nobre
Rua Jardim Botânico 414, Rio de Janeiro, RJ
31 de outubro, terça-feira, das 19h às 22h
FICHA TÉCNICA
Macunaíma, o herói sem nenhum caráter
R$69,90
Brochura com 2 cores no miolo
Formato 15,8 x 21,5 cm
Páginas 272
ISBN 9788592886516
Autor Mário de Andrade
Estabelecimento do texto Telê
Ancona Lopez, Tatiana Longo Figueiredo
Apresentação Eduardo Sterzi
Posfácio Lúcia Sá
Ilustração Luiz Zerbini
Fotografia Pat Kilgore
Macunaíma, o herói sem nenhum caráter – edição especial
R$299,00
capa dura com sobrecapa de monotipia original de Luiz Zerbini
Formato 16,5 x 22 cm
Páginas 272
ISBN 9788592886523
Esta edição especial tem uma tiragem limitada de 250 exemplares em capa dura. A sobrecapa é uma monotipia original do artista Luiz Zerbini. Os exemplares são numerados e assinados pelo artista.
Bárbara Mangueira + Luiz Olivieri na Alfinete, Brasília
A relação entre voz e reconhecimento é tão antiga quanto os primeiros Homo sapiens. Ela envolve aspectos físicos, emocionais, sociais. A voz é o que nos distingue, como animais, o que nos possibilita a expressão de pensamentos e sentimentos profundos. Assim são também os gestos. Conscientemente ou não, o movimento de nossas mãos revela muito sobre o que sentimos e pensamos em cada momento. Dois jovens artistas de Brasília decidiram partir destas duas ações fisiológicas primárias, que fazem parte do cotidiano humano desde o começo dos tempos, como provocação para trabalhos artísticos e o resultado estará em exposição na Alfinete Galeria, a partir do próximo dia 28 de outubro.
Na Sala Um, a Alfinete recebe os trabalhos de Luiz Olivieri em Espaço Ressonante, composto de três esculturas que propõem a interação com o espectador. São peças imersivas, nas quais o visitante terá oportunidade de ouvir muitos e diferentes sons. Já na Sala Dois, são as imagens que convidam à instrospecção. A artista Bárbara Mangueira apresenta, em Operações Subliminares, uma série de pinturas e pinturas-objeto que usam o suporte da fotografia para flagrar gestos e usos de anônimos. O resultado é surpreendente.
As duas mostras poderão ser vistas até o dia 18 de novembro, na Alfinete Galeria (bloco B da comercial da 103 norte). Visitação às quintas e sextas, das 14h30 às 18h, e aos sábados, das 15h às 20h. Entrada franca.
EXPOSIÇÕES
Luiz Olivieri cria um espaço ressonante a partir de três esculturas sonoras imersivas, nas quais o público poderá adentrar corporalmente. Os sons no interior desses espaços são uma edição de gravações de sintetizadores sensíveis a ondas solares, receptores eletromagnéticos e áudios capturados em diversas regiões de diferentes níveis sociais do DF, que são consideradas invasões. Dentre esses locais estão a orla do Lago Norte, o Itapoã, condomínios do Altiplano Leste e acampamentos. Ao percorrer caminhos no interior de cada caixa, esses sons se alteram e se misturam ao corpo do visitante. Cada espaço invade o outro e provoca vibrações que podem ser percebidas em todo o ambiente da galeria.
A exposição Operações subliminares, de Bárbara Mangueira, apresenta uma série de pinturas e pinturas-objetos nas quais a artista explora a gestualidade das mãos, presente em diversos registros fotográficos. As imagens, retiradas de acervos anônimos ou de livros científicos, de parapsicologia e metapsíquica, compõem uma espécie de enciclopédia visual dos usos e gestos das mãos como moduladoras de operações simbólicas, levadas ao espaço da pintura também por um gesto de manipulação.
ARTISTAS
Bárbara Mangueira (Brasília, 1990) vive e trabalha no Rio de Janeiro. É graduada em História e em Artes Plásticas pela Universidade de Brasília e mestranda em Linguagens Visuais pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Desenvolve pesquisa em pintura explorando a relação entre arquivos de imagens fotográficas e suas possíveis narrativas temporais, articulando as imagens com as potencialidades poéticas da pintura enquanto linguagem.
Nascido em Brasília, Luiz Olivieri é Bacharel em Artes Visuais, Mestre em Poéticas Contemporâneas e doutorando em Métodos e Processos em Arte pelo PPG-UnB. É ainda artista-pesquisador integrante do grupo de pesquisa vaga-mundo: poéticas nômades. Trabalha com arte sonora e videoarte. Realizou exposições coletivas em Brasília em espaços como Alfinete Galeria, Espaço Cultural Elefante, Museu da República, Espaço Cultural Marcantonio Vilaça e Espaço Piloto da UnB. Em 2016, foi selecionado para o I Prêmio Vera Brant e para o Prêmio Transborda, em Brasília. No exterior, participou da exposição Obranome no Mosteiro de Alcobaça, em Portugal. Recebeu o segundo lugar no Salão de Arte Contemporânea do Iate Clube de Brasília. Em Gramado, recebeu o Kikito de melhor trilha sonora em 2013, pela trilha do curta-metragem Acalanto.
Negros Indícios na Caixa Cultural, São Paulo
Negros Indícios, inaugurada em 7 de outubro na Caixa Cultural São Paulo, reúne a produção contemporânea de 12 artistas afrodescendentes de diferentes regiões do país, que têm a performance artística como uma das principais ferramentas de atuação. Com curadoria do Professor de História e Teoria da Arte Roberto Conduru, a mostra busca lançar luz sobre artistas, temas e práticas que vêm ganhando mais ressonância no sistema de arte.
Para contrapor o esquecimento histórico, o racismo, e a segregação, os artistas Antônio Obá; Ayrson Heráclito; Caetano Dias; Dalton Paula; João Manoel Feliciano; Moisés Patrício; Musa Michelle Mattiuzzi; Priscila Rezende; Renata Felinto; Rommulo Vieira Conceição; Rubiane Maia e Tiago Sant'Ana, apresentam obras que refletem a capacidade de usar as adversidades como força de criação, resistência e luta. Os trabalhos também evidenciam o amadurecimento da discussão sobre as identidades e negritudes no Brasil – marcada, nos últimos anos, pela pluralidade e pelo crescente protagonismo dos artistas afrodescendentes. A exposição propõe pensar a negritude e outras questões, no país e além dele, a partir da fruição das obras. Segundo o curador, os artistas “nos convidam a participar de uma luta que não pode ser apenas deles e delas, mas de quem almeja viver em um mundo justo, igualitário e fraternal”.
A essa tendência de crescente e intensa presença de artistas negros e negras no sistema, soma-se a ideia de que os territórios da arte estão cada vez mais fluidos, tornando as artes plásticas um espaço de convergência de expressividades das mais variadas, onde a performance assume cada vez mais protagonismo. Negros Indícios caminha nesse sentido e foi concebida a partir da apresentação de vídeos e registros de performances realizadas pelos artistas convidados. Muito além da utilização do corpo como forma de arte, o conceito de performance tem um significado muito mais amplo, podendo se desdobrar em diversas outras manifestações artísticas.
A mostra apresenta seleções de vídeos e fotografias articulados por afinidades poéticas. A curadoria buscou explorar todas as modalidades de conjugação de performance, vídeo e fotografia: performances, registros de performance em vídeo e fotografia, fotoperformances, vídeoperformances e seus desdobramentos.
Como aponta o curador, “Artisticamente, interessa pensar os indícios que a performance produz e que são produzidos a partir dela: fotografias, vídeos, outras performances. Mas, também, a performance como indício do que a antecede e circunda. ...por um lado, a performance explicita ideias, mentalidades e práticas que, embora atuantes, se querem invisíveis, inexistentes. Por outro, desperta percepções aguçadas e consciências propriamente ativas, mobilizando a reflexão do público sobre arte, cultura, sociedade”, afirma Conduru.
Completam a programação quatro performances que acontecem nos dias 18 e 19 de novembro (duas em cada dia), a partir das 15h. Não por acaso, as apresentações acontecem próximas ao dia 20 de novembro, data que no Brasil é celebrado o Dia Nacional da Consciência Negra.
Tempo presente no Porto Seguro, São Paulo
Tomie Ohtake, Nazareno e Laura Belém são alguns dos autores das instalações da nova mostra que convida o público a interagir
Os arcos de Tomie Ohtake, inertes, parecem pedir por alguma ação. Em contato com um público disposto a experimentar e participar, a criação da consagrada artista transforma obra e espectadores em um único corpo, num único tempo. Os arcos assumem o movimento que já se pressentia em suas formas e realizam sua condição intrínseca e paradoxal de esculturas em constante transformação.
Esse convite à interatividade é justamente um dos objetivos de Amanda Dafoe e Rodrigo Villela, curadores de Tempo presente, mostra em cartaz no Espaço Cultural Porto Seguro de 1º de novembro a 17 de dezembro de 2017. Entrada gratuita.
“As obras escolhidas têm em comum a capacidade de convidar o público para uma posição ativa, tanto física, quanto no plano reflexivo, quebrando assim a usual posição de uma contemplação passiva. Queremos estreitar a relação com o nosso visitante, compartilhar com ele esse momento, o nosso momento, ao qual todos de alguma forma pertencemos, transformando-o como parte desta atmosfera vibrante”, afirma Amanda.
O nome da mostra foi inspirado no poema “Mãos dadas”, de Carlos Drummond de Andrade. “Queríamos uma exposição contemporânea, que trouxesse um dos fatores cruciais a toda experiência poética: os sentidos. Fundamentais em nossa relação com o mundo, eles também são a base do fenômeno estético e vêm carregados de subjetividade em todas as formas de expressão. Ao mesmo tempo, queríamos que esse tipo de experiência mostrasse que todo ser humano é dotado de uma poética e que é na relação com seu entorno, tempo e espaço que isso acontece. É assim também que podemos refletir com mais profundidade sobre as questões de cada época. Drummond, especialmente em dois trechos desse belíssimo poema, parece se voltar para os temas do convívio e participação como fatores essenciais a qualquer proposição, seja estética ou o que for: ´O presente é tão grande, não nos afastemos / Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas’, e ´O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes / A vida presente´, afirma Rodrigo.
Para a empreitada, sete artistas nacionais foram selecionados a expor suas instalações em diferentes ambientes. Os arcos de Tomie Ohtake, mencionados acima, dividem espaço com Espera, de Leandro Lima e Gisela Motta, no piso térreo. Ali, a videoinstalação usa dois bancos para projetar as sombras de um casal que nunca estará junto, mas que vive a expectativa do encontro. O rito se repete: ora é a sombra dele que vem, senta-se, espera, levanta e vai embora; ora é a dela que repete o mesmo percurso físico-afetivo. Evocativas, as sombras são verdadeiras presenças de uma ausência. Entre as inúmeras referências e camadas interpretativas, fazem lembrar um dos mitos ocidentais da origem do desenho, em que uma jovem apaixonada risca na parede o contorno da sombra projetada do amado que se preparava para ir à guerra. Os mesmos bancos também convidam o público a se sentar e contemplar a obra “de dentro”.
Na rampa de acesso ao mezanino, cuja parede de vidro se abre para a rua, na Alameda Nothmann, a artista Laura Vinci provoca: sua cortina de neblina No ar é um obstáculo? A nebulosidade da fumaça de glicerina em suspensão, imbuída de poética, também chama atenção para o entorno. E vice-versa: a neblina, que ritmicamente preenche a rampa, pode ser igualmente vista do lado de fora, pelos que passam na rua, e simula a vivacidade de um Espaço Cultural que respira no coração de São Paulo. A fumaça estabelece também um ambiente com ausência de contraste, elemento crucial para a visão das formas e representação nas artes – a própria linha, algo a que estamos tão acostumados, é em si uma abstração humana do contraste que nos permite identificar o mundo ao redor. Ao mesmo tempo aponta para outro fator fundamental: a representação da luz e da atmosfera nela implicada, fazendo referência às camadas de subjetividade e afeto que atribuímos ao mundo e às obras de arte.
No andar de cima, a Rede Social, do Coletivo Opavivará estimula momentos de aproximação real entre os visitantes. Uma convidativa rede gigantesca, coletiva, espera que o espectador interaja com os demais, partilhando um espaço em que a luz natural reforça a sensação de conforto de varanda. Beirando a ironia, uma rede física, de pano, chama e interliga factualmente pessoas atualmente cada vez mais conectadas apenas pelas redes virtuais.
Da luminosidade das varandas para o subsolo, a série Sobre tesouros e outros domínios traz três obras de Nazareno, criadas sobre superfícies de cobre polidas ao ponto de se tornarem espelhos, instigando no interlocutor a reflexão, literalmente, sobre a ação do tempo. Evocando os antigos espelhos de cobre e bronze, as atuais selfies e o mito de Narciso, as obras instantaneamente fazem do espectador um participante, ao se ver refletido na obra. Os trabalhos, de caráter introspectivo, contam ainda com frases sobre passado e futuro, e precedem a instalação da paulistana Raquel Kogan.
A enorme caixa preenchida com pó de mármore lembra um tanque de areia de playground. Ao lado, pares de sapato estão disponíveis para o visitante deixar seu rastro na superfície de Volver. Nas solas, palavras imprimem textos no chão a cada passo, formando infinitas e espontâneas citações sobrepostas. Efêmeras, estampadas na areia e também coletivas, fazem referência à própria condição da linguagem e da comunicação, fatores tão humanos, que só existem a partir e por causa da convivência.
Na sequência, o Jardim Secreto, de Laura Belém, é uma experiência sensorial completa e levanta questões sobre deslocamento, tempo, cultura e memória. Os pés caminham sobre uma superfície de cascalho; as mãos tateiam e abrem caminho pelas fitas que descem do teto enquanto, ao fundo, vozes recitam trechos comentados de Tristes Trópicos, relato de viagem do antropólogo Claude Lévi-Strauss quando esteve no Brasil.
A exposição contará ainda com uma programação pública, com debates, oficinas e cursos ministrados pelos artistas, com a participação de críticos. Mais uma vez, o objetivo é possibilitar que o público interessado possa explorar transversalmente os temas relativos à exposição.
Parceria com o MuBE
A exposição Tempo presente ganha também extensão para além dos limites do Espaço Cultural Porto Seguro. Dois dos arcos de Tomie Ohtake estarão expostos nos jardins do Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia (MuBE). A parceria integra o Portas Abertas, programa do museu que nasce com o intuito de estreitar a relação da instituição com a paisagem do seu entorno e com os demais espaços culturais da cidade, promovendo o intercâmbio de experiências artísticas e a formação de redes colaborativas. Além do ECPS, a vizinha Fundação Ema Klabin também participa da iniciativa.
outubro 25, 2017
Biblioteca Nacional, IMS, Itaú Cultural e Pinacoteca lançam Portal Brasiliana Iconográfica
Biblioteca Nacional, Instituto Moreira Salles, Itaú Cultural e Pinacoteca de São Paulo lançam portal inédito dedicado a coleções brasilianas
Plataforma na internet reúne mais de 2 mil imagens e análises de obras fundamentais da iconografia brasileira para consulta, reunindo um grande conjunto de obras, acrescidos por conteúdos, textos e curadoria de especialistas
Entra no ar no dia 27 de outubro o Brasiliana Iconográfica (brasilianaiconografica.art.br), primeiro portal a reunir desenhos, aquarelas, pinturas e gravuras de quatro das principais coleções brasilianas públicas e privadas, e a disponibilizar para o público no ambiente digital conteúdo e informações sobre a iconografia brasileira em algumas peças fundamentais produzidas desde a chegada dos europeus ao país, no século XVI. Criado a partir da parceria firmada em 2016 pela Biblioteca Nacional, Instituto Moreira Salles, Itaú Cultural e Pinacoteca de São Paulo, a premissa é, no futuro, incorporar e disponibilizar acervos de outras coleções e instituições, tanto do Brasil quanto do exterior.
O portal contempla um recorte do universo ligado à brasiliana. O termo envolve tudo o que diz respeito à cultura e história do Brasil, datado a partir do século XVI, quando começam a circular os primeiros mapas e livros sobre a América Portuguesa, abrangendo também pinturas e estudos científicos sobre a natureza do país, difundidos ao longo do século XIX.
Direcionado para um amplo espectro de visitantes, do curioso ao pesquisador, o conjunto inicial de cerca de 2.500 obras de brasilianaiconografica.art.br dará acesso às imagens em alta definição de cada coleção, com recurso de zoom para que as obras possam ser observadas em detalhes, assim como trará informações sobre elas: origem, temas, histórias e ficha catalográfica. Os trabalhos de cada autor serão lincados diretamente à Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras.
Para o portal, a seleção das imagens considerou desde registros originais e únicos (como aquarelas, desenhos e pinturas a óleo), até gravuras de circulação avulsa ou ilustrações de livros, de autoria de artistas profissionais ou amadores, tanto estrangeiros como brasileiros, mas privilegiando a iconografia produzida pelos chamados artistas viajantes. Do ponto de vista cronológico, as imagens datam desde a chegada dos portugueses no século XVI até o início do século XX.
O ineditismo desta iniciativa público-privada tem como objetivo ampliar a democratização do acesso às coleções, aprofundar a transparência dos acervos e reafirmar a garantia da perenidade das obras por meio do universo digital. Além de aumentar o intercâmbio entre as instituições e aprimorar os processos de catalogação destes acervos históricos, o projeto também divulga os acervos e estimula relações, conexões e estudos de assuntos relacionados.
Periodicamente ampliado com novas imagens, o portal será mais que uma base de dados, contando com a curadoria de Valéria Piccoli, curadora-chefe da Pinacoteca de São Paulo, e textos da jornalista Laura Greenhalgh, que trarão conteúdos que deixarão o espaço sempre dinâmico. A Biblioteca Nacional, o Instituto Moreira Salles, a Pinacoteca de São Paulo e o Itaú Cultural ficam por um período à frente da gestão do portal, governança que posteriormente pode ser assumida por novos integrantes ou parceiros, nacionais ou estrangeiros.
Destaques
A Biblioteca Nacional coloca no site, inicialmente, desenhos originais de algumas das principais expedições científicas e imagens que ilustraram obras publicadas no século XIX, peças de artistas como Michelerie e Franz Keller, dois conjuntos de desenhos sem autores determinados – o primeiro de artistas ingleses e outro vendido à Biblioteca como sendo de um médico a bordo da fragata Áustria – e um exemplar da obra Voyage pittoresque, de Jean Baptiste Debret.
Do acervo do Instituto Moreira Salles, destaca-se o desenho Cidade de São Paulo (1825-1826), do artista inglês Charles Landseer, um dos poucos registros da área central da cidade que se tem daquela época, assim como Cena na rua Direita (atual rua Primeiro de Março): negros carregadores de café, negras libertas, negro liberto, viajante africano, do dinamarquês Paul Harro-Harring. Vale citar ainda a litografia e aquarela sobre papel Panorama do Recife – PE (c. 1855), de Friedrich Hagedorn, o conjunto de aquarelas elaboradas por Charles Landseer que formam o Highcliffe Album entre 1825 e 1826, e o álbum de Franz Joseph Frühbeck realizado quando viajou ao Brasil junto a Missão austríaca em 1817.
Do Itaú Cultural, Povoado numa Planície Arborizada, óleo sobre madeira de Frans Post datado do século XVII, ganha projeção por ser a primeira obra da Coleção Brasiliana Itaú, adquirida por Olavo Setubal em 1969. Do acervo destacam-se, ainda, obras como Casamento de D. Pedro I e D. Amélia, de 1829, de Jean-Baptiste Debret, esquecida por quase 200 anos e que só teve a autoria identificada em 2007, ano de aquisição pela Brasiliana Itaú, Panorama da cidade de São Paulo, do francês Armand Julien Pallière, pintado por encomenda do imperador d. Pedro I, e Vista panorâmica da baía de Belém do Pará, obra pintada em 1870 por Joseph Léon Righini – esta peça fundamental da iconografia amazônica foi recentemente trazida de volta ao Brasil, após mais de um século esquecida em coleções particulares francesas.
Entre os itens do acervo da Pinacoteca que serão disponibilizados está uma das raras pinturas a óleo de Jean-Batiste Debret, datada de 1816, bem como um conjunto de desenhos em nanquim de Karl von Planitz para o álbum 12 vistas do Rio de Janeiro e pinturas de Joseph Leon Righini, artista que documenta paisagens da região norte do Brasil.
Sobre os acervos
Na Biblioteca Nacional, a Coleção Brasiliana é formada por um conjunto de múltiplas coleções que integram o seu acervo, tendo em comum obras sobre o Brasil no todo ou em parte, impressas ou gravadas desde o século XVI até 1900, e livros de autores brasileiros impressos ou gravados no exterior até 1808. Para cumprir sua missão estatutária, de salvaguarda da memória bibliográfica nacional, guarda, preserva e disponibiliza a produção gráfica (livros, periódicos, gravuras, etc) do Brasil de 1808 até a atualidade. Além da coleção “brasiliana” ou “brasiliense”, possui em seu acervo obras que tenham valor bibliofílico: edições da tipografia régia, primeiras edições por unidades federativas, edições príncipes, primitivas ou originais e edições em vida – literárias, técnicas e científicas –; edições fora de mercado, produzidas por subscrição; edições de artista. Sua coleção conta ainda com periódicos, efêmeros, retratos, mapas, gravuras, partituras, fotografias etc., que englobam desde itens sobre o Brasil, produzidos a partir do século XVI, a itens publicados no país a partir do século XIX.
Sobre o acervo de iconografia do Instituto Moreira Salles
O acervo do Instituto Moreira Salles inclui um importante conjunto de obras sobre papel que compõe uma iconografia brasileira do século XIX. São aproximadamente 2 mil imagens, entre desenhos e aquarelas, gravuras avulsas, livros de viajantes, álbuns de suvenir e mapas, que tiveram um papel importante na divulgação da então jovem nação brasileira no cenário mundial. Este conjunto reúne um grande número de artistas viajantes que retrataram o Brasil ao longo do século XIX.
Dos mais de 200 autores, entre pintores, desenhistas, gravadores e editores, encontram-se nomes caros a estudiosos da iconografia nacional, como Briggs, Cicéri, Martinet, Von Martius, entre outros, e autores pouquíssimo conhecidos, como Marguerite Tollemache e Franz Joseph Frühbeck, que permitem ampliar os estudos sobre o período. Acrescidas de alguns desenhos atribuídos a Debret e aos pintores ingleses William John Burchell e Henry Chamberlain, compõe o Highcliffe Album, um conjunto de desenhos e aquarelas que representam com esmero as paisagens, a arquitetura e os costumes do Brasil imperial.
Sobre o acervo da Coleção Brasiliana Itaú
Um dos maiores acervos corporativos de memória histórica e visual brasileira, formada por iniciativa de Olavo Setubal, a Brasiliana Itaú soma 2.900 itens, desdobrados em cerca de 6 mil iconografias – de pinturas e gravuras do Brasil holandês, produzidas por Frans Post, Albert Eckhout, até as primeiras edições dos mais conhecidos álbuns iconográficos como o de Rugendas, Debret, Chamberlain, Auguste Sisson, Schlappriz, Buvelot e Moreau, Bertichem e Emil Bauch, durante o século XIX sobre o país. As mais famosas e completas expedições, que resultaram em publicações e compõem parte deste acervo em exposição são as dos naturalistas Spix e Martius, e do Príncipe Maximilian da Áustria, verdadeiros inventários da natureza brasileira.
Contém, ainda, livros de artistas ilustrados do século XX, obras de arte, objetos, cartografias, documentos manuscritos. Com publicações datadas dos séculos XVI ao XX, muitas trazem relatos de viajantes estrangeiros que se aventuraram pelo Brasil em busca de riquezas e glórias, verdadeiras ou imaginárias. O Itaú Cultural abriga desde 2014 no seu 4º e 5º andares o Espaço Olavo Setubal, aberto permanentemente ao público, com 1,3 mil obras entre os destaques das coleções de Brasiliana e de Numismática – um recorte dos cerca de 10 mil itens reunidos somente nestes dois conjuntos do acervo.
Sobre o acervo da Pinacoteca de São Paulo
A coleção de brasiliana da Pinacoteca foi grandemente enriquecida após importante doação feita pela Fundação Estudar, e hoje soma cerca de 500 obras. Entre as peças mais importantes, além das já citadas, estão o óleo sobre tela Rio de Janeiro (1844) de Alessandro Ciccarelli e o papel de parede panorâmico Vistas do Brasil (1829), baseado nas gravuras do livro Viagem pitoresca através do Brasil, de Rugendas.
Experiência 9+1 no CCJF, Rio de Janeiro
Exposição resultante de jogo curatorial reúne nove artistas no Centro Cultural Justiça Federal RJ
O Centro Cultural Justiça Federal apresenta até domingo, 29 de outubro, Experiência 9+1, que reúne nove artistas do Rio de Janeiro, de São Paulo, Minas Gerais e da Bahia.
A mostra é resultado do jogo curatorial proposto pela curadora Pollyana Quintella, que mantém um grupo com os artistas desde 2016. Os trabalhos da exposição transitam entre a instalação, o vídeo, o objeto, a serigrafia e a pintura, aproximando poéticas.
"No dia 29 de fevereiro de 2016, mandei um e-mail para Aline Besouro, Clara Machado e Bianca Madruga, convidando-as para um jogo-exposição. Cada uma das três deveria convidar uma artista que eu não conhecia. Aline convidou Inês Nin, Clara convidou Anais Karenin e Bianca convidou Leticia Tandeta Tartarotti. Essas novas integrantes de um núcleo por vir, deveriam, por sua vez, convidar artistas que elas mesmas não conheciam, segundo critérios próprios. Com isso, chegaram Pedro Veneroso, Amanda Rocha e Ana Hortides. Formamos assim um grupo de dez [nove artistas e a curadora], entre Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Belo Horizonte. Esse é o terceiro desdobramento expositivo desse encontro", conta a curadora.
Clara Machado expõe trabalhos em que a delicadeza e fragilidade da matéria [papel, pétalas] é dado para pensar relações de abrigo, amor e afeto.
Ana Hortides mostra esculturas da série "O menor abrigo", na qual madeira e açúcar dão forma a casas de formatos mínimos, que rememoram brinquedos da infância e a fragilidade do lar.
Amanda Rocha apresenta livros-vestidos: aquilo que antes fora vestimenta se transforma em livro de tecido costurado pela artista.
Aline Besouro traz serigrafias tratando da ideia de justiça. Em uma delas, símbolos do tarot, e na outra, o pedido de liberdade de Rafael Braga, preso político no contexto das manifestações de 2013.
A instalação de Inês Nin explora suas relações com a natureza – a terra como matéria que pigmenta a pintura e o vídeo onde se vê uma performance silenciosa no meio da mata.
Pedro Veneroso trouxe a plataforma “gogoame”, um projeto de webarte no qual é possível, diante de uma chuva de letras, constituir frases e palavras, que logo se desfazem diante do espectador.
Anais Karenin reúne um conjunto de ítens de lugares distintos, como o sertão nordestino e o Japão, buscando sutis aproximações.
Bianca Madruga reúne um conjunto de objetos cotidianos todos brancos, recolhidos pela artista diariamente, por dois meses, nos fazendo ver aquilo que passa despercebido.
A instalação de Leticia Tandeta Tartarotti se compõe dezenas de fotografias de taças e talheres à mesa, clicadas pela artista. A multiplicação dessas imagens, justapostas e superpostas sobre o chão, sugere a observação de sua vida secreta.
“Os critérios que reúnem o que se vê não são outros que não o próprio processo de formação do grupo e os resultados deste confronto. Não há, portanto, um eixo conceitual que perpasse todos os trabalhos. O que não significa, por outro lado, pura contingência. Os convites refletem aproximações, e isso está presente ora na organicidade dos materiais, ora na delicadeza, ora nos interesses formais ou conceituais, que formam maiores ou menores constelações. Nesse caminho, o 9+1 pede mais atenção para a dinâmica das relações construídas aqui do que para as questões autônomas da arte”, argumenta Pollyana Quintella.
O projeto tem realização da Atelier Produtora e apoio do Centro Cultural Justiça Federal.
Visões da Arte no Acervo do MAC USP 1900-2000 no MAC USP Ibirapuera, São Paulo
Exposição conta a história da arte do século XX a partir de 160 obras do acervo reunido pelo museu
A ocupação do atual edifício, iniciada em 2012, permitiu ao Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo propor uma nova política de exposições. Com um espaço cinco vezes maior que o disponível em suas sedes anteriores, finalmente o Museu pode mostrar uma parcela significativa de seu acervo, com obras que representam a história da arte mundial e brasileira, pontuando as grandes transformações das artes visuais a partir do início do século XX até a contemporaneidade.
Visões da arte no acervo do MAC USP 1900-2000, primeira mostra de longa duração (cinco anos) proposta pelo Museu, ocupa os sétimo e sexto andares do edifício, cobrindo os períodos de 1900-1950 e 1950-2000, respectivamente. São mais de 160 obras, escolhidas entre as quase 12 mil peças do acervo, de artistas como Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Flávio de Carvalho, Anita Malfatti, Volpi, Brecheret, De Chirico, Picasso, Kandinsky, Modigliani, Boccioni, Matisse, Max Bill e muitos outros.
As curadoras Ana Magalhães, Carmen Aranha e Helouise Costa buscam lançar indagações sobre conjuntos de obras capazes de revelar algumas das especificidades da arte e da cultura brasileiras em sua interação com a arte internacional, apresentando as principais escolas e movimentos artísticos deste período, com destaque às suas crises e rupturas. Assim, no sétimo andar o visitante encontra temas como A Instauração do Moderno, A Circulação da Arte Moderna, Vanguarda e Política: O Expressionismo em Questão, Realismos, Abstracionismos, além de situar as relações da Bienal de São Paulo com o MAC USP. Já no sexto andar estão as seções Figurações, Arte Política, Arte como Ideia e Por uma Arte Global: Arte Contemporânea na Virada do Século XXI, mostrando as transformações das experiências artísticas da segunda metade do século XX.
O projeto expográfico procura articular os andares situando duas praças no centro de cada uma das galerias. No sétimo andar, a praça busca unir o acervo do Museu ao Parque Ibirapuera, enquanto projeto mais amplo de modernidade para o Brasil, na década de 1950. Essa modernidade espelha-se na praça do sexto andar com a história do MAC USP na Universidade, que se exprime, também, pelos dois mais expressivos projetos de arquitetura para sua sede, respectivamente no campus e fora dele, assinados por dois dos maiores nomes da arquitetura brasileira do século XX: Oscar Niemeyer e Paulo Mendes da Rocha. Para a reflexão sobre a relação da arquitetura moderna com o MAC USP, a exposição contou com a colaboração dos docentes Rodrigo Queiroz e Marta Bogéa, do Departamento de Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - FAU USP.
MAC USP recebe obra do artista francês Robert Delaunay*
A exposição Visões da Arte no Acervo do MAC USP: 1900-2000 acaba de receber a obra Champs de Mars: A Torre Vermelha, (1911/23), do artista francês Robert Delaunay (1885-1941).
A obra de Delaunay chega ao MAC USP como contrapartida ao empréstimo de A Negra e Floresta, ambas de Tarsila do Amaral, que vão integrar individuais da artista brasileira no Art Institute de Chicago (AIC) e no MOMA de Nova Iorque até junho de 2018. O óleo sobre tela de Delaunay, que hoje pertence ao acervo do AIC, foi adquirido pela própria Tarsila na década de 1920, e pôde ser admirada por muitos artistas do movimento modernista até ser vendida, décadas depois. Pelos próximos meses, os visitantes do MAC USP poderão visitar A Torre Vermelha gratuitamente, de terça a domingo, no sétimo andar do museu, ao lado de algumas das obras icônicas do acervo.
* Notícia de 10 de outubro de 2017
Hello.Again: Mayana Redin no Pivô, São Paulo
O Pivô inaugura no dia 28 de outubro a exposição individual "Pacotão" de Mayana Redin dentro do programa Hello.Again
O Programa Hello.Again do Pivô, tem como objetivo introduzir o espaço e saudar o visitante. O título é inspirado pela obra homônima do artista israelense Haim Steinbach, que dá as boas-vindas ao mesmo tempo em que celebra um reencontro. O espaço expositivo, localizado na recepção do Pivô, é a transição entre a rua de pedestres do edifício Copan e o interior da instituição, e funciona como um espaço expositivo que é ao mesmo tempo percebido como uma vitrine para projetos de artistas em início de carreira.
Mayana Redin foi a artista contemplada pelo terceiro edital Hello.Again, com o projeto Pacotão. A artista ocupa a recepção do Pivô com uma grande pintura - realizada por um especialista em pinturas de fachadas, placas e imagens de comércio -, que, a partir de uma aproximação formal, transforma a coluna central do espaço em um grande pacote de bolacha Maizena Piraquê.
A bolacha de maizena é um ícone, tanto por ser um item de consumo bastante comum no cotidiano dos brasileiros com ampla difusão de mercado quanto por sua revolucionária identidade visual criada por Lygia Pape nos anos 50, numa pesquisa que resultou em uma nova tecnologia capaz adaptar as embalagens ao formato do biscoito, antes padronizadas em caixas ou latas.
A coluna cilíndrica é um dos pontos de sustentação do Edifício Copan, ao observá-la de fora do edifício, vemos a sua extensão através das janelas do Pivô, no térreo é branca, no segundo andar de concreto aparente e volta a ser branca no terceiro, onde a perdemos de vista. Ao pintar uma das partes visíveis da coluna com uma reprodução detalhada da embalagem do produto, a artista cria um ruído na arquitetura e chama a atenção para essa imagem tão familiar no imaginário brasileiro.
Tão familiares aos brasileiros quanto o biscoito, as colunas de Oscar Niemeyer e os layouts de Lygia Pape se encontram nessa aproximação irreverente e inusitada de Mayana Redin. Nas palavras da artista: o humor contido na ação de aproximar elementos de escalas opostas pode, porém, migrar facilmente para a dimensão do patético, e por isso, também, tornar a intenção levemente melancólica: um elemento do cotidiano ordinário e uma imagem do senso comum sustentando o peso de um edifício carregado de história e ideologia.
Mayana Redin, natural de Campinas (SP), se formou em Porto Alegre (RS) e vive atualmente no Rio de Janeiro (RJ), onde trabalha e cursa o Doutorado em Linguagens Visuais pelo PPGAV-EBA-UFRJ. Completou o Mestrado no mesmo programa em 2013. Possui graduação em Artes Visuais pela UFRGS, Porto Alegre (2010) e Comunicação Social pela UNISINOS (2007). Atuou como docente de ensino superior na EBA-UFRJ e Universidade Cândido Mendes.
Exposições individuais: Arquivo Escuro, Galeria Silvia Cintra + Box 4, 2016; Cosmografias (para São Paulo), Arquivo Histórico de São Paulo, 2015; A borda o risco o mundo: experimento # 2, com curadoria de Fernanda Lopes, Palácio das Artes, em Belo Horizonte, 2014; Exposições coletivas: Sala de Leitura. SESC São Carlos. Curadoria Galciane Neves, 2017; In Memoriam. Caixa Cultural, Rio de Janeiro-RJ. Curadoria Fernanda Lopes, 2017; Programa de Residências Internacionais JA.CA – Centro de Arte e Tecnologia. Nova Lima, MG, 2017; Aquel que camina al lado, Travesia Cuatro, Guadalajara, Mexico. Curadoria Claudia Segura e Luiza Teixeira de Freitas, 2016; Hacia una nueva orilla, no NC-Arte, Bogotá-Colômbia, curadoria de Claudia Segura, 2016; Imagine Brazil, no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, 2015.
outubro 24, 2017
FLAC – Feira Livre de Arte Contemporânea no CentoeQuatro, Belo Horizonte
Feira Livre de Arte Contemporânea realiza leilão de impacto social em seu dia de abertura
No dia 27 de outubro, a FLAC – Feira Livre de Arte Contemporânea abre sua programação com um leilão beneficente. O evento acontece a partir das 20h, no Café CentoeQuatro, com entrada gratuita. Cada artista participante da feira selecionou ao menos uma obra inédita para ser leiloada (ver obras) com lances iniciais variando entre R$50 e R$6.500. Parte da receita será destinada à campanha Outubro Rosa promovida pelo grupo “Pérolas de Minas”, que atua na prevenção e combate ao câncer de mama em todo o estado.
No total, o público terá a oportunidade de arrematar 86 lotes de obras produzidas a partir de diferentes técnicas como nankin, acrílica sobre tela, grafite, óleo sobre tela, madeira, ferro, aquarela, entre outras. Tanto as peças disponibilizadas para o leilão, como as demais obras de arte visuais de toda a FLAC, poderão ser contempladas pelos visitantes um pouco antes, das 18h às 20h. “Este momento que antecede o leilão é uma oportunidade única de conhecer em primeira mão as obras originais da feira e estar em contato direto com os artistas visuais selecionados pela Comissão Curadora”, explica Andréia Menezes De Bernardi, sócia fundadora da Akala, associação proponente do projeto, e uma das coordenadoras.
Sobre a Feira Livre de Arte Contemporânea – FLAC
Entre os dias 27 e 29 de outubro, Belo Horizonte recebe uma iniciativa inédita e pioneira que vai movimentar seu cenário cultural, a primeira edição da Feira Livre de Arte Contemporânea – FLAC, no CentoeQuatro. Durante três dias, os visitantes terão contato com diversas áreas de expressão artísticas como desenho, fotografia, pintura, colagem, gravura, grafite, escultura, assemblagem, cerâmica, instalação, vídeo, arte digital, performance, e outras manifestações. “A FLAC tem como objetivos fomentar o cenário artístico e divulgar a produção atual na capital mineira e seu entorno, em colaboração com galerias, circuitos e iniciativas afins, mas também sensibilizar para o reconhecimento da visão estratégica da Arte e da Educação Artística e Cultural como fundamentais para desenvolvimento integral de qualquer sociedade”, comenta Andréia Menezes De Bernardi.
Realizado pela Akala, o evento traz a oportunidade de exposição e venda de obras de arte – contribuindo para profissionalização dos artistas – e a ampliação do acesso do público aos contextos de produção e circulação das Artes Visuais. Entre os participantes desta edição da FLAC estão: Cyro Almeida, Fabíola Tasca, Isabela Prado, Marcel Diogo, Maria do Céu Diel, Thiago Alvim.
A Feira Livre de Arte Contemporânea é realizada por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte – Fundação Municipal de Cultura, com o apoio do Fundo Estadual de Cultura de Minas Gerais e o patrocínio do Instituto Unimed-BH e da MGS.
Horário da FLAC
27/10, sexta-feira - 18h às 23h - Inicio do Leilão às 20h
28/10, sábado - 10h às 21h
29/10, domingo - 10h às 21h
outubro 23, 2017
Projeto Latitude apoia nove galerias de arte brasileiras na Colômbia durante a ARTBO 2017
Por meio de uma parceria entre a Associação Brasileira de Arte Contemporânea (ABACT) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), o Projeto Latitude – voltado à internacionalização do mercado brasileiro de arte contemporânea – apoia a participação de nove galerias brasileiras na Colômbia durante a realização da Feira Internacional de Arte de Bogotá (ARTBO) e Odéon – Feria de Arte Contemporáneo, entre os dias 26 e 30 de outubro de 2017.
Nesta 13ª edição a ARTBO conta com 76 galerias de 18 países, dentre as quais sete são brasileiras e participantes do Projeto Latitude – Platform for Brazilian Art Galleries Abroad. São elas: Athena Arte Contemporânea, Blau Projects, Fortes D'Aloia & Gabriel, Galeria Eduardo Fernandes, Galeria Luisa Strina, Galeria Raquel Arnaud e Vermelho. Os curadores desta edição são: Kiki Mazzucchelli, responsável pela seção Projetos; Sylvia Suárez, seção Referentes; e La Usurpadora, seção Artecámara. Em 2017, a ARTBO inaugura uma nova seção chamada 21m2m, que reúne 10 galerias internacionais com trajetória de até 6 anos.
Sobre as galerias participantes e artistas representados:
• Athena Arte Contemporânea. Apresenta obras dos artistas representados: Frederico Filippi e Yuri Firmeza.
• Blau Projects. Laura Gorski, Éder Oliveira e Vítor Mizael.
• Fortes D'Aloia & Gabriel (C7). Los Carpinteros e Rodrigo Cass.
• Galeria Eduardo Fernandes (C11). Fernando Arias, Clemencia Echeverri, Arturo Gamero, Luz Lizarazo,, Rosario Lopez e Claudia Melli.
• Galeria Luisa Strina. Pablo Accinelli, Leonor Antunes, Eduardo Basualdo, Federico Herrero, Thiago Honório, Laura Lima, Jarbas Lopes, Mateo López, Marepe, Cildo Meireles, Pedro Motta, Bernardo Ortiz, Nicolás Paris, Pedro Reyes e Beto Shwafaty. Tonico Lemos Auad participa da seção de Projetos (A10).
• Galeria Raquel Arnaud. Frida Baranek, Carla Chaim, Ding Musa, Carlos Nunes e Arthur Luiz Piza.
• Vermelho (B4). Gabriela Albergaria, Iván Argote, Tania Candiani, Marcelo Cidade, Dias & Riedweg, André Komatsu, Dora Longo Bahia, Odires Mlàzho, Marcelo Moscheta e Nicolás Robbio. A artista Tania Candiani participa da mostra “Energética”, curada por José Roca, no Monumento a los Héroes, com abertura no dia 23/10. Ivan Argote, também representado pela galeria, participa de “MAMBO” na Bienal del Sur.
A Odéon - Feria de Arte Contemporáneo, feira de arte criada em 2001, vem se consolidando local e internacionalmente ao largo de suas seis edições. A seção geral deste ano conta com 9 galerias, das quais duas são participantes do Projeto Latitude: Portas Vilaseca e Zipper.
• Portas Vilaseca Galeria (estande 4 ). Carolina Martinez.
• Zipper Galeria (7). André Penteado.
SOBRE O PROJETO LATITUDE
No início do Projeto Latitude, em 2007, o valor de exportação alcançado pelas galerias associadas ao programa foi de cerca de US$ 6 milhões. Em 2015, o volume exportado chegou a quase US$ 67 milhões, o que representa um salto de 97,4% em relação ao ano de 2014, cujas exportações totalizaram vendas de US$ 33.921.564 para 22 países.
Os principais destinos dos negócios internacionais das galerias em 2015 foram: Estados Unidos, Reino Unido e Suíça. A participação das galerias associadas à ABACT nesse montante aumentou de 41,3 % para 68,4%, atestando a relevância das ações do Projeto Latitude voltadas à promoção da arte brasileira em eventos e feiras de arte internacionais.
Somente no último convênio com a Apex-Brasil, 11 galerias foram introduzidas no mercado internacional com o apoio do programa Latitude, e mais de 30 galerias foram apoiadas pelo Projeto para participações em feiras internacionais, gerando aproximadamente US$ 11,1 milhões em negócios, com vendas de mais de 500 obras para 37 países e para pelo menos 22 instituições internacionais. A expectativa da equipe do Projeto é de ampliar estes números neste novo Convênio.
Além de ações contínuas de gestão e de comunicação, voltadas para o fortalecimento institucional, estão previstas outras 27 ações para o biênio 2017-2019, entre as quais, o apoio às galerias participantes em importantes feiras internacionais, como a Art Basel Miami Beach (EUA), ARCOmadrid (Espanha), ARTBO (Colômbia), arteBA (Buenos Aires), entre outras; realização de Art Immersion Trips, por meio das quais o projeto recebe formadores de opinião, profissionais e colecionadores para vivenciar a cena cultural brasileira; capacitação das galerias para atividades específicas e para atuação no mercado internacional; e a realização de pesquisas setoriais e estudos sobre mercados específicos. O conjunto de ações tem como objetivo aumentar o resultado das exportações do mercado primário de arte contemporânea brasileira com uma visão de longo prazo.
Imagens Impressas: um Percurso Histórico pelas Gravuras da Coleção Itaú Cultural no MNBA, Rio de Janeiro
Exposição itinerante chega ao Rio de Janeiro e revela as diferentes técnicas e temáticas abordadas do século XV ao XIX, com gravuras originais de artistas como Martin Schongauer, Eugène Delacroix, Francisco Goya, Edouard Manet e Honoré-Victorien Daumier
A partir de 26 de outubro (quinta-feira), o Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro (MnBA) recebe a exposição Imagens Impressas: um Percurso Histórico pelas Gravuras da Coleção Itaú Cultural. Com curadoria de Marcos Moraes, a mostra mapeia cinco séculos da produção gráfica europeia, com mais de 140 das 451 imagens impressas que compõem este acervo. São apresentadas, de forma didática, as diferentes técnicas de gravuras dos séculos XV a XIX. Imagens Impressas já passou por Santos, Curitiba e Fortaleza, e fica em cartaz no Rio de Janeiro até o dia 18 de fevereiro de 2018. No ano que vem, a mostra passará por mais três cidades do Brasil.
O curador observa que a imagem impressa acompanha a humanidade desde os seus primórdios, e podemos remontar essa trajetória às mãos marcadas, por meio de pigmentos, nas paredes de grutas e cavernas. De acordo com Moraes, as xilogravuras produzidas a partir do século XV tiveram suas técnicas aprimoradas, incorporando inovações e desenvolvendo a linguagem gráfica. Por esse caminho, no século XIX a gravura chega à autonomia. Para abordar esse meio de criação é preciso, portanto, delimitar um escopo.
“Trata-se de um recorte representativo, pela diversidade de técnicas, temas e destinações das gravuras. Esta seleção nos permite pensar na linguagem gráfica e em outros caminhos de leitura e interesse ao longo desse fascinante empreendimento que foi a produção de imagens impressas”, afirma o curador. A mostra propõe, assim, um percurso histórico pelas gravuras do Itaú Cultural, e se inscreve nas ações promovidas pelo instituto para garantir o acesso ao Acervo de Obras de Arte do Itaú Unibanco, que hoje conta com mais de 15 mil itens.
Entre os destaques de Imagens Impressas estão obras do artista e caricaturista francês Honoré-Victorien Daumier, como Quelle heurese rencontre! – Les Amis (ca.1840), Mais pis que (s.d.), C’est bien parce (s.d.), Um ami est – Les Amis (ca. 1840), J’offrirai à monsieur (s.d.). Dele, há também o original de uma charge publicada no jornal Le Charivari, um dos principais veículos franceses no período. Chama a atenção, ainda, uma série de trabalhos de artistas mais conhecidos como pintores, como Edouard Manet, Eugène Delacroix, Francisco Goya, Henri de Toulouse-Lautrec e Rembrandt van Rijn. A gravura mais antiga em exibição na mostra é Cristo Carregando Cruz, feita em 1475 por Martin Schongauer, um dos primeiros gravuristas de que se tem notícia. Vale ressaltar as ilustrações realizadas por Gustave Doré, no século XIX, para o livro A Divina Comédia, de Dante Alighieri.
Marcos Moraes é Doutor em Arquitetura e Urbanismo (2009), graduado em Direito (1979) e Artes Cênicas (1987), com especialização em Arte Educação e Museu, todos pela Universidade de São Paulo (Usp). Atualmente é coordenador dos cursos de bacharelado e licenciatura em Artes Visuais, bem como dos Programas Internacionais de Residência Artística (Cité des Arts e Residência Artística FAAP), ambos da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), onde também é docente (graduação e pós graduação) em História da Arte, Desenvolvimento de Projeto Integrado e é responsável pelos Seminários de Investigação Contemporânea, além de curador do Programa de exposição dos bacharelados em artes visuais, e das salas especiais com artistas convidados da Anual de Arte FAAP. Integra o Conselho de Aquisição do MAB FAAP e o Conselho Consultivo do MAM de São Paulo.
Concretos/ Neoconcretos Paulistas no Studio Nóbrega, São Paulo
Com curadoria de Macaparana, exposição Concretos/Neoconcretos Paulistas destaca raridades do catálogo do Studio Nóbrega
A Arte Concreta e Neoconcreta surge no Brasil na virada dos anos 1940 para 1950, provocando uma ruptura com a tradição modernista que dominava o cenário artístico desde a Semana de 1922. Tal descontinuidade causou grande impacto entre os jovens artistas e intelectuais brasileiros, destronando os valores até então propagados pelo Modernismo – não só por apresentar conceitos muito bem fundamentados, como também por legitimar um ideário estético e filosófico capaz de refletir os novos tempos que se instalavam.
No lugar do figurativismo de temática nacional ou regionalista do Modernismo, a Arte Concreta e Neoconcreta apresenta uma tônica universal e racional, baseada na linguagem geométrica, que atrai toda uma nova geração de artistas da vanguarda paulista. Willys de Castro, Waldemar Cordeiro, Antonio Maluf, Geraldo de Barros, Hércules Barsotti, Hermelindo Fiaminghi, Maurício Nogueira Lima, Alexandre Wollner, Judith Lauand, Luiz Sacilotto e Lothar Charoux, e ainda Alfredo Volpi em sua fase concreta, são os artistas desse seleto grupo que integram a exposição Concretos/Neoconcretos Paulistas, que o Studio Nóbrega recebe entre 26 de outubro e 17 de novembro. No dia 11 de novembro, o espaço participa ainda do Art Weekend São Paulo 2017.
A mostra apresenta 25 obras de autoria de figuras estelares, criteriosamente selecionadas pelo artista plástico abstrato-geométrico Macaparana que, a convite da galeria, assina a curadoria da exposição. O artista teve o privilégio de conviver com várias dessas figuras que influenciaram os fundamentos de sua linguagem artística, hoje, de renome internacional.
"Meu objetivo foi destacar a abstração geométrica produzida pelo grupo de São Paulo na segunda metade do século 20, desde o Concretismo até o surgimento do grupo Neoconcreto, no Rio. Não vejo uma cisão entre ambos e, sim, uma flexibilização do processo criativo dos artistas", explica o curador. Para complementar a compreensão do período, catálogos e textos originais da época contextualizam as obras, situadas em sua maioria entre os anos 1950 e 1960, época de maior efervescência dos dois grupos. "O fim da Segunda Grande Guerra (1939-1945) provocou uma onda de otimismo, alimentada pela pauta desenvolvimentista da política nacional, que se refletiu no campo artístico. A tela passa a ser construída exclusivamente por elementos plásticos – planos e cores – sem outra significação senão eles próprios. Outra consequência significativa da Arte Concreta é o final da influência da Escola de Paris sobre a arte brasileira", complementa Macaparana.
Na coletiva, estão também presentes artistas seminais ao desenvolvimento da Arte Concreta e Neoconcreta no país: o suíço Max Bill (1908-1994) e o alemão Josef Albers (1888-1976), ambos associados à Bauhaus. Foram as teorias desses dois pensadores que despertaram o interesse pela abstração geométrica no Brasil em dois eventos transformadores: no MAM/SP, em 1949/1950, e na 1ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, em que Max Bill vence o prêmio aquisição com a célebre escultura Unidade Tripartida.
Dos artistas, duas raridades: o óleo sobre tela com economia de elementos visuais, Kondensation Von Komplementar Faben (1969) de Max Bill, que atesta sua fidelidade às teorias concretas; e a tela WLS XI (1966) de Josef Albers, que demonstra o purismo esquemático e cromático do artista em uma litografia tricolor sobre alumínio.
Concretistas e neoconcretistas no Brasil
Apesar da linguagem geométrica ser comum aos grupos de São Paulo e do Rio, a nova reflexão plástica, desde o início, já denotava posturas diferentes. Os concretistas paulistas caracterizavam-se por uma elaboração mais objetiva e rigorosa, enquanto os neoconcretistas cariocas se manifestavam de maneira mais espontânea, avessa às teorias introduzidas por Max Bill.
As divergências entre Rio e São Paulo se explicitam com a I Exposição Nacional de Arte Concreta, realizada em 1956, no MAM-SP; e levada no ano seguinte ao Ministério da Educação e da Cultura no Rio de Janeiro. A mostra deu início à diferenciação dos dois grupos que, a partir de 1959, assumiriam as denominações de Concreto e Neoconcreto. A exposição do Studio Nóbrega faz homenagem a ambos, sob a ótica dos artistas paulistas.
Obras e artistas
"No início da década de 1950, Volpi rompe com a figuração e envereda por um breve período construtivista, hoje, considerado um dos pontos altos de sua carreira", elucida o curador. Na têmpera sobre tela Sem título de Alfredo Volpi (1896-1988), da década de 1950, as metades do quadro bicromático, dividido em diagonal, ganham um cubo da cor oposta, como um símbolo do Yin Yang vetorial, e o preenchimento da tela evidencia a translucidez da técnica.
A pintura Sem título produzida pelo concreto Geraldo de Barros (1923-1998), em 1953, imprime uma constelação colorida sobre um fundo preto, no qual círculos e linhas retas confundem-se na representação pontilhada. A obra é uma das que chegaram ao Studio Nóbrega pela coleção do poeta concreto Décio Pignatari, após sua morte em 2012.
Outro trabalho que incorpora as bases concretas à impressão de espacialidade é a pintura Sem título (1956) de Hermelindo Fiaminghi (1920-2004). Nela, triângulos são seccionados por círculos pretos, fosco e brilhante, trazendo à tela o efeito trompe l'oeil que acentua a sensação de dimensionalidade da obra. Já Estágios Simultâneos (1975), do neoconcreto Hércules Barsotti (1914-2010), emprega a divisão esquemática de cores em um losango para provocar uma tridimensionalidade alcançada por sua exímia habilidade em criar sequências cromáticas.
Conforme escreveu o poeta neoconcreto Ferreira Gullar (1930-2016), um de seus fundadores e, talvez, o intelectual brasileiro que mais se dedicou a analisar esta corrente artística revolucionária, "A arte Concreta e Neoconcreta pertencem hoje à História da Arte Brasileira e sobre elas já muito se refletiu e escreveu, em função mesmo do papel que desempenharam no curso dessa História". É esse o mote que leva o Studio Nóbrega a homenagear esse grupo de artistas excepcionais na exposição Concretos/Neoconcretos Paulistas.
Sobre o curador
O artista plástico Macaparana (1952) encontra-se, sem dúvida, entre os expoentes da vertente abstrato-geométrica contemporânea. Nos anos 1970, ao se transferir de Recife para São Paulo, onde reside desde então, seu talento como pintor, desenhista e escultor chamou atenção dos concretos Hércules Barsotti, Willys de Castro e Antonio Maluf, que o apresentou a Pietro Maria Bardi, fundador do MASP. Em 1979, além de promover no MASP a primeira individual do artista nascido em Pernambuco, Bardi o fez adotar o nome de sua cidade natal de Macaparana. Seus trabalhos já participaram de exposições individuais e coletivas no Recife, Rio, São Paulo e em Brasília, assim como na Cidade do México, Tóquio, Nova York e Londres, e sua obra encontra-se nos acervos de museus e coleções particulares no Brasil e no exterior. Macaparana é representado por Dan Galeria (SP), Galerie Denise René (Paris) e Galería Jorge Mara - La Ruche (Buenos Aires).
Henri Matisse – Jazz na Caixa Cultural, Rio de Janeiro
A exposição reúne 20 pranchas impressas em “pouchoir” pelo artista francês em 1947
A Caixa Cultural inaugura no dia 24 de outubro, às 19h, a exposição Henri Matisse – Jazz, com curadoria de Anna Paola Baptista. Serão apresentadas as 20 pranchas do álbum Jazz, obra síntese da segunda parte da carreira do pintor, desenhista e escultor Henri Matisse nos anos 1940. A partir deste periodo passou a dedicar-se exclusivamente a técnica dos papiers découpés (cut outs), os desenhos com tesoura, nos quais criava diretamente nos papéis coloridos com guache. O projeto tem patrocínio da Caixa Econômica Federal e do Governo Federal. Na noite de inauguração acontecerá uma visita guiada com a curadora.
O albúm Jazz foi impresso a partir dos originais recortados, com supervisão do próprio Matisse. As imagens variam da abstração a figuras de grande vivacidade que abordam assuntos ligados ao circo, contos populares e viagens, com ritmo e improvisação identificáveis aos sons de uma orquestra de jazz. O processo de edição do álbum foi iniciado em 1942 e o artista levou cinco anos para conclui-lo. Jazz foi lançado simultaneamente em Paris e no Rio de Janeiro em 1947. O exemplar exibido é o de número 196 e integra ao acervo dos Museus Castro Maya.
De acordo com o crítico de arte Paulo Herkenhoff, o belíssimo conjunto de desenhos feitos com tesoura se destaca como “o mais belo livro de arte do século XX”. A técnica foi desenvolvida por Matisse no início da década de 1940, quando, obrigado a passar longos períodos na cama e na cadeira de rodas em recuperação de uma delicada cirurgia. O artista combinou desenho e pintura em colagens. Matisse já havia utilizado os chamados papiers collés para o estudo da obra La danse (1909), mas foi a cumplicidade do editor e crítico Tériade que o incentivou a realizar um álbum só com papéis recortados, trabalho que mais tarde foi considerado como uma de suas obras mais importantes.
Após temporadas de sucesso em Salvador, Brasília, Recife e Fortaleza, é a vez do Rio de Janeiro receber a aguardada exposição Henri Matisse – Jazz que seguirá em cartaz na cidade até 22 de dezembro de 2017.
Sobre Matisse
O pintor francês Henri Matisse nasceu em 1869 em Le Cateau-Cambrésis, no norte da França. Iniciou o curso de Direito em Paris em 1988, logo abandonado para estudar pintura e desenho na Academia Julián e na Escola de Belas Artes de Paris.
É considerado por críticos e historiadores um dos mais importantes e revolucionários artistas de seu tempo. Ao lado de Pablo Picasso tornou-se artista síntese da arte moderna no século 20, liberta da necessidade de imitar a realidade.
Influenciado por Paul Cézanne, Paul Gauguin e Vicent Van Gogh, foi líder do movimento chamado Fauvismo (1901-1908), termo inicialmente pejorativo que caracterizava os artistas como bestas selvagens (fauves) escandalizando o público com as cores intensas de suas obras.
No início da década de 1940 com seus movimentos reduzidos em decorrência de um câncer e impedido de pintar, Matisse inventou a técnica dos papiers découpés (cut outs), os desenhos com tesoura, nos quais criava diretamente nos papéis coloridos.
Dessa forma, Matisse reinventou sua arte e sua carreira produzindo centenas de obras extraordinárias. O álbum Jazz, de 1947, que será na Caixa Cultural Rio de Janeiro, é o ápice desta criação.
outubro 19, 2017
David Magila + Goia Amorim na Mamute, Porto Alegre
No dia 20 de outubro de 2017, sexta-feira, às 19h, a Galeria de Arte Mamute apresenta ao público seus novos artistas representados David Magila (SP) e Goia Amorim (RJ). O lançamento dos dois nomes que passam a integrar o grupo dos representados da galeria será celebrado com a inauguração simultânea de duas exposições individuais – Como Vencer o Morro de David Magila e Fantasmas de Goia Amorim.
Com curadoria de Mário Gioia, as exposições trarão ao público obras inéditas em pintura produzidas pelos dois artistas.
David Magila (1979) vive e mantém atelier em São Paulo. É pós-graduado pela Escola de Comunicação e Artes/USP e pela UNESP. Bacharel em Artes Plásticas pela UNESP. A cidade desordenada e sua atmosfera de uma arquitetura ordinária e predatória são os elementos tomados pelo artista. As cores intensas nas formas construídas revelam o vazio do urbano habitado.
Goia Amorim (1985), natural do Rio de janeiro, vive e mantém atelier no Rio de Janeiro e Londres. É mestre em pintura pelo Royal College of Art, Londres (2017). Bacharel em pintura pelo The Slade School/UCL, Londres (2015). Em suas pinturas a artista explora repetidamente camadas de cores e texturas para investigar conceitos como marca e apagamento, acaso e composição no processo pictórico.
Mario Gioia (São Paulo, 1974)
Curador independente. Graduado pela ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo). Faz parte do grupo de críticos do Paço das Artes desde 2011, instituição na qual fez o acompanhamento crítico de Luz Vermelha (2015), de Fabio Flaks, Black Market (2012), de Paulo Almeida, e A Riscar (2011), de Daniela Seixas. Foi crítico convidado de 2013 a 2015 do Programa de Exposições do CCSP (Centro Cultural São Paulo) e fez, na mesma instituição, parte do grupo de críticos do Programa de Fotografia 2012. Em 2015, no CCSP, fez a curadoria de Ter lugar para ser, coletiva com 12 artistas sobre as relações entre arquitetura e artes visuais. Já fez a curadoria de exposições em cidades como Brasília (Decifrações, Espaço Ecco, 2014), Porto Alegre (Ao Sul, Paisagens, Bolsa de Arte, 2013) e Rio de Janeiro (Arcádia, CGaleria, 2016). É colaborador de periódicos de artes como Select e foi repórter e redator de artes visuais e arquitetura da Folha de S.Paulo de 2005 a 2009. De 2011 a 2016, coordenou o projeto Zip'Up, na Zipper Galeria, destinado à exibição de novos artistas e projetos inéditos de curadoria. Na feira de arte ArtLima 2017, assinou a curadoria da seção especial CAP Brasil, intitulada Sul-Sur.
Ensaio de Tração na Pina Estação, São Paulo
Curtas de Cao Guimarães, Cinthia Marcelle e Tiago Mota Machado, Janaina Wagner, Marcellvs L. e Wagner Morales serão exibidos na Pina Estação
A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, apresenta Ensaio de Tração, mostra coletiva de vídeos produzidos por artistas brasileiros que se dedicam a explorar os limites da linguagem audiovisual. A ideia nasceu do desejo de mostrar pela primeira vez na Pina a obra “Da janela do meu quarto” (2004), de Cao Guimarães, que entrou para o acervo do museu em 2015 pelo Programa de Patronos da Arte Contemporânea.
“Da janela do meu quarto” traz cenas de uma rua de areia em que, debaixo de chuva, duas crianças brigam e, ao mesmo tempo, brincam. O vídeo de cinco minutos foi captado em Super 8 e será exibido em sua versão digital. Já conquistou prêmios de melhor curta e melhor filme em festivais brasileiros e um francês.
A partir deste vídeo foram reunidos trabalhos de outros artistas, entre eles “Nau” (2017), de Cinthia Marcelle e Tiago Mata Machado, comissionado pela Fundação Bienal de São Paulo para ser apresentado no Pavilhão do Brasil na 57ª Bienal de Veneza e agora exibido pela primeira vez no Brasil, além de “Terreno” (2004), de Janaina Wagner, “9493” (2014), de Marcellvs L., e “Thierry” (2012), de Wagner Morales.
Os filmes têm em comum a ambiguidade entre o documental e a ficção. As narrativas oscilam entre a encenação e o registro embaralhando a percepção do espectador. Assim, cada vídeo recorre a diferentes recursos da linguagem fílmica: o enquadramento, a edição, a montagem do som e a performance da câmera, para colocar em suspensão o desenrolar da ação.
“Os trabalhos na exposição criam imagens potentes de resistência e resiliência em dimensão física, política e mental e eles colocam os espectadores numa situação simultaneamente de voyeur e de cúmplice”, explica Jochen Volz, diretor geral da Pinacoteca.
“Ensaio de tração” permanece em cartaz até 12 de março de 2018, no segundo andar da Pina Estação – Largo General Osório, 66. A visitação é gratuita e aberta de quarta a segunda-feira, das 10h00 às 17h30 – com permanência até às 18h00. A Pina Estação fica próxima à estação Luz da CPTM, vizinha à Sala São Paulo. pinacoteca.org.br - (11) 3335-4990.
outubro 18, 2017
Histórias da sexualidade no MASP, São Paulo
Distribuída em três espaços expositivos do Museu, Histórias da sexualidade reúne cerca de 250 obras de mais de 140 artistas nacionais e internacionais de períodos e contextos diversos
Desde 2015, o MASP planeja um programa dedicado às questões de sexualidade e gênero, cujas exposições e atividades têm acontecido ao longo de todo o ano de 2017. O ciclo teve início em abril, com a exposição Quem tem medo de Teresinha Soares?; seguida por Wanda Pimentel: envolvimentos, aberta em maio; Toulouse-Lautrec em vermelho, Miguel Rio Branco: nada levarei qundo morrer e Tracey Moffatt: montagens, em junho; Pedro Correia de Araújo: erótica, em agosto, e Guerrilla Girls: gráfica, 1985-2017, em setembro. Juntamente com Tunga: o corpo em obras, prevista para dezembro, essas exposições monográficas de artistas brasileiros e internacionais reúnem trabalhos que suscitam questionamentos sobre corporalidade, desejo, erotismo, feminismo, questões de gênero, entre outros temas que se congregam, a partir de 20 de outubro, na mostra coletiva Histórias da sexualidade.
Histórias da sexualidade pretende discutir as temáticas acima a partir de uma noção ampla do termo “histórias”, cujos sentidos, múltiplos e diversos, abrangem relatos coletivos e pessoais, ficcionais e não-ficcionais. A mostra, assim, compreende representações de diferentes períodos, territórios e suportes, colocando-as em fricção e diálogo, e desenvolvendo uma abordagem que desafia as fronteiras e hierarquias entre os objetos, suas origens, categorias e tipologias. Devido a algumas obras apresentarem conteúdo contendo violência, sexo explícito e linguagem imprópria, a exposição terá classificação indicativa de 18 anos, seguindo a orientação do manual do Ministério da Justiça.
Histórias da sexualidade apresenta mais de 300 obras e cerca de 130 artistas, tanto do acervo do MASP, quanto de coleções brasileiras e internacionais, incluindo desenhos, pinturas, esculturas, filmes, vídeos e fotografias, além de documentos e publicações, de arte pré-colombiana, asiática, africana, europeia, latino-americana, entre outras. A mostra divide-se em nove núcleos temáticos e ocupa três espaços expositivos do Museu: o primeiro andar, onde se concentra o maior número de obras, distribuídas pela sala em oito desses núcleos: Corpos nus, Totemismos, Religiosidades, Performatividades de gênero, Jogos sexuais, Mercados sexuais, Linguagens e Voyeurismos; a galeria do primeiro subsolo, com o núcleo Políticas do corpo e ativismos; e a sala de vídeo, que compõe também o núcleo Voyeurismos.
NÚCLEOS 1º ANDAR
Corpos nus – esse é o núcleo que abre a exposição no primeiro andar. Aqui, as obras evidenciam um dos objetos de estudo e representação mais comuns na história da arte: o corpo humano. Estão expostos representações de corpos femininos, feminilizados, corpos masculinos e masculinizados, corpos trans, corpos não-binários, de múltiplas formas.
Integram esse núcleo os artistas Anita Malfatti, Balthus Chico Tabibuia, Cláudia Andujar, Édouard Manet, Eduardo Kac, Egon Schiele, Eliseu Visconti, Flávio Rezende de Carvalho, Francis Bacon, Francisco Leopoldo e Silva, Hudinilson Jr., Iris Häussler, Jean-Auguste Dominique Ingres, Juan Davila, Lionel Wendt, Maria Auxiliadora da Silva, Mickalene Thomas, Miguel Angel Rojas, Miriam Cahn, Nancy Spero, Pierre-Auguste Renoir, Rafael RG, Vicente do Rego Monteiro, Victor Meirelles
Totemismos – a seguir, pela direita, em sentido anti-horário, o visitante encontra o núcleo dedicado à representação dos órgãos sexuais. Imagens de falos, vulvas e seios vindos de diferentes culturas -- pré-colombiana, ameríndia, africana tradicional, europeia, brasileira, e da dita “popular”, como ex-votos -- são dispostas lado a lado.
Integram esse núcleo os artistas Alexandre Cunha, Ana Mendieta, Betty Tompkins, Cibelle Cavali Bastos, Collier Schorr, Eduardo Costa, Erika Verzutti, Ernesto Neto, Hudinilson Jr., Javier Castro Rivera, Marta Minujin, Márcia X, Moacir [Soares Faria], Paulo Bruscky, Robert Mapplethorpe, Vania Toledo, além de uma série de ex-votos e alguns objetos pré-colombianos e africanos de autoria desconhecida.
Linguagens – o terceiro núcleo pretende destacar o uso da linguagem como uma forma igualmente privilegiada de convencionar a arte e a performatividade, com destaque para a semiótica, a língua de sinais e a comunicação por símbolos, intervenções em meios de comunicação, diversas formas de expressão do gênero e da sexualidade.
Integram esse núcleo os artistas Almandrade, Anna Bella Geiger, Carolee Schneeman, Cristina Lucas, Dean Sameshima, Georgete Melhem, Hal Fischer, Glauco Mattoso, Jac Leirner, José Leonilson, Martha Wilson, Rivane Neuenschwander
Performatividades de gênero – nesse núcleo, as questões de gênero são tidas como atos intencionais, histórica e socialmente construídos, capazes de produzir e reforçar sentidos.
Aqui, as obras retratam corpos com atitudes, marcas, vestimentas e outros signos que desafiam noções normativas de sexualidade e gênero.
Integram esse núcleo os artistas avaf – assume vivid astro focus, Adir Sodré, Alvaro Barrios, Carlos Leppe, Flávio Rezende de Carvalho, Giuseppe Campuzano, Graciela Iturbide, Leticia Parente, Lynda Benglis, Madalena Schwartz, Mirian Inêz da Silva, Paul Gauguin, Paz Errázuriz, Regina Vater, Teresa Margolles, Zoe Leonard
Jogos sexuais – faz parte das muitas histórias da sexualidade a existência de práticas coletivas ou intimistas, que cruzam tempos, materialidades e espaços. A referência nesse quinto núcleo são as brincadeiras, os toques, os objetos e os jogos que integram a arqueologia do prazer e do desejo e se apresentam de muitas formas, sob vários desenhos.
Integram esse núcleo os artistas Adriana Varejão, Albino Braz, Alice Neel, Bhupen Khakhar, Carlos Zéfiro (pseudônimo de Alcides Aguiar Caminha), Cildo Meireles, Dorothy Iannone, Ellen Cantor, Eisen, Eizan, Hudinilson Jr., Hulda Gúzman, Leda Catunda, Louise Bourgeois, Miguel Ángel Cárdenas, Nicolas Poussin, Paulo Pedro Leal, Robert Mapplethorpe, Suzanne Valadon, Tracey Emin
Mercados sexuais – nesse núcleo, a noção de mercado de sexo não é a que aprisiona as práticas sociais, sobretudo femininas, à condenação moral, à passividade e à ausência de desejo. É, sim, uma ideia ampliada, de mercados voltados à sexualidade, que incluem da prostituição aos espetáculos noturnos, bem como a repressão e violência a essas práticas.
Integram esse núcleo os artistas Cícero Dias, Descartes Gadelha, Edgar Degas, Juca Martins, Lasar Segall, Marcelo Krasilcic, Miguel Ángel Cárdenas, Philip-Lorca diCorcia, Renato de Lima, Rosa Gauditano
Religiosidades – nesse núcleo, parte-se da ideia de que imagens religiosas são também socialmente negociadas como objetos de cortejo sexual: diversas incitam o desejo e, ao mesmo tempo, procuram conter e silenciar qualquer excitação. O exemplo mais conhecido talvez seja o corpo nu de São Sebastião, que aparece como mártir, e que foi apropriado pela iconografia homoerótica.
Integram esse núcleo os artistas Ayrson Heráclito, Carlos Martiel, José Leonilson, Léon Ferrari, Nahum B. Zenil, Pietro Perugino, Robert Mapplethorpe, Sergio Zevallos, Virgínia de Medeiros, além de obra peruana com autoria desconhecida do século 19.
Voyeurismos – por fim, no último núcleo do 1º andar, artistas, curadores e público tornam-se voyeurs: observam, com seus olhares particulares, atos de outros corpos, localizados tanto em locais privados quanto públicos.
Integram esse núcleo os artistas Alair Gomes, Edgar Degas, François Clouet, José Antonio da Silva, Kohei Yoshiyuki, Mauricio Dias & Walter Riedweg, Miguel Angel Rojas, Moacir [Soares Faria], Pablo Picasso, Tracey Moffatt
NÚCLEO 1º SUBSOLO
Políticas do corpo e ativismos – esse núcleo apresenta um conjunto de obras sobre manifestações sociais e artísticas pela luta de direitos humanos e pela não discriminação das minorias sexuais e de gênero. Além das obras, fazem parte textos, documentação de performances, camisetas e publicações.
Integram esse núcleo os artistas Act Up!, Aleta Valente, Carlos Motta, GALF (Grupo de Ação Lésbico Feminista), Gang, General Idea, Heresies Magazine, José Celestino da Silva, Lampião da Esquina, Lyz Parayzo, Movimento de Arte Pornô, Mujeres Creando, Mulherio (Revista), Pedro Lemebel, Rafael França, Maria Galindo, Roberto Jacoby e Mariana “Kiwi” Sainz, Serigrafistas Queer, Yeguas del Apocalipsis, Valie Export, Wolfgang Tillmans, Zoe Leonard
Histórias da sexualidade se insere no projeto do MASP de colocar em diálogos diferentes acervos – de arte europeia, brasileira, latino-americana, popular, etc –, desafiando hierarquias e territórios entre eles, para além das narrativas tradicionais. Há um entendimento de que as histórias que podemos contar não são apenas aquelas das classes dominantes, ou da cultura europeia e suas convenções visuais, mas são também histórias descolonizadoras, com um sentido político, que incluem grupos, vozes e imagens historicamente reprimidas ou marginalizadas. Iniciado em 2015, com Histórias da loucura e Histórias feministas, o programa, alinhado à missão do MASP de ser um museu inclusivo, diverso e plural, inclui as Histórias da infância, exibida em 2016 e as Histórias afro-atlânticas, prevista para 2018.
Histórias da sexualidade tem curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP; Camila Bechelany, curadora assistente do MASP; Lilia Schwarcz, curadora-adjunta de histórias do MASP; e Pablo León de la Barra, curador-adjunto de arte latino-americana do MASP. A expografia é do Metro Arquitetos Associados.
SEMINÁRIOS
Como parte do processo de pesquisa e preparação da mostra, o MASP promoveu dois
seminários internacionais sobre sexualidade e gênero, em setembro de 2016 e maio de 2017, que reuniram pesquisadores, curadores, artistas e especialistas de diferentes áreas, como história da arte, sociologia, ciências políticas e estudos de gênero. As mesas de discussões levantaram debates acerca dos direitos humanos e dos circuitos e territórios da sexualidade no espaço urbano, abrangendo temas como ativismo e esfera pública, feminismos, queer e movimento LGBT, assim como prostituição e performatividade de gênero, psicanálise e erotismo, todos em conexão com a cultura visual e a prática artística.
Participaram Amara Moira; Amelia Jones; Cecilia Fajardo-Hill; Cecilia Palmeiro; Christian Ingo Lenz Dunker; Cornelia Butler; Daniela Andrade; Djamila Ribeiro; Fernanda Carvajal; Francesco Ventrella; Ivo Mesquita; Jean Wyllys; Juan Vicente Aliaga; Julia Bryan-Wilson; Laura Moutinho; Luciano Migliaccio; Miguel A. López; Nina Power; Övül Durmuolu); Renan Quinalha; Richard Meyer; Richard Miskolci; Sérgio Carrara; Tom Kalin; Xabier Arakistain
PUBLICAÇÕES
Paralelamente à exposição, o MASP lança duas publicações relacionadas à mostra: o catálogo ilustrado (272 pp., R$149) com as obras da exposição, divididas por textos curatoriais de cada núcleo temático, com organização de Adriano Pedrosa e Camila Bechelany, e uma antologia de textos (432pp., R$55), com organização de Adriano Pedrosa e André Mesquita; ambos com coordenação editorial de Isabella Rjeille e Juliana Bitelli.
Para a antologia, colaboraram com textos tanto os palestrantes que participaram dos seminários, quanto especialistas e pesquisadores das áreas de estudos de gênero, sociologia, história da arte e outra áreas das humanidades. São eles: Amara Moira, Amelia Jones, Carol Duncan, Cecilia Fajardo-Hill, Cecilia Palmeiro, Cornelia Butler, Craig Owens, Djamila Ribeiro, Douglas Crimp, Fernanda Carvajal, Fernanda Nogueira, Francesco Ventrella, James N. Green, Juan Vicente Aliaga, Jota Mombaça, Judy Chicago, Julia Bryan-Wilson, Laura Mulvey, Linda Nochlin, Luciano Migliaccio, Lucy R. Lippard, Miguel A. López, Mira Schor, Monique Wittig, Nina Power, Renan Quinalha, Tamar Garb, Tom Kalin (Gran Fury), Xabier Arakistain
Também participaram da antologia, artistas, críticos e curadores, convidados a responder a um questionamento crítico sobre arte, gênero e sexualidade: Ana Paula Simioni; Beatriz Lemos; Carla Zaccagnini; Clara Ianni; Clarissa Diniz, Felipe Ribeiro e Julia Baker; Daniela Labra; Dias & Riedwig; Dora Longo Bahia; Elaine Dias; Gaudêncio Fidelis; Graziela Kunsch; Guilherme Altmayer; Ivo Mesquita; Jochen Volz; Júlia Rebouças; Kiki Mazzucchelli; Luisa Duarte; Luiz Roque; Marta Mestre; Regina Vater; Rodolpho Parigi; Rosana Paulino; Teresinha Soares; Virginia de Medeiros
PROGRAMAÇÃO
Como parte da programação de atividades relacionadas à exposição, o MASP oferece ciclos gratuitos de oficinas e filmes e vídeos para o público adulto. A organização é de Pedro Andrada e Leonardo Matsuhei, do núcleo de Mediação e Programas Públicos do MASP.
Histórias da sexualidade: oficinas
De outubro a fevereiro, são 12 oficinas, sempre aos finais de semana, que propõem trabalhar com a temática da sexualidade a partir de determinadas práticas corporais, suas transfigurações em discursos, saberes, regimes de verdade e, por conseguinte, relações de poder. Assim, metade das propostas contemplam atividades ligadas diretamente à dança e ao teatro e outras lidam ainda com ações performativas e a presença dos corpos trans, queer e feminino no espaço público.
Sábados e domingos, das 14h às 17h
4-5.11.2017
Dialogando com os outros, práticas inspiradas nas experiências da educação democrática, com Lilian L’Abbate Kelian
11-12.11.2017
Voguing, performance e estética LGBTQI+, com Félix Pimenta
18-19.11.2017
Sensibilização do corpo íntimo e práticas orientais, com Beatriz Sano
25-26.11.2017
Performance e dança como desvio da normatividade de gênero, com Coletivo Cartográfico
2-3.12.2017
Arte contemporânea para "não" artistas e para pessoas que tomaram um pé na bunda, com Rafael RG
9-10.12.2017
Jogos teatrais e produção gráfica, com Pessoal do Faroeste e Paulestinos
16-17.12.2017
Exercícios dramatúrgicos e autobiográficos, com Cia. Mungunzá de Teatro
13-14.1.2018
Instalação e vivência corporal no espaço urbano, com Grupo XIX de Teatro
20-21.1.2018
Performance e transformação do corpo, com Aretha Sadick e Gabriel Victal
27-28.1.2018
Produção de cartazes e ativismo queer, com Serigrafistas Queer
3-4.2.2018
Pintura e o trabalho da mulher indígena, com Carmézia Emiliano
Histórias da sexualidade: filmes & vídeos
O programa Histórias da sexualidade: filmes & vídeos, em parceria com a Associação Cultural Videobrasil e a Cinemateca Brasileira, apresenta 34 obras distribuídas em 14 sessões.
As cinco primeiras sessões utilizam parte do acervo da Cinemateca Brasileira e incluem filmes de diferentes décadas, como O olho mágico do amor, uma das obras mais ousadas e experimentais da Boca do Lixo -- importante movimento do cinema independente brasileiro --, ou a produção atual de jovens diretores, como Nova Dubai de Gustavo Vinagre. Há ainda a atuação pioneira de diretoras como Helena Solberg e Ana Carolina, em cujos trabalhos questões sobre sexualidade são mediadas e figuram a partir do ponto de vista feminino.
Na segunda parte da programação, são exibidos alguns filmes e vídeos que possuem ligação direta com a exposição, como a sessão dedicada à trilogia Nefandus, de Carlos Motta, artista que participa com outro trabalho na mostra, ou o documentário Lampião da esquina que aborda a produção do jornal gay brasileiro, intitulado com o mesmo nome, que circulou durante os anos de 1978 e 1981.
Algumas sessões contam com a presença e mediação dos realizadores, antes ou depois da exibição de suas produções. Participam deste ciclo Luiz Roque, Virgínia de Medeiros, Gisela Domschke e Lívia Perez com João Silvério Trevisan.
As duas últimas sessões do ciclo exibem vídeos do acervo histórico da Associação Cultural Videobrasil. Uma deles apresenta um recorte da produção do artista libanês Akraam Zaatari.
Sessões gratuitas aos sábados e terças-feiras, 16h.
Todos os filmes serão exibidos em projeção digital.
Conferir a classificação etária de cada filme em masp.org.br.
Cinemateca Brasileira no MASP
28.10.2017 e 31.10.2017
A entrevista
Helena Solberg (dir.), 1967,
20min, p&b, 16mm
Copacabana me engana
Antonio Carlos da Fontoura (dir.), 1968,
93min, p&b, 35mm
4.11.2017 e 7.11.2017
O olho mágico do amor
José Antonio Garcia e Ícaro Martins (dir.), 1981,
85min, cor, 35mm
11.11.2017 e 14.11.2017
Nova Dubai
Gustavo Vinagre (dir.), 2014,
55min, cor, digital
Pinta
Jorge Alencar (dir.), 2013,
72min, cor, digital
18.11.2017 e 21.11.2017
Mar de rosas
Ana Carolina (dir.), 1977,
90min, cor, 35mm
25.11.2017 e 28.11.2017
O império do desejo
Carlos Reichenbach (dir.), 1981,
105min, cor, 35mm
Parte II
2.12.2017 e 5.12.2017
Guarujá, um filme maravilhoso
Gisela Domschke e Marcelo Krasilcic (dir.), 2005,
51min, cor, digital
9.12.2017 e 12.12.2017
O novo monumento
Luiz Roque (dir.), 2013,
5min, p&b, 16mm
Modern
Luiz Roque (dir.), 2014,
4min, p&b, 16mm
S
Luiz Roque (dir.), 2017,
5min, p&b, vídeo
Rio de Janeiro
Luiz Roque (dir.), 2017,
5min, cor, 16mm
16.12.2017 e 19.12.2017
Ecstasy Must Be Forgotten
Evangelia Kranioti (dir.), 2017,
38min, cor, digital
Favela gay
Rodrigo Felha (dir.), 2014,
72min, cor, digital
6.1.2018 e 9.1.2018
Luz del Fuego, a nativa solitária
Francisco de Almeida Fleming (dir.), 1954,
30min, p&b, 16mm
Divina luz
Ricardo Sá (dir.), 2017,
14min, p&b, digital
Casa do Corpo Nu Luz del Fuego
Guilherme Altmayer (dir.), 2015,
5min, cor, digital
13.1.2018 e 16.1.2018
Studio Butterfly
Virginia de Medeiros (dir.), 2003-06,
24min, cor, vídeo
Sérgio e Simone
Virginia de Medeiros (dir.), 2007-14,
20min, cor, vídeo
Cais do corpo
Virginia de Medeiros (dir.), 2015,
8min, cor, vídeo
20.1.2018 e 23.1.2018
Lampião da esquina
Lívia Perez (dir.), 2016,
85min, cor, digital
27.1.2018 e 30.1.2018
Nefandus
Carlos Motta (dir.), 2013,
13min, cor, vídeo
Naufragios
Carlos Motta (dir.), 2013,
13min, cor, vídeo
La visión de los vencidos
Carlos Motta (dir.), 2013,
7min, cor, vídeo
O porto de Santos
Aloysio Raulino (dir.), 1978,
20min, p&b, 35mm
Acervo Histórico Videobrasil no MASP
3.2.2018 e 6.2.2018
Crazy of You
Akram Zaatari (dir.), 1997,
27min, cor, vídeo
Red Chewing Gum
Akram Zaatari (dir.), 2000,
10min, cor, vídeo
The End of Time
Akram Zaatari (dir.), 2013,
14min, cor, vídeo
Tomorrow Everything Will Be Alright
Akram Zaatari (dir.), 2010,
12min, cor, vídeo
10.2.2018 e 13.2.2018
Temporada de caça
Rita Moreira (dir.), 1988,
28min, cor, vídeo
ABC-lynching
Maria Kramar (dir.), 2014,
11min, cor, vídeo
Mondial 2010
Roy Dib (dir.), 2014,
19min, cor, vídeo
Bosphorus: A Trilogy
Bita Razavi (dir.), 2012,
3min, cor, vídeo
Memorials Without Facts: Men Loving
Clive van den Berg (dir.), 1998,
7min, cor, vídeo
Instauração: projeto de performance de Renan Marcondes no Sesc Belenzinho, São Paulo
Autor de trabalhos tais quais Como um jabuti matou uma onça e fez uma gaita de um de seus ossos, Renan Marcondes apresenta trabalho inédito no Sesc Belenzinho e dá curso no CPF do Sesc SP
Projeto Invisível, performance criada pelo artista Renan Marcondes (representado pela Adelina Galeria) acontece no próximo dia 21 de outubro, a partir das 11 horas, no Sesc Belenzinho. Ela faz parte da programação do projeto Instauração, com curadoria de Ananda Carvalho, e que segue na unidade até o mês de novembro. A performance, que será ativada pelas atrizes Tetembua Dandara e Carolina Callegaro, deve ser a primeira de algumas frentes que Renan pretende abrir com Projeto Invisível.
As duas performers irão usar óculos que a impedem de ver e serem vistas e, durante as seis horas, não irão falar com ninguém também. Quando algum adulto chegar perto delas, irá receber um cartão com uma frase de Judith Butler, que aparece no livro Quadros de Guerra: “Julgamos um mundo que nos recusamos a conhecer e nosso julgamento se transforma em um meio de nos negar a conhecê-lo”. Já as crianças irão ganham um cartão em que tem achar algumas palavras que estão ligadas à performance.
Apesar de ter sido concebida há algum tempo e estar guardada na gaveta, Renan ressalta que a atualidade do trabalho é inegável: “a minha ideia é chamar a atenção das pessoas para que elas possam o olhar o outro com empatia, se colocando sempre no lugar do outro ao enxergar o mundo. Estamos vivendo tempos complicados, em que as pessoas não tem esse tipo de cuidado ao se relacionarem – quando dão espaço para que um relacionamento aconteça”, explica o artista.
O título do projeto Instauração faz referência ao artista Tunga (que utilizou o termo para pensar o seu próprio trabalho com o desejo de somar o que a “performance” e a “instalação” não davam mais conta em suas compreensões isoladas). De acordo com a curadora Ananda Carvalho, o projeto Instauração faz essa referência justamente para evidenciar a amplitude do campo da performance nas Artes Visuais e também tem o desejo de pensar as possibilidades de desconstrução do que já foi institucionalizado ou consolidado como performance na História da Arte. Por esse viés, considera também o próprio significado de “instauração” encontrado no dicionário que consiste em “processo ou resultado de criar algo”, procurando fomentar o acesso a performance como manifestação artística para todos os públicos. E, “em tempos tão complexos, o projeto Instauração procura relembrar que os nossos corpos são a última instância de resistência e liberdade, apresentando ações que acontecem nos espaços de fluxo e de convivência do Sesc” – afirma a curadora.
Curso
Também em outubro, Renan Marcondes ministra o curso O corpo como centro: considerações sobre a arte da performance, que se divide em quatro encontros, de 18 de outubro a 8 de novembro, no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo.
A cada quarta-feira, o curso discute um momento específico da arte da performance a partir da apresentação e discussão de textos e obras essenciais para a linguagem, busca pontuar algumas das principais transformações materiais que ocorreram na concepção de performance ao longo do século XX. Ele é voltado para interessados no tema e será puramente teórico.
As inscrições pela internet (link) podem ser realizadas até um dia antes do primeiro módulo, ao custo de R$ 50,00. Após esse período, caso ainda haja vagas, é possível se inscrever pessoalmente em todas as unidades. Após o início da atividade não é possível realizar inscrição.
Artista visual, performer e pesquisador, Renan Marcondes (São Paulo, 1991) tem indo na contramão e apostado seus esforços no uso de todo um aparato que o ajuda a retratar a maneira como nós vemos e nos relacionamos com o mundo: matemática, desenho técnico, perspectivas, objetos cotidianos, textos, gestos socialmente codificados, etc. Com uma formação que mistura artes cênicas e visuais, Renan usa a performance para refletir não a partir de um corpo presente no espaço, mas sim para refletir sobre aqueles que estão ausentes e que já interferiram ou ainda o farão nas estruturas expostas no espaço de ativação.
Serviço
Projeto Invisível – Única apresentação em 21 de outubro, sábado, a partir das 11 horas
Criação – Renan Marcondes
Atrizes - Tetembua Dandara e Carolina Callegaro
Duração – 6 horas
Livre. Grátis (não é necessário a retirada de ingresso)
Sesc Belenzinho – Rua Padre Adelino, 1000 – Belenzinho (próximo à estação Belém do metrô). Telefone: (11) 2076-9700. Acesso para deficientes físicos. Estacionamento para espetáculos com venda de ingressos após as 17h: R$ 7,50 (credencial plena) 15,00 (outros)
Curso O corpo como centro: considerações sobre a arte da performance – De 18 de outubro a 8 de novembro, quartas, das 19h30 às 21h30, no Centro de Pesquisa e Formação do SESC SP. Valores - R$15,00 (carteirinha do SESC), R$ 25,00 (pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e professor da rede pública com comprovante) e R$50,00 (inteira). Inscrições em toda a rede Sesc ou pelo site.
Centro de Pesquisa e Formação do Sesc-SP – Rua Dr Plínio Barreto, 285 - 4º andar.
Ernesto Neto na Fortes D’Aloia & Gabriel, São Paulo
A Fortes D’Aloia & Gabriel tem o prazer de apresentar O Sagrado é Amor, exposição de Ernesto Neto. O artista carioca exibe esculturas vestíveis e uma instalação que convidam o público a desacelerar o ritmo caótico da vida urbana e desfrutar de momentos de introspecção, acalmando a mente e ativando os sentidos.
Para Neto, a manifestação do sagrado acontece em estados meditativos através de profunda relação com a natureza. Tanto o tecido que se entrelaça para formar a trama do crochê quanto as cores usadas pelo artista evocam esta relação. No térreo da Galeria, Neto apresenta uma série de obras que podem ser vestidas pelo público. Recebo o Seu Amor, Enquanto Você Recebe o Meu é uma forma ameboide instalada na parede que se estende em dois braços, cada qual com uma espécie de tiara nas extremidades. Preenchidas com cristais de quartzo, essas tiaras podem ser manipuladas – o visitante deve colocá-la na cabeça para conectar-se com a obra, com a outra pessoa e, em sentido mais amplo, com o próprio sagrado. Entre o Céu e a Terra Estamos Nós (Iamaê), de maneira semelhante, convida os visitantes a sentarem-se em um banco de madeira e vestirem a obra sobre os ombros.
Três Broto-Cantos e Uma Dança (Treveste) é uma escultura que sustenta uma pesada esfera de água-marinha em seu interior. Três pessoas devem vesti-la ao mesmo tempo, negociando os movimentos para manter o equilíbrio que impede a pedra de cair, ao passo que o peso dela os puxa para o centro. O grupo participante da experiência passa a estabelecer as relações de confiança e dependência para que, assim como acontece na natureza, possam fazer forças antagônicas se equilibrarem.
No segundo andar, o público é convidado a entrar na instalação O Sagrado é Amor e sentar-se ao redor da árvore-escultura. A sala é dominada por um vermelho forte, que o artista associa ao chakra básico, responsável pela energia física. Também predomina o aroma de cravos e folhas de louro, aos quais se atribui propriedades terapêuticas como purificação do ar e o alívio do estresse. Neste ambiente, a experiência imersiva é total: todos os sentidos são aguçados e a obra faz com que o participante se reconecte, sinta calor, perfume, relaxe e escute seu silêncio. Nas palavras do artista: “neste momento de turbulência que estamos vivendo em que a cacofonia, opiniões rápidas, violências verbais e manifestações de ódio fazem parte de nosso cotidiano, é necessário introspecção e contato consigo mesmo, em busca de uma convivência mais harmônica, trazendo a espiritualidade para nossa experiência diária”.
Ernesto Neto nasceu em 1964 no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Entre suas exposições individuais recentes, destacam-se: Boa, Museum of Contemporary Art Kiasma (Helsinque, Finlândia, 2016); Rui Ni / Voices of the Forest, Kunsten Museum of Modern Art (Aalborg, Dinamarca, 2016); Aru Kuxipa | Sacred Secret, TBA21 (Viena, Áustria, 2015); The Body that Carries Me, Guggenheim Bilbao (Bilbao, Espanha, 2014); Haux Haux, Arp Museum Bahnhof Rolandseck (Remagen, Alemanha, 2014); Hiper Cultura Loucura en el Vertigo del Mundo, Faena Arts Center (Buenos Aires, Argentina, 2012); La Lengua de Ernesto, MARCO (Monterrey, México, 2011) e Antiguo Colegio de San Ildefonso (Cidade do México, 2012); Dengo, MAM (São Paulo, 2010. Exposições coletivas incluem as Bienais de Veneza (2017), de Lyon (2017) e de Sharjah (2013). Sua obra está presente em diversas coleções importantes, como: Centre Georges Pompidou (Paris), Daros Latinamerica (Zurique), Inhotim (Brumadinho), Guggenheim (Nova York), MOCA (Los Angeles), MoMA (Nova York), Museo Reina Sofía (Madri), SFMOMA (San Francisco), Tate (Londres), TBA21 (Viena), entre outras.
outubro 16, 2017
IAC - 20 anos no Muba, São Paulo
O IAC - Instituto de Arte Contemporânea realiza a exposição IAC - 20 anos como parte dos eventos comemorativos de seus 20 anos de atividades ininterruptas. A mostra apresenta um breve panorama do acervo dos artistas representados em sua coleção por meio de obras e documentos selecionados pelo curador Jacopo Crivelli Visconti.
A mostra apresenta ao público 158 peças, entre desenhos, projetos e obras que descortinam o raciocínio plástico e conceitual dos artistas Amilcar de Castro, Sergio Camargo, Willys de Castro, Sérvulo Esmeraldo, Lothar Charoux, Luis Sacilotto, Hermelindo Fiaminghi e Iole de Freitas – recém-incorporada ao acervo.
Além disso, a exposição permitirá ao público tomar contato com aspectos do trabalho desenvolvido no Instituto e suas características tão elaboradas. Os visitantes também conhecerão alguns princípios de preservação de acervo por meio do contato direto com os colaboradores do IAC. Nesse ponto da mostra, os interessados terão a oportunidade de conversar com a equipe em ação e esclarecer dúvidas ou eventuais curiosidades sobre o método de preservação ali desenvolvido.
Além da sua preocupação com a documentação e a exposição, o IAC mantém programas de Conservação Preventiva, de Ação Educativa e de Publicações. Por suas características únicas no cenário nacional, comemorar seus 20 anos torna-se um marco nos processos de preservação da memória da arte no país.
Sobre o IAC
O Instituto de Arte Contemporânea – IAC, entidade cultural sem fins lucrativos, foi criado em 1997 com a finalidade principal de preservar documentos e difundir a obra de artistas brasileiros de tendência construtiva. Os arquivos destes artistas, entre eles Willys de Castro, Sérgio Camargo, Amilcar de Castro (em parceria com o Instituto Amilcar de Castro), Sérvulo Esmeraldo, Luis Sacilotto, Lothar Charoux, Hermelindo Fiaminghi e, mais recentemente, Iole de Freitas têm na instituição um espaço próprio para a exposição e pesquisa com documentação arquivística, bibliográfica e museológica, armazenada em banco de dados específico.
O acervo com milhares de documentos é organizado, acondicionado e disponibilizado ao público por meio de seu banco de dados desenvolvido e gerenciado por seu Núcleo de Documentação e Pesquisa. Assim, podem ser usados em exposições internas ou cedidos a outras instituições, em publicações, em estudos e quaisquer outros usos de caráter cultural e/ou acadêmico.
O IAC pesquisa, coleta, organiza e disponibiliza quaisquer fontes de informação sobre os artistas relacionados em seu acervo e, através de uma interface online, permite que pesquisadores de qualquer parte do mundo acessem seu banco de dados. Promover ações educativas e intercâmbios culturais com museus e instituições com a mesma linguagem em outros países também estão entre os objetivos da instituição. Desde julho de 2011, o IAC funciona no primeiro andar do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, na Vila Mariana.
outubro 15, 2017
Omar Salomão na Silvia Cintra + Box 4, Rio de Janeiro
Na exposição Você vê os pássaros? Sempre quis que você visse os pássaros daqui, sua primeira individual na galeria, o artista e poeta Omar Salomão irá apresentar uma série inédita de pinturas, esculturas, cadernos de desenhos e fotografias.
A mostra começa com uma fotografia de uma imagem de Iemanjá envolta numa concertina farpada, dessas usadas para a proteção de casas. Ao lado dela, quatro desenhos em azul escorrido, que foram molhados no mar e aonde se lê trechos de poemas. Em seguida vem o trabalho que dá título à exposição, uma série de desenhos em nanquim retratando pássaros em revoada.
A concertina farpada ainda aparece em duas séries, “Guardar”, que são desenhos em nanquim dobrados, envoltos pela rigidez deste material e “Circuito de Afetos”, onde a concertina ganha cores fluorescentes e aparece atada em placas de madeira, plástico bolha e outros restos.
As cores fluorescentes seguem nas séries “Síntese” e “Lance”. O artista lança sobre compensados pintados vários dados e depois repinta a superfície formando uma pintura totalmente aleatória, apenas com a memória desses cubos. Esses mesmos dados pintados surgem depois em pequenas caixas de madeira, presas na parede, dando uma ideia de confinamento das possibilidades sugeridas pelo lance de dados.
A exposição termina com a série “Quadro de Avisos”. Os cadernos de Omar, que são tanto processo quanto obra final, aparecem trancados dentro de quadros de avisos com chave, podendo ser abertos ou não.
O poeta e artista Omar Salomão nasceu em 1983. Em 2017 lançou Pequenos Reparos (José Olympio), seu terceiro livro. Participou de diversas exposições como a 3º Bienal da Bahia, 18º Festival Internacional de Arte Contemporânea Sesc Videobrasil e da Individual Nebula: a sombra de nuvens manchando a cidade, no OI Futuro Ipanema.
Isabelle Borges na Roberto Alban, Salvador
Isabelle Borges conecta Bahia com a vanguarda alemã em sua primeira grande mostra em Salvador
A artista baiana reflete sobre o espaço e entrelaça segmentos artísticos na Roberto Alban Galeria
A efervescente cena da cidade de Berlin, na Alemanha, que vive um momento especial em produção e criatividade, junta-se à inquietude da artista visual baiana Isabelle Borges em uma reflexão sobre tempo e espaço, explorando diversos conceitos e expressões artísticas. O resultado está na mostra L'espace indicible - O espaço inefável, que será apresentada a partir do dia 18 de outubro na Roberto Alban Galeria, em Ondina. Trata-se da primeira grande exposição da artista em sua terra natal, apesar do reconhecimento ao seu trabalho já alcançar a esfera internacional. A mostra poderá ser visitada pelo público entre 19 de outubro e 20 de novembro.
Nascida em Salvador, Bahia, Isabelle Borges estudou artes plásticas no Parque Lage, no Rio de Janeiro, de 1989 a 1992, fazendo um primeiro aprofundamento com os professores Beatriz Milhazes, Daniel Senise e Charles Watson. No ano de 1994, decidiu mudar para a Europa, precisamente para Colônia, Alemanha, onde passou a atuar como assistente no ateliê dos artistas Antônio Dias e Jack Ox, esta americana. Do ano seguinte até 1997, dedicou-se aos estudos na Academia de Artes de Düsseldorf, tendo como um de seus mentores o artista Christian Merget, um dos fundadores do Grupo Zero.
Isabelle Borges reside na Alemanha há mais de vinte anos. Independente da distância geográfica de seu país de origem, a artista incorpora em sua obra características marcantes de uma arte internacional enraizada nos dois continentes.
O conceito de "espaço inefável", que ocupa um lugar central na teoria arquitetônica de Le Corbusier tem exercido uma influência considerável na produção de Isabelle Borges. O seu trabalho vem se desdobrando de forma a dialogar com o espaço. São trabalhos projetados para o meio onde habitam e onde não há mais os limites das disciplinas de arquitetura, desenho, pintura, escultura. A obra de Borges finalmente aboliu as bordas.
Além das telas, a artista explora também as paredes como parte da sua arte. Ela explica que vê a obra como o fragmento de um todo. “Ao ter o espaço como foco de pesquisa, é quase como um desenvolvimento lógico o trabalho ‘vazar’ para o plano real da parede”, diz. “Como realizo muitos desenhos usando linhas, planos e recortes de papel, vejo a parede como uma extensão da pintura ou mesmo como um suporte em si”, finaliza.
Outras peças vão igualmente refletir reflexões artísticas quanto às linhas espaciais, seus limites e ressignificações, e suas conexões com os diversos segmentos da arte contemporânea: da pintura à escultura, do desenho à colagem, do objeto à instalação.
Para a estudiosa e critica de arte Paula Terra-Neale, que apresenta a mostra, a obra de Isabelle Borges tem uma linguagem muito pessoal, ainda que em sua universalidade geométrica e abstrata. “Ela está encontrando esse equilíbrio do espaço inefável através do desenho que extrapola as bordas e sai para as paredes, através da poesia luminosa que se constrói no jogo das cores que despontam mansamente aqui e ali contra as faixas pretas ou dos espaços brancos e vazios”, afirma Paula, que é Doutora em História e Teoria da Arte pela Universidade de Essex, Reino Unido, e consultora e curadora independente radicada na Inglaterra.
Carreira internacional
No final de 1997, Isabelle Borges estabeleceu-se em Berlim, na Alemanha, onde reside e trabalha até hoje, sendo constantemente requisitada para exposições por todo o país. A forte convivência com a cena artística berlinense, no entanto, não impediu que sua obra continuasse a incorporar características marcantes de uma arte enraizada também no Brasil. Ela própria admite a forte influência em seu trabalho do Concretismo representado por nomes como Hélio Oiticica e Ligia Clark, entre vários outros.
Em sua trajetória, Isabelle já realizou inúmeras exposições individuais e coletivas, na Alemanha e no Brasil, assim como na China, Estados Unidos, Itália e Austrália. Entre suas mostras mais recentes, destacam-se Standart International,Geistberg- Loop Raum Berlim, Alemanha – 2015 / Interaktion , 27 Artistas brasileiros , Castelo de Sacrow, Posdam, Alemanha – 2015 / Kunsthalle PLU 41 – 2015 / individual , SMAC- Art Space , Berlim , Alemanha, 2014 / Kunstverein Uelzen , Uelzen , Alemanha 2014 / Eigen + Art Leipzig, Alemanha , 2014/ Kunstverien Melle, Melle, Alemanha 2004 / Individual, Museu Brasileiro da Escultura , São Paulo, Brasil, 2013/ Kunstverien Ulm, Ulm, Alemanha , 2013.
outubro 9, 2017
Ex Africa no CCBB, Belo Horizonte
CCBB BH recebe exposição inédita com painel da arte contemporânea africana
A África de hoje permeada por uma intensa produção artística de forte cunho sociocultural é o fio condutor da exposição EX AFRICA, que terá a sua estreia nacional no dia 11 de outubro de 2017, no Centro Cultural Banco do Brasil de Belo Horizonte, onde ficará em cartaz até o dia 30 de dezembro. Na sequencia, a exposição segue para o Rio de Janeiro (janeiro/2018), São Paulo (abril/2018) e Brasília (agosto/2018).
“Da África sempre há novidades a reportar”
Por um período de mais setenta dias (11/10 a 30/12), o CCBB BH será uma extensão do continente africano, recebendo dezenas de artistas nigerianos, sul africanos, angolanos e afro-brasileiros. A inédita exposição “EX AFRICA”, que reunirá diversos nomes da cena contemporânea africana, revela a riqueza da arte e diversidade através de diferentes recortes: performances, música, instalações, fotografias, videoarte, pinturas, palestras.
O cantor/compositor e multimídia Nástio Mosquito, o artista visual e performer Jelili Atiku, os premiados fotógrafos Leonce Raphael Agbodjelou e Kudzanai Chiurai, os pintores afro brasileiros Arjan Martins e Dalton Paula, são alguns dos nomes presentes na mostra, e em sua maioria, apresentarão trabalhos inéditos no Brasil, e até mesmo criados para a exposição, como a instalação a ser desenvolvida por Ibrahim Mahama. Ade Bantu, músico e ativista, assina a curadoria da sala/instalação Clube Lagos, que oferecerá um painel sobre os novos sons da Nigéria.
PROGRAMAÇÃO NA ABERTURA
17h = Performance com o nigeriano Jelili Atiku. A performance começa na rua. O artista faz uma caminhada de 30 a 40 minutos até entrar no CCBB-BH e dirigir-se para sua sala, onde montará uma instalação com os materiais e obras de arte utilizados na performance.
18h = Performance de Nástio Mosquito (Teatro I do CCBB-BH)
Classificação etária: 14 anos (pode conter linguagem explícita).
Entrada gratuita, com distribuição de senhas uma hora antes do evento.
Duração: 45’
A performance de Nástio Mosquito será seguida de palestra com o artista e o curador da sala Clube Lagos Adé Bantu, mediada pelo curador Alfons Hug.
SOBRE OS ARTISTAS
ADE BANTU e a nova música nigeriana exposta em som e imagem na sala CLUBE LAGOS
A mostra “EX AFRICA” terá a sala CLUBE LAGOS, que apresentará todas as modalidades de interpretação do pop nigeriano em vídeos musicais. Quem assina a curadoria do espaço é ADE BANTU, músico nigeriano-alemão (1971), produtor e ativista social. Criador da série de concertos mensais e do Festival de Música, que mantém em Lagos, Nigéria, ADE BANTU é fundador do coletivo musical afro-alemão Brothers Keepers. Sua banda BANTU recebeu o Prêmio Kora (o equivalente pan-africano do Grammy) pelo álbum "Fuji Satisfaction" em 2005.
Na sala CLUBE LAGOS, o visitante terá acesso a dezesseis videoclipes de afrobeat representando quatro temas: Deus, Dinheiro, Poder e Sexo, fazendo um panorama da música popular da maior cidade africana, Lagos. Os filhos do legendário afrobeat de Fela Kuti e do rei do juju, Sunny Ade, libertaram-se dos clichês da world music e criaram identidades musicais muito próprias no Naija pop. A festa inclui o New Afrika shrine de Femi Kuti, que continua sendo referência na cena musical nigeriana, como também a banda Afropolitan Vibes.
IBRAHIM MAHAMA - Instalação - (1987, República do Gana)
Um dos artistas ganeses mais proeminentes dos últimos anos, Ibrahim Maham é conhecido por suas instalações de grande escala. Para a exposição, o artista vai construir uma instalação com duas mil caixas de madeiras empilhadas.
A obra é inédita no Brasil e exclusiva em cada itinerância.
Entre março e abril de 2017, a White Cube mostrou “Fragmentos”, uma exposição que incluía novas séries de seus trabalhos, como o “Non-Orientable Nkansa” (2016), uma escultura monumental feita de fragmentos de madeira manchados.
Prêmios recentes do artista:
2017 Future Generation Art Prize, Venice, Future Generation Art Prize @ Venice 2017
2017 Future Generation Art Prize, Kyiv, Future Generation Art Prize 2017
2015 Tyburn Gallery, London, Broken English
2015 56th Venice Biennale, Venice, All the World’s Futures
NÁSTIO MOSQUITO – Performance, vídeo, Musica e instalação (1981, Angola)
NÁSTIO MOSQUITO é um artista multimídia e performático. Atuando como uma figura central em obras que jogam com estereótipos em contextos ocidentais, ele questiona o papel do público tanto quanto o seu.
MOSQUITO é uma das atrações da movimentada noite de abertura da mostra em BH. No palco do Teatro I do CCBB, ele irá apresentar a performance “Respectable Thief”. Desenvolvida pelo artista e Vic Pereiró, não há na apresentação exatamente um roteiro a ser seguido. Em frente a três telas de projeção, MOSQUITO vai cantar músicas de sua autoria e interagir com o público, triturar papel e fazer malabarismos com ovos.
No amplo currículo do artista, destacam-se as exposições/intervenções: Daily Lovemaking, Ikon Gallery, Birmingham, 2015; 9 Artistas, Walker Art Center, Minneapolis, 2013; Política de Representação, Tate Modern, Londres, 2012; E 29ª Bienal de São Paulo, São Paulo, 2010. Mosquito vive e trabalha em Ghent e Luanda.
JELILI ATIKU – Performance – (1968, Nigéria)
Líder do projeto Art Africa Forum, diretor artístico de AFiRIperFOMA - um coletivo de artistas performers na África-, e Chief Coordinator of Advocate for Human Rights Through Art (AHRA), JELILI ATIKU é um artista multimídia que luta por justiça e direitos humanos. Os efeitos psicossociais e emocionais decorrentes da violência, guerra, pobreza, mudanças climáticas, dominam suas formas artísticas.
Na abertura oficial da mostra, às 17hs do dia 11/10, JELILI ATIKU apresentará a performance “Alaagba”, que é um ritual africano (etutu ou ebó) de limpeza. A apresentação se inicia na rua, com o artista fazendo uma caminhada de aproximadamente 40 minutos, finalizando com a sua chegada em uma das salas do CCBB BH, onde montará uma instalação com os materiais e obras de arte utilizados na performance. Além de cabaças e uma pequena vassoura branca, o artista usa longas cordas chamadas Ankara, feitas de tecido Ankara e usadas na Nigéria como acessórios do vestuário. Na performance, ele usa técnicas como texto, desenho e vídeo, além de se pintar todo de preto e vestir um capuz feito de espelhos, assim como a mulher performer que o acompanha. A apresentação será gravada e exibida ao lado da instalação que JELILI ATIKU montará, no CCBB BH.
Entre os muitos prêmios com os quais já foi laureado, destacam-se:
:: 2012 Art Moves Africa (AMA) Mobility Grant to travel to Harare, Zimbabwe
:: 2012 Prince Claus Fund Flight Grant to travel to Berlin, Germany
:: 1998 National Youth Service Corps State Chairmanship Award, Akwa Ibom State, Nigeria
:: 1998 Best Serving Corps Member, Federal Government College, Ikot Ekpene, Akwa Ibom State, Nigeria
LEONCE RAPHAEL AGBODJELOU - Fotografia - (1965, Benin)
Filho do mundialmente famoso fotógrafo Joseph Moise Agbodjelou (1912-2000), LEONCE RAPHAEL AGBODJELOU é um dos preeminentes fotógrafos da República do Benin. Para a exposição “EX AFRICA”, o curador selecionou cinco trípticos da série Code Noir.
Fundador e diretor da primeira escola fotográfica do Benim, e atual presidente da Associação de Fotógrafos de Porto-Novo. LEONCE RAPHAEL AGBODJELOU já teve o seu trabalho exposto mundo afora. Exemplos: Saatchi Gallery Londres, Museu de Arte de Seattle, Museu Fowler Los Angeles, Museu Brooklyn Nova Iorque, Museu Vitra Basel, Museu Guggenheim Bilbao, Museu de Arte de Tel Aviv, Israel & Camden Arts Center, Londres, entre outros.
KUDZANAI CHIURAI - Fotografia - (1981, Zimbabwe)
O público brasileiro terá a oportunidade de conhecer cinco fotografias da série Genesis [Je n'isi isi], desse artista que em 2013 foi listado pela Forbes como um dos "Treze africanos para ver em 2013". Em seu trabalho, KUDZANAI CHIURAI combina o uso de meios mistos para abordar questões sociais, políticas e culturais de seu país. Desde a sua primeira exposição individual em 2003, as suas obras de arte foram expostas no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, Museum für Moderne Kunst em Frankfurt, Victoria and Albert Museum em Londres e em Kassel, na Alemanha.
Principais prêmios e Méritos:
:: 2014 - Shortlisted for Future generation Art Prize
:: 2012 - FNB Art Prize
:: 2011 - Top 200 Young South Africans, Mail & Guardian
:: 2005 - Top 100 Dazzlers and Doers in South Africa, Mail & Guardian, South Africa
OMAR VICTOR DIOP - Fotografia - (1980, Senegal)
O artista desenvolveu interesse pela fotografia e pelo design ainda na infância. O seu trabalho já circulou por galerias de Los Angeles, Alemanha e Paris, onde atualmente está com uma mostra em cartaz. O público brasileiro irá conhecer nove fotografias que ele criou para a série Diáspora. Na série, OMAR VICTOR DIOP escolhe pela primeira vez ser ele mesmo o objeto de seu trabalho e se comporta como narrador e personagem se fantasiando de diversas figuras.
OMAR considera que a fotografia é uma ferramenta que possibilita capturar a essência e o modo de vida das sociedades modernas africanas. Trabalha hoje com arte visuais, fotografia de moda e propaganda.
OKHAI OJEIKERE - Fotografia - (1930-2014, Nigéria)
Ao longo da sua trajetória artística, iniciada em 1954, OKHAI OJEIKERE teve o seu trabalho exposto ora de modo individual ou coletivo, em Londres, Paris, Estados Unidos e em seu país de origem, a Nigéria. Em 1968 começou um de seus maiores projetos, documentando penteados nigerianos. Esta era uma marca registrada do trabalho de OKHAI OJEIKERE, ao final de sua vida ele havia impresso aproximadamente mil fotos de cabelos de mulheres. Para a mostra “Ex Africa”, o curador Alfons Hug selecionou oito históricas fotos.
KILUANJI KIA HENDA - Vídeo (1979-, Angola)
O angolano e autodidata KIA HENDA, entre coletivas e individuais, já teve o seu trabalho exposto em Londres (Tate Gallery), Lisboa, Paris, Nápoles e Nova York.
Na mostra “EX Africa”, será exibido o vídeo “Concrete Affection”, trabalho desse aguçado artista, que fazendo uso do humor e da ironia, interfere em assuntos como identidade, política, percepções do pós-colonialismo e modernismo na África. Por passar um longo tempo com John Liebenberg - fotógrafo que documentou o apartheid e a guerra civil angolana-, Kia Henda foi incentivado a descobrir o poder das imagens para revelar histórias não contadas.
YOUSSEF LIMOUD - Instalação - (1964-, Egito)
Artista e escritor, graduado pela College of Fine Arts pela Helwan University no Cairo. Também estudou na Düsseldorf Art Academy entre 1991 e 1992. Suas pinturas e instalações foram exibidas em diversas exposições no Egito e internacionalmente. Ele escreve principalmente sobre arte, poesia e história. Vive entre Basel e Cairo.
ARJAN MARTINS - Pintura - (1960, Afro-brasileiro – Rio de Janeiro - RJ)
Um dos dois brasileiros presentes na exposição, representado com cinco grandes telas (390 x 200 cm), todas sem títulos, ARJAN MARTINS estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage.
Em 2002, fez a primeira exposição individual (“Desenhos”), no Museu da República. Participou de diversas mostras coletivas como “Arte Brasileira Hoje” (MAM, 2005), “Novas Aquisições” (MAM, 2004) e mais recentemente “Do Valongo à Favela”, no Museu de Arte do Rio (2014). Nesse mesmo ano realizou a primeira exposição individual no MAM Rio, “Américas”, com curadoria de Paulo Sérgio Duarte.
Ao longo de sua trajetória recebeu dois prêmios: foi contemplado com Bolsa Viagem do Instituto Goethe, em 2007, e recebeu o “Prêmio Projéteis de Arte Contemporânea” – Funarte”, em 2005. No exterior, o artista participou da Bienal de Dakar 2006 e do Haiti Sculpture, em 2007.
DALTON PAULA – Pintura – (1982 Afro-brasileiro – Goiânia -GO)
Dalton mora e trabalha em Goiânia e é bacharel em Artes Visuais. Suas produções propõem uma reflexão de questões contemporâneas, referentes ao medo, à efemeridade, ao individualismo e à alteridade. Discute também o picturalismo contaminado por linguagens diversas através do seu corpo no campo da intimidade.
SOBRE O CURADOR
Ex- diretor do Instituto Goethe do Rio de Janeiro e de Lagos, Alfons Hug é reconhecido por seu trabalho investigativo e como crítico de arte contemporânea. Sobre a mostra ‘EX AFRICA’, ele a define parafraseando Caio Plinio II, “Ex Africa semper aliquid novi”, ou “da África sempre há novidades a reportar.” O referido escritor teria dito isso há mais de dois mil anos, ao voltar de uma viagem às províncias norte americanas pertencentes ao império Romano. De fato, o continente africano avançou suas fronteiras em todas as direções do globo ao longo dos séculos. A áfrica perdura no jazz americano, no carnaval brasileiro, nos templos de candomblé e na capoeira, que atualmente está presente em mais de 150 países.
Principais projetos que ganharam a assinatura de Alfons Hug como curador:
Mostra Haus de Kulturen der Welt Berlim (94 e 98)
Bienal de São Paulo (2002 e 2004)
Pavilhão Brasil na Bienal de Veneza (2003 e 2005)
Bienal del Fin del Mundo Ushuaia, Argentina (2009)
6ª Bienal de Curitiba (2011)
Pavilhão América Latina na Bienal de Veneza 54ª, 55ª e 56ª edição (2011, 2013 e 2015 )
2ª Bienal de Montevidéu (2014)
Mostra Zeitgeist = circuito CCBB SP/RJ/BSB/BH (2015)
Amelia Toledo no CCBB, São Paulo
CCBB São Paulo celebra os 60 anos de carreira de Amélia Toledo com a exposição “Lembrei que Esqueci”, a partir de 12 de outubro
Com curadoria de Marcus Lontra, a mostra explora as diversas facetas da "grande dama da contracultura no Brasil", apresentando cerca de 60 obras – esculturas, objetos de design, desenhos e pinturas – da artista paulistana, que segue produzindo até hoje, aos 90 anos
O Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo apresenta entre os dias 12 de outubro de 2017 e 8 de janeiro de 2018 a exposição Lembrei que Esqueci, uma homenagem aos 60 anos de carreira de Amélia Toledo. "Personagem ativa de seu tempo, ela deu um novo sentido à vanguarda artística brasileira, incorporando à ousadia e ao comprometimento que marcam o Modernismo novas propostas de afeto e integração coletiva", afirma o curador da mostra, Marcus Lontra.
Contemporânea de artistas como Lygia Pape (1927-2004), Anna Maria Maiolino (1942) e Mira Schendel (1919-1988), Amélia pertence a um grupo célebre por aproximar a arte do cotidiano das pessoas. Em uma época em que se clamava por liberdade e direitos iguais – e o Brasil enfrentava uma longa ditadura militar – ela se consagrava como "grande dama da contracultura no Brasil", nas palavras de Marcus Lontra.
Conhecida por investigar as potencialidades de diferentes materiais e técnicas, Amélia Toledo se tornou notável como escultora, pintora, desenhista e designer – e continua produzindo novos trabalhos até hoje, aos 90 anos. Para explorar todas as suas facetas, a exposição "Lembrei que Esqueci" reunirá cerca de 60 obras da artista, ocupando os andares do CCBB, divididos em núcleos temáticos.
OS PERCURSOS AFETIVOS DE AMELIA TOLEDO
A sugestão do curador é que o percurso comece no subsolo, setor mais intimista chamado de A Caverna. Os trabalhos selecionados para esse espaço utilizam fundamentalmente rochas e cristais para explorar os sentidos. A ideia é transpor o mundo das imagens e encontrar verdades inusitadas por meio do contato com o sensível. Os destaques ficarão com a obra sonora Dragões Cantores, composta por fragmentos de pedras moldados pelo movimento das águas do mar apoiados em colunas de concreto, e com a Série Impulsos, blocos de quartzito verde e jaspe polidos sobre colunas de concreto.
No térreo o eixo temático é O Encontro, com obras que provocam uma reflexão sobre o tempo e a necessidade de observação do entorno para garantir a transformação do homem. "Para Amélia Toledo é preciso caminhar, percorrer e atravessar os caminhos que levam ao encantamento", afirma o curador. Fatias do Horizonte, uma série de chapas de aço inox espelhado de 210 x 130 x 0,6 cm parcialmente oxidadas, e Poços, chapas de aço inox com pedras de diversos tamanhos, são os destaques desse setor.
Em A Passagem, tema do 1º andar, haverá uma profusão de cores, formas, sensações e sentimentos. O princípio desse espaço é que o mundo é um emaranhado de fios e vasos comunicantes translúcidos, espelhados e azuis. O público encontrará caleidoscópios feitos com chapas de aço inox, além da Medusa Azul, estruturas com tubos de PVC recheados com líquidos e óleos coloridos, entre outras obras.
A Memória norteará a escolha das obras do 2º andar, composto por duas salas. O objetivo desse espaço é mostrar que a lembrança da matéria é o caminho para a criação de novas verdades. Alguns dos destaques serão o Glu Glu - Anos 60, uma estrutura de vidro soprado com água e espumantes, a Caixinha do sem-fim / Situação tendendo ao infinito, uma caixa de acrílico contendo oito caixas recheadas com mais oito caixas e assim por diante, o Mundo dos Espelhos, módulos em chapa de aço inox espelhado, recortados e perfurados, e o Poço da Memória, cilindro de fibra de vidro revestido internamente com uma chapa de aço inox polida, com um cilindro menor de acrílico e a inscrição "Lembrei que esqueci".
Trabalhos com papel, retalhos, fiapos e farrapos estarão presentes no 3º andar, cujo tema é A Luz. Para esse local foram escolhidas obras que resignificam os gestos femininos de lavar, costurar e cortar, subvertendo a condição subserviente da mulher. Entre os destaques estarão as Colagens, sobreposições de papeis de seda de medidas variadas, e Fiapos, feitos com polpa de Iúca, linho, algodão e tela de náilon.
Por fim, os trabalhos do 4º andar promoverão uma reflexão sobre o futuro. Sob o mote O Destino, as obras mostrarão que em um mundo dominado pela indústria da comunicação é preciso construir uma linguagem própria e transformadora, gerando novas percepções sobre a vida. Os destaques dessa seção serão os Discos Tácteis, discos de PVC com líquidos e óleos coloridos, e A Onda, composta por um cilindro de PVC também com líquidos e óleos coloridos.
Nascida em São Paulo em dezembro de 1926, a artista Amélia Toledo frequentou o ateliê de Anita Malfatti (1889 - 1964) e estudou com Yoshiya Takaoka (1909 - 1978) e Waldemar da Costa (1904 - 1982), além de ter trabalhado com desenho de projetos no escritório Vilanova Artigas (1915 - 1985). Sua primeira exposição individual aconteceu em 1957, após um período em Londres, Escandinávia, Holanda, Alemanha, França e Portugal. Ao longo de 60 anos de carreira produziu trabalhos com diversos tipos de materiais, como aço inox, espumas, plástico, vidro e cristais. Entre os destaques estão “Espaço Elástico III”, “IV” e “V” e “Caixas I” e “II”, premiados na 9ª Bienal de São Paulo e a instalação “Caleidoscópio”, montada na estação Brás do Metrô de São Paulo.
Erwin Wurm no CCBB, Rio de Janeiro
Depois de passar com sucesso por São Paulo, Brasília e Belo Horizonte, exposição “Erwin Wurm O Corpo é a Casa”, com curadoria de Marcello Dantas, traz obras interativas e conceituais que desafiam e distorcem objetos tradicionais do cotidiano
Ao percorrer o conceito de corpo e elementos domésticos e do cotidiano, o conjunto de cerca de 40 obras explora tanto noções arquitetônicas, para as quais o artista olha a partir do ponto de vista escultórico, quanto "a natureza transformativa da escultura em suas muitas encarnações", como aponta o curador. Integra o conjunto as famosas esculturas corpulentas, Fat House (Casa Gorda) (2003), a inflada Ferrari brilhante vermelha Fat Convertible (Conversível Gordo) (2004) e peças da série The Artist Who Swallowed the Word (O Artista que Engoliu o Mundo) (2006).
Esse conjunto antropomórfico e obeso sugere algumas atribuições biológicas ao objeto artístico, como o ato de consumir, tornando-o capaz então de "preencher" o seu próprio interior. Seguindo essa lógica, obras envolvendo comida também estão presentes como as roliças salsichas que mimetizam atividades humanas da série Abstract Sculptures (Esculturas abstratas), Sitting Big (Sentando Grande), de 2014, e Big Kiss (Grande Beijo), de 2015; a instalação de 37 pepinos de acrílico pintado sobre pedestais Self-Portrait as Pickles (Auto-retrato como Pickles), criada em 2008 e apresentada em diversos países desde então, e Spit on Someone’s Soup (Cuspa na Sopa de Alguém), de 2003.
"Entendo que a matéria-prima de qualquer escultura é energia e a unidade de medida de energia, que é a caloria, é o mesmo elemento que irá alterar a forma, o volume e a densidade dos materiais. E estes irão explorar a ressignificação da nossa própria energia corpórea em obras de arte simbólica, desafiando a noção de performance, escultura e arte", comenta Marcello Dantas.
Como desdobramento das investigações das estruturas arquitetônicas, Wurm olha também para seu interior e nele o universo de objetos domésticos os quais ele deforma e redimensiona. Exemplos desses são obras como a prateleira derretida feita de bronze e pátina Dodge (2012), a cadeira prensada em um bloco Angst / Lache Hochgebirge e o vaso sanitário comprimido de madeira e resina Toilet (Vaso Sanitário) (ambos de 2014), o relógio agigantado Lost (Perdido) (2015), o armário que parece ter sido esmurrado em First Ascent – North Wall (Primeira Ascenção – Parede Norte) (2016), entre outras.
Completam o conjunto as One-Minute Sculptures (Esculturas de Um Minuto), criadas nos anos 1990, nas quais são os espectadores que se tornam as esculturas a partir de instruções deixadas por Wurm. Essas sugerem que o sujeito permaneça em diferentes posições por um minuto, seja vestindo uma peça de roupa ou posicionando a própria cabeça dentro de um armário, criando assim formas efêmeras que logo em seguida se desfazem, como uma espécie de performance não programada. Também serão apresentados 13 vídeos, além de uma grande intervenção na fachada do prédio.
A experiência das obras de Erwin Wurm extrai do espectador deleite e senso de humor. Este último, segundo ele, leva o sujeito a olhar para as coisas com mais cuidado e, portanto, com maior engajamento, por isso ambos (humor e espectador) acabaram se tornando os ingredientes mais importantes do seu gesto artístico.
"Por um período de tempo eu tentei encontrar a forma mais rápida de me expressar. E isso se reflete na minha crença na franqueza. É o mesmo tipo de franqueza que você encontra nos quadrinhos, elemento que eu frequentemente uso em meu trabalho", resume Wurm. Enquanto muitos artistas se concentram em dificultar a banalidade, o austríaco está interessado em fazer da dificuldade algo leve e acessível.
Erwin Wurm nasceu em Bruck an der Mur, Áustria (1954), onde vive e trabalha entre as cidades de Viena e Limberg. O artista apresentará na 57 ª Bienal de Veneza, em 2017, a exposição intitulada Pavilhão de Luz. É a quarta vez que ele participa desta Bienal. Ganhou exposições individuais em instituições consagradas pelo mundo como o Museum für Moderne Kunst (Berlim), Museum der Moderne (Salzburg), MACRO – Museo d‘Arte Contemporanea (Roma), Museum of Contemporary Art (Sydney), Peggy Guggenheim Collection (Veneza) Palais de Tokyo (Paris), Fundación Joan Miró, (Barcelona), The Photographers Gallery (Londres), MAK - Center for Art and Architecture (Los Angeles), Städel Museum (Frankfurt), entre outros. Participou de dezenas de exposições coletivas, incluindo as mais importantes bienais como Veneza (quatro vezes), Lyon, Sevilha, Lüttich, Bucharest, Taipei, Liverpool, Montreal, Sydney e São Paulo, entre outras.
Renomado curador de exposições, diretor artístico e documentarista, Marcello Dantas é o nome por trás de algumas das principais mostras de arte no Brasil, sendo responsável por inovar o conceito de museologia no país, trazendo doses sem precedentes de tecnologia, interatividade e recursos multimídia.Em 2016, organizou a exposição “ComCiência”, da artista australiana Patricia Piccinini, realizada em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte, que foi a mostra de arte contemporânea mais visitada no mundo nesse ano, segundo o “The Art Newspaper”. Um dos maiores entusiastas da arte urbana no país, Dantas é responsável pelo evento de arte pública “OiR - Outras ideias para o Rio”, que expõe obras de prestigiados artistas em locações icônicas e ao ar livre no Rio de Janeiro, com edições em 2012, 2015 e 2016. Em 2017, o projeto desdobrou-se em “Outras Ideas”, trazendo pela primeira vez à cidade trabalhos dos artistas Daniel Arsham e Makoto Azuma. Além de grandes exposições nacionais, assinou a curadoria de mostras individuais de artistas estrangeiros de renome, como Christian Boltanski, Anish Kapoor, Tino Sehgal, Laurie Anderson. Foi também a mente por trás do Museu da Língua Portuguesa, do Museu do Homem Americano, do Museu da Gente Sergipana, dentre outros. Marcello Dantas é ainda curador e diretor de programação da Japan House São Paulo, iniciativa global do governo japonês que abriu as portas em maio de 2017 na Avenida Paulista.
Lais Myrrha na Athena, Rio de Janeiro
Exposição apresentará trabalhos recentes e inéditos, dentre instalações, esculturas e fotografia, produzidos em 2016 e 2017, que tratam da questão do tempo e da arquitetura
A galeria Athena Contemporânea apresenta, a partir do dia 10 de outubro de 2017, a exposição Lais Myrrha - Cálculo das diferenças, com cinco obras recentes e inéditas da artista mineira radicada em São Paulo. Na mostra, serão apresentadas instalações, esculturas e uma fotografia, que se relacionam entre si e tratam da questão da arquitetura e da temporalidade. Todas as obras da exposição – com exceção de uma, que é de 2016 – foram produzidas este ano, dando uma dimensão da mais recente produção da artista, que foi um dos destaques da última Bienal de São Paulo e cujo trabalho atualmente integra a exposição “Condemned to be Modern”, no Los Angeles Municipal Art Gallery (LAMAG), nos EUA.
Em todas as obras é clara a presença da arquitetura e da construção, assim como a questão da temporalidade, seja na ação que o tempo irá exercer sobre o trabalho, transformando-o em algo novo com o passar dos dias, seja na ação que aconteceu e foi “paralisada” pela artista, fazendo o público ver o resultado do que ocorreu no passado.
A pesquisa recente de Lais Myrrha sobre os materiais usados na construção civil, como tijolos, cimento e madeira, se desdobra em algumas obras da mostra. Esses materiais cotidianos ganham uma nova significação na produção da artista, cujo interesse, em linhas gerais, é desestabilizar as convenções materiais, políticas e ideológicas que delimitam a vida social, pessoal e política. Os trabalhos presentes nesta exposição destacam um processo desconstrutivo vigente. “Os trabalhos contrastam porvir e ruína; a memória do que poderíamos ter sido e não fomos; a consciência do fracasso que se percebe finalmente como delírio”, afirma a crítica de arte Heloisa Espada, no texto que acompanha a exposição.
"Nos últimos anos, venho trabalhando a noção de impermanência e da história, assim como a precariedade dos conceitos de equivalência e equilíbrio. Um elemento importante no meu processo de criação é a escolha e o uso preciso dos materiais, da capacidade que eles têm de produzir signos, funcionando como condensadores de narrativas", afirma Lais Myrrha.
TRABALHOS EM EXPOSIÇÃO
Quatro módulos de vidro compõem a instalação “Cálculo das diferenças” (2017), que dá nome à exposição. Dentro de cada um deles há a mesma quantidade de tijolos inteiros e tijolos quebrados e peças de madeira inteiras e queimadas. “O volume muda quando o material é quebrado ou queimado. O volume do tijolo aumenta e o da madeira diminui”, explica a artista, que relaciona esse trabalho com o valor das culturas na atualidade. Tijolos e madeiras não são meros materiais, mas servem para destacar aspectos importantes sobre a relação entre ruína e história, sobre ruína e valor, cultura e valor. A madeira é reduzida a cinzas enquanto os tijolos a cacos e a pó. Sendo assim, as cinzas ocupam uma fina camada, quase imperceptível da caixa de vidro, os cacos de tijolos ultrapassam o limite dado pela caixa de vidro. As cinzas se diluem e desaparecem misturadas à terra, ao passo que os fragmentos de tijolos podem sobreviver por milênios. “O material bruto, em estado de devir, é confrontado com sua inutilização e sua morte. A equação lida com o que é inconstante e contingente, humano, e potencialmente desleal. As ideias de projeto e escombro – apresentadas por meio de materiais em estado transitório – se conformam em espaços idênticos que podem assumir o papel de caixa ou de caixão”, diz Heloisa Espada.
Produzida no ano passado, a obra "Corpo de Prova”" é composta pelas próprias amostras de cimento, uma peça fundida em bronze e uma aquarela. Corpo de prova é a amostra do concreto endurecido, especialmente preparada para testar propriedades como resistência à compressão. A artista se apropria desses materiais descartados pela construção civil e cria um empilhamento com esses objetos, tal como o desenho da aquarela apresenta. Quando algum deles cai no chão, ela o deixa no exato lugar da queda e funde em bronze os demais que resistiram ao empilhamento. “A ação realmente aconteceu, mas você não a vê, o que é mostrado é apenas o projeto e seu resultado”, diz a artista.
Quatro placas: uma de granito preto, uma de mármore branco, uma de cimento e outra terra compõe outra obra da exposição. As placas são colocadas lado a lado, com um friso que passa por elas, criando uma linha que atravessa todas as placas. Com o tempo, a linha deixa de ser contínua, pois cada um dos materiais resiste ao tempo de uma forma. “O trabalho vai ser completado pelo tempo, a linha será descontinuada”, conta a artista.
Na parede, estará a obra “Soma não nula”, composta por quadrados de ouro medindo um centímetro quadrado e pesando um grama cada, sobre os quais 1 grama de pó é distribuído. “Quanto mais passa de um quadrado para outro, mais vai diminuindo a quantidade de pó e aparecendo mais o ouro”, explica a artista. Ela acrescenta, que é a mistura de elementos o pó de vidro e a liga acrescentada ao ouro é o que permite que esses materias possam ganhar forma: “em estado puro, esses elementos são informes”.
Completa a exposição a fotografia “Estrutura” (2017), que foi tomada quando filmava o vídeo Delírio, comissionado pelo MASP para exposição Avenida Paulista nesse ano. Mais uma vez, aparece uma coluna numa situação e nesse caso, enquadrada por uma geometria que reforça a fragilidade e instabilidade.
Lais Myrrha (Belo Horizonte, 1974. Vive e trabalha em São Paulo). É doutoranda em artes visuais pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. Recebeu diversos prêmios, entre eles, Prêmio Honra ao Mérito Arte e Patrimônio 2013, Paço Imperial/ Minc/IPHAN; Bolsa Estímulo à Produção em Artes Visuais Funarte, 2012; Prêmio Atos Visuais – Funarte – Brasília, e Prêmio Projéteis – Funarte – Rio de Janeiro, ambos em 2007.
Dentre suas principais exposições individuais estão: “Reparation of Damages” (2017), na Broadway 1602, em Nova York, EUA; “Corpo de Prova” (2017), no Sesc Bom Retiro, em São Paulo; “Entre-Tempos” (2014), no Sesc Palladium, em Belo Horizonte; “Projects on Ashburn, Other Coordenates” (2014), no College Station, Texas, EUA; “Zona de Instabilidade”, na Caixa Cultural Brasília (2014) e na Caixa Cultural São Paulo (2013); a mostra no Paço das Artes, em São Paulo (2011); as mostras na Funarte do Rio e de Brasilia (2008), entre outras.
Dentre suas exposições coletivas mais recentes estão: “Live Uncertainty” (2017), na Fundação Serralves, em Portugal; “Encontros no Espaço” (2017), na Funarte Belo Horizonte; “Travessia 5: Emergência” (2017), no Galpão Bela Maré, Rio de Janeiro; “Metrópole: Experiência Paulistana” (2017), na Estação Pinacoteca, em São Paulo; “Avenida Paulista”, no MASP, em São Paulo; “Re-effecter Matter” (2017), na Galleri Susanne Ottesen, na Dinamarca; “32º Bienal de São Paulo: Incerteza Viva” (2016); “Brasil, Beleza?!”, no Museum Beelden aan Zee, na Holanda; “Quando o Tempo Aperta” (2016), no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, e no Palácio das Artes, em Belo Horizonte; “Empresa Colonial”, na Caixa Cultural São Paulo; “Emergency Measures - Power Station” (2015), nos EUA; “Quarta-feira de cinzas” (2015), no Parque Lage, Rio de Janeiro; Exposição dos artistas finalistas do prêmio Marcantônio Vilaça (2015), no MAC-USP, São Paulo, entre outras.
Ana Prata na Millan, São Paulo
Cerca de vinte pinturas em óleo sobre tela trazem temas que vão de figuras humanas e paisagens à pinturas abstratas gestuais
A Galeria Millan apresenta, de 10 de outubro a 4 de novembro de 2017, Miss Natural e outras pinturas, a segunda exposição individual de Ana Prata na galeria. A mostra ocupa o Anexo Millan e reúne em torno de vinte pinturas em óleo sobre tela que variam entre pequenos e grandes formatos.
Ana Prata opera com narrativas não lineares, onde aspectos temáticos e formais se entrelaçam. Cada pintura é para ela uma forma específica e singular de organizar e apresentar uma ideia, e quando postas em conjunto estabelecem novo sentido. Em seu trabalho há uma ambiguidade latente que pode transitar entre o humor, a interioridade e o espírito crítico.
Nesta exposição algumas famílias de trabalhos são apresentadas, entre elas: figuras humanas, formas geométricas, paisagens e pinturas abstratas gestuais. Um triângulo pode tanto apresentar referências simbólicas — como uma espécie de portal, ou uma ideia de ascensão — como remeter, pela maneira como foi pintado, a um vocabulário pictórico do séc. XX. Temas como este, quando colocados ao lado das pinturas de figuras femininas, fazem emergir outros sentidos formando uma teia que não procura encontrar uma resposta, mas sim abrir caminhos de percepção.
No âmbito do feminino, a artista formula uma personagem intitulada Miss Natural que aparece em alguns trabalhos e que pode nos remeter ao conceito da “mãe universal”, figura mítica presente em diversas culturas e religiões pagãs, ou talvez flertar com o ideal hippie de “retorno às origens” e seus remanescentes na cultura vigente. O trabalho da artista mantém um caráter ambíguo, fato que se torna evidente quando nos damos conta de que a mão de uma dessas figuras femininas pode também nos lembrar as luvas do personagem Mickey Mouse.
As paisagens de montanhas e lagos se estruturam em torno de um mesmo esquema de desenho (que possui a despretensão de um desenho infantil), mas com técnica e visualidade singular, criando temperamentos variados, formalmente díspares. Ao olhar o trabalho de Ana Prata é perceptível a relação direta que a artista estabelece com diversos momentos de história da arte moderna, como se este diálogo fosse uma ferramenta para o seu fazer. Porém Prata não cria resistência à diversidade que este diálogo possibilita, e sim o utiliza para o exercício da liberdade.
Ana Prata nasceu em 1980, Sete Lagoas, MG, atualmente vive e trabalha em São Paulo, SP. Graduada em Artes Plásticas pela Universidade de São Paulo, foi uma das indicadas ao Prêmio Pipa 2017. A artista realizou exposições individuais em Hong Kong Art Basel (2017); na La Maudite, Paris, França; e Kubikgallery, Porto, Portugal (2015); na Pippy Houldsworth Gallery, Londres, Reino Unido (2016); Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil (2012) e Centro Cultural São Paulo, Brasil (2009), entre outras. Exposições coletivas incluem Os desígnios da arte contemporânea no Brasil, MAC-USP, São Paulo, Brasil; A Luz que Vela o Corpo É a Mesma que Revela a Tela, Caixa Cultural, Rio de Janeiro, Brasil (2017); O espírito de cada época, no Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil (2015); Festival Internacional de Arte Contemporânea SESC_Videobrasil, São Paulo, Brasil (2011 e 2013); Os primeiros dez anos, no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil (2011); e Lugar Nenhum, Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro, Brasil (2013). Participou, em 2016, da residência artística Residency Unlimited, em Nova York.
Respirar sem oxigênio na Millan, São Paulo
A fragilidade do corpo como meio para criação é tema da primeira exposição organizada pela artista Regina Parra
Mostra reunirá na Galeria Millan o frescor da produção de jovens artistas em diálogo com importantes peças de Tunga, Artur Barrio, Lenora de Barros entre outros
A Galeria Millan apresenta, de 10 de outubro a 4 de novembro de 2017, a exposição coletiva Respirar sem oxigênio, organizada pela artista Regina Parra. A mostra reúne trabalhos de 24 artistas incluindo nomes da nova geração — Bruno Levorin, Claudio Bueno, Gui Mohallem, Haroldo Saboia, Heloisa Franco, Julia Gallo & Max Huszar, Julia Ayerbe, Laura Davina, Malka Borenstein, Patrícia Araujo, Thany Sanches — em diálogo com obras importantes de Ana Mazzei, Afonso Tostes, Artur Barrio, Caetano Dias, Fancy, Lenora de Barros, Leticia Parente, Jannis Kounellis, Regina José Galindo, Nelson Felix, Tatiana Blass e Tunga. A proposta é investigar a vulnerabilidade do corpo como um meio para criação de novas potências a partir de um rico diálogo entre diferentes gerações de artistas brasileiros e estrangeiros.
A seleção de obras atravessa os anos 1970 até 2017 e inclui vídeos, esculturas, objetos, pinturas e desenhos que percorrem as distintas deformações sofridas pelo corpo contemporâneo. Deformações que não são torturas mas resultado das “posturas de um corpo que se reagrupa pela vontade de dormir, de vomitar, de se revirar, de ficar sentado a maior parte do tempo.” (Lapoujade, David. O corpo que não aguenta mais); vindas portanto da exaustão e do esgotamento. “É condição própria do corpo ser afetado pelas forças do mundo. Deleuze insiste que um corpo nunca deixa de ser submetido a encontros e confrontos: com a luz, com o oxigênio, com os alimentos, com os sons etc. Um corpo é, segundo ele, sempre ‘encontro com outros corpos”, conta Parra.
Se essa situação de extrema fragilidade pode ser vista como um sinal de resistência, o esgotamento não seria necessariamente uma paralisia total. Como, então, transformar a grande fadiga em potência? Como respirar sem oxigênio? Essa é a ideia central que será colocada pela curadora: o corpo em colapso como meio para investigação e criação de novas potências frente às incontingências políticas, culturais e afetivas da vida contemporânea.
Para complementar a proposta, Regina Parra convidou o coreógrafo Bruno Levorin para desenvolver uma ação como reposta à questão “Quais são os espaços e limites que circunscrevem a comunicação entre dois corpos?” Levorin vai partir do encontro com o artista visual Haroldo Saboia para investigar práticas coreográficas que discutam a relação entre gesto, nomeação e invocação.
Regina Parra (1981, São Paulo, SP) é Mestre em Teoria e Crítica da Arte pela Faculdade Santa Marcelina e bacharel em Artes Plásticas pela Faap. Nos últimos anos realizou exposições individuais no Pivô (SP), Centro Cultural São Paulo (SP), Paço das Artes (SP), Fundação Joaquim Nabuco (PE), Galeria Leme (SP) e Galeria Millan (SP). Entre as coletivas, destacam-se Sights and Sounds, curadoria Luiza Proença e Jens Hoffmann, The Jewish Museum, Nova York; Totemonumento, curadoria Isabella Rjeille, Galeria Leme; Arquitetura e Paisagem Urbana, curadoria Cauê Alves, MuBE; CPR Film Festival Argentina, curadoria Tainá Azeredo, Buenos Aires; O Espírito de Cada Época, curadoria Rejane Cintrão, Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto; Encruzilhada, curadoria Bernardo Mosqueira, Parque Lage, Rio de Janeiro; Cães Sem Plumas, curadoria Moacir dos Anjos, Museu de Arte Moderna de Recife; Rumos Artes Visuais, curadoria Agnaldo Farias, Itaú Cultural; 17o Festival Internacional de Arte Contemporânea SESC_Videobrasil, curadoria Solange Farkas, SESC Belenzinho; Suspicious Minds, curadoria Cristina Ricupero, Galeria Vermelho; A Carta da Jamaica, curadoria Alfons Hug, Oi Futuro do Rio de Janeiro; Rice and Beans, curadoria Jacopo Crivelli, Studio Trendy, Miami; À Sombra do Futuro, curadoria Luiza Proença, Instituto Cervantes; e Grupo 2000e8, curadoria Paulo Pasta, SESC Pinheiros. Em 2012 foi contemplada com o Prêmio de Videoarte da Fundação Joaquim Nabuco e indicada ao Prêmio de Artistas Emergentes da Fundação Cisneros. Recebeu também o I Prêmio Ateliê Aberto Videobrasil (2011) e o Prêmio Destaque da Bolsa Iberê Camargo (2009).
outubro 4, 2017
Possibilidades na Referência, Brasília
Mostra coletiva de acervo apresenta ao público obras de renomados artistas contemporâneos brasileiros que trabalham com diferentes suportes e linguagens
No dia 29 de setembro, a Referência Galeria de Arte abre ao público a mostra Possibilidades, uma visita ao acervo da galeria que apresenta ao público o potencial da produção de artistas contemporâneos nos mais variados suportes. Participam da exposição coletiva Adriana Vignoli, Florival Oliveira, Francisco Galeno, Gê Orthof, João Angelini, Luiz Hermano, Luiz Mauro e Ricardo Ventura. A mostra fica em cartaz até o dia 21 de outubro, com visitação de segunda a sexta, das 12h às 19h, e sábado, das 12h às 17h. A entrada é gratuita e livre para todos os públicos.
O acervo da Referência Galeria de Arte conta com obras de 38 artistas de renome nacional e internacional. “Periodicamente, realizamos mostras de acervo para que o público possa rever ou ver em primeira mão as obras de artistas que colocam a arte contemporânea brasileira em destaque, sendo indicados e recebendo prêmios importantes e com obras em coleções privadas e de instituições públicas reconhecidas por sua relevância”, afirma Onice Moraes, sócia da Referência. Conheça a seguir, os artistas que participam desta mostra.
Adriana Vignoli
Mestre em Artes Visuais pela Universidade de Brasília, entre 2013 e 2014, Adriana Vignoli trabalhou em ateliê e expôs em Wiesbaden e Berlim, Alemanha. Em 2016 foi contemplada com o prêmio do Salão Mestre D’armas (3º lugar), no Museu Histórico de Planaltina, Brasília, DF; e em 2015 com o Prêmio FUNARTE de Arte Contemporânea. Em seus objetos ela utiliza materiais como o vidro, a terra, a pedra e o metal e vem elaborando uma poética de coisas “autônomas e utópicas”, que conectam o arcaico ao presente, ou mesmo, confabulam um futuro. Suas obras se envolvem por temáticas do tempo, do espaço, da paisagem e da arquitetura. Em 2016, foi finalista do Transborda Brasília – Prêmio de Arte Contemporânea e em 2017, foi indicada ao Prêmio PIPA.
Florival Oliveira
De Riachão do Jacuípe, Bahia, e com obras em acervos de instituições públicas como o Museu de Arte Moderna, Salvador/Bahia; Museu de Arte Contemporânea, Feira de Santana; ACBEU, Salvador; Biblioteca da Universidade da Bahia; Museu Regional de Feira de Santana, Florival Oliveira iniciou sua carreira em 1976, tendo participado de várias individuais e coletivas no Brasil. Sua obra traz figuras inéditas, que segundo o próprio artistas, são fruto de grande contrição. Mas há ainda uma presença de simbologias ligadas à tradição rural nordestina, como vaqueiros, bois, ferramentas, entre outros. Suas obras estão nos acervos do Museu de Arte Moderna, Salvador; Museu de Arte Contemporânea, Feira de Santana; ACBEU, Salvador; Biblioteca da Universidade da Bahia; Museu Regional de Feira de Santana.
Francisco Galeno
A arte de Francisco Galeno é conceitual, mas está enraizada na história de sua infância. Em suas próprias palavras: “na minha arte não entra um prego que não seja carregado de história afetiva”, ressaltando que seu trabalho é um diálogo com a fonte popular. Ele não apenas incorpora os objetos que lhe servem de fonte de inspiração, como também envolve os artistas locais na produção de suas obras: artesãos, rendeiras e serralheiros locais participam da produção dos componentes que são utilizados em seus trabalhos. Síntese do viver candango, da cultura que veio de fora para construir a capital, tomando posse da cidade e tornando-a sua, a obra de Galeno é carregada de referências à arte popular, folclórica e da infância, transmutada como fina arte, que ocupa o terreno habitado por seletos acadêmicos e teóricos.
Gê Orthof
Artista e professor da Universidade de Brasília, Gê Orthof é pós-doutor artista visitante pela Penn State University e School of the Museum of Fine Arts, Boston (EUA), e tem doutorado e mestrado pela Columbia University, Nova York. A Obra de Gê Orthof transita entre a instalação, a performance, o vídeo e o desenho que recebem acúmulos de memórias e experiências. Entre os prêmios recebidos estão o Prêmio CNI – Marcantonio Vilaça, Prêmio Situações Brasília, Museu Nacional, Prêmio Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais, Prêmio FUNARTE, 1st. Prize (Grand Prize) 24th International Artist Competition, Berlin, Fulbright Scholar School of Visual Arts, Nova York. Entre 2016 e 2017, participou de várias exposições como “Pasaquoyanism: The first card”: John Michael Kohler Arts Center (EUA), e "Many-splendoured thing”: The Portico Library, Manchester, “Behind the sun” Home Art Center, Manchester, Reino Unido.
João Angelini
Membro do Grupo EmpreZa de Goiânia desde 2008 e co-fundador do coletivo TresPe de Brasília, ambos com o foco em performance, João Angelini é professor de gravura, animação e tridimensionalidade da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, onde leciona desde 2008.Tem na imagem em movimento o maior ponto de partida para suas pesquisas, que tem desdobramentos em vídeos, animações, fotografias, gravuras, performances e brinquedos. Pela diversidade da produção, tem seus trabalhos publicados regularmente em eventos de diferentes meios institucionais como cinema, teatro, shows de rock e galerias de arte. Suas premiações têm a mesma diversidade: como festival Anima Mundi 2009 (Júri Popular/SP), Bolsa Funarte de Produção 2010, Arte Pará 2012, além de ser um dos finalistas do Prêmio Marcantonio Vilaça 2017.
Luiz Hermano
Seu trabalho em escultura é dotado de tessituras tortuosas e relevos produzidos pela articulação sistemática e rítmica de fios metálicos, como cobre, alumínio e aço, como ressaltou o curador Agnaldo Farias em seu texto para a mostra “Jogando com limites”, na Amparo Sessenta. Com obras em importantes coleções privadas como as de Assis Chateaubriand e Patrícia Cisneros, além do MAC-USP, MAM-SP e da Biblioteca Nacional de Paris, França, Luiz Hermano expõe desde 1978. Já participou das Bienais de Havana (Cuba), Seul (Coréia do Sul) e São Paulo.
Luiz Mauro
Com cerca de três décadas de atuação, o artista visual Luiz Mauro é professor de desenho e pintura na Escola de Artes Visuais da Secult Goiás. Sua pesquisa explora a comunicação entre suportes diferentes. Às vezes, trabalha com objeto e fotografia. Mas seu interesse especial está na pintura e no desenho. Entras as exposições de que participou estão as individuais “Des Peintures comme des Photographies”, na Maison Européenne de la Photographie, em Paris, França (até 14 de junho de 2015); “Cravos e Espinhos”, na Fundação Jaime Câmara, em Goiânia, GO (2004); “Anima Angelus”, na Referência Galeria de Arte, em Brasília, DF, (2003); na Galeria Funarte, em Brasília, DF (1996); na Galeria Macunaíma, no Rio de Janeiro, RJ (1993); e no MAC, em Goiânia, GO (1990). Entre as premiações, destacam-se o Prêmio no I Salão de Arte Contemporânea do Centro-Oeste (2011); Prêmio CELG de Artes Visuais (2003); Prêmio Galeria Aberta, na 3ª Bienal Nacional do Museu de Arte Contemporânea de Goiás, GO; Prêmio Brasília de Artes Plásticas, do Museu de Arte de Brasília, DF (1990); e o Prêmio na 1ª Bienal Nacional do MAC de Goiás, GO (1988). Em 2015, foi indicado ao Prêmio PIPA.
Ricardo Ventura
O escultor Ricardo Ventura Escultor é formado pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro. Suas esculturas de madeira, embora não configurem imagens reconhecíveis, sugerem formas corpóreas, híbridas e sensuais, de concretude tátil. Algumas de suas obras pertencem aos acervos da Coleção Gilberto Chateaubriand-MAM/RJ e do MAM/BA.
Gerty Saruê e Antonio Lizárraga na Marcelo Guarnieri, São Paulo
Pertencentes à mesma geração, as produções de Gerty Saruê e Antonio Lizárraga expostas na galeria se desdobram entre desenhos, esculturas em metal, pinturas, monotipias, fotografias e colagens. Em cartaz até 14 de novembro, a mostra Gerty Saruê e Antonio Lizárraga sintetiza signos da vida moderna, numa relação entre a plástica e o visual das contradições de uma metrópole.
O processo de industrialização da segunda metade do século XX no Brasil, a promessa do futuro redentor, aliado aos lemas da ordem e do progresso, as contradições entre o indivíduo e a sociedade, verbalizadas por códigos e linguagens visuais e gráficas, que desestabilizam o estado atual das coisas; assim, podemos definir brevemente as aproximações entre os trabalhos dos artistas Gerty Saruê e Antonio Lizárraga, que podem ser conferidos a partir do dia 07 de outubro, sábado, 14h, na Galeria Marcelo Guarnieri, unidade Jardins. Aberta ao público até 14 de novembro, a mostra destaca obras dos anos 60 aos anos 2000, com técnicas como desenho, escultura em metal, pintura, monotipia, fotografia e colagem.
GERTY SARUÊ
Nascida na Áustria, criada na Bolívia, e com residência a partir de 1954 na cidade de São Paulo, Gerty Saruê, desde cedo percebeu a necessidade em aprender outras línguas. Deste deslocamento geográfico e da linguagem, o encontro com uma cidade em vias de expansão e industrialização – a SP da década de 50 – nasce o olhar para os aspectos materiais e visuais dessa nova dinâmica que se desenhava, entre o frenesi do ritmo da cidade, e o estranhamento por parte de seus habitantes. As engrenagens das máquinas, as ferramentas dos trabalhadores, as planilhas e os diagramas, as plantas urbanísticas, os materiais de escritório, os números e os letreiros infinitos, aparecem em sua produção transfigurados pelo desejo incessante de uma linguagem própria, que encontra sua formalidade em técnicas como colagens, desenhos, gravuras ou fotografias.
Superposições e sobreposições, a utilização de materiais descartados e a utilização de signos inexpressivos e impessoais da vida cotidiana, criam uma “gramática” visual própria no trabalho da artista, num diálogo com o seu tempo histórico, e sua figuração em formas, texturas, materiais, e novos arranjos.
Algumas obras destacam a multiplicidade de interesses formais desta “nova língua”, como Sem Título, de 1967, uma assemblage em madeira, com peças enferrujadas, que sofreram processo de oxidação, e que, agora, questionam o movimento inerente das coisas e da vida, mas, também, a lógica do consumo produtivista. Burocráticas, de 1980, traz a desordem gráfica, para contestar a aparente ordem desejada, após 30 anos do início da industrialização no país. Síntese, sem fechar a discussão, dos signos e emblemas do momento vigente à época, com crise econômica na América Latina, queda do PIB e inflação, Burocráticas, como em outras obras, é o decalque invertido de uma sociedade. Como se tudo estivesse fora da ordem, e os objetos produzidos pela artista fossem “registros fósseis invertidos de uma sociedade tão preocupada em ordenar e progredir”, sua linguagem se distende como como arqueologia do nosso passado, e cartografia como leitura do presente no instante do acontecimento da obra.
ANTONIO LIZÁRRAGA
Argentino de origem, naturalizado brasileiro desde fins da década de 50, Antonio Lizárraga foi um dos artistas mais proeminentes e múltiplos da sua geração. Designer, programador visual, ilustrador, pintor, escultor e um dos primeiros a realizar intervenções no espaço público, na cidade de SP, colaborou até 1967, como ilustrador para o Suplemento Literário do jornal O Estado de São Paulo.
Para a mostra da Galeria Marcelo Guarnieri, o fascínio pelo maquinário moderno de escalas monumentais, como escavadeiras e guindastes, projetos urbanísticos de grandes avenidas, aparece acompanhado do interesse pelo acidental, pelo erro, pela ruína, articulando, em suas obras, o orgânico e o mecânico. Em Cubos/Sem Título, de 1990, ao cortar as superfícies, novos planos e estruturas surgem, num objeto tridimensional.
Apontado pela crítica de arte como uma das referências da pintura brasileira contemporânea, seja pelo seu particular método de trabalho e processo criativo desenvolvido após um acidente vascular cerebral (AVC), ou a resistência à arte concreta da década de 60, e a necessidade em se manter fora de grupos e escolas, caracterizando assim uma produção crítica e autônoma.
Após o AVC, o artista perdeu parcialmente os movimentos das pernas e dos braços, produzindo, a partir daí, os desenhos ditados, série de trabalhos que se materializavam por meio da ação de outras pessoas que operavam a partir das orientações e comandos que Lizárraga emitia por meio da voz. Antes dos desenhos ditados, porém, vieram os poemas ditados, e talvez, a melhor ilustração sobre como se relacionava Lizárraga com a definição – ou expansão – da ideia de limite, seja mesmo dada por um deles: “existe um homem que constrói mirantes para os peixes começarem a gostar do mar”
Marcelo Zocchio na Bolsa de Arte, São Paulo
Tendo como base a série homônima de trabalhos, exposição Anima parte de ficção sobre a extinção do reino vegetal para propor jogo formal e diálogos entre fotografia e escultura em madeira
Como se configurariam os restos do reino vegetal se ele fosse extinto? Essa premissa ficcional dá o tom de Anima, individual de Marcelo Zocchio na Galeria Bolsa de Arte. Com abertura no dia 7 de outubro, das 11h às 16h, a exposição traz cerca de dez obras, entre inéditas e produzidas pelo artista nos últimos cinco anos em técnicas diversas (escultura, instalação, fotografia), tendo como matéria-prima a fotografia, a madeira bruta e peças reaproveitadas. Essas também dão corpo à instalação Somente o Necessário, que Zocchio apresenta paralelamente no MAC USP (até 26 de novembro informações em www.mac.usp.br).
O universo conceitual de Marcelo Zocchio contém sempre um dado de inquietação quanto aos excessos da ação humana sobre o mundo, compreendida em sua conformação mais cotidiana. As marcas materiais da existência humana sobre o planeta estão no foco do artista paulistano, sejam elas as falhas da urbanização e as construções inúteis realizadas pelas diferentes gestões políticas ou os rastros deixados pela passagem do tempo (como a obsolescência de aparelhos eletrônicos e a má conservação de prédios e ambientes públicos).
Em Anima, uma distopia natural serve como base para o jogo de intervenções sobre madeira, vinda em estado bruto ou reaproveitada. Parte-se do pressuposto ficcional de que, se a vegetação do planeta cessasse de existir, seus restos seriam reconfigurados pela ação do tempo ou por uma força interna remanescente. Mas pela manipulação de Zocchio, estabelece-se um jogo paradoxal entre intervenção natural e humana.
Dessa maneira, galhos comuns de pitangueira perdem sua aparência orgânica na reconfiguração de contornos construtivos em Transformer Stenocalyx (2012). Esse jogo formal externo internaliza-se em Transformer Cedrela (2012). Aqui, troncos de cedro e outras árvores são escavados e ganham enxertos geométricos: pequenos cubos de madeira reaproveitada de diversos tipos, encaixados nos ocos de suas extremidades.
Numa instalação no teto da galeria, inverte-se a relação entre ação natural e artificial. Diversas vigas de madeira, encontradas em caçambas de construção ou nas calçadas
da cidade, ganham em suas extremidades perpendiculares ao chão a imagem impressa de uma árvore (como em fotos da série Biometria, 2015, que também figuram na mostra). Marcelo Zocchio menciona a forma orgânica original naquilo que no presente tornou-se artificial, moldado utilitariamente para servir à empresa humana.
Utilizando o mesmo jogo de remissão ao natural, trabalhos da série Réplica exibem fotos de árvores ladeadas por esculturas inspiradas em suas formas, confeccionadas em madeira processada de construção. Seja no orgânico manipulado ou no artifício que tem sua origem exposta, em Anima Marcelo Zocchio faz refletir sobre a velocidade e a inconsequência da intervenção humana sobre a natureza no espelhamento dos diferentes estados da matéria orgânica no tempo.
Marcelo Zocchio nasceu em São Paulo, em 1963, cidade onde vive e trabalha. Estudou fotografia no International Center of Photography (NY) entre 1990 e 1991. Anexou a produção de esculturas e instalações às imagens. Foi contemplado com o Edital ProAc (2016), Prêmio Porto Seguro de Fotografia (2005) e Prêmio Nacional de Fotografia – Funarte (1996). Entre as mais de 50 exposições de que participou ao longo da carreira estão as individuais Marcelo Zocchio e a Imagem Materializada (Pinacoteca do Estado de São Paulo, curadoria Tadeu Chiarelli, 2016); Repaisagem (Casa da Imagem, São Paulo, 2012); e Segunda Mão (Centro Universitário Maria Antônia, São Paulo, 2011); e as coletivas Past/Future/Present - Contemporary Brazilian Art from the Museum of Modern Art de São Paulo (Phoenix Art Museum, EUA, 2017); Convocatória para um Mobiliário Brasileiro (MASP, curadoria Jonathas de Andrade, 2017); e Natureza Franciscana (Museu de Arte Moderna de São Paulo, curadoria Felipe Chaimovich, 2016). Suas obras estão em coleções de instituições como Fundação Padre Anchieta, Museu da Cidade de São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo, MAM SP, MAM Rio e MASP. Publicou os livros Marcelo Zocchio e a Imagem Materializada (Pinacoteca de São Paulo, 2016); Repaisagem (São Paulo, 2012) e Pequeno Dicionário Ilustrado de Expressões Idiomáticas, em parceria com Everton Ballardin (1999).
Marcia Pastore no MuBE, São Paulo
Vão livre do MuBE recebe instalação de 60 metros da artista Marcia Pastore
Do concreto ao concreto - Marcia Pastore utiliza materiais da construção civil para relacionar arte e arquitetura
O MuBE – Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia tem o prazer de apresentar, em sua área externa, a exposição Corpo de Prova, da artista Marcia Pastore. Ocupando 60 metros não lineares do vão formado pela marquise do edifício construído pelo vencedor do Prêmio Pritzker, Paulo Mendes da Rocha, a artista apresenta uma obra criada com materiais e elementos geralmente usados na construção civil.
A instalação “Corpo de Prova” se incorpora a construção do MuBE criando um grande canteiro de obras, onde corpos que foram ruínas – neste caso, blocos de concreto – que tensionam cabos de aço, chamam atenção para o espaço livre criado no edifício. As investigações sobre a ação e o corpo no espaço são temas recorrentes na produção da artista paulistana, que desta vez faz cilindros de concreto flutuarem sob um dos mais icônicos espaços culturais da cidade.
Numa espécie de metalinguagem construtiva, a artista utiliza blocos e prumos de concreto, oriundos da demolição do estacionamento de uma grande empresa comercial de materiais construtivos (Leroy Merlin), para investigar o equilíbrio e a tensão nas relações entre a arte e a arquitetura. A obra é composta por sistema mecânico de engrenagens estruturadas por sargentos presos à laje e articuladas por roldanas que permitem a movimentação de blocos de concreto e prumos.
Uma das pontas do cabo de aço está presa ao prumo enquanto a outra ao bloco de concreto. O deslocamento do bloco faz os prumos flutuarem e as linhas verticais dos cabos dialogam com as linhas ortogonais da marquise que se contrapõe às linhas diagonais criadas pelo deslocamento dos blocos.
Os blocos de concreto que compõe o trabalho foram recolhidos num centro de reciclagem de entulho de obra, em Osasco. Os prumos – ferramenta usada na construção, são cilindros extraídos desses mesmos blocos de concreto. A extração de cilindros de concreto, também chamados de núcleos ou corpos de prova, é um procedimento comum para avaliar o estado e a qualidade do concreto nas construções. Esta exposição foi selecionada através do Edital PROAC Nº 15/2016 - Artes Visuais - Obras e Exposições.
Abraham Palatnik na Nara Roesler, São Paulo
Um dos pioneiros da arte cinética mundial, Abraham Palatnik (1928, Natal, RN), traz seus trabalhos recentes para a sede paulistana da Galeria Nara Roesler, que o representa há quase duas décadas. A exposição abraham palatnik: ver, mover reúne cerca de 15 relevos, a grande maioria inéditos, realizados no último ano (2016/2017). São progressões tridimensionais concebidas a partir de sua atual investigação com o acrílico.
A mostra pontua essa invenção pictórica na obra de Palatnik, ao relacionar a nova produção com obras anteriores, como as históricas RS-11, de 1976 (placas de poliéster - edição única) e a pintura em madeira de 1992, além da famosa série W (anos 2000) e de alguns relevos progressivos sobre cartão duplex.
Segundo o texto de Luiz Camillo Osório, a nova experiência com acrílico reconstitui uma genealogia interna interessante. “Por um lado, mistura a experimentação em relevo realizada anteriormente no papel cartão, por outro, avança na serialização óptico-cinética inaugurada com as progressões em madeira, executadas em poliéster na década de 1970 e, mais recentemente, a partir do começo dos anos 2000, com as ripas de cor em madeira”, acrescenta.
Com quase 90 anos, Palatnik mantem a energia e o rigor com os quais criou o Aparelho Cinecromático, nome dado por Mario Pedrosa, que esteve na primeira Bienal de São Paulo, em 1951. De início a obra não foi aceita por não se saber em que categoria colocá-la, mas, logo depois, ganharia o Prêmio do Júri Internacional. Desde então, como afirma Osório, uma espécie de acaso controlado percorre a produção de Palatnik. “Ele combina pesquisa de novos materiais, rigor metodológico e delírio perceptivo”.
O crítico destaca a atenção do artista aos detalhes e o cuidado artesanal com o processo produtivo. Ressalta ainda que a sua facilidade em lidar com máquinas, nunca o afastou do fazer manual. “Em uma época de virtualidade compulsiva esta combinação é, a um só tempo, uma lição poética e ética”, completa.
Na década de 1950, Palatnik, além de criar aparelhos cinecromáticos e objetos cinéticos, passou a desenvolver composições em papelão e madeira. Por mais de sessenta anos, a sua obra questiona o tempo, o movimento e a relação do homem com a natureza. Para ele, a função do artista é disciplinar a percepção do caos.
Entre suas individuais mais significativas está a grande retrospectiva “A Reinvenção da Pintura” (2013), realizada no Cultural Banco do Brasil, em Brasília. A mostra foi apresentada posteriormente no Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM-SP (2014), no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba (2014), no Museu Iberê Camargo, em Porto Alegre (2015) e ainda no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro (2017).
Pioneiro da arte cinética no Brasil, Palatanik é sempre figura central em exposições internacionais sobre arte cinética. Entre as mais recentes, destacam-se: “Kinesthesia: Latin American Kinetic Art, 1954-1969” (2017/2018), em cartaz no Palm Springs Art Museum, em Palm Springs; “Delirious – Art at the Limits of Reason 1950-1980 (2017/2018)”, em cartaz no The Met Brauer, em Nova Iorque; e ainda a coletiva em homenagem ao crítico Mario Pedrosa, "Mário Pedrosa - Da natureza afetiva da obra", em cartaz até 16 de outubro no Reina Sofia, em Madri, onde também participou da antológica Os Cinéticos, em 2007, e que veio ao Brasil, onde esteve em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, em 2007/2008.
Além de figurarem em oito edições da Bienal de São Paulo, no Brasil (entre 1951 e 1969) e na 32ª Bienal de Veneza(1964), com Mavignier, Volpi e Weissmann, as.obras de Palatnik fazem parte de acervos dos museus mais importantes do mundo, como o Museum of Fine Arts, em Houston, e o Museum of Modern Art, em Nova Iorque, ambos nos Estados Unidos. No Brasil, integra coleções como do MAM –SP e MAM– RJ; MAC São Paulo e MAC Niterói e Itaú Cultural.
outubro 2, 2017
Enlace na Central, São Paulo
A Central Galeria tem o prazer de apresentar Enlace, exposição coletiva na qual participam oito artistas, dentre eles os artistas europeus, Martin Derner, Sérgio Fernandes, Rui Valério e Valter Ventura, e os artistas brasileiros, Alexandre Wagner, Rafael Alonso, Tatiana Chalhoub e Rodrigo Sassi.
Enlace é uma exposição coletiva da Central Galeria em parceria com a galeria portuguesa Kubik, composta por obras que traçam entre si linhas de associações espontâneas. A premissa da exposição não se dá só e estritamente nos paralelos das proximidades entre as obras, mas nos possíveis entrelaçamentos, das semelhanças às dessemelhanças, que tencionam um diálogo, um estímulo ao questionamento acerca das respectivas relações de coexistência nesse espaço. O uso dos mesmos materiais e as diferentes formas que assumem; as abordagens distintas sobre um mesmo tema, como o da temporalidade interrompida que se pode ver em alguns trabalhos dos artistas europeus, por exemplo; e a oposição plástico-conceitual, são só algumas das linhas dentre tantas outras que podemos amarrar.
Essa não identidade temática ou material dos trabalhos, os insere nesse contexto colaborativo dotado de uma ideia de comunicação e contágio entre heterogêneos e a criação de um campo comum, mediante a respectiva particularidade dos trabalhos.
Mônica Piloni no Epicentro Jardins, São Paulo
Monica Piloni discute beleza, corpo e ansiedade em exposição no Epicentro Jardins
O Epicentro Jardins tem o prazer de apresentar, entre 03 e 15 de outubro, a exposição Monica …, da paranaense Monica Piloni. A mostra percorre a produção da artista nos últimos 10 anos, através de esculturas, objetos e fotografias que refletem sobre o papel da figura femina e sua condição no mundo atual.
A produção de Monica Piloni é considerada por muitos controversa, ousada e provocativa, traz uma reflexão percussiva sobre o nosso relacionamento com a beleza, nossa visão sobre o corpo e nossas ansiedades. Muitas de suas obras, criadas com moldes de seu próprio corpo, evocam pesadelos e representações repletas de sexualidade, fantasia e horror. A artista distorce o corpo humano com desmembramento, omissão ou multiplicação de elementos, que geram uma forma perturbadora e não natural, muitas vezes mórbida. Seu trabalho, ao mesmo tempo, trata a sexualização da figura feminina e instiga sensualidade, por meio de corpos nus distorcidos que repelem e atraem.
Em “Ímpar” uma figura sem os braços, nua expondo suas três vaginas, sentada em muletas douradas em equilíbrio absoluto, usa o cabelo como recurso para esconder, substituir e desorientar a logica da construção da figura humana, como uma máscara que sobrepõe a identidade mas não a sexualidade. Em “IdEgoSuperego”, uma escultura em bronze polido com três formas humanas em autorretrato repetidas com seus corpos em contorção. A posição desses corpos foi estudada para que as três formas individuais se encaixassem perfeitamente uma na outra, com o rosto de uma encarando a vagina da outra, simétricas e continuas. O conjunto remete a um triangulo equilátero. Sem o recurso de solda, elas se unem em equilíbrio estável, uma metáfora irônica à luta entre nosso instinto (id), razão (ego) e o componente ético (superego), quase nunca nos preenchendo em proporções equilibradas.
Outros destaques na obra de Monica são as obras “Bailarina I” (2009) e “Bailarina II” (2014), nas quais ela aparece com seus membros expostos individualmente em caixas de acrílico empilhadas. A figura reaparece em “Fruta Estranha (2015)” escultura que foi pintada de preto e é exibida dependurada de cabeça para baixo. Na série de fotografias “No meu quarto” (2014), Monica tirou as sapatilhas e soltou o cabelo da bailarina, depositou seus membros e cabeça sobre sua própria cama.
Na abertura da exposição, Monica apresenta a performance “Arte Terapia num Mundo Líquido”. Um bloco de gelo, como se fosse uma grande pedra de mármore é esculpido ao vivo. Entre marteladas surge uma escultura que pretende questionar aspectos de comportamento comuns do ser humano atuar em sociedade.
Monica Piloni é representada pela Zipper Galeria, tem trabalhos em importantes coleções do Brasil, como Instituito Inhotim, MAC Niterói e Instituto Figueiredo Ferraz.
Karina Dias na Caixa Cultural, Brasília
Karina Dias realiza mostra na CAIXA Cultural Brasília que apresenta um recorte de sua produção em vídeo e fotografia ao longo de 20 anos de carreira como uma das artistas brasilienses que mais influencia a produção de artes visuais na capital federal
De 3 de outubro a 17 de dezembro, a CAIXA Cultural Brasília recebe a mostra Tempo paisagem, da artista visual brasiliense Karina Dias. Com curadoria de Cristiana Tejo, a exposição apresenta ao público um recorte da obra da artista ao longo de 20 anos de produção. Com realização da Mira Produção e Arte, as videoinstalações, videoprojeções e fotografias que compõem a mostra ocuparão as Galerias Picola I e II. A CAIXA Cultural Brasília fica no Setor Bancário Sul (SCS) Quadra 4 Lotes 3/4. Com visitação de terça-feira a domingo, das 9h às 21h, a entrada é franca e livre para todos os públicos.
“Tempo paisagem” é o resultado do encontro entre a curadora pernambucana Cristiana Tejo e Karina Dias, no processo de acompanhamento crítico do Prêmio Transborda Brasília – Prêmio de Arte Contemporânea, apoiado pela CAIXA Cultural. Uma das artistas mais importantes de Brasília, a obra de Karina Dias receberá a primeira mostra individual que apresenta um recorte significativo de sua trajetória. A exposição que começa em outubro, busca apresentar a obra que ainda é inédita para muitos brasilienses.
A mostra “Tempo paisagem” lida com as espessuras de tempo através da observação e inserção na paisagem. Trata-se de gestos sutis, de convidar o público a adentrar nestas densidades. Alguns dos trabalhos requerem uma atenção e concentração muito especiais para se revelarem, afirma a curadora, Cristiana Tejo. Dividida em temáticas, a exposição busca levar o público a adentrar num tempo de contemplação que destoa da voracidade contemporânea, a partir da sensível captação e construção de paisagens da artista, que leva horas e dias para conseguir exatamente a imagem que lhe interessa. Seus trabalhos nos obrigam a sair do tempo instantâneo e vertiginoso das redes sociais e meios digitais para mergulhar numa espessura de experiência que pode beirar o tédio, mas que nos traz para um estado quase meditativo.
A primeira parte da exposição ocupara uma das salas com a paisagem construída ou que se revela no tempo. Segundo a curadora, esta será uma sala mais expansiva, e um pouco extrovertida, o que pode ser notado pela escala dos trabalhos apresentados. A segunda parte abordará a inserção do corpo na paisagem. “Os trabalhos de Karina Dias resultam de um envolvimento total com a paisagem, seja como observadora ou como caminhante. Seu trabalho “Fronteira”, por exemplo, assinala a fragilidade das demarcações nacionais: em três passos deixamos para trás um país e adentramos outro, sendo esta operação aparentemente simples de muitas implicações. Quantos não morrem ao tentar cruzar uma linha divisória entre o México e os Estados Unidos, por exemplo? Apesar de imensamente poéticos, os trabalhos de Karina carregam também estes dados geopolíticos”, ressalta Cristiana Tejo.
Nesse mesmo espaço silencioso e mais "vazia", o corpo do espectador vai percorrer alguns metros para se deslocar entre um trabalho e outro. O intuito da exposição é "reapresentar" uma artista importante da cidade pelo olhar de uma estrangeira, possibilitando ao público que já conhece seu trabalho ter novas miradas sobre ele, e o público que ainda não o conhece ter acesso a um recorte do panorama geral de sua produção.
Karina Dias, artista visual e professora do Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília, atuando na graduação e pós-graduação, pós-doutora em Poéticas Contemporâneas (UnB), doutora em Artes pela Université Paris I – Panthéon Sorbonne e coordenadora do grupo de pesquisa Vaga-mundo: poéticas nômades (CNPq), Karina Dias trabalha com vídeo e intervenção urbana. Sua pesquisa está centrada nas relações entre o homem e a paisagem, entre a imensidão dos espaços e singularidade daqueles que os percorrem, na experiência de espaços-extremos, seja pela sua proximidade (cidade em que se habita) ou por sua extrema distância (várias partes do mundo). Dessa relação surge, por meio de vídeo instalações, uma poética da paisagem e da viagem, uma relação de horizontes, a constituição de uma geopoética. Já expôs em Barcelona na Galeria Paradigma, no, Instituto Francês de Dusseldorf, Alemanha, no Sichuan Fine Arts Institute, China, e na Galerie Du Crous-Beaux Arts, Paris. Em Brasília, participou de mostras coletivas no Museu Nacional da República, na Funarte e no Espaço Cultural Marcantonio Vilaça. Indicada ao Prêmio PIPA 2011, venceu os prêmios Prima Obra - Funarte 2002, Funarte de Arte Contemporânea Atos Visuais 2012 e o Transborda Brasília – Prêmio de Arte Contemporânea. A artista é representada pela Alfinete Galeria.
Cristiana Tejo, curadora independente e doutora em Sociologia (UFPE), foi co-fundadora do Espaço Fonte – Centro de Investigação em Arte e curadora do Projeto Made in Mirrors, que envolveu intercâmbio entre artistas do Brasil, China, Egito e Holanda. Foi coordenadora-geral de Capacitação e Difusão Científico-Cultural da Diretoria de Cultura da Fundação Joaquim Nabuco (janeiro de 2009 – outubro de 2011) e co-curadora do 32º Panorama da Arte Brasileira do MAM – SP (2011), juntamente com Cauê Alves. Foi curadora da Sala Especial de Paulo Bruscky na X Bienal de Havana (Cuba, 2009), co-curou Brazilian Summer Show – Art & The City (Museu Het Domein, Holanda, 2009) juntamente com Roel Arkenstein, Futuro do Presente (Itaú Cultural, 2007) com Agnaldo Farias e Art doesn´t deliver us from anything at all (ACC Galerie, Weimar, 2006) juntamente com Clio Bugel, Charlote Siedel, Paz Aburto e Frank Motz. Participou de diversas comissões de seleção e de premiação, entre elas: Bonnefanten Contemporary Art Prize 2014 (Maastricht, Holanda), Videobrasil 2013, Solo Projects – Focus Latin America (ARCO, Madri, 2013), Rumos Artes Visuais da Argentina (como júri internacional, em Buenos Aires, Curadoria Argentina, 2011), Salão de Goiás, Salão Arte Pará, do Programa BNB Cultural, Situações Brasília. Em 2015, foi parte do júri do TRANSBORDA Brasília – Prêmio de Arte Contemporânea. Vive e trabalha entre Lisboa e Recife.
Ana Calzavara na Virgílio, São Paulo
Ana Calzavara explora os limites do olhar em sua individual na Galeria Virgílio
Série de pinturas de sua mais recente produção transita pela fronteira com fotografia e gravura, gerando uma visualidade errática e imprecisa
A partir do dia 3 de outubro (terça-feira, 19h), a Galeria Virgílio abre a exposição Um passo a mais e se desfaz, sexta individual de Ana Calzavara. A mostra é composta de pinturas de diversos tamanhos, desenvolvidas pela artista durante o último ano.
A artista pinta vistas vazias, capturadas por um olhar enviesado. Em detrimento de grandes temas, ganham protagonismo, a exemplo da pintura flamenga, os assuntos e cenários cotidianos.Essas vistas são capturadas a partir de imagens imprecisas, desfocadas ou ‘negativadas’ (vistas como no negativo fotográfico). As falhas próprias da fotografia são incorporadas ao procedimento de passagem para a tela, dividindo-se no que poderíamos chamar de três séries: as Subexpostas, em que a pouca luz borra o dado visível; as Superexpostas, em que o motor do apagamento da imagem é a pontencialização da claridade; e os Negativos, retratados por meio da inversão do chiaroscuro “natural”.
Outra característica fotográficatambém assumida em suas “falhas” é a nitidez. Dentro do jogo de tensão sobre a representação, Calzavara também apropria-se da falta de foco e contraste para criar imagens fugidias, indefinidas. O enquadramento ganha recortes inusitados, que por vezes reduzem tanto a cena ao detalhe que chegam a remeter à abstração geométrica, como no caso de recriação de elementos arquitetônicos.
Portanto, embora o índice inicial fotográfico permaneça na leitura da maior parte das imagens finais, as pinturas não se restringem à seu referente, assumindo qualidades que envolvem a linguagem pictórica em si.
Nesse jogo com as premissas fotográficas no que elas têm de imperfeito, desconstruindo o status de realidade da imagem pela sobreposição da pintura, Ana Calzavara dá ao mundo sua resposta ao dilema contemporâneo da representação. Num tempo saturado por imagens que se esgotam na mesma velocidade em que são registradas, a introdução do erro e da imprecisão subvertem o caráter serial da figura, que então aponta para a singularidade por trás de cada olhar.
Ana Calzavara (www.anacalzavara.com) nasceu Campinas em 1971. Bacharel em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pós-graduada (Pintura) pela Byam Shaw School of Art, Londres, é mestre e doutora em Poéticas Visuais pela ECA/USP. Frequentou os ateliês de gravura do Museu Lasar Segall, tendo aulas com Marco Buti, Cláudio Mubarac e Evandro C. Jardim; de pintura com Paulo Pasta, de fotografia com João Luiz Musa, e aulas de Crítica e História da Arte com Jorge Coli, Leon Kossovitch, Rodrigo Naves e Sônia Salzstein.
A partir dos anos 90, vem participando de inúmeras exposições no Brasil e no exterior. Apresentou individuais no Centro Cultural São Paulo e no Museu da Imagem e do Som (MIS). Dentre suas exposições coletivas recentes destacam-se: VIII Premio Arte Laguna, em Veneza, Itália e a 8th Biennale internationale d’estampe contemporaine de Trois-Rivière, no Canadá. Seu trabalho está em coleções como Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS); Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MAC-RS); Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC-PR); Museu de Arte Contemporânea de Santo André, SP e Museu Olho Latino, Atibaia, SP.
Em 2017 a editora Edusp lança o livro “Entremeios”, reunindo seus trabalhos realizados nos últimos vinte e três anos.
outubro 1, 2017
Adriana Vignoli na Zipper, São Paulo
Aberta a partir do dia 5 de outubro, a próxima edição do programa Zip’Up abriga a mostra Plano Imaginado, em que a artista Adriana Vignoli dialoga com as fronteiras entre desenho, escultura, instalação e apresenta obras que se equilibram entre a queda, o peso, a suspensão e o risco. Com curadoria de Cinara Barbosa, a exposição mira “utopias geométricas” que convivem com materiais como concreto, rocha, cobre e vidro. Ao manejar a potência desses elementos, a artista realiza uma mutação de objetos e cria trabalhos que sugerem outras gravitações do tempo e do espaço.
Esses conceitos se expressam no objeto-instalação “Se essa rua fosse minha” (2017): uma base retangular em concreto sustenta um tubo de cobre, a partir da qual diversas correntes se estendem pelo chão do espaço expositivo; nas extremidades destas correntes a artista dispôs joias lapidadas a partir de pedras retiradas por Adriana de calçamentos públicos, em diversas cidades. “Os trabalhos tratam de questões acerca da mutabilidade de materiais, de evocar o plano como projeto do controle, apenas como possível modelo de crença consciente da condição inescapável de instabilidade dos sistemas”, reflete a curadora.
Idealizado em 2011, um ano após a criação da Zipper Galeria, o Zip’Up é um projeto experimental, dedicado a propostas curatoriais inéditas. Já recebeu, ao longo de seis anos, mais de quarenta exposições na sala superior da galeria.
A mostra “Plano Imaginado” fica em cartaz até 4 de novembro.
Adriana Vignoli vive e trabalha em Brasília. Recebeu o Prêmio Nacional da FUNARTE de Arte Contemporânea, 2015. Em 2016, foi indicada para o Prêmio PIPA e contemplada com o prêmio do Salão Mestre D’armas de Planaltina, DF, e participou do Prêmio Transbordada Caixa Cultural de Brasília. Entre 2013 e 2014, morou em Berlim e expôs na Nassauischer Kunstverein de Wiesbaden e na Hochschule für Bildende Künste Dresden (Faculdade Técnica em Artes Visuais de Dresden). Em seus objetos utiliza materiais como: vidro, terra, pedra e metal. A artista vem elaborando uma poética que identifica como sendo de coisas autônomas e utópicas, que conectam o arcaico ao presente, ou mesmo, confabulam um futuro. Suas obras tratam de temáticas com o tempo, a paisagem e a arquitetura. Possui graduação em Arquitetura e mestrado em Artes Visuais, ambos pela Universidade de Brasília.
Cinara Barbosa é pesquisadora e curadora de arte. É pós-doutora e mestre pelo Instituto de Arte da Universidade de Brasília (UNB) com ênfase em temas sobre curadoria, arte contemporânea e tecnológica. É Idealizadora do BSB Plano das Artes evento que envolve espaços autônomos e ateliês de Brasília e diretora artística do Elefante Centro Cultural (DF). No campo cultural e artístico também vem participando de comissões de arte e acadêmicas. Ganhadora do prêmio Funarte de Estímulo à Produção Crítica em Artes Visuais 2010. Entre os trabalhos estão: as curadorias das exposições Brinquedos de Papel (2016) e A Dimensão das Distâncias Paralelas (2015), do artista Christus Nóbrega; a coordenação e curadoria da Temporada Elefante, no Elefante Centro Cultural (2015); Eu te desafio a me amar da artista visual holandesa/ uruguaia Diana Blok, Museu da República, Brasília (2014); Capital Digital - Arte, Ciência e Tecnologia, João Pessoa (PB), no Estação Ciência, Arte e Cultura Cabo Branco (2009); Festival Internacional de Arte e Mídia (FAM) (2008), premiado pelo Programa Petrobras Cultural; e. Inéditos – de 1957 a 2000, Individual do fotógrafo Walter Firmo, 2000. Foi idealizadora e coordenadora adjunta do FotoRio (2003/2005) e sócia-diretora da Galeria Câmara Clara.
João Castilho na Zipper, São Paulo
Em Chão em Chamas, nova individual na Zipper Galeria, o artista João Castilho exibe novas séries fotográficas e de objetos que se apresentam como indícios de uma nova reordenação do mundo: fenômenos aparentemente simples que prenunciam alterações drásticas em um futuro próximo, ou que desencadearam-nas em um passado remoto. Os novos trabalhos de Castilho precipitam narrativas orientadas, principalmente, pelo vetor temporal. Com curadoria de Michelle Sommer, a mostra inaugura no dia 5 de outubro.
O título da exposição foi emprestado do livro de contos do escritor e fotógrafo mexicano Juan Rulfo, publicado pela primeira vez em 1953. Entre grande variedade de personagens e situações narradas pelo autor, há em comum um clima de aridez que é o cenário de um eterno embate entre a sobrevivência e a extinção. "Chão em Chamas" trás ao mesmo tempo a ideia de fim e de começo.
Apontando para um futuro distópico, a fotoinstalação “Revanche Animal” (2017) de Castilho, composta por dezenas de cianótipos, faz uma composição que propõe uma nova hierarquia na cadeira alimentar, em que o ser humano é ameaçado no topo. Na mesma direção, a fotoinstalação “Dois Sóis” (2017) forma uma céu que abriga dois sóis, em uma situação ligada a um imaginário apocalíptico. Já na série de esculturas em bronze “Torres” (2017), instaladas sobre bases de concreto, o desequilíbrio toma forma em casas de João de Barro empilhadas como em um edifício.
No vetor temporal oposto, direcionado ao passado, dois trabalhos com pegadas abrem um arco temporal que vão à época dos dinossauros, seres que, em uma perspectiva geológica, estavam à beira da extinção sem saber. A fotoinstalação “Passos Fósseis” (2017) registra pegadas de dinossauros que datam mais de 100 milhões de anos, produzidas em sítio paleontológico na Paraíba. E, em contraponto a estas, “Marca Infinita” (2017) mostra pegadas de animais de nossa era – como macaco, onça parda, tamanduá-bandeira, ema, jabuti, arara e onça pintada - “fossilizadas” em bronze pelo artista. O indício é de que, nas duas séries, o presente figura como uma ausência.
“Chão em Chamas” fica em cartaz até 4 de novembro.
João Castilho (Belo Horizonte, Brasil, 1978) é artista visual e trabalha com fotografia, vídeo e escultura. Sua produção têm inspiração na literatura, na cultura popular, nas paisagens do cerrado brasileiro, na relação com a natureza, nas cenas cotidianas e temas da atualidade. O trabalho do artista está presente em coleções institucionais como Musée du Quai Branly, Paris; Pinacoteca do Estado, em São Paulo; Coleção Pirelli/MASP de Fotografia, São Paulo; e Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. Ganhou prêmios da Fundação Conrado Wessel de Arte, em 2014; e a Bolsa de Fotografia, do Instituto Moreira Salles, em 2013. Foi um dos artistas selecionados para o 19º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil e da Bienal do Mercosul, em 2015. Principais exposições individuais: Zoo, Bratislava, Eslováquia (2016), Caos-mundo. FUNARTE, Belo Horizonte, Brasil (2013), Fundação Joaquim Nabuco, Recife, Brasil (2010). Principais exposições coletivas: "L’Autre Visage". Embaixada do Brasil na Bélgica, Bruxelas (2017); 10th Bienal do Mercosul, Porto Alegre (2015); Singularidades/Anotações, Itaú Cultural, São Paulo (2014); XX Bienal Internacional de Curitiba, Curitiba, Brasil (2014); I Bienal de Fotografia. MASP, São Paulo, Brasil (2014).
Michele Sommer, pós-doutoranda em Linguagens Visuais na EBA/PPGAV/UFRJ (2017), é doutora em História, Teoria e Crítica de Arte pelo PPGAV/UFRGS (2012-2016), com estágio doutoral junto à University of Arts London / Central Saint Martins (2015). É mestre em Planejamento Urbano e Regional pelo PROPUR/UFRGS (2003-2005) na área de cidade, cultura e política e arquiteta e urbanista pela PUCRS (1997-2002). É autora do livro Práticas Contemporâneas do Mover-se (2015) e Territorialidade Negra: a herança africana em Porto Alegre, uma abordagem sócio-espacial (2011). Integra o corpo docente na Escola de Artes Visuais Parque Lage / RJ e é co-curadora, juntamente com Gabriel Pérez-Barreiro, da exposição ‘Mário Pedrosa: de la naturaleza afectiva de la forma’, atualmente em ocorrência no Museu Reina Sofia / Madri, de abril à outubro de 2017. Contribui regularmente para publicações nacionais e internacionais e realização de projetos de artes visuais em diversos formatos. Atua no ensino, pesquisa, crítica e curadoria de artes visuais.