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agosto 31, 2017
Das mãos e do barro na Millan, São Paulo
Aracy Amaral assina curadoria de mostra inédita com obras de ceramistas da tradição ancestral paraguaia
114 obras das artistas paraguaias Julia Isídrez, Ediltrudis Noguera e Carolina Noguera ocupam a Galeria e o Anexo Millan
A Galeria Millan recebe, de 02 a 30 de setembro de 2017, a exposição inédita Das mãos e do barro, com curadoria de Aracy Amaral, co-curadoria do artista Osvaldo Salerno, um dos diretores do Museo del Barro, de Assunção, e participação do teórico Ticio Escobar. A mostra, que ocupa os espaços da Galeria e Anexo Millan, apresenta pela primeira vez em São Paulo a visceralidade presente na tradição centenária da cerâmica paraguaia a partir de um conjunto de 114 obras, realizadas em 2017, das artistas daquele país: Julia Isídrez, Ediltrudis Noguera e Carolina Noguera.
A mostra foi concebida por Aracy Amaral em 2009, por ocasião de sua curadoria na Trienal do Chile, quando a curadora teve um contato mais profundo com as obras dessas três artistas guaranis autodidatas que honram uma tradição centenária, cujas raízes remontam ao período pré-colombiano, em seu país de origem. “Artesãs que laboram diuturnamente, tendo aprendido com suas mães, que por sua vez aprenderam com suas mães, numa cadeia que vem quase desde o período colonial até nossos dias. A mulher amassa o barro úmido, o homem trabalha na cestaria ou na marcenaria”, conta Amaral.
Itá e Tobatí, cidades natais de Julia Isídrez e das irmãs Ediltrudis Noguera e Carolina Noguera respectivamente, são dois reconhecidos centros de produção de cerâmica Guarani, povo que cultiva a tradição das artes do barro, caracterizada pela produção de urnas funerárias e vasos votivos. As peças das paraguaias carregam rastros do dia partilhado entre os afazeres domésticos, os cuidados com os filhos e a casa, onde o trabalho em barro acontece ao lado do fogão e do cômodo em que suas famílias dormem. “Os movimentos do lar mudam e aparece outra dinâmica que interrompe o hábito”, define a escritora Lia Colombino.
As três artistas trabalham com o barro com inaudita personalidade e já se apresentaram em importantes exposições na América Latina e na Europa, incluindo a Documenta 13, de Kassel. Carolina Noguera (Compañia 21 Julio, Tobatí, 1972) filha da prestigiosa ceramista Mercedes Areco de Noguera, desde criança começou a trabalhar com a mãe, seguindo a tradição hereditária pré-colonial. Aos 17 anos, Carolina tomou um caminho independente, momento em que começa a desenvolver um estilo próprio, marcado por figuras humanas e angelicais, que até hoje caracteriza sua obra. Começou a adquirir notoriedade a partir do documentário Kambuchi, realizado por Miguel Agüero e que estreou em 2011.
Ediltrudis Noguera (Compañia 21 Julio, Tobatí, 1965), assim como sua irmã Carolina, também dedica-se à arte do barro mas sua prática volta-se para os cântaros (vasos para beber de origem greco-romana) de formas zoomorfas ou antropomorfas, apresentando poderosas imagens de touros, de cavalos e de humanos. Recentemente, seu forno doméstico foi substituído por outro maior para cocção de peças maiores. Tem exposto amplamente no Paraguai e no exterior, a exemplo da Trienal de Santiago, Chile. Em fevereiro de 2017, participou de um seminário de artesanato na Cidade de Antígua, na Guatemala, a convite do Setor de Fomento de BANAMEX, Banco Nacional do México, evento que reuniu grandes mestres da Arte Popular Ibero Americana.
Julia Isídrez (Compañia Caaguazu, Cidade de Itá, 1967), filha da artista Juana Maria Rodas (1925-2013) com quem também aprendeu, assim como as irmãs Noguera, o ofício de ceramista. Seu trabalho concentra-se tanto em peças pequenas, ora inspiradas em animais do ambiente doméstico e seu entorno (cobras, tatus, galinhas, patos, pulgas, aranhas, percevejos, escorpiões, etc.); como também escalas maiores que exploram formatos de vasos e urnas. Expõe internacionalmente desde 1976, incluindo a Galeria da UNESCO, Paris, o Centro de Artes Visuais, Museo del Barro, Assunção (1998,1999), Bienal do Mercosul, Porto Alegre (1999), Feira ARCO, Madrid (2007), 35ª Versão da Mostra Internacional de Artesanato Tradicional, Santiago, Chile (2008), Trienal de Santiago, Chile (2009) e a Documenta de Kassel (2013).
Ao reunir pela primeira vez no Brasil um rico conjunto das obras dessas três artistas, Das mãos e do barro traz uma importante reflexão acerca do fenômeno da arte popular paraguaia bem como sua força expressiva que, ao lado das tradições fabril e musical, estão adquirindo novos contornos diante de uma realidade de comunicação global que amplifica sua produção criativa. Trata-se de obras que traduzem “a passagem do utilitário frente ao fenômeno da contaminação globalizante com uma arte que se faz presente hoje, não apenas em exposições locais e no Museu do Barro, como em eventos internacionais e mostras em outros países”, conta Amaral. Por outro lado, também aponta para o dilema de qualquer tradição centenária entre manter-se ou renovar-se que, ao tentar atender a emergência de um mercado sempre ávido pelo novo, corre o risco de desaparecer.
Aracy Amaral (São Paulo, 1930) é crítica, curadora e historiadora da arte. Prof. Titular da FAU-USP. Diretora da Pinacoteca do Estado (1975-1979) e do Museu de Arte Contemporânea da USP (1982-1986). Recebeu a Fellowship da Simon Guggenheim Memorial Foundation (1978). Membro do Prince Claus Awards Committee (2002-2005), Haia, Holanda. Autora e organizadora de livros, tem publicações sobre arte no Brasil e na América Latina. Curou exposições no Brasil e exterior.
Di Cavalcanti na Pinacoteca, São Paulo
Pinacoteca de São Paulo apresenta retrospectiva de Di Cavalcanti
“No subúrbio da modernidade - Di Cavalcanti 120 anos” reunirá mais de 200 obras pertencentes a importantes coleções brasileiras e internacionais
Um dos mais importantes artistas do modernismo brasileiro, Emiliano Di Cavalcanti será tema de mostra retrospectiva na Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo. No subúrbio da modernidade - Di Cavalcanti 120 anos entra em cartaz a partir de 2 de setembro de 2017, mês em que se comemora 120 anos do nascimento do artista. Entre pinturas, desenhos e ilustrações, serão exibidas mais de 200 obras, realizadas ao longo de quase seis décadas de carreira e que hoje pertencem a algumas das mais importantes coleções públicas e particulares do Brasil e de outros países da América Latina, como Uruguai e Argentina.
Obras icônicas e outras pouco vistas estarão distribuídas em sete salas do primeiro andar da Pina Luz, sob a curadoria de José Augusto Ribeiro. Segundo o pesquisador, a exposição pretende investigar como o artista desenvolve e tenta fixar uma ideia de “arte moderna e brasileira”, além de chamar a atenção para a condição e o sentimento de atraso do Brasil em relação à modernidade europeia no começo do século XX. “Ao mesmo tempo, o título se refere aos lugares que o artista costumava figurar nas suas pinturas e desenhos: os bordeis, os bares, a zona portuária, o mangue, os morros cariocas, as rodas de samba e as festas populares - lugares e situações que, na obra do Di, são representados como espaços de prazer e descanso”, explica Ribeiro.
Além da atuação pública de Di Cavalcanti como pintor, a mostra destacará também aspectos menos conhecidos de sua trajetória, como as ilustrações e charges para revistas, livros e até mesmo capas de discos. Também será abordada sua condição de mobilizador cultural e correligionário do Partido Comunista do Brasil (PCB). “Esse engajamento reforça o desejo de transformar o movimento moderno em uma espécie de projeto nacional”, completa Ribeiro.
A Pinacoteca prepara um catálogo que reunirá três ensaios inéditos escritos pelos autores José Augusto Ribeiro, curador da mostra, Rafael Cardoso, historiador da arte e do design e Ana Belluzzo, professora e crítica de arte. O livro trará ainda reproduções das obras apresentadas, uma ampla cronologia ilustrada e um compilado de textos já publicados sobre a trajetória do artista. A exposição tem patrocínio de Banco Bradesco, Sabesp, Ultra, Escritório Mattos Filho e Alexandre Birman.
“No subúrbio da modernidade - Di Cavalcanti 120 anos” permanece em cartaz até 22 de janeiro de 2018, no primeiro andar da Pina Luz – Praça da Luz, 02. A visitação é aberta de quarta a segunda-feira, das 10h00 às 17h30 – com permanência até às 18h00 – os ingressos custam R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia). Crianças com menos de 10 anos e adultos com mais de 60 não pagam. Aos sábados, a entrada é gratuita para todos os visitantes. A Pina Luz fica próxima à estação Luz da CPTM.
Beto Shwafaty no MAC, Niterói
Esculturas do Projeto Parque funcional transitam entre arquitetura, design e arte, em uma interação com o público
O Museu de Arte Contemporânea de Niterói traz, pela primeira vez na cidade, a exposição Parque funcional, do artista Beto Shwafaty, que abre no dia 2 de setembro, sábado, às 8h, com curadoria de Pablo León de La Barra e Raphael Fonseca. A mostra – contemplada pelo Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2015 – esteve em cartaz, este ano, no Complexo Cultural da Funarte, em Brasília (DF). No MAC Niterói, inicia uma série de ativações artísticas pensadas e executadas para a praça do museu.
“Parque funcional” propõe a exibição de um conjunto de trabalhos escultóricos que caminham entre os campos da escultura, microarquitetura e design, estabelecendo referências a certos tipos de projetos de contracultura e estratégias de auto-produção ligadas a locais e épocas diversas. Essa primeira etapa do projeto transita por certas tipologias de mobiliário e escultura (de caráter público e urbano). No contexto do MAC, essas produções estabelecem uma relação específica com a arquitetura modernista e curvilínea do museu desenhado por Niemeyer, bem como com a bela vista do entorno para a Baía de Guanabara. Nessa série de peças, o público não é somente observador. A proposta é que os visitantes possam se aproximar, usar e experimentar as peças, que se configuram ao final como protótipos híbridos entre escultura e design.
A qualidade produtiva dessas obras – cerca de 9 –, segundo o artista “reside na possibilidade dessas atuarem de modo a emancipar o espectador, transformando a passividade em atividade e construções formais em dispositivos acessíveis que possam cumprir um papel tanto estético quanto funcional nos contextos em que estão inseridos”. É importante salientar, porém, que tal emancipação se dá primeiramente no desafio de pensar tais peças ao mesmo tempo como esculturas e objetos funcionais, alterando certas percepções que há sobre os locais e funções da arte no cotidiano. Além disso, os trabalhos carregam um potencial de multiplicação e de reprodutibilidade – configurando aí uma outra centelha “emancipadora” – pois todos são baseados em propostas do-it-yourself de diversos autores do passado, adaptadas por Shwafaty para os contextos atuais. Cada peça assume, então, o status de protótipos que podem ser encarados como dispositivos híbridos que conjugam referências e reflexões sobre forma, reprodução, função, escultura, design, espaço e produção. Tornam-se, cada uma a seu modo, uma espécie de citação (material, histórica, estética e conceitual). Quando colocados em relação uns aos outros, os objetos criam a noção de um parque funcional, cujo espectro de possibilidades e ações oferecem reflexões tanto sobre nossas relações culturais e estéticas com os espaços e objetos, quanto sobre as possibilidades da arte atuar nas escalas das necessidades mais básicas e diárias – como abrigar-se, sentar, apoiar-se, entre outras coisas.
“Esse projeto tem o objetivo de estimular processos de reflexão e experiência artística por meio de contatos com outras áreas, no tocante a questões relativas ao design, sustentabilidade, moradia, arquitetura e práticas colaborativas que incidem tanto na formação de público quanto na inclusão de participantes no processo produtivo cultural e social. A junção de práticas e proposições ligadas à arte, à arquitetura e ao design visam, ao final, criar explorações sobre as potencialidades construtivas de materiais e ideias que se configuram como dispositivos, artefatos e construções, cuja atuação impacta de modo tanto estético quanto funcional na realidade que nos circunda. Assim, essa primeira manifestação do projeto tem como intenção iniciar um processo que não se limita em apenas um trabalho artístico, mas sim em estabelecer um campo experimental, um canteiro de obras como um espaço de criação, experimentação, formação e produção de proposições diversas que pode ser replicado, expandido, transportado e partilhado... essa é uma primeira iteração do projeto dentre outras que pretendo desenvolver, seguindo e expandindo essa mesma lógica”, explica o artista.
Beto Shwafaty é artista e pesquisador. Nascido em 1977, São Paulo, Brasil. Vive e trabalha em São Paulo. Ele esteve envolvido com práticas coletivas, curatoriais e espaciais desde o início da década de 2000, e como resultado, ele desenvolve uma prática baseada em pesquisas sobre espaços, histórias e visualidades na qual procura conectar formalmente e conceitualmente questões políticas, sociais e culturais convergentes ao campo da arte. Participa de exposições no Brasil e no exterior. Beto é representado pela Galeria Luisa Strina (São Paulo), e Prometeogallery (Milão). www.shwafaty.art.br
Rommulo Vieira Conceição na Gestual, Porto Alegre
A Galeria Gestual inaugura no dia 2 de setembro de 2017 a exposição Tudo que é sólido desmancha no ar, de Rommulo Vieira Conceição. Em sua nova individual, o artista apresenta um conjunto de trabalhos inéditos nos quais reflete sobre diversas crises — teóricas, políticas, sociais, econômicas — do mundo contemporâneo.
Realizada em 2017, a série de trabalhos que dá título à mostra é composta por desenhos sobre fotografias impressas em inox. Nas palavras da curadora Bruna Fetter, “despedaçando sólidas estruturas sobre diferentes imagens de céus, Rommulo potencializa a fragmentação de espaços e questiona a validade da perspectiva — interesses recorrentes em seus trabalhos — expondo a fragilidade de estruturas que supostamente deveriam sustentar as crenças a respeito do mundo que nos rodeia. Ao refletir sobre um universo no qual a informação se concentra em algo tão etéreo quanto nuvens, o artista atrita as crenças e as certezas da atualidade retomando questões elaboradas na modernidade e suas respectivas falências”.
Tudo que é sólido desmancha no ar marca da estreia do primeiro vídeo produzido pelo artista. Resultado de um processo iniciado de 2015, “O espaço se torna lugar à medida que me familiarizo com ele” (2017) estará em exibição simultaneamente na Galeria Gestual e na Caixa Cultural, no Rio de Janeiro, com pequenas alterações entre um espaço e outro. Pensado como um vídeo em processo, que seguirá crescendo de acordo com os deslocamentos de Rommulo, o trabalho será composto por vídeos produzidos conforme a coordenada geográfica da exposição na qual estará sendo visto.
Rommulo Vieira Conceição, graduado em geologia (UFBA); Doutor em Ciências (UFRGS) e Mestre em Artes Visuais (UFRGS). Desenvolve seu trabalho em diversos meios: instalação, escultura, desenho, vídeo e fotografia, explorando a percepção do espaço e das relações do homem na contemporaneidade. Nasceu em 1968, em Salvador/Bahia. Começou seus estudos em artes em 1983. Desde 1998 vem realizando individuais, coletivas e residências artísticas no Brasil, Argentina, Austrália, Japão e Finlândia. Em 2006 participou da 3ª Edição do Rumos Itaú Cultural e em 2016 da 10ª Bienal do Mercosul. De 24 de setembro a 15 de abril 2018, participa da importante mostra Axé Bahia: The Power or Art in na Afro-Brazilian Metropolis, no Fowler Museum at UCLA, em Los Angeles. É representado pela Galeria Casa Triângulo de São Paulo e Galeria Gestual de Porto Alegre.
Bruna Fetter é pesquisadora e curadora independente. Possui Doutorado em História, Teoria e Crítica de Arte pela UFRGS.
Adriana Varejão e Paula Rego na Carpintaria, Rio de Janeiro
Exposição na Carpintaria promove diálogo entre as obras de Adriana Varejão e da maior pintora portuguesa em atividade, Paula Rego
Encontro inédito revela as afinidades entre a produção das duas artistas
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Começa no dia 2 de setembro um diálogo instigante entre duas gigantes da pintura. A portuguesa Paula Rego e brasileira Adriana Varejão exibem lado a lado uma seleção de trabalhos na Carpintaria, espaço da Fortes D'Aloia & Gabriel no Rio de Janeiro cuja vocação é promover exercícios amplos de pensamento, estimulando o diálogo entre diferentes autores, formas de expressão ou linguagem. Trata-se de um encontro singular que, como num dueto, permitirá ao público identificar sintonias e singularidades, iluminando ainda mais suas poéticas, seja pelo reconhecimento de afinidades seja pela revelação de contrastes.
Mesmo pertencendo a gerações e continentes distintos, em muitos momentos as duas parecem habitar o mesmo terreno. Visitam com frequência temas da História ou do universo ficcional que revolvem as camadas mais aparentes e desenterram aquilo que há de perverso ou oculto nos mitos e narrativas que usam como ponto de partida. No caso de Paula Rego essa relação com o campo da ficção é ainda mais evidente. Consagrada como a mais importante pintora portuguesa da atualidade e também como um dos grandes nomes da arte inglesa (onde atua desde que se mudou para Londres no início dos anos 1950), ela trabalha sempre em séries, construídas a partir de narrativas de outros autores. Narrativas que ela reconta à sua maneira, recria na forma de uma grande cena teatral, recaindo sempre no lado perverso da história. No caso desta exposição – sua primeira mostra no Rio de Janeiro –, os trabalhos selecionados (quatro telas e um grande móbile) se debruçam sobre dois textos: Primo Basílio, de Eça de Queiroz, e Bastardia, de Hélia Correia.
A relação de Adriana Varejão com o texto é mais sutil, metafórica. Muitas vezes seu interesse é documental, mais próximo da antropologia e da literatura histórica do que da ficção, alimentando-se mais de imagens – as quais recontextualiza criticamente – do que de literatura. Para esta exposição Adriana traz um conjunto de seis obras, pertencentes a duas séries, uma em que dialoga com o trabalho do ceramista português Bordalo Pinheiro e a outra, mais recente, em formato de folhas secas, que só foi mostrada anteriormente, e de forma parcial, em Hong Kong, e que se debruçam sobre temas ousados como o sexo e a amamentação. Essas pinturas retomam uma tradição chinesa de pintura sobre folhas naturais e mesclam diferentes elementos recorrentes na obra de Adriana como o recurso à cerâmica e seu craquelamento, bem como a utilização de um leque amplo de referências, visuais, históricas e simbólicas, recontextualizadas criticamente em ricas paródias.
São raras no Brasil as exposições que colocam frente a frente apenas dois artistas. E com histórias de vida tão distintas. Neste caso, tudo teve início com a grande retrospectiva da obra de Paula Rego que aconteceu na Pinacoteca, em 2011. Desde então a galerista Marcia Fortes idealizava juntar as duas artistas. O encontro foi concretizado em outubro do ano passado, em Londres. E dali brotou naturalmente a ideia da mostra. A seleção de trabalhos foi quase natural, enfatizando a produção mais recente da artista luso-inglesa.
Dentre as obras selecionadas destaca-se um grande móbile, no qual sereias assustadoras parecem fazer uma dança macabra em torno do visitante, e que deve abrir a exposição, juntamente com uma pintura de Adriana de cunho bastante escultórico, na qual se vê uma eclosão de elementos marítimos, com caranguejos e lagostas como que a pular no espaço. "É um diálogo corporificado, explosivo", define Marcia Fortes. “Em vários momentos as duas parecem duelar com o mundo”, acrescenta.
"Eu me coloco totalmente como aprendiz. Acho a Paula uma mestra”, afirma Adriana. E acrescenta: "É muito difícil responder à obra de uma pessoa que você admira tanto”. Esta é uma das razões para a escolha de trabalhos já existentes, em busca dos pontos de contatos entre os trabalhos, como a curiosidade, o fascínio por vezes perverso sobre o papel da mulher no jogo íntimo ou social, ou a forte característica ornamental e a exploração de contrastes típicas da tradição barroca, tão cara às duas artistas. Caberá, no entanto, ao visitante buscar por si mesmo os pontos de aproximação e distanciamento. "É um estudo em aberto e é bacana que o público possa complementar essa leitura”, afirma a galerista.
The Portuguese artist Paula Rego and the Brazilian artist Adriana Varejão show a selection of works side-by-side at Carpintaria, the experimental space of Fortes D’Aloia & Gabriel in Rio de Janeiro, whose aim is to promote wide ranging experiments in thinking, by stimulating the dialogue between authors, forms of expression or languages. This exhibition is a singular meeting, which, like a duet, will allow the public to identify similarities and singularities, further illuminating the artists’ poetics, be it by recognizing their affinities or by revealing their contrasts.
Despite being of different generations and continents, at several moments both artists seem to inhabit the same terrain. They often visit themes from history or from the fictional universe that overturn the most apparent layers and unearth what is perverse or hidden in the myths and narratives they use as a starting point. In Paula Rego’s case this relation to the field of fiction is even more evident. Consecrated as the most important Portuguese painter today and also as one of the great names of English art (where she has been working since she moved to London in the early 1950s), Rego always works in series, built on the narratives of other authors, which she retells in her own way, recreated in the form of a great theatrical scene, always leaning on the perverse side of the story. For this exhibition – her first show in Rio de Janeiro –, the selected works (four canvases and a big mobile) focus on two texts: Primo Basílio, by Eça de Queiroz, and Bastardia, by Hélia Correia.
Adriana Varejão’s relationship with text is more subtle and metaphorical. Her interest is often documentary, closer to anthropology and historical literature than to fiction, and nourished more often by images – which she critically recontextualizes – than by literature. For this exhibition Varejão shows a set of six works, belonging to two series, one which dialogues with the work of the Portuguese ceramist Bordalo Pinheiro and the other, more recent, in the form of dried leaves, which was previously shown only in a partial form in Hong Kong, and that focuses on bold subjects such as sex and breastfeeding. These paintings rework the Chinese tradition of painting on natural leaves and mix different recurring elements in Varejão’s work, such as the reference to ceramics and its surface cracking, as well as the use of a wide range of visual, historical, and symbolic references, critically recontextualized in rich parodies.
Exhibitions that show two artists side-by-side, and with such distinct life stories, are rare in Brazil. In this case, everything began with the great retrospective of Paula Rego’s work that took place at Pinacoteca (São Paulo, 2011). Since then gallerist Márcia Fortes planned to bring the two artists together. The meeting became a reality in October 2016, in London. And from there came the idea of the show. The selection of works was almost natural, emphasizing the most recent production of the Portuguese-English artist.
Among the selected works is a large mobile, in which frightening mermaids seem to make a macabre dance around the visitor, and which will open the exhibition, along with a painting by Varejão that has a very sculptural character, in which there is an eruption of marine elements, with crabs and lobsters as if jumping into space. “It’s an embodied, explosive dialogue,” says Márcia Fortes. “Both seem to duel with the world at different moments,” she adds.
“I see myself totally as an apprentice, I think Paula is a master,” says Adriana, adding: “It is very difficult to respond to the work of a person whom you admire so much.” This is one of the reasons for choosing already existing works; to search for the points of contact between the works, such as curiosity, the sometimes perverse fascination about the role of women in the intimate or social game, or the strong ornamental character and the exploration of contrasts typical of the baroque tradition, so dear to both artists. It will, however, be up to the visitor to seek the points of confluence and of distance. “It’s an open study and it’s nice that the audience can complement this reading,” says the gallerist.
agosto 30, 2017
Coletiva Aã + lançamento da Revista Pomares na FVCB, Viamão
Em setembro, entra em cartaz, na Fundação Vera Chaves Barcellos, a exposição Aã. A àrea externa, que já foi palco de performances e abriga uma obra de Antoni Muntadas, desta vez, será ocupada por diversas obras – algumas delas criadas exclusivamente para a exposição, estabelecendo uma viva interação entre arte e natureza.
Aã, expressão que dá titulo à mostra, refere-se ao equilíbrio de duas partes de uma fórmula. A concisão do título tem dupla função: almeja a ideia de síntese, ao mesmo tempo em que busca justapor, em equilíbrio, partes que parecem inicialmente opostas em um sistema: o peso e a leveza; o acaso e a ação consciente; a paisagem e a propriocepção; a clareza e a indefinição. Esta reflexão parte das indagações do duo de artistas Laura Cattani e Munir Klamt – que assinam como Ío –, ao desempenhar o papel de curadores.
Fotografias, litografias, vídeos, pinturas, objetos e instalações de artistas de diferentes gerações e nacionalidades integram Aã. A mostra articula obras do acervo da FVCB com elementos distintos, como peças trazidas de coleções particulares e museus, agentes do ecossistema que cerca a Fundação (cupins, pássaros), e alguns trabalhos desenvolvidos especialmente para a mostra.
Conforme os integrantes de Ío: “a proposta curatorial de Aã parte do Torus (ou Toro) – uma figura que corresponde a um espaço topológico homeomorfo ao produto de dois círculos, que funciona como se dobrássemos a realidade – como uma lâmina – e tornássemos conectados pontos que em um universo tridimensional fossem afastados. Conceitualmente, o Torus nos permite entender cada obra que compõe a exposição Aã, assim como a própria área em que esta está inserida, como pontos de passagem, alçapões ou trilhas que se conectam no agenciamento das ideias, no escasso uso cromático, na concisão e na pulsão das formas.”.
A curadoria também presta uma referência ao artista norte-americano Gordon Matta-Clark, colocando à disposição do público facsímiles de imagens de seu trabalho Odd Lots, que é conhecido hoje pelo nome de Reality Properties: Fake States.
Ío (Porto Alegre, 2003) é um duo de artistas formado em 2003 por Laura Cattani e Munir Klamt, respectivamente doutoranda e doutor em Poéticas Visuais (UFRGS). Atualmente Munir Klamt ministra aulas na FURG, e Laura Cattani desenvolve sua pesquisa de doutorado na França. A Ío desenvolve trabalhos plásticos com diversos meios, contextos e plataformas, tais como vídeos, instalações, desenho, web art, performance ou fotografia, e vem atuando em curadoria independente. Em sua produção, destacam-se a exposição Aporia, do projeto RS Contemporâneo, vencedora do Prêmio Especial do Júri no IX Prêmio Açorianos de Artes Plásticas; Zede Etes, Destaque em Mídias Tecnológicas do III Prêmio Açorianos; Do Lado de Fora de um Quarto Fechado, premiada como Melhor Exposição no 2º Prêmio IEAVi. Dentre as exposições coletivas: Humanas Interlocuções, na Fundação Vera Chaves Barcellos (RS); Mutatis Mutandis, no Largo das Artes (RJ); Artesul Contemporánea. Centro de Exposiciones Subte, Montevidéu, Uruguai. LINDE, de sua curadoria, na CCMQ (Poa/RS) e Centro Conti (Buenos Aires/Arg), desenvolvido em residência na Sala_Taller III, do EAC (Espacio de Arte Contemporáneo) em Montevidéu. Também recebeu Menção Honrosa nos 1º e 4º Prêmios IEAVI de Incentivo às Artes Visuais e 9 indicações ao Prêmio Açorianos de Artes Plásticas, por exposições, publicações e projetos coletivos.
Lançamento da Revista Pomares
Também no dia 2 de setembro, entre as 11h e 17 horas, acontecerá o lançamento da Revista Pomares, em edição dupla – n° 3 e 4. A publicação bilíngue, (português |espanhol) além de documentar atividades da Fundação entre 2012 e 2013, apresenta reflexões de artistas, críticos, curadores, pesquisadores e professores de reconhecida atuação no campo das artes visuais. Integram também a edição entrevistas inéditas com os artistas Carlos Wladimirsky e Lia Menna Barreto e Vera Chaves Barcellos Um dos destaques é um excerto do texto O livro como forma de arte, do artista espanhol Julio Plaza, seguido de uma reflexão teórica de Adolfo Montejo Navas sobre a obra do artista. O preço promocional de lançamento da Revista será de R$30,00.
Serviço de transporte
No dia da abertura e lançamento, a FVCB disponibilizará transporte gratuito em dois horários: às 11h e às 14h, com saídas em frente ao Theatro São Pedro, Centro Histórico de Porto Alegre. Inscrição prévia: info@fvcb.com | (51) 3228-1445 e (51) 98102-1059.
Programação Paralela
Além das ações do Programa Educativo, com visitas mediadas e oferta do Curso de Formação Continuada em Artes para educadores, a FVCB promoverá uma instigante programação paralela à mostra, com encontros com teóricos, pesquisadores e artistas, em Viamão, Porto Alegre e outras cidades do Estado.
11ª Primavera dos Museus
Integrando a programação nacional da Primavera dos Museus, promovida pelo IBRAM, a FVCB promove no dia 23 de setembro uma visita mediada acompanhada de encontro com artistas da mostra Aã.
Para o evento, a FVCB disponibiliza transporte gratuito POA – Viamão – POA, com saída às 14h em frente ao Theatro São Pedro. As inscrições devem ser feitas por e-mail info@fvcb.com ou pelos telefones: (51) 3228-1445 | (51) 98102 -1059.
Programa Educativo
O primeiro encontro do Curso de Formação Continuada em Artes, programação educativa realizada em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Viamão, será no dia da abertura de Aã, com a presença de Munir Klamt, um dos curadores da mostra. Munir fará uma visita mediada aos educadores inscritos no Curso, às 10 horas, antecedendo a abertura ao grande público.
O Programa Educativo da FVCB promove o Curso de Formação Continuada em Artes, uma programação inteiramente gratuita direcionada a educadores e interessados em conhecer mais sobre o universo das Artes Visuais. O Curso promove encontros paralelos à exposição em cartaz com artistas, teóricos, curadores e arte educadores, qualificando e estimulando o debate em torno da produção artística contemporânea e das questões por ela suscitadas.
agosto 29, 2017
2º Circuito 10 Contemporâneo abre 10 exposições simultâneas, Belo Horizonte
10 Contemporâneo reúne as maiores galerias mineiras em um projeto inovador
Dez importantes galerias mineiras com o mesmo propósito: criar uma agenda comum para dar visibilidade e fortalecer a arte contemporânea. Assim pode ser definido o 10 Contemporâneo que lança, no dia 2 de setembro, seu 2º Circuito com 10 exposições inéditas e simultâneas, em Belo Horizonte. Participam: AM Galeria, Beatriz Abi-Acl, Cícero Mafra, Celma Albuquerque, dotART, Lemos de Sá, Manoel Macedo, Murilo Castro, Orlando Lemos e Quadrum.
Em 2016, em encontros casuais do mercado, houve uma sinergia entre os galeristas que desenharam o projeto e lançaram a primeira edição do Circuito. Desde então, perceberam que juntas eram uma potência. Este ano o 10 Contemporâneo se estruturou e entra no mercado da arte contemporânea com um conceito, um estatuto e força total. Mais que uma associação, trata-se de um movimento espontâneo e colaborativo, que acredita em formação de público e de mercado. A união de expertises, portfólios e contatos traz uma força maior, ideias mais inovadoras. O crescimento de cada um contribui para a excelência do grupo.
No 2º Circuito 10 Contemporâneo, o público terá uma van disponível para visitar as 10 galerias e é convidado a ver, observar, apreciar, questionar e ser questionado. Cada espaço tem uma linha diferente e suas representações, todas relevantes. O objetivo maior é tornar a arte acessível. Aumentar a intimidade das pessoas com as galerias. E quem ganha com isso é o público, que além de ter disponível uma agenda cultural significativa, a cada galeria que visita, percebe as diferenças, características únicas e apura seu olhar pela arte.
O Circuito é o ponto de partida do projeto. Uma agenda de workshops e discussões sobre a arte contemporânea, com presença de importantes artistas e galeristas, está prevista. E um grande evento reunindo as galerias e o público também está em planejamento.
MANIFESTO 10 CONTEMPORÂNEO
Só a arte nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
Parafraseando Oswald de Andrade em seu Manifesto Antropofágico, apresentamos o Manifesto 10 Contemporâneo.
Pela arte. Pela cultura. Pelo olhar de um novo público.
As 10 maiores galerias de arte mineiras: AM Galeria, Beatriz Abi-Acl, C. Mafra, Celma Albuquerque, dotART, Lemos de Sá, Manoel Macedo, Murilo Castro, Orlando Lemos e Quadrum. Juntas em um projeto inovador, que une expertise, portfólios, contatos e diferentes olhares de experientes galeristas.
10 Contemporâneo é vanguarda, atitude, união. É ação, investimento, construção. É integração, força, cultura. 10 contemporâneo é arte!
Pela primeira vez na história, 10 galerias de renome se unem e se tornam uma grande potência no mercado da arte contemporânea do país. O maior acervo e portfólio de artistas, com representatividade em todo o Brasil. Um grande player, que reúne excelência e profissionalismo.
O 10 Contemporâneo tem seu ponto de partida com um circuito de mostras inéditas. Abertas em cada galeria, no mesmo dia e horário, trazem a Belo Horizonte uma importante agenda de exposições.
Mais que promover a cultura, o projeto atua na difusão da arte, na formação de novos públicos, no fomento do mercado.
Voltar os olhos do Brasil a Minas Gerais, mostrar a grande potência que, juntas, essas galerias representam.
Uma agenda de workshops e discussões sobre a arte contemporânea, com presença de importantes artistas e galeristas, está prevista. E um grande evento reunindo as galerias e o público também está em projeto.
Citando novamente Oswald de Andrade, resumimos o 10 Contemporâneo:
A síntese.
O equilíbrio.
A invenção.
Uma nova perspectiva.
Uma nova escala.
PROGRAMAÇÃO DE EXPOSIÇÕES
Trabalhos Recentes - AM Galeria
Disponível até 30 de setembro
A exposição "trabalhos recentes" apresenta os últimos dois anos de produção do pintor Ricardo Homen e mostra séries de pinturas em diversas dimensões além dos objetos que passou a produzir nos últimos meses.
Mariza Trancoso, Seus Anjos, suas Meninas, Figuras e Abstratos –
Galeria Beatriz Abi Acl
Disponível até 30 de setembro
Diplomada pela UFMG com especializações na Bélgica e na França, a artista Mariza Trancoso reúne em seu trabalho características do expressionismo, do moderno e do contemporâneo, estilos que refletem uma obra essencialmente pintura.
Volumetrias – Galeria Celma Albuquerque
Disponível até 30 de setembro
A exposição coletiva Volumetrias apresenta obras dos artistas Beth Jobim, José Bechara, José Bento, Raul Mourão e Waltercio Caldas. O conceito de volumetria na arquitetura pode ser definido como um conjunto de dimensões que determinam o volume de uma construção. Nesta exposição, podemos ver um conjunto de obras/volumes que determinam não só suas próprias dimensões como também reconfiguram e redimensionam o espaço arquitetônico no qual estão inseridos.
Intervenções – Studio Cícero Mafra
Disponível até 02 de outubro
Para a artista plástica Solange Costa, a pintura sempre foi uma vocação, depois aprimorada na Escola de Belas Artes Gran Peña em Madri, onde, aliás, ela passa grande parte do tempo, dedicada às suas produções. As obras apresentadas foram criadas especialmente para essa exposição. São intervenções da artista em óleo sobre fotografias de Cícero Mafra.
Coletiva – dotART Galeria
Disponível até 21 de outubro
Compondo a programação do evento 10 contemporâneo a dotART galeria apresenta as individuais Re-, do artista Barrão, Children’s Corner da artista Renata Egreja e Meu mundo teu do artista Alexandre Sequeira e lança a segunda edição do “Programa Gravura” que terá como convidado o artista carioca Elvis Almeida.
Para o artista o trabalho é um reencontro com essa prática da gravura, uma vez que sua referência para a produção de pinturas veio das gravuras. Esse trabalho que é o resultado de um enorme aprendizado que o artista construiu a partir da pintura.
Célia Euvaldo – Galeria Lemos de Sá
Disponível até 30 de setembro
Célia volta a nos surpreender, suas pinturas despertam um interesse particular para a experiência estética na sua obra. O preto impõe-se com sua presença já conhecida no trabalho e a aguada, em cores tênues, delicadas, diria mesmo, discretas, contrariam a imposição do preto, pela sua delicadeza. Toda uma nova experiência poética surge nesses novos trabalhos de Célia Euvaldo.
José Resende – Manoel Macedo
Disponível até 04 de novembro
A solução clara, elegante, de articulações plásticas tensas e precárias distingue prontamente uma escultura de José Resende. A disparidade de materiais, o recurso a laços, nós e dobras como agentes de sustentação, até a sua posição circunstancial no ambiente, tudo converge para uma configuração positiva que testemunha a maleabilidade inesgotável do espaço, a disponibilidade essencialmente plástica do mundo.
A Convergência do Design e da Arte Contemporânea – Murilo Castro
Disponível até 07 de outubro
O mundo moderno sempre buscou a integração entre a Arte e a Indústria substituindo os antigos ateliês por estúdio de criação coletiva, sintetizados pela Bauhaus que propunha a unidade de todas as artes através de práticas interdisciplinares visando a produção de objetos ao mesmo tempo úteis e belos. Nos últimos tempos tem-se desenvolvido pesquisas sobre o tema e realizado exposições que abordam a relação entre a Arte e o Design no mundo moderno e contemporâneo.
Deneir, um sobrevôo sobre o erudito e o popular – Galeria Orlando Lemos
Disponível até 06 de outubro
Deneir de Souza começou a sua vida artística aos 19 anos, quando frequentou um curso livre de arte. Sua arte é desenhada, sonora, impregnada de sentidos e sensações, emoções e ações, movimento e cor. Ele tudo entrelaça e vai compondo poemas. Ora lúdico, ora crítico, ora poético, Deneir sempre apresenta algo capaz de nos fazer pensar a natureza do mundo material. Ao apanhar desperdícios ele renova sentidos no mundo.
Uma Face Inédita – Quadrum
Disponível até 11 de outubro
Nesta mostra será apresentada uma face inédita da obra do artista paulistano Thomaz Ianelli, composta por objetos e assemblages. Cada trabalho do artista traz a marca de um profundo respeito e o reconhecimento de que o objeto artístico é o resultado de um consórcio entre a mente, o olho, a mão, o plano branco da tela ou do papel, as cores, e a matéria que pode até ser uma sucata de metal, anônima até o momento em que o artista mirou-a.
SERVIÇO
2º Circuito de Arte 10 Contemporâneo
Data: 2 de setembro de 2017
Sobre a van: uma van gratuita fará o circuito entre as 10 galerias a cada 30 minutos.
Informações: www.10contemporaneo.com.br
agosto 28, 2017
Felipe Cohen na Cavalo, Rio de Janeiro
Felipe Cohen abre exposição com 12 trabalhos inéditos no Rio
Felipe Cohen inaugura, em 31 de agosto, sua primeira individual na Cavalo, Luz Partida. A exposição traz 12 trabalhos inéditos do artista paulistano, que partem da sua pesquisa em geometria e desdobram o tema da paisagem em diferentes suportes.
Na galeria, localizada em um antigo casarão em Botafogo, estarão dez pinturas sobre madeira da série ‘Luz partida’, que dá título à exposição. Nessas obras, triângulos de madeira coloridos com tinta acrílica são dispostos como peças em uma estrutura que remete ao tabuleiro de um jogo. Nele, o artista organiza essas peças, criando paisagens minimalistas. Os triângulos de mesma proporção ganham então propriedades de elementos da natureza como mares, montanhas, vales, sol e céu, dependendo da composição, construindo cenários tão precisos quanto etéreos.
Desta vez, o artista se inspira na geografia da cidade do Rio de Janeiro, onde encontrou um forte paralelo com seus próprios cenários.
"Os primeiros trabalhos que fiz tinham alusões a paisagens de marinas e montanhas, e percebi que surgiram situações parecidas com os cenários do Rio. Então comecei a criar essas semelhanças de maneira proposital: a montanha que se encontra com o mar ou que some atrás das nuvens, por exemplo", conta o artista.
Felipe Cohen também é conhecido em seus trabalhos anteriores pelo uso do reflexo como recurso escultórico. Na exposição, podemos observar essa prática no trabalho "Sol na montanha", em que uma vitrine feita de vidro e madeira relaciona duas peças de mármore para formar um horizonte – que pode retratar tanto o momento da aurora quanto o do poente. Nesta escultura, o artista brinca com o reflexo das figuras na lâmina de vidro, que faz as vezes de mar e desmembra a paisagem em duas.
Completado a exposição está uma peça de quase três metros de comprimento que combina dois materiais antagônicos, artifício que Cohen utiliza desde o início de sua carreira. Feltro e vidro são montados em uma das paredes da galeria em recortes similares, formando uma topografia que remete à imagem de um gráfico. A transparência, a rigidez e a frieza do vidro enfrentam a opacidade, a maleabilidade e o calor do feltro, nessa disputa de montanhas e mares e, sobretudo, altos e baixos.
"Me inspirei num desenho de um gráfico que vi no jornal. Era algo sobre desenvolvimento industrial", lembra Cohen, rindo da referência. "Então transformei as linhas do gráfico em topografia".
Aos 40 anos, Felipe Cohen tem um trabalho construído a partir de relações paradoxais: da tensão entre os temas da arte clássica e as práticas contemporâneas; entre materiais nobres e ordinários; entre a abstração geométrica e a representação figurativa.
Artista plástico formado pela Faap, Felipe Cohen, nascido em 1976, realizou mostras individuais e coletivas em importantes espaços como Centro Cultural São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo e Instituto Cultural Itaú. Entre suas principais exposições estão a 8ª e a 11ª Bienal do Mercosul, “Economy of means”, no Scottsdale Museum of Contemporary Art, nos Estados Unidos, e “Imagine Brazil – Artists Books”, que passou por diversas cidades da Europa. Possui trabalhos em importantes coleções, como o Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte do Rio e Scottsdale Museum of Contemporary.
agosto 27, 2017
Imagens da Natureza no Espaço das Artes, São Paulo
A exposição Imagens da Natureza, com curadoria de Hugo Fortes, reúne obras de 28 artistas da Alemanha, Áustria, Estados Unidos, Colômbia e Brasil, que buscam investigar as maneiras contemporâneas de se pensar a natureza através de trabalhos de artes visuais. A exposição faz parte da programação do III Seminário Internacional Arte e Natureza, organizado por Hugo Fortes e pelo Grupo de Pesquisa Imaginatur na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin USP. A exposição ocorre no Espaço das Artes, antigo espaço do MAC Cidade Universitária, que agora pertence à Escola de Comunicações e Artes da USP.
Através de esculturas, pinturas, instalações, vídeos, objetos e performances são discutidos as intrincadas relações entre natureza e cultura, a partir de uma visão não-excludente e multifacetada. Pensadores contemporâneos como Donna Haraway, Giogio Agamben, Jacques Derrida e Michel Serres, entre outros, tem proposto novos paradigmas para a aproximação do homem com o mundo natural, dando atenção maior às continuidades existentes no binômio natureza-cultura do que às rupturas entre esses termos. Estas novas posições, ainda que diferentes entre si, questionam a ideia de uma natureza intocável e incessível à cultura humana, propondo ao invés disso, a necessidade de se buscar parâmetros mais éticos e holísticos na relações entre o homem e a natureza, levando em conta os afetos, simbologias e interdependências mútuas.
A arte, como campo do saber que propõe perguntas, mostra-se um espaço para discussão aberta da relação com o mundo natural de forma sensível e original. É este transformar-se em conjunto com a natureza, fazendo parte dela e questionando a maneira humana de interagir com o mundo que nos cerca, que essa exposição procura investigar.
A exposição ocorre de 30 de agosto a 6 de setembro de 2017, no Espaço das Artes. Na abertura, dia 30 de agosto, às 18:30, haverá apresentação de performances das artistas Síssi Fonseca e Lucimar Bello, além do lançamento de livros de Regina Johas e Neide Jallageas.
Nessia Leonzini lança Coleções de Artistas na Luisa Strina, São Paulo
Obra apresenta coleções de alguns dos principais artistas plásticos brasileiros e interpreta os impactos de cada uma em sua obra
A BEI Editora lançará no próximo dia 29/8 o livro “Coleções de Artistas”, da jornalista e curadora de arte Nessia Leonzini. A obra apresenta as coleções pessoais de alguns dos principais artistas plásticos brasileiros contemporâneos, acompanhadas por textos escritos pelos próprios artistas. O lançamento será realizado na Galeria Luisa Strina, em São Paulo.
Integram a lista Adriana Varejão, Anna Bella Geiger, Antonio Dias, Antonio Manuel, Barrão, Daniel Senise, Iran do Espírito Santo, Jarbas Lopes, Jeanete Musatti, Marcius Galan, Marcos Chaves, Marepe, Miguel Rio Branco, Paulo Bruscky, Rivane Neuenschwander, Rochelle Costi, Rosângela Rennó e Waltercio Caldas.
“A ideia surgiu em 2012, quando vi uma mostra de desenhos do Dan Flavin. O foco da exposição eram os desenhos preparatórios para as esculturas em tubos de luz fluorescente pelas quais Flavin é conhecido, mas ela também incluía sua coleção pessoal de paisagens americanas da Hudson River School, no século XIX. Depois da minha segunda visita, entendi por que Flavin, um ícone do minimalismo, amava tanto essas cenas do passado: o que o atraía era a forma como elas representam a luz. A coleção pessoal do artista oferecia uma entrada única em sua linguagem”, afirma Nessia.
A partir deste olhar, Nessia captou algumas curiosidades. Para muitos artistas a relação entre coleção e trabalho é direta – como para Paulo Bruscky, que recolhe coisas comuns que depois usa em esculturas ou colagens; para outros, a conexão é antagônica, como no caso da artista conceitual Anna Bella Geiger, que tem uma extensa coleção de garrafas de vidro azuis de formas variadas, que vão de um cisne a um rebuscado frasco de perfume, em oposição à rigidez de sua filosofia de trabalho.
Outro ponto é a reciprocidade entre os artistas: alguns deles têm entre suas coleções obras de outros artistas, como Adriana Varejão, Antonio Dias, Antonio Manuel, Daniel Senise, Iran do Espírito Santo, Marcos Chaves e Rivane Neuenschwander, muitos trocam objetos e se presenteiam.
“Esse aspecto de reciprocidade teve grande importância para mim. As transações são motivadas por afeto, gosto e paixão, não pelo valor monetário. Considero essa cumplicidade muito refrescante, um momento zen num mercado impulsionado pelo dinheiro. A prática da troca experimentou um declínio na civilização ocidental, em que a moeda permeia quase tudo. A troca entre artistas preserva não apenas tradições, mas também o valor imparcial e elementar que é inerente aos trabalhos”, completa Nessia.
Nessia Leonzini, jornalista e profissional das artes plásticas, vive em Manhattan. Assina a organização e curadoria de inúmeras exposições nos maiores museus do Brasil e em instituições e galerias de arte em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Nova York. Já estiveram sob sua curadoria exposições de obras de Andy Warhol, Bruce Nauman, Hiroshi Sugimoto, Nan Goldin, Sergio Rodrigues, Roy Lichtenstein e Vik Muniz.
LIVRO COLEÇÕES DE ARTISTAS
1ª Edição
Edição bilíngue | Português e inglês
22,6 x 26,4 cm | 298 páginas | 250 imagens
ISBN | 978-85-7850-148-8
Preço de capa | R$ 90,00
Ricardo Villa na Luciana Caravello, Rio de Janeiro
Luciana Caravello Arte Contemporânea recebe, a partir de 31 de agosto, dois artistas representativos da arte contemporânea brasileira. Nos dois primeiros andares, Ricardo Villa e no terceiro, Mauro Piva, em parceria com a galeria Leme, de São Paulo.
Em Até começar a parecer ordem, primeira exposição individual na galeria Luciana Caravello, Ricardo Villa apresenta sua produção mais recente, resultado de uma pesquisa aprofundada sobre as reflexões de grandes pensadores como Karl Marx e Adam Smith a respeito da estruturação da sociedade a partir de sua organização econômica.
Essa investigação, e o questionamento sobre o papel que cabe ao artista na sociedade capitalista, constituem a matriz conceitual que confere unidade ao conjunto de trabalhos, que utilizam, como é habitual na produção do artista, suportes distintos, neste caso principalmente colagens, recortes e esculturas, usando textos clássicos de teoria econômica e política, bem como cédulas de dinheiro.
A exposição apresenta cerca 50 obras, entre as quais: uma série de desenhos utilizando como linhas trechos de textos; uma série de origamis; uma trama colorida de cédulas de Cruzeiro e Cruzado - onde a ideia da alienação gerada pelo trabalho faz-se ainda mais evidente - e uma instalação, na qual 17 esculturas de pombos (produzidas a partir de resíduos de demolição e concreto) alimentam-se de um capítulo do livro “O Capital”. O título da exposição, “Até começar a parecer ordem”, surge numa das obras da série “Axiomas”, na qual o artista recorta cédulas de cruzeiro, cruzado e dólar.
O texto da exposição é do crítico de arte e curador Jacopo Crivelli Visconti, que descreve o teor das obras da exposição do seguinte modo: “(...) estas obras não foram concebidas com o intuito de oferecer qualquer tipo de resposta, e menos ainda soluções, para a sociedade contemporânea. Silenciosa e rigorosamente, elas buscam cumprir um papel em teoria mais simples, mas de inegável importância nos tempos que vivemos: vigiar, lembrar, apontar para a origem dos desvios que nos afetam cotidianamente”.
Ricardo Villa nasceu em 1982 na cidade de São Paulo onde vive e trabalha. Entre suas principais exposições estão: “São Paulo não é uma cidade, invenções do centro”, Sesc 24 de maio/SP (2017); “Modos de Ver o Brasil: Itaú Cultural 30 anos” (2017), OCA/SP; “Como Atravessar Paredes”, Prêmio CCBB Contemporâneo (individual), CCBB/RJ (2016); ArtePará/PA (2016); “Encontro de Mundos”, Museu de Arte do Rio/RJ (2015); “Falso Movimento” Luciana Caravello Arte Contemporânea/RJ (2014); “Vanitas” Central Galeria de Arte/SP (2011); “Abre-Alas 6”, A Gentil Carioca/RJ (2010) e residência Re:uso JACA Centro de Arte e Tecnologia BH/SA. Suas obras fazem parte das coleções do Itaú Cultural (São Paulo) e do MAR - Museu de Arte do Rio (Rio de Janeiro).
Mauro Piva na Luciana Caravello, Rio de Janeiro
Luciana Caravello Arte Contemporânea recebe, a partir de 31 de agosto, dois artistas representativos da arte contemporânea brasileira. Nos dois primeiros andares, Ricardo Villa e no terceiro, Mauro Piva, em parceria com a galeria Leme, de São Paulo.
No âmbito dos “Projetos especiais” da galeria, Mauro Piva apresenta uma série de aquarelas e pequenas esculturas de madeira.
Os trabalhos desta série de aquarelas, iniciada em 2014, são inspirados nas visitas de joaninhas que o artista frequentemente recebia no seu novo ateliê e rapidamente passaram a fazer parte do seu cotidiano de trabalho. As joaninhas apareciam quase diariamente e caminhavam por todo o pequeno jardim, nos fundos de seu ateliê. Mas um dia elas sumiram por conta de um tratamento que foi feito para as plantas. Mauro, então, começou a pintar a presença das joaninhas, a partir de fotografias que tirava delas nas plantas do jardim e, mais tarde, passou a esculpir e pintar joaninhas, e a espalhar essas pequenas esculturas pelo espaço.
Trata-se de uma série de trabalhos muito pessoal e intimista do artista. “Pensei muito sobre a relação que estabeleci com as joaninhas, e de que como elas agiam quase que como agentes catalizadores de boas energias. Me dei conta de que elas não me traziam sorte ou felicidade, mas me faziam lembrar que eu tinha o poder de me fazer sentir bem, de despertar bons sentimentos que temos dentro da gente”, diz Mauro.
Mauro Piva conta que “além de um resgate de momentos, histórias e emoções, esta série se tornou também uma catalogação das plantas que tenho/tive em meu ambiente de trabalho. Assim como os trabalhos dos meus testes de cores e registros de cores em papéis higiênicos, esta série é um olhar para meu cotidiano de trabalho, para meus processos, para mim mesmo”.
Recentemente, entre 18 de fevereiro e 22 de julho, o Instituto Figueiredo Ferraz (Ribeirão Preto/SP) acolheu algumas obras desta série.
Mauro Piva nasceu no Rio de Janeiro (1977), vive e trabalha em São Paulo. É formado em Artes Plásticas, pela FAAP - Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo. Expõe regularmente no Brasil e no exterior, das suas mostras mais recentes destaca-se: “São Paulo não é uma cidade, invenções do centro”, Sesc 24 de maio/SP (2017), Instituto Figueiredo Ferraz/SP (2017), Galeria Leme/SP (2016), “O grande tufo de ervas . Mauro Piva e Pedro Varela”, Galeria do Lago do Museu da República/RJ (2015), Galería Enrique Guerrero, Cidade do México/México (2014). Possui obras nas coleções do Museu de Arte do Rio/RJ, Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM/SP e Art Center Hugo Voeten, Herentals/Bélgica, entre outras.
agosto 25, 2017
Antonio Manuel na Cassia Bomeny, Rio de Janeiro
Antonio Manuel completa 70 anos de idade, 50 de trajetória e quebra jejum de 13 anos sem expor em uma galeria de arte
Antonio Manuel, um dos mais importantes artistas plásticos brasileiros, inaugura, no próximo dia 29 de agosto, uma exposição individual na Cassia Bomeny Galeria, em Ipanema, com cerca de 15 pinturas inéditas, produzidas em 2016 e 2017. A curadoria é de Franz Manata. O artista, que foi o representante do Brasil na Bienal de Veneza de 2015 e cujas obras integram o acervo de importantes coleções, como MoMA, em Nova York, e Tate Modern, em Londres, não expõe há 13 anos em uma galeria de arte.
Antonio Manuel completa este ano 70 anos de idade e 50 de trajetória e continua ativo, se desafiando. As novas pinturas seguem os traços geométricos, que vem trabalhando há alguns anos, mas há a introdução de texturas em algumas obras, como papel corrugado e tecido, além de recortes em algumas telas, transformando a parede em mais um elemento da pintura. Em algumas obras, ele utiliza também, pela primeira vez, tinta esmalte junto com a tinta acrílica – que sempre usou em suas pinturas –, com a intenção de mesclar o fosco com o brilho.
Conhecido por suas performances inovadoras e instalações interativas, Antonio Manuel sempre teve a pintura presente em sua trajetória. “A pintura surge logo no inicio, na década de 1960, com os guaches sobre papel. Isso foi um passo para a realização de pequenos panos e linhos, onde eu fazia pequenas pinturas. A pintura sobre tela vem mais na década de 1980, com o nascimento dos meus filhos, o que me fez ficar mais em casa e mudar a escala das obras”, conta. Para o artista, não há diferença entre a realização de uma pintura e de uma instalação. “O trabalho intelectual é o mesmo, a essência é a mesma, o que muda é apenas o suporte”, diz.
Antonio Manuel conta que não faz um projeto prévio para as pinturas. “Pinto diretamente na tela, sem uma ideia anterior, pois gosto e acho importante o desafio do dia-a-dia. Se eu fizesse um projeto, a pintura viraria uma mera execução do projeto”, afirma.
O artista sempre dá título aos tabalhos e os nomes surgem ao mesmo tempo em que a obra está sendo criada. “O título vem junto, ele ajuda na realização e no desenvolvimento do trabalho. Ele traz uma mensagem, uma narrativa”, diz.
SOBRE O ARTISTA
Antonio Manuel (Avelãs de Caminha, Portugal, 1947. Vive e trabalha no Rio de Janeiro) é um dos principais nomes ligados ao experimentalismo no Brasil entre o final dos anos 1960 e a década seguinte. O artista instigou o mundo das artes nos anos 1970, representando a liberdade de expressão em suas peças, em plena época da Ditadura Militar.
Dentre suas principais exposições individuais estão a mostra panorâmica no MAM Rio, em 2014; "I want to act, not represent", na Americas Society, em Nova York, em 2011; "Fatos", no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, em 2007; a mostra no Pharos Centre of Contemporary Art, em Chipre, em 2005; no Museu da Chácara do Céu, em 2002; na Fundação Serralves, em Portugal, em 2000; no Jeu de Paume, em Paris, em 1999; no Museu de Arte Contemporânea de Niterói, em 1998; no Centro de Arte Hélio Oiticica, em 1997, entre outras.
Dentre suas principais exposições coletivas estão: “Memories of Underdevelopment”, no Museum of Contemporary Art San Diego, EUA, que será realizada em agosto deste ano; “Calder e a Arte Brasileira, no Itaú Cultural, São Paulo; “Transparência e Reflexo”, no MuBE e “Portugal/ Portugueses”, no Museu Afro Brasil, ambas em São Paulo, em 2016; “Em Polvorosa”, no MAM Rio, em 2016; “É tanta coisa que não cabe aqui”, no Pavilhão Brasileiro da 56ª Bienal de Veneza, na Itália, “International Pop, no Dallas Museum e no Walker Art Center, ambas em 2015; “Possibilities of The Object: Experiments in Modern and Contemporary Brazilian Art, no Fruitmarket Gallery, em Edimburgo, na Escócia, em 2015; “America Latina 1960 – 2013”, na Fundação Cartier, na França, em 2014; "30 × Bienal - Transformações na arte brasileira da 1ª à 30ª edição", na Fundação Bienal de São Paulo, em 2013; "Arte de contradicciones. Pop, realismos y política. Brasil – Argentina 1960", na Fundación PROA, em Buenos Aires, "Play With Me: Interactive Installations", no Molaa Museum of Latin American Art, na Califórnia, e "Tercera Trienal Poli/Grafica de San Juan", Trienal Poli/Grafica de San Juan, ambas em 2012; "Performa 11", em Nova York, e "A Rua", no MuHKA Museum voor Hedendaagse Kunst Antwerpen, em Auérpia, ambas em 2011; "29° Bienal de São Paulo", em 2010; "Art Vida: Action by Artists of the Americas, 1960 – 2000", no Museo Del Barrio, em Nova York, em 2008; "Arte como questão – Anos 70", no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, em 2007; "Espaço Aberto/Espaço Fechado – sites for sculpture in modern Brazil", no Henry, em Leeds, na Inglaterra e "É HOJE na arte brasileira contemporânea", no Santander Cultural, em Porto Alegre, ambas em 2007; "5th Mercosul Biennial", em Porto Alegre, e "L'Art Contemporain Brésilien dans sa diversité", no Carreau du Temple, em Paris, ambas em 2005; "Beyond Geometry; Experiments in Form. 1940-70's", em Los Angeles Museum of Art e Miami Art Museum, e "Inverted Utopias", Museum of Fine Arts Houston, ambas nos EUA, em 2004; "Caminhos do Contemporâneo 1952-2002", no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, em 2002; "Brazil: Body and Soul", no Guggenheim Museum, em Nova York, e "Experiment: art in Brazil 1958-2000", no Museum of Modern Art, em Oxford, Londres, ambas em 2001; entre outras.
Produziu cinco filmes de curta-metragem: "By Antonio" (1972); "Loucura & Cultura" (1973), premiado no 3º Festival de Curta-Metragem do Jornal do Brasil, em 1973; "Semi-Ótica" (1975), vencedor do prêmio de melhor filme socioantropológico na 5ª Jornada Brasileira de Curta-Metragem de Salvador, em 1975; "Uma Parada" e "Arte Hoje" (1976).
Possui obras em importantes coleções públicas, no Brasil e no exterior, como no MoMA, em Nova York, na Tate Modern, em Londres, na Fundação Serralves, em Portugal, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, no Museu de Arte Contemporânea de Niterói, entre outros.
SOBRE A GALERIA
Cassia Bomeny Galeria (antiga Um Galeria) foi inaugurada em dezembro de 2015, com o objetivo de apresentar arte contemporânea, expondo artistas brasileiros e internacionais. A galeria trabalha em parceria com curadores convidados, procurando elaborar um programa de exposições diversificado. Tendo como característica principal oferecer obras únicas, associadas a obras múltiplas, sobretudo quando reforçarem seu sentido e sua compreensão. Explorando vários suportes – gravura, objetos tridimensionais, escultura, fotografia e videoarte.
Com esse princípio, a galeria estimula a expansão do colecionismo, com base em condições de aquisição, bastante favoráveis ao público. Viabilizando o acesso às obras de artistas consagrados, aproximando-se e alcançando um novo público de colecionadores em potencial. A galeria também abre suas portas para parcerias internacionais, com o desejo de expandir seu público, atingindo um novo apreciador de arte contemporânea, estimulando o intercâmbio artístico do Brasil com o mundo.
agosto 24, 2017
Constelar no Pró-Saber, Rio de Janeiro
Exposição “Constelar” inaugura a festa pelos 30 anos do Pró-Saber
Programação gratuita terá mostra de arte contemporânea, shows, concertos e palestras
De 26 de agosto a 3 de setembro, o Pró-Saber abrirá as portas para comemorar 30 anos de trabalho pela educação. Serão nove dias de programação, com música popular e clássica, palestras e, como centro da festa, a exposição Constelar, que ocupará todos os espaços da sede do Pró-Saber. São 19 artistas, que estão entre os nomes mais expressivos da arte contemporânea brasileira.
Com curadoria de Marcelo Campos e Leila Scaf, a exposição vai refletir o espírito do Pró-Saber, no qual a Arte e a Filosofia ocupam papel central na formação de professores. “Constelar” – um verbo inventado - refere-se ao programa que sintetiza uma filosofia de ação na qual professores, alunos, ex-alunos e profissionais de outras instituições trabalham permanentemente em rede, para formar uma constelação de ideias com potencial de transformação. A proposta é que a exposição amplie essa constelação através das obras de arte ali reunidas.
Logo na entrada, um grande painel vai traçar um panorama das ações do Pró-Saber nas últimas três décadas. Nele, a fundadora da instituição, Maria Cecilia Almeida e Silva, diz que o Pró-Saber é “um espaço, um território voltado para o resgate da utopia educacional. Nosso interesse é experimentar alternativas teóricas e práticas que possam elaborar respostas a tantos desafios que se apresentam no caminho da educação.”
Os trabalhos estarão distribuídos pelos diversos ambientes do Pró-Saber. Ana Miguel convida a sonhar, com travesseiros que declaram amor. Carolina Ponte comparece com um de seus crochês multicoloridos, que integram uma prática popular à produção artística contemporânea. Cadu traz um trem de ferro que circula numa paisagem inusitada.
-- São visões, sensações e vivências em que 19 artistas e infinitas histórias ocupam a casa, num convite para entrar, conhecer e experimentar”, diz Marcelo Campos.
Os demais artistas convidados são: Afonso Tostes, Anna Linnemann, Barrão, Brígida Baltar, Camille Kachani, Gê Orthof, Jarbas Lopes, José Bento, Maria Laet, Pedro Varela e, do Atelier Gaia, Arlindo, Clóvis, Leonardo Lobão, Luiz Marques, Patricia Ruth, e Pedro Motta.
De segunda a sexta-feira, haverá palestras à noite, sempre às 19h. A programação abre com a jornalista e escritora Rosiska Darcy de Oliveira, em palestra intitulada “Pró-Saber... o quê?”; na terça, o teólogo e escritor Frei Betto falará sobre “Educação e espiritualidade”; quarta é a vez do psicanalista Joel Birman; quinta, “Cecília Meireles: poesia e educação” será o tema de Margarida Souza Neves. O filósofo Tomás Prado fecha a semana com a palestra “Distopia e lugares extraordinários”.
A música também estará presente, com shows dos grupos “Choro da Glória” e “Filhos do Samba”, uma apresentação do cantor e compositor Billy Blanco Jr, e dois concertos de orquestras formadas pela Ação Social pela Música do Brasil. Durante toda a semana, haverá visitas guiadas e atividades para crianças e adultos. Um café vai funcionar como ponto de encontro e confraternização.
Veja a programação completa: www.prosaber.org.br/30anos
Sobre os curadores
Leila Scaf é arquiteta, e foi responsável por exposições como Debret e o Rio de Janeiro, no Centro Cultural dos Correios e Antônio Dias – O País inventado, no MAM-RJ.
Marcelo Campos é professor de História da Arte na UERJ, onde dirige o Departamento Cultural, responsável pela curadoria de exposições como “Orixás” (Casa França-Brasil)“ e “A Cor do Brasil”, com Paulo Herkenhoff, no Museu de Arte do Rio, e autor de “Escultura Contemporânea no Brasil”.
Sobre o Pró-Saber:
O Pró-Saber começou em 1987, como Centro de Estudos e Atendimento Psicopedagógico. Em 2004, foi autorizado pelo MEC a abrir o Instituto Superior de Educação, que forma professores que trabalham em creches e escolas públicas de Educação Infantil situadas em comunidades de baixa renda do Rio de Janeiro. Desde 2004, formaram-se ali 380 professores, cujo trabalho beneficiou e beneficia, direta e indiretamente, cerca de 24 mil pessoas, entre crianças, professores e profissionais de educação infantil em 133 creches de 67 comunidades.
Além do Atendimento Psicopedagógico e da Graduação de professores de Educação Infantil, o Pró-Saber oferece cursos de Pós-Graduação Lato Sensu em Psicopedagogia; e cursos de extensão nas áreas de Psicopedagogia, Arte, Filosofia, Educação e Psicanálise.
Seguindo sua proposta de reflexão continuada, o Pró-Saber promove seminários em forma de Laboratórios de Pensamento para instituições de ensino públicas e privadas, visando ampliar o debate sobre os desafios contemporâneos da Educação.
Saiba mais sobre o Pró-Saber em: www.prosaber.org.br
James Kudo na Murilo Castro, Belo Horizonte
O artista além de apresentar sua mais recente produção de pinturas ocupa uma sala inteira com a instalação site specific “puxadinho” de mais de 9 metros de comprimento
O conceito do trabalho de James Kudo está relacionado à necessidade humana de ter a natureza ao seu redor, mesmo que esta natureza seja fabricada pelo próprio homem.
Em Mimético Sintético, junto a fórmicas que mimetizam madeiras e fragmentos de memória traduzidos em elementos naturais (imagens pictóricas que são constantes em seu trabalho), James apresenta padronagens de camuflagem.
O sintético é representado também pela utilização de cores que não provêm de pigmentos naturais, como cores fluorescentes desenvolvidas artificialmente, inseridas no trabalho como afirmação do momento atual.
A primeira sala de exposição da Galeria será ocupada com uma instalação de mais de 9 metros denominada “Puxadinho”.
A definição do “puxadinho”, no termo popular é uma extensão ou anexo residencial, normalmente ocorre quando há uma área adequada unidos com a necessidade de expandir o cômodo.
A instalação ocorre sem uma idéia pré determinada, sem esboço ou planejamento, executando no momento da definição do espaço.
Os materiais usados são adesivos plásticos de várias texturas e tonalidades que plagiam madeira e são recortados e colados sobre as paredes e pisos.
O espaço é oferecido e não escolhido.
Pensar no espaço e se apropriar das incertezas fazem parte do conceito dessa instalação. As dúvidas, as imperfeições das superfícies sugerem idéias que são solucionadas no momento.
agosto 23, 2017
Fernanda Grigolin no MIS, Campinas
Artista investiga a primeira grande greve no período republicano do Brasil, que completa cem anos
Fernanda Grigolin traz ao público trabalhos de arte contemporânea tendo como base a primeira grande greve de trabalhadores no país
No dia 24 de agosto às 18 horas, O Museu da Imagem e do Som de Campinas recebe a exposição Arquivo 17, de Fernanda Grigolin. Arquivo 17 contempla dezessete trabalhos que serão expostos entre 24 de agosto e 10 de setembro e prevê a fomentação de debate com especialistas e três visitas guiadas para estudantes e moradores de cidades vizinhas. O horário de funcionamento da exposição será sempre das 18h às 22h.
Ao longo de 20 anos, a artista Fernanda Grigolin tem colecionado histórias sobre a Greve de 1917, que agora completa cem anos. A partir de uma série de trabalhos e uma exposição, o universo das pessoas trabalhadoras no Brasil no início do século XX será apresentado ao público. O projeto conta com o apoio do Proac (Secretaria de Cultura de São Paulo). A abertura será acompanhada de um bate-papo com a artista juntamente com o fotógrafo paraense Mariano Klautau e a curadora e pesquisadora Regina Melim, sob mediação da curadora da exposição, Paola Fabres.
Os visitantes também poderão apreciar fotografias, mapas e vídeos e um livro de artista feito de clichês fotográficos e tipografia. O acesso às fontes primárias pertencentes à coleção Edgard Leuenroth do Arquivo Edgard Leuenroth (AEL – IFCH/UNICAMP) permitiu que Grigolin estudasse técnicas e métodos de impressão de cem anos atrás, compreendendo como eram construídos e realizados os materiais impressos pelos anarquistas. De acordo com a curadora Paola Fabres, o livro de artista é um exercício de liberdade. “Emancipadas, as imagens ocupam livremente o espaço da folha. Se deslocam e se alastram, invadem fronteiras e ativam as bordas, juntas ou separadas, aceitando suas próprias existências a partir da conjuntura coletiva e individual. A liberdade é quem rege essa dinâmica e é quem ativa no impresso um conceito constituinte de autonomia e autenticidade.” O Livro de artista será exibido em uma mesa construída especialmente para ele.
Na parede haverá também uma estante de 14 edições fac-símiles de livros anarquistas, escritos entre 1900 e 1950. A biblioteca também é uma apropriação da Coleção Edgard Leuenroth (AEL – IFCH/UNICAMP) e foram escolhidos livros de ativistas e teóricos anarquistas do século passado, em especial as mulheres, como Emma Goldman e Maria Lacerda de Moura.
Foi também no acervo da Universidade Estadual de Campinas que Fernanda teve acesso ao jornal A Plebe: um periódico criado para difundir os ideais anarquistas e um dos veículos de ação direta da própria Greve de 1917. Uma das edições de A Plebe, inclusive, a artista reproduziu, e vem juntamente com o Jornal de Borda, periódico de arte contemporânea que Fernanda idealiza e edita em tiragem de 5 mil exemplares. No site do projeto já está disponível uma prévia de cada um dos trabalhos: www.arquivo17.com
Sobre Arquivo 17
Arquivo 17 é um projeto de artes visuais idealizado pela artista Fernanda Grigolin, que parte do seu levantamento de pesquisa e documentação sobre o universo das pessoas trabalhadoras no Brasil no início do século XX, passando pela Primeira Grande Greve Operária, ocorrida no ano de 1917. Uma mulher (a mulher do canto esquerdo do quadro), apontada pela artista nos registros acolhidos, é a narradora do projeto que expressa sua subjetividade por meio de um arquivo: fatos históricos são convertidos em vivências interiores.
Para a construção da narrativa, Fernanda se debruça no imaginário dos ativistas anarquistas do passado e, com o olhar de hoje, aproxima as lutas pela vida com as reverberações sociais atuais, 100 anos depois. Arquivo 17 contempla dezessete trabalhos que serão expostos na cidade de Campinas, no Museu da Imagem e do Som, e prevê ainda a circulação de obras e a fomentação de debate.
O processo de construção das obras pode ser acompanhado no site: www.arquivo17.com
Sobre Fernanda Grigolin
Nascida em Curitiba, em 1980, mas criada desde a infância em São Paulo no bairro do Ipiranga. Fernanda é artista visual, editora e pesquisadora doutoranda em Artes Visuais na Unicamp. Por dez anos, foi ativista de movimentos sociais no Brasil e na América Latina. Possui especialização em Direitos Humanos (USP) e é mestra em artes visuais na UNICAMP. Já participou de festivais e exposições no Brasil e no exterior. Recebeu os seguintes prêmios: Funarte Marc Ferrez de Fotografia (2012), Proac Livro de Artista (2014), Proac Publicações (2015) e Proac Artes Visuais (2016). Realiza os projetos Tenda de Livros (www.tendadelivros.org) e Jornal de Borda (www.tendadelivros.org/jornaldeborda). Atualmente vive e trabalha em Campinas (SP).
Abertura, visitas e serviço de vans
Abertura da exposição com Bate-papo com Fernanda Grigolin, Regina Melim e Mariano Klautau, mediação de Paola Fabres
24 de agosto, quinta-feira, das 18h às 22h
Visita guiada para estudantes do EJA
25 de agosto, sexta-feira, das 18h às 22h
Visita guiada, com vans vindo de São Paulo, Piracicaba e Limeira
26 de agosto, sábado, das 18h às 22h
Visita guiada de encerramento, com Bate-papo com Christina Lopreato, Fernanda Grigolin, Fernando de Tacca e Samanta Colhado
9 de setembro, sábado, das 18h às 22h
Informações: Paula Monterrey (19-99118-0337)
Site: www.arquivo17.com
Sandro Ka no MARGS, Porto Alegre
Dia 24 de agosto, a partir das 19h, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul abre a mostra Sandro Ka – Tanto barulho por nada. A exposição individual do artista apresenta cerca de 30 obras inéditas que traduzem seu repertório criativo: um universo temático e processual marcado pela presença de objetos e imagens advindos da cultura popular e da indústria cultural. Ana Albani de Carvalho assina curadoria e Carlos Trevi oferece seu olhar para apresentar o artista.
Com uma trajetória que inclui diversas exposições e premiação, Sandro Ka lança mão da apropriação como procedimento operatório central, tendo a ironia como figura de linguagem. Em seus trabalhos, a imaginação infantil, a religiosidade e a citação de ícones da historiografia da arte e da cultua pop são temas convocados como referências explícitas para questionar sistemas de crença, posições políticas, tradições e comportamentos.
Segundo Ana Albani, “na arte contemporânea, diferentes propostas jogam com o humor e a ironia como estratégias para atiçar a brasa do pensamento crítico, seja no espectador, seja na instituição que acolhe a obra e a exposição. Em tanto barulho por nada, Sandro Ka lança mão dessa poderosa ferramenta e propõe jogos de montagens que, propositalmente, ferem as regras estéticas do “bom-gosto” e as definições convencionais para o que entendemos como “obra de arte.”
Trevi afirma que “interessa ao artista o estabelecimento de relações entre elementos advindos de contextos distintos com a intenção de estabelecer novas possibilidades de leitura. Essa re-significação é proposta no campo da produção de novos sentidos, agregando valores simbólicos e de status a elementos cotidianos em inusitadas articulações”.
Sandro Ka (Porto Alegre/RS, 1981). Vive e trabalha em Porto Alegre/RS. Artista visual, designer gráfico e agente cultural. Doutorando e mestre em Artes Visuais pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e bacharel em Artes Plásticas - Desenho pelo Instituto de Artes da UFRGS. Desde 2003, realiza exposições individuais e participa de exposições coletivas em vários estados brasileiros, desenvolvendo produções nos campos da Escultura, Desenho e Intervenção Urbana, dentre as quais se destacam a ação urbana Piscina (Praça da Alfândega, Porto Alegre, RS, 2015), as exposições individuais Sorria! Você está Sendo Abençoado (Centro Cultural Ordovás, Caxias do Sul, RS, 2014), Deixa Estar (MACRS, Porto Alegre, RS, 2013) e Relações Ordinárias (Paço Municipal, Porto Alegre, RS, 2008) e as coletivas Queermuseu: Cartografias da diferença na arte brasileira (Santander Cultural, Porto Alegre, RS, 2017), Mostra SESC Cariri de Culturas (Juazeiro do Norte, CE, 2014 e 2015), O Triunfo do Contemporâneo (Santander Cultural, Porto Alegre, RS, 2012), Labirintos da Iconografia (MARGS, Porto Alegre, RS, 2011), Pixel: Unidade da Ideia (SESC, Aracaju, SE, 2009), 18º Salão da Câmara (Câmara Municipal, Porto Alegre, RS, 2008), 19º Salão Jovem Artista (MARGS, Porto Alegre, RS, 2006) e VIII Bienal do Recôncavo Baiano (Centro Cultural Dannemann, São Félix, BA, 2006), Pequenos Diálogos, entre outras. Indicado ao Prêmio Açorianos de Artes Plásticas nas categorias Destaque em Escultura (2009 e 2014) e na categoria Projeto Alternativo de Produção Plástica (2015), foi vencedor na categoria Destaque em Textos, Catálogos e Livros Publicados com a publicação Relações Ordinárias: Livro-Objeto de desejo (2009).
agosto 21, 2017
Ana Calzavara lança o livro com bate-papo na Livraria da Vila, São Paulo
Publicação da Edusp traz desdobramento da pesquisa de doutorado da artista, que faz bate-papo com Fabrício Lopez no evento
Artista que transita entre várias técnicas, como gravura, pintura, desenho e fotografia, a paulista Ana Calzavara lança o livro Entremeios no dia 22 de agosto (terça-feira), na Livraria da Vila - Fradique. A partir das 18h30, a pintora conversa sobre seu livro e seu trabalho com Fabrício Lopez e, em seguida, autografa os exemplares.
A publicação que sai pela Edusp é desdobramento de sua pesquisa de doutorado em Poéticas Visuais pela ECA-USP e traz textos seus, de Claudio Mubarac, Cauê Alves e Alberto Martins, além de entrevista concedida a Fabrício Lopez no ano de 2014. O livro privilegia as imagens como narradoras eloquentes de uma prática artística que se define pela conceituação clara e por sua potência visual. De quebra, Entremeios abre caminho para a próxima individual da artista em sua nova galeria, Virgílio, em outubro.
Durante o doutorado, Calzavara debruçou-se sobre o próprio trabalho para refletir sobre seus percursos e escolhas ao longo da carreira de 23 anos. Dividido em três partes, o livro faz uma revisão não cronológica dessa trajetória. No primeiro segmento, delineia-se a gênese dos elementos característicos de seu trabalho, evidenciando temas e influências iniciais por meio das obras.
Na segunda parte, decupam-se vertentes da produção da artista, divididas em séries de técnicas e assuntos variados, como sugere o título do livro. Dentre eles a fluidez da água, estradas e caminhos em movimento, a geometria aplicada à paisagem pela arquitetura (muitas vezes precarizada) e os reflexos e duplos, produzidos por uma poça d’água, uma janela, um espelho. Em comum, todas convergem para noções de fluxo (temporal ou geográfico), imprevisibilidade e impermanência. No universo de Ana Calzavara, nada é definitivo ou completamente definido. Tudo se constroi pela soma de elementos que se clivam, sobrepõem ou dividem, constituindo um território difuso, onde os limites quase sempre não são claros.
A última parte do livro é dedicada ao recorte de sua produção abarcado na exposição Pequenos Erros sem Importância (Gravura Brasileira, 2014). Como o nome já indica, a série de trabalhos agrupados nesse segmento consiste em fotografias e gravuras onde o que é falho ou inesperado é incorporado deliberadamente como constitutivo das imagens, tornando-se um recurso expressivo em torno do qual a atual produção da artista permanece em contato.
Masao Yamamoto no MON, Curitiba
O Museu Oscar Niemeyer (MON) exibe, a partir do dia 22 de agosto, o trabalho do artista japonês Masao Yamamoto, em sua primeira exposição individual em Curitiba: O Sensei das Imagens Pequenas. A mostra reúne três séries fotográficas distintas: “A Box of Ku”, “Nakazora” e “Kawa=Flow”, produzidas entre 1989 e 2016. A curadoria é de Agnaldo Farias e Marcelo Guarnieri.
Além das paredes da sala expositiva do museu, onde estará a maioria das obras de Yamamoto, também integram a exposição cinco caixas-poemas e dois livros-sanfona. O artista entende ambos os formatos também como espaços expositivos, que possuem uma dinâmica própria, onde fica evidente a dimensão material da fotografia - nas imperfeições das bordas do papel - e de seu caráter intimista. Masao Yamamoto vive e trabalha em Gamagori, no Japão.
Para o secretário de Estado da Cultura, João Luiz Fiani, Yamamoto faz da fotografia uma poesia. “Quem for apreciar essa exposição poderá conferir de perto a sensibilidade e a criatividade deste artista. Aquilo que seria um detalhe quase imperceptível se transforma em arte aos olhos”, comentou.
A diretora-presidente do Museu Oscar Niemeyer, Juliana Vosnika, fala sobre a importância de a instituição sediar a primeira exposição do fotógrafo japonês em Curitiba. “O MON tem a preocupação contínua de manter um rol diversificado de exibições, que contemple as várias manifestações culturais”, comenta. Segundo Juliana, a oportunidade de apreciar a arte oriental, em especial a japonesa, é muito valorizada pelo público do MON. “Nossos visitantes sempre prestigiam as mostras desses artistas”.
Uma das características no trabalho de Yamamoto é a escala diminuta da maior parte de suas fotografias, o que reflete seu interesse pelas miudezas e detalhes, por aquilo que cabe na palma da mão, que precisa ser olhado com calma e atenção.
“O Sensei das Imagens Pequenas não se ocupa de situações objetos e seres familiares, apenas”, diz o curador do MON e um dos curadores da mostra, Agnaldo Farias. “Ocupa-se também da relação entre eles, da intrincada relação entre eles e a luz, entre eles e os formatos escolhidos para as fotos, entre eles e sua relação com seus pontos de vista inquietos, cambiantes, surpreendentes”.
A mostra fica em cartaz até o dia 22 de outubro de 2017 e os ingressos custam R$ 16 e R$ 8 (meia-entrada). Maiores de 60 anos e menores de 12 anos têm entrada franca.
Los Carpinteros no MON, Curitiba
O Museu Oscar Niemeyer (MON) traz no dia 22 de agosto, terça, às 19h, a mostra Los Carpinteros: Objeto Vital. São obras produzidas com a utilização criativa da arquitetura, da escultura e do design, por um dos coletivos de arte mais aclamados da atualidade.
Os cubanos Marco Castillo e Dagoberto Rodríguez – Los Carpinteros – são conhecidos pelo forte apelo social das obras e pela crítica ácida, sagaz e bem-humorada.
O secretário de Estado da Cultura João Luiz Fiani diz que é uma grande felicidade abrir essa exposição no Museu Oscar Niemeyer. “Dois cubanos geniais, grandes nomes mundiais das artes visuais, que trazem esta exposição que fala sobre arquitetura, design, escultura, com uma criatividade impressionante. Aproveito para parabenizar a direção do MON, bem como a curadoria”, afirma.
A diretora-presidente do Museu Oscar Niemeyer, Juliana Vosnika, ressalta a qualidade da mostra. “A mostra Los Carpinteros – Objeto Vital exemplifica a alta qualidade das nossas exposições temporárias, cuja seleção privilegia produções paradigmáticas, sejam elas referências históricas ou pesquisas experimentais em pleno curso”, analisa.
Com curadoria de Rodolfo de Athayde, a exposição ocupará duas salas do MON, com mais de 60 obras: desenhos, aquarelas, esculturas, instalações e vídeos. O público poderá acompanhar todas as fases do coletivo, desde a década de 1990 até obras inéditas, feitas especialmente para a exposição no Brasil, a partir de ideias e desenhos anteriores.
“O objeto será o protagonista desta exposição, forçado a uma constante metamorfose pela ideia artística: imaginado em desenhos, projetado e testado nas maquetes tridimensionais ou alcançando sua vitalidade máxima como utopia realizada nas grandes instalações”, descreve Athayde.
A exposição Los Carpinteros – Objeto Vital tem como patrocinador máster a Sanepar e apoio institucional do Banco do Brasil. O MON – maior museu de arte da América Latina – completa 15 anos em 22 de novembro de 2017 e se consolida como um dos mais importantes museus do Brasil e do mundo. Realizou neste período mais de 300 exposições e a cada ano se supera em programação, mostras e conteúdo.
A mostra fica em cartaz até o dia 3 de dezembro e a visitação pode ser feita de terça a domingo das 10h às 18h. Maiores de 60 e menores de 12 anos têm entrada franca todos os dias.
Estrutura da mostra
A mostra será apresentada em três blocos:
Objeto de Ofício - Segmento dedicado ao primeiro período, determinado pela manufatura artesanal de objetos inspirados pelas vivências do cotidiano e o uso intensivo da aquarela como parte do processo de visualização da ideia inicial da obra. Os trabalhos são fruto da intensa troca criativa ocorrida durante o período da formação dos artistas, no Instituto Superior de Arte em Havana. Naturalmente, também refletem o contexto cubano dos anos 1990, em franca crise econômica.
Objeto Possuído - Apresenta o momento em que o trabalho de Los Carpinteros começa a ganhar representatividade em importantes coleções no mundo com obras que, para além das problemáticas especificamente cubanas, falam de questões existenciais universais.
Espaço-Objeto - Neste núcleo é dedicada atenção especial à arquitetura e às estruturas, temáticas constantes na obra dos artistas, que reiteradamente selecionam referências do entorno urbano para subvertê-las, ao alterar contexto e funcionalidade. Esse diálogo, característico do trabalho de Los Carpinteros, permeia toda a exposição e terá neste segmento um espaço reservado.
Sobre Los Carpinteros
Fundado em 1992, o coletivo reunia Marco Castillo, Alexandre Arrechea e Dagoberto Rodriguez, graduados pelo Instituto Superior de Arte de Havana. O nome foi atribuído aos artistas por alguns de seus colegas, em virtude da empatia com o material trabalhado e com o ofício que foi resgatado como estratégia estética. Em 2003, Alexandre Arrechea deixou o grupo e Marco e Dagoberto deram continuidade ao trabalho.
Los Carpinteros já expuseram em alguns dos maiores museus do mundo, como o MoMA e o Guggenheim em Nova Iorque, o Museum of Contemporary Art em Los Angeles e a TATE Gallery, em Londres. Já passaram também pelo México, Japão, França, Suíça, entre outros países. Os dois artistas que hoje compõem Los Carpinteros vivem e trabalham entre a capital cubana e Madri, na Espanha.
Alexandre Sequeira + Barrão + Renata Egreja na dotART, Belo Horizonte
Impulsionados pela força que nos leva a pensar, refletir, temer, ver, ouvir, falar, imaginar, sentir e criar, a dotART galeria inaugura sua nova coletiva, no dia 22 de agosto: Re-, do artista Barrão; Children’s Corner, de Renata Egreja e na Sala Pensando, Meu mundo teu, de Alexandre Sequeira.
Com curadoria de Wilson Lazaro, diretor artístico da galeria, o espaço de arte abre suas portas e coloca em evidência o que precisa ganhar relevo: as expressões artísticas em diferentes suportes, impassíveis diante da contemplação humana, envoltas em suas próprias existências.
São esculturas e aquarelas de Barrão, com trabalhos inéditos, instalados na galeria 1; pinturas e aquarelas da Renata Egreja, na galeria 2 e um trabalho de antropologia social, com pitadas de poesia e emoções assinado por Alexandre Sequeira, na Sala Pensando.
Re - Barrão
A exposição de Barrão reúne obras em gesso e resina na cor branca, moldadas de objetos do cotidiano. Desde 2013, o artista passou a se interessar em explorar as fronteiras das esculturas de uma maneira diversa da usada em seu conhecido trabalho com louça, em que encontrava bibelôs, partia e colava pedaços, criando figuras híbridas.
Decidiu usar o gesso, que alterou seu processo de criação. O artista fez moldes de objetos cotidianos de diferentes materiais – como vidro, plástico, metal, madeira e até mesmo comida – para criar suas esculturas de formas híbridas, todas com uma aparência uniforme ao final, brancas. Para a exposição “Re-“, na dotART, Barrão preparou, ainda, aquarelas inéditas e duas novas esculturas.
Children’s Corner – Renata Egreja
As pinturas de Renata Egreja recebem impulsos energéticos ritmados pela dança. Inspirado pela natureza seu trabalho traduz as formas das flores, bulbos e folhas, a utilização do decalque e de máscaras servem, sobretudo para delimitar essa paisagem exuberante e sensual.
“Minha pintura é de contemplação e movimento. Daí a relação com a musicalidade. As relações de luz (solar) que aparecem numa pintura circulando no espaço e tempo, uma pintura que parece apresentar dois tempos”, explica a artista.
Meu mundo teu - Alexandre Sequeira
Este trabalho de Alexandre Sequeira registra o documento de um encontro entre o fotógrafo e dois personagens: Jefferson Oliveira - morador da ilha do Combú, e Tayana Wanzeler - residente no bairro do Guamá. Uma história construída com parceria, afeto e, acima de tudo, reconhecimento do outro como verdadeiro coautor da nova imagem de mundo revelada.
Em 2007, os dois personagens registraram, a partir da intermediação do fotógrafo, momentos em que se descobririam por meio de cartas e fotografias. Este diálogo combinava referências verbais e visuais: uma pergunta numa carta resultava muitas vezes numa resposta em imagem, gerando curiosas traduções da realidade de cada um.
Assim, os três mergulharam numa aventura de recortes e colagens de fragmentos de realidade, que confundiam cada vez mais os limites entre seus mundos. Se permitiram contaminar e ser contaminado pelo olhar do outro em experimentações fotográficas.
SOBRE OS ARTISTAS
Barrão - Jorge Velloso Borges Leão Teixeira (Rio de Janeiro). Desenhista, pintor, escultor, artista multimídia. Autodidata, inicia sua carreira artística com o Grupo Seis Mãos (1983-1991) formado com Ricardo Basbaum e Alexandre Dacosta. O grupo desenvolve atividades com vídeo, pinturas ao vivo, shows musicais e performances e promove o projeto Improviso de Pintura e Música, em ruas, praças públicas, faculdades etc. A primeira exposição dos três artistas tem lugar em 1983, no Circo Voador, no Rio de Janeiro. Neste ano, Barrão participa das mostras Arte na Rua I e Pintura! Pintura!, ambas na mesma cidade. Em 1984, realiza a primeira individual, Televisões, na Galeria Contemporânea, e participa da coletiva Como Vai Você, Geração 80?, realizada na Escola de Artes Visuais do Parque Lage - EAV/Parque Lage, no Jardim Botânico, Rio de Janeiro. Recebe o Prêmio Brasília de Artes Plásticas, no Museu de Arte de Brasília, em 1990. Realiza, com Sandra Kogut, os vídeos 7 Horas de Sono e A Geladeira. Faz ainda vinhetas eletrônicas para televisão, trabalhos de cenografia e capas de discos. Cria, em parceria com o artista Luiz Zerbini, o editor de vídeo e cinema Sérgio Mekler e o produtor musical Chico Neves, o grupo Chelpa Ferro, em 1995, que trabalha com escultura, instalações tecnológicas e música eletrônica.
Renata Egreja nasceu em São Paulo em 1984. Iniciou os estudos em artes visuais na FAAP e terminou na Ecole dês Beaux Arts de Paris, onde também concluiu o mestrado em 2010. De retorno a São Paulo participou de diversas exposições individuais e coletivas. A individual “Um traço basta” foi em 2011 no MAC Curitiba. Na Zipper galeria apresentou duas exposições individuais, “A regra do jogo” em 2012 e “Idilio” em 2014. Entre os prêmios mais relevantes obteve em 2012 o Premio Itamaraty de Arte Contemporânea e a residência artística na Índia oferecida pelo Itamaraty e o MAB Faap. Sua pintura é de forte inspiração ornamental e suas composições apresentam uma tendência um tanto quanto construtiva. A utilização de uma grande paleta de cores é uma forte caracteriza das suas obras. Renata hoje divide sua vida entre São Paulo, Paris e Ubatuba.
Alexandre Serqueira - Artista visual é Mestre em Arte e Tecnologia pela UFMG, doutorando em Arte pela mesma Instituição e professor do Instituto de Ciências da Arte da UFPa. Desenvolve trabalhos que estabelecem relações entre fotografia e alteridade social, tendo participado Encontros de Fotografia, Seminários e Exposições no Brasil e exterior, podendo-se destacar “Une certaine amazonie”; em Paris/França; Bienal Internacional de Fotografia de Liège/Bélgica; Exposição no Centro Cultural Engramme em Quebec/Canadá; X Bienal de Havana/Cuba; Paraty em Foco 2009; FotoFestPoa 2010 e 2011; Festival de Fotografia de Recife 2010; Simpósio e exposição “Brush with Light”, na Universidade de Arte Mídia e Design de NewPort no Reino Unido, Festival Internacional de Fotografia de Pingyao/China, exposição “Gigante pela própria natureza” em Valência na Espanha; “Contemporary Brazilian Printing” em New York/EUA; “Segue-se ver o que quisesse” no Palácio das Artes em Belo Horizonte/MG/BR; “Geração 00 – a nova fotografia brasileira; e Projeto Portfólio no Itaú Cultural em São Paulo/Brasil. Tem obras no acervo do Museu da UFPa, Espaço Cultural Casa das 11 Janelas; Coleção Pirelli/MASP, Museu de Arte do Rio/MAR, Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul e na Coleção de Fotografia da Associação Brasileira de Arte Contemporânea/ABAC.
André Severo na Bolsa de Arte, São Paulo
O artista, vencedor do Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia de 2015, traz a São Paulo a exposição que evidencia as relações entre a imagem, o tempo e a memória. A mostra segue até 24 de setembro em cartaz
A exposição que abre no dia 22 de agosto, terça-feira, às 19h, na Galeria Bolsa de Arte (Mourato Coelho, 790), Espelho de André Severo, tem a imagem, o tempo e a memória como elementos latentes de sua estruturação. Projeto contemplado com o XV Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia 2015, a mostra é composta de cerca de cinco vídeos produzidos a partir de imagens fotográficas, 20 fotografias e textos, todos organizados em uma espécie de instalação no espaço da galeria, em Pinheiros.
Segunda de uma trilogia de exposições que inclui Metáfora, Espelho foi exibida no início desse ano em dois espaços distintos de modo simultâneo: na Galeria Bolsa de Arte de Porto Alegre e na Pinacoteca Ruben Berta, em Porto Alegre. Na galeria de São Paulo, contudo, a proposta é distinta: Severo une os dois espaços e reorganiza as obras de modo a proporcionar ao espectador, dentro de suas diversas possibilidades de caminhar pelo conjunto de imagens densas e evocadoras de lembranças, uma experiência que promova um desdobramento das dimensões locais e específicas da galeria para a dimensão da subjetividade.
Espelho aposta na justaposição entre lembranças e imagens de lembranças, sejam elas próprias ou alheias, num diálogo que desemboca numa noção particular de tempo e espaço, na qual o espectador acaba imergindo. Nesse lugar, o lembrar deixa de ser apenas voltar-se para as experiências passadas, reevocar e reordenar imagens pessoais reminiscentes, mas, também, vergar-se sobre rastros de imagens de outras pessoas para entender algumas circunstâncias inerentes à própria vida.
Imagens densas aparecem em vídeos e fotografias: uma casa sendo engolida pelo mar, uma árvore com raízes à mostra à beira de um precipício, imagens em movimento ou com luzes intermitentes, justaposições imagéticas e sonoras, todas elas frutos das investigações de Severo em arquivos e, depois, de consecutivas reelaborações. Algumas das imagens contam com mais de um século de existência, mas o tempo neste trabalho está além de aspectos cronológicos. O que vale também aqui quanto ao olhar que o artista lança aos seus trabalhos, questionando processos e suportes utilizados ao longo de quinze anos, e realizando aí uma espécie de curadoria de sua própria produção.
Severo traz imagens que dialogam entre si e entre o repertório do espectador, seja de forma associativa, seja de forma dissociativa, e, assim, traz o espectador a um lugar fora dos limites da linguagem imagética e falada tão arraigados. Delineado a partir do desejo de trabalhar com imagens apropriadas de fontes variadas e de diferentes temporalidades, Espelho aposta no espaço concentrado da sala de exposição como lugar singular de projeção para o processo poético.
Nascido em 1974, André Severo vive e trabalha em Porto Alegre. Mestre em poéticas visuais pelo Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, iniciou, em 2000, ao lado de Maria Helena Bernardes, as atividades de AREAL, projeto que se define como uma ação de arte contemporânea deslocada que aposta em situações transitórias capazes de desvincular a ocorrência do pensamento contemporâneo dos grandes centros urbanos e de suas instituições culturais.
Entre suas principais premiações destacam-se o Programa Petrobrás Artes Visuais - ano 2001 -, em 2001; o Prêmio Funarte Conexões Artes Visuais, em 2007; o Projeto Arte e Patrimônio 2007, em 2007; o Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais 2009, em 2009; o V Prêmio Açorianos de Artes Plásticas, em 2010; o Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça - 6ª Edição, em 2013; o Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2014, em 2014; e o XV Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia 2015, em 2015.
Waltercio Caldas na Mul.ti.plo, Rio de Janeiro
Waltercio Caldas revela novos enigmas em trabalhos inéditos na Mul.ti.plo Espaço Arte
Desenhos, objetos, imagens e a própria exposição tratados como linguagem. Mais do que uma mostra, Estados de Imagem que o artista Waltercio Caldas abre no dia 24 de agosto a partir das 19h na Mul.ti.plo, é uma reflexão surpreendente em torno da importância do desenho.
O espaço da galeria, como um gabinete, foi fundamental para acolher essa mostra de caráter intimista e com relações ao mesmo tempo potentes e delicadas ao olhar do espectador.
"É uma multiplicidade de obras únicas, onde o público tem a chance de fazer conexões poéticas inesperadas. É uma alegria afirmar que esta é uma daquelas poucas mostras que quem se interessa por arte vai querer ver mais de uma vez", afirma Maneco Muller, diretor da galeria. A mostra inclui trabalhos inéditos e recentes - 15 desenhos, três objetos e um múltiplo especialmente concebido para a ocasião.
"Essa série de imagens que tenho produzido talvez seja completamente diferente do que se costuma conhecer como desenho, na verdade são objetos de papel. Por isso, tanto quanto a seleção das obras , o que me estimula aqui são as imagens … e suas sombras. Em operações quase- metafísicas posso aprofundar a relação que existe entre o que conhecemos e o que nos surge repentinamente", diz Waltercio.¨Nestas obras , o assunto dos desenhos é o próprio desenhar.”
Waltercio Caldas é reconhecido pela sua produção artística densa e singular desde os anos de 1970. Um dos protagonistas da arte contemporânea, requisitado para expor nos principais museus e galerias mundo afora, ainda este ano fará duas mostras de esculturas em Paris e Genebra.
Waltercio trabalha com muito entusiasmo para tratar a complexidade de seu ofício. Avesso à anomalia do universo do espetáculo, à estridencia do excesso e ao cortejo dos adjetivos a atual mostra é prova desse rigor. Convite feito pela galeria, sua decisão de expor se deu no exato instante em que um conjunto significativo de obras tinha o que dizer. Essa é sua postura.
Durante o período da exposição, será lançado o livro "Os Desenhos", da editora Bei que, com texto de Lorenzo Mammi fala da trajetória dos seus desenhos. É a primeira publicação a refletir sobre a importância do desenho em sua produção artistica. Esta mostra é uma oportunidade única pois ao lado das esculturas e objetos, os desenhos são fundamentais em sua carreira.
No dia da inauguração, também será lançado um novo catálogo atualizado com as imagens dos 77 múltiplos do artista Waltercio Caldas.
agosto 18, 2017
Kitty Paranaguá na Janaina Torres, São Paulo
A poética do Rio de Janeiro entre o morro e o asfalto, nas fotos de Kitty Paranaguá
Na exposição Campos de Altitude, na Janaina Torres Galeria, fotógrafa carioca sobe os morros e projeta a cidade no interior das casas das favelas, além de mostrar imagens de uma Copacabana lúdica de alto impacto estético e emocional
A Janaina Torres Galeria tem o prazer de apresentar, a partir do dia 22 de agosto, a exposição Campos de Altitude, da fotógrafa Kitty Paranaguá.
A artista carioca, que tem carreira estabelecida há mais de 20 anos, expõe pela primeira vez em São Paulo sua nova série de fotografias, feitas na sua cidade natal, abrindo a programação da SP/Arte-foto 2017.
Em 12 fotografias de 1m x 1m, Campos de Altitude mostra o Rio de Janeiro através de personagens que vivem na tensão morro-asfalto, em uma poética expressiva e original.
Por um ano e meio, Kitty Paranaguá subiu os morros em busca de vistas que retratassem as transformações urbanas ocorridas no corpo da cidade. Para obter novos ângulos, entrou na casa dos moradores das favelas, e descobriu alí algo além de uma boa vista: pessoas, histórias, memória e expressividade. Registrou também os depoimentos destes personagens, que compõem a exposição com um áudio aberto no espaço da galeria.
Inspirada nas fotografias do cubano Abelardo Morell, como numa câmera escura, Kitty Paranaguá projetou dentro das casas e sobre o corpo dos moradores as imagens que havia feito das vistas, obtendo alto impacto estético e emocional.
O resultado é um retrato inédito do Rio de Janeiro, obtido a partir da linha tênue entre o exterior e o interior e a relação – ou dissolução - entre público e o privado, sob a ótica dos moradores das favelas.
O título da série vem de uma expressão usada na botânica, que se refere ‘as "relíquias de vegetação", onde vivem plantas raras e isoladas em um contexto distinto da flora dominante, assim como são os personagens, dentro da sua criação.
Também compõe a exposição outro importante trabalho da fotógrafa, feito na praia de Copacabana, que agora faz parte do acervo da Maison Européenne de la Photografie, em Paris, com dez obras da série. Um trabalho que retrata muitas Copacabanas, a partir de aspectos subliminares como as paixões, os humores, e as crenças. Que se distanciam de um aspecto estético da beleza natural, para incluir o fator humano e sensível, que cativam o seu olhar.
Nas palavras de Marco Antonio Portela "a artista nos coloca dentro de seus devaneios poéticos, em uma Copacabana que não é um lugar geográfico, mas um lugar dentro de todos nós."
Kitty Paranaguá Iniciou sua carreira como repórter fotográfica no Jornal do Brasil; fundou, em 2010, o Ateliê Oriente. Suas obras retratam aspectos e espaços geográficos a partir da conexão que estabelece com suas paixões, crenças, humores e memórias. Kitty Paranaguá tem obtido reconhecimento internacional. Este ano, dez imagens da série Copacabana, sobre a mítica praia carioca, foram incorporadas pela Maison Européenne de la Photographie (MEP), em Paris, um dos principais espaços dedicados à fotografia contemporânea no mundo.
Graciela Sacco na Zipper, São Paulo
Um dos principais nomes da produção argentina contemporânea, Graciela Sacco (1956) realiza na Zipper sua primeira exposição individual no Brasil. Aberta a partir do dia 22 de agosto, a mostra Foram ao Norte para chegar ao Sul reúne instalações, vídeos, fotografias e objetos da artista, que é reconhecida por desenvolver técnicas inovadoras de impressão fotossensíveis, rompendo com suportes tradicionais. Com curadoria de Diana Wechsler, professora da Universidad de Buenos Aires, a exposição fica em cartaz até 30 de setembro.
“Foram ao Norte para chegar ao Sul” é também título de série recente da artista, que, de certa maneira, condensa os temas alvo da exposição: a relação entre memória e fotografia e entre arte e sociedade, deslocamentos, migrações, exílios e a diáspora contemporânea.
A última vez que Graciela Sacco apresentou um corpo expressivo de trabalhos no país foi em 1996, durante 23ª Bienal de São Paulo, da qual participou como representante argentina. A artista acumula, ainda, diversas outras participações em bienais internacionais de arte: Ushuaia (2009), Shanghai (2004), Veneza (2001), Havana (1997 e 2000) e do Mercosul, 1997. Neste ano, Graciela participa, ainda, da Bienal Internacional de Arte Contemporânea da América do Sul (Bienalsur) com a intervenção urbana “¿Quién fue?”.
Influenciado pelo conceitualismo latino-americano dos anos 1960, seu trabalho tem forte implicação política e se expressa, frequentemente, na evidenciação de conflitos e tensões, sejam sociais, políticos, econômicos, entre sujeito e objeto, luz e sombra, espaço e suporte. Na individual, Graciela faz, ainda, um panorama de sua produção, com trabalhos da década de 1990 – como os da série “Bocanada” (1994), apresentados na Bienal de São Paulo de 1996 –, do inícios dos anos 2000 e algumas mais recentes, produzidas após 2010.
A artista Graciela Sacco (Rosario, 1956) é reconhecida por trabalhos desenvolvidos a partir de técnicas inovadoras de impressão fotossensíveis, que permitem a gravação de imagens em meios pouco usuais. Influenciada pelo conceitualismo latino-americano dos anos 1960, entre eles o coletivo Tucumán Arde, sua produção tem forte implicação política. A relação entre a memória e a fotografia é outro tema fortemente explorado pela artista. Em vídeos, instalações e intervenções urbanas, além das impressões em heliografia em distintos materiais, ela examina as tensões entre arte e sociedade e trata de questões como deslocamentos, migrações, exílios e a diáspora contemporânea.
Graciela já representou a Argentina em diversas bienais internacionais, entre elas: Veneza (2001), São Paulo (1996), Havana (1997 e 2000), Mercosul (1997), Shanghai (2004) e Ushuaia (2009). Participou também de mostras individuais e coletivas em países como Inglaterra, Alemanha, França, Israel, Estados Unidos, Brasil, Colômbia e Peru. Sua obra está presente em importantes coleções internacionais, entre elas: MAMBA (Museu de Arte Moderna de Buenos Aires), Argentina; MACRO (Museu de Arte Contemporáneo de Rosario), Argentina; Museu do Bronx (Nova York, Estados Unidos); MFAH (Museu de Bellas Artes de Houston), Estados Unidos; Museum of Art Fort Lauderdale, Estados Unidos; Coleção Microsoft, Washington, Estados unidos; Essex University, Colchester, Inglaterra.
Curadora, pesquisadora e doutora em História da Arte, Diana Beatriz Wechsler (1961) é professora titular da Universidad de Buenos Aires (UBA). Dirigiu exposições e projetos na Argentina, Itália, Brasil, México, Espanha e Alemanha. Principais publicações: Entre tiempos…Presencias de la Colección Jozami en la Lázaro Galdiano” (2014); “Pensar con imágenes” (2012), “Imágenes e historias” (2011), “Realidad y utopía, Realidad y Utopía” (Berlín 2010); Gorriarena, Itinerarios (2007), “Territorios de diálogo” (México, 2006); “Los surrealistas” (2005). Prêmios: AICA-ABCA (2003); Cámara de Diputados de la Nación (2004); AICA-AACA (2007).
Gilvan Barreto + Michael Wesely na Casa Nova Arte, São Paulo
Estilhaços imagéticos de uma contemporaneidade tensionada
Reunindo o alemão Michael Wesely e o brasileiro Gilvan Barreto, a Casa Nova inaugura na terça (22) duas exposições em que a fotografia é mídia de diálogo com as inquietações do tempo presente
A partir de 22 de agosto, o público paulistano tem a oportunidade de conferir os trabalhos do alemão Michael Wesely e do brasileiro Gilvan Barreto, dois destaques na cena artística contemporânea, que expõem pela primeira vez no mesmo local em duas mostras individuais simultâneas. “O cerne da ideia foi levar ao público um conjunto de obras que são relevantes para a reflexão do que está acontecendo hoje no Brasil, a partir dos olhares de um artista estrangeiro e outro brasileiro”, explica Adriano Casanova, diretor da Casa Nova Arte e Cultura Contemporânea e curador das duas mostras.
Wesely e Barreto têm como marca o emprego da fotografia como mídia em suas construções artísticas, gerando diálogos peculiares com as tensões e as nuances da contemporaneidade em seus mais diversos fragmentos. Resultam desse exercício duas trajetórias repletas de solidez conceitual, lapidadas ao longo de décadas e que vêm angariando cada vez mais reconhecimento e premiações.
Internacionalmente conhecido por seus experimentos com técnicas de longa exposição, Michael Wesely tem hoje obras no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa), entre outras coleções relevantes. No ano passado, durante a votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff, produziu registros que sobrepõem mais de sete horas de movimentação popular nas ruas de São Paulo e foram selecionados para integrar a Frestas Trienal de Arte de Sorocaba deste ano.
Em sua individual Expedição na Casa Nova Arte, o artista alemão exibe um recorte de 12 trabalhos que compõem um panorama de diferentes momentos na sua trajetória. Revela-se um peculiar olhar estrangeiro sobre o Brasil, com direito a um inédito retrato do arquiteto Oscar Niemeyer feito em 2003. Há ainda fotos da série Expedições (feitas em 2003 em cidades da região norte brasileira e expostas uma única vez em Brasília já há 13 anos), além de “naturezas mortas” em que o processo de apodrecimento de frutas é registrado pelo artista empregando a longa exposição para gerar abstrações.
Já o pernambucano Gilvan Barreto traz a São Paulo pela primeira vez a sua série Postcards from Brazil, vencedora do Prêmio Nacional de Fotografia Pierre Verger, e que dá nome a sua individual. “É uma espécie de atlas da violência nacional promovida pela ditadura militar brasileira”, diz Barreto sobre os trabalhos. A partir de um acervo de cartões postais, ele aponta a localização de paisagens exuberantes que serviram de cenário para torturas, assassinatos e ocultação de cadáveres de quase 500 pessoas, rasgando sobre a natureza a cicatriz profunda de sucessivos crimes governamentais. Além da série, será exibida a videoarte O Guarani (6’17”), que toca na violência institucional contra os povos indígenas.
As exposições seguem em cartaz até 13 de outubro e a visitação é gratuita.
Gilvan Barreto é pernambucano e mora no Rio há mais dez anos. Seu trabalho foca em questões políticas, sociais e na relação do homem com a natureza. Tem quatro livros publicados: Suturas (2015), Sobremarinhos (2015), O Livro do Sol (2013) e Moscouzinho (2012).
Michael Wesely nasceu em Munique e vive em Berlim. É conhecido por seus experimentos aplicando técnicas de longa exposição para fotografar cidades, construções e paisagens. Paralelamente à mostra na Casa Nova, estará expondo no Instituto Moreira Salles e na Frestas Trienal de Arte de Sorocaba.
agosto 17, 2017
Fragmentos de um discurso pictórico na Roberto Alban, Salvador
O trabalho de 13 artistas de diversas regiões do Brasil, alguns dos quais vivendo no exterior, será mostrado em Fragmentos de um Discurso Pictórico, exposição com abertura em 23 de agosto, seguindo até 30 de setembro na capital baiana.
Um recorte sobre a pintura brasileira, com a participação de artistas de diversas gerações e estilos e que vivem dentro e fora do Brasil, é um dos diferenciais da exposição coletiva, Fragmentos de um Discurso Pictórico, que a Roberto Alban Galeria organiza em Salvador, de 24 de agosto a 30 de setembro. O curador da mostra é o paulistano Mario Gioia, que desde 2009 atua em crítica de arte no circuito brasileiro e latino-americano, com artigos em publicações especializadas e também em curadoria.
“A exposição parte mais das leituras que cada obra pode proporcionar. Não pretende ser um panorama que esgote discussões sobre determinadas características da linguagem, mas que funcione como um encontro entre produções de artistas que não comumente estejam relacionadas”, afirma Gioia, destacando que entre os artistas estão os veteranos Fábio Miguez e Sérgio Sister, ativos desde os anos 1980 – conhecida como ‘a década da pintura’- até talentos emergentes, como a paulista Giulia Bianchi (nascida em 1990), a carioca Cela Luz (de 1986) e o gaúcho João GG (também de 1986). Há a presença destacada de novos artistas representados pela Roberto Alban: Antonio Lee, David Magila e Felipe Góes, todos apresentados pela primeira vez no espaço expositivo da capital baiana.
“Anualmente a galeria convida curadores externos para trazerem a Bahia um novo olhar sobre a arte contemporânea. Acredito que a curadoria do Gioia é um bom momento de conhecer sobre a ótima produção da pintura brasileira, através do seu recorte”, observa Cristina Alban.
Com a maioria das telas sendo exibidas pela primeira vez, Gioia considera que há uma ótima oportunidade e não fácil de ser repetida em ver reunidos, numa só mostra, trabalhos dessa qualidade e de nomes celebrados tanto no campo institucional como no mercado. “Existe um claro interesse de colecionadores nesta linguagem e, com isso, pinturas que admiramos podem ficar anos a fio em acervos particulares”, declara o curador, enfatizando a presença da baiana Lara Viana dentro do recorte. “Acompanho de perto a obra dela faz ao menos dois anos, quando suas telas de pequenas proporções eram um dos atrativos da Roberto Alban na ArtRio”, diz ele. “Sua habilidade em criar atmosferas muito particulares, por meio de uma inspirada construção de figuração e abstração, além de um marcado domínio de cores, são um dos destaques da coletiva.”
Lara se divide entre Salvador e Londres, onde estudou mestrado no prestigiado Royal College of Art. Entre as exposições recentes que participou, podem ser citadas Málverkasýning, coletiva em Rejkjavik, capital da Islândia, que contou também com obras de incensados artistas em nível mundial, como Andreas Eriksson e Melanie Smith.
Os artistas que compõem a exposição Fragmentos... são: Ana Elisa Egreja, Antonio Lee, Cela Luz, David Magila, Eloá Carvalho, Fabio Flaks, Fábio Miguez, Felipe Góes, Giulia Bianchi, João GG, Lara Viana, Ricardo van Steen e Sérgio Sister. “As obras escolhidas sempre têm características pictóricas, mesmo que sejam apresentados em outros suportes, como o tridimensional de João GG, que pode ser lido como uma pintura expandida, e os objetos de Sérgio Sister, como a Caixa e o Tijolinho, estas peças que têm como principal atributo o uso da cor”, afirma Gioia.
A Roberto Alban Galeria também vai promover uma conversa com os artistas Fábio Miguez e Sérgio Sister, com a mediação do curador, no dia seguinte à abertura, quinta-feira, 24 de agosto, às 17h.
Sobre os artistas
Ana Elisa Egreja
São Paulo, 1983
Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Formou-se no ano de 2005 em Artes Plásticas pela FAAP. Participou em 2008 da 11ª Bienal de Santos (São Paulo, Brasil) e no mesmo ano recebe o prêmio 15º Salão da Bahia, no MAM Bahia (Salvador, Brasil). Entre as recentes exposições individuais estão Jacarezinho 92, na Galeria Leme (São Paulo, Brasil, 2017); Da Banalidade: vol.1, no Instituto Tomie Ohtake (São Paulo, Brasil, 2016); Galeria Leme (São Paulo, Brasil, 2013); Temporada de Projetos, no Paço das Artes (São Paulo, Brasil, 2010).
Participou de diversas exposições coletivas como: A luz que vela o corpo é a mesma que revela a tela, com curadoria de Bruno Miguel, na Caixa Cultural (Rio de Janeiro, Brasil, 2017); Vértice – Construções, exposição itinerante com curadoria de Polyanna Morgana, no Centro Cultural dos Correios (São Paulo, Brasil, 2016). Em 2012, participou da Seven Artists from São Paulo, no CAB Contemporary Art (Bruxelas, Bélgica) e Nova Pintura, no Centro de Exposições Torre Santander (São Paulo, Brasil). No ano de 2011, Os primeiros dez anos, no Instituto Tomie Ohtake (São Paulo, Brasil) e Convivendo com arte: Pintura além dos pincéis, no Centro de Exposições Torre Santander (São Paulo, Brasil); Seus trabalhos receberam prêmio aquisição no 32º Salão de Arte de Ribeirão Preto (MARP, Brasil, 2007) e Prêmio incentivo Energias na arte, do Instituto Tomie Ohtake (São Paulo, Brasil, 2009).
Participa de coleções como:
Coleção Santander, Brasil.
Franks-Suss Colletion, Londres, Inglaterra.
MAM – Museu de Arte Moderna da Bahia, Brasil.
MAR – Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, Brasil.
Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil.
Antonio Lee
São Paulo, 1981
Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Formou-se em Artes Plásticas pela FAAP. Trabalha principalmente com pintura, onde mistura as diferentes linguagens e estilos da arte moderna e contemporânea. Participou de exposições institucionais como o Salão de Arte Contemporânea na Pinacoteca de Piracicaba e em 2012 e 2013 na Anual de Artes da FAAP, onde foi premiado em 2012 com a Bolsa de Arte da faculdade.
Realizou sua primeira exposição Memória Dinâmica na Galeria Luciana Caravello, no Rio de Janeiro, em 2013. Em 2015, na Galeria Zipper mostrou na exposição Velocity vs Viscoscity, seu primeiro conjunto de obras abstratas, que foram destaque em reportagem do canal Arte 1. Em 2016, realizou Pareidolia, sua primeira mostra internacional na Galeria Emma Thomas em Nova Iorque.
Cela Luz
Rio de Janeiro, 1986
Vive e trabalha em New York. Cela Luz concluiu mestrado em Fine Arts com foco em pintura, pela School of Visual Arts, New York, em 2017.
Entre suas principais exposições, está uma individual na Casa de Cultura Laura Alvim em 2015, e duas coletivas em New York, “Cognitive Dissidence”, com curadoria de Dan Cameron (New Museum), e “Transfiguration”, na Flatiron Gallery, Chelsea, ambas em 2017.
A artista foi selecionada para Partial Scholarship pela School of Visual Arts e tem obras na Coleção Gilberto Chateubriand, Brasil/MAM-RJ, Rio de Janeiro, Brasil e coleções particulares.
David Magila
São Caetano do Sul, 1979
Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Magila é formado pelo Instituto de Artes da UNESP no Bacharelado em Artes Plásticas, participou de diversos cursos de especialização: 2017 - Ready-made e Imagens Prontas como Alegorias Neobarrocas com o prof. Sergio Romagnolo no Instituto de Artes UNESP – São Paulo. Litografia na ECA- USP com Cristy Wyckoff - PNCA – EUA, Anotações para uma História da Estampa no Ocidente na Pós-Graduação ECA-USP com Prof. Claudio Mubarac entre outros.
Em 2017 participou como convidado da exposição “Tudo é Tangente” no Memorial Minas Vale em Belo Horizonte 2017; “Fotografia-Pintura e o Espírito de um tempo” na Casa Para Alugar em Ribeirão Preto 2016; Semana de Arte de Londrina 2016 e de exposições como: “Mostra Bienal Caixa de Novos Artistas 2015 e 2016” ”40º Salão de Ribeirão Preto” em 2015 , “Arte LONDRINA 3” , “Geometrias fragmentadas” e ”Preâmbulo” ambas na Galeria Contempo – SP em 2013, “Situações Brasília – Prêmio de Arte Contemporânea do Distrito Federal – 2012”; “Programa de Exposições 2012” MARP - Museu de Arte de Ribeirão Preto – SP – 2012.
Ganhou prêmios aquisitivos no 1º Festival Casa Camelo – Belo Horizonte em 2017; 40º Salão de Ribeirão Preto”; III Concurso Itamaraty de Arte Contemporânea - Palácio do Itamaraty - Brasília; 28º Salão de Arte Contemporânea de Santo André – SP e no 26º Salão de Arte Jovem CCBEU- Santos.
Eloá Carvalho
Niterói, 1980
Vive e trabalha no Rio de Janeiro, Brasil. O trabalho de Eloá Carvalho se apresenta inicialmente com a ideia de uma paisagem velada, que sugere uma espécie de narrativa silenciosa, passando pela construção do espaço através das figuras, na relação entre elas e em suas atitudes. A maioria das imagens vem de registros fotográficos que a artista se apropria e nos convida a olhar para aqueles que olham. Sua capacidade de gerar diálogos internos entre os trabalhos, a relação com o cinema, o interesse pela história, pela cena, as fricções entre o fazer pictórico, a fotografia e o desenho, tudo isso compõe o universo de investigação da artista.
Dentre as principais exposições, suas individuais: Todo ideal nasce vago, MAM RJ/2016; Como se os olhos não servissem para ver, Galeria do Lago (Museu da República)/RJ 2015; Projetos da minha espera, ZipUp (Zipper Galeria)/SP 2015; Diante de outro branco, MUV Gallery/RJ em 2015 e Mise em Scène, Galeria Ibeu/RJ em 2013.
Suas principais exposições coletivas: A insistência abstrata, nas coisas, Galeria Ibeu/RJ; Cruzamentos Insuspeitos, C.Galeria/RJ; Ver e ser visto, MAM RJ; Figura Humana, Caixa Cultural RJ; Novas Aquisições 2014, MAM RJ; XI Bienal do Recôncavo Baiano, São Félix/BA; Como se não houvesse espera, CCJF/RJ; Como o tempo passa quando a gente se diverte, Galeria Casa Triângulo, São Paulo/SP; Novíssimos 2010, Galeria de Arte IBEU/RJ.
Fabio Flaks
São Paulo, 1977
Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela FAU USP, em 2001. Mestre em Poéticas Visuais pelo Departamento de Artes Plásticas da ECA USP, em 2009.
Entre as exposições individuais estão ‘Luz Vermelha’ na Temporada de Projetos do Paço das Artes (São Paulo, 2015), o ‘Solo Project’ na ARCO Feria Internacional de Arte Contemporáneo (Madri, 2014), ‘Cinza’ na Galeria Pilar (São Paulo, 2013), ‘Aéreos’ no Espaço Zip’Up da Zipper Galeria (São Paulo, 2011).
Participou de diversas exposições coletivas como ‘Deslize’, curadoria de Raphael Fonseca no Museu de Arte do Rio – MAR (Rio de Janeiro, 2014), ‘Premio Internacional de Pintura na Fundación Focus – Anbegoa (Sevilla, 2014), ‘Realidades: Desenho Contemporâneo Brasileiro’ no SESC Pinheiros (São Paulo, 2011), entre outras. Em 2014 participou da Residência Artística do Programa Artista Convidado do Ateliê de Gravura na Fundação Iberê Camargo em Porto Alegre através da Bolsa Luiz Aranha.
Recebeu o Prêmio Bolsa Luiz Aranha da Fundação Iberê Camargo em 2014, o Prêmio Estímulo no 31° Salão de Arte Contemporânea de Santo André em 2003 e a Menção Honrosa na 9ª Bienal Nacional de Santos de 2004.
Fábio Miguez
São Paulo, 1962
Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Pintor, gravador e fotografo. Formou-se em Arquitetura e Urbanismo pela FAU/USP. Em 1982, estudou gravura em metal com o artista Sérgio Fingermann. Fábio Miguez participou de bienais como a Bienal Internacional de São Paulo (São Paulo, Brasil, 1985 e 1989), a 2ª Bienal de Havana (Havana, Cuba, 1986), a 3ª Bienal Internacional de Pintura de Cuenca (Cuenca, Equador, 1991) e a 5ª Bienal do Mercosul (Porto Alegre, Brasil, 2005), além de mostras retrospectivas como Bienal Brasil Século XX (1994) e 30ª Bienal (2013), ambas promovidas pela Fundação Bienal de São Paulo. Realizou exposições individuais, como: Paisagem zero (Centro Universitário Maria Antonia, São Paulo, Brasil, 2012); Temas e variações (Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil, 2008); na Pinacoteca do Estado de São Paulo (São Paulo, Brasil, 2003), acompanhada da publicação de um livro sobre sua obra; e no Centro Cultural São Paulo (São Paulo, Brasil, 2002). Mostras coletivas recentes incluem Prática portátil (Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil, 2014), Tomie Ohtake/Correspondências (Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil, 2013), Analogias (Museu da Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo, Brasil, 2013) e As tramas do tempo na arte contemporânea: estética ou poética (Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil, 2013).
Felipe Góes
São Paulo, 1983
Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Formado em Arquitetura. Durante esse período, expôs trabalhos em eventos culturais organizados pelo Diretório Acadêmico da faculdade. O interesse por pintura o levou ao curso de história da arte com Rodrigo Naves em 2007, e a uma viagem de estudos pela Europa em 2008 para ter contato direto com o acervo de importantes museus.
Realizou curso de pintura com Paulo Pasta (2008-2012) e algumas disciplinas como aluno ouvinte no mestrado em artes da ECA-USP. Além dessas atividades participou de salões e exposições coletivas.
O artista realizou também exposições individuais na Galeria Loly Demercian (São Paulo, 2010), Museu de Arte de Goiânia (2012), Usina do Gasômetro (Porto Alegre, 2012), Centro Cultural Adamastor (Guarulhos, 2013) Galeria Transversal (São Paulo, 2013), phICA (EUA, Phoenix, 2014), Central Galeria de Arte (São Paulo, 2014), Galeria Virgílio (São Paulo, 2016) e Museu Universitário de Arte, UFU (Ubêrlandia, 2017). Outro campo de atuação foram projetos artísticos como Arte Praia (Natal, 2013), AbNach São Paulo – Aos cuidados de Kassel” com exposição simultânea em Kassel e São Paulo (2012), exposições do Coletivo Terça ou Quarta (2011-2014) e residências artísticas no Instituto Sacatar (Itaparica, 2012) e Phoenix Institute of ContemporaryArt (EUA, Phoenix, 2014).
Giulia Bianchi
Bauru, 1990
Vive a trabalha em São Paulo, Brasil. A prática cotidiana de desenho e interesses relacionados impulsionou Bianchi a cursar artes plásticas pela FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado), durante os anos de 2008 e 2011. Neste período de sua formação acadêmica, pôde experimentar diversas mídias, aprofundando-se na pesquisa pictórica que é realizada desde então. Inicialmente, os trabalhos foram guiados por impulsos, apetite, desejo de produzir; época em que sua prática era influenciada por elementos do seu cotidiano, universo íntimo e relações interpessoais. A pesquisa que se desenvolveu a partir de então, atualmente é direcionada ao coletivo. Através de pinceladas marcadas, escorridos casuais e gestualidade em harmonia contrastante com uma paleta bem equilibrada; corpos de contornos não definidos se fazem presentes por força e sensualidade. Os personagens podem ser vistos como uma narrativa ou dissolvidos em seu enquadramento. Participou de exposições coletivas independentes, fez parte da 41ª e da 42ª Anual de Arte FAAP, do 7º Salão dos Artistas sem Galeria, 3ª edição da Compartiarte, entre outras. Em 2016, fez parte do acompanhamento em pintura com Rodrigo Bivar e atualmente integra o grupo de artistas Agosto, orientado por Thiago Honório.
João GG
Porto Alegre, 1986
Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Artista visual graduado pela Universidade de São Paulo (ECA USP), bacharel em pintura. Nos últimos dois anos, participou de diversas exposições, com destaque para ‘Disfarce’ (Oficina Cultural Oswald de Andrade), ‘O Céu Ainda é Azul, Você Sabe...’ (retrospectiva de Yoko Ono no Instituto Tomie Ohtake), 66º Salão Paranaense (Museu Oscar Niemeyer), Programas de Exposições do MARP e SARP (Museu de Arte de Ribeirão Preto) e Arte Londrina (Casa de Cultura UEL). Em 2015, participou da residência UV Estúdios em Buenos Aires, com a decorrente exposição ‘CINEcatástrofe’.
Atualmente, reside em São Paulo e integra os grupos de estudo e acompanhamento ‘Após o Fim da Arte’ (orientação de Dora Longo Bahia e Renata Pedrosa) e ‘Escola Entrópica’ (orientação de Paulo Miyada e Pedro França).
Lara Viana
Salvador, 1970
Vive e trabalha em Salvador e Londres. Pintora, Lara Viana formou- se em 1995 Falmouth School of Art, Bacharel em Artes, e em 2007 M.F.A. Painting, Royal College of Art, Londres.
Entre diversas exposições coletivas, participa da Málverkasýning em 2017, na Galeria i8 na Islândia. Em 2014, Bahia contemporânea Bahia, na Roberto Alban Galeria com curadoria de Marcelo Campos. Em 2011, Mail Art at the Memorial, curadoria de Pablo Ferretti na Galeria Progresso, Porto Alegre, Brasil. No ano de 2010: Art Blitz na Transition gallery, Londres; Art Brussels ‘Young Talent’ Domobaal Gallery,
Londres. Em 2009: The Manchester Contemporary, com Marcel Dinahet e Felicity Powell, convidada pelo Arts Council, Inglaterra;Whitechapel Gallery, EEA Multiple commission; East End Academy, The Painting Edition, júri: Gillian Carnegie, Marion Naggar, Francis Outred, Barry Schwabsky, Anthony Spira, Whitechapel Gallery, Londres e na The Great Exhibition, Royal College of Art, Londres em 2007.
E no ano de 2011, realiza as exposições individuais: Galerie De Expeditie Amsterdã, Holanda; Conrads Galerie Düsseldorf, Alemanha; Ruins, Permanent Gallery/The Regency Town House, Brighton, Reino Unido, publicação com um ensaio de Laura McLean–Ferris, design de Alex Rich e no mesmo ano recebe o prêmio da Bienal de São Paulo. Em 2010 - Lara Viana expõe na Domobaal Gallery, Londres.
Ricardo van Steen
São Paulo, 1958
Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Artista multimídia, trabalha desde 1976, foi editor de revistas e dono de agência de propaganda, e hoje é diretor de cena nas produtoras Movi&Art, Fat Bastards e Modern Times, onde realiza para vários formatos: comerciais, vinhetas, documentários e longa-metragem. Também é fundador e diretor de criação da TempoDesign, onde há anos assessora a área institucional de grandes empresas, como Rede Globo, Globosat, Natura e Riachuelo. Coordena equipes, seja para trabalhos jornalísticos, seja para filmes ou desenvolvimento de marcas.
Como artista plástico, realizou exposições individuais na Galeria Paulo Figueiredo (1983), na Galeria Millan (1997) e Noir na Galeria Zipper (2013). Além destas, participou de diversas exposições coletivas como: Cidades Invisíveis no MASP – Museu de Arte de São Paulo (2014); 7ª Bienal do Mercosul em Porto Alegre (2009). Em 2006, Paris é Aqui em São Paulo e As linhas do Horizonte no Acervo da Caixa, Galeria Caixa Brasil, em Brasília. Brasiliens Gesichter, em Ludwig Museum, Koblenz na Alemanha (2005); Galeria Vermelho (2003). Ganhou o 1º Prêmio, Salão de Pintura no Centro Cultural Brasil Estados Unidos em Santos (1980); Prêmio Revelação, Panorama de Arte Moderna no Museu de Arte Moderna de São Paulo (1979). Tem trabalhos no acervo permanente do Museu da Língua em São Paulo, Coleção Masp, Coleção Porto Seguro, Coleção Borusan, na Turquia.
Sérgio Sister
São Paulo, 1948
Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Participou das 9ª e 25ª edições da Bienal de São Paulo, Brasil (1967, 2002); Dentro, curadoria de Evandro Salle (Museu de Arte do Rio – MAR, Rio de Janeiro, Brasil) e Modos de ver o Brasil: Itaú 30 anos, curadoria de Paulo Herkenhoff, Thais Rivitti e Leno Veras (São Paulo) em 2017; Resistir é preciso (Centro cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil, 2014); Correspondências (Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil, 2013); Transformação na arte brasileira da 1ª a 30ª edição (30ª Bienal de São Paulo, Brasil, 2013); e no ano de 2011, participou da exposição O Colecionador de Sonhos ( Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil); Ponto de equilíbrio (Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil, 2010);
Entre suas exposições individuais recentes estão: Pintura com ar,
sombra e espaço, (Galeria Nara Roesler, Rio de Janeiro – RJ, 2017); Malen mit raum, schatten und luft (Galerie Lange + Pult, Zurique, Suíça, 2016); Sérgio Sister (Goya Contemporary Gallery, Baltimore, MD, EUA, 2015). Em 2015, A Cor Reunida (Museu Municipal de Arte (MuMA), Curitiba, Brasil) e (Pinacoteca do Estado, São Paulo, Brasil); Entre tanto (Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil, 2011) e Pontaletes (Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil, 2007).
Suas obras fazem parte de acervos como os do Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brasil; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil; Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil; Centro Cultural São Paulo, São Paulo, Brasil; e Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil.
Sobre o curador
Mario Gioia
São Paulo, 1974
Curador independente é graduado pela ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo) e faz parte do grupo de críticos do Paço das Artes desde 2011, instituição na qual fez o acompanhamento crítico de Luz Vermelha (2015), de Fabio Flaks, Black Market (2012), de Paulo Almeida, e A Riscar (2011), de Daniela Seixas. Foi crítico convidado de 2013 a 2015 do Programa de Exposições do CCSP (Centro Cultural São Paulo) e fez, na mesma instituição, parte do grupo de críticos do Programa de Fotografia 2012. Em 2015, no CCSP, fez a curadoria de Ter lugar para ser, coletiva com 12 artistas sobre as relações entre arquitetura e artes visuais. Já fez a curadoria de exposições em cidades como Brasília (Decifrações, Espaço Ecco, 2014), Porto Alegre (Ao Sul, Paisagens, Bolsa de Arte, 2013) e Rio de Janeiro (Arcádia, CGaleria, 2016). É colaborador de periódicos de artes como Select e foi repórter e redator de artes visuais e arquitetura da Folha de S.Paulo de 2005 a 2009. De 2011 a 2016, coordenou o projeto Zip'Up, na Zipper Galeria, destinado à exibição de novos artistas e projetos inéditos de curadoria. Na feira de arte ArtLima 2017, assinou a curadoria da seção especial CAP Brasil, intitulada Sul-Sur.
Laura Gorski na Blau Projects, São Paulo
A Blau Projects inaugura, dia 19 de agosto, a exposição Arquipélago de instantes, individual da artista paulistana Laura Gorski. Com cerca de 30 trabalhos inéditos, a mostra apresenta desenhos, fotografias e instalações. O texto crítico é do curador Márcio Harum.
Com instalações, fotografias e desenhos em que a água se transmuta, a artista traz novamente à tona o encantamento pela paisagem e pela suspensão do tempo. A partir do desenho, sua obra ganhou dimensões e estruturas definidas influenciadas pelos elementos da natureza, sempre ligadas a um desejo de contemplação. Com formação em desenho e influências da palavra escrita, da poesia, e de suas passagens por residências e grupos de estudo em diversas áreas, da arte à filosofia, Laura busca a estruturação do desenho em diálogo com questões acerca do mundo transitório.
Nessa exposição, ela apresenta uma nova série de desenhos de diversas dimensões em que explora nova paleta de cores (em seus trabalhos anteriores, o preto sempre esteve presente), trazendo a cor dourada à tona, e os mergulha na água buscando uma imersão da matéria e sua transformação. As questões acerca da permanência e da transitoriedade são desenhadas em montanhas submersas em água que se desmancham em pigmento.
Além da instalação com desenhos, a artista também apresenta um trabalho em que um desenho fica exposto à ação do tempo por meio do mergulho na água e sua consequente evaporação. Essa construção de espaços de silêncio e da permanência seguem presentes em sua obra.
Laura Gorski também apresenta a fotografia Horizonte interior que remete a um trabalho anterior feito em parceria com a artista Renata Cruz, da série Dias úteis, obra que mostrava as duas artistas imersas numa banheira em líquido preto contrapondo-se ao fundo azul. No novo trabalho, Laura faz uma fusão com seus desenhos recentes feitos em dourado com linhas de imersão expostas, sugeridas pela suspensão da obra.
Ela mostra um trabalho no qual copos de vidro se transformam em objetos escultóricos em que o branco se destaca sustentando objetos que despontam em seu topo.
Integram a mostra também desenhos que questionam a dimensão de profundidade e a linha tênue entre fronteiras liquefeitas em uma série na qual o deslocamento do espectador pode alterar a percepção entre cheio e vazio.
Laura Gorski é nascida em São Paulo em 1982. Formada em Desenho Industrial pelo Centro Universitário Belas Artes, realizou as exposições individuais Paragem, na Zipper Galeria, em 2011; Arquipélago dos lugares imaginários, no Estúdio Buck, em 2013, Repouso, no Centro Cultural São Paulo, em 2016 e Dias úteis, com Renata Cruz, no 20º Cultura Inglesa Festival, em 2016. Participou de residências na Alemanha e em Portugal e tem obras em coleções em Brasília, Bahia, São Paulo e Porto Alegre. Já expôs em Ribeirão Preto, Santo André, Santos, Goiás, Porto Alegre, Jundiaí, Rio de Janeiro, Brasília, além de Cazaquistão, Portugal, Japão e Alemanha. Esta é sua segunda exposição na Blau Projects, já tendo participado, sob curadoria de Galciani Neves, da mostra ...pegaríamos as coisas por onde elas crescem, pelo meio, em 2015, como resultado do edital C. LAB, voltado a jovens curadores.
Cobogó lança livro de Janaina Tschäpe no Galpão Fortes D’Aloia & Gabriel e Carpintaria
Editora Cobogó lança livro que resgata os últimos 10 anos de carreira da artista alemã-brasileira Janaina Tschäpe
Com textos dos curadores de arte Germano Celant e Luisa Duarte, a publicação apresenta pinturas e fotografias, e será lançada em São Paulo, no Galpão da Galeria Fortes D’Aloia & Gabriel, no dia 19 de agosto e no Rio, na Carpintaria, no dia 26.
Um dos principais méritos do trabalho de Janaina Tschäpe é tirar o espectador de um mundo desencantado, demasiadamente real, e levá-lo para um universo de possibilidades e fantasias. Nascida na Alemanha, criada em São Paulo, hoje vivendo em Nova York, a artista produziu uma obra de caráter universal, em decorrência dos inúmeros deslocamentos que atravessou desde a infância, sem a preocupação com a velocidade constante da contemporaneidade. Artista multimídia (entre suas obras estão esculturas, fotografias, vídeos, desenhos e pinturas), tem agora seu trabalho dos últimos 10 anos destacado no livro Janaina Tschäpe, que a Editora Cobogó lança em São Paulo, dia 19.08, no Galpão da Galeria Fortes D’Aloia & Gabriel e dia 26 de agosto, na Carpintaria, no Rio.
“Foi bastante prazeroso fazer este livro, especialmente no processo de seleção das obras, onde pude olhar para o trabalho destes últimos 10 anos, revisitar o que foi produzido e compreender cada série e processo criativo. Decidir o que incluir em cada página acabou sendo um ato de introspecção em que observei quais obras carregava comigo e sua importância para o trabalho a longo prazo”, explica a artista.
Com textos dos críticos de arte e curadores Germano Celant e Luisa Duarte, em versão bilíngue, a publicação reúne mais de uma centena pinturas e fotografias da artista, nos quais se percebe a presença marcante da água e do mar, assim como das plantas e matas, criando um universo próprio. “O trabalho de Janaina habita um território maleável entre realidade e fabulação, entre a paisagem vista, a paisagem lembrada e a paisagem que se torna pintura, fruto da memória viva. Nesse fluxo, a lembrança opera, modifica o referente primeiro, produzindo assim uma espécie de mundo delirado. Essa é, justamente, uma das maiores potências que nos reserva sua obra”, descreve Luisa Duarte.
Entre as pinturas mais remotas no livro está Wilt (2009), que mostra um trabalho mais figurativo a partir de formas da natureza; com o passar do tempo, Janaina caminha cada vez mais para o percurso da abstração e também abre espaço para o acaso. Em inúmeras obras, se aproveita do escorrer da tinta para o início de uma nova seção da pintura. É o caso de Dust Particles (2010), no qual tons de azul ganham pinceladas largas horizontais, que se estendem sobre toda a superfície da tela. A partir de 2012, quando passa a usar a caseína (uma tinta à base de água), essa união entre intenção e acaso se torna cada vez mais presente. “A tinta extremamente líquida ganha um protagonismo tal que faz com que esta torne-se sujeito, e não mero objeto a ser manipulado. Assim como as correntes marítimas se encarregam de guiar os corpos em Dormant (trabalho de 2016) e modificar as suas formas, a caseína faz o seu trabalho, à revelia da artista”, frisa a crítica Luisa Duarte.
As pinturas de Tschäpe, que congregam formas da natureza e formas geométricas de maneira fluida, provocam no espectador um estímulo constante. “Sua arte absorve todas as substâncias, atrai todas as essências, está imersa em todas as cores — da felicidade ao sofrimento, do luminoso ao noturno, do alegre ao melancólico”, define o crítico italiano Germano Celant, que faz no livro uma retrospectiva da carreira de Janaina, desde as performances conceituais na escola Düsseldorf, onde ela deu seus primeiros passos artísticos.
Sobre a artista
Janaina Tschäpe nasceu em 1973, em Munique, Alemanha, cresceu em São Paulo e atualmente vive e trabalha em Nova York. A artista estudou Belas Artes no Hochschule fur Bilende Kuenste em Hamburgo, Alemanha, e é mestre em Belas Artes pela School of Visual Arts de New York. Tschäpe trabalha com diversas linguagens artísticas, como vídeo, fotografia, desenho e pintura. Já expôs em inúmeros museus e instituições de renome mundial. Seus trabalhos podem ser encontrados nas coleções públicas de importantes museus, como 21st Century Museum of Contemporary of Art, Kanazawa, Japão; Centre Pompidou, Paris, França; Coleção Gilberto Chateaubriand, MAM Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Museu Nacional Centro de Arte Reina Sophia, Madri, Espanha; SMAK, Stedelijk Museum voor actuele kunst, Gent, Bélgica, entre outros.
Sobre a Cobogó
Criada em 2008, a Editora Cobogó tem como foco a publicação de livros sobre arte e cultura contemporâneas. Lançou publicações sobre artistas como Adriana Varejão, Nuno Ramos, Laura Lima, Erika Verzutti, Paulo Nazareth, Iran do Espírito Santo, Sonia Gomes, Mauro Restiffe, Marina Rheingantz, Marcelo Cidade, Ana Elisa Egreja, Mauro Piva, Alexandre da Cunha, Rivane Neuenschwander, José Damasceno e Leonilson. Além de diversos outros títulos relacionados à arte, entre eles A filosofia de Andy Warhol, de Andy Warhol; Hans Ulrich Obrist – Entrevistas vols. 1 a 6; Concreto e Cristal: O Acervo do MASP nos Cavaletes de Lina Bo Bardi; os panoramas Pintura Brasileira séc. XXI e Fotografia na Arte Brasileira séc. XXI.
Além das artes visuais, a Cobogó se destaca pelo lançamento de livros sobre música, teatro e dança. Entre as obras publicadas, estão O dançarino e a dança, sobre a trajetória do bailarino e coreógrafo americano Merce Cunningham; De segunda a um ano, único livro do artista e músico John Cage lançado no Brasil; A Arte do Presente, coletânea de entrevistas feitas com Ariane Mnouchkine, diretora e fundadora do Théâtre du Soleil, a Coleção Dramaturgia, com mais de 35 textos de importantes autores contemporâneos, incluindo as premiadas peças Caranguejo Overdrive, de Pedro Kosovski, BR-Trans de Silvero Pereira, Krum, do israelense Hanoch Levin, e Por Elise, de Grace Passô, Conselho de Classe, de Jô Bilac, e a coleção O Livro do Disco, que mergulha no universo de álbuns emblemáticos da discografia brasileira e estrangeira. Recentemente lançou Arte Brasileira para Crianças, com 100 artistas e atividades baseadas em suas obras.
Em 2016, recebeu o Prêmio Jabuti pelo livro Histórias Mestiças - catálogo, do curador de arte Adriano Pedrosa e da antropóloga Lilia Schwarcz com obras de diversos artistas que compuseram a exposição realizada no Instituto Tomie Ohtake, em 2014.
Ficha Técnica
Título: Janaina Tschäpe
Textos: Germano Celant e Luisa Duarte
Tradução: Alyne Azuma
240 páginas
ISBN: 978-85-5591-027-2
Encadernação: Capa dura
Formato: 26x30 cm
Peso: 1.820 gramas
Profundidade: 2,5 cm
Ano de edição: 2017
Preço de capa: R$ 136,00
Gabriel Lima no Galpão Fortes D’Aloia & Gabriel, São Paulo
Ao mesmo tempo em que se envolve e resiste às limitações da experiência empírica, Gabriel Lima direciona seu trabalho em busca da representação da consciência. Proximate Drivers é sua segunda exposição no Galpão da Fortes D’Aloia & Gabriel e apresenta onze pinturas a óleo. Estes trabalhos etéreos incorporam a abordagem dinâmica e exploratória de sua prática com imagens que variam de pessoas a animais distintos, de paisagens surrealistas a abstrações puras.
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O coeso corpo de obras incluído aqui instiga uma leitura singular. Através de sua maneira fragmentada de representação, Lima encoraja reconstruções visuais e conceituais, questionando a relevância da pintura dentro e além dos limites do espaço expositivo. Inspirado em parte pelo seu interesse pelas complexidades sócio-geográficas do Brasil – como a urbanização maciça somada à dominação corporativa das terras rurais –, Lima continua a longa tradição na pintura de analisar a relação do homem com a natureza.
As mulheres retratadas por Lima trazem expressões dúbias, que traduzem vulnerabilidades e forças universais, transmitindo um senso compartilhado de resolução. O que elas estão olhando? Elas estão se protegendo, procurando algo, realizando algum tipo de trabalho? Ou talvez estejam simplesmente observando. Ou aguardando. A ênfase do artista sobre seus estados íntimos sugere tanto um sentimento de deslocamento quanto uma presença transcendente.
Talvez o senso de deslocamento dessas mulheres se deva às paisagens que as acompanham. As pinturas de paisagem intercalam os retratos, sugerindo que as personagens devem achar seu caminho através desses ambientes. No entanto, ao invés de espaços habitáveis, esses trabalhos desmontam o tempo com representações difusas que ora sugerem cenários idílicos do pré-Antropoceno, ora se revelam como terrenos devastados ou de outro mundo. Em várias dessas paisagens um sol à distância parece se pôr, embora não haja linha do horizonte além da qual possa ir. A profundidade expansiva que Lima cria ao longo das telas é abruptamente achatada pela inclusão de uma forma preta e fantasmagórica – com um tom pesado, mas de forma leve, a natureza contraditória desse elemento consegue desmanchar e expandir a tela ao mesmo tempo.
Em uma das maiores obras da exposição, uma capivara flutua sobre uma composição abstrata. Apesar de seu habitat natural ser as savanas e florestas, as capivaras se adaptaram para viver nas margens dos rios altamente poluídos de São Paulo. Em vez de ditar como os espectadores devem entender a presença desse animal – como símbolo de destruição ambiental ou de sobrevivência inesperada – as possibilidades de interpretação são deixadas em aberto. Este espaço intersticial dentro do qual nos encontramos enquanto examinamos as pinturas de Lima é a essência de sua obra.
Como John Berger escreve na primeira passagem de Modos de Ver: “[É] o ato de ver que estabelece o nosso lugar no mundo circundante. Explicamos esse mundo com palavras, mas as palavras nunca podem desfazer o fato de estarmos por ele circundados. A relação entre o que vemos e o que sabemos nunca fica estabelecida.” Aceitar a declaração de Berger é aceitar o potencial inerente de um espaço tão indefinível. Lima está fazendo exatamente isso – empurrando a pintura além das questões do olhar ou ver para perguntar sobre o ser.
Gabriel Lima nasceu em São Paulo em 1984. Vive e trabalha em Nova York. Graduou-se em Belas Artes na Cooper Union (Nova York, 2007-2010) e fez Mestrado em Pintura na Royal College of Arts (Londres, 2011-2013). Suas exposições individuais incluem: life, vest; coffee, tray, Kai Matsumiya (Nova York, 2016); Hanoi, Hanoi, Galeria Múrias Centeno (Lisboa, 2015); Autêntico, Union Pacific (Londres, 2015); Us And Them Forever Bound Up In Here And Now, Galpão Fortes Vilaça (São Paulo, 2014); world interior, Galeria Múrias Centeno (Porto, 2014). Entre as coletivas recentes, destacam-se: A Terceira Mão, Fortes D’Aloia & Gabriel | Galeria (São Paulo, 2017); Nimm’s Mal Easy, Ausstellungsraum Klingental (Basel, 2015); Jac Leirner, Albert Baronian Project Space (Bruxelas, 2015); Ex Materia, Berthold Pott (Colônia, 2015).
Simultaneously engaging with and resisting the constraints of lived experience, Gabriel Lima employs his paints in the pursuit of a representation of consciousness. Proximate drivers is his second exhibition at Fortes D’Aloia & Gabriel | Galpão and features eleven recent paintings in oil. Populated with images ranging from distinct people and animals, to surrealistic landscapes and pure abstractions, these ethereal paintings embody Lima’s dynamic and exploratory approach to his practice.
The cohesive body of works included here defy a singular reading. Through his fractured manner of depiction, Lima encourages various visual and conceptual reconstructions that supersede existing paradigms, while questioning the relevance of painting within and beyond the confines of the exhibition space. Inspired in part by his interest in the socio-geographical complexities of Brazil—such as massive urbanization in conjunction with corporate domination of rural lands—Lima continues the long-standing tradition in painting of analyzing man’s relationship to nature.
The women depicted in Lima’s portraits have dubious expressions, rendered in such a way as to portray essential and universal vulnerabilities and strengths and conveying a shared sense of resolve. What are they looking at? Are they protecting themselves, searching for something, performing some sort of labor? Or perhaps they are simply observing. Or waiting. Lima’s emphasis on their interior states suggests both a sense of displacement as well as a transcendent presence.
Perhaps their sense of displacement is due to the fact that the accompanying landscapes—through which one imagines these figures must negotiate their way forward—offer little salvation. Rather than portray an inhabitable space, these paintings collapse time with their depictions of environments that for a brief moment may read as halcyon pre-Anthropocene settings, before revealing themselves as post-industrial, or other-worldly, wastelands. In several of these landscapes a sun in the distance appears at first to be setting, though there is no horizon line beyond which it can fall. The expansive depth Lima creates throughout these canvases is abruptly flattened by the inclusion of a black ghost-like form that appears throughout the works on view. Heavy in tone, but light in form, the self-contradictory nature of this motif at once breaks down and expands the canvas.
In one of the biggest works in the show, a capybara is depicted over an abstract composition. Despite their natural habitat of savannas and forests, capybaras have adapted to live on the shores of São Paulo’s highly polluted rivers. Rather than dictating how viewers understand the presence of this animal—as symbolic of environmental destruction or unexpected survival—the possibilities for interpretation are left open. This interstitial space within which one finds oneself while examining Lima’s paintings is the essence of his practice.
As John Berger writes in the opening passage of Ways of Seeing: “It is seeing which establishes our place in the surrounding world; we explain that world with words, but words can never undo the fact that we are surrounded by it. The relation between what we see and what we know is never settled.” To accept Berger’s statement is to accept the potential that lies within such an indefinable space. Lima is doing just that—pushing painting beyond matters of looking and seeing in order to pose questions of being.
Gabriel Lima was born in São Paulo in 1984. He lives and works in New York. He graduated in Fine Arts from Cooper Union (New York, 2007-2010) e has a Master’s degree in Painting from Royal College of Arts (London, 2011-2013). His recent solo exhibitions include: life, vest; coffee, tray, Kai Matsumiya (New York, 2016); Hanoi, Hanoi, Galeria Múrias Centeno (Lisbon, 2015); Autêntico, Union Pacific (London, 2015); Us And Them Forever Bound Up In Here And Now, Galpão Fortes Vilaça (São Paulo, 2014); world interior, Galeria Múrias Centeno (Porto, 2014). His participations in group shows have most notably included: The Third Hand, Fortes D’Aloia & Gabriel | Galeria (São Paulo, 2017); Nimm’s Mal Easy, Ausstellungsraum Klingental (Basel, 2015); Jac Leirner, Albert Baronian Project Space (Brussels, 2015); Ex Materia, Berthold Pott (Cologne, 2015).
agosto 15, 2017
Semana de Arte 2017 no Hotel Unique, São Paulo
Sete dias no mundo da arte
Organizada em torno de uma feira que reúne um seleto time de galerias brasileiras e estrangeiras sob um conceito curatorial inovador, a Semana de Arte apresenta ainda uma série de espetáculos e atividades culturais exclusivos, oferecendo ao visitante uma experiência singular
A Semana de Arte, que vai ocupar São Paulo entre os dias 14 e 20 de agosto de 2017, se propõe a celebrar, discutir e ampliar um mercado que vem crescendo de forma ímpar nos últimos 15 anos, na cidade que se consolidou como seu epicentro. Capitaneado pelos galeristas Luisa Strina e Thiago Gomide, pelo curador Ricardo Sardenberg e pelo empresário cultural Emilio Kalil, o evento – apresentado pelo Ministério da Cultura e pelo Banco Bradesco – se organiza em torno das artes visuais, mas vai muito além: a Semana começa com uma série de espetáculos exclusivos e gratuitos de artes cênicas, música, dança, cinema e literatura espalhados por diversos espaços, passa por um ciclo de palestras com direito a convidados internacionais, por uma série de passeios arquitetônicos, e culmina em uma feira de arte com conceito curatorial inovador, que reunirá um seleto time de galerias do Brasil e do mundo.
– É uma feira pequena, em que nós curamos as galerias e também as obras que serão levadas. É como se estivéssemos organizando dezenas de exposições simultâneas – resume a marchande Luisa Strina, que abriu a galeria que leva seu nome em 1974 e no ano passado figurou entre as pessoas mais influentes no mundo das artes pelas revistas “ArtReview” e “Vanity Fair”. – Queríamos uma feira que não tivesse só o enfoque do mercado, que tivesse em volta dela uma semana cheia de cultura.
– O que não falta no mundo é feira – completa Thiago Gomide, sócio-diretor da galeria Bergamin & Gomide. – Já que o mercado se desenvolveu tanto em São Paulo nos últimos anos, sentimos que há espaço para outro modelo, que se diferencie no critério das escolhas, na qualidade do conteúdo, que ofereça uma experiência singular, pensada nos mínimos detalhes. O importante é que ela surpreenda, que não tenha cara de um grande evento comercial, que o visitante perceba que tudo ali foi pensado, discutido, selecionado. Mais do que uma feira, trata-se de um grande evento de artes.
A ideia é oferecer um novo formato, em que os mercados primário e secundário não serão divididos em seções distintas e os estandes – dispostos sem hierarquia, sempre ocupando espaços entre 25 e 33 metros quadrados – passarão pela curadoria de Ricardo Sardenberg, focada na criação de um fluxo entre os espaços de cada expositor e num envolvimento mais profundo tanto com as obras à mostra quanto com a proposta das próprias galerias. Todas apresentarão projetos especiais, sejam solos, diálogos entre dois artistas ou em torno de temas específicos – caso da remontagem da sala da Bienal Internacional de Arte de São Paulo de 1977 do artista Ridyas, falecido aos 30 anos, em 1979, e de uma mostra focada no Dadaísmo e no Surrealismo e seus desdobramentos na arte brasileira da primeira metade do Século XX. A diversidade de nomes, períodos e procedências chama a atenção: de Lygia Clark, Hélio Oiticica, Dadamaino e Martin Kippenberger a Marcius Galan, Amalia Giacomini, Los Carpinteros e Carlos Bunga.
A feira acontece de 18 a 20 de agosto no Hotel Unique (a abertura para a imprensa e convidados se dará ao longo da quinta-feira 17 de agosto). Entre as participantes estão casas que não costumam frequentar o circuito brasileiro com assiduidade, como Luhring Augustine e Alexander and Bonin (ambas de Nova York). Franco Noero (Turim), Galleria Continua (San Gimignano) e Galería Elba Benitez (Madri) também marcarão presença. No rol nacional, figuram algumas das principais e/ou mais interessantes galerias do país. Na contramão do modelo de inscrições abertas comum às grandes feiras que se multiplicam pelo calendário mundial, todas as participantes terão sido eleitas e convidadas pela organização da Semana de Arte.
– Costumo dizer que é uma feira para os profissionais e para quem frequenta o mercado de fato. Não é um programa social, é para quem está envolvido mesmo. Vivemos um processo de especialização do mercado de arte em São Paulo, por isso uma feira para gente da área, uma vez que esse mercado cresceu tanto, se profissionalizou tanto e se diversificou tanto recentemente. Os colecionadores estão muito mais sofisticados, independentemente do padrão de capacidade econômica – diz Sardenberg, que foi o primeiro curador do Instituto Inhotim e cofundador da editora Cobogó. – Poderia ser só a feira, mas imagino a cidade de São Paulo, o maior centro metropolitano da America Latina, como um verdadeiro caldeirão cultural, e penso que isso deve ser estimulado. A Semana é a nossa contribuição.
Além de cuidar da curadoria da feira, Sardenberg é responsável por um ciclo de palestras que ocupará o auditório do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo na terça-feira 15 de agosto. Às 10h, Fernanda Brenner, do Pivô, e Bernardo José de Souza, da Fundação Iberê Camargo, convesam sobre modelos curatoriais em instituições privadas sem fins lucrativos no contexto político brasileiro atual. Às 11h30m, o artista plástico Bernardo Ortiz fala sobre o exercício de caminhar pela paisagem atento à percepção – uma divagação que passa por descrição de cores e por questionamentos sobre como as coisas são construídas e como permanecem. Às 14h30m, o crítico e curador Paulo Sérgio Duarte recebe a curadora Maria do Carmo Pontes para discutir a obra do artista Antonio Dias, que durante a feira terá um solo com trabalhos dos anos 1970 no estande da Galeria Nara Roesler. Para fechar o dia, às 16h30m, a historiadora da arte e curadora Isobel Whitelegg, diretora do MA Art Museum & Gallery Studies da Universidade de Leicester, apresenta a sua pesquisa sobre a História das bienais na América Latina nos anos 1970 e 1980, que termina com a Terceira Bienal de Havana, em 1989, provocando uma discussão sobre os significados da globalização para essas mostras.
– A partir de 1989 ocorre uma transformação estrutural, não só do ponto de vista institucional, mas também do mercado e, claro, da produção artística. Até então as pessoas só colecionavam arte do seu país, ou estavam no eixo EUA-Europa. Ali se deu uma grande virada do que a gente entende hoje como uma arte global no contexto contemporâneo – comenta Sardenberg. – E a hora não poderia ser mais apropriada para debater esse assunto, porque estamos vivendo um período de crise da globalização. O mundo vive uma ressurreição do Estado nacional, uma busca por uma identidade nacional em vez de uma identidade cultural. Basta acompanhar a atual situação política e econômica; tudo isso está sendo posto em xeque. Não sabemos se vai acontecer um esgotamento ou uma grande reforma, mas há um debate muito forte em cima disso. No meio das artes ainda não é muito claro quais serão as implicações, mas, dependendo dos desdobramentos politicos, certamente haverá efeitos.
A programação além-artes visuais está a cargo de Emilio Kalil, que em 40 anos dedicados à gestão de atividades culturais dirigiu o Grupo Corpo, produziu a Bienal de São Paulo e, mais recentemente, foi Secretário Municipal de Cultura do Rio de Janeiro e presidente da Fundação Cidade das Artes, além de já ter passado pela direção dos dois mais importantes teatros do Brasil, os Municipais do Rio de Janeiro e de São Paulo. Kalil organizou uma série de apresentações de teatro, dança, música e literatura, sempre pautadas pelo ineditismo.
– A ideia é que a Semana de Arte rode São Paulo – pontua.
A lista de atrações – todas gratuitas, sujeitas à lotação de cada espaço – é extensa. Em Dança e artes visuais: encontros, que toma o teatro Tucarena da PUC-SP na segunda-feira 14 de agosto, a curadora Helena Katz se debruça sobre obras de coreógrafos que flertaram com as artes visuais – caso da parceria de Martha Graham com Isamu Noguchi, do encontro de Lia Rodrigues com a obra de Tunga ou de Loie Fuller imortalizada por Toulouse Lautrec –, em vídeos apresentados ao vivo pela atriz Maria Luisa Mendonça. No dia seguinte, também no Tucarena, Escrevivência com o coração na ponta dos dedos reúne a escritora Conceição Evaristo e o bandolinista e compositor Hamilton de Holanda em uma mesa-show que abordará a literatura e a música, sempre ressaltando a presença das culturas diaspóricas africanas na pluralidade das artes brasileiras.
Na quarta-feira 16 de agosto, no mesmo local, Hamilton Vaz Pereira comandará uma leitura dramatizada da peça Trate-me leão, uma das mais emblemáticas do grupo teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone, interpretada por atores da nova geração para celebrar os 40 anos depois da estreia. E no sábado, 19 de agosto, haverá uma exibição especial do documentário Maria – Não esqueça que eu venho dos trópicos, que resgata a vida e a obra de Maria Martins (1894-1973), reconhecida como uma das maiores escultoras brasileiras – esposa de um grande diplomata brasileiro, ela manteve uma ligação amorosa de 20 anos com o artista francês Marcel Duchamp. Após a projeção, no CineSesc da Rua Augusta, os diretores Francisco Martins e Elisa Gomes participam de um debate com Graça Ramos, autora do livro Maria Martins – Escultora dos trópicos.
– Maria Martins circulou de forma importante pelo mundo. Pode-se dizer que ela foi uma precursora do que está acontecendo hoje com a arte brasileira – frisa Kalil.
A Semana de Arte se completa com quatro passeios por marcos arquitetônicos de São Paulo guiados pelo arquiteto Aieto Manetti. Dois serão autorais, percorrendo edificações de Lina Bo Bardi (no domingo 20 de agosto, às 10h) e Paulo Mendes da Rocha (também no domingo 20 de agosto, às 15h); os demais focarão nas regiões de Higienópolis (numa espécie de pré-abertura do evento, no sábado 12 de agosto, às 11h) e do Centro (no sábado 19 de agosto, às 15h). A participação nos trajetos, que serão feitos a pé e/ou de van, se dará mediante inscrição pelo e-mail educativo@semana.art.
Confiante na amplitude do programa, Thiago Gomide – que trabalhou como produtor do Inhotim e executivo da Bolsa de Arte do Rio de Janeiro – conclui:
– Para quem gosta, consome e vive em volta de arte, está tudo ligado, tudo tem a ver, tudo é inspiração.
Tão diferentes, tão atraentes na Carbono, São Paulo
A Carbono Galeria inaugura no dia 16 de agosto de 2017, durante a “Semana de Arte”, a exposição Tão diferentes, tão atraentes, com curadoria de Paulo Miyada e participação de 10 artistas.
A mostra reúne obras de Adriano Costa, Ana Prata, Beto Shwafaty, Daniel Senise, Jac Leirner, Janina McQuoid, Leda Catunda, Lucia Koch, Pedro França e Tiago Mestre, produzidas especialmente para a exposição a partir da proposição apresentada por Miyada, que aborda a questão de como obras de arte podem ser confundidas com objetos, a partir de uma funcionalidade.
Sobre a exposição, o curador escreve: “A chave, aqui, é enfatizar a relação inversa: que o que vale para as obras de arte valerá para os objetos cotidianos, em igual ou maior medida. A proposta em Tão diferentes, tão atraentes é comissionar e apresentar obras de arte que são também objetos e que, como obras e como objetos, têm a expectativa de estar futuramente na casa de alguém, subsistir em ambiente doméstico, seja lá o que tal ambiente tenha se tornado hoje. “
As obras, no total 13, passam a fazer parte do acervo de edições da Carbono, que conta hoje com diversos trabalhos de importantes e conceituados artistas. O coletivo escolhido pelo curador, traz artistas da geração 80, como Jac Leirner, Daniel Senise e Leda Catunda, de reconhecimento internacional, como também artistas jovens que estão despontando na cena artística brasileira, como o Pedro França e a Janina McQuoid.
“Os artistas foram convidados em função de seu interesse recorrente por aspectos da arte compartilhados com os do habitar: seja o design como disciplina e condensação de modelos para a vida, seja o ornamento e a decoração como pensamento imagético (cultural e identitário) realizado no espaço social ou, ainda, o flerte com a possibilidade de uso efetivo pelo espectador/usuário.” Comenta Paulo Miyada.
“Se, por um lado, esse desejo fez com que muitos trabalhos se aproximassem de arquétipos de mobiliários e ornamentos – azulejos, bibelôs, cortinas, bancos, luminárias, maçanetas… –, por outro, é fácil constatar que seus projetos provocam algum tipo de hiato que os distanciam de esquemas plausíveis para a indústria atual.”
Paulo Miyada - Curador e pesquisador de arte contemporânea. Possui mestrado em História da Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (FAU-USP), SP, pela qual também é graduado.
É curador do Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP, onde coordena o Núcleo de Pesquisa e Curadoria e colaborou com diversas exposições, entre elas “Tomie Ohtake 100-101” (2015), “Nelson Felix: Verso” (2013) “Paulo Bruscky: Banco de Ideias” (2012) e o programa “Arte Atual” (desde 2013). Também no Instituto, co-coordena o programa de cursos da Escola Entrópica, em que é professor.
Foi assistente de curadoria da 29ª Bienal de São Paulo (2010) e integrou a equipe curatorial do “Rumos Artes Visuais” do Itaú Cultural (2011-2013) e da edição retrospectiva desse programa realizada em 2014. Foi curador adjunto do 34º Panorama da Arte Brasileira: “Da pedra, da terra, daqui”, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, SP (2016).
Foi curador das mostras coletivas “A parte que não te pertence”, Wiesbaden, Alemanha (Kunsthaus Wiesbaden, 2014), “A parte que não te pertence”, Madri, Espanha (Galeira Maisterravalbuena, 2014), “Boletim”, São Paulo, SP (Galeria Millan, 2013), “É preciso confrontar as imagens vagas com os gestos claros” e “Em direto” (Oficina Cultural Oswald de Andrade, 2011 e 2012), entre outras.
Destaques
Beto Schwafaty por Paulo Miyada
Na produção artística de Beto Schwafaty, a palavra “produção” soa imprecisa – melhor seria, pesquisa, raciocínio ou demonstração artística. Isso porque sua prática concerne modos de cruzar investigações históricas com interesses críticos presentes em novos dispositivos espaciais (desde objetos apropriados até mobiliários e instalações construídos). Tais investigações constantemente passam pelos campos da política, do poder, da utopia, do urbanismo, da arquitetura, da arte, do design e, especialmente, por suas intersecções.
Dispositivo Anti Ego apresenta-se no espaço como um espelho redondo de escala e altura ideais para que os passantes o utilizem para observarem a si mesmos. Associado ao espelho, porém, estão um motor e um sensor de presença. Conforme o corpo do passante aproxima-se da distância adequada para melhor visualizar-se, o sensor ativa o motor que rotaciona o espelho e, assim, dissolve a feição ali refletida. Como o nome da peça indica, ela faz da negação da reflexão um artifício de resistência tão difundido ao impulso narcisista de nossa época.
Leda Catunda por Paulo Miyada
Leda Catunda trabalha junto aos objetos, materiais e signos que consumimos para delinear nossa identidade, gosto e imagem. Por consequência, seu campo de referência multiplicou-se de modo exponencial nas últimas décadas, até a presente situação em que a constituição da imagem individual consolidou-se como maior catal izador de energias, recursos e tempo de uma enorme parcela da população global. Velocidade, pluralidade e repetição tornaram-se, portanto, assuntos inescapáveis para a reflexão da artista. Como contramedida capaz de refrear os estímulos circundantes e organizá-los segundo certa ordem plástica, Leda Catunda aposta no desenho. É a definição de linhas e campos cromáticos que opera como linguagem estruturante de seus trabalhos, sejam eles eminentemente pictóricos ou objetuais.
Casais consiste um conjunto de azulejos de tamanho padrão, que podem ser instalados em múltiplos arranjos. O desenho de linhas vermelhas unifica em um mesmo traço diversas cenas associadas a romance e amor, segundo os buscadores online de imagens. Estereótipos de felicidade conjugal justapõem-se como um painel de modelos de felicidade a ser perseguido, ou, pelo menos, reproduzido para tirar novas fotos que poderão somar-se ao oceano de imagens diferentes, porém iguais, que abastecem as redes sociais.
Daniel Senise por Paulo Miyada
A produção de Daniel Senise opera cortes, montagens e imbricações de substâncias carregadas de múltiplos níveis de significação. Há os rastros impressos pelo tempo, as formas atribuídas pelo desenho e as profundidades (ou planaridades) inferidas pelos sistemas de representação - tudo colapsado em uma mesma construção. Assim, ver uma de suas obras implica não apenas olhar, mas também decifrar, rememorar, especular e, ao mesmo tempo, confundir e esquecer.
Luminária Parque Lage foi moldada em bronze a partir de um longo galho coletado no parque a que se refere o título da obra. Assim, a matéria orgânica adquire outra duração, outro peso, outro lugar. Em seus braços, uma lâmpada aplica-se em arranjo móvel, que pode ser rearranjado para alturas maiores ou menores, equilíbrios mais ou menos estáveis.
Banco Ed. Lugano também remove uma matéria sujeita à ação do tempo e a cristaliza em novo corpo, para sustentar outros corpos. Os tacos de madeira marchetados em padronagem geométrica, removidos de um apartamento no edifício homônimo, reestruturam-se como assento de um banco. Em ambos os objetos, coloca-se embaralham-se as vidas passadas e os desígnios futuros dos objetos.
agosto 14, 2017
Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira no Santander Cultural, Porto Alegre
Trata-se da primeira exposição com abordagem Queer realizada no Brasil, que traz um recorte totalmente inédito na América Latina.
O Santander Cultural apresenta a mostra Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira com mais de 270 obras – oriundas de coleções públicas e privadas – que percorrem o período histórico de meados do século 20 até os dias de hoje. Aberta ao público a partir de 15 de agosto, trata-se de uma iniciativa inédita que explora a diversidade de expressão de gênero e a diferença na arte e na cultura em períodos diversos. O Santander valoriza a diversidade e investe em sua unidade de cultura no Sul do País para que ela seja contemporânea, plural e criativa.
A exposição, que adota um modelo de disposição não cronológica e propõe desfazer hierarquias, mostra que a diversidade surge refletida no modelo artístico observada sob aspectos da variedade e da diferença. Pintura, gravura, fotografia, serigrafia, desenho, colagem, cerâmica, escultura e vídeo são apresentadas por meio de 85 artistas.
Queermuseu é, sobretudo, uma mostra que busca dar projeção à arte e a cultura por meio de questões artísticas que ultrapassam diversos aspectos da vida contemporânea, na constituição formal dos objetos, nos hábitos, nos costumes, na moda, na diversidade comportamental, geracional e na evolução da estética.
A curadoria realizada por Gaudêncio Fidelis propõe um diálogo entre as obras e promove o questionamento entre realidade material e conceitual e seus desdobramentos. “Uma exposição queer, que busca não ditar ou prescrever regras, discute questões relativas à formação do cânone artístico e a constituição da diferença na arte. Para esta plataforma curatorial levei em conta aspectos artísticos, culturais e históricos de cada trabalho” afirma o curador.
Queermuseu é um ‘museu provisório’, ficcional e metafórico, onde a inclusão é exercida para além de parâmetros restritivos, excludentes e discricionários. Para Marcos Madureira, vice-presidente executivo de Comunicação, Marketing, Relações Institucionais e Sustentabilidade do Santander, “A Diversidade é um valor para o nosso negócio. Acreditamos que o capital humano é o que torna uma organização diversa, com maior probabilidade de inovação e maior chance de se diferenciar no mercado”.
Este projeto é apoiado pelo Ministério da Cultura, patrocinado pelo Santander, realizado pelo Santander Cultural e Governo Federal e produzido pela Rainmaker Projetos e Produções.
Histórico
A produção artística e cultural queer ganha cada vez mais espaço em importantes instituições culturais internacionais. Alguns exemplos ocorreram em 2010: Hide/Seek: Difference and Desire in American Portraiture realizada pela National Portrait Gallery da instituição Smithsonian, em Washington, apresentou uma produção moderna e contemporânea. Ars Homo Erotica, realizada pelo Museu Nacional da Polônia, em Varsóvia, percorreu um arco histórico da arte grega à contemporaneidade. Recentemente inaugurou na Tate Britan, em Londres, a Queer British Art (1861-1967), com um conjunto de exposições de caráter histórico. Outras iniciativas de pequeno porte foram realizadas ao redor do mundo.
Gaudêncio Fidelis | (Gravataí, RS, 1965) é curador e historiador de arte, especializado em arte brasileira, moderna, contemporânea e arte das américas. É Mestre em Arte pela New York University (NYU) e Doutor em História da Arte pela State University of New York (SUNY), com a tese The Reception and Legibility of Brazilian Contemporary Art in the United States (1995-2005). Foi fundador e primeiro diretor do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MAC-RS), em 1992. Foi curador do Ciclo Arte Brasileira Contemporânea do Instituto Estadual de Artes Visuais do RS do qual foi diretor de 1992 a 1993. Escreveu diversas monografias de artistas e possui centenas de artigos publicados em jornais e revistas brasileiras e estrangeiras, catálogos e outras publicações de arte. Publicou os livros Dilemas da Matéria: Procedimento, Permanência e Conservação em Arte Contemporânea (MAC-RS, 2002), Uma História Concisa da Bienal do Mercosul (FBAVM, 2005), O Cheiro como Critério: em Direção a Uma Política Olfatória em Curadoria (Argos, 2015), entre outros. Participou de inúmeras conferências como palestrante e conferencista no Brasil e exterior em instituições como a Fundação Bienal de São Paulo (Brasil), Clark Institute (EUA), Centro Cultural Banco do Brasil (Brasil), Bard College Center for Curatorial Studies (EUA), Binghanton University (EUA), Fundação Bienal de Cuenca (Equador). Foi Curador-adjunto da 5ª Bienal do Mercosul em 2005. Em 2016 integrou o júri da XIII Bienal de Cuenca. É membro do Conselho Consultivo do Patrimônio Museológico Brasileiro do IBRAM - Instituto Brasileiro de Museus e do Conselho do Museu Oscar Niemeyer (Curitiba-PR). Foi diretor do Museu de Arte do Rio Grande Sul (MARGS) de 2011-2014 e Curador-chefe da 10a Bienal do Mercosul – Mensagens de uma Nova América em 2015. É membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA).
Mariana Manhães na Mul.ti.plo, Rio de Janeiro
Finalista do prêmio Marcantônio Vilaça, a artista Mariana Manhães expõe trabalhos inéditos na Mul.ti.plo até dia 19 de agosto
Um desenho aéreo. Uma máquina. Uma instalação. Fotos que são desenhos ou desenhos que são fotos? Finalista da 6ª edição do prêmio CNI/SESI Marcantônio Vilaça, a artista Mariana Manhães apresenta, até o dia 19 de agosto, a mostra Toda Palavra Tem Uma Gruta Dentro de Si, com trabalhos inéditos e recentes, na Mul.ti.plo Espaço Arte. São ao todo 5 desenhos (de 66 x 96 cm a 70 x 100 cm) e 7 fotografias (40 x 35 cm), além de uma instalação - apelidada de máquina pela artista - que será montada na galeria.
– Assim como desenho e instalação são palavras que não esgotam o que é um trabalho, acho que nenhuma palavra consegue esgotar as coisas. É como se houvesse uma gruta dentro de cada palavra e, dentro dessa gruta, cada um vai ver o que quiser –, diz Mariana.
A instalação apresentada na galeria é considerada pela artista um “site-inespecific”. Ou seja: ela será criada no espaço de exposição e depois poderá “viver” em algum outro lugar. Em seguida à mostra carioca, Mariana participa da exposição coletiva dos finalistas da 6ª edição do Prêmio Marcantônio Vilaça no Museu Brasileiro da Escultura (MuBE), em São Paulo, com um trabalho que dialoga com os que serão apresentados aqui.
“Sempre desenhei e aí chegou um momento que senti que precisava aprofundar essa prática”, diz a artista, que ficou conhecida, em meados dos anos 2000, por suas máquinas que misturam vídeo, som, mecanismos que fazem uso de equipamentos de robótica e não interagem objetivamente com o visitante. Os desenhos, agora, fazem parte do dia a dia da prática de ateliê da artista, são cada vez mais importantes para sua pesquisa.
“Não vejo distinção entre os trabalhos sobre papel e as máquinas. Para mim é tudo a mesma coisa”, diz Mariana que gosta de trabalhar sozinha rodeada por livros, músicas e filmes. “Não consigo trabalhar com ninguém por perto e odeio telefone”, brinca.
A exposição conta ainda com o lançamento de um múltiplo em forma de livro da artista intitulado “(Sobre as relações entre as coisas da casa)”, com edição de 10 exemplares assinados e numerados.
Mariana Manhães, nascida em 1977, em Niterói, vive no Rio de Janeiro e integra o grupo Jacarandá. O trabalho da artista foi mostrado em diversas exposições no Brasil e no exterior. Dentre eles, podemos destacar: Mariana's The Mattress Factory Art Museum (Pittsburgh, EUA), ShanghART Gallery (Xangai, China), Bozar Museum (Bruxelas, Bélgica), Centro Cultural Banco do Brasil (Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília), Martin-Gropius-Bau Museum (Berlim, Alemanha), Instituto Itaú Cultural (São Paulo), Instituto Tomie Ohtake (São Paulo), Museu de Arte Moderna (Rio de Janeiro), Museu de Arte Moderna (Salvador), Museu Vale do Rio Doce (Vila Velha).
Mariana apresentou exposições individuais no Paço Imperial (Rio de Janeiro), em 2013; Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB (Rio de Janeiro), em 2010, e Museu de Arte Contemporânea – MAC (Niterói), em 2007, entre outras.
Ganhou importantes prêmios, como Prêmio Marcantônio Vilaça (2015), e participou dos programas de residência do The Mattress Factory Art Museum (Pittsburgh, EUA, 2011) e Vancouver Biennale (2014).
Luiz d'Orey na Mercedes Viegas, Rio de Janeiro
Radicado há 5 anos em NY, Luiz d’Orey faz sua primeira individual na Mercedes Viegas com trabalhos inéditos
É entre a rua e o ateliê... Entre a intenção e o acaso, que acontece a pintura de Luiz d'Orey. No dia 16 de agosto, o artista abre sua primeira exposição individual, quase plano, na galeria Mercedes Viegas, com 15 pinturas inéditas em formatos diversos. Os trabalhos fazem parte de uma série que vem desenvolvendo há 2 anos. Para a construção de uma imagem, que tem como ponto de partida fotos tiradas de construções e da arquitetura de cidade de NY, o artista utiliza pôsteres arrancados dos tapumes de obra como o seu principal material.
LUIZ D'OREY - TAPUME from Hugo Faraco on Vimeo.
“Uma das coisas que mais me interessa nesse sistema são os limites criados pela disponibilidade do material que naturalmente me propõe problemas pictóricos a serem resolvidos”, diz. “O meu trabalho está sempre dialogando com este limite entre o acaso e a intenção, mas o mais interessante é que o acaso, em questão, se dá porque a matéria prima foi produzida com outras intenções como a de anunciar um show, promover uma marca, transmitir uma mensagem política...”, completa. Este cruzamento de intenções atrai d'Orey à medida que leva para dentro da pintura um conteúdo verdadeiro a respeito de um determinado lugar e tempo específicos.
E foi justamente pensando nessa questão que, recentemente, ele teve a ideia de, após terminar cada pintura, fotografar e reproduzir sua imagem em um papel de pôster, colando-o novamente no tapume de obra. Após um registro diário fotográfico e de vídeo, Luiz arranca o seu trabalho e o reutiliza sobre a imagem da pintura como início de um novo trabalho. “Conto com um número enorme de assistentes e fornecedores de material”, brinca d'Orey.
Luiz d'Orey, nascido no Rio de Janeiro em 1993, mudou-se para Nova York em 2012, onde atualmente reside e trabalha. Graduou-se bacharel em Belas Artes na School ou Visual Arts, em 2016, sendo escolhido para representar a instituição com trabalhos na Feira Pulse de Miami. Recebeu, também da SVA, as premiações 727 Award (2016), Sillas H Rhodes Award (2016) e Gilbert Stone Scholarship (2015). O carioca trabalha como assistente do artista Carlos Vergara em suas visitas ao Rio, onde, num almoço de verão, conheceu a galerista Mercedes Viegas e imediatamente iniciaram uma parceria. Trabalha também com Raul Mourão, em seu Studio no bairro do Harlem, em Nova York. Seu currículo conta com mostras coletivas em Nova York, Londres e no Rio de Janeiro, além de participações nas feiras sp-arte 2017 e ArtRio 2016.
agosto 11, 2017
Frestas - Trienal de Artes do Sesc em Sorocaba
A partir de 12 de agosto, “Frestas – Trienal de Artes” ocupa Sorocaba (SP) com obras que discutem a noção de verdade na arte e nos discursos midiáticos
Promovendo a descentralização dos polos de arte contemporânea no país, a 2ª edição do evento realizado pelo Sesc tem curadoria de Daniela Labra
Entre projetos comissionados, intervenções urbanas e performances, cerca de 160 obras de 60 artistas brasileiros e internacionais serão apresentadas no Sesc Sorocaba e em diferentes pontos da cidade do interior paulista
O Sesc abre no dia 12 agosto, em Sorocaba, a 2ª edição de “Frestas – Trienal de Artes”. Com o tema Entre Pós-Verdades e Acontecimentos e curadoria da crítica de arte Daniela Labra, o evento gratuito ocupará diversos pontos da cidade, localizada a 90 km de São Paulo, até 03 de dezembro de 2017.
“Além de promover o intercâmbio entre artistas locais, regionais e internacionais, Frestas contribui para a descentralização dos polos de arte contemporânea no Brasil ao proporcionar o acesso a diferentes formas de bens culturais ao público do interior paulista”, afirma Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo.
Entre projetos comissionados, performances, residências artísticas, intervenções urbanas e trabalhos feitos exclusivamente para a internet, a trienal apresentará cerca de 160 obras, produzidas por 60 artistas contemporâneos, de diferentes gerações e de 13 países, que discutem as ambiguidades presentes nas artes e as duvidosas verdades nos discursos midiáticos cotidianos.
“A proposta curatorial aponta caminhos para refletir acerca da impossibilidade de definir Verdade, tanto nas atuais narrativas políticas globais, sustentadas por redes de memes, falsos profetas e populismos midiáticos, como também na arte, cujas certezas sobre sua natureza regrada começam a ruir já no final do século XIX”, diz Daniela Labra, que definiu cincos eixos para a exposição: ambiguidades formais; transdisciplinaridade; performatividade; gênero e sexualidade; crítica social.
A mostra principal de Frestas acontece em uma área de 2.300 m2 construída especialmente para o evento no estacionamento do Sesc Sorocaba. Lá estarão trabalhos de renomados artistas brasileiros, como Wanda Pimentel. Representante da vanguarda da arte pop nacional, a carioca terá sua obra revisitada com relevos pintados e telas das décadas de 1960-70 pouco conhecidas, com temas urbanos e femininos. Também do Rio de Janeiro, o pintor Daniel Senise, expoente da “Geração 80”, realiza seu primeiro projeto utilizando a técnica metacrilato em fotografias. Sobre imagens do antigo refeitório dos funcionários da Estrada de Ferro Sorocabana, ele aplica objetos e resíduos retirados do próprio local, que permanece abandonado.
O duo brasileiro-suíço Dias & Riedweg desenvolveu uma videoinstalação inédita baseada no acervo do fotógrafo norte-americano Charles Hovland, que registrou fantasias sexuais de clientes que responderam seu anúncio em jornais nova-iorquinos entre 1970 e 1980. O mato-grossense Gervane de Paula critica de forma bem humorada a construção de símbolos do Pantanal frente a problemas da região, como a devastação agrícola e o tráfico de drogas. Em uma de suas obras, souvenires de onças, jacarés e frutas surgem ao lado de um grande cachimbo de crack, que no lugar de pedra de fumo tem tuiuiús prestes a serem queimados.
Ainda entre os brasileiros, Fabiano Marques investiga procedimentos da justiça, aludindo à infância vivida na cidade de Sorocaba durante anos repressivos da ditadura militar, Ricardo Càstro, da vizinha São Roque, criará um espaço com luzes, cores, cristais e mobiliário interativo, evocando um ambiente poético de energização e regeneração espiritual, e o paulistano Thiago Honório, traz o inédito tríptico “Alvo, Revolver e Bala”: um boneco em escala humana tem corpo constituído de bandejas de balas de coco, uma instalação com carcaças de pistolas antigas na altura das mãos do público e um palhaço cujo nariz é esticado até provocar um tenso sorriso.
O espaço expositivo também recebe destaques internacionais, como obras da fotógrafa norte-americana Francesca Woodman (1958-1981), com um expressivo conjunto de imagens que revelam força e urgência nos sujeitos retratados, muitas vezes, ela própria; a artista e médica legista mexicana Teresa Margolles, que criou uma coleção de joias em ouro 18K com estilhaços de bala ou vidro retirados de corpos de vítimas da guerra do narcotráfico em seu país; o alemão Michael Wesely, que desenvolveu uma técnica para registrar a passagem do tempo e exibe, em primeira mão, imagens captadas nas manifestações favoráveis e contra o impeachment de Dilma Rousseff; e o cubano Reyner Leiva Novo, que montará um grande e colorido painel com escovas de dentes usadas, trocadas por escovas novas com moradores de um bairro de Sorocaba.
Outros locais do Sesc também serão ocupados por Frestas. Na área expositiva no térreo do edifício principal, estará o “Departamento de Reclamações”, do coletivo norte-americano Guerrilla Girls. Realizado no ano passado na Tate Modern, em Londres, o trabalho das artistas feministas – que não revelam sua identidade e sempre aparecem em público com máscaras de gorila – convidam os visitantes a entrarem e registrarem qualquer tipo de queixa.
Na área externa, o anfiteatro ganhará diversos manequins pintados de verde cintilante que, por meio de efeito chroma key, são a base de fundo de um vídeo inédito do carioca Pedro França. Já na ponte estaiada que liga os dois prédios da unidade, o paulistano Daniel Lie construirá uma grande instalação ornamental com plantas naturais e a expressão “Passa Logo”, referente tanto ao local de passagem como a vida breve da obra e da humanidade. Até a fachada será usada como suporte para uma intervenção artística. O gaúcho Daniel Escobar negociou com cinco comerciantes da cidade a retirada de uma letra que anunciava o nome de seus estabelecimentos, formando com elas a palavra “Sonho” na frente do Sesc Sorocaba.
FRESTAS PELAS RUAS DE SOROCABA
Frestas carrega em seu título o sentido do nome Sorocaba, que, traduzido do tupi-guarani, significa o “lugar da rasgadura”. Por isso, a trienal não poderia ficar restrita às dependências do Sesc. Nesta edição, ela também estará em ruínas históricas, estabelecimentos comerciais e espaços públicos de grande circulação da cidade.
Maria Thereza Alves, brasileira radicada nos EUA, pesquisou vestígios de comunidades indígenas na região de Sorocaba, mas o único registro encontrado foi uma urna mortuária em um museu da cidade que não tem acesso ao público. Surgiu assim o projeto “Um Vazio Pleno”. O ceramista indígena Maximino Kalipety, de Dourados (MT), confeccionou réplicas da urna, que serão enterradas em 16 pontos no centro, de modo a reinserir a presença indígena na cidade.
O terminal de ônibus Santo Antônio foi o local escolhido pelo carioca Gustavo Speridião para seu projeto. Todos os dias, às 6h e 18h, os passageiros do local ouvirão uma gravação à capela do centenário hino “A Internacional”, ao mesmo tempo uma homenagem ao trabalhador e um irônico comentário sobre os fins das utopias e as ainda precárias condições trabalhistas de hoje. Já em uma praça em frente à rodoviária, o paulistano André Komatsu criará uma estrutura de biombos, como um labirinto, lidando com aspectos como público e privado, passagem e impedimento.
Um dos principais nomes de arte urbana no mundo atualmente, o grafiteiro NUNCA (Francisco Rodrigues da Silva), de São Paulo, utilizará a empena cega de um edifício no centro de Sorocaba para produzir um painel de 38 metros de altura, abordando o universo popular e jovem brasileiro. A carioca Panmela Castro terá um muro do histórico edifício da Secretária de Cultura para questionar o lugar da mulher na sociedade patriarcal e no grafite, além de realizar uma performance e instalação sobre estereótipos femininos, na unidade do Sesc.
No Jardim Botânico da cidade, o pernambucano Edson Barrus plantará uma muda de Imburana, cuja madeira é utilizada por artesãos de seu estado para esculpir imagens de santos. Por fim, em uma área na divisa entre Sorocaba e Votorantim, o mineiro Cleverson Salvaro construirá, durante residência artística, uma estrutura cuja forma está entre um muro e um portal, aludindo a discussões sobre território, fronteira e obras públicas inacabadas.
MAIS SOBRE FRESTAS E SEUS ARTISTAS
Desde a inauguração de sua sede, em 2012, o Sesc Sorocaba buscava um projeto capaz de retomar as atividades desenvolvidas em colaboração com os artistas da cidade na década de 1990, durante o projeto Terra Rasgada, em parceria com a Secretaria de Estado da Cultura. Frestas surgiu a partir dessa experiência. Intitulada “O que seria do mundo sem as coisas que não existem?”, a 1ª Trienal de Artes foi realizada entre outubro de 2014 e maio de 2015, com curadoria geral de Josué Mattos.
A edição “Entre Pós Verdades e Acontecimentos” tem Yudi Rafael como assistente de curadoria; a curadoria educativa é de Fabio Tremonte; a curadoria editorial de Ana Maria Maia e Júlia Ayerbe; o projeto gráfico de Julia Masagão; e o projeto expográfico do Estúdio Gru. Participam 42 artistas nacionais e 18 dos seguintes países: Alemanha, Argentina, Áustria, Cuba, Espanha, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Guatemala, Japão, México e Peru. Confira a lista completa neste link.
SOBRE A CURADORA
Nascida no Chile, em 1974, Daniela Labra se mudou com a família para o Brasil ainda criança. Curadora independente e crítica de arte, é Pós-doutora em Estéticas da Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Desenvolve projetos de curadoria, escrita crítica e pesquisa na área de artes visuais, com ênfase na produção contemporânea, e atua principalmente com temas ligados à arte brasileira contemporânea, performance arte e história social e produção cultural do Sul global.
Em parceria com a Galeria Vermelho, de São Paulo, Labra desenvolveu, em 2005, o projeto inicial da VERBO – Mostra de Performance Arte e tem entre as principais curadorias o Festival Performance Presente Futuro, Oi Futuro, RJ (2008-2010), o Festival Performance Arte Brasil, MAM-RJ (2011), a exposição “Depois do Futuro”, EAV – Parque Lage, RJ (2016), e “Das Virgens em Cardumes e da Cor das Auras”, no Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, RJ (2016-17).
Foi professora de Teoria e Arte Contemporânea na EAV – Parque Laje, no Rio de Janeiro, e de 2014 e 2016, colaborou como crítica de artes plásticas no jornal O Globo. Atualmente, reside entre Rio de Janeiro e Berlim.
SOBRE O SESC
O programa de artes visuais do Sesc São Paulo está presente em todas as unidades da rede e lida prioritariamente com as manifestações da arte contemporânea, tendo como alicerce fundamental propostas e dinâmicas educacionais. Contempla exposições relacionadas à Arte Brasileira, Arte Latino-Americana, Arte Internacional, Arte Popular, História das Artes Visuais, Arquitetura e Design, Ilustração e Quadrinhos e Fotografia. Além do programa de artes visuais, o Sesc oferece também atividades relacionadas as linguagens artísticas de teatro, dança, música, circo, cinema e literatura, ações relacionas ao turismo social, saúde, educação ambiental e programas especiais para crianças, jovens e idosos. A instituição conta ainda com o Portal SescSP, o SescTV, as Edições Sesc e o Selo Sesc, e diversas revistas. O Sesc desenvolve, assim, uma ação de educação informal e permanente com intuito de valorizar as pessoas ao estimular a autonomia, a interação e o contato com expressões e modos diversos de pensar, agir e sentir.
PROGRAMA DE ABERTURA
DIA 12 DE AGOSTO (SÁBADO): ABERTURA PARA O PÚBLICO A PARTIR DAS 10H
9h – Encontro no Sesc Pompeia (ônibus estacionará na R. Barão do Bananal)
9h10 – Saída do ônibus de imprensa do Sesc Pompeia
11h – Encontro no Mosteiro de São Bento para conversa da artista Maria Thereza Alves com as educadoras indígenas Eunice Martim e Poty Poran Turiba Carlos e percurso por monumentos da cidade
12h – Visita às obras de Frestas instaladas em diferentes pontos de Sorocaba
13h – Almoço no Sesc Sorocaba
14h – Performance de Miro Spinelli (e convidados): Gordura trans #16 / gordura localizada #6 / gordura saturada #3
15h – Performance de Panmela Castro: Femme Maison
18h – Saída do ônibus do Sesc Sorocaba com destino ao Terminal Rodoviário Barra Funda (pode ser remarcada para outro horário, caso haja interesse dos jornalistas)
18h – Performance de Deyson Gilbert: Faustrecht (trecho do 1º ato da ópera The Bitter Plums of Chelsea Manning)
19h – Palestra com Peter Pál Pelbart: Sobre Interstícios, criação e resistência
DIA 13 DE AGOSTO (DOMINGO)*
11h – Conversa com curadores Daniela Labra, Yudi Rafael, Ana Maria Maia e Júlia Ayerbe
13h – Performance de Panmela Castro: Femme Maison
14h – Performance de Miro Spinelli (e convidados): Gordura trans #16 / gordura localizada #6 / gordura saturada #3
15h – Palestra de Maria Thereza Alves, Erik Petschelies e Poty Poran Turiba Carlos: Um vazio pleno: projeto para Sorocaba
17h – Conversa com Marko Lulic
FRESTAS – TRIENAL DE ARTES | ENTRE PÓS-VERDADES E ACONTECIMENTOS
De 12 de agosto a 03 de dezembro de 2017 em Sorocaba
No Sesc Sorocaba - R. Barão de Piratininga, 555 – Jd Faculdade – Sorocaba/SP
De terça a sexta, das 9h às 21h30; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h30
Entrada gratuita
agosto 10, 2017
Herlyng Ferla no Pivô, São Paulo
Em agosto, o Pivô apresenta duas exposições individuais dos artistas colombianos Danilo Dueñas (Cali, 1956) e Herlyng Ferla (Cali, 1984) dentro do seu Programa Anual de Exposições. O programa tem como objetivo realizar um panorama da produção contemporânea recente, viabilizando e difundindo projetos inéditos de artistas nacionais e internacionais em início e meio de carreira. Danilo Dueñas ocupará o espaço expositivo principal, em Buscando o branco, enquanto Herlyng Ferla, em Primeiro estava o mar, irá inaugurar o espaço expositivo no segundo andar. Ambos os artistas estão trabalhando nos estúdios do Pivô, onde produzem os trabalhos que serão mostrados no Brasil pela primeira vez.
Herlyng Ferla apresenta parte de sua pesquisa no novo espaço expositivo do Pivô, levantando questões sobre opacidade e transparência, amparadas pela teoria do poeta e filósofo martinicano Édouard Glissant, presentes no conjunto de obras aqui mostradas. Num diálogo estreito com Danilo Dueñas, o trabalho de Ferla busca tecer relações entre a estrutura interna dos objetos e a transformação que sofreram com o uso cotidiano. Parte importante de sua prática concentra-se na coleta de objetos e na realização de modificações mínimas, sugeridas pela própria materialidade dos mesmos.
Uma das obras da exposição é a reedição da obra Sem Título, integrante da exposição Geometria do Azar, realizada em 2016, que consiste em um piso de vidro, recortado em ladrilhos geométricos que, visto de longe, parece uma poça d’água. Para esse nova montagem, soma-se ao piso uma pequena palmeira recém-nascida, brotando de um coco. A figura desse fruto-semente aparece na exposição quase como uma afirmação da permeabilidade das fronteiras, pois essa semente, por ter pouca densidade e ser preenchida por ar, pode percorrer longas distâncias sem afundar, propagando-se pelas correntes marítimas, desenvolvendo-se e adaptando-se a outros territórios que não o seu de origem.
A curadoria das exposições é uma parceria de Fernanda Brenner, diretora artística do Pivô, e Marilia Loureiro, curadora brasileira que viveu na Colômbia entre 2015-2016. Durante esse período, atuou como curadora-visitante do lugar a dudas, espaço criado pelo artista Oscar Muñoz, em Cali. Desde então, Marilia e Herlyng estabeleceram um diálogo contínuo, que culmina no desenvolvimento da exposição no Pivô. Atualmente Marilia reside em São Paulo e é curadora da Casa do Povo, no bairro do Bom Retiro.
Herlyng Ferla - Nasceu em Cali, Colômbia, onde vive e trabalha.
Entre seus projetos recentes estão "Aún" 44 Salón Nacional de Artistas, Pereira, 2016. ”Horas extra, MIAMI, Bogotá 2016; Acorazado Patacón, La Tabacalera, Madrid 2015; El cambio de todo lo que permanece (con La Nocturna), Pabellón Artecámara, ArtBo, Bogotá 2014; 6o Salón de Arte Bidimensional, Fundación Gilberto Alzate Avendaño, Bogotá 2014; El hueco que deja el diablo, Sala de Proyectos del Departamento de Artes, Universidad de los Andes, Bogotá 2014; La desilusión de la certeza o La ilusión de la incertidumbre, Pabellón Artecámara, ArtBo, Bogotá 2013; Construcciones del deseo, Bienal Internacional de Arte SIART, La Paz 2013; Sin título (individual), Lugar A Dudas, Cali 2013; Obras apócrifas, Museo de Arte Religioso, Cali 2013; Metafísica concreta (individual), Proartes, Cali 2012; ¿Qué cosa es la verdad?, 14 Salones regionales de artistas
Sobre Marilia Loureiro - Nasceu em São Paulo onde vive e trabalha.
Conhece intimamente a cena jovem de arte colombiana pois integrou a equipe do Lugar a Dudas em Cali. Integrou a equipe de produção da 29a Bienal de São Paulo, trabalhou como assistente de curadoria no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), como assistente editorial no Ateliê397 e atualmente é curadora da Casa do Povo.
Danilo Dueñas no Pivô, São Paulo
Em agosto, o Pivô apresenta duas exposições individuais dos artistas colombianos Danilo Dueñas (Cali, 1956) e Herlyng Ferla (Cali, 1984) dentro do seu Programa Anual de Exposições. O programa tem como objetivo realizar um panorama da produção contemporânea recente, viabilizando e difundindo projetos inéditos de artistas nacionais e internacionais em início e meio de carreira. Danilo Dueñas ocupará o espaço expositivo principal, em Buscando o branco, enquanto Herlyng Ferla, em Primeiro estava o mar, irá inaugurar o espaço expositivo no segundo andar. Ambos os artistas estão trabalhando nos estúdios do Pivô, onde produzem os trabalhos que serão mostrados no Brasil pela primeira vez.
Em sua prática, Danilo Dueñas desenha no espaço com objetos e mobiliários que muitas vezes perderam seu propósito original – portas, pedaços de metal, gavetas, retalhos de madeiras e sofás podem ser o começo de uma obra de arte. O artista seleciona os elementos de sua obra com especial interesse por aqueles que estão prestes a serem desprezados e que na vida prática já são considerados obsoletos. Esses objetos, livres de suas funções e resgatados do descarte, ganham nova vida nas instalações do artista. Dueñas nos apresenta uma nova via de acesso ao que costumamos chamar de realidade e, transformando o ritmo do espaço, rearranja os objetos de uma forma com a qual não estamos acostumados. O artista cria no espectador a expectativa de movimento dos materiais que compõem sua obra, através de um equilíbrio delicado entre as partes que elege e eleva ao status de escultura/instalação, Dueñas provoca uma encontro complexo entre a materialidade do mundo e o contexto em que é exibido um trabalho de arte. Ao se relacionar profundamente com o ambiente que o circunda, o artista abre veredas particulares e novas possibilidades de interação com o que já é dado como escombro.
Para a exposição no Pivô, Danilo produzirá obras inéditas, especialmente comissionadas para o espaço, tendo à sua disposição a reserva técnica e o depósito da instituição. O artista sempre parte de uma seleção criteriosa e do rearranjo de objetos descartados disponível no contexto em que vai trabalhar, e nesse caso considerará , além do material recolhido no ambiente da exposição, o contexto do centro de São Paulo e as suas inúmeras caçambas com resíduos de demolições e construção civil.
Danilo é professor universitário desde 1990. Já lecionou na Universidade dos Andes, na Universidade Nacional da Colômbia, na Universidade de Bogotá Tadeo Lozano. Sua ampla atuação universitária fez com que sua prática e pensamento influenciasse jovens artistas colombianos. Por esse motivo, o Pivô propõe o diálogo intergeracional a fim de tornar visível a influência da prática de Danilo em seu país de origem e investigar possíveis correspondências com a produção artística brasileira.
Danilo Dueñas - Vive e trabalha em Bogotá. Nasceu em Cali, Colômbia
Em 1999, foi premiado com o Johnnie Walker Art Prize.
Em 2011/2012 foi convidado para o programa de residência do DAAD em Berlim. Participou de várias exposições internacionais incluindo as coletivas Beuys y más allá: El enseñar como arte na Biblioteca Luis Angel Arango em Bogotá; Correspondences: Contemporary Art from the Colección Patricia Phelps de Cisneros no Wheaton College, Norton, EUA; Mesótica no Museu e Arte e Desenho Contemporâneo em São José, Costa Rica e Transtlantica no Museu Alejando Otero em Caracas e individuais no Museu de Arte Contemporânea de Caracas (2003), Museu de Arte Moderna e Museu de Arte da Universidade Nacional (2001)
Marilia Loureiro - Nasceu em São Paulo onde vive e trabalha.
Conhece intimamente a cena jovem de arte colombiana pois integrou a equipe do Lugar a Dudas em Cali. Integrou a equipe de produção da 29a Bienal de São Paulo, trabalhou como assistente de curadoria no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), como assistente editorial no Ateliê397 e atualmente é curadora da Casa do Povo.
Yuri Firmeza no Ateliê 397, São Paulo
A abertura exposição que apresenta três obras do artista, seguida de debate, acontece no dia 12 de agosto, a partir das 15H.
Com o apoio da Secretaria do Estado da Cultura, via ProaC, o Ateliê397 apresenta a exposição Palimpsesto, do artista Yuri Firmeza de 12 de agosto a 17 de setembro. A mostra, tem a curadoria de Thais Rivitti, reúne três trabalhos do artista: os vídeos “Nada é” e “Brô MC’s” (esse último uma parceria com o artista Igor Vidor) e a instalação “Palimpsesto – Arca”.
A instalação, “Palimpsesto – Arca”, realizada quando o artista ministrou um curso na UNAM, no México, tem como fio condutor o grande terremoto que ocorreu na Cidade do México em 1985. Nela são reunidos mapas, fotografias, postais e objetos que remetem ao acontecimento, além de desenhos geológicos e diagramas que explicam tecnicamente o que ocorre com a Terra durante um terremoto. A parte visível do terremoto, o tremor na superfície da Terra (com suas consequências muitas vezes devastadoras) é ocasionado pelo movimento interno de acomodação das placas tectônicas. Nesse movimento, que ocorre abaixo da superfície, as camadas geológicas se misturam, se levantam e afundam criando uma desordem. Se, antes do terremoto, as camadas correspondem, cada uma, a um período específico de sedimentação, depois do terremoto essas diferentes épocas não estão mais organizadas sucessivamente. Nesse sentido, o desmoronamento espacial do terremoto corresponde também a uma desorganização - ou nova organização - temporal.
É também sob o signo dessa confluência de tempos e espaços que os dois vídeos apresentados na exposição "Nada é" e "MC's Brô" se apresentam. "Nada é" mostra a cidade de Alcântara, onde, ao mesmo tempo, há um centro de lançamento espacial - O Centro de Lançamento de Alcântara - e é o local da tradicional festa do Divino Espírito Santo. Em "MC's Brô", assistimos a um clip de RAP composto por Guaranis Kaiowá. Nesses dois vídeos as ideias de tradição e de revolução convivem. A relação entre culturas diferentes, referidas a contextos temporais e espaciais distintos, ganham centralidade.
Debate: no dia da abertura, 12 de agosto, também será realizada a mesa “Pensando a cultura popular hoje”, com o artista Yuri Firmeza e o crítico de arte Rafael Vogt. Tendo como referência as obras de Yuri presentes na exposição, a mesa propõe-se a debater, afinal, o que falamos quando falamos em cultura popular no Brasil. A defesa das expressões ditas “populares” que, durante um longo período, permaneceram apartadas das discussões da arte contemporânea tornou-se lugar comum nos discursos críticos da atualidade. Mas, o lugar que essas manifestações ocupam nos vários discursos em voga na atualidade é bastante diverso: ora elas servem a recomposição de uma noção estanque de identidade nacional, ora elas realmente abrem um diálogo profícuo entre o que se costumava classificar de alta a baixa cultura. Debater esses usos diversos da cultura popular é algo necessário para se mover no debate da arte contemporânea hoje.
Alice Shintani na Marcelo Guarnieri, São Paulo
A artista plástica Alice Shintani, uma das ganhadoras do Prêmio de Residência sp-arte 2017, apresenta sua primeira individual na unidade de São Paulo da Galeria Marcelo Guarnieri.
A pintura, no trabalho de Alice Shintani, é entendida como ponto de partida para imaginar e exercitar formas de aproximação com o outro. Vencedora do Prêmio de Residência sp-arte 2017, Shintani apresenta, a partir de 12 de agosto, sábado, 14h, sua exposição individual na Galeria Marcelo Guarnieri. Com entrada gratuita, os trabalhos da artista ficam em cartaz até o dia 23 de setembro.
A individual apresenta a produção dos últimos quatro anos de Shintani, que propõe uma abordagem menos especializada da tradição da pintura e história da arte para refletir sobre o estado das coisas no presente, tanto dentro quanto fora do circuito artístico. Essa reflexão, de maneira mais ampla, é uma reflexão sobre as possibilidades da experiência estética: como ela se constrói, onde e como podemos acessá-la. Defendendo a ideia de que tal experiência existe para além do campo da arte, ou seja, também no espaço cotidiano, Shintani transita entre contextos diversos, da galeria de arte ao depósito do mercadinho de bairro, reunindo em seu trabalho as questões geradas por essas vivências.
"Menas", palavra que dá título à exposição, pode ser utilizada tanto como o feminino da palavra "menos" dentro de uma linguagem coloquial, quanto como expressão que denota ironia a algo que está sendo superestimado. Ambos os sentidos nos ajudam a adentrar o universo que Alice Shintani constrói em torno de suas pinturas, agora materializadas em papéis sanfonados e tecidos.
A mostra apresenta a instalação homônima, composta por cerca de 300 Sanfoninhas que, ora são acondicionadas em caixas de acrílico, ora são montadas sobre caixas maiores de papelão de produtos alimentícios e de limpeza - de origem brasileira e asiática. As caixas ocupam toda a sala principal da galeria, em conjuntos que se organizam de maneiras diversas, atingindo alturas que também variam, proporcionando ao espectador uma experiência imersiva.
"Menas" nos convida a refletir sobre as ideias de movimento, elasticidade, alcance: seja do corpo e das caixas pelo espaço; das Sanfoninhas que se contraem e expandem revelando cores e formas distintas; dos tecidos que chacoalham com o vento, ou até mesmo da própria ação da artista, interessada em diminuir as distâncias e significados entre os gestos poético e político.
Alice Shintani foi incluída na publicação "100 painters of tomorrow", da editora Thames & Hudson (2014) e foi contemplada com o prêmio-aquisição no II Prêmio Itamaraty de Arte Contemporânea (2013). Com individuais e coletivas em locais como: Museu de Arte Contemporânea da USP; Paço Imperial, Rio de Janeiro; Centrum Sztuki Wspólczesnej, Polônia; Instituto Itaú Cultural, São Paulo; CCBB - Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro: Museu Rodin, em Salvador; MON - Museu Oscar Niemeyer, Curitiba e Instituto Tomie Ohtake, São Paulo.
Durante a última edição da sp-arte/2017, Alice Shintani venceu o Prêmio de Residência com a instalação "Menas" e irá passar dois meses na Delfina Foundation, em Londres (Reino Unido).
Robert Wilson na Luisa Strina, São Paulo
Luisa Strina apresenta a primeira exposição de Robert Wilson na galeria.
Robert Wilson é um dos raros artistas que transitam pelos meios artísticos sem se agarrar a um método de criação. Seu processo criativo vai além de um único meio: ao invés disso, encontra expressão tanto no arquétipo de uma ópera, na arquitetura de um edifício, nas manchas de uma aquarela, no desenho de uma cadeira, na coreografia de uma dança, no ritmo de um soneto ou na dinâmica múltipla que se revela em um Video Portrait.
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Embora seja conhecido por criar peças teatrais altamente aclamadas, o trabalho de Robert Wilson está firmemente enraizado nas artes visuais. Seus desenhos, pinturas e esculturas foram apresentados internacionalmente em centenas de exibições individuais e coletivas. Em Black and White Wilson apresenta dois vídeo-retratos e uma seleção de mais de 30 trabalhos em papel.
TRABALHOS EM PAPEL
Os desenhos de Robert Wilson são sobre o tempo; o futuro, o presente, o passado.
Alguns dos desenhos são sobre o tempo em que uma produção teatral nova ou antiga está sendo estudada. São as representações visuais concretas ou abstratas que irão informar o que Wilson pode ou não ver como possível no palco. Os desenhos podem ser específicos do que Wilson imagina para esse ato particular, cena ou interlúdio.
Um conjunto de desenhos são sobre o tempo em que a peça está sendo fisicamente criada dentro do próprio teatro. Os desenhos podem ser sobre o que Wilson vê ou quer ver, ou talvez não queira ver no palco durante os ensaios. Eles podem ser sobre o que está acontecendo naquele dia, no dia seguinte, ou no dia anterior no palco. Os desenhos são um registro do que é a produção, foi ou para onde pode estar indo.
Outro conjunto de desenhos são sobre os tempos nos quais se reflete sobre uma produção que foi feita. Eles são as lembranças de Wilson do trabalho ou o que ele deseja que tivesse sido.
Em todos os tempos, os desenhos de Wilson se mantém sozinhos, independentes de seu teatro. Seus desenhos são obras de arte e suas próprias associações teatrais não são necessárias para falar, podem inclusive ser uma distração, e, como ele diz, podem dificultar ver claramente.
VÍDEO-RETRATOS
Os vídeo-retratos [Video Portraits] funcionam como uma síntese completa de todas as mídias no domínio da produção artística de Wilson – iluminação, figurino, maquiagem, coreografia, gestual, texto, voz, cenografia e narrativa. A mídia é o vídeo de alta definição, mas a forma funde a cinematografia de natureza temporal com o momento congelado da fotografia. No processo criativo “em camadas” de Wilson, os vídeo-retratos absorvem referências encontradas na pintura, escultura, desenho, arquitetura, dança, teatro, fotografia, televisão, cinema e na cultura contemporânea. O resultado final no monitor de alta definição se parece com uma fotografia, mas um olhar mais atento revela a linguagem teatral altamente desenvolvida de Wilson.
(Noah Khoshbin, Curador / Watermill Center)
Luisa Strina presents Robert Wilson’s first exhibition at the gallery.
Robert Wilson is one of the rare artists who works across artistic media without being buoyed by one method of making. The process of creation transcends a single medium and instead finds outlet within the archetype of an opera, the architecture of a building, the stains in a watercolor drawing, the design of a chair, the choreography of a dance, the rhythm of a sonnet, or the multiple dynamics revealed in a Video Portrait.
While widely known for creating highly acclaimed theatrical pieces, Robert Wilson’s work is firmly rooted in the fine arts. His drawings, paintings and sculptures have been presented internationally in hundreds of solo and group showings. For Black and White Wilson will be presenting two video portraits and a selection of over 30 works on paper.
WORKS ON PAPER
Robert Wilson’s drawings are about time; the future, the present, the past.
Many of the drawings are about the time when a new or old theatrical production is being studied in advance of the production. They are the concrete or abstract visual representations that will inform what Wilson might or might not see as possible on the stage.The drawings can be specific to what Wilson envisions for that particular act, scene or interlude.
Another set of drawings might be made when the stage work is being physically created within the theater itself. These drawings might be about what Wilson sees or wants to see, or might not want to see on stage during rehearsals. They might be about what is happening that day, the next day, the previous day on the stage itself. The drawings tend to be a record of what the production is, was, or where it might be going.
Another set of drawings might be about the times when reflecting back on a production that has been. They are what Wilson remembers the work to be or wishes it was.
At all times Wilson’s drawings stand alone, independent from his theater. His drawings are works of art and his own theatrical associations are not necessary to speak of, can be a distraction, and as he says might get in the way of seeing clearly.
VIDEO PORTRAITS
The video portraits act as a complete synthesis of all the media in the realm of Wilson’s art making – lighting, costume, make up, choreography, gesture, text, voice, set design, and narrative. The medium is HD video but the form blurs time-based cinematography with the frozen moment of still photography. As in the layering nature of Wilson’s creative process, the video portraits infuse references found in painting, sculpture, design, architecture, dance, theater, photography, television, film and contemporary culture. The final result on the HD monitor resembles a photograph, but on closer inspection reveals Wilson’s highly developed theatrical language.
(Noah Khoshbin, Curator / Watermill Center)
Bernardo Ortiz na Luisa Strina, São Paulo
“Em algum lugar entre a lama e a escória.”
Samuel Beckett, Molloy
Luisa Strina apresenta Fricção, a segunda exposição individual de Bernardo Ortiz na galeria.
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Às vezes, por puro capricho, gosto de pensar no desenho como tecnologia de projeção. Esse (re)produtivo jogo de projetar o que ainda não existe depende da capacidade de induzir uma visualização. E o sucesso desta visualização depende, por sua vez, de certas convenções generalizadas sobre como vemos o que ainda não existe. Estas convenções são condicionadas em grande parte pelas ferramentas utilizadas para projetar (lápis, carvão, papel, réguas, esquadros, pincéis, programas de computador, por exemplo). No entanto, é paradoxal que mesmo que uma projeção seja determinada por uma ferramenta, para que seja uma projeção, não podemos ver qualquer traço desta ferramenta. Não podemos ver as linhas da gravação, apenas a imagem, não podemos ver os pixels, apenas a simulação.
Concebido como tecnologia de projeção, um desenho feito a mão é um método ultrapassado. Lápis, carvão, tinta, deixam um rastro trêmulo sob um suporte opaco – qualquer tecnologia, ao contrário, aspira a eficácia, e a eficácia demanda transparência e precisão. Um artista – eu, por exemplo – insiste, num tempo diferente, na lentidão, na opacidade e na fricção. Até insiste em usar tais mecanismos como mecanismos poéticos. Mas eles não o são por suas possibilidades “produtivas”, muito pelo contrário. Eles são poéticos porque entram na disputa com o tempo. A fricção é uma disputa com o tempo. Nesta disputa, apesar das intenções e da disciplina, imprecisões e acidentes se inserem e apontam para o que não está aí. Esta é a premissa da exposição.
A prática de Bernardo Ortiz é definida pelo cuidadoso entrelaçamento de desenho, filosofia, design e escrita em obras cujo suporte – embora decisivo – atua como um espaço tanto de convergência como de tensão. Camadas infinitas de óleo ou tinta, palavras descontextualizadas repetidas e cuidadosamente posicionadas em papel que lembra uma constelação de estrelas, centenas de linhas sutis feitas em grafite, marcas diminutas em tinta chinesa ou guache, ou uma sucessão de dobras metódicas e aleatórias, são apenas algumas das estratégias formais empregadas pelo artista; além de enfatizar a bidimensionalidade do suporte, essas estratégias enfatizam a significância do ato de fazer. Completos por meio de processos de longa acumulação que sugerem a passagem do tempo, as obras buscam destacar a noção de superfície como um território catalisador onde o pictórico, o literário e o impresso se juntam em um jogo visual e conceitual baseado no vocabulário da pintura moderna. Livre de molduras e sempre “expostos” para manifestar sua natureza vulnerável e apreender sua materialidade, os desenhos de Ortiz são não apenas sutis comentários sobre pintura, mas também reproduções sobre um suporte que articula a complexa relação entre imagem e texto.
Exposições recentes incluem: “Universo Holograma”, Museo La Tertulia, Cali, Colômbia (2017); “Borrar”, MAMBA Museo de Arte Moderno, Buenos Aires, Argentina (individual, 2016); “Agora somos mais de mil”, Parque Lage, Rio de Janeiro, Brasil (2016); “Dibujar y Robar”, Alarcon Criado, Sevilha, Espanha (individual, 2015); “Hotel Theory”, REDCAT, Los Angeles, EUA (2015); “Biennial of the Americas”, MCA Museum of Contemporary Art, Denver, EUA (2015); Drawing Biennial, Drawing Room, Londres, Inglaterra (2015); “Essay, Casas Riegner”, Bogotá, Colômbia (individual, 2013); “Ephemeropterae”, TBA 21, Viena, Áustria (2013); 30a Bienal de São Paulo, Brasil (2012); 11a Bienal de Lyon, França (2011).
Seu trabalho é parte das seguintes coleções: CNAP Centre National de Artes Plastiques, França; Deustsche Bank, Alemanha; CPPC Colección Patricia Phelps de Cisneros, EUA; MoMA Museum of Modern Art, Nova York; Coleção Tate, Inglaterra; Kadist Collection, São Francisco / Paris; Colección Maraloto, Bogotá, Colômbia; Museo de Arte Moderno La Tertulia, Cali, Colômbia.
Ortiz foi co-curador da 7a Bienal do Mercosul (Porto Alegre, Brasil) e do 41 Salón Nacional de Artistas (Cali, Colômbia). Trabalhou como professor na Universidad de Los Andes em Bogotá, Universidad del Valle e Instituto Departamental de Bellas Artes ambas em Cali.
“Somewhere between the mud and the scum.”
Samuel Beckett, Molloy
Luisa Strina is pleased to present Friction, the second solo show of Bernardo Ortiz at the gallery.
Sometimes, for pure fancy, I like to think of drawing as a projection technology. The (re)productive game of projecting that which does not yet exist depends on the ability to induce a visualization. And the success of that visualization depends, in turn, on certain generalized conventions about how we see what is yet to exist. These conventions are largely conditioned by the tools used to project (pencil, charcoal, paper, rulers, setsquares, paintbrushes, computer programs, for example). However, it is paradoxical that even if a projection is determined by a tool, in order for it to be a projection we can’t see any trace of that tool. We can’t see the etching lines, only the image, we can’t see the pixels, only the simulation.
Conceived as a projection technology, drawing by hand is an outdated method. Pencil, charcoal, paint all leave behind a quivering track behind on an opaque support – any technology, however, aspires to efficacy, and efficacy demands transparency and precision. An artist – myself, for example – insists, on a different time, on slowness, on opacity and on friction. They even insist on using such mechanisms as artistic mechanisms. But these mechanisms are not such because of what they offer “productively”, quite the contrary. They are artistic because they enter into dispute with time. Friction is a dispute with time. In this dispute, despite the intentions of the discipline, inaccuracies and accidents are introduced point to what isn’t there. This is the premise of the exhibition.
Bernardo Ortiz’s practice is defined by the careful interweaving of drawing, philosophy, design and writing in works whose support — albeit decisive — acts as a space of both convergence and tension. Infinite layers of oil or enamel, repeated decontextualized words carefully placed on a paper recalling a constellation of stars, hundreds of subtle lines made in graphite, diminutive marks in Chinese ink or gouache, or a succession of methodical and random folds, are just but a few of the formal strategies employed by the artist; besides emphasizing the two-dimensionality of the support, these strategies lay stress on the significance of the act of doing. Completed by way of long accumulation processes that suggest the passing of time, the works on view seek to highlight the notion of surface as a catalyst territory where the pictorial, the literary and the printed come together in a visual and conceptual game based on the vocabulary of modern painting. Free of frames and always ‘exposed’ so as to manifest their vulnerable nature and apprehend their materiality, Ortiz’s drawings are not only subtle commentaries about painting, but also reproductions on a support that articulate the complex relation between image and text.
Recent shows include: “Universo Holograma”, Museo La Tertulia, Cali, Colombia (2017); “Borrar”, MAMBA Museo de Arte Moderno, Buenos Aires, Argentina (solo, 2016); “Agora somos mais de mil”, Parque Lage, Rio de Janeiro, Brazil (2016); “Dibujar y Robar”, Alarcon Criado, Sevilla, Spain (solo, 2015); “Hotel Theory”, REDCAT, Los Angeles, USA (2015); Biennial of the Americas, MCA Museum of Contemporary Art, Denver, USA (2015); Drawing Biennial, Drawing Room, London, England (2015); “Essay”, Casas Riegner, Bogota (solo, 2013); “Ephemeropterae”, TBA 21, Vienna, Austria (2013); 30th São Paulo Biennial (2012); 11th Lyon Biennial (2011).
His work is part of the following collections: CNAP Centre National de Artes Plastiques, France; Deustsche Bank, Germany; CPPC Colección Patricia Phelps de Cisneros, USA; MoMA Museum of Modern Art, New York; Tate Collection, England; Kadist Collection, San Francisco / Paris; Colección Maraloto, Bogota, Colombia; Museo de Arte Moderno La Tertulia, Cali, Colombia.
Ortiz was co-curator of the 7th Mercosur Biennial (Porto Alegre, Brazil) and the 41 Salón Nacional de Artistas (Cali, Colombia). He worked as a professor at Universidad de Los Andes in Bogotá, Universidad del Valle and at Instituto Departamental de Bellas Artes in Cali.
Tomie Ohtake na Nara Roelser, São Paulo
Nesta exposição de Tomie Ohtake na Galeria Nara Roesler, o curador Paulo Miyada traz mais uma chave para alcançar o pensamento plástico da consagrada artista brasileira. Focada em pinturas da década de 70, acrescida de algumas gravuras, a mostra inclui parte dos cadernos da pintora - muito pouco conhecidos, mesmo no circuito das artes -, nos quais pequenas colagens revelam como se iniciava a experimentação pictórica de Tomie.
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Os delicados estudos eram feitos a partir de um procedimento singular: rasgar, cortar e colar recortes de papéis comuns do dia-a-dia, como revistas, convites, jornais, folhetos etc. "Prestar atenção nessa processualidade de Tomie Ohtake é ganhar acesso aos vínculos de sua pintura com o acaso, a gestualidade e a ousadia cromática", assinala o curador.
Miyada aponta que os diminutos estudos são um recurso consistente e recorrente na obra da artista até meados da década de 1980. "As composições encontradas serviam de roteiro para pinturas e gravuras que experimentavam diferentes escalas e combinações cromáticas. É como se a prancheta com papéis recortados fosse uma zona de mineração de formas e encontros de cores", observa o curador.
Em suas composições da década de 60, Tomie rasgava os pedaços de papel para criar a gênese de suas pinturas. "As figuras, no caso, assemelham-se a formas geométricas simples, porém de contornos tremeluzentes; guardam a memória de terem sido rasgadas com a ponta dos dedos", ressalta o curador. Já na década de 1970, quando as pinturas começaram a lidar com formas de contornos mais nítidos, os estudos também se transformaram, pois a artista passou a utilizar a tesoura - e nunca régua e estilete - para cortar os papéis. "Era uma forma de lidar com a instantaneidade do gesto e impregnar todo o processo de pintura com seu equilíbrio entre acaso e controle".
Miyada destaca ainda que essas composições dos anos 1970 ficaram mais densas, o branco (a folha em branco) foi tomado por áreas de cor, às vezes sugerindo paisagens. "As texturas da pintura, surpreendentemente, muitas vezes nascem na própria colagem, apropriadas de materiais fotográficos diversos. A paleta cromática também se expande, num corpo a corpo com o cromatismo de uma época que flertava com a psicodelia", completa.
In Tomie Ohtake: On the Tips of the Fingers at Galeria Nara Roesler | São Paulo, curator Paulo Miyada provides yet another key to grasping the plastic thinking of this acclaimed Brazilian artist. Comprising of paintings from the 1970s, as well as a few engravings, the exhibition also features some of the painter’s sketchbooks – which are little known, even within the art circuit – containing small collages that allow a glimpse into the genesis of Ohtake’s pictorial experimentation process.
These delicate studies follow a unique process: tearing out, cutting up and pasting together cutouts from everyday media such as magazines, invitations, news dailies, leaflets etc. “To pay attention to Tomie Ohtake’s process is to gain access to her paintings’ connections with chance, gestures and chromatic boldness,” the curator remarks. Miyada points out that these minuscule studies are a consistent and recurrent resource in the artist’s oeuvre up until the mid-1980s. “These found compositions worked as a script for paintings and engravings that experimented with different scales and color combinations. It is as though the clipboard with cutouts was a mining area for shapes and color combinations,” the curator notes.
In her 1960s compositions, Ohtake would tear up pieces of paper as a starting point for her paintings. “The figures here resemble simple geometric shapes, but their outlines are shimmering; they contain the memory of having been torn with the tips of the fingers,” Miyada says.
Later, in the 1970s, when the paintings began to deal with shapes that had clearer-cut contours, the studies also morphed as the artist began to use scissors – never a ruler or a utility knife – to cut up the paper. “It was a way of dealing with the instantaneousness of the gesture and of balancing out chance and control throughout the entire painting process.”
Miyada also highlights that these 1970s compositions grew denser; the whiteness (the blank sheet) was encroached by areas of color, occasionally suggesting landscapes. “The textures in the paintings often surprisingly emerge from the collage itself, appropriated from assorted photographic materials. The color palette also expands, meeting face to face the chromaticism of an age that flirted with psychedelia,” he concludes.
agosto 9, 2017
Dan Graham na Nara Roelser, São Paulo
“Assim como a arte está internalizada na sociedade, a arquitetura que a expõe é definida pelas necessidades da sociedade como um todo e pela arte enquanto necessidade institucional. A arte enquanto instituição produz significados e posições que regulam e contêm a experiência subjetiva das pessoas situadas no interior de suas fronteiras”
– Dan Graham, “Arte em Relação à Arquitetura / Arquitetura em Relação à Arte”, Artforum, 1979
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A Galeria Nara Roesler | São Paulo tem o prazer de apresentar a primeira individual de Dan Graham (n. Urbana, IL, EUA, 1942) em seu espaço. A mostra exibirá Wave Form I (2016), obra criada especialmente para a ocasião, além de seis maquetes Sem Título (2011-2016) e o vídeo Death by Chocolate: West Edmonton Shopping Mall (1986-2005). Paralelamente à exposição, a Galeria Nara Roesler, em colaboração com o MIS , apresentará dois vídeos emblemáticos de Dan Graham: Rock My Religion (1983-1984) e Don’t Trust Anyone Over 30 (2004). As sessões acontecerão no auditório do MIS - Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, no domingo, 13 de agosto de 2017, às 16h, sendo seguidas de mesa-redonda com Marta Bogéa, Agnaldo Farias e Solange Farkas, que conduzirão um debate sobre a obra do artista.
Apresentada no mundo todo, a série Pavillions de Graham é representativa de seu envolvimento crítico com os parâmetros visuais e cognitivos da linguagem arquitetônica dentro e fora das instituições de arte. A exposição contribui para elucidar a obra do artista, que desde a década de 1960 realiza experimentos multimídia envolvendo performances, vídeos e arquitetura, no sentido de refletir não apenas sobre as instituições de arte e seu contexto comercial, como também sobre as implicações sociais das estruturas de consumo, representação e comunicação.
Ao despontar na cena artística nova-iorquina durante a década de 1960, Graham detectou, na prática dos artistas minimalistas, uma semelhança com o funcionalismo na arquitetura, já que ambas as correntes acreditavam na forma “objetiva” e “negavam o significado conotativo e social e o contexto de obras de arte ou arquiteturas circundantes”. Desde 1976, o artista produz Pavilhões (Pavillions) de vidro e espelhos que aliam a materialidade objetiva da arte ao seu significado conotativo. “De início, o espectador poderá enxergar a estrutura e os materiais em termos puramente estéticos; após passar algum tempo naquele espaço … os aspectos psicológicos e sociais dos materiais e da estrutura se tornarão evidentes”, o artista descreve. Graham cria uma experiência subjetiva para o espectador, que é levado a participar de um jogo de exclusão e inclusão psicológica no qual, ao invés de observar obras de arte ou produtos, torna-se ele próprio o objeto do olhar do outro. A utilização de vidro e espelhos para modificar a experiência dos espectadores encontra um corolário em espaços públicos, como certas áreas de aeroportos internacionais e alas de maternidade, onde esses materiais são usados como divisórias e delimitadores. Como afirma o artista, “nos contextos artísticos, muitas vezes somente os efeitos estéticos do vidro e dos espelhos são notados; ao passo que, fora do contexto expositivo, esses mesmos materiais são empregados para controlar a realidade social de uma pessoa ou grupo de pessoas”.
Graham é um escritor prolífico e muitos de seus textos abordam questões de classe, gênero, cultura popular e história da sociedade. Para o curador Bennet Simpson, Rock My Religion (1983-1984), juntamente com os escritos do artista sobre as “ramificações ideológicas da música punk, fez de Graham um precursor daquilo que, nos círculos acadêmicos, começava a ser chamado de ‘estudos culturais’.” O documentário Rock My Religion é uma colagem de música, textos e imagens em vídeo que relaciona a história de grupos religiosos dos Estados Unidos ao desenvolvimento do rock’n’roll. A obra cria uma genealogia cultural que começa com os Shakers, um antigo grupo religioso que pregava o celibato e o trabalho e que se reunia uma vez por semana para realizar rituais religiosos nos quais os fiéis giravam e dançavam até entrar num estado hipnótico. As coincidências entre o movimento do rock e os Shakers vão além do fato de ambos incorporarem o transe a suas práticas. Como escreve Graham, “Na década de 1950, surgiu uma nova classe, uma geração cujo dever não era produzir, e sim consumir; eram os ‘adolescentes’. Libertos da ética do trabalho, para não fazerem aumentar o desemprego no pós-guerra, e da ética puritana do trabalho, sua filosofia era a diversão. Sua religião era o rock’n’roll. O rock inverteu os valores da religião americana tradicional.” Rock My Religion destaca o surgimento da cultura do rock como um marco no desenvolvimento de uma cultura adolescente guiada pelo mercado e surgida no contexto do pós-guerra.
Muitas das obras de Graham escondem uma análise semiótica, abordando os símbolos e sua interpretação na sociedade contemporânea. O título de Death by Chocolate: West Edmonton Shopping Mall (1986-2005) faz referência à placa do nome de uma loja no shopping center retratado no vídeo. Produzida por Graham no Banff Center, Canadá, a compilação de 8 minutos registra atividades cotidianas filmadas no shopping center ao longo de quase 20 anos. O curta mostra grama sintética, filhotes de onça domesticados, um chafariz decorativo numa praça de alimentação e garotos brincando em piscinas. A obra chama a atenção para a abundância de símbolos de consumo, lazer e entretenimento colocados na paisagem construída do shopping, em grande medida composto de vidro e paredes espelhadas, superfícies e divisórias. O vídeo ecoa os textos de Graham sobre espaços públicos, numa crítica ao ecossistema comercial capitalista criado pela linguagem visual e estrutural do shopping center, uma estrutura corporativa capitalista. Death by Chocolate: West Edmonton Shopping Mall (1986-2005) aborda a pergunta que, segundo Graham, está implícita em toda obra arquitetônica: “qual é a relação da arte e da arquitetura e seu efeito sociopolítico em seu ambiente imediato?”
Just as art is internalized within society, the architecture that displays it is defined by the needs of society at large, and by art as an institutional need. Art as an institution produces ideological meanings and positions that regulate and contain the subjective experience of people placed inside its boundaries.
— Dan Graham, “Art in Relation to Architecture / Architecture in Relation to Art,” Artforum, 1979
Galeria Nara Roesler | São Paulo is pleased to present a solo exhibition of Dan Graham’s works (b. Urbana, IL, USA, 1942), on view August 12 through November 4, 2017. The first exhibition of Graham’s work at Galeria Nara Roesler features Pavilion (2016), a new work created specifically for the occasion, in addition to six untitled maquettes (2011–2016) and the video work Death by Chocolate: West Edmonton Shopping Mall (1986–2005). Parallel to the exhibition, the Museum of Image and Sound will screen two of the artist’s emblematic video works: Rock My Religion (1982–1984) and Don’t Trust Anyone Over 30 (2004). Presented in collaboration with Galeria Nara Roesler, the screenings will take place at the museum on Sunday, August 13, at 4pm, followed by a roundtable with Marta Bogéa, Agnldo Farias and Solange Farkas, who will engage in a discussion about Graham’s works, also at the Museum.
Exhibited across the globe, Dan Graham’s pavilions are emblematic of his critical engagement with the visual and cognitive parameters of architectural language within and outside of art institutions. This exhibition provides insight into the oeuvre of an artist who has, since the 1960s, engaged in multimedia experiments in performance, video, and architecture as means to reflect not only on the art institution and its commercial context, but also on the social implication of structures of consumption, representation, and communication.
Emerging in the New York art scene in the 1960s, Graham detected in the approach of Minimal artists a similarity with Functionalism in architecture, insofar as both believed in “objective” form and, as the artist wrote in the essay “Art in Relation to Architecture / Architecture in Relation to Art,” “denied the connotative, social meaning and the context of other, surrounding art or architecture.” Since 1976, Graham has been producing glass and mirror pavilions, which bridge the gap between the objective materiality of art and its connotative significance. As described by the artist, “a first effect for the spectator might be to see the structure and materials in purely aesthetic terms; after a time in the space … the psychological and social aspects of the materials and structure would become evident.” Graham creates a subjective experience for the viewer, who is led to participate in a game of psychological exclusion and inclusion wherein he does not observe artworks or commodities, but instead is himself an object of the gaze. The use of glass and mirrors to modify the experience of viewers finds a corollary in public spaces such as those found in international airports and maternity wards, where these materials are used as partitions and delimitations. As the artist points out, “within the art context it is often only the aesthetic effects of glass and mirror which are noticed, whereas outside the exhibition frame, these same materials are employed to control a person or a group’s social reality.”
A prolific writer, Graham has often focused on issues such as class, gender, popular culture, and social history in his texts. In fact, curator Bennett Simpson believes that Rock My Religion (1982–1984), along with the artist’s writings about the “ideological ramifications of punk music,” positioned Graham as a precursor to what in academic circles was becoming known as ‘cultural studies.’ A documentary collage of music, texts, and film footage, Rock my Religion contrasts the history of religious groups in the United States with the development of rock ’n’ roll. The piece creates a cultural genealogy that begins with the Shakers, an early religious group that promoted celibacy and labor, convening once a week to perform religious rituals in which worshipers rocked and reeled into a hypnotic state. The connection between the rock movement and the Shakers goes beyond the mutual incorporation of trances into their practices. Graham writes, “In the 1950s a new class emerged, a generation whose task was not to produce but to consume; this was the ‘teenager.’ Freed from the work ethic so as not to add to postwar unemployment and liberated from the Puritan work ethic, their philosophy was fun. Their religion was rock ’n’ roll. Rock turned the values of traditional American religion on their head.” Rock My Religion highlights the emergence of Rock culture as a signpost for the development of a market-driven teenage culture that emerged in the postwar context.
Don’t Trust Anyone Over 30 (2004) shares with Rock My Religion the capacity to pierce the American dream in its consideration of an individualistic youth-culture, which conspires with mainstream media and delights in a market of mass consumption. Conceived as a live puppet show and written by Graham, the work was enacted in collaboration with puppet master Phillip Huber and set designer Laurent Bergen, with live music by Japanther, theme by Rodney Graham, and video projections by Tony Oursler. The multimedia work depicts the story of Neil Sky, the youngest-ever President of the United States, who rises to power by dosing Congress with LSD and lowering the voting age to 14. Sky’s platform consists of free dope, free love, and re-education of everyone over 30 through imprisonment in concentration camps. The multimedia theatrical setup that Graham employs to convey the narrative indicates the artist’s interest in systems of communication and rituals of gathering as sociopolitical instruments. Similar to Graham’s pavilions, the Brechtian Gesamtkunstwerk deconstructs the entertainment aspect of the media forms employed, while considering theater symbolically as a vehicle that at once restricts and releases the partition between audience and art.
A semiotic analysis often underlies Dan Graham’s work, which approaches symbols and their interpretation in contemporary society. Death by Chocolate: West Edmonton Shopping Mall (1986–2005), produced by Graham at the Banff Centre, Canada, captures humdrum activity at the West Edmonton Mall spanning almost 20 years. The eight-minute compilation shows a synthetic grass garden, domesticated jaguar cubs, an ornamental fountain within a food court, and pools crowded with children. The short video, whose title refers to a store in the mall, draws attention to the plethora of symbols of consumption, leisure, and entertainment placed within the mall’s built landscape, which is largely composed of glass and mirrored walls, surfaces and enclosures. The work embodies Graham’s texts on public spaces in its critique of a capitalist commercial ecosystem created through the visual and structural language of the shopping mall, a corporate capitalist structure. Death by Chocolate: West Edmonton Shopping Mall (1986-2005) touches on the question that, according to Graham, is implicit in every architectural work: “What is art and architecture’s relation to and sociopolitical effect on their immediate environment?”
agosto 8, 2017
Marcia Xavier na Triângulo, São Paulo
A Casa Triângulo tem o prazer de apresentar Geologia Doméstica, sexta exposição individual da artista Marcia Xavier na Galeria. Tendo como ponto central o álbum do casamento de seus pais, Marcia exibe investigações sobre a origem, o tempo, as transformações e a evolução da vida. Com texto de apresentação assinado pelo escritor e artista Nuno Ramos, a mostra se divide em três séries fotográficas, sendo uma delas a grande instalação “Santa”.
Um acidente causado pela água nas fotografias em preto e branco que registram a origem e a memória de sua família as fez apodrecer. Os grãos fotográficos deram vida a fungos e bactérias, tranformando a cerimônia e a memória do casamento de seus pais em uma imagem de caos e destruição.
Na série “Geologia Doméstica”, que dá nome à exposição, sete imagens foram refotografadas com pedras: Ágata, Pirita, Magnesita, Mármore, Cristal, Pedra do Ganges e Sem Pedra. A foto em perspectiva da cerimônia é tomada por uma mancha de mofo, uma invasão fúngica, involuntária, que a umidade criou. Sobre uma segunda imagem a artista sobrepõe uma pedra e a refotografa do alto, como uma vista aérea. A umidade fúngica, a solidez geológia e a cena ideal do casamento tecem uma espécie de “geologia da moral”, onde o fungo, a pedra e o álbum tratam das força naturais e dos efeitos da evolução ao longo do tempo.
Essas imagens exibidas nas paredes da galeria fazem contraste com três fotogramas (fotografias feitas com luz, diretamente no papel, sem uso da câmera fotográfica), criados com a sombra da artista interagindo com véus e garrafas. Dispostos horizontalmente no chão da galeria, os fotogramas são apresentados em mesas baixas, na altura dos joelhos e cobertos por vidro.
A instalação “Santa”, criada com dois retroprojetores completa essa pesquisa sobre sua própria origem e traça parelelos com a origem cultural do mundo, numa alusão ao famoso quadro “A Origem do Mundo”, de Gustave Courbet. A instalação começa com a imagem de uma caverna, reproduzida em escala com o espaço da galeria, convidando o espectador a adentrar um corredor. No final do corredor, uma fotografia sobreposta e espelhada de Santa Agnese, capturada na igreja da Piazza Navona, em Roma, inverte detalhes das mãos e das vestes da santa, formando uma imagem abstrata, que nos faz lembrar o “Origem do Mundo”. E acaba onde tudo começa.
agosto 7, 2017
Pedro Gallego na Central, São Paulo
O projeto Vídeo de Hoje, uma parceria entre a residência e ateliê Fonte e a Central Galeria, apresenta a videoinstalação Screensaver, de Pedro Gallego, ocupando o corredor que leva à entrada de ambos os espaços.
Partindo de conteúdos compartilhados em redes de publicações pessoais – como GIFs, memes, animações, tutoriais e vídeos de curta duração –, “Screensaver” apresenta três projeções de vídeo onde micro narrativas visuais de diferentes naturezas são postas em contato, assemelhando-se ao caráter randômico dos descansos de tela e sua função de gerar interesse visual.
Uma vez que se entra em contato com esta categoria de imagens – muitas vezes parcelas editadas de filmes, videos virais ou capturas de tela, por exemplo –, o que é a priori um material para visualização passa a ser também um meio de comunicar-se. Como uma colagem em movimento, o trabalho reflete sobre os modos como processamos e convivemos com um frenético imaginário visual que, partindo do entretenimento, pode configurar-se como uma ferramenta para produção de linguagem.
Rogerio Ghomes na Referência, Brasília
Rogerio Ghomes celebra 30 anos de trabalho, com exposição, lançamento de livro e visita guiada
No próximo dia 10 de agosto, quinta-feira, às 16h, a Referência Galeria de Arte inaugura duas exposições inéditas: Quando tudo deixar de ser, de Rogerio Ghomes, com curadoria de Fábio Luchiari, na Sala Principal, e Conexão, coletiva que reúne trabalhos de David Almeida, Patricia Furlong, Pedro Ivo Verçosa e Virgílio Neto, na Sala Acervo.
Quando tudo deixar de ser traz para Brasília um recorte da obra de Rogerio Ghomes ao longo de 30 anos de trabalho. O ponto de partida a Bienal de Havana, 1997, marco da internacionalização da sua produção até as séries mais recentes como “Barroc”, 2015, apresentada no última Bienal de Curitiba, cidade onde residiu até o final dos anos 1990. Além de obras inéditas como a série “Árbol” e a obra “Conversas com Platão”. Completam a mostra, “Profano Sudário”, 1997, “Olhai”, 2001, e “Incrível como um distúrbio afeta a credibilidade’, 2007.
Junto com a abertura da exposição, Rogerio Ghomes, acompanhado do curador Fábio Luchiari, fará uma visita guiada à mostra, até às 17h. Depois acontece o lançamento do livro “Preciso acreditar que ao fechar os olhos o mundo continua aqui”. Com tiragem limitada de 500 exemplares numerados e assinados, apresenta um recorte das três décadas de produção do artista visual. Com apresentação do crítico e curador Moacir dos Anjos, a publicação traz ensaios críticos de Eder Chiodetto, Ricardo Resende e Tadeu Chiarelli.
Rogerio Ghomes também estará na galeria à disposição do público interessado em conhecer mais da obra do artista e trocar ideias sobre arte contemporânea na sexta-feira, das 15h às 18h, e no sábado, das 11h às 13h. A participação nos encontros é gratuita e livre para todos os públicos.
Rogerio Ghomes é artista visual e pesquisador nas áreas das artes visuais e design. Doutor em tecnologias da inteligência e design digital pela PUC-SP e mestre em design pela UNESP, participou de mais de 80 exposições nacionais e internacionais, entre elas “Preciso acreditar que ao fechar os olhos o mundo continua aqui”, “Não Confie na sua memória”, “Donde estoy, estoy a esperar te”. Suas obras integram as coleções de renome como: Coleção Joaquim Paiva, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Coleção McLaren, Fundação Cultural de Curitiba, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Museu Oscar Niemeyer, Pirelli - Museu de Arte de São Paulo, Pinacoteca de São Paulo. Entre as premiações por sua obra estão Prêmio Brasil Arte Contemporânea na ARCO Madrid 2010 e a indicação ao Prêmio PIPA 2012, o mais importante do País, quando foi um dos finalistas na votação online. Em 2015, foi contemplado no Programa Rede Nacional Funarte de Artes Visuais com o projeto “Campo expandido: narrativas da imagem”.
Fábio Luchiari, curador da exposição que acompanha a produção de Rogerio Ghomes há duas décadas, explica que a mostra que desembarca na capital federal não parte de uma cronologia. “São diálogos com trabalhos produzidos em diferentes períodos, buscando agrupar temas pertinentes de sua trajetória e que de tempos em tempos ressurgem, com um outro olhar, uma outra sensibilidade, porém, sempre coerentes com sua poética, suas indagações e buscas”. Nas obras apresentadas, Rogerio Ghomes subverte o papel da fotografia de registrar a realidade, para criar um outro mundo. Mundo de saudade, solidão e lembranças prestes a desaparecer da memória. Tudo por meio de um olhar silencioso.
Conexão na Referência, Brasília
David Almeida, Patricia Furlong, Pedro Ivo Verçosa e Virgílio Neto apresentam suas novas produções em meio a mudanças de paisagens
No próximo dia 10 de agosto, quinta-feira, às 16h, a Referência Galeria de Arte inaugura duas exposições inéditas: Quando tudo deixar de ser, de Rogerio Ghomes, com curadoria de Fábio Luchiari, na Sala Principal, e Conexão, coletiva que reúne trabalhos de David Almeida, Patricia Furlong, Pedro Ivo Verçosa e Virgílio Neto, na Sala Acervo.
Três artistas de Brasília, que recentemente se mudaram para São Paulo, e uma gaúcha, que desde os três anos de idade mora na capital paulista, participam da mostra coletiva Conexão, na Sala Acervo. David Almeida, Pedro Ivo Verçosa, Virgílio Neto e Patricia Furlong apresentam suas mais recentes produções em pintura, desenho e aquarela. “A mudança de cidade, estado ou país pode causar um impacto na forma como o artista se conecta com uma nova realidade e como isso se materializa em sua obra. O que pode acontecer de imediato ou de forma gradual”, afirma a marchand e sócia da Referência Galeria de Arte, Onice Moraes.
Para David Almeida, seu percurso de trabalho pode ser organizado, até o momento, em três instancias de suas relações com o espaço. Em um primeiro momento, existe a representação do espaço íntimo, gerado no quarto vazio com piso de ardósia, como uma intenção cosmográfica de citar espaços pares. Segundo, o confronto com o sair de casa, a relação com o espaço social e urbano e o percurso e as andanças como catalizadores da experiência com a cidade e a geografia social. Por último, o vislumbre da paisagem como utopia magna da relação homem/espaço, escala/horizonte.
Pedro Ivo Verçosa tem abordado a transição e sua adaptação à nova cidade. Há dois anos morando em São Paulo, o artista brasiliense trabalha com pinturas feitas em camadas sobrepostas de vidro que confirmam a geometria da paisagem urbana. Tábuas encostadas em paredes, caixas empilhadas, muros construídos encostados em janelas, objetos colocados ao acaso que modificam a paisagem naquele instante, mas que em breve serão descartados dando espaço para outros objetos, configurando assim novas composições urbanas.
Nos anos 1980, 1990 e 2000, Patricia Furlong morou e trabalhou no centro de São Paulo. Desde 2005, mora e trabalha na Granja Viana, município de Cotia, na Grande São Paulo. A mudança de paisagem impactou fortemente no resultado de seu trabalho. A cidade que antes era seu objeto de pesquisa deu lugar ao jardim de sua casa. As pinturas em tinta acrílica sobre tela e aquarelas, a paisagem é outra, mas a mediação com essa paisagem pela fotografia e pela edição da imagem ainda é parte de sua pesquisa que busca mimetizar uma paisagem, idealizá-la e reordená-la. Desta forma, cria uma alternativa ao mundo.
Para Virgílio Neto, estar em uma nova cidade foi a maneira que encontrou para continuar a se desafiar. Ele se propôs a sair da zona de conforto para que novas coisas aconteçam tanto no âmbito externo profissional (que é o mais rápido e fácil de ser percebido) quanto no âmbito poético do trabalho. Seus trabalhos mais recentes, que serão exibidos na Referência Galeria de Arte, foram produzidos em seu atelier, em São Paulo, onde volta a trabalhar em um ambiente coletivo, o BREU, na Barra Funda, centro da cidade. Neles, Virgílio acredita que a mudança ainda não se manifestou. Trata-se de uma pesquisa iniciada em Brasília que segue sendo desenvolvida. Ele acredita que com o tempo algumas percepções e do trabalho irão naturalmente mudar.
Na sexta-feira, das 16h às 18h, Virgílio Neto participará de um encontro com o público para falar se seu trabalho. A participação no encontro é gratuita e livre para todos os públicos.
Mariana Mauricio na Leme, São Paulo
A Galeria Leme apresenta a terceira exposição individual de Mariana Mauricio em São Paulo, onde a artista expõe um conjunto de obras inéditas através das quais aprofunda a sua exploração sobre a carga simbólica de simples objetos do cotidiano, as rotinas que lhes são inerentes e a construção subjetiva de noções de intimidade, domesticidade e feminilidade que surgem a partir das interrelações entre sujeito e tais itens.
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As obras apresentadas se estruturam a partir da assemblage de objetos que a artista encontra e coleta das ruas, com itens que ela própria cria e retrabalha. Se a qualidade plástica dos objetos abandonados e apropriados por Mauricio resultam de forças exteriores e anteriores às da artista, os objetos e materiais novos que ela inclui em suas composições são trabalhados de modo a adquirirem uma qualidade tátil e corporal que recria o efeito físico do passar do tempo e de memórias que nunca de fato existiram. Através de ponderadas combinações e justaposições, Mauricio cria composições que amplificam as “vibrações” de cada uma das partes, intensificando os limites formais de cada elemento e consequentemente retrabalhando a subjetividade dos mesmos, de modo a possibilitar a emergência de outras narrativas que lhes são inerentes mas que permanecem adormecidas sob a banalidade do “uso”.
Este tipo de processo é evidente no trabalho que Mariana Mauricio elabora a partir de um dos elementos estruturantes da exposição, uma tábua de passar roupas que resgatou de um beco em Londres. A artista descontruiu as suas camadas de tecido e espuma, descobrindo as manchas e evidências que narravam a sua historia doméstica. Ao dissecar este elemento se deparou com dois tipos distintos de impressões digitais. Por um lado, as manchas da fricção do ferro quente sobre o tecido, e por outro, as malhas ortogonais dadas pelos vincos da dobragem do pano que desenhavam um grid cartesiano sobre a matéria mole. A artista explora o confronto entre o caráter abstrato e ordenador desse grid e as formas orgânicas e viscerais acidentalmente impressas nesses materiais. Assim, o grid, como trama ortogonal ordenadora do nosso tempo-espaço é replicado manualmente por Mariana a partir do processo de dobrar e passar tecidos, criando um “loop” que conecta as marcas impressas involuntariamente ao longo da “vida útil” desses materiais encontrados e a “ação artística” que as replica, ecoando a operação rotineira que as originou num momento anterior.
Ao enfatizar relações contraditórias através de composições de tensão imanente, a artista re-significa o léxico doméstico tornando-o uma porta de entrada para outros subtextos importantes, tais como o da história do feminismo, da opressão familiar, do espaço dúbio da sexualidade, entre outros, tornando-os tangíveis através da experiência completa da exposição.
Mariana Mauricio, Rio de Janeiro, Brasil, 1983. Vive e trabalha em Londres, Inglaterra.
Recebeu seu diploma em Belas Artes pela Saint Martins College of Art and Design em 2008 e atualmente cursa um mestrado de artes na Goldsmiths University, Londres.
Participou de exposições individuais tais como: O fundo do poço, Die Raum, Berlim, Alemanha (2017); Lamb Arts, Londres, Inglaterra (2016), Galeria Leme, São Paulo, Brasil (2014 e 2012), entre outras. E de exposições coletivas tais como: The House of Penelope, Gallery 46, Londres, Inglaterra (2017); Outras Coisas Visíveis sobre Papel, Galeria Leme, São Paulo, Brasil; Breaking Surfaces, Jette-Rudolph Gallery, Berlim, Alemanha (2012); Wit, Fear and Sarcasm, FAS Contemporary Art, Londres, Inglaterra; Versions and Diversions, Temple Bar Gallery, Dublin, Irlanda (2011); Frank-Suss Collection, Phillips de Pury at the Saatchi Gallery, Londres, Inglaterra (2010), entre outras.
Galeria Leme presents Mariana Mauricio’s third solo exhibition in São Paulo, where the artist shows a new set of works, which deepen her exploration of the symbolic load of simple everyday objects, their inherent habits and the subjective construction of notions of intimacy, domesticity and femininity that arise from the interrelations between subject and such items.
The presented works are structured from the assemblage of objects that the artist gathers from the streets with original items that she creates and reworks. If the plastic quality of the abandoned objects results from external forces that are previous to the artist’s interventions, the new items she includes in her compositions are worked out to acquire a tactile and bodily quality that recreates the physical effect of the passage of time and of memories that never really existed. Through thoughtful combinations and juxtapositions, Mauricio creates configurations that amplify the "vibrations" of each one of the parts. Intensifying the formal limits of the elements and consequently reworking their subjectivity, in order to allow for the emergence of other narratives that are inherent to them but which remain dormant under the banality of their "use."
This type of process is evident in the work that Mariana Mauricio develops from one of the structuring elements of the exhibition; an ironing board she rescued from an alley in London. The artist deconstructed its layers of fabric and foam, uncovering the stains and evidences that narrated its domestic story. When dissecting this element she came across with two distinct types of fingerprints. On the one hand, the rubbing stains from the hot iron over the fabric, and, on the other, the orthogonal meshes given by the creases of the cloth’s folding which drew a Cartesian grid over the soft matter. The artist explores the confrontation between the abstract and orderly character of this grid and the organic and visceral forms that were accidentally emblazoned on these materials. Thus, the grid, the symbolic framework that organizes our time-space, is manually replicated by Mariana from the process of folding and ironing other fabrics. A process which generates a loop that connects the imprints created during the “usefull life” of these found materials and the "artistic action" that replicates them, echoing the mundane operation that originated them in an earlier moment.
By emphasizing contradictory relations through compositions of immanent tension, the artist re-signifies the domestic lexicon making it a gateway to other important subtexts, such as the history of feminism, household oppression, the dubious space of sexuality, among others. While making them tangible through the exhibition’s experience.
Mariana Mauricio, Rio de Janeiro, Brazil, 1983. Lives and works in London, UK.
Holds a degree in Fine Arts from Saint Martins College of Art and Design in 2008 and currently is enrolled in a master's degree in arts at Goldsmiths University, London.
Participated in individual exhibitions such as: O fundo do poço, Die Raum, Berlin, Germany (2017); Lamb Arts, London, UK (2016), Galeria Leme, São Paulo, Brazil (2014 e 2012), among others. And of group shows such as: The House of Penelope, Gallery 46, London, UK (2017); Outras Coisas Visíveis sobre Papel, Galeria Leme, São Paulo, Brazil; Breaking Surfaces, Jette-Rudolph Gallery, Berlin, Germany (2012); Wit, Fear and Sarcasm, FAS Contemporary Art, London, UK; Versions and Diversions, Temple Bar Gallery, Dublin, Ireland (2011); Frank-Suss Collection, Phillips de Pury at the Saatchi Gallery, London, UK (2010), among others.
agosto 4, 2017
Bruno Cançado na Central, São Paulo
Em "Jardim", Bruno Cançado discute relações entre urbanidade e natureza
A Central Galeria tem o prazer de apresentar Jardim, exposição individual do artista mineiro Bruno Cançado. A exposição tenciona uma aproximação entre a dinâmica impassível da cidade e a afetiva, vinculada à idéia de jardim. Segundo o artista, esses elementos urbanos lhe parecem muitas vezes “brotar” e acabam fugindo de nosso controle - se assemelhando a espontaneidade dos elementos da natureza - como se tivessem vida própria.
Dessa maneira, surge “Jardim”, com formas geométricas que ambicionam brotar, erguerem-se, mas que retornam ao chão. Os trabalhos que compõem a exposição, são todos de natureza escultórica, e que partiram da experimentação de diferentes materiais, adentrando na investigação de suas materialidades e aspectos inerentes a elas, sejam eles físicos ou culturais.
Materiais "duros”, "brutos" e urbanos - muitas vezes, típicos da construção civil - se transfiguram na sugestão de uma materialidade distinta da que lhe é atribuída usualmente, proporcionando uma maleabilidade física e conceitual concretizada em uma leveza, vulnerabilidade e intimidade. Assim, questões presentes na pesquisa de Bruno Cançado, como o habitar, a transformação na paisagem e da paisagem, são perpassados no edificar desses espaços.
agosto 3, 2017
Siri no CAHO, Rio de Janeiro
Artista plástico Siri explora a existência humana na mostra “Habitáveis” no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, no RJ
O artista plástico e sonoro Siri cria um universo imaginário em Habitáveis, sua exposição individual que acontece entre dias 05 de agosto e 30 de setembro de 2017 no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica – Rio de Janeiro. No dia da abertura [05/08, 10h-20h], Siri - que é músico de formação, pretende dialogar com sua criação em uma performance sonora [18h]. A visitação é gratuita.
Para mostra, o artista apresenta esculturas, fotografias e instalações sonoras de espaços habitáveis imaginários, que ocupam todo o segundo andar do museu carioca. A mostra “Habitáveis” busca investigar os meandros entre nosso microcosmos terreno e o macrocosmos utópico para compreensão dos desígnios que regem nossa existência.
Descobertas estelares
Tal qual um astronauta transversal ornado com as vestes das linguagens multipartidas, adentrou no quintal de sua casa no bucólico bairro de Santa Teresa (Rio de Janeiro) e fez uma viagem insólita. Nesse percurso, movido pelo encantamento de seu novo habitat: pomar, horta, abelhas, codornas e galinhas, comprovara sua tese em que seu microcosmos terrestre ali elaborado, se equiparava em todas as proporções, humanas e divinas ao macrocosmos utópico.
Em “Habitáveis”, esculturas sonoras convidam o público a orbitar por um universo cheio de entranhas multidisciplinares e sensoriais provocando o espectador a ir além das suas capacidades auditivas e visuais.
Siri cria uma constelação própria com registro fotográficos de 10 exoplanetas imaginários habitáveis, que orbitam um outro sistema solar criados a partir dos primeiros ovos de suas galinhas e codornas. “Ninho”, instalação sonora composta para exposição, remete a sua gênese. Essa postura antropofágica e faminta faz dele um artista diferenciado, na medida em que não dissocia a arte da vida.
Ricardo Siri nasceu em 1974, no Rio de Janeiro (RJ). Vive e trabalha no Rio de Janeiro (RJ). Percussionista por formação, em 1999/2000, graduou-se como baterista pela Los Angeles Music Academy, nos Estados Unidos, e aprofundou seus estudos de percussão indiana e africana na Sangeet World Music School (Pasadena/CA).
Em 2011, é convidado pelo Comitê Olímpico de Londres para residir e produzir trabalhos durante um mês no projeto Olímpico - Rio London Ocupation no Battersea Art Center, em Londres. Em 2013, foi convidado para a residência artística na Cité International des Arts, em Paris (França).
Realizou as solos “Escalas Variáveis” (2016) e “Oroboro” (2015, também no Espaço Movimento Contemporâneo Brasileiro, no RJ), ambas na Galeria Mezanino (SP); “Das Virgens em Cardumes e da Cor das Auras” (2016) no Museu Bispo do Rosário (RJ); “Je Ma pele Siri” (2014) no Casa França Brasil (RJ); “Paisagem Sonora” (2014) na Casa Daros (RJ); “Liana Ampliathum” (2014) no Parque Lage (RJ); “Blank Page” e “Old London Swing”, ambas em 2012, no Victoria and Albert Museum e V22, respectivamente, em Londres; “Abre Alas” (2011) na Gentil Carioca (RJ); “Fronteiriços” (2011) na Galeria Emma Thomas (SP); “No Tranco” (2011) no Brazil Tudo é… em Florença (Itália); “Distorções” (2011) na Casa França Brasil (RJ); “Boate” (2010) na Arthur Fidalgo Galeria (RJ) e “Obra Prima” (2001) na VERBO – Galeria Vermelho (SP).
Em carreira solo desde 2004, lançou 4 CDs autorais e ganhou o Prêmio da Música Brasileira, em 2010. A partir de 2007, adentrou no universo das artes plásticas sem abandonar elementos constitutivos de sua experiência musical.
Foi selecionado para o 44º Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilotto (2016, em Santo André/SP), os projetos Rumos Itaú Cultural 2005/2006 e Programa Petrobrás Cultural 2007/2008. Participou do Festival Internacional de Linguagem Eletrônica – FILE (São Paulo, SP/2007), XVII Bienal de Música Contemporânea (RJ). Apresentou seu trabalho na Portikus (Frankfurt, em 2013), NBK-Gallery (Berlim, em 2013), Centro Cultural Helio Oiticica (Rio de Janeiro, RJ / 2012), entre outros.
www.siri.etc.br
www.youtube.com/ricardosiri
www.vimeo.com/siripercussion
In Memoriam na Caixa Cultural, Rio de Janeiro
Organizada por Fernanda Lopes, a exposição “In Memoriam” revela os usos e a prática do desenho em obras de artistas de diferentes gerações
A Caixa Cultural Rio de Janeiro inaugura, no dia 5 de agosto de 2017 (sábado), às 15h, a coletiva In Memoriam, que trata das possibilidades de se pensar a prática do desenho em suportes diversos a partir de trabalhos de 21 artistas de diferentes gerações. Organizada pela curadora Fernanda Lopes, a mostra conta com desenhos, objetos, vídeos, instalações, performances, fotografias e intervenções, totalizando 37 obras, e permanece em cartaz até 1o de outubro de 2017. Participam da exposição: Adrianna eu, Alexandre Brandão, Ana Luiza Dias Batista, Andre Terayama, Cadu, Carlos Fajardo, Cinthia Marcelle e Marília Rúbio, Daniel de Paula, Daniela Seixas, Frederico Filippi, Ivens Machado, Jorge Soledar, Marcio Diegues, Marcius Galan, Marina Weffort, Mayana Redin, Milton Machado, Paulo Bruscky, Ricardo Basbaum e WMT – Wagner Malta Tavares.
A proposta é apresentar um panorama da arte brasileira reunindo nomes desde os anos 1960 até hoje, de modo a propor uma reflexão sobre como uma categoria artística como o desenho é apropriada, redefinida e ressignificada pela produção contemporânea. Considerando esse panorama, “In Memoriam” é uma outra maneira possível de apresentar a história da arte: não por seu aspecto cronológico, mas a partir da diversidade de abordagens de artistas sobre um mesmo elemento.
O título da exposição é uma expressão em latim comum em epitáfios e se refere ao estudo da curadora sobre o uso e o sentido do desenho, sobretudo àquele que se aproxima do conceito de rastro, memória ou mesmo de lembrança. “Procuro pensar o desenho como anotação, registro ou sobra do atrito de uma matéria contra outra, algo que nos evoca a ideia de memória material”, explica Fernanda.
Dividida em módulos, a mostra apresenta reflexões sobre o ato de desenhar e os elementos que compõem um desenho. Alguns trabalhos têm a linha (o traço) como elemento central, em sua forma mais simples. Outros lidam diretamente com a prática do desenho de observação, colocando em xeque a ideia de objetividade que essa prática historicamente carrega. Há ainda obras que se interessam no desenho como projeto e também como processo, rastro ou sobra. Completam a exposição, trabalhos que se interessam pelo suporte clássico do desenho: a folha de papel.
A programação inclui, ainda, o lançamento de um catálogo no dia 29 de agosto (terça-feira), às 19h, marcado por uma conversa aberta ao público com a curadora Fernanda Lopes e artistas participantes da exposição. O evento tem entrada franca, com distribuição de senhas uma hora antes do início.
O projeto tem patrocínio da Caixa Econômica Federal e do Governo Federal.
Obras e artistas
Marcam presença na mostra “In memoriam” artistas de diferentes gerações que tensionam os limites do desenho, como Ivens Machado, com perfurações em folhas pautadas em obra de 1977; Paulo Bruscky, cujo trabalho “Registros (Meu Cérebro Desenha Assim)”, de 1979, foi realizado a partir do uso de eletroencefalograma; Carlos Fajardo, que justapõe negativos de fotografias às suas composições; e Milton Machado, que, em 1985, reuniu fragmentos e sobras de trabalhos realizados no ano anterior na colagem “1984 (+=-0”.
André Terayama, representante de uma geração mais nova, comparece com a série “Desenvolvimento de uma barra em colchete angular” (2014), fotografia-performance em que as posições improváveis de seu corpo aludem a sinais gráficos próprios da escrita; a artista Cinthia Marcelle – representante brasileira na 57a Bienal Internacional de Arte em Veneza – exibe oito desenhos da série “Elogio ao Amor”, que vem sendo produzida desde 2014 em parceria com Marília Rubio.
Mas as paredes da Galeria 2 não permanecem incólumes com a passagem de “In Memoriam” pela CAIXA Cultural Rio de Janeiro: Marcio Diegues realiza seu trabalho diretamente sobre uma delas, e, por fim, Ricardo Basbaum também se apropria do espaço expositivo e ali exibe seu modo de pensar em uma instalação em vinil adesivo sobre fundo monocromático aplicado sobre a parede.
Riccardo Baruzzi na Jaqueline Martins, São Paulo
Trabalho inédito de Daniel de Paula a forma condutora de fluxos dominantes inaugura o térreo, que terá acesso ao jardim, e o italiano Riccardo Baruzzi ocupa dois andares com o resultado da sua residência artística em São Paulo, a convite da galeria Jaqueline Martins.
No primeiro e segundo andar da galeria, o italiano Riccardo Baruzzi (Lugo, 1976) faz sua primeira apresentação solo no Brasil em desenhos, pinturas e instalações em que o traçado da linha delimita e questiona o que torna um trabalho figurativo ou abstrato. A mostra Del Disegno e Della Vertigine é resultado da estadia feita pelo artista em São Paulo, a convite da galeria.
Se boa parte da pesquisa do artista gira em torno da noção do inacabado, provisório e sugestivo, trabalhos que aludem a uma figuração ou materialidade que nunca se manifesta por completo, é apropriado que a mostra se apresente como conclusão de um processo de residência: assim como o artista que, ao pendurar uma tela na parede, sabe que esse gesto não significa a finalização do trabalho, a abertura da mostra também não decreta o fim dos processos significativos pelos quais passa durante a residência.
Riccardo Baruzzi costuma dizer que “o poder evocativo da maioria de seus trabalhos repousa exatamente na falta de descrição deles, na sua existência como uma sugestão, ou provocação, do que poderiam ser”. Na série Quasimezzo, 2015, Baruzzi fez uma série de pinturas em pequenos painéis onde, após aplicar densas camadas de tinta a óleo, o artista esculpiu desenhos com uma faca buscando trazer a gestualidade de um desenho a lápis para a pintura. Assim, as linhas deste novo desenho se misturam às pincelas anteriores e confundem a separação entre o que seria a tentativa de desenhar uma pintura ou pintar um desenho.
Daniel de Paula na Jaqueline Martins, São Paulo
Trabalho inédito de Daniel de Paula inaugura o térreo, que terá acesso ao jardim, e o italiano Riccardo Baruzzi ocupa dois andares com a mostra Del Disegno e Della Vertigine, resultado da sua residência artística em São Paulo, a convite da galeria Jaqueline Martins.
A exposição a forma condutora de fluxos dominantes do artista e pesquisador Daniel de Paula, pretende, a partir de um ponto de vista diacrônico, e da apresentação e interlocução de diversos trabalhos inéditos, incluindo objetos, instalações, ações, documentos e textos, estabelecer um olhar crítico sobre variadas estratégias de expansão e materialização do controle espacial no decorrer da história recente do Brasil.
Evidenciando padrões da produção do espaço como a reprodução e afirmação das relações sociais e políticas de dominação, o artista intenciona refletir em seus novos trabalhos sobre a atual e acelerada urbanização desigual e sua indissociável herança colonial.
A individual ocupará todo o espaço térreo da galeria e apresentará desdobramentos da pesquisa iniciada pelo artista em projetos anteriores, onde, por meio de uma postura que não se encarcera nos domínios da arte, deixando se intersectar por noções de história, geografia, geologia e astronomia; intervenções, ações e instalações geram reflexões críticas sobre as estruturas burocráticas, históricas, econômicas, políticas e sociais que moldam o espaço que nos circunda.
Dentre os trabalhos inéditos do artista, destaca-se a apresentação de um artefato arqueológico (e sua respectiva documentação), pertencente ao acervo da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha Brasileira. Trata-se de uma rocha proveniente de Portugal, utilizada como lastro na travessia transatlântica de embarcações portuguesas no período do Brasil colonial, e que foi resgatada em uma expedição arqueológica subaquática na costa brasileira. “É importante destacar que os lastros oriundos de Portugal, em contexto do Brasil colonial, ao mesmo tempo que serviam para gerar estabilidade para as embarcações durante as viagens, também foram utilizados posteriormente na construção e ornamentação de edifícios e na pavimentação de passeios e calçadas no Brasil”, explica o artista.
Mauro Restiffe na Pina Estação, São Paulo
Álbum’ reúne imagens do arquivo do artista feitas nos últimos vinte anos, ao lado de pinturas do acervo do MASP e da Pinacoteca
A Pinacoteca de São Paulo, instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, inaugura, no dia 5 de agosto, a primeira exposição panorâmica da obra de Mauro Restiffe em um museu brasileiro. Com curadoria de Rodrigo Moura, Álbum parte de uma pesquisa sobre o arquivo do artista e inclui somente imagens nunca antes apresentadas em exposições. Trata-se, assim, de uma retrospectiva de obras inéditas, em uma confluência original de diferentes assuntos e interesses, tempos e dicções. O trabalho fotográfico de Restiffe é apresentado em diálogo com pinturas selecionadas dos acervos da Pinacoteca e do MASP e é dividido em grupos de obras, cujos interesses vão da paisagem ao retrato, da abstração à arquitetura, da política ao cotidiano.
“A inclusão das pinturas tem vários sentidos, mas deve ser compreendida sobretudo como uma maneira de apropriação, como artefatos culturais que alimentam uma relação profunda com as fotografias do artista”, explica o curador da mostra, Rodrigo Moura, curador adjunto de arte brasileira do MASP desde 2016 e que vinha trabalhando com o artista neste projeto para a Pinacoteca desde 2014. A mostra, patrocinada pelo Itaú, estará em cartaz na Pina Estação, segundo edifício da Pinacoteca.
A seleção dos trabalhos abrange sua produção desde o fim dos anos 1980. Foram mais de três anos examinando cerca de 30 mil imagens, que resultaram na exposição de 143 fotografias que serão divididas em três segmentos: Paisagens e multidões, onde o artista aborda de maneira ampla o gênero paisagístico; Álbum, onde retrata, ao longo de vinte anos, cenas cotidianas de sua família e Enquadramentos e construções, em que o artista enfoca a cidade, tema recorrente em sua produção, ao lado de imagens de obras de outros artistas fotografadas no espaço institucional da arte e que têm relação direta com a inclusão das pinturas na exposição.
Um catálogo bilíngue da mostra será publicado em agosto com reproduções de obras, um ensaio do curador e um texto de Allen Frame, autor convidado.
Álbum permanece em cartaz até 6 de novembro de 2017, no quarto andar da Pina Estação – Largo General Osório, 66. A visitação é aberta de quarta a segunda-feira, das 10h00 às 17h30 – com permanência até às 18h00 – o ingresso custa R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia). Crianças com menos de 10 e adultos com mais de 60 anos não pagam. Aos sábados a entrada é gratuita para todos os visitantes. A Pina Estação fica próxima à estação Luz da CPTM, vizinha à Sala São Paulo. pinacoteca.org.br - (11) 3335-4990.
Mauro Restiffe (São José do Rio Pardo, SP, 1970) fotografa usando a técnica analógica desde o final dos anos 1980. Suas imagens incluem desde a fotografia de arquitetura até a fotografia documental, passando por séries sobre cenas urbanas e por abordagens mais convencionais sobre a imagem, incluindo paisagens, retratos e naturezas-mortas. Restiffe se vale extensamente do formato da exposição para formalizar seus projetos, e entre suas exposições individuais recentes estão Post-Soviet Russia (Garage Museum of Contemporary Art, Moscou, 2016) e São Paulo, Fora de Alcance (Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro, 2014). Recentemente, participou também da exposição coletiva “Avenida Paulista”, no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.
agosto 2, 2017
Retroperformance na Caixa Cultural, Rio de Janeiro
Mostra reúne materiais de arquivo raros e inéditos de 14 artistas do eixo Rio-São Paulo
A Caixa Cultural Rio de Janeiro apresenta, de 5 de agosto a 8 de outubro de 2017, a exposição Retroperformance, que abarca a surpreendente produção artística da década de 1980 de alguns dos nomes mais representativos da performance do eixo Rio-São Paulo em vídeos, fotografias, filipetas, jornais, cartazes, cadernos, croquis e storyboards. Com curadoria de Grasiele Sousa, Lucio Agra, Joanna Barros e Samira Br, do grupo Brasil Performance, a mostra conta com patrocínio da Caixa Econômica Federal e do Governo Federal.
A abertura, no dia 5 de agosto (sábado), às 15h, será marcada por um debate com os curadores, seguida de uma apresentação de performances ao vivo com os artistas Guto Lacaz, Otávio Donsaci, Ricardo Basbaum, Alexandre Dacosta, Mauricio Ruiz e Alex Hamburger.
Na seleção dos trabalhos expostos, constam arquivos raros e alguns ainda inéditos de de nomes como Lenora de Barros, Aimberê Cesar, Renato Cohen, Otávio Donasci, Guto Lacaz; das duplas Alex Hamburger e Márcia X, Lucila Meirelles e José Roberto Aguilar, Dupla Especializada (Ricardo Basbaum e Alexandre Dacosta) e do coletivo 3NÓS3 (Mário Ramiro, Rafael França e Hudnilson Jr). Para o time de curadores, “esses artistas tensionavam o limite, se rebelavam e usavam todos os recursos disponíveis naquela época, inclusive a performance, para fazer da sua vida, arte”.
Essa indistinção entre obra e documentação aparece em diversos artistas da época, quando casas noturnas promoviam atrações com bandas de garagem acompanhadas de performances de pintores, atores e bailarinos que partiam para alguma coisa diferente do que sempre se fazia. Estátuas eram ensacadas, triciclos invadiam concertos musicais, e mesmo os circuitos mais “caretas” – as livrarias e poucas galerias de arte – eram literalmente invadidos por “Interversões”, “Videocriaturas” (Otávio Donasci), “Eletroperformances” (Guto Lacaz), praticantes de “Zen-Nudismo” (Aimberê Cesar) e outras comunidades de poetas, músicos e “malucos” em geral. “Era possível performar na rua, na praia, no bar, na boate, mas também na galeria, no teatro, no cinema, no show”, acrescentam.
Em um dos destaques, “Ícones do Gênero Humano” (1988), de Márcia X e colaboração de Alex Hamburger, há todos os elementos presentes numa exposição profissional de artes visuais como galeria, iluminação, convites, divulgação, coquetel, livro de assinaturas, mas o que se consideraria “mais importante” não está presente: a obra. Os artistas tornam nítido que a “obra” é tudo ali e não somente o que se “vê” na galeria. É, de certo modo, a aparição da herança conceitual presente num ato de performance: performance dos artistas, do público, da galeria, dos objetos e das pessoas, é a situação pondo-se à prova dela mesma. “O garçom performa. Os convites performam”.
Com um distanciamento de quase 40 anos, o conjunto de obras de “Retroperformance” resgata esse espírito de “do it yourself”, quando as soluções técnicas de registro de performance em suportes como Betamax e VHS, a divulgação das mostras com lambe-lambes e filipetas e, sobretudo, a produção dos trabalhos, eram feitas pelos próprios artistas ou pelos grupos a que se associavam. “Naquele momento de urgência criativa, lançava-se mão dos recursos técnicos disponíveis, por isso o que se vê na mostra são recortes e fragmentos ‘low-tech’ de algo cujo frescor original é irrecuperável”, arrematam os curadores.
Como parte da programação, a mostra apresenta, no dia 23 de setembro (sábado), às 14h, a oficina “Retroperformance”, voltada para artistas e interessados na linguagem da performance. A atividade, ministrada pela curadora Grasiele Sousa, é gratuita, e as inscrições devem ser realizadas pelo e-mail oficina@espacoliquido.com.br.
agosto 1, 2017
Helena Trindade no CAHO, Rio de Janeiro
Helena Trindade abre a individual “Domínio Lacunar”, a partir de arquivos do Centro Municipal de Artes Helio Oiticica
A convite do Centro Municipal de Artes Helio Oiticica – CMAHO –, a artista Helena Trindade vai abrir, no local, no dia 5 de agosto, sábado, às 12h, a exposição Domínio Lacunar. Com curadoria de Glória Ferreira, a mostra foi pensada e executada especialmente para esse espaço a partir dos documentos do arquivo do CMAHO.
Para a artista, todo arquivo é um recorte onde as ideias de completude e de objetividade não se aplicam. Daí o nome “Domínio Lacunar”. Helena Trindade se apropria dos arquivos do CMAHO e ocupa as duas galerias do pavimento térreo com instalações construídas com catálogos e cópias de documentos que registram as atividades do local. Com eles, a artista constrói pequenas caixas que, enquanto módulos de apelo táctil e visual, estruturam os trabalhos apresentados. Ocas, no entanto, mostram fotos e escritos de uma forma fragmentária que demanda do espectador sua “investigação” e sua leitura singular. Reunidos de maneira mais ou menos aleatória, imagens e texto deflagram encontros poéticos. Aliás, um traço marcante nas exposições de Helena é a presença da imagem e da escrita, que ela modifica e dispõe de uma maneira própria, segundo sua pesquisa de vinte e dois anos em Poesia Visual.
“Para Helena Trindade, a abordagem do espaço onde vai expor é fundamental na concepção da própria exposição, quer pela história do lugar, de suas vivências e simbolismos. Assim são suas instalações no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, com um conjunto de cópias do arquivo desta instituição”, explica a curadora.
Na primeira galeria, são apresentados dois trabalhos que fazem referência à obra de Helio Oiticica, artista carioca que completaria 80 anos este ano. São eles: Bólide AHO e Coluna AHO (AHO querendo dizer “a Helio Oiticica”). O primeiro consiste numa caixa que, construída com a imagem de uma maquete de um Penetrável de Helio Oiticica, é coberta com a mesma tela vazada branca utilizada no estudo do artista. Já Coluna AHO, que se estende do piso ao teto, foi construída com pequenas caixas dos documentos das exposições de Helio Oiticica no CMAHO. Ela faz referência aos Bólides, Ninhos, Tropicália, Magic Square e outras obras de Helio, onde a artista vislumbra a ideia de caixa. A coluna também é pontuada por elementos de cores primárias, uma alusão ao gosto de Oiticica pela obra de Mondrian.
Na segunda sala, Helena apresenta os trabalhos Cata-clismo e Maquinária. O primeiro é construído com catálogos do CMAHO que se “derramam” verticalmente uns sobre os outros e que privilegiam imagens de quadrados, caixas e cubos de autoria de vários artistas. Maquinária é elaborado com documentos, a partir de 2014, transformados em pequenas caixas. São clippings de imprensa, fotos, esquemas de montagem, listas de materiais de produção, convites de exposições, seminários, debates, defesas de tese, agenda de visitas de escolas, entre outros materiais. “Eles compõe uma espécie de ‘escrita do tempo’, onde as pessoas poderão (re)conhecer uma infinidade de atividades desenvolvidas pelo lugar”, diz Helena.
Para a artista, todo arquivo é não-todo, lacunar, sendo esta a condição de possibilidade de sua renovação. “Essa ambiguidade me leva a identificar lacunas nas caixas ocas, porém plenas de informações, nos espaços vazios que pontuam as instalações, na abertura para a interpretação singular de cada visitante, no conjunto fragmentado que determina a maneira sempre parcial e indireta como é apresentado e percebido”, finaliza a artista.
Helena Trindade vive e trabalha no Rio de Janeiro. Sua produção compreende instalações,objetos, vídeo, poesia visual, fotografia, design gráfico e projetos site-specific. Seu trabalho se identifica com a forte tradição brasileira em Poesia Visual. Ele se concentra na materialidade da linguagem, na tensão entre o enunciável e o visível. Desde 1994, a artista tem sido convidada a desenvolver projetos para algumas das mais prestigiadas instituições, sendo que entre as nacionais figuram: SESC, Paço Imperial, Oi Futuro Centro de Arte e Tecnologia, Casa de Cultura Laura Alvim, FUNARTE, Museu da República, Centro de Arte Helio Oiticica, Centro Cultural São Paulo, Espaço Cultural Sérgio Porto e Instituto FEBRABAN de Educação. Helena atuou, ainda, nas seguintes instituições internacionais: City University of New York, École d’Art d’Avignon durante o Ano do Brasil na França, Universidade de Coimbra, University of Hawaii, Metrospace da Prefeitura de East Leasing-Michigan, Fundação Potuguesa das Comunicações de Lisboa e Art Radio da Universidade de Maryland, entre outras.
Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela UFRJ, iniciou livre formação artística na EAV Parque Lage, onde participou dos núcleos de Escultura, Desenho, Gravura, Teórico e de Aprofundamento em Pintura. Em Nova York, cursou Gravura na Art Students League, Teorias da Arte Contemporânea na School of Visual Arts e na New York University. Em 2003, concluiu Mestrado em Linguagens Visuais na Escola de Belas Artes da UFRJ, sob a orientação de Gloria Ferreira, com destaque para a qualidade do trabalho plástico apresentado na dissertação “Campo minado”. Já apresentou exposições no Brasil e no exterior.