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maio 31, 2017
Sala Pensando: Regina Vater na dotART, Belo Horizonte
Bons ares, ares bons. É com este frescor que o ano começa na dotART galeria, com a inauguração de novas exposições no dia 25 de abril: Abrindo a caixa, de Lívia Moura; Barulho, de Felipe Fernandes; e na Sala Pensando o vídeo Green ou Sinal verde para o saque das Américas, de Regina Vater.
As riquezas brasileiras e frutos furtados pelos europeus pós-descobrimento do Brasil foram o ponto de partida para a obra Green ou Sinal verde para o saque das Américas, da artista Regina Vater, consagrada por seu trabalho e importante papel político nos anos 70, com trabalhos ainda atuais. Esta vídeo-instalação e também a obra de vídeo-arte apresentada na livraria BOOK PEOPLE em Austin (EUA), pela ocasião do lançamento do livro de artista de Regina Vater com o mesmo título, fazem parte da Sala Pensando e integram a programação das novas exposições da dotART galeria aberta até 24 de junho.
A obra surgiu de um convite feito pela curadoria da exposição “América, The Bride of the Sun”, realizada no Koninklijk National Royal Museum, na Bélgica. Regina Vater desenvolveu o projeto arquitetônico da peça que foi produzida no próprio museu. Da mostra também participaram artistas consagrados como Ana Maiolino, Waltércio Caldas, Cildo Meireles, Tunga, Roberto Evangelista etc.
Trata-se de uma peça de encaixe, um pedestal com três suportes de acrílico que apoia uma TV. O vídeo mostra as riquezas da flora e as invenções agrárias do “Novo Mundo” que foram exploradas e exportadas para a Europa depois do “descobrimento” do Brasil. Entre eles, são representados alimentos considerados “ouros brasileiros”: tomate, mandioca, batata, cacau. A iluminação verde ou “green” representa o acesso “sinal verde” para este saque.
Ainda na TV são reproduzidas imagens de tribos indígenas, de grupos variados, considerados como os primeiros homens do continente e fotos de "nature morte", termo acadêmico para pinturas de natureza morta. “Os holandeses inauguraram este tipo de arte pintando as frutas do Brasil para mostrar aquilo que poderiam levar. Foi neste período que começaram a aparecer técnicas que representavam a luz natural e solar nas obras”, diz Regina.
Sobre o contexto mundial em que o vídeo está sendo exposto, Regina diz: “Acredito que este saque ainda está ocorrendo. Só que agora não levam só alimentos, exploram do nosso petróleo, água, nióbio, outras riquezas.” E ainda completa sobre estar expondo em Belo Horizonte: “Conheci Minas Gerais em 1964, durante a Escola de Arquitetura. Acho Minas um estado mágico e é ótimo expor aqui novamente”.
Lívia Moura na dotART, Belo Horizonte
Bons ares, ares bons. É com este frescor que o ano começa na dotART galeria, com a inauguração de novas exposições no dia 25 de abril: Abrindo a caixa, de Lívia Moura; Barulho, de Felipe Fernandes; e na Sala Pensando o vídeo Green ou Sinal verde para o saque das Américas, de Regina Vater.
Abrindo a Caixa – Lívia Moura
O título da exposição remete ao mito de Pandora, no qual ela abre uma caixa deixando escapar todos os males do mundo e culpando todas as mulheres pelo pecado original. Segundo historiadores, a origem deste mito tem suas raízes há mais de 6 mil anos, quando Pandora era uma das representações do “vaso divino”.
Esta exposição faz parte de estudos e projetos que a artista desenvolve há 10 anos. As cerâmicas foram produzidas em 2010 no sul da Itália e lançadas ao mar em 2016 nas Ilhas Cagarras, no Rio de Janeiro. Elas são um resgate da Pandora arcaica, do antigo vaso que jorra o mar e é engolido pelo oceano.
As pinturas intituladas “Abrindo a Caixa” são um jorro explosivo que sai dos vasos. “Elas foram feitas com argilas que venho recolhendo no sul de Minas misturadas com tintas industrializadas. Nessas pinturas trago o movimento natural das tintas jorrando e escorrendo, conjugado com jatos de spray e minhas pinceladas, num exercício de diálogo e, por vezes, de camuflagem entre natura e cultura”, conta Lívia Moura.
Pandora é a mulher- biosfera, que parece desordenada, mas que é na verdade a ordem secreta do vivo, da matéria orgânica que se desdobra em mil possibilidades, produzindo ininterruptamente e espontaneamente novas formas de vida.
maio 30, 2017
Gokula Stoffel no Galpão Fortes D’Aloia & Gabriel, São Paulo
Em Madona Ansiosa, sua primeira individual, Gokula Stoffel apresenta uma série de pinturas bi e tridimensionais onde imagens de naturezas variadas – fotos, memórias, desenhos – se fundem em tramas não-lineares. Instaladas em duas estruturas metálicas que preenchem o espaço expositivo, as obras ganham aspecto instalativo ao ocupar diversos planos. BB Cream, Abacaxis, Dança, Febre, Layers, Figas e Moléculas são alguns dos seus títulos, que ora se apresentam serenamente em suportes clássicos, ora se transmutam em objetos híbridos.
A artista utiliza uma infinidade de materiais como silicone, PVC, lixa, cordas e manta de jardinagem para então recombiná-los incessantemente. Suas figuras parecem migrar de um lugar para outro sem pertencer a nenhum deles: a Madona Ansiosa sai da tela e vai para o plástico, passa da parede ao espaço, arma tendas precárias, faz um bordado e volta. Imagens se agrupam por livre associação, como se atraídas magneticamente por um determinado material. É o caso de Layers, onde as cenas são sobrepostas como numa tela de computador, pintadas a óleo sobre uma folha de chumbo. Ao lado dessas obras mais aceleradas, há também lugar para contemplação. Corte é um pequeno monocromo branco envolto em uma rede de frutas, enquanto Moléculas sugere uma paisagem cósmica feita de tinta e vidro sobre plástico.
Gokula Stoffel (Porto Alegre, 1988) vive e trabalha em São Paulo. Egressa do mundo da moda, passou a se dedicar às artes visuais como autodidata a partir de 2012, frequentando módulos livres e grupos de estudo em diversas instituições. Entre suas participações em exposições, destacam-se: A Terceira Mão, Fortes D’Aloia & Gabriel | Galeria (São Paulo, 2017); Individuation as an Instrument of Abstraction, Kunstverein (Berlim, 2016); Pandora, La Estación Espacial (San Juan, Porto Rico, 2016); Abre Alas 12, A Gentil Carioca (Rio de Janeiro, 2016); I Scream, Galpão Glicério (São Paulo, 2016); 21. Salão de Artes Plásticas de Praia Grande (Praia Grande, 2014).
Elvis Almeida no Galpão Fortes D’Aloia & Gabriel, São Paulo
Ponta Seca Torta / Faca Cega, de Elvis Almeida, apresenta cerca de quinze pinturas de dimensões variadas. Com uma paleta de cores elétricas e um vocabulário visual bem definido, Elvis ocupa um lugar singular na produção contemporânea brasileira. Em seu processo, procura sempre colocar-se em uma situação de instabilidade. Sem projetos, esboços ou modelos, essa estratégia permite que procure soluções ao longo do percurso. Aparecem em seu trabalho materiais como óleo, acrílica, spray, tinta vinílica, esmalte, caneta marcador, grafite, carvão, entre outros. Elvis encara cada escolha de material como a proposição de um jogo, em que cada decisão cria novos impasses e cuja solução é a conclusão da tela.
Formado em gravura pela Escola de Belas Artes da UFRJ, o pintor traduziu essa técnica para a pintura. Muitos dos elementos de suas obras são “carimbados” sobre a tela e a madeira com instrumentos de esponja que ele mesmo fabricou. A obra reúne elementos do grafite e dos quadrinhos, traduzidos e aglutinados em cores saturadas e contrastantes. Seu vocabulário visual se sustenta por um lado em formas de natureza física – sol, raio, chama, gota, folhas, moléculas – e por outro, da arquitetura através de padrões geométricos listrados e circulares, muitos deles desenhando memória de lugares reais. Esses dois grupos estão em permanente embate em telas cheias de fricção e faísca.
Elvis Almeida nasceu em 1985 no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Graduou-se em Gravura na UFRJ (2013) e frequentou cursos de Serigrafia na EAV Parque Lage e de História da Arte nas Redes da Maré, todos no Rio de Janeiro. Suas exposições individuais incluem: O cotidiano das estruturas familiares, Projeto Tech_Nô, Oi Futuro Flamengo (Rio de Janeiro, 2017); Certezas para dobrar, Mercedes Viegas Arte Contemporânea (Rio de Janeiro, 2016); Uma cidade de xapisco dividida por um muro de cau, Amarelonegro Arte Contemporânea (Rio de Janeiro, 2010). Entre as coletivas, destacam-se: Pintura, Caixa Cultural (Rio de Janeiro, 2017); Um Desassossego, Galeria Estação (São Paulo, 2016); Oito artistas, Mendes Wood DM (São Paulo, 2016); Gramática Urbana, Centro de Arte Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, 2012); Arte Pará, Fundação Romulo Maiorana (Belém, 2011); Reality Reimagined, Modified Arts (Phoenix, 2010); Abre Alas 6, A Gentil Carioca (Rio de Janeiro, 2010); VI Bienal Internacional de Arte SIART (La Paz, 2009); Iluminando o Novo, Largo das Artes e Espaço Furnas Cultural (Rio de Janeiro, 2009). Em outubro, o artista participa ainda do 20º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil (São Paulo).
Manoela Medeiros na Fortes D’Aloia & Gabriel, São Paulo
Poeira Varrida, de Manoela Medeiros, reúne esculturas e escavações sobre a parede que articulam relações ambíguas entre construção e ruína. A artista intervém diretamente na arquitetura do espaço expositivo, criando narrativas e jogos de escala, subtraindo e deslocando a matéria das paredes em dinâmicas de positivos e negativos.
Em Vale, Manoela faz incisões em linhas oblíquas e paralelas sobre seis postes de cimento. Os cortes remetem aos troncos de seringueiras, transformando este tipo de escavação num signo da floresta e deslocando-o para o ambiente urbano. Declive é uma escada contígua à parede, que tem metade de seus degraus em escala real, em concreto, enquanto a outra metade é apenas delineada pela escavação. Num movimento análogo, em Território, a artista cria um desenho geométrico mural de inspiração modernista em que parte da obra é escavada, enquanto outra parte é feita por peças de cimento. O padrão, desenhado em finos cortes na parede, lida com a ideia de um projeto cartesiano, enquanto as peças triangulares de cimento, cheias de imperfeições, amolecem essa geometria. O mural corta uma das paredes do espaço expositivo na mesma altura do piso central da Galeria, criando assim uma imagem ilusória de continuidade. Fronteira, por fim, é uma escavação de duas linhas verticais na parede que se projetam no chão de forma desencaixada. Uma imagem sucinta e potente desta exposição que se constrói sobre uma semântica dos entre-espaços.
Manoela Medeiros (1991) vive e trabalha entre o Rio de Janeiro (sua cidade natal) e Paris. Formada em Design Gráfico pela PUC-Rio (2009), a artista estudou também na École Des Beaux Arts (Paris, 2012), no IADE-Creativy University (Lisboa, 2013) e na EAV Parque Lage (Rio de Janeiro, 2009 e 2015). Manoela é cofundadora do espaço independente Átomos (Rio de Janeiro, 2016) e tem participado ativamente de diversas exposições, salões e residências no Brasil e no exterior. Destacam-se as individuais: Instruções para construção de uma ruína, Casamata (Rio de Janeiro, 2015); é. é. é., Projeto Zip’Up (São Paulo, 2015). Entre as coletivas: 62. Salon de Montrouge, Le Beffroi (Montrouge, 2017); Hallstatt, Fortes D’Aloia & Gabriel | Galpão (São Paulo, 2016); Arte Pará, Fundação Romulo Maiorana (Belém, 2016); In Between, Bergamin & Gomide (São Paulo, 2016); Quarta-feira de cinzas, EAV Parque Lage (Rio de Janeiro, 2015); Verbo, Galeria Vermelho (São Paulo, 2015); A mão negativa, EAV Parque Lage (Rio de Janeiro, 2015); Abre Alas 11, A Gentil Carioca (Rio de Janeiro, 2015). Em 2017, Manoela tem ainda individual marcada na Double V Gallery (Marselha), além de participar da 67ª edição do prêmio Jeune Création na Galeria Thaddaeus Ropac (Paris).
maio 29, 2017
[Co]existências na Galeria Base, São Paulo
Galeria Base inaugura seu espaço expositivo em São Paulo com coletiva e curadoria de Douglas de Freitas
No sábado, dia 3 de junho, às 15 horas, os sócios Daniel Maranhão e Fernando Ferreira de Araújo inauguram em São Paulo a Galeria Base, na Avenida Nove de Julho. A mostra inaugural é [co]existências, organizada pelo curador Douglas de Freitas. A coletiva reúne 24 trabalhos dos artistas Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Antonio Dias, Eduardo Climachauska, José Rufino, Lygia Pape, Mira Schendel e Montez Magno.
A exposição apresenta obras que compreendem um recorte da década de 1960 aos dias de hoje de artistas de gerações distintas em que, segundo o curador, “de modo geral, e à primeira vista, têm questões ligadas ao desenho, como a linha e a geometria. Características próprias da produção de cada artista estão presentes nas obras, configurando novos recortes e abordagens possíveis”.
Como o próprio título “[co]existências” sugere, a mostra propõe uma leitura cruzada. “As obras de Antonio Dias, Anna Bella Geiger e Montez Magno, cada uma a seu modo, estabelecem um diálogo a partir de uma discussão territorial”, acrescenta Douglas. Exceto pelas esculturas de José Rufino, que em abril deste ano recebeu o prêmio na categoria de melhor artista contemporâneo pela ABCA (Associação Brasileira de Críticos de Arte), e de Eduardo Climachauska, outro ponto de convergência da mostra vem a ser o suporte em papel.
São exibidas algumas obras inéditas em galeria, a exemplo de “Trilogia” de Montez Magno, da série “Labirinto”, datada de 1967, apresentada apenas no Salão Nacional de Belas Artes. Outro destaque é a reunião do estudo em desenho à guache de Mira Schendel e o vestido em que ele foi bordado. Integra o conjunto de obras da artista, ainda, um exemplar da série “Mandalas”, exibido em 2014 na Tate Modern e na Pinacoteca. Completam a mostra seis obras de Anna Maria Maiolino das séries “Cartilhas”, “Marcas de Gota” e de uma série executada com linhas.
Osmar Dalio na Leme, São Paulo
A Galeria Leme apresenta a primeira exposição individual de Osmar Dalio em seu espaço. Intitulada Planares, a exposição conta com quatro grandes esculturas de aço corten que criam uma tensão com o espaço expositivo e estabelecem um equilibrado diálogo entre si. Esta mostra é o resultado de um longo período de pesquisa e maturação do artista desde a última vez que a sua obra foi apresentada ao público numa exposição individual no ano 2000.
Osmar Dalio faz parte de uma importante geração de artistas de São Paulo formados na Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Alvares Penteado nos anos 80. A sua investigação sobre o equilíbrio e a tensão entre as formas e o espaço que as contém, tal como entre o cheio e o vazio da escultura, tem paralelos interessantes com importantes pesquisas da história da arte brasileira, tais como as de Franz Weissmann, Willys de Castro e José Resende. Inicialmente trabalhando com materiais perecíveis, peças de borracha, madeira, entre outras, Osmar Dalio começa a sua investigação com estruturas metálicas a partir de 1988, o que lhe garante uma grande desenvoltura no trabalho com este material adquirida ao longo dos anos.
As esculturas realizadas especialmente para a sua exposição na Galeria Leme exibem uma espécie de monumentalidade inerente. A "arquitetura" de cada peça se articula a partir de operações que exploram a materialidade, peso, resistência e equilíbrio do aço corten. O processo de concepção do artista se inicia a partir de uma primeira idéia desenvolvida através do desenho. Depois elabora uma pequena maquete onde testa tridimensionalmente as formas e proporções de cada escultura. Em seguida, a peça é fabricada industrialmente através de uma forte colaboração entre o artista e um grupo de técnicos em engenharia. Intersecções, cortes, rebatimentos e justaposições são calculados cuidadosamente num processo que conjuga uma precisão matemática e um ímpeto intuitivo. Alguns cortes se espelham enquanto outros se adentram no volume, criando cavidades e reentrâncias que exercem uma atração magnética sobre o corpo do espectador. Este cuidadoso equilíbrio entre cheios e vazios faz com que as toneladas de metal transpareçam uma sensação de leveza e movimento. A materialidade das peças é também cuidadosamente trabalhada, estas são induzidas a processos de oxidação por meio de produtos químicos especiais, o que lhes confere um acabamento perfeito, uma tonalidade intrigante e uma textura aveludada. A sua manufatura nega qualquer tipo de rastro manual do trabalho do artista, o que parece enfatizar a natureza do ferro. Fortemente usado na arquitetura e engenharia este material representa simbolicamente a histórica busca por uma "ordem" humana sobre a natural, aliada fortemente à importância do progresso tecnológico. Esta herança histórica parece de certa forma impregnar as formas geométricas das esculturas de Osmar Dalio que ganham ainda mais carga simbólica quando entram em diálogo com a arquitetura do edifício da Galeria Leme.
Osmar Dalio, São Paulo, Brasil, 1959. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Bacharelado em Artes Plásticas pela FAAP, São Paulo, em 1982, tendo estudado com Regina Silveira, Júlio Plaza e Nelson Leirner. Mestrado na Chelsea College of Art ad Design, Londres, sobre a orientação de Helen Chadwick, Cornelia Parker e Richard Deacon. Principais exposições individuais: Galeria Millan, São Paulo, Brasil (2000); Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil (1991); Galeria Macunaíma, Fundação Nacional de Arte / Instituto Nacional de Artes Plásticas, Rio de Janeiro, Brasil; Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brasil; Gabinete de Arte Raquel Arnaud, São Paulo, Brasil (1990). Principais exposições coletivas: Panorama da Arte Atual Brasileira, Formas Tridimensionais, Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo, Brasil; 21a Bienal Internacional de São Paulo, curadoria de João Candido Galvão. Fundação Bienal de São Paulo, São Paulo, Brasil (1991); Macunaíma 89, Fundação Nacional de Arte / Instituto Nacional de Artes Plásticas, Rio de Janeiro, Brasil; 11o Salão Nacional de Artes Plásticas, Fundação Nacional de Arte / Instituto Nacional de Artes Plásticas, Rio de Janeiro, Brasil (Prêmio Aquisição) (1989); Anathemata. curadoria de Aracy Amaral. Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil; Arte na Rua 2. Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, Central de Outdoor, São Paulo, Brasil (1984), entre outras. O seu trabalho faz parte das coleções públicas: Ferrovia Paulista FEPASA, Estação Júlio Prestes, São Paulo, Brasil e do Museu de Arte de Brasília, Brasília, Brasil.
Ricardo Basbaum na Jaqueline Martins, São Paulo
A partir do dia 3 de junho, uma seleção em grande parte inédita, feita pela curadora Marta Mestre, de desenhos, pinturas, fotografias, peças gráficas, vídeos e objetos produzidos entre 1981 e 1996, propõe conexões com o presente através da revisitação das décadas
Pensada a partir de um percurso não-cronológico sobre uma produção extensa e pouco vista de Ricardo Basbaum em torno de alguns dos núcleos mais consolidados de seu trabalho dos anos 80 e início dos anos 90, tais como, uma série de Pinturas e experiências em espaço público (1985-87), a série Cabelo (1985-86), o projeto Olho (1984-1990) e o projeto NBP - Novas Bases para a Personalidade (iniciado em1989/90), a exposição Ricardo Basbaum: corte-contaminação-contato abre dia 3 de junho, na Galeria Jaqueline Martins, em São Paulo, com a curadoria de Marta Mestre.
“A exposição coloca em evidência a necessidade de revisão dos relatos estabelecidos sobre a arte dos anos 1980 e 1990, a partir de um corpus de trabalho aberto a uma constelação de referências cruzadas, e que amplia as relações do universo de arte brasileiro com contexto internacional: da atuação no espaço público de Antoni Muntadas às estéticas do it yourself (DIY), do Poema-processo de Wlademir Dias Pino ao uso de novos suportes e mídias por Julio Plaza, dos slogans de Barbara Kruger à ideia de participação de Hélio Oiticica e Lygia Clark, etc”, afirma Marta.
Ocupando os dois pisos da galeria, a mostra percorre tanto os impasses e as oscilações criativas quanto os projetos mais consolidados, dando especial ênfase à ideia de “série”, procedimento utilizado pelo artista como forma de criar sequências que são ao mesmo tempo visuais e discursivas, muitas vezes propensas à “contaminação” ou mesmo à “viralização” – conceito forjado na cultura mediática daqueles anos, imediatamente anterior à revolução digital que viria a seguir.
No primeiro piso, apresenta-se aquilo que se pode considerar como um “reader” ou guia de leitura do léxico do artista. Através de desenhos, croquis, livros, anotações, documentação, textos, filipetas, etc, organizados sobre mesas de trabalho, acompanha-se o processo criativo e reflexivo de Ricardo Basbaum.
Reunem-se aqui alguns de seus “primeiros escritos”, assim como os marcos conceituais da sua “invenção como artista”, simultaneamente e discursiva, sendo possível entender as linhas de atuação ali adotadas, que se distanciam criticamente do regresso à pintura típico dos anos 1980, e propõem novos sentidos para a arte enquanto experiência afetiva e sensorial da sociabilidade e da linguagem – percurso de trabalho que o artista irá aprofundar no desdobramento de sua obra até a atualidade.
No segundo piso da galeria, três núcleos que correspondem às três etapas enunciadas no título da exposição: “corte”, “contaminação” e “contato”. Um primeiro conjunto de pinturas de 1985 e uma “pintura/instalação” (série Raio-X) de 1987, dominadas de signos Pop em cores primárias sobre fundos preto ou cinza, evidenciam um “impulso gráfico” feito de linhas diagramáticas e imaginário mediático, que em meados da década seguinte viria a dar corpo ao projeto de longa-duração da série Diagramas.
Recentemente os Diagramas foram objeto de uma exposição antológica no Centro Galego de Arte Contemporánea (2013, Santiago de Compostela, Espanha) e publicados em forma de livro pela editora Errant Bodie Press (2016, Berlim, Alemanha): Ricardo Basbaum: Diagrams, 1994 – ongoing.
Um segundo núcleo comporta um conjunto de fotografias – série Corte de Cabelo, 1985/86 – que coloca em evidência o corpo do artista. Etapas de um corte de cabelo e uma situação em que Ricardo Basbaum aparece travestido, misto de personagem oriental e de figura do universo dos quadrinhos, apontam para caminhos de “desconstrução” de identidades e referentes culturais. A série Corte de Cabelo, 1985/86, marca a passagem das experiências com pintura e das intervenções em meios de comunicação de massa (da Dupla Especializada) para o projeto “Olho” – este, funcionando como logomarca “viral” que o artista cria em 1984, um elemento omnipresente e contaminador, em postais, stickers, vídeos, calendários, filipetas, etc.
Um novo diagrama feito especialmente para esta exposição é apresentado neste núcleo, mediando imagens e palavras a partir de uma ferramenta de conectividade, que costura a produção do artista, desde os anos 80 até hoje. "Este novo diagrama aponta algumas inter-relações de diversas etapas de meu trabalho, atualizando-as a partir do que constitui minha prática hoje, em suas principais linhas de força. Procuro mostrar uma prática de artista que se organiza a partir de núcleos geradores de interesse, ao mesmo tempo visuais e discursivos, que adquirem maior densidade e espessura à medida que se distribuem em contato com sua recepção, explorando regiões de repetição e oralidade", conta Basbaum.
É também apresentada a primeira cápsula NBP, de 1993, um objeto escultórico construído em escala corporal, visando a utilização participativa, que vem a abrir caminho para os projetos arquitetônico-escultóricos que seriam retomados a partir dos anos 2000, da mesma série que foi adquirida pela Tate Collection e apresentada em instalação na inauguração da Nova Tate Modern, Londres, 2016.
Ricardo Basbaum (1961) integra desde 2016 o time de artistas da galeria Jaqueline Martins junto com Stuart Brisley, Hudinilson Jr e o coletivo 3nós3, entre outros.
Mais informações sobre as obras
- um conjunto de obras realizadas pela Dupla Especializada (formada por Alexandre Dacosta e Ricardo Basbaum), compreendendo 5 cartazes (1981 e 1984), uma filipeta (1984) e o vídeo Egoclip (1985);
- um conjunto de cinco filipetas (uma delas em parceria com Márcia Ramos) que acompanharam diversos projetos do artista entre 1986 e 1991, funcionando como processo de elaboração teórico-crítica e propondo um léxico de contato com o público, sendo distribuídas na ocasião aos visitantes das exposições;
- desenhos em sua maioria inéditos, provenientes de cadernos do artista (de 1985 a 1993), onde aparecem os projetos “Olho” e “NBP - Novas Bases para a Personalidade” e onde se cultiva o impulso gráfico do desenho, da escrita e da impressão;
- certidão de cartório de registro da marca “Olho” (1985), logomarca criada com o objetivo de ativar e mobilizar a percepção do espetador por via dos meios de comunicação;
- Memory Exercices, uma série de 25 desenhos a nanquim, inéditos, realizados em 1994 em Londres, em que o artista explora processos de memorização, incorporação e contágio;
- um conjunto de múltiplos da série NBP - Novas Bases para a Personalidade (crachá), de 1990, construídos como objetos de uso que conduzem o espectador pelos protocolos de relacionamento com a obra de arte;
- textos como o manifesto “O que é NBP?” (1990) e publicações como "Pintura dos anos 80: algumas observações críticas", publicado em 1988, na importante revista Gávea (Rio de Janeiro), ou Manual do artista-etc, publicado em 2013 (Rio de Janeiro, Azougue).
- obra de parede “4 Manifestos”, em sua versão original em inglês, acompanhada de folhetos para distribuição: I am against [Sou contra]; I re.fuse [Eu des.faço]; an ART OBJECTOR is an art object which objects [um OBJETANTE DE ARTE é um objeto de arte que objeta]; HYBRIDIZATION = INCORPORATION + INTERACTION [HIBRIDIZAÇÃO = INCORPORAÇÃO + INTERAÇÃO]. A partir de frases curtas e compactas e aproximando-se de uma ideia circular, de uma tautologia ou de rima, “4 Manifestos” elabora uma reflexão acerca das relações entre artista e sociedade a partir do local histórico do manifesto, indicando a necessidade de acessar outros modos de construção de fala, incorporando a dimensão sensível sem abrir mão da construção discursiva.
- Vídeos espalhados pela galeria testemunham as ações coletivas e individuais destes anos:
Egoclip 14’49” (1985)
Entre 1981 e 1990 os artistas Alexandre Dacosta e Ricardo Basbaum formaram a “Dupla Especializada”, realizando no Rio de Janeiro uma série de ações, performances e intervenções, dentro do projeto de “intervir em meios de comunicação de massa”. Vídeo realizado por Sandra Kogut e Andrea Falcão.
É a questão? 10’48” (1987-1991)
Uma logomarca simples, na forma de um Olho, é disseminada pelo campus da Universidade, através da utilização de suportes como cartazes e filipetas. O vídeo registra o trabalho desenvolvido por Ricardo Basbaum em sua temporada como artista-residente na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), de abril a novembro de 1987.
O que é NBP? Fragoso Baixada 4'52" (1990) / NBP: CEP 20000 Arpoador 8'27" (1993)
Estes dois vídeos registram leituras públicas de textos em torno do projeto NBP, realizadas em espaços de manisfestações coletivas de artistas. No primeiro vídeo, o texto O que é NBP? é lido em três linguas simultâneas (português, inglês e francês) por Ricardo Basbaum, Alex Hamburger e Márcia X em evento na Baixada Fluminense. No segundo, a leitura do texto "NBP para o povo, para a massa, para o mundo" ocorre no evento CEP 20000 Arpoador, com a participação de Ricardo Basbaum, Alex Hamburger, Márcia X e Ana Margarida Cartaxo. Vídeos realizados por Aimberê Cesar.
Ricardo Basbaum (São Paulo, 1961) vive e trabalha no Rio de Janeiro. Artista e escritor, participa regularmente de exposições e projetos desde 1981. Exposições individuais recentes incluem the production of the artist as collective conversation (Audain Gallery, Vancouver, 2014), nbp-etc: escolher linhas de repetição (Galeria Laura Alvim, Rio de Janeiro 2014), Diagramas (Centro Galego de Arte Contemporánea, Santiago de Compostela, 2013) e re-projecting (london) (The Showroom, Londres, 2013). Participou da documenta 12 (2007), da 20ª Bienal de Sydney (2016), da 30ª e 25ª Bienal de São Paulo (2012, 2002) e de The School of Kiev (2015), entre outros eventos. Em 2015 desenvolveu projeto para It Might be Possible that the World Itself is Without Meaning* - Performances, actions, and interventions in urban space (Stadtkuratorin, Hamburgo). Curador de Mistura + Confronto (Central Electrica do Freixo, Porto, 2001) e co-curador do Panorama da Arte Brasileira (MAM-SP, 2001), On Difference #2 (Kunstverein Stuttgart, 2006) e pogovarjanja/conversations/conversas (Skuc Gallery, Ljubljana, 2006). Co-editor da revista item (1995-2003) e co-diretor da agência Agora (1999-2003, Rio de Janeiro). Sua produção de diagramas está reunida no livro Diagrams, 1994 – ongoing (Errant Bodies Press, 2016). Autor de Manual do artista-etc (Azougue, 2013), Ouvido de corpo, ouvido de grupo (Universidade Nacional de Córdoba, 2010) e Além da pureza visual (Zouk, 2007). Trabalhou como Professor do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro de 1998 a 2016. Professor Visitante da Universidade de Chicago entre outubro e dezembro de 2013. Artista Residente da Audain Gallery (Vancouver) em outubro de 2014. Atualmente é Professor do Departamento de Artes da Universidade Federal Fluminense.
Marta Mestre (Beja, 1980), portuguesa, atualmente vive e trabalha no Brasil, Marta Mestre é curadora, crítica de arte e docente. Graduada em História da Arte, com mestrado em Cultura e Comunicação/ Museologia, fez a sua formação académica na Universidade Nova de Lisboa e na Université d’Avignon et des Pays de Vaucluse. Foi curadora do Instituto Inhotim, Brumadinho, Minas Gerais (2016-2017), curadora-assistente do MAM - Rio de Janeiro (2010-2015), e coordenadora de programação do Centro de Artes de Sines, Portugal (2005-2008). Foi curadora convidada da Escola de Artes Visuais Parque Lage, Rio de Janeiro, 2016. Atua desde 2005 como curadora, maioritariamente em museus e instituições culturais públicas e privadas, tendo desenvolvido vários projetos de curadoria individual ou coletivamente. Faz acompanhamento de projetos artísticos, pesquisa em arquivos de artista e institucionais, e consultoria de políticas públicas para a cultura.
Maria Leontina na Bergamin & Gomide, São Paulo
A partir de junho, pinturas e desenhos de diferentes períodos celebram 40 anos de produção da artista que teve o trabalho conhecido como “geometria sensível”
Com a proposta de reintroduzir ao público uma produção que visualmente e conceitualmente foi pioneira ao mesclar geometria, figuração e abstração, a galeria Bergamin & Gomide reúne, a partir de 1º de junho, parte importante da obra de Maria Leontina em exposição individual. “Leontina é muitas vezes lembrada na história como esposa de Milton Dacosta. Essa mostra busca fazer uma revisão dessa perspectiva”, afirmam os sócios Antonia Bergamin e Thiago Gomide.
Maria Leontina iniciou sua produção na década de 1940 com trabalhos feitos em tela e papel. Seus desenhos e pinturas partiram de uma linguagem figurativa para uma abordagem expressionista e, ao longo dos anos 1950, os temas tradicionais como naturezas-mortas e retratos deram lugar para paisagens urbanas e construções geométricas. Nesse período, a artista flertou com o construtivismo, no momento proeminente nas artes plásticas do país, porém sua obra não aderiu aos dogmas do movimento e dessa forma sua relação com as formas e cores se deu de forma leve e translúcida, a chamada “geometria sensível”.
A fase "construtiva" de Maria Leontina, que durou até 1961, é considerada por diversos críticos como o momento de maior singularidade em seu percurso artístico. Como afirma o crítico Frederico Morais, nesses trabalhos ocorre "o justo equilíbrio entre expressão e construção, cálculo e emoção". E o crítico Ferreira Gullar faz referência aos trabalhos de Paul Klee (1879-1940) e Joán Miró (1893-1980), pela produção abstrata de Leontina.
“Queremos mostrar ao público um apanhado geral da obra dessa artista essencial à arte nacional. O trabalho de Maria Leontina possivelmente está em um dos pontos de intersecção da arte moderna com a arte contemporânea brasileira”, completam os sócios da galeria.
maio 26, 2017
Felipe Fernandes na dotART, Belo Horizonte
Bons ares, ares bons. É com este frescor que o ano começa na dotART galeria, com a inauguração de novas exposições no dia 25 de abril: Abrindo a caixa, de Lívia Moura; Barulho, de Felipe Fernandes; e na Sala Pensando o vídeo Green ou Sinal verde para o saque das Américas, de Regina Vater.
Barulho – Felipe Fernandes
Felipe Fernandes parte de formas simples como folhas, círculos e manchas. A mostra inicialmente levava o nome “primário”, pois eram as primeiras imagens que vinham, em um processo o mais espontâneo possível.
“Observei que a maior parte das pinturas passava a ideia de um movimento brusco, mas silencioso. Trabalhava contrastes e densidades de tinta e cor. A imagem, o figurativo, ou mesmo o gráfico, continuava lá, como um ponto de apoio para o olhar. As pinturas mostram uma intenção de figuração, mas que se perde na abstração que as manchas e coberturas de tinta proporcionam”, conta o artista.
Com o amadurecimento desse processo, “Barulho” tornou-se uma opção interessante de nome. “O barulho é algo difícil de definir, às vezes podemos identificar alguns sons reconhecíveis mesmo sendo uma massa sonora. Mas o barulho é por definição abstrato, uma interferência muitas vezes, no curso de um som inteligível. Mais do que falar das formas primárias que são o gatilho para a pintura, aqui o foco é justamente o desdobramento que elas proporcionam, o barulho que é gerado em meio ao que pode ser identificado”, finaliza Felipe Fernandes.
Rodrigo Andrade na Millan, São Paulo
Mostra na Millan abre diálogo com retrospectiva do artista a ser realizada na Pinacoteca, em dezembro
Um dos mais importantes pintores da geração 80, Rodrigo Andrade expõe, a partir de 1 de junho, sua produção mais recente na Galeria Millan. Duas Cavernas ocupará os dois espaços da galeria na capital paulista, contemplando as principais vertentes trabalhadas intensamente pelo artista nos últimos meses. Conhecido por sua capacidade de mudar radicalmente o rumo de sua produção, em busca de novos caminhos de pesquisa, Andrade vive um momento de maior síntese, em que os vários percursos trilhados em 33 anos de carreira parecem confluir para uma maior interação. E cria, com essa exposição, uma interessante interface de diálogo com a grande mostra retrospectiva de sua obra, que ocorre no final do ano na Estação Pinacoteca.
Ao todo a mostra reunirá entre 25 e 30 telas, que se organizam em torno de três eixos principais: as paisagens, inspiradas em sua grande maioria por obras clássicas assinadas por mestres como Ruysdael, Uccello e Bellini (que ocuparão o espaço da galeria); as pinturas abstratas, chamadas de Bilaterais, formadas por dois grandes campos cromáticos em equilíbrio (exibidas no anexo); e, como fiel da balança – por trazer questões familiares aos dois grupos anteriores – uma série de trabalhos recentes, apelidados de “figuras binárias". Trazendo sempre duas figuras, que podem ser mais ou menos abstratas, essas obras lidam sempre com a ideia do duplo, do reflexo, aspecto bastante presente em toda a produção do artista. "Isso acabou meio que constituindo uma estrutura no meu trabalho. Eu me entendo no par. É uma coisa que eu sinto falta, de uma coisa e outra, de criar uma espécie de ligação entre dois elementos que de certa maneira dá uma autonomia para a pintura", explica ele.
Algumas dessas figuras binárias são mais figurativas e possuem aspectos que remetem ao universo dos cartoons ou a referências da história da arte (é o caso das telas Fera e Princesa, em diálogo evidente com São Jorge e o Dragão, de Uccello, e Bicho e Pedra, depois de Neves Torres, uma abstração feita a partir de um trabalho do autor citado no título). Outras mais indecifráveis, como a gigantesca pintura mural, de 6 x 11 metros, que Andrade fará numa das paredes do anexo: "Uns dizem que são homens de capuz, outros que são animais marinhos”, brinca o pintor, revelando que na verdade são as tais cavernas que dão nome à exposição.
As grutas, catacumbas e rochedos, temas pitorescos do século XIX, encantam o artista há tempos e ele vem colecionando imagens do gênero desde 2010 e reelaborando pictoricamente esse motivo, até chegar no estágio atual. Seu fascínio não decorre de conotações filosóficas e poéticas. "É um oco que eu vou pintar com uma matéria positiva, uma matéria em relevo. Essa situação espacial é perfeita para mim. Todas as outras conotações que podem vir, que venham", explica.
Tanto as cavernas como seus outros trabalhos são corpos volumétricos, se projetam para além do plano, conquistam o espaço. Para lidar com as massas de tinta – num tipo de trabalho que remete às pinturas com formas geométricas feitas por ele nos anos 2000, e que acabaram se tornando uma espécie de assinatura artística – Andrade lança mão de máscaras, moldes cuidadosamente desenhados no processo de recortar. "É o momento do desenho”, explica o pintor, contando que agora não trabalha mais com projeções nem com uma fonte fotográfica pré-existente, como fazia nas primeiras paisagens. Às vezes recorre aos grandes mestres, mas numa interpretação muito pessoal. No entanto as cenas mais recentes, como Pântano ao Luar, são inteiramente imaginárias, num lento processo de elaboração mental até que a pintura ganhe corpo. "É como se eu ficasse treinando para um salto triplo", exemplifica o artista.
No lugar do pincel, que utiliza apenas nas paisagens, aparece o rodo de silkscreen, usado para espalhar a tinta com grande precisão. O risco, o apego pela ação num número reduzido de gestos, que parece sempre fazer parte do processo de Andrade, ganha uma dimensão ainda maior nas Bilaterais. Sua estrutura é extremamente simples: duas massas densas de cor, espalhadas praticamente num único golpe de rodo, que se imantam (novamente num equilíbrio dual) e colidem no centro da tela formando uma espécie de crista. Há muito de acaso e de fatalismo. Mas há também um cálculo preciso, uma vagarosa escolha das tintas – muitas vezes sobras de outros trabalhos – e sobretudo um retorno às bases da pintura. "Senti falta de forma e de cor”, conta Rodrigo. E acrescenta: "Há muitos anos não tinha um embate tão intenso com a pintura".
Declaração significativa para quem se dedica há mais de três décadas ao ofício, passando por diferentes fases e radicais mudanças nesse processo de experimentação. Desde os primeiros anos, quando seu trabalho e o de outros companheiros – reunidos no ateliê Casa 7 – ganhou projeção ao participar da 18a Bienal de São Paulo, várias foram as mudanças radicais em sua produção. A última delas ocorreu em 2010, quando Andrade – que vinha fazendo um trabalho fortemente abstrato – surpreendeu o circuito com as paisagens negras, imateriais, feitas a partir de registros fotográficos, que mostrou na 29a Bienal (2010). Agora, além de uma enorme vitalidade e de um retorno em busca a uma maior presença da cor e da forma, o artista parece mais disposto a trilhar caminhos paralelos, descobrindo em cada um deles elementos para nutrir sua pesquisa.
Rodrigo Andrade (São Paulo / SP, 1962) iniciou sua formação em gravura no ateliê de Sérgio Fingermann (São Paulo, SP). Estudou no Studio of Graphics Arts (Glasgow, Inglaterra) e frequentou o curso livre de gravura e pintura na Escola de Belas Artes (Paris, França). De 1982 a 1985 integrou o grupo Casa 7, com Carlito Carvalhosa, Fábio Miguez, Nuno Ramos e Paulo Monteiro. Recebeu, no início de sua carreira, importantes prêmios nos salões nacionais de arte.
A partir de 1986, realizou diversas exposições individuais em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, e participou de inúmeras coletivas no Brasil e no exterior. Nos anos 2000, iniciou uma série de intervenções pictóricas em espaços públicos: Projeto parede, no Museu de Arte Moderna (São Paulo), 2000; Lanches Alvorada, num bar no centro de São Paulo, 2001; e Paredes da Caixa, no Museu da Caixa Econômica Federal (São Paulo), 2006. Recebeu a Bolsa Vitae de Artes Plásticas, em 2004. Em 2007 escreveu, dirigiu e atuou no curta-metragem Uma noite no escritório, que tinha como protagonista a própria pintura. Em 2008, foi publicado o livro monográfico Rodrigo Andrade, reunindo sua obra desde 1983 (Editora Cosac Naify). Em 2010 participou da 29ª Bienal de São Paulo. Apresentou individuais no Centro Universitário Maria Antônia (São Paulo), em 2013, e na Galeria Millan (São Paulo), em 2012 e 2014, quando lançou pela editora Cobogó o livro Resistência da Matéria. Possui trabalhos nas principais coleções públicas e privadas do país.
Marcia Thompson na Janaina Torres, São Paulo
Pinturas expandidas em caixas de acrílico são destaque da mostra que traz também telas, desenhos e vídeos da artista carioca, radicada na Inglaterra, laureada em 2015 com o Visual Arts Awards, da embaixada brasileira em Londres
Marcia Thompson celebra mais de duas décadas de trajetória e retorna a São Paulo, na Janaína Torres Galeria, a partir de 30 de maio, com a mostra B.L.O.C.O.S.
Residindo em Londres desde a década de 90, Thompson traz ao Brasil uma seleção inédita de trabalhos em que radicaliza, como poucos artistas, a questão da pintura, com movimentos que deslocam a obra do espaço convencional, instaurando, por meio de uma gramática não-convencional, novas possibilidades – e narrativas.
A exposição apresenta uma sequência de blocos de tinta óleo em uma série de caixas de acrílico, além de pinturas tridimensionais, desenhos e vídeos.
O acúmulo de tinta e a procura por novas materialidades, tônica do trabalho de Thompson, está presente, numa arte dotada de pureza cromática, de textura, temperatura, sensualidade e carnalidade.
Para a curadora da exposição, Gabriela Davies, as peças que integram B.L.O.C.O.S. têm o lúdico como elemento central - não por acaso, a inspiração das obras veio das primeiras escritas dos filhos da artista. Assim como traz desenhos que questionam o momento primeiro da escrita, suas pinturas fazem somente o uso de cores primárias, estabelecendo uma relação com o todo da exposição.
"Cada obra brinca com a falta de controle dentro de uma metodologia ordenada", diz Davies. "O ambiente contido por linhas retas, caixas e molduras quadradas é interferido."
Caixas de acrílico que guardam borrões de tinta vermelha se destacam em B.L.O.C.O.S. "O começo da ideia da exposição veio delas", diz Marcia Thompson. "Os borrões na superficie do acrílico evidenciam a fatura e são como as laterais das pinturas que ficam borradas por causa do manuseio. Essas caixas estão no chão, mas ainda são pinturas e falam da superficie da caixa onde são prensadas, apesar de serem massas, objetos, corpos de cor. São feitas com os mesmos "ingredientes" da pintura", completa a artista.
Marcia Thompson é formada em História pela PUC e em Artes pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), ambas no Rio de Janeiro. Reside em Londres há vinte anos, e já expôs seus trabalhos em galerias diversas do Reino Unido, EUA, China e Escandinávia. Em 2015, foi laureada com o Visual Arts Awards, da embaixada brasileira em Londres.
Sergio Romagnolo na Marilia Razuk, São Paulo
A Galeria Marilia Razuk apresenta a partir de 1º de junho a exposição Sapatos e Flores, de Sergio Romagnolo. Segunda individual do artista na galeria, traz 11 pinturas em tinta acrílica e 5 esculturas em bronze e plástico modelado.
A ideia da exposição é colocar lado a lado imagens muito distintas, quase opostas: flores, como presentes em eventos comemorativos ou ainda símbolo de pesar; e sapatos, como objetos de uso comum e cotidiano, desgastados pelo uso frequente. As imagens dos sapatos se desdobram em tênis, botas ou sandálias Havaianas; já as flores, em sua maioria, são imagens de rosas vermelhas.
A polarização de temas procura, de uma certa maneira, cercar a vida do nascimento à morte, do começo ao fim, representada por objetos do dia a dia da existência mundana.
As pinturas são compostas por duas imagens sobrepostas do mesmo objeto, retratado de ângulos diferentes. Assim, o que se vê é uma figura duplicada em dois momentos, como uma imagem defeituosa. Além das pinturas, a mostra conta também com uma escultura em bronze, como uma figura humana em tamanho natural, no centro da sala.
Sergio Romagnolo (São Paulo, SP, 1957) é escultor, pintor, desenhista, artista intermídia e professor. Estuda no Colégio Iadê, em São Paulo, entre 1976 e 1977. Em 1980, ingressa no curso de artes plásticas da Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Alvares Penteado, em São Paulo. Entra em contato com as obras de Regina Silveira, Nelson Leirner e Julio Plaza. Entre 1980 e 1984, é professor nas redes pública e privada de ensino. Leciona pintura na Faap entre 1985 e 1986. Nesse ano, realiza sua primeira exposição individual na Galeria Luisa Strina, em São Paulo. No início da década de 90, passa a se dedicar à escultura e atua como professor em oficinas e workshops. Participa da Bienal Internacional de São Paulo em 1977, 1983, 1987 e 1991. Em 1999, finaliza o mestrado em artes na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), com a dissertação Esculturas: Rugas e Alegorias. Em 2002, conclui o doutorado em artes na mesma instituição, com a tese O Vazio e o Oco na Escultura. Entre 2000 e 2005, leciona na Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo, e, a partir de 2007, na Universidade Estadual Paulista.
maio 25, 2017
Erica Ferrari na Funarte, São Paulo
Erica Ferrari apresenta fragmentos de ruínas para edificações destruídas por atos políticos na Funarte
O Ministério da Cultura e a Funarte São Paulo tem o prazer de apresentar, a partir de 27 de maio de 2017, das 15h às 20h, o projeto Estudo para Monumento, da artista Erica Ferrari, selecionado no Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2015 – Galerias Funarte de Artes Visuais São Paulo. A instalação é uma construção em escala real de dois possíveis fragmentos de ruínas cuja referência são importantes edificações situadas no Rio de Janeiro e em Berlim. A ideia é discutir sobre a continuidade histórica desses símbolos a partir de seus desaparecimentos em consequência de atos políticos.
Elaborado especialmente com madeira e material de descarte, em parte carbonizado, no trabalho há o tensionamento entre a história e significado do edifício modernista Columbushaus, projetado em 1932 pelo arquiteto alemão Erich Mendelsohn e incendiado em junho de 1953, em protesto popular na antiga Berlim Oriental; e a primeira sede da União Nacional dos Estudantes – UNE, na Praia do Flamengo, em palacete confiscado da Sociedade Germania, que sofreu atentado em abril de 1964 no contexto de repressão da ditadura militar e hoje é reconstruída com projeto do arquiteto Oscar Niemeyer. Ambos os episódios envolvem atos repressivos empregados por sistemas de governo recém implantados, ocorrendo entretanto em lados opostos no contexto da Guerra Fria e por agentes antagônicos. As ruínas dos prédios sobreviveram alguns anos no corpo da cidade, indicando na paisagem o ataque físico e significativo. Se pensarmos na definição de monumento como construção que adquire valor de símbolo dentro de uma comunidade devido à atribuições históricas e ideológicas, não só a sede da UNE e o Columbushaus se apresentam como tal, mas também suas subsequentes ruínas.
É significativo como o corpo arquitetônico se torna alvo imediato e eficaz da luta política e sua destruição traz em si não apenas o fim das atividades ali exercidas mas também o significado que o edifício carregava para aquela comunidade. Por fim, existe também a constatação da força dessas áreas destruídas como tábula rasa para a especulação imobiliária, para a construção do ‘novo’ que se torna cartão postal e ponto de referencia das metrópoles do século XIX, como é o caso de ambos.
ERICA FERRARI
[São Paulo, SP,1981]
Mestranda em Poéticas Visuais pela ECA USP e Bacharel em Artes Plásticas pela mesma Universidade. Nos últimos anos produziu objetos e instalações a partir de pesquisa em torno das relações entre arquitetura, paisagem e história. Nessa pesquisa inclui-se estudos sobre a densidade simbólica das construções arquitetônicas, as diferentes representações da ideia de paisagem e dos elementos que a compõem e sobre a compreensão do espaço fisicamente e socialmente construído da cidade. Os trabalhos são geralmente construídos com materiais utilizados na construção civil e no mobiliário, como madeira, gesso, fórmica e cimento.
Recebeu diversos prêmios de incentivo à produção artística e teve obras adquiridas por coleções públicas através de salões e chamadas abertas. Apresentou exposições individuais na Galeria Emma Thomas, no Palácio das Artes, no Museu de Arte de Ribeirão Preto, na 32° ARCO em Madrid e no Festival Cultura Inglesa. Foi artista residente na Casa Tomada (São Paulo), no Sculpture Space em Utica (Nova York) e na Rampa (Madrid). Em 2014 exibiu individuais na PIVÔ e no Paço das Artes. Em 2015, após residência no GlogauAIR em Berlim, produziu um novo corpo de trabalhos apresentado no Museu Murillo La Greca em Recife e na coletiva Totemonumento na Galeria Leme. Produziu a instalação 'O nome da margem' para a mostra Provocar Urbanos no SESC Vila Mariana e site specific na FUNARTE Ocupada em parceria com Maurício Adinolfi. Em 2017 prepara projeto para a FUNARTE de São Paulo e participa do Programa Independente do Masp – PIMASP.
Também foi integrante entre 2005 e 2010 do Grupo Hóspede com o qual participou de diversas mostras e projetos pelo país. Dentre as atividades desenvolvidas com o grupo destacam-se o projeto Laboratório Hotel - formação de centro de estudo e residência no Largo da Batata em São Paulo - patrocinado pela Secretaria de Estado da Cultura em 2007, além das seleções em iniciativas como o Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo e a Temporada de Projetos do Paço das Artes.
Jaildo Marinho no MAM, Rio de Janeiro
O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e a Pinakotheke Cultural apresentam a exposição Jaildo Marinho – Cristalização, a partir das 15h do próximo dia 27 de maio, com curadoria do crítico de arte francês Jacques Leenhardt, que reúne 19 obras, entre pinturas, esculturas e a instalação que dá nome à mostra – com 27 metros quadrados – , do artista pernambucano nascido em 1970 e radicado há 24 anos em Paris. A exposição será acompanhada de um livro-catálogo bilíngue (português-francês), com textos do crítico francês Jacques Leenhardt e do curador do MAM, Fernando Cocchiarale, editado pela Pinakotheke Cultural, realizadora da exposição em parceria com o MAM.
Jaildo Marinho utiliza mármore de Carrara em suas esculturas e na instalação “Cristalização”, com pintura em tinta acrílica. Leenhardt – diretor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, em Paris, e estudioso do Brasil desde 1980 – explica que a exposição se dá em torno desta instalação, “um ambiente impregnado pelas cores da ametista”. “Essa peça é construída em redor de um vácuo, a condição, em geologia, para que o tempo infinito dos processos minerais venha a formar cristais que, ao se desenvolverem livremente, acabam constituindo um geodo”, diz. “Essa estrutura central é o emblema da exposição inteira, que funciona em seu conjunto à maneira de uma estrutura cristalina, reproduzindo na escala do Museu o longo processo através do qual se elabora o mundo mineral, mediante reduplicações e simetria”.
O tempo efêmero da existência humana, em oposição ao da formação mineral, é uma das questões presentes na exposição. “Jaildo Marinho situa-se resolutamente na linha construtivista, oriunda de Malevich (1878-1935) e Mondrian (1872-1944), que se alforriou do mundo concreto com a vontade de se tornar a matriz de uma linguagem universal, sem relação com o mundo material do cotidiano tão constantemente representado na pintura da Antiguidade”, afirma Jacques Leenhardt. O crítico destaca que se deve considerar a exposição “como o resultado de uma dupla reflexão a partir de uma releitura da tradição inaugurada pela obra de Mondrian – desenvolvida por Jesús Soto (1923-2005), de um lado, e, do outro, estabelecida solidamente na linhagem do concretismo e, em seguida, do neoconcretismo brasileiro, que vai de Flávio de Carvalho até Hélio Oiticica, passando por Waldemar Cordeiro e muitos outros”.
Fernando Cocchiarale observa que é possível pensar nas “Cristalizações” de Jaildo como “uma repactuação pessoal e híbrida entre a sintaxe geométrica (legada pelas vanguardas da primeira metade do século XX) e a tradição pré-construtivista da escultura”. “As cinco esculturas agora mostradas – “Palette Rio-rouge”, “Rio-jaune”, “Rio-bleu”, “Rio-rose” e “Brazil rose-zen” – sugerem a síntese entre a racionalidade construtiva da forma geométrica e os métodos de produção clássicos da escultura greco-romano-renascentista. Seu título comum, “Palette”, nos evoca sua inscrição institucional (por meio da palette de Carrara que aqui não opera mais como veículo para o transporte da obra, e sim como parte inseparável das esculturas, fixando-as em seu lugar de exposição)”, diz o curador do MAM.
Jaildo Marinho, nascido em 1970 na cidade pernambucana de Santa Maria da Boa Vista, está radicado em Paris desde 1993. Começou a estudar escultura e tratamento de pedras em 1982 e, entre 1991 e 1993, cursou Escultura na Universidade Federal de Pernambuco, quando se transferiu para Paris, e começou a atuar como escultor e pintor. Ganhou a medalha de ouro no Festival de Mahares, na Tunísia, em 1995, e o prêmio de escultura da Bienal de Malta, em 1999, ano em que começou a lecionar no ateliê de escultura e fundição que coordena para a prefeitura de Paris. Integra o movimento Madi Internacional, fundado em Buenos Aires, em 1946, pelo uruguaio Carmelo Arden Quin. Realiza exposições individuais no Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco, em 2002; no Centro Cultural Franco-Brasileiro, Paris, em 2003; na Casa do Brasil, Madri, em 2004; no espaço Cultural Marcantônio Villaça, Brasilia, em 2007; na Galeria Manuel Bandeira da Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro, em 2008; na Academia de Ciências de Hungarian em Gÿor, Hungria em 2010; na Maison de l'Amerique Latine, Paris. Participa de numerosas exposições coletivas no Brasil e em cidades da Europa, Ásia, Estados Unidos e América Latina. Em 2009 recebe o título de cidadão francês. Possui obras no Satoru Sato Museum, em Tome, Japão; no Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (Malba), Argentina; Museu de Arte Contemporânea Francisco Narvaez, Porlamar, Venezuela; Hungarian Academy of Sciences, Gÿor, Hungria; Espace Jean Legendre, Compiègne, França; Museu MADI Sobral, em Sobral, Ceará; Fundação Joaquim Nabuco, em Recife; Espaço Cultural Marcantonio Vilaça, Brasília; e Museu Coripos, em Santa Maria da Boa Vista, Pernambuco.
maio 24, 2017
Marco Maggi na Nara Roesler, Rio de Janeiro
Meu único objetivo é escrever texturas ou criar desenhos de alta “in-definição” que promovam pausas e tornem o tempo visível. - Marco Maggi
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A Galeria Nara Roesler tem o prazer de apresentar a exposição O Ouro e o Mouro, de Marco Maggi, com desenhos produzidos em 2017, além do vídeo Global Myopia, de 2015, que mostra a obra homônima exibida na 56ª Bienal de Veneza em 2015. “O Ouro e o Mouro” traz obras repletas da poética de Maggi, propondo um reajuste da percepção temporal e uma reflexão sobre o fluxo intenso de estímulos visuais na sociedade contemporânea.
Em espanhol, "El oro y el moro" é a maior promessa possível, a qual o artista descreve como o ato de prometer “tudo isto e o céu também”. Maggi explica: “Promessas são um duplo vácuo, porque nunca serão uma presença presente... são sempre uma ausência futura. Nos cafés, tudo o que compartilhamos são conexões de Wi-Fi cada vez mais velozes. Somos fascinados pela velocidade e por conversas de longa distância. A arte visual é o oposto; um desenho é sempre o aqui e o agora, uma presença presente”.
Maggi propõe novos protocolos para o olhar, por meio de um ato subversivo tripartido constituído de lentidão, delicadeza e otimismo. Em Global Myopia, 2015, o artista nos convida à “imaginar um vírus contagioso com dois sintomas de miopia: olhar mais de perto e olhar mais devagar.” Global Myopia tece uma crítica sutil à ironia da vida contemporânea. No vídeo, vemos o público observar fixamente e com extrema atenção a obra de Maggi, exibida na 56ª Bienal de Veneza, a qual de uma certa distância, como é mostrada no vídeo, pode ser confundidas com paredes planas. O ato da observação atenta unifica o corpo da obra de Maggi, propondo uma dimensão alternativa sutil que é ao mesmo tempo pequena e vasta. Adriano Pedrosa observa: “não é por acaso que as obras de Maggi são tão difíceis de reproduzir e registrar em fotos; é preciso vê-las ao vivo, olhar sua superfície, sua linha, o vazado, a sombra, o relevo, a transparência”.
Embora o excesso de estímulos visuais e a escassez de tempo impossibilitem um olhar mais atento, os trabalhos precisos e delicados de Maggi exigem uma observação meticulosa. Nos desenhos expostos, assim como em grande parte de sua obra, o artista utiliza diversas mídias para criar padrões intrincados, geométricos e arquitetônicos. Utilizando caligrafia, ferramentas, superfícies e escalas para manipular o tamanho de letras, paredes, pavilhões e museus, Maggi constantemente convoca o espectador à investigação e concentração através do olhar. Gold is the new white, de 2017, é um desenho dourado contendo 960 “pontos”; em White Mending, Planar, Density Packing e Discrete Geometry (todos de 2017), um alfabeto autoadesivo viaja por diversas superfícies e caligrafias; e Spelling “D-i-s-s-e-m-i-n-a-t-i-o-n, de 2017, é um simples desenho a lápis sobre papel. O artista escreve que “desenhar é uma atividade superficial: diálogo entre mão e superfície. É uma disciplina que permite que nos distanciemos da profundidade do pensamento para multiplicar nossa empatia pela insignificância. Desenhar é como escrever numa língua que não sei ler”.
Em 2015, o filósofo francês François Cusset afirmou, sobre o método do artista: "[t]raços lidam com o significado; eles qualificam o que merece ser inscrito: por outro lado, o insignificante não deixa rastros, o banal não tem memória, tudo desaparece com o instante de sua relevância. Marco Maggi vira essa ordem estabelecida de cabeça para baixo; esculpindo e cortando, ele transforma o insignificante em traço, o vácuo em arquivo, a sombra em alfabeto, o detalhe em cosmos e as mais ínfimas variações naquela famosa revolução que havíamos desistido de esperar”.
My only objective is to write textures or make high "in-definition" drawings promoting pauses and making time visible. - Marco Maggi
Galeria Nara Roesler is pleased to present the exhibition O Ouro e o Mouro (“The Gold and the Moor”) showcasing works by Marco Maggi. The exhibition unveils drawings conceived in 2017, and presents the video Global Myopia, developed during the exhibition of the artist’s work at 56th Venice Biennial, 2015. “O Ouro e o Mouro” displays works embedded in his poetics, proposing a readjustment of temporal perception and reflecting on contemporary society’s high-traffic of visual stimuli.
In Spanish "El oro y el moro" is the greatest possible promise, described by the artist as a promise entailing “all of this and the heavens too.” He expands, “promises are a double vacuum because they will never be a present presence…always a future absence. At coffee shops, we only share faster and faster wi-fi connections. We are fascinated by speed and long distance conversations. Visual art is the opposite, a drawing is always here and now, a present presence.”
Maggi offers new viewing protocols through a threefold subversive act consisting of slowness, delicacy and optimism. The artist invites you to “imagine a contagious virus with two myopic symptoms: look closer and look slower.” The video Global Myopia, 2015, weaves a fine comment on the irony of contemporary life as the public fixates and examines with great care the work Maggi displayed during the 56th Venice Biennale, which from a distance, as in the video, can be mistaken for a plane wall. The act of close and attentive inspection unifies Maggi’s body of work, which proposes a subtle alternative dimension, which is at once small and vast. Adriano Pedrosa, points out that “it is not by chance that Maggi’s works are so difficult to be reproduced and registered in photos; it is necessary to see them live, inspect their surface, their line, carving, shadow, relief, transparency.”
While widespread excess of visual stimuli and scarcity of time precludes the possibility of a closer look, the precise and delicate works by Maggi plead for a meticulous observation. The exhibited drawings, as much of his oeuvre, employs diverse media through which he creates intricate geometric and architectural patterns. By handling calligraphy, tools, surfaces, and scales to manipulate letter size, wall size, pavilion and museum size, the artist summons the viewer’s scrutiny and focuses their gaze. A substantial golden drawing includes 960 “stops” in Gold is the new white, 2017; a self-adhesive alphabet travels through different surfaces and calligraphies in White Mending, Planar, Density Packing, and Discrete Geometry (all 2017); and a pencil drawing simply sits on paper in Spelling “D-i-s-s-e-m-i-n-a-t-i-o-n, 2017. The artist writes, "to draw is a superficial activity: dialogue between hand and surface. A discipline that allows us to take distance from the depth of thinking in order to multiply our empathy for insignificance. Drawing is like writing in a language that I cannot read”
In 2015, French philosopher François Cusset considered the artist’s approach and stated, "[t]races deal with significance, they qualify what deserves to be inscribed: whereas the insignificant leaves no trace, the ordinary has no memory, all vanished with the instant of their relevance. Marco Maggi puts that well-established order upside down, carving and cutting the insignificant into a trace, the vacuum into an archive, the shadow into an alphabet, the detail into a cosmos, and the smallest of variations into that famous revolution we had ceased to expect."
Fabio Cardoso na Caixa Cultural, Rio de Janeiro
Em Quase pinturas, o artista plástico exibe sua inventividade em 13 trabalhos a óleo feitos a partir de fotos de celular
A CAIXA Cultural Rio de Janeiro apresenta, de 27 de maio a 23 de julho de 2017, a mostra Quase pinturas, do artista plástico Fabio Cardoso. A exposição é composta da série homônima de 13 pinturas figurativas a óleo inéditas no Rio. Com curadoria do crítico de arte Agnaldo Farias, o projeto tem patrocínio da Caixa Econômica Federal e do Governo Federal.
A abertura, sábado, 27 de maio, às 16h, terá visita guiada com curador e, às 17h30, o debate Aspectos da pintura contemporânea com os artistas Fabio Cardoso, Afonso Tostes e Carlos Vergara, sob a mediação de Agnaldo Farias.
No processo de criação dessas obras, Fabio Cardoso parte da tela coberta de tinta preta. Com terebentina, ele vai removendo essa tinta para revelar cenas que registra com a câmera do celular. São cenas que “me capturam, me sequestram”, comenta Cardoso. Para finalizar, o artista sobrepõe uma placa fina de acrílico transparente, colorido ou não, sobre a tela a óleo, que remete à velatura (leve camada de tinta aplicada sobre a pintura, deixando transparecer a tinta que está por baixo). Essa camada confere uma luminosidade singular aos trabalhos.
O ato de subtrair tinta da tela para formar imagens aproxima essa série, iniciada em 2014, do processo escultórico, como se o material bruto estivesse sendo esculpido para fazer surgir a figuração. Daí o título da mostra, Quase pinturas. Para o curador Agnaldo Farias, Cardoso consegue “entrelaçar ações meticulosas e atentas com o acaso”.
Atividades
A exposição conta com uma série de atividades gratuitas. Na abertura, sábado, 27 de maio, às 16h, acontece uma visita guiada com Agnaldo Farias. No mesmo dia, às 17h30, Fabio Cardoso participa do debate Aspectos da pintura contemporânea com os artistas Afonso Tostes e Carlos Vergara, sob a mediação do curador. As inscrições para o debate devem ser feitas pelo e-mail contato@automatica.art.br.
No dia 30 de maio, terça-feira, a partir das 17h30, é a vez do próprio Fabio Cardoso guiar o público em uma visita à exposição. O artista realizará, ainda, uma nova visita guiada no dia 17 de junho, sábado, também às 17h30, quando será lançado o catálogo da mostra, que também será distribuído gratuitamente aos visitantes.
Fabio Cardoso (São Paulo, 1958) trabalha com pintura a óleo desde 1981, quando se uniu à Cooperativa de Artistas Plásticos de São Paulo, ao lado de Baravelli, Regina Silveira, Julio Plaza, Carlos Fajardo e outros. Desde os anos 1980, expõe regularmente em galerias no Rio e em São Paulo, como a Paulo Figueiredo, Subdistrito, André Milan, Nara Roesler e Lurixs; em diversas instituições, como MAM Rio, Funarte Rio, Palazzo Prettorio de Veneza, Galerie Debret de Paris; e importantes eventos de arte, a exemplo da Bienal de Monterrey (México), da Bienal Internacional de São Paulo, entre outros.
maio 22, 2017
Yes! Nós Temos Biquíni no CCBB, Rio de Janeiro
Exposição no CCBB Rio celebra a evolução da moda praia e seu papel no empoderamento feminino
A revolução causada por umas das peças mais icônicas do vestuário feminino é o tema da exposição Yes! Nós Temos Biquíni, que o Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (CCBB Rio) abre dia 15 de maio. A mostra comemora os 70 anos do traje que transformou o comportamento da mulher e acompanhou mudanças de paradigma, conquistas, libertações e liberalidades – tudo com um olhar bem brasileiro. “O biquíni revolucionou o mundo, mas o Brasil revolucionou o biquíni”, afirma a curadora Lilian Pacce.
A mostra reúne cerca de 120 obras, entre looks icônicos e históricos de moda praia, fotografias, pinturas, esculturas, vídeos, ilustrações, instalações, artefatos históricos e amplo material iconográfico. Performances, debates e um ciclo de cinema também fazem parte da programação da exposição, que ocupará o 2º andar do Centro Cultural até 10 de julho. A exposição é patrocinada pelo Banco do Brasil.
“A moda, para além de seu propósito inicial que é vestir o corpo, sempre esteve relacionada a questões sociais, culturais, políticas e econômicas. Esta exposição traz uma diversidade, que sempre buscamos para a programação do CCBB e apresenta um diálogo entre o elemento de maior representação brasileira na moda mundial com obras de arte contemporâneas que desafiam o visitante a interpretar essas associações”, comenta o gerente-geral do CCBB Rio, Fabio Cunha.
O percurso começa com uma explicação sobre a criação do engenheiro francês Louis Réard, que ousou diminuir a calcinha de cintura alta e revelar o umbigo da mulher – símbolo do vínculo e da ruptura entre duas vidas, zona erógena, centro do corpo humano e do mundo, como se percebe na obra Um.Bigo, de Lia Chaia. Réard queria que sua ideia fosse tão explosiva quanto os primeiros testes nucleares no atol de Bikini – daí surge o nome da peça. Ilustrando modas, modismo e rupturas, uma linha do tempo mostra a evolução do traje de banho, com peças originais desde o século 19 até hoje, looks que sintetizam a imagem de cada década assim como as mulheres que fizeram a fama do biquíni ao longo da história.
Na sala seguinte, o visitante descobre que historicamente, apesar de ser uma criação francesa, o crédito pela invenção do biquíni poderia caber aos índios brasileiros e sua forma de cobrir o corpo. Tangas marajoaras datadas do período pré-colombiano, cedidas pelo Museu de Arqueologia e Etnologia – USP, mostram que os trajes já eram usados por aqui muito antes do descobrimento, mas não eram percebidos como “roupa” sob o prisma da moral dos colonizadores portugueses. A sala se completa com obras de artistas nascidos em outros países, mas que escolheram o Brasil para viver, como Claudia Andujar, John Graz e Maureen Bisilliat, que representam o encantamento dos estrangeiros com nossa cultura, e também biquínis inspirados na cultura indígena.
Temas fundamentais nos dias atuais, o empoderamento feminino e questões ligadas aos padrões de beleza impostos pela sociedade fazem parte do debate proposto pela exposição. A reflexão sobre o corpo e a praia acontece na próxima sala por meio do diálogo das obras de Marcela Tiboni, Claudio Edinger e Elen Braga com criações dos estilistas Amir Slama, Isabela Frugiuele (Triya) e Adriana Degreas, além da escultura de Tiago Carneiro da Cunha. Já a relação entre moda e arte é tratada pela inspiração mútua e parcerias inusitadas – Beatriz Milhazes, Glauco Rodrigues e Jorge Fonseca para Blue Man, J. Carlos para Salinas, Gonçalo Ivo e J. Borges para Amir Slama, Maria Martins para Adriana Degreas. No centro da sala, em destaque, Stripencores, obra de Nelson Leirner de 1967 que ganha um quinto elemento criado especialmente para a mostra.
A praia como território geográfico, social e até virtual surge em cenas do dia a dia nas imagens captadas pelas lentes de Alair Gomes, Cartiê Bressão, Fernando Schlaepfer, Frâncio de Holanda, German Lorca, Julio Bittencourt, Otto Stupakoff, Pierre Verger, Rochelle Costi, Thomaz Farkas e Willy Biondani, além de vídeo de Janaína Tschape e de escultura de Eder Santos. Como contraponto, o trabalho elaborado por nomes que ajudaram a criar a identidade da moda praia brasileira (e projetá-la mundialmente) surge em imagens icônicas: Dalma Callado em foto que alavancou sua carreira internacional nos anos 1970, feita por Luiz Tripolli, e Gisele Bündchen clicada por Jacques Dequeker no início dos anos 2000, já famosa – e ainda Antonio Guerreiro, Bob Wolfenson, Claudia Guimarães, Daniel Klajmic, Klaus Mitteldorf, Marcelo Krasilic, Miro e Vavá Ribeiro.
Mas muito antes dos editoriais de moda, era o ilustrador e figurinista Alceu Penna quem “ditava” tendências na extinta revista “O Cruzeiro” com “As Garotas do Alceu”, verdadeiras it girls da época. A praia é vista também pelo traço das ilustrações de Carla Caffé, Filipe Jardim e Paulo von Poser. A sala traz ainda uma videoinstalação com grandes momentos da moda praia nas semanas de moda no Brasil, e uma série de manequins com biquínis e maiôs de caráter excepcional, seja pela construção, modelagem, material ou pela criatividade em si – prova de que o biquíni é a peça mais brasileira de todas.
Na última sala, o visitante é convidado a compartilhar experiências de praia, diante das obras de Cássio Vasconcellos, Katia Maciel e Leda Catunda – e da pergunta que fica: qual é a sua praia? “A força de uma peça tão pequena como o biquíni brasileiro, basicamente quatro triângulos de tecido, está diretamente ligada ao emporaderamento feminino ao longo do último século e vai muito além da praia em si. A exposição pretende mostrar essas interfaces, seu impacto nas conquistas da mulher e o lifestyle criado em torno dele”, diz a curadora Lilian Pacce, autora do livro O Biquíni Made in Brazil.
A cenografia é assinada por Pier Balestrieri, com comunicação visual de Kiko Farkas, consultoria de arte contemporânea de Sandra Tucci, coordenação geral e produção executiva da Com Tato Agência Sociocriativa.
Véio na Gustavo Rebello, Rio de Janeiro
Artista sergipano Véio mostra esculturas na Gustavo Rebello Arte
O sergipano Cícero Alves dos Santos, conhecido no mundo das artes como Véio, mostra suas esculturas talhadas em troncos, galhos e raízes, entre 25 de abril e 26 de maio, na Gustavo Rebello Arte, em Copacabana, nessa que é a sua primeira individual no Rio de Janeiro - De Surpresa no Mundo. O trabalho deste artista combina aspectos da tradição popular - como a escultura em madeira, o aproveitamento das figuras sugeridas por troncos e galhos e o uso de ferramentas rudimentares - com cores intensas, muito mais próximas das cores industriais que dos matizes da natureza.
Essa estridência algo pop é intensificada por uma imaginação formidável, que nos faz ver em suas madeiras figuras híbridas, que compartilham traços dos bichos que conhecemos com os androides e transformers de filmes e desenhos animados. Com um simples canivete, Cícero esculpe formas diminutas em tamanho, mas com uma figuração enigmática, que lhes restitui a força reduzida pela escala.
Cícero Alves dos Santos vive nos arredores de Nossa Senhora da Glória, uma importante cidade do sertão de Sergipe, com aproximadamente 50 mil habitantes e uma feira de renome no Estado. A convivência com um ambiente tão ambíguo e dinâmico certamente instigou ainda mais o talento desse sertanejo incomum, que fez da preservação da memória de sua gente a razão de sua existência, mostrando um mundo rural que vai desaparecendo. Trabalho este que já foi exibido em Londres, em individual na Seeds Gallery, e já participou de coletiva na Fundação Cartier, em Paris.
"Quando a Vilma Eid, da Galeria Estação, sondou-me a respeito de uma mostra do trabalho do Véio, minha resposta afirmativa foi imediata. A obra do artista sempre me fascinou,pois dialoga com as questões da arte brasileira atual, não fica restrito ao rótulo de arte ingênua e popular, transcende”, analisa o galerista, Gustavo Rebello.
“O que chama logo a atenção é o modo livre e franco como essa fauna imaginária chega ao real. Quase sempre em movimento, mais ou menos como um bicho sai do mato e, de repente, surge à nossa frente. Não sei, sinceramente, se Véio conhece Picasso e Miró. Em todo caso, eles o conhecem, rondam o seu imaginário, participam de seu processo de produção. A divertida economia de meios, a espontaneidade com que vêm a ser, certo tônus vital descontraído, talvez as deixem mais à vontade sob a rubrica do Pitoresco”, analisa o curador da exposição, Ronaldo Brito.
Véio é como um repentista ágil, a improvisar com as madeiras nativas de seu habitat agreste, acompanhando ou contrariando as rimas de sua morfologia, e delas tirar efeitos inesperados. Alguma peças se me afiguram quase ready-mades do sertão – duas ou três manobras inspiradas bastam ao artista para transformar os galhos secos de uma árvore morta num bicho ligeiro de escultura.
“A nenhum texto crítico, ainda que curto e despretensioso, seria perdoável calar-se diante do pequeno escândalo que representa a cor na escultura de Véio. E não apenas porque se mostram cores abertas, sem nuances ou matizes, extrovertidas e vibrantes, aptas a competir com a luz brutal do sertão. Mesmo o seu negro parece suscetível de brilhar no escuro. O importante é que atuam de maneira substantiva na definição do corpo da escultura, caracterizam a sua personalidade. Intuitivamente, Véio faria um uso topológico da cor. Elas promovem a interação entre as partes das peças de modo a torná-las um Todo descontínuo moderno. As esculturas não se resumem a simples figuras projetadas contra um fundo neutro. Elas reagem a seu entorno, acontecem no mundo”, analisa o curador da exposição, Ronaldo Brito.
EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS SELECIONADAS
2016 – Véio, SEEDS Gallery, Londres - Inglaterra
2015 - Desdobramentos, SESC Santo Amaro, São Paulo | SP - Brasil
2015 - Becoming Marni, paralela 56º Bienal de Veneza, na Abadia de São Gregório, Veneza - Itália
2014 – Cicero Alves dos Santos – Véio | Esculturas Galeria Estação, São Paulo | SP - Brasil
2010 – Véio | Esculturas MAP – Museu de Arte Popular, Diadema | SP – Brasil
2006 – Nação lascada: arte e metáfora de Véio Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular Museu Edison Carneiro, Rio de Janeiro | RJ – Brasil
2003 – As coisas que nós possuímos Espaço Cultural da Assembléia Legislativa, Aracajú | SE - Brasil
1999 – A arte e o conhecimento Espaço Cultural da Assembléia Legislativa de Sergipe , Aracajú | SE - Brasil
1991 – Nordeste Centro de Cultura Tancredo Neves, Belo Horizonte | MG - Brasil
1986 – Véio e Sergipe Centro de Convenções de Natal, Natal| RN - Brasil
EXPOSIÇÕES COLETIVAS SELECIONADAS
2015 - Uma coleção particular - Arte contemporânea no acervo da Pinacoteca, Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo - Brasil
2015 - 10ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre | RS - Brasil
2014 – Frestas Trienal de Arte Sesc Sorocaba, Sorocaba | SP - Brasil
2014 - Tatu: Futebol, Adversidade e Cultura da Caatinga Museu de Arte do Rio – Mar,Rio de Janeiro | RJ - Brasil
2014 - Quase figura, quase forma Galeria Estação , São Paulo | SP – Brasil
2014 - Vivid Memories Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris – França
2013 – Mundos Cruzados: ARTE E IMAGINÁRIO POPULAR, MAM, Rio de Janeiro |RJ
2012 – Histoires de Voir Fondation Cartier pour l’art contemporain, Paris - França
2012 – Teimosia da Imaginação – dez artistas brasileiros Paço Imperial, Rio de Janeiro | RJ - Brasil
2012 – Teimosia da Imaginação – dez artistas brasileiros Instituto Tomie Ohtake, São Paulo | SP - Brasil
2010 – Arte brasileira além do sistema Galeria Estação, São Paulo | SP - Brasil
2009 – Vozes do Imaginário Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular – Museu Edison Carneiro, Rio de Janeiro | RJ - Brasil
2001 – Tudo junto Galeria Pé de Boi, Rio de Janeiro | RJ - Brasil
COLEÇÕES PÚBLICAS / INSTITUCIONAIS
Fondation Cartier pour lárt contemporain, Paris – França
Pavilhão das Culturas Brasileiras, São Paulo | SP – Brasil
Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo | SP – Brasil
MAR - Rio de Janeiro | RJ - Brasil
MAM – Rio de Janeiro |RJ – Brasil
Museu AfroBrasil , São Paulo | SP - Brasil
SESC –Belenzinho, São Paulo | SP – Brasil
SESC –Santo Amaro, São Paulo | SP - Brasil
maio 17, 2017
Dirnei Prates na Gestual, Porto Alegre
A Galeria Gestual tem o prazer de apresentar Até Onde Vai o Extenso, exposição que reúne a última produção em fotografia e vídeo de Dirnei Prates, e que terá montagem em capítulos independentes, mas conjuntos. O texto crítico é de Paula Ramos, historiadora e crítica de arte, professora do Instituto de Artes da UFRGS.
Dirnei fala um pouco sobre eles:
Invisível
Nestas fotografias preto e branco, o foco são as paisagens silenciosas e bucólicas que procuram aglutinar a ideia de dois tempos convivendo: as montanhas ao longe, como algo permanente e sólido; e as plantas, com seus ciclos de transição, ornamentando o primeiro plano. O título remete à minha impossibilidade de ver perfeitamente a paisagem fotografada, por conta do uso de um filtro infravermelho que escurece completamente a visão da lente, e também por uma certa incapacidade de vivenciar a completa experiência daquela situação e lugar.
assim por diante I from Cine Água on Vimeo.
Assim por diante I
Neste vídeo feito em plano sequência, o cume de um morro coberto de vegetação é atravessado pelo lento desfile de nuvens e pela fina garoa que, através de um ciclo aleatório, transforma esporadicamente a paisagem dura e previsível. A imagem foi registrada no ano de 2005, em fita VHS, transposta e editada para o meio digital em 2016, mantendo sua baixa definição e ruído de imagem, próprios do formato original.
assim por diante II from Cine Água on Vimeo.
Assim por diante II
Do alto de um galho de árvore, um pássaro se equilibra perante a ação do vento. Sua resistência é constantemente testada, até o momento em que sai da cena, dando lugar a outro pássaro que recomeça o ciclo. A imagem foi registrada no ano de 2006, em fita VHS, transposta e editada para o meio digital em 2016, mantendo sua baixa definição de imagem.
Vento
Utilizando um filme instantâneo, registrei morros, plantas e a paisagem que me circundava durante minhas deambulações. Posteriormente justapus estes registros, com a intenção de criar uma paisagem crível, formada por fragmentos de lugares diferentes. O filme utilizado neste ensaio, por questões de fabricação, oferece um processo de revelação e de fixação instáveis, fazendo com que este registro apresente um lento, porém perceptível, sinal de envelhecimento, até um possível completo desaparecimento. Associo este permanente estado de latência do filme, aos ciclos naturais dos seres vivos, tentando criar assim, uma pequena metáfora do que nos é inerente e inevitável.
Antilogias: o fotográfico na Pinacoteca, São Paulo
‘Antilogias: O fotográfico na Pinacoteca’ reúne cerca de 250 trabalhos que revelam aspectos do acervo de imagens do museu em diálogo com artistas convidados
A partir de 20 de maio, a Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, inaugura a exposição Antilogias: O fotográfico na Pinacoteca. A curadoria é de Mariano Klautau Filho com a participação de Pedro Nery, curador adjunto. Patrocinada pelo Banco Haitong no Brasil, a mostra, que reúne cerca de 250 obras de 60 artistas, tem como eixo o acervo da Pinacoteca e pretende discutir o meio fotográfico para composição e produção de imagens e objetos, em suas diversas possibilidades, narrativas e suportes.
“A intenção é colocar em diálogo obras que, de um lado, possam contar alguns percursos da história do acervo fotográfico e o seu desenvolvimento, e de outro, propor uma abordagem sem cronologias sobre a produção contemporânea apoiada na relação entre as poéticas”, explica Klautau.
Além das obras do acervo da Pinacoteca, compõem a mostra trabalhos de artistas do Rio Grande do Sul, Pernambuco, Pará e São Paulo, convidados pelo curador. “São artistas de diversas gerações que reunidos na exposição ampliam as questões apresentadas pelo próprio acervo da instituição, o que torna a mostra um exercício de leitura sobre a coleção fotográfica da Pinacoteca”, completa Klautau.
A Pinacoteca de São Paulo prevê para o fim de julho a publicação de um catálogo bilíngue (português/inglês) com vistas da exposição e textos do Mariano Klautau, Pedro Nery e do Núcleo de Acervo Museológico. Antilogias: O fotográfico na Pinacoteca permanece em cartaz até 7 de agosto de 2017.
Mariano Klautau Filho, Artista, pesquisador em arte e fotografia e curador independente. Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP e Doutor em Artes Visuais pela ECA/USP. Professor do Programa de Pós-Graduação “Comunicação, Linguagens e Cultura” da Universidade da Amazônia em Belém. Curador do “Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia”. Possui obras nos acervos do Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Fotografia da Cidade de Curitiba, Coleção Joaquim Paiva – RJ, Coleção Pirelli/MASP – SP, Museu do Estado do Pará – Belém e MAR – Museu de Arte do Rio – RJ.
Flavia Ribeiro na Marcelo Guarnieri, São Paulo
Suponhamos que inicialmente não seja desenho. Desinvestido de sua função de projeto, o desenho existe apenas como um segundo encontro, uma forma de entender, no plano, aquilo que já foi modelado no espaço. Uma espécie de tradução. É assim que surgem, no papel, tipos diversos de algo parecido a estruturas empilhadas, que podiam bem ser esqueletos de cadeiras ou mesas sem tampo. Embora sustentadas por pernas finíssimas e desajeitadas, parecem robustas, e talvez por essa ambiguidade, nos deixem confusos sobre o seu tempo de vida: seriam ainda esqueletos, em processo de fortalecimento para um dia suportar a carne, ou seriam já esqueletos, pura carcaça? Não ocupam sozinhos o espaço do papel, dividem o plano com campos de cor que podem vir em amarelo ou cinza, delimitados pela forma assertiva de um retângulo. Talvez seja da cor que se trata a carne. Na segunda dimensão, é ela quem tenta preencher o vazio dos corpos-esqueletos construídos pela artista.
Suponhamos, então, que inicialmente seja o espaço. Testar peso, tamanho, equilíbrio e textura. Tocar, moldar e fundir para descobrir do que se trata. Mexer nas coisas e fazer parte delas, doar um pedaço do próprio corpo por meio do gesto. Ribeiro precisa trazê-las para a terceira dimensão, transformá-las, enfim, em coisas: coisas que pesam, imóveis sobre o chão ou pendentes no ar. Pesam também no tempo, quando fundidas em bronze, matéria que carrega o valor da história e o símbolo da eternidade. O bronze, aqui, dá corpo à estruturas tortas, aparentemente frágeis, mas que, evidentemente, jamais quebrarão; petrifica um galho de árvore, eximindo da matéria-orgânica seu desejo maior: a vida.
Aliás, não seria a própria experiência da vida uma questão no trabalho de Flávia Ribeiro? Bem distante da abordagem literal ou religiosa, Ribeiro nos permite refletir sobre ela a partir de noções como movimento e transformação. Seus objetos parecem estar sempre em trânsito, pulando da terceira para a segunda dimensão, ou da segunda para a terceira; assumem múltiplas formas de existência, sendo papelão e parafina para logo então ser bronze, ou ser guache para depois ser veludo; podem articular-se em módulos como peças soltas, o que lhes permite infinitas combinações; também podem ser pendentes a partir de pontos de apoio fixados na parede, atestando a força da gravidade que rege e organiza nossa forma de vida neste planeta; constroem-se a partir do desejo constante de cercar espaços cheios de vazios, reivindicando seu direito de existência entre o tudo e o nada; evidenciam, enfim, em suas superfícies, o vigor do gesto de uma mão inquieta, seja no traço do lápis, seja na modelagem da parafina. Assim, somos instigados a acompanhá-los, caminhando pra lá e pra cá de modo a alcançá-los, curvando a coluna ou esticando o pescoço, sentindo no corpo e na alma o efeito de suas variadas texturas, dimensões e atmosferas; aliviados quando diante das superfícies lisíssimas do gesso ou sufocados pelo preto absoluto de uma manta de feltro muito grossa. A relação que estabelecemos com os trabalhos de Flávia Ribeiro, aliás, não precisa ser mediada pelas palavras, afinal, ninguém precisa nos dizer que estamos vivos: podemos sentir.
Flávia Ribeiro apresenta nesta mostra, trabalhos, em grande parte desenhos e esculturas, produzidos entre 2014 e 2017. Apesar de se apresentarem visualmente distintos entre si, todos eles são parte integrante de um mesmo conjunto de interesses de Ribeiro, que passam pelas questões da matéria, do corpo e da linguagem, e embora sejam pensados como peças individuais, possuem uma forte relação de irmandade tanto no processo de produção, quanto na montagem da exposição. Entre objeto e ser é a primeira de mais duas mostras individuais de Flávia Ribeiro que serão apresentadas nas unidades do Rio de Janeiro e de Ribeirão Preto da Galeria Marcelo Guarnieri.
A exposição Flávia Ribeiro - Entre objeto e ser poderá ser vista de 20 de Maio, até o dia 1º de Julho na Galeria Marcelo Guarnieri de São Paulo.
Flávia Ribeiro nasceu em São Paulo em 1954, onde vive e trabalha.
Frequentou a Escola Brasil, no início dos anos 1970, onde foi aluna de Carlos Fajardo, José Resende, Frederico Nasser e Luiz Paulo Baravelli. Em 1978, mudou-se para Londres, onde frequentou o curso de gravura na Slade School of Fine Art. Posteriormente, em 1996, voltou a morar em Londres com o apoio da Fundação Vitae e do British Council.
Sua obra contempla diversas pesquisas no campo da escultura, gravura e livros de artista, além de ter o desenho como fundamental instrumento em seu processo de trabalho. Para Ribeiro o desenho é uma ferramenta do pensamento, um primeiro encontro com novos interesses e novas questões. Através do desenho, realizado de forma obsessiva, a artista vai afirmando e aprofundando as questões que lhe interessam.
Em suas esculturas, a artista trata das possibilidades plásticas e simbólicas da matéria. O bronze, o estanho, a cera, o ouro, gesso ou veludo surgem no trabalho da artista quase sempre em situações de contraste, quando, por exemplo, uma organza fina e translúcida repousa sobre uma superfície lisa de gesso ao mesmo tempo em que sustenta objetos de bronze densos e negros ou ainda banhados a ouro, revelando ao observador o vigor das qualidades de cada objeto e potencializando seu apelo tátil. O corpo transfere uma parte de si às peças no momento em que são criados e é também convocado quando elas são expostas. Há uma espécie de dinâmica dos encontros que se faz pelo sensorial em suas esculturas, desenhos e livros de artista.
Principais exposições individuais: Mecânica, Projeto Parede, MAM, São Paulo, Brasil; Atravessamentos, Galeria Millan, São Paulo , Brasil; Gabinete de Leitura, Galeria vermelho, São Paulo, Brasil; Reliquiae Rerum, Capela do Morumbi, São Paulo, Brasil.
Principais exposições coletivas: O espírito de cada época, IFF - Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil; Ouro, CBBB - Centro Cultural Banco do BRasil, Rio de Janeiro, BRasil; 18° FEstival de Arte Contemporânea SESC_Videobrasil, SESC Pompéia, São Paulo, Brasil; GRavura Extrema, Centre de la Gravure et de L’Image Imprimé, Bélgica; Entre/Aberto, XI Bienal Internacional de Cuenca, Equador; Gabinete de Desenho, Museu de Arte Moderna, São Paulo e Galeria Mirante, Caixa Cultural, Salvador, Brasil;Modernos, Pós Modernos, Etc, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil ; Novas Aquisições, Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Recife, Brasil; Calming the Clouds, The Foundation 3.14, Bergen, Noruega; Arte Cidade III, Indústrias Matarazzo, São Paulo, Brasil; V International Istambul Biennial, Imperial Mint, Istambul, Turquia; A Little Object, Centre for Freudian Analysis and Research, Londres, Inglaterra; XX e XXIII Bienal Internacional de São Paulo, São Paulo, Brasil.
Coleções que possuem seus trabalhos: Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil; Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, Brasil; Coleção do Itamaraty, Brasília, Brasil; Museu de Arte Moderna, São Paulo, Brasil; Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, Recife, Brasil; CACI, Centro de Arte Contemporânea Inhotim, Brumadinho, Minas Gerais, Brasil; Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil.
Ateliê Editorial lança Joyce Era Louco?, novo livro de Donaldo Schüler
Tradutor premiado de James Joyce no Brasil e especialista em clássicos gregos, Schüler aborda questões universais à luz da literatura, psicanálise e filosofia
O psicanalista Jacques Lacan declarou certa vez que Finnegans Wake, última obra de James Joyce, reflete sintomas de mania. A partir dessa e de outras teorias, o escritor Donaldo Schüler, professor e tradutor brasileiro, realiza uma análise da escrita de Joyce e leva os leitores a visitarem as significações que ela sustenta, em temas como vitalidade, efemeridade, agressividade, paradoxos, mitos e sonhos, utilizando recursos de uma bagagem intelectual acumulada em mais de meio século de atuação, no livro Joyce Era Louco?, que será lançado pela Ateliê Editorial no dia 20 de maio, às 11h30, na Galeria Bolsa de Arte, em São Paulo (SP).
O evento acontecerá simultaneamente à abertura da exposição Recortar Copiar Colar, primeira mostra individual da artista plástica Elida Tessler, com trabalhos que propõem realizar uma leitura menos passiva das obras literárias. Instalações, fotografias e leituras revisitam os 15 anos de trajetória de Tessler, dialogando com escritores como Euclides da Cunha, Franz Kafka, Haroldo de Campos, Manoel Ricardo de Lima, Marcel Proust, Orhan Pamuk e Virginia Woolf.
Schüler e Tessler são interlocutores de longa data. Textualidade e visualidade se encontram em suas propostas, possibilitando dimensionar narrativas oníricas como em Finnegans Wake, considerada uma prosa equivalente ao que os cubistas executaram em tela. Artes plásticas, cultura grega e psicanálise são elementos presentes no livro de Schüler que ajudam nessa tarefa. O autor conta que a ideia de escrever a obra surgiu, primeiro, com a tradução de Ulisses feita por Antônio Houaiss: “Como professor de grego, levei meus alunos a saltar do mundo de Homero para a turbulenta Dublin de princípios do século XX, sacudida pela rebeldia das vanguardas”.
A isso juntaram-se as lições de Lacan, publicadas em 2005, sob o título “Le Séminaire, livre XXIII”, apresentando análises do psicanalista sobre a obra de Joyce. “Solicitações contínuas para destrinchar o enredado texto de Lacan levaram-me a escrever Joyce Era Louco?, revela. “A loucura é preocupação constante de poetas, escritores e teóricos desde Homero. Psiquiatras ocupam-se com a loucura desde princípios do século XIX. A loucura mereceu a atenção de psicanalistas desde os primeiros anos do século XX. Já que psicanalistas examinam textos literários, a teoria psicanalítica não pode ser ignorada por teóricos da literatura. Meu objetivo é participar da discussão para compreender melhor a invenção literária”, conclui o autor.
Donaldo Schüler é professor, Doutor em Letras e livre-docente pela UFRGS e pela PUC-RS. Tradutor consagrado de James Joyce, Platão, Ésquilo, entre outros escritores, foi laureado com o Prêmio Jabuti por Finnegans Wake em 2004, obra também vencedora de melhor tradução pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) no ano anterior. É autor de mais de vinte livros, entre ficção e não-ficção, entre eles, "Origens do discurso democrático" (L&PM), literatura infantil, como "O astronauta" (L&PM), e poesia, "Martim Fera" (Movimento), além de traduções do grego, incluindo "Antígona", de Sófocles, "Odisseia", de Homero, e "O Banquete", de Platão (L&PM).
Elida Tessler é artista plástica e foi professora do Departamento de Artes Visuais e do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS até 2016. Realizou doutorado em História da Arte Contemporânea na Université de Paris I - Panthéon-Sorbonne (França), onde residiu de 1988 a 1993. Entre 2009 e 2010, realizou o Pós-Doutorado na EHESS-Ecole des Hautes Etudes em Sciences Sociales e junto ao Centro de Filosofia da Arte - UFR de Philosophie - Université de Paris I- Panthéon – Sorbonne. Como pesquisadora, desenvolveu sua pesquisa em torno das questões que envolvem arte e literatura, relacionando a palavra escrita à imagem visual.
Elida Tessler na Bolsa de Arte, São Paulo
Em sua primeira individual no espaço paulistano da galeria, a artista relê trabalhos marcantes de seus últimos 15 anos de trajetória, frutos de diálogos com obras literárias de escritores como Euclides da Cunha, Franz Kafka, Haroldo de Campos, Manoel Ricardo de Lima, Marcel Proust, Orhan Pamuk e Virginia Woolf
No mesmo dia, o escritor e tradutor Donaldo Schüler lança o livro “Joyce era Louco?”no espaço da Galeria, a partir das 11h30
A relação de Elida Tessler com a palavra data de muitos anos. Seus trabalhos sempre se propuseram a lançar um novo olhar sobre objetos do cotidiano e, também, a realizar uma leitura menos passiva das diversas camadas de texto que permeiam tanto as obras literárias quanto nossas vidas. Nos últimos quinze anos, contudo, seus livros de artista, objetos e instalações vêm dialogando de forma ainda mais intensa com obras literárias, tanto no conteúdo, quanto na palavra como imagem. São cerca de 15 as obras desse período que a artista revisita e relê, resultando em novas edições e conversas entre as obras, a partir do dia 20 de maio na galeria Bolsa de Arte (Mourato Coelho, 790). Não por acaso, a mostra é intitulada Recortar copiar colar.
Em suas criações, Elida implode as fronteiras construídas entre gêneros artísticos e discursos estéticos, fazendo até mesmo a materialidade do papel conversar com o espectador ao constituir as obras. Esse procedimento pode ser observado em muitos dos trabalhos presentes na exposição, entre eles Desertões, composta de 1018 fotografias em lupas de nove centímetros de diâmetro cada. A obra nasceu de um exemplar do escritor e crítico literário Donaldo Schüler, que a presenteou com uma edição de 1938 do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha.
Schüler é escritor e tradutor de James Joyce, Platão, Ésquilo, entre outros escritores, e um importante interlocutor do trabalho de Elida desde antes dessa colaboração. Dele, a galeria recebe o lançamento do livro “Joyce era Louco?” no mesmo dia da abertura, a partir das 11h30. No livro, Donaldo Schüler parte dos ensinamentos de Lacan e de teorias psicanalíticas para realizar uma análise da escrita de Joyce e das significações que ela sustenta. Artes plásticas, cultura grega e psicanálise são elementos presentes no livro que ajudam nessa tarefa. “O que levou Joyce a escrever?”, pergunta, a certa altura do livro. “As invenções delirantes de Joyce libertam, projetam voos inesperados”, diz na obra.“Muito do meu lado leitor vem do Donaldo. Ele é um dos grandes motivadores do meu diálogo com a literatura”, afirma a artista.
O livro Os Sertões, nessa versão de Desertões, é apresentado em uma vitrine que contém dois exemplares, sendo um deles pertencente à biblioteca de João de Souza Machado, proprietário do sebo “Garagem do Livro”, em Porto Alegre. É de láque veio a enciclopédia presente em outra obra da artista, IST ORBITA (2011), concebida especialmente para a 8ª Bienal do Mercosul. Dessa forma, Elida propõe uma conversa entre duas bibliotecas distintas e, também, cria camadas de leitura entre suas criações. Schüler, que já escreveu sobre o trabalho da artista, a define como uma “antiPenélope”, “aquela que rasura com paixão”.“No palimpsesto, o texto escondido vale por vezes mais do que a última versão. A leitores atentos não escapam textos escondidos; conseguem provocar o diálogo do texto oferecido à vista com os textos rasurados”, observa, em texto publicado no catálogo da exposição Gramática Intuitiva, que aconteceu em 2013 na Fundação Iberê Camargo.
A atribuição de sentidos renovados a partir de novas leituras também é o que se vê em Galáxias. Composta de 474 pratos de louça branca com uma palavra impressa em seu centro, esta obra é uma reedição de Horizonte Provável, apresentada em 2004 na varanda do MAC Niterói. Se na edição anterior do trabalho os pratos com inscrições de 585 verbos no infinitivo retirados do livro “A Arte no Horizonte do Provável”, de Haroldo de Campos, ficavam dispostos no espaço circular de janelas do museu, incorporando a paisagem da Baía de Guanabara, desta vez eles se dispõem em uma constelação branca que ocupa a fachada cinza-escura do pátio da galeria. Outros verbos ficam dispostos empilhados, em potência – como falas inacabadas, nome de uma obra e conceito presente em toda a poética da artista. Essa via láctea vertical de verbos serigrafados em superfícies redondas brancas conversam, por sua vez, com a obra mais radical de Haroldo de Campos, Galáxias.
Para o poeta e crítico Adolfo Montejo Navas, no texto “Ímã-imagético”, Elida Tessler promove uma “intersemiose entre as linguagens verbais e imagéticas até o ponto de se confundirem”. Ele ressalta “o ouvido fino da artista” para a “escuta de ressonâncias visuais nas próprias coisas”, fazendo com que ela produza poesia visual. E completa: “Como parte de uma estratégia espiritual, as suas partituras sígnico-objetuais mostram um amplo registro dês-construtivo correndo sempre paralelo a uma condição humanista e em curso, que quer outra galáxia de sentidos.”
Para a artista, não há separação entre visualidade e textualidade. Pelo contrário, essas imbricações ajudam-na a se movimentar no espaço mental, a se deslocar em tempos históricos diferentes, a permutar pontos de vista. “A experiência visual da leitura também se incorpora ao projeto final. A intimidade acontece, creio, quando me permito adentrar o texto a partir de uma sugestão do autor, com uma proposição que nasce de dentro da narrativa”.
Kafka, Virgínia Woolf, Orhan Pamuk e Marcel Proust são alguns dos outros escritores cujas criações foram adentradas pela artista. No livro A la recherche Du Temps Perdu (Em Busca do Tempo Perdido), de Proust, por exemplo, Elida transforma espaço em tempo (e vice-versa) ao intervir com um carimbo nas páginas da edição francesa da obra, utilizando o mesmo símbolo do sistema de transporte urbano parisiense (RATP) dos mapas da cidade. Sobre todas as palavras tempo (temps), a artista carimba a frase “Vous Êtes Ici” (Você Está Aqui).
Três trabalhos têm ainda origem em um mesmo objeto do cotidiano: a máquina de escrever. Em Carta ao pai (2015), trabalho com mesmo nome do livro de Kafka, 617 peças de máquina datilográfica ficam dispostas sobre uma mesa de ferro de quase três metros de comprimento, na cor branca. Já em Desmáquina, 4200 fotografias do processo de desmanche de uma máquina de escrever colocadas em animação em looping realizada pelo artista Eduardo Montelli mostram uma máquina de escrever desfeita. E pares das letras da máquina de escrever estão ainda na obra O Tempo Passa, compondo os ponteiros de 22 relógios em caixa de acrílico transparente. O nome vem de um romance de Virginia Woolf.
Outras três obras são oriundas de um mesmo título literário como gatilho para a criação: o livro Meu Nome é Vermelho, de Orhan Pamuk, que se passa em um ateliê de caligrafia e iluminuras do século XVI. Dele, surgem os trabalhos Meu Nome Também É Vermelho (2009), Meu Nome Ainda É Vermelho (2010) e //(2010). No primeiro, a edição impressa da tradução brasileira sofre intervenções em tinta para caligrafia vermelha, feitas com cálamo de vidro italiano: todas as letras são riscadas com um traço vermelho, exceto as que designam coisas vermelhas, como rubi, sangue etc. No segundo, há cinco gravuras em metal (água tinta e água forte), com as quais foi confeccionado um livro que reproduz o capítulo 31 do romance de Pamuk, a partir do trabalho de 2009. Na terceira, a série de gravuras em metal apresentam somente os traços vermelhos, evocando um outro alfabeto.
Elida Tessler é artista plástica e foi professora do Departamento de Artes Visuais e do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS até 2016. Realizou doutorado em História da Arte Contemporânea na Université de Paris I - Panthéon-Sorbonne (França), onde residiu de 1988 a 1993. Entre 2009 e 2010, realizou o Pós-Doutorado na EHESS - Ecole des Hautes Etudes em Sciences Sociales e junto ao Centro de Filosofia da Arte - UFR de Philosophie - Université de Paris I- Panthéon – Sorbonne. Como pesquisadora, desenvolveu sua pesquisa em torno das questões que envolvem arte e literatura, relacionando a palavra escrita à imagem visual.
Foi fundadora em 1993 e coordenou até 2009, junto com Jailton Moreira, o Torreão, espaço de produção e pesquisa em arte contemporânea, em Porto Alegre. Manteve o grupo de pesquisa .p.a.r.t.e.s.c.r.i.t.a., onde articula produção e reflexão crítica a partir de textos de artistas e da presença da palavra em produções contemporâneas de arte.
Suas obras já foram expostas em mostras individuais e coletivas no Brasil. Individuais suas aconteceram em lugares como Pinacoteca do Estado e Centro Universitário Maria Antônia, em São Paulo, Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC-RJ), Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre eMuseu de Arte Moderna Aloisio Magalhães, em Recife (PE). Suas obras também foram expostas em mostras coletivas no Museu de Arte Contemporânea da USP, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-SP), no Museu de Arte Moderna de São Paulo, no Paço das Artes, no Sesc Pompeia (SP) e no Instituto Tomie Ohtake. Fora do país, realizou individuais na Austrália, no Chile, no México e em Paris e participou de coletivas em Madrid, Miami e Oslo. Há obras suas em importantes coleções, como a da Cisneros Fontanals Art Foundation (CIFO), do Museu de Arte Moderna de São Paulo, do 21cMuseum (Louisville, EUA) e da Pinacoteca do Estado de São Paulo.
maio 16, 2017
MAC no século XXI – A era dos artistas no MAC USP Ibirapuera, São Paulo
Exposição apresenta 106 obras realizadas a partir do ano 2000
O Museu de Arte Contemporânea da USP apresenta um conjunto expressivo de obras que entraram em seu acervo recentemente, doadas por galerias, pela iniciativa privada, através de leis de incentivo e, principalmente, pelos próprios artistas. MAC no século XXI - A era dos artistas mostra ao público, a partir do dia 20 de maio, às 11 horas, mais de 100 obras de artistas como Regina Silveira, João Loureiro, Luiz Braga, Iran do Espírito Santo, Sandra Cinto, Lucas Simões, Geórgia Kyriakakys, Hugo Curti, Felipe Cama, Albano Afonso, Julio Leite, Jonathas de Andrade, Deborah Paiva, Claudio Cretti, Andrea Brown, Vânia Mignone, Marepe e Paulo Whitaker, entre tantos outros.
A exposição completa o conjunto de mostras - ao lado de A Instauração do Moderno, Visões da Arte no Acervo do MAC USP 1900-2000 e Reserva em Obras - que o MAC USP organizou para permanecer em cartaz nos próximos cinco anos, colocando à disposição do público mais de 400 obras do acervo do Museu. Importante lembrar que um dos argumentos que levou o Museu a ocupar seu novo edifício no Ibirapuera foi justamente ter mais espaço para apresentar ao público uma parte maior de seu acervo.
Para organizar MAC no século XXI - A era dos artistas a curadoria escolheu evitar leituras fixas, levando em consideração a longa duração da exposição. “O partido escolhido, o da ocupação das obras no espaço respondendo a um percurso organizado pelo sobrenome do artista, tem o intuito de minimizar sentidos pré-estabelecidos de conexão ou evitar temas ou molduras teóricas prévias, para deixar que as obras adquiram o máximo de mobilidade conceitual”, diz Katia Canton, docente do MAC USP e curadora da exposição.
A exposição reflete o trabalho conjunto do curador com o artista, propondo uma curadoria quase invisível, que busca colocar o foco expositivo nas obras dos artistas. Não há prévias leituras ou percursos conceituais definidos. As obras se abrem para a exploração livre e às experiências de cada observador, que fará suas conexões e relações de identidade e alteridade, entre tantas conversas possíveis. “Trata-se de uma curadoria que assume a vontade de fazer emergir os significados polivalentes intrínsecos à obra de arte em suas relações com o outro e com os outros, em processos dinâmicos e incessantes. As conexões são fios móveis, que não param de passar”, conclui a curadora.
Beatriz Milhazes na Carpintaria, Rio de Janeiro
Beatriz Milhazes apresenta conjunto inédito de esculturas em mostra na Carpintaria
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Pintora por excelência, Beatriz Milhazes vem recentemente experimentando as potencialidades e desafios da escultura. O resultado desse processo, iniciado em 2010, pode ser visto na exposição Marola, Mariola e Marilola, a partir do dia 20 de maio, na Carpintaria, novo espaço da Fortes D’Aloia & Gabriel, no Rio de Janeiro.
São três grandes trabalhos tridimensionais, que apresentam forte sintonia com suas telas, gravuras e colagens, mas propõem novos e instigantes nexos perceptivos. Como se seus motivos característicos – como o círculo, a flor e o arabesco – tomassem conta do espaço e estabelecessem entre si um novo tipo de relação corporal, física, determinada também pelos intervalos entre elementos e pela posição do espectador. Dependendo do ângulo em que você observa a peça, forma-se um outro trabalho. É uma vivência concreta, em que o corpo da obra relaciona-se com o corpo do observador. “Esta possibilidade física é uma área de investigação que a pintura não oferece”, esclarece.
As três esculturas que dão título à mostra foram criadas ao longo de cinco anos de pesquisa – com a realização de diversas maquetes em tamanho natural – na Durham Press, estúdio na Pensilvânia (EUA) onde Beatriz desenvolve, desde 1996, sua produção gráfica, em paralelo a uma intensa agenda de trabalho e exposições. São peças grandes, com altura que varia entre 2,26 e 2,89 metros e que lidam com o espaço de diferentes maneiras, quer potencializando o corpo da obra (as circunvoluções de Marola criam um corpo mais denso no espaço, com largura e espessura quase equivalentes), quer servindo como divisor de campos, como no caso de Marilola, que tem menos de meio metro de espessura e funciona quase como uma cortina. Inéditas no Brasil, as três peças foram exibidas nas galerias que representam a artista em Nova York e Paris (James Cohan Gallery, NY, e Galerie Max Hetzler, Paris).
Os títulos, como costuma acontecer na produção de Milhazes, são interessantes chaves de leitura. Além de promoverem a conexão entre as obras, reafirmam a importância do ritmo, da sonoridade e da brasilidade em seu trabalho. A primeira e maior delas, que segundo ela ainda apresenta uma forte conexão com a ideia do móbile, remete ao ir e vir das ondas, à noção de movimento constante e sedutor.
Mariola, doce popular, também traz ecos da cultura vernacular que tanto alimenta a artista, enquanto Marilola brinca com a sonoridade, num jogo lúdico de palavras, num procedimento que se assemelha ao jogo espacial que ela cria a partir da associação de diferentes materiais e cores. Nas três peças, o conjunto é articulado a partir de um desenho em metal, que serve de suporte para os diferentes elementos. Há nessas composições uma lógica semelhante à da colagem, fortemente presente na pintura de Milhazes.
Tudo começou com um cenário feito por Beatriz para um espetáculo de dança de sua irmã, a coreógrafa Márcia Milhazes, em 2004. Ao criar uma espécie de lustre no centro do palco, ela foge pela primeira vez da ideia de painel que sempre havia regido seu trabalho cenográfico e coloca diante de si um desafio tridimensional que viria a se tornar cada vez mais agudo.
O primeiro resultado desse mergulho no espaço foi a série Gamboa (que esteve presente na mostra realizada há quatro anos no Paço Imperial), que para a artista ainda não pertenceriam ao campo escultórico. “Não considero queGamboa lide com o volume, com o espaço arquitetônico, físico”, diz. Outra diferença em relação à experiência deGamboa é o tipo de material utilizado. Enquanto o primeiro debruçava-se sobre elementos próximos à cultura do carnaval e da festa de rua, nas esculturas mais recentes Beatriz buscou propositalmente trabalhar com elementos mais resistentes, com materiais atraentes como os metais polidos, o acrílico e a madeira, transformada em suporte para intervenções pictóricas.
“Sou uma pessoa do bidimensional. Minhas ideias, conceitos estão totalmente ligados ao plano”, afirma, explicando como foi difícil e instigante esse desafio. “A maior dificuldade foi começar a raciocinar em três dimensões”, explica. Trata-se de um processo cheio de idas e vindas, no qual procurou “a partir do meu repertório, aprofundar, trabalhar verticalmente, evoluindo na tridimensionalidade”. “Foi quase uma aventura”, conclui Beatriz, que este semestre terá grande parte de sua obra reunida em um volume da série especial que a editora alemã Taschen dedica a grandes pintores contemporâneos. O livro, em grande formato, terá tiragem limitada (assinada de próprio punho pela artista) e será lançado em quatro idiomas: alemão, inglês, francês e português. Beatriz fará assim parte de um seleto grupo de homenageados que já inclui nomes como Jeff Koons, Cristopher Wool, Neo Rauch, Albert Ohelen, Darren Almond, Ai WeiWei e David Hockney.
Marola, Mariola e Marilola, que reforça a vocação experimental e de promoção de cruzamentos entre diferentes linguagens da Carpintaria, fica em cartaz até o dia 15 de julho.
Beatriz Milhazes é formada em Comunicação Social. Ingressou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage em 1980, onde estudou até 1983. Como professora de pintura, lecionou até 1996.
Milhazes é considerada uma das mais importantes artistas brasileiras. Consolidou sua carreira no circuito nacional e internacional das Artes Plásticas com participação nas bienais de Veneza (2003), São Paulo (1998 e 2004) e Shangai (2006), e exposições individuais em museus e instituições prestigiosas, como a Pinacoteca do Estado de São Paulo(2008); a Fondation Cartier, Paris (2009); a Fondation Beyeler, Basel (2011); a Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa (2012); o Museo de Arte Latinoamericano (Malba), Buenos Aires (2012); e, mais recentemente, o Paço Imperial, Rio de Janeiro (2013), e o Pérez Art Museum, Miami, USA (2014/2015).
Suas obras integram as coleções do Museum of Modern Art (MoMA), Solomon R. Guggenheim Museum e The Metropolitan Museum of Art (Met), em Nova York; do 21st Century Museum of Contemporary Art, no Japão; e doMuseo Reina Sofia, em Madrid, entre outros.
A artista vive e trabalha no Rio de Janeiro.
A painter par excellence, Beatriz Milhazes has recently come to investigate the possibilities and challenges of sculpture. The result of this process initiated in 2010 can be seen in the show Marola, Mariola and Marilola, as of May 20th, at Carpintaria, Fortes D’Aloia & Gabriel’s new space in Rio de Janeiro.
There are three large tri-dimensional pieces, whilst in harmony with her paintings, prints and collages, they propose a novel and riveting perceptive element. Her characteristic motifs – such as the circle, the flower and the arabesque – fill up the room, establishing a new type of corporeal, physical relationship among them. This relationship is also determined by precise intervals among the elements as well as by the viewer’s perspective. Depending on the angle the pieces are being observed, a different work emerges, as well as a concrete experience, in which the body of the sculpture is interrelated to that of the viewer’s. “This physical possibility represents an investigative area that painting does not offer”, she explains.
The three sculptures naming the show were conceived over five years of research – several life-size models were made – at Durham Press, a studio in Pennsylvania (US), where Beatriz has been developing her graphic production since 1996, concomitantly with her extensive work schedule and exhibitions. They are large pieces, ranging between 2.26 to 2.89 meters high, interacting differently with the space, either by enhancing the body of the work (the circumvolutions from Marola create a denser body in space, with breadth and thickness almost coinciding), or acting as a divider, such as Mariola which is less than half a meter thick, almost like a curtain. These pieces, albeit unknown in Brazil, have been displayed in galleries representing the artist in Paris and New York (James Cohan Gallery, NY, and Max Hetzler, Berlin/Paris).
The titles, as it usually occurs in Milhazes’ works, are interesting reading keys. Not only do they promote the connection among the pieces, but they also reaffirm the importance of rhythm, sonority and a Brazilian essence in her work. The first and largest of them, which according to the artist still presents a close connection with the concept of mobile, refers to ripples on the sea, to the notion of a constant and seductive movement.
Mariola, a popular sweet from Northeast Brazil, also echoes the vernacular culture so appreciated by the artist, whereas Marilola plays with sonority, a playful word game, a procedure resembling the spatial game she creates from the association of different materials and colors. In the three pieces, the body is devised from a design in metal, acting as a support for the different elements. In these compositions, there is logic similar to that of collage, clearly present in Milhazes’ paintings.
It all began with a stage setting Beatriz created for her sister’s dance show, the choreographer Márcia Milhazes, in 2004. By designing a type of chandelier for center stage, she abandoned the idea of working with panels, which had ruled her previous scenographic works, and takes on a tridimensional challenge that would become increasingly sharp.
The first result from this plunge into space was the series Gamboa (part of the exhibition held in Paço Imperial, Rio de Janeiro, four years ago), which the artist did not yet consider part of her sculptural world. “I do not believe Gamboa deals with volume, with the architectonic space, the physical”, she states. Another difference regarding the Gamboa experience is the material she used. While Gamboa poured over elements close to the carnival culture and popular festivities, in her more recent sculptures, Beatriz deliberately intended to work with more resistant elements, with attractive materials such as polished metals, acrylic and wood, transformed into support for pictorial interventions.
“I belong to the two-dimensional domain. My ideas and concepts are totally connected to the plane”, she says, explaining how difficult and thought-provoking this challenge was. “The greatest difficulty was to begin thinking in tri-dimensions”, she states. It is a process full of vicissitudes, in which she attempted “using my repertoire, to deepen, work vertically, evolving in the tri-dimension”. “It was almost an adventure”, Beatriz concludes. This semester she will have great part of her work assembled in a volume from the special series the German publishing house Taschen dedicates to major contemporary painters. This large format and limited edition book (signed by the artist) will be published in four languages: German, English, French and Portuguese. Beatriz will then be part of a selected group of celebrated artists, such as Jeff Koons, Cristopher Wool, Neo Rauch, Albert Ohelen, Darren Almond, Ai Weiwei and David Hockney.
Marola, Mariola and Marilola, which strengthens Carpintaria’s mission to promote and explore different styles, can be seen until July 15.
Beatriz Milhazes graduated in Social Communication. She entered the School of Visual Arts at Parque Lage in 1980, where she studied until 1983. She taught painting until 1996. Milhazes is considered one the most important Brazilian artists. She consolidated her career in the national and international circuit of Fine Arts, participating in the biennials of Venice (2003), São Paulo (1998 and 2004) and Shanghai (2006), and in solo exhibitions in museums and prestigious institutions, such as Pinacoteca do Estado de São Paulo (2008); Fondation Cartier, Paris (2009), Fondation Beyeler, Basel (2011); Fundação Calouste Gulbenkian, Lisbon (2012); Museo de Arte Latinoamericano (Malba), Buenos Aires (2012); and recently, Paço Imperial, Rio de Janeiro (2013) and Pérez Art Museum, Miami, (2014/2015). Her works compose the collections of the Museum of Modern Art (MoMA), the Solomon R. Guggenheim Museum and the The Metropolitan Museum of Art (Met) in New York; the 21st Century Museum of Contemporary Art, in Japan; and the Museo Reina Sofia, in Madrid, among others. The artist lives and works in Rio de Janeiro.
Atos Cultivados e Talita Caselato na Oswald de Andrade e Zapateria, São Paulo
Grupo Atos Cultivados realiza projeções gratuitas sobre mobilidade urbana até o final de maio
Intervenções serão realizadas em São Paulo e exibirão três vídeos do coletivo e uma videoinstalação
Até o final de maio, o grupo Atos Cultivados realiza em São Paulo duas apresentações de seus mais recentes trabalhos, que abordam a temática da mobilidade urbana - a primeira na Oficina Cultural Oswald de Andrade e a segunda na calçada da Zapateria, espaço onde o grupo se reúne atualmente. Os eventos são gratuitos - ver programação ao final.
O projeto, intitulado "Atos Projetados", consiste na projeção de três vídeos produzidos pelo coletivo, "Conto de ônibus", "Celina" e "Partogênese", e na exibição da videoinstalação "meu nome é julia".
O grupo foi criado no Programa Vocacional, na Biblioteca Nuto Sant'Anna, e era orientado por Talita Caselato. Também são membros do Atos Cultivados André Borges, Bruna Edilamar, Isabella Carvalho, Jade Lopes, Luiz Siqueira, Mapa, Verô de Maia e Wanderson Salazar.
"Durante os quatro anos de orientação do grupo, percebo que um integrante sempre colaborou com o outro na produção dos trabalhos, embora a concepção possa ser de um dos membros. Por exemplo, na videoinstalação "meu nome é julia", de minha autoria, os integrantes realizaram a câmera e as captações de áudio sem uma direção definida da minha parte, trazendo, assim, seus modos de perceber a cidade ao transitar. Do mesmo jeito, quando a concepção do trabalho é da Verônica, da Isabella ou da Bruna, trago também, a partir das minhas experiências, modos diferentes de realização do vídeo. Essas colaborações acontecem sempre de maneira horizontalizada”, explica Talita Caselato.
Saiba mais sobre os trabalhos a serem exibidos
O vídeo “Conto de ônibus” (2014), concebido e editado por Bruna Edilamar e Isabella Carvalho, apresenta histórias coletadas a partir de performances realizadas em pontos de ônibus de sete regiões da zona norte da cidade de São Paulo e recontadas ao espectador pelos integrantes do grupo. Os temas abordados nas narrativas apresentadas tratam sobre o sentimento de pertencimento e de questões LGBT.
Em "Celina", o grupo apresenta um ensaio audiovisual sobre uma singular moradora da calçada da Biblioteca Monteiro Lobato/ Praça Rotary - falecida ano passado. Nessa obra, os artistas compartilham suas percepções sobre Celina, uma mulher em situação de rua, e contam ao público um pouco de sua história. A concepção e edição do projeto são de Isabella Carvalho e Verô de Maia.
Já “Partogênese” foi criado a partir do texto de ficção homônimo de autoria de André Borges, membro do grupo. A produção conta a história de Michel, um garoto normal que é arremetido por uma estranha disfunção do sono e dos sonhos, que o mantém sempre consciente enquanto dorme. À medida que sua condição se agrava, o personagem nos leva em uma viagem, desbravando pequenas cidades do interior de São Paulo e cantos escuros da capital paulista, enquanto desbrava seu próprio inconsciente em busca da causa e cura de seu problema. O garoto - sempre em movimento, sempre em trânsito - se pergunta se há limites entre sonho e realidade, ao mesmo tempo em que se dissolve em si mesmo. A concepção e edição desse projeto são de Bruna Edilamar.
Na videoinstalação “meu nome é julia”, um robô de 5 cm³ projeta imagens em um labirinto de blocos de concreto de 5 m². Essa obra trata da relação estética com a vida propiciada aos cidadãos paulistanos pela cidade de São Paulo e aborda assuntos como cidadania e tempo gasto em transporte público a partir de relatos de transeuntes da capital. A concepção e edição do projeto são de Talita Caselato.
O projeto “Atos Projetados” foi contemplado pelo Edital Redes e Ruas 2016.
Atos Cultivados
O grupo Atos Cultivados formou-se em 2013, na Biblioteca Nuto Sant’Anna, no contexto do Projeto Vocacional Artes Visuais, orientado por Talita Caselato.
O grupo atua na zona norte e na periferia da capital paulista. Suas produções são realizadas em diversas mídias das artes visuais, como performance, vídeo, fotografia, desenho, gravura, entre outras. Os temas abordados pelo coletivo relacionam-se, geralmente, com mobilidade urbana e o território da cidade de São Paulo.
Em 2016, participaram do grupo: André Borges, Bruna Edilamar, Isabella Carvalho, Jade Lopes, Luiz Siqueira, Mapa, Verô de Maia e Wanderson Salazar.
Em 2014 e 2015, foram premiados com o Programa de Valorização a Iniciativas Culturais (VAI) - Artes Integradas e VAI I - Artes Visuais. Em 2016, foram contemplados com o VAI II - Artes Visuais e o Edital Redes e Ruas.
Entre suas produções estão os vídeos Conto de ônibus e Celina; a instalação com xilogravuras, pintura e lambe-lambe Confessa uma história pra mim?; a videoinstalação Rua Ezequiel Freire 772; a intervenção com desenhos e lambe-lambe Burburinho e a publicação e vídeo Partogênese.
Portfólios e publicação do grupo
Artista orientadora
Talita Caselato é mestranda em Artes e Multimeios pela Unicamp, bolsista CAPES. Pesquisa atualmente o câmera enquanto performer e a vertigem na cidade de São Paulo. Seu trabalho materializa-se em vídeos e videoinstalações. Suas principais exposições são: Vertigo - Demolden Video Project - Santander – Espanha (2012); 20 e poucos anos: portfólio - 2011 - Baró Galeria (SP); Olheiro da Arte - Curadoria: Fernando Cocchiarale - 2010 - Centro Cultural da Justiça Eleitoral, Rio de Janeiro-RJ; 10° Salão Nacional Victor Meirelles - Júri de seleção: Paulo Herkenhoff, Cauê Alves - 2008 - Museu de Arte de Santa Catarina, Florianópolis – SC; 59º Salão de Abril - Curadoria: Ricardo Resende - 2008 - Fortaleza – CE.
Desde 2013 orienta e colabora com o grupo Atos Cultivados. O grupo foi premiado com os editais VAI I (2014 e 2015), VAI II(2016) e Redes e Ruas (2016).
Link para portfólio
PROGRAMAÇÃO
Videoinstalação "meu nome é julia"
19 a 26 de maio (exceto dia 21 de maio)
Segunda a sexta - 18h às 21h30; sábado - 18h às 20h
Oficina Cultural Oswald de Andrade, Rua Três Rios 363, Bom Retiro, São Paulo, SP
Projeções - Celina, Conto de ônibus e Partogênese
27 de maio, sábado, às 19h
Calçada da Zapateria, Rua Dr. Cesário Mota Jr. 651, Consolação, São Paulo, SP
Felipe Mujica na Triângulo, São Paulo
Casa Triângulo apresenta individual de Felipe Mujica, após seu debut na Bienal de São Paulo
A Casa Triângulo tem o prazer de apresentar, a partir do sábado, 20 de maio de 2017, a primeira individual do artista chileno radicado em New York Felipe Mujica no Brasil. O título da mostra, Sombras Imaginarias Vienen por el Camino Imaginario, toma emprestado um trecho do poema “El Hombre Imaginário”, do poeta e matemático chileno Nicanor Parra - auto-descrito um "anti-poeta, para exibir um conjunto de novas cortinas, uma grande instalação de parede criada com serigrafias e um livro de artista sobre suas ações colaborativas escultóricas.
As cortinas apresentadas aqui dão continuidade ao projeto do artista exibido na 32ª Bienal de São Paulo, em 2016. Os painéis de tecido são exibidos em forma de instalações móveis e interativas, criados em parceria com o grupo Bordadeiras do Jardim Conceição - formado por cerca de quarenta moradoras desse bairro na cidade de Osasco. Também chamadas de bandeiras e de banners, as peças carregam expectativas e discussões políticas pela maneira como são criadas e pela utilização de técnicas que se aproximam mais do trabalho artesanal e caseiro, que de trabalhos criados com técnicas acadêmicas. Para o artista, ações como cortar, dobrar, costurar e bordar tecidos manualmente são humildes atos de resistência. Os painéis trazem desenhos baseados na abstração geométrica, sua história e sua transformação, desde seu surgimento na Rússia, no início do século XX até seu desenvolvimento em movimentos artísticos da América Latina, suas possibilidades formais, sociais e políticas. Esses desenhos também se inspiram em criações visuais de povos indígenas das Américas, adicionando outra possível camada de associações ao trabalho. Penduradas no espaço, as cortinas de Mujica flutuam e movem-se, funcionando como arquiteturas funcionais flexíveis, organizadores de espaço e paredes temporárias que canalizam a percepção do público para o espaço e para a circulação.
Uma grande instalação de parede é criada com uma série de serigrafias de imagens apropriadas. Cartazes políticos, imagens psicodélicas, design gráfico japonês e capas de publicações de ficção científicas, realizados entre as décadas de 1950 e 1970, são modificados, reorganizados e reimpressos pelo artista, tendo como objetivo principal a investigação da cultura simbólica e seu estatuto social – regras de organização, funcionalidade e compreensão coletiva. As imagens são unidas por uma linguagem visual formal e universal ligada aos sistemas de produção do seu tempo. Entre as décadas de 1950 e 1970, floresceram em todo o mundo movimentos comunitários, coletivos e feministas, pedagogias experimentais e contracultura.
A exposição se completa com o livro de artista intitulado “Linea de Hormigas”, composto por imagens de uma série de esculturas homônimas, realizadas entre 2007 e 2015. Muitas dessas obras representadas na publicação foram realizadas em colaboração com outras pessoas, que seguiram as instruções do artista. Sempre usando os mesmos materiais - varetas de madeira e fita isolante, tem se o resultado de esculturas efêmeras com aparência modernista. O livro, que tem 92 páginas e tamanho de 28 x 20 cm, sintetiza as experiências do artista em aproximar educação e arte, tendo como aspecto fundamental deste método a abertura da criação da obra de arte e o diálogo com outros artistas, com o público e com comunidades.
Produzidas com materiais e técnicas distintas, suas cortinas, suas serigrafias e suas peças escultóricas costuram saberes pessoais formados por diferentes repertórios e experiências, unidos como lados complementares de uma mesma realidade: o trabalho criativo coletivo. A artista também exibe um vídeo sobre suas experiências.
maio 14, 2017
Fundação Iberê Camargo dá início à nova programação em maio, Porto Alegre
A Fundação Iberê Camargo inaugura, no dia 18 de maio, duas novas exposições que dão início a uma nova etapa em sua programação cultural. Buscando dialogar com outras manifestações artísticas, que vão além das artes visuais, bem como estabelecer interlocuções com os demais campos do conhecimento, as mostras No Drama e Depois do fim se desdobram em atividades que envolvem áreas como música, cinema, literatura e teatro. A partir do processo de reposicionamento da FIC, que dentre outras ações levou à contratação de seu primeiro curador residente, a instituição vislumbra tornar-se mais democrática e permeável às questões impostas pela agenda cultural, política e econômica da contemporaneidade.
No Drama, exposição que apresenta face pouco conhecida da obra de Iberê Camargo, a saber, sua relação com a dramaturgia, foi pensada e desenhada pelo curador Eduardo Haesbaert – artista que conviveu com o pintor, como seu assistente, em sua última e mais penosa quadra de vida. A mostra exibe telas, painéis, fotografias e estudos, e até mesmo um vestido, os quais reverberam o dinamismo de um artista que fazia dos sábados em sua casa, e de suas sessões de pintura, momentos de criação, ilustração e convivência com artistas e intelectuais das mais variadas origens.
Nos estudos de boca de cena e figurinos para o Balé Rudá, peça de Heitor Villa-Lobos jamais executada pelo compositor em vida, Iberê investiga o delírio tropical de uma américa amazônica, donde a força e o fogo da paixão nativa alimentam uma epopeia de cor e fantasia; dentre as fabulosas lendas gauchescas de João Simões Lopes Neto, reiterado objeto de estudo do artista, deparamos nesta exposição com um conjunto de painéis pintados em fórmica, uma técnica pouco conhecida, embora explorada por Iberê em sua versão para a Salamanca do Jarau. Na sequência do passeio pelo "lado B" de um gênio indomável, encontramos os guaches criados pelo pintor para uma encenação de Luigi Pirandello - O Homem com a Flor na Boca -, cuja atuação de Manoel Aranha, quando já atingido pelo HIV nos anos de 1990, levou o artista à comovente performance em seu estúdio que aqui pode ser vista no filme Presságio, de Renato Falcão; ainda no teatro, As Criadas de Jean Genet ganham uma materialidade própria em guaches pérfidos e misteriosos; e, por fim, pontuando um elenco de notáveis personagens, o curador elegeu duas obras simbólicas da força e da atitude que marcaram a relação de Iberê Camargo com o drama, fosse ele nos palcos, nas telas ou na vida: Retrato Jane e Mariza, uma pintura onde se vê duas mulheres de expressiva fisionomia, como que siamesas em seu comum semblante carregado de horror, e O Delírio, um guache que confronta o público com a face do sonho e do pesadelo que embalam nossas noites, mas também nossas vidas, em suas toadas imprevisíveis e sempre absurdas quando os dias chegam ao fim.
Depois do fim, primeira curadoria de Bernardo José de Souza à frente da programação cultural da FIC como seu Diretor Artístico, toma como premissa a ideia de fim do mundo para refletir sobre a produção simbólica, afetiva e material constituída pela humanidade ao longo dos tempos, buscando investigar nossa relação com a natureza, a ficção, o passado e o futuro.
A Fundação Iberê Camargo é nesta mostra entendida como um espaço ficcional, uma cápsula do tempo na qual são conservados diversos elementos constituintes da memória afetiva, material e visual do homem – um edifício projetado para preservar a espécie humana dos riscos representados pela natureza neste estágio avançado do Antropoceno – conceito sobre o início de uma nova era, a qual se a partir da cumulativa e acelerada ação do homem sobre o planeta. Nesse contexto, os visitantes desempenham o papel de exploradores do futuro, seres de uma civilização vindoura que aqui aporta e se depara com os vestígios e ruínas de um outro tempo.
Partindo de um arco estético e geracional bastante amplo, Depois do fim articula um universo de obras e artistas que se encontram próximos, tanto geográfica quanto conceitualmente, das especulações filosóficas quanto ao passado, ao presente e ao futuro da humanidade. Neste sentido, a investigação do Antropoceno e das utopias e distopias que embalaram o século XX, e seguem reverberando sobre o nosso tempo, constituem o eixo dos debates e questões suscitadas pela presente mostra.
Movida por um senso de urgência e responsabilidade compatível com as demandas do novo milênio e com a quadra de desafios que ora atravessam o mundo e a Fundação Iberê Camargo, Depois do fim questiona a relação ambígua que o homem contemporâneo estabelece com as distintas temporalidades, quer seja estética ou mesmo politicamente. Segundo o curador Bernardo José de Souza, "vivemos ao sabor de um tempo que não se apresenta por completo, que é fracionado, em meio à "escuridão do presente", como bem descreve o filósofo Giorgio Agamben. A contemporaneidade carrega em si a potência de um futuro nebuloso, disforme, e é justamente esta plasticidade que este projeto procura estudar".
Encontros no espaço na Funarte, Belo Horizonte
A Funarte Minas Gerais recebe exposição de três artistas brasileiros que moram e produzem em cidades e países diferentes cujas obras dialogam com a arquitetura e lançam questionamentos éticos
No dia 17 de maio, às 19h, o Ministério da Cultura e a Funarte trazem para Belo Horizonte a exposição coletiva Encontros no espaço, com objetos escultóricos de Adriana Vignoli, Lais Myrrha e Francisco Klinger Carvalho. Com curadoria e mediação de Graça Ramos e texto crítico de Bia Dias, a mostra reúne obras de três artistas visuais brasileiros que moram e produzem em locais diferentes, como Brasília (DF), São Paulo (SP) e Mannheim (Alemanha). A mostra selecionada pelo Prêmio Funarte de Arte Contemporânea 2015 – Atos Visuais Funarte fica em cartaz até o dia 26 de junho, no Galpão 5 da Funarte de Belo Horizonte, com visitação de terça a domingo, das 10h às 21h. O Complexo Cultural da Funarte Minas Gerais fica na Rua Januária, 68, Centro. A entrada é franca e livre para todos os públicos.
A mostra apresenta ao público obras tridimensionais que possibilitam a compreensão dos modos como artistas contemporâneos lidam com a espacialidade, tendo a linguagem arquitetônica como seu principal suporte. No percurso de cada um deles, surgem ainda questões inerentes à arte, como o exercício, a técnica e a artesania. “Os três se preocupam com uma forma construtiva que dialoga com a própria história da arte, com referências fortes ao Modernismo e Neoconcretismo”, afirma a curadora Graça Ramos. “É uma forma de conectar o passado e o presente”, completa.
Ancestralidade
Cada um ao seu modo conecta-se ao passado que está fortemente ligado a uma tradição artística e à sua formação. As obras de Adriana Vignoli, de Brasília, têm forte apelo arquitetônico e geométrico. Em “Vãos”, ela instala duas casas de marimbondo sobre barras de ferro, utiliza raio lazer, alto-falantes, vidro laboratorial, água e conta-gotas. À medida que a água pinga no reservatório começa um diálogo entre as duas casas de marimbondo em língua guarani. Já em “Onde a Terra acaba”, duas peças de cerâmica, cada uma com três “pernas” cilíndricas; a primeira (superior) se apoia em estrutura de madeira triangular e a segunda (infe¬rior) se apoia no chão. A peça superior possui um pequeno furo em uma de suas extremidades, na qual a terra vermelha cai no interior de um cilindro de vidro e escorrega para dentro da peça inferior. Essa possui um orifício por onde a terra vaza, depositando-se no chão. Entre as linhas de pesquisa da artista estão a matéria, o tempo e as relações de tempo espaço. Suas obras tratam de questões relacionadas à ecologia, à causa indígena, e também de arquitetura e da história da arte.
Encarceramento
Francisco Klinger, artista visual nascido em Belém do Pará, mas que trabalha e mora em Mannheim (Alemanha), revisita o passado para criar um diálogo crítico com o mundo contemporâneo. Suas obras misturam madeira, ferro e objetos antigos que são retrabalhados artesanalmente para criar obras tridimensionais que remontam ao período colonial brasileiro, levantando questionamentos sociais e políticos arraigados na cultura brasileira. Em “Catedral emborcada ou a história das mulheres enjauladas”, Francisco Klinger traz a discussão para as questões de gênero, impactado pelas mulheres que trabalhavam com prostituição e estavam expostas em jaulas. Na obra “Nada será como antes”, o questionamento vai para o campo das práticas e comportamentos políticos, as práticas patrimonialistas e cerceadoras que levam a certa melancolia com o estado das coisas. O artista lança mão de uma prática arquitetônica de fachadas, como o uso de grades que remetem ao cerceamento de liberdades, ao encarceramento de espaços públicos.
Premiação
A pesquisa de Lais Myrrha, artista visual de Belo Horizonte que produz e mora em São Paulo, apoia-se sobre a matéria, conhecimentos e ferramentas que fazem parte da experiência humana e o local que habita. Em seus trabalhos, o material tem função simbólica, além da solução formal. Em “Pódio para ninguém”, um pedestal de premiação feito de cimento batido, montado em formas de construção civil que logo são retiradas, vê-se uma imediata e contundente crítica à lógica da competitividade, questionando o lugar de vencedores e perdedores. “Todas as obras apresentadas partem de projetos que dialogam com a tradição da história da arte, renovando-a, e também propõem questões éticas pertinentes à atualidade”, ressalta a curadora.
Sobre os artistas
Adriana Vignoli vive e trabalha em Brasília, Brasil. Possui graduação em Arquitetura e mestrado em Artes Visuais, ambos pela Universidade de Brasília (UnB). Entre 2013 e 2014, trabalhou em ateliê e expôs em Wiesbaden e Berlim Alemanha. Em 2016, foi contemplada com o prêmio do Salão Mestre D’armas em Planaltina, DF. Recebeu o Prêmio Nacional da Funarte de Arte Contemporânea, 2015. Em seus objetos, ela utiliza materiais como o vidro, a terra, a pedra e o metal e vem elaborando uma poética de coisas “autônomas e utópicas”, que conectam o arcaico ao presente, ou mesmo, confabulam um futuro. Suas obras se envolvem por temáticas do tempo, da paisagem e da arquitetura.
Francisco Klinger Carvalho é escultor brasileiro, nasceu em Óbidos (PA), Brasil, em 1966. Graduado em Educação Artística pela Universidade Federal do Pará, Belém-Brasil e pós-graduado pela Academia de Arte de Düsseldorf; Alemanha, com orientação do professor Tony Cragg, onde obteve o título de Meisterschüle. Foi bolsista do DAAD (Deutscher Akademischer Austauchdienst /Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico) assim como do Estado de Hessen, Alemanha, e do IAP (Instituto de Arte do Pará). Foi professor visitante da Universidad Nacional de Bogotá, Colômbia, de 2009 a 2011. Em 2012, recebeu o prêmio Banco Sparkasse Kandel, região Pfalz, Alemanha. Em 2013, foi contemplado com o Prêmio Itamaraty de Arte Contemporânea. Atualmente, vive e trabalha em Mannheim, Alemanha.
Lais Myrrha é mestre pela Escola de Belas-Artes da UFMG, 2007 e graduada no curso de artes plásticas pela Escola Guignard, UEMG, 2001. Desde 1998 participa de diversas exposições coletivas e individuais, tais como I Bolsa Pampulha (2003), do Programa Trajetórias do Centro Cultural Joaquim Nabuco, Recife (2005), e da Edição 2005/2006 do Programa Rumos Visuais do Instituto Itaú Cultural (São Paulo). Em 2007, foi contemplada com o Prêmio Projéteis, Rio de Janeiro, e com o Prêmio Atos Visuais, Brasília, ambos concedidos pela Funarte. Em 2010 participou da Paralela10 no Liceu de Artes e Ofícios, São Paulo. Em 2011, integrou a Temporada de Projetos do Paço das Artes, São Paulo, e a 8ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, e foi premiada no I Concurso Itamaraty de Arte Contemporânea, Brasília. Foi contemplada em 2012 com a Bolsa Estímulo às Artes Visuais concedida pela Funarte. Em 2013, realizou a individual Zona de Instabilidade na CAIXA Cultural São Paulo e foi selecionada para o 18º Festival Internacional de Arte Contemporânea do Videobrasil, e participou da exposição Blind Field no Karnnet Museum, Illinois, USA. Ainda em 2013/2014, apresentou a exposição individual Zona de Instabilidade (com curadoria de Júlia Rebouças) na CAIXA Cultural São Paulo e Brasília. Em 2014, realizou o Projeto Gameleira 1971 no Pivô, e participou dos projetos Greve, na Fundação Bienal de São Paulo/SP-Arte e Ensaio de Orquestra no Coletor, em São Paulo. Em 2016, seu trabalho “Dois pesos duas medidas” ocupou o salão principal da 32º Bienal Internacional de São Paulo.
Sobre a curadora
Graça Ramos é doutora em História da Arte pela Universidade de Barcelona, com tese sobre a escultura da artista mineira Maria Martins (1894-1973). No início dos anos 1980, se formou em jornalismo na Universidade de Brasília (UnB), onde também concluiu o Mestrado em Literatura Brasileira, com ênfase em poesia. Em 2010, atuou como pesquisadora assistente, em Brasília, para a exposição “As construções de Brasília”, realizada pelo Instituto Moreira Salles (RJ/SP). Foi uma das coordenadoras do espaço cultural, não comercial, Arte Futura e Companhia, que realizou exposições de Cildo Meireles, Ernesto Neto, Nelson Felix, Marcos Chaves, Yoko Ono e Evandro Salles, além de duas mostras panorâmicas sobre a produção de jovens artistas brasilienses.
Suzana Queiroga no MNBA, Rio de Janeiro
Suzana Queiroga renova projeto de acessibilidade do MNBA
Completando dez anos de criação, o projeto “Ver e Sentir através do toque” do Museu Nacional de Belas Artes, voltado para a acessibilidade e a sustentabilidade, inaugura uma nova fase: o foco agora se volta para a arte contemporânea.
Nesta nova etapa a convidada é a artista visual Suzana Queiroga, integrante da famosa Geração 80 do Parque Lage, cuja exposição o MNBA abre no dia 16 de maio, às 12h, em evento integrante da 15ª Semana dos Museus, promovida pelo IBRAM.
Um dos destaques da mostra é a obra “Topos”, um relevo em gesso doado em 2009 ao MNBA, produzida já com a intenção de participar de um projeto educativo, no qual a relação com a obra pudesse ser estimulada a partir da percepção tátil.
Além desta, serão exibidas outras três obras, sendo que uma delas será produzida na abertura da exposição, focando no desenvolvimento de uma rica experiência sensorial com cegos e videntes. Suzana Queiroga vai apresentar um mapa interativo da região onde se localiza o Museu Nacional de Belas Artes, além de outras obras que poderão ser tateadas.
O trabalho “Topos” será ambientado num novo contexto, onde a percepção visual pode ser minimizada e outros sentidos precisam ser ativados, o relevo, junto a outras obras, ganha novas dimensões e um espaço ampliado. Em um ambiente com pouca iluminação e sem informação textual, pretende-se acionar outros sentidos, que as cores ganhem som, cheiro, textura, sentimentos e sensações.
“É um caminho a ser percorrido com o corpo, onde o tempo é ativado e uma narrativa se inicia. Aqui, dar espaço aos outros sentidos é uma oportunidade singular de reaprender o mundo”, explicam os curadores Daniel Barretto, Simone Bibian e Rossano Antenuzzi, todos técnicos do Museu Nacional de Belas Artes/Ibram/MinC. Paralelamente, haverá uma mesa-redonda com a artista e seus convidados, discutindo o tema da ciência e arte, incluindo a participação de uma neurocientista.
Iniciado em 2007, o projeto previu a possibilidade do toque em reproduções em baixo relevo e algumas maquetes, feitas a partir do acervo artístico do museu, de obras especialmente selecionadas para este trabalho. O objetivo foi possibilitar a experimentação estética e o conhecimento sobre história da arte e processos artísticos, tornando-os acessíveis às pessoas cegas e com baixa visão, de forma a democratizar o acesso à cultura.
Eduardo Basualdo na Luisa Strina, São Paulo
Galeria Luisa Strina apresenta a segunda exposição individual de Eduardo Basualdo. O artista ocupa as duas salas da galeria, cada uma com uma exposição distinta.
Na Sala 1 Basualdo apresenta o projeto “CasiNo”, instalação inédita produzida especialmente para as premissas da galeria. “CasiNo” reúne peças que partilham um horizonte de incerteza e especulação.
Sob sua aparência doméstica objetos do cotidiano sugerem um equilíbrio dramático. A impotência ou o desastre surgem em cada lugar no qual o olho se demora. Os trabalhos são exercícios, são equações de comprovação duvidosa sobre o estado do tempo. Prognósticos instáveis do acontecer cotidiano.
O projeto “CasiNo” é composto de esculturas e objetos cotidianos que dobram sobre si mesmos. A exposição se situa no limiar de um mundo incerto e as obras são atestados e exercícios para confirmar (ou não) que ainda estamos aqui. O interior e o exterior se fundem formando uma só coisa, indiscernível, árida, como um deserto. Já não há onde esconder-se.
Na Sala 2, apresenta-se o projeto Sentido Único, realizado para a exposição “The Travelling Show” na Fundación Jumex na Cidade do México em 2010. A mostra que contou com curadoria de Adriano Pedrosa teve como tema viagens, passagens, expedições, deslocamentos e cartografias. A Instalação é atravessada pela ideia de quietude e permanência como estratégia de reconhecimento de movimento. Coloca-se em perspectiva os movimentos domésticos com as órbitas dos astros. O projeto inclui esculturas cinéticas, objetos e desenhos em um espaço às sombras, iluminado pelas próprias obras.
O trabalho de Eduardo Basualdo (Buenos Aires, 1977) explora o espaço como conceito elástico. Em alguns casos sua obra remete a condição humana enquanto consciência confinada no interior de um corpo e, outras vezes, enquanto corpos submetidos às regras da arquitetura. Há uma intenção em suas peças de colocar em dúvida o princípio da realidade e o conceito de limite.
Exposições individuais recentes incluem: “Eter”, Galeria Ruth Benzacar, Buenos Aires (2016); “Incisivo”, PSM Gallery, Berlim (2016); Musée d’Art Contemporain de Rochechouart, França (2013) e “Testigo”, Galeria Luisa Strina (2013).
Dentre suas exposições coletivas, destacam-se: “The End of Ending”, Hirshhorn Museum, Washington (2016); All the World’s Futures” / 56a Bienal de Veneza (2015); “My Buenos Aires”, la maison rouge, Paris (2015); “La Isla”, Bienal de Gwangju, Coréia do Sul (2014); “Theory (The Head of Goliath)”, Palais de Tokyo, Paris (2014); “The Silence of the Sirens”, Bienal de Lyon (2011); “The Traveling Show”, Fundación Jumex, Cidade do México (2010).
Seu trabalho é parte das seguintes coleções: Hirshhorn Museum; Musée d’Art Contemporain de Rochechouart; Musée d’Art Contemporain de Lyon; Musée des beaux-arts de Montréal; CiFo Cisneros Fontanals Art Foundation.
Zip’Up: Isis Gasparini na Zipper, São Paulo
Em sua primeira exposição individual, a artista Isis Gasparini traz uma síntese de uma pesquisa que realiza há sete anos sobre a relação entre olhar, espaço expositivo e obra de arte. A exposição Museu mise-en-scène, que abre dia 18 de maio na Zipper, reúne fotografias, vídeo e instalação que refletem sobre o espaço museológico como um dispositivo que direciona o fluxo e o gesto do público, bem como sua relação com a história e a memória. A mostra, com curadoria do coletivo Ágata, é a segunda abrigada pelo projeto Zip’Up em 2017, que dedica-se a projetos curatoriais inéditos.
Como forma de revelar a ação desse dispositivo, a artista investiga a relação entre público e obra de arte no espaço museológico, onde os processos construídos são pensados ora como uma dinâmica cenográfica – os conflitos entre um ideal de visibilidade e a luz que intervém sobre as imagens –, ora como uma dinâmica coreográfica – o embate entre o corpo do espectador que olha e o corpo da obra que é vista.
A maior parte dos trabalhos da artista foi realizada em museus europeus de grande circulação, sendo que cada série de trabalho reflete sobre um aspecto distinto destes dispositivos: na série “Diáfano” sobre a interferência da luz na relação entre público e obra, em um espaço que busca controlar as condições de visibilidade para garantir ideal dos trabalhos; em “Postais”, a artista traz uma obra de Monet que, por meio de suas reproduções, continua respondendo às questões colocadas pelo artista sobre o modo como o tempo age sobre a paisagem.
Sobre a artista
Mestranda em Poéticas Visuais na ECA-USP, Isis Gasparini (São Paulo, 1989) encontra na pesquisa teórica o insumo para sua produção visual. Sua pesquisa recente encontra na fotografia, no vídeo e na instalação novas formas de pensar o olhar como uma performance que envolve todo o corpo, entendendo a obra de arte como um outro corpo que reage às condições do espaço e ao olhar do público. Residências artísticas: 7th Coreographic Coding Lab (2016), Cité Internationale des Arts (2014). Prêmios: Salão de Belas Artes Bruno George (1º Prêmio na Categoria Fotografia e o 1º Prêmio-Aquisição).
Sobre a curadoria
Formado em julho de 2012, o coletivo Ágata é um encontro de afinidades. Um coletivo que parte da pesquisa do processo criativo para criar ferramentas de compreensão e atuação no contexto da arte contemporânea. Ao se valer da multidisciplinaridade de suas integrantes, atua em diversas frentes, entre elas a crítica e curadoria, produção de conteúdo e trabalhos autorais.
Bruno Novelli na Zipper, São Paulo
Com uma produção pictórica que propõe uma aproximação visual com a técnica da colagem, o artista Bruno Novelli (1980) desenvolve sua pesquisa na criação de equivalências entre os elementos que se acumulam e se sobrepõem nas telas. Em Muito Sol na Cachoeira, sua primeira individual na Zipper Galeria, ele exibe um conjunto de novas pinturas em que mescla distintas referências do universo gráfico na representação de elementos da flora e da cultura brasileira. Caules, flores e frutos se misturam a formas geométricas. A imagem da carranca Capelobo criada por Mestre Guarany tem o mesmo valor de um rabisco digital.
Uma das mudanças observadas nesta produção recente é o uso de grids semelhantes às linhas usadas em softwares de edição de imagens, sugerindo semelhanças entre o geométrico e o orgânico. Com texto crítico assinado por Ulisses Carrilho, a mostra inclui também uma performance sonora desenvolvida pelos músicos experimentais Emerson Pingarilho, Carlos Issa e Dimitre que acontece na noite de abertura.
Sobre o artista
Com uma produção desenvolvida em diferentes suportes, Bruno Novelli (Fortaleza, Brasil, 1980) desenvolve pinturas, desenhos, trabalhos digitais e mapas metagráficos. A espacialidade da pintura também aparece como objeto de pesquisa em sua série mais recente, “Substantivos Transitórios”, em que parte de experiências e registros fotográficos feitos em caminhadas na região da Amazônia e na costa de Santa Catarina e São Paulo. Sobrepondo diversos elementos em um mesmo plano, Novelli se aproxima da técnica da colagem, em que a perspectiva da pintura dá lugar a um aspecto mais bidimensional. Nessas obras, ele usa a floresta para articular uma cadeia de relações orgânicas, semelhantes às que existem também em um ambiente urbano. Nos últimos anos, participou de exposições individuais em Bogotá (Colômbia), Denver (EUA), Copenhagen (Dinamarca), São Paulo e Milão (Itália). Entre as principais mostras coletivas, destacam-se: MITOVÍDEOS, Museu da Imagem e do Som, Sao Paulo (2014); 2013; Cosmovideografias Latinoamaricanas. Centro Nacional de Las Artes, Cidade do México, 2013; Barro del Paraiso. Fundacion OSDE, Buenos Aires, 2012 e NOVA. MIS (Museu da Imagem e do Som). São Paulo, 2010.
Texto crítico: Ulisses Carrilho
Ulisses Carrilho (Porto Alegre, 1990) é curador e escritor independente. É assistente de direção na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, com Lisette Lagnado, e cofundador do Solar dos Abacaxis. Foi curador de "Aqui mis crímenes no serían de amor" (Cali, Colômbia) e "Morro" (Rio de Janeiro) a atuou como curador assistente no Parque Lage. Editou, com Luiza Proença, as publicações da 9ª Bienal do Mercosul. Vive no Rio de Janeiro.
maio 13, 2017
Aquilo que nos une na Caixa Cultural, São Paulo
Exposição “Aquilo que nos une” traz obras de 28 artistas que utilizam linha, agulha, bordado e afeto na expressão de suas poéticas
A CAIXA Cultural São Paulo abre no dia 11 de março, sábado às 11h, a exposição Aquilo que nos une, com 40 obras que utilizam a costura e o bordado como expressão poética e suporte, ou lidam de maneiras variadas e contemporâneas com o atividade secular de trabalhar com tecidos, linhas e agulhas. Sob a curadoria de Isabel Sanson Portella, a mostra reúne 28 artistas de diferentes gerações que lidam de maneiras variadas com o ato de costurar e compõem, nesse campo, conceitos subjetivos e peculiares de tempo, espaço e convívio social. A exposição tem patrocínio integral da Caixa Econômica Federal.
A mostra Aquilo que nos une trata da delicadeza, da sensibilidade da alma, das questões que estão à flor da pele. O que une é mais do que uma linha, é criação de sentidos. É mais do que costura, é processo. O linho e o algodão, a fotografia, o video, a chapa de metal, a madeira, o plástico, o gesso e o cristal conferem firmeza à narrativa, amarram questões e histórias que são de todos, mas que cada artista desenvolve na sua linguagem única. Trabalhos históricos de Bispo do Rosário, Leonilson, Tunga, Waltercio Caldas, Letícia Parente, Rosana Palazyan e Anna Bella Geiger, artistas que marcaram um período da produção nacional juntam-se à recente e vibrante produção contemporânea de Adriana Varejão, Ana Miguel, José Damasceno, Marcos Chaves, Nazareno, Sonia Gomes, Rodrigo Mogiz, entre outros. O viés curatorial alinhava a poética de diferentes artistas com linguagens distintas e permite criar conexões e estabelecer um diálogo harmônico entre as obras.
“O que todos esses artistas fazem é produção de imagem, de signos e de linguagem. Esta exposição reflete uma linha de pesquisa estética contemporânea – a junção da arte e da manufatura. São fios que conduzem histórias e narrativas visuais, bordados que constituem estratégias, jogos de dilemas e tragédias, de almas e de fissuras. Os artistas convertem o desenho em bordado e a costura em fio condutor de ideias. Agulha e linha são os elementos deflagradores de imagens conferindo espessura de sentido ao imaginário”, comenta a curadora Isabel Portella.
A exposição Aquilo que nos une fica em cartaz até 14 de maio de 2017 (domingo). A lista completa dos artistas cujas obras estarão na mostra segue: Adriana Varejão, Adrianna Eu, Ana Miguel, Anna Bella Geiger, Bispo do Rosário, Carolina Ponte, Caroline Valansi, Clarisse Tarran, Claudia Hersz, Elisa Castro, Emmanuel Nassar, José Damasceno, Jozias Benedicto, Leonilson, Letícia Parente, Marcos Chaves, Nazareno, Nazareth Pacheco, Paulo Bruscky, Renato Bezerra de Mello, Rodrigo Mogiz, Rosana Palazyan, Rosana Paulino, Sonia Gomes, Tunga, Ursula Tautz, Vera Bernardes e Waltercio Caldas.
maio 11, 2017
Nelson Leirner na Pinacoteca, São Paulo
Pinacoteca de São Paulo apresenta obra de Nelson Leirner no Octógono
A Pinacoteca de São Paulo, museu da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, apresenta a partir do dia 13 de maio a obra O anjo exterminador, do artista paulistano Nelson Leirner. Ela será exposta no Octógono, que fica no primeiro andar do museu. Feita em 1984, a peça foi remontada em 2014 e reúne centenas de estatuetas e bibelôs alinhados em dois grupos posicionados frente a frente e separados por uma ponte. O título do trabalho faz referência ao filme homônimo do espanhol Luis Buñuel.
“A ideia de uma sociedade que não deixa romper os próprios limites ou que reproduz distinções entre grupos de indivíduos é comum ao filme de Buñuel e à obra do artista brasileiro. O trabalho de Leirner é também um de seus primeiros a lançar mão desse procedimento de acúmulo e distribuição de pequenas esculturas em uma cena que lembra uma procissão”, explica o curador José Augusto Ribeiro.
Essa instalação permite à Pinacoteca ampliar a representação da obra de Leirner em sua coleção.
A mostra permanece em cartaz até 31 de julho no 1º andar da Pinacoteca – Praça da Luz, 2. A visitação é aberta de quarta a segunda-feira, das 10h00 às 17h30 – com permanência até às 18h00 – e o ingresso custa R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia). Crianças com menos de 10 e adultos com mais de 60 anos não pagam. Aos sábados a entrada é gratuita para todos os visitantes.
Mais sobre Nelson Leirner – por José Augusto Ribeiro, curador da Pinacoteca
A produção de Nelson Leirner envolve a paródia do sistema de arte e a apropriação de imagens e objetos corriqueiros, desde meados da década de 1960. Materiais da cultura de massa e itens decorativos, como quadros, estatuetas e selos adesivos, aparecem na obra do artista para questionar e rir de hierarquizações de “bom” e “mau” gosto, de “alto” e “baixo” registro. Muitas vezes com alusões a obras, escolas e estilos canonizados pela História da Arte, de Michelangelo a Fontana, do barroco ao Young British Artists, de Duchamp e do neoplasticismo a Beuys e à arte conceitual. Tudo isso misturado a um repertório em que cabem ainda anúncios publicitários, a figura do Mickey Mouse, o distintivo do time do Corinthians, etc.
Flávio Damm na Marcelo Guarnieri, Rio de Janeiro
A Galeria Marcelo Guarnieri, em Ipanema, inaugura, no dia 11 de maio de 2017 a exposição Flávio Damm, um fotógrafo, com 36 fotografias em preto e branco do importante fotógrafo, um dos grandes nomes do fotojornalismo brasileiro, que tem mais de 70 anos de trajetória. Flávio Damm fez fotografias históricas, como de Getulio Vargas em seu autoexílio, em 1948, no Rio Grande do Sul, sendo o primeiro fotógrafo autorizado a fazê-lo naquela circunstância e produzindo importantes imagens que circularam o mundo. Foi também o único fotógrafo brasileiro presente na cerimônia de coroação da Rainha Elizabeth II, na Inglaterra, em 1953, e no lançamento do primeiro foguete na base de Cabo Canaveral, nos Estados Unidos, em 1957.
A exposição faz um recorte da trajetória do fotógrafo, com imagens que exploram a linguagem fotográfica para além dos preceitos jornalísticos, com fotos que buscam extrair das cenas urbanas a poesia de seu caráter trivial. As imagens foram produzidas nas décadas de 1950 e 1960 e também entre 2000 e 2010, no Brasil – em cidades como Salvador, Porto Alegre e Rio de Janeiro – e no exterior – em países como Portugal, Espanha e França.
As fotografias evidenciam uma liberdade de composição formal e poética, transportando o espectador a momentos de contemplação e beleza, à posição do flaneur, que, vagando pela cidade, é surpreendido por situações dignas de registro. Flávio Damm espera o momento “correto” para fotografar. Mais do que testemunha de um fato, ele escolhe cuidadosamente o enquadramento através da lente 35mm de sua câmera Leica, que, por seu tamanho e leveza, permite a ele agir com rapidez e discrição. Com isso, ele acaba por assumir o lugar de testemunha de um instante, que, ao se transformar em imagem, traz junto uma atmosfera, seja de humor, encanto ou melancolia. “Fotografadas pelo tradicional processo analógico – o ar que eu respiro – pratiquei um tripé fotográfico composto de sorte, paciência e a experiência vivida que se alonga por 72 anos de câmera na mão e pé na estrada...”, ressalta.
Nas imagens apresentadas é possível ver associações entre os elementos da imagem, como, por exemplo, na fotografia em que um homem está deitado no banco da rua na mesma mesma posição da imagem do outdoor que está logo acima dele. Outro exemplo é o senhor em Portugal que passa em frente a um grafite que parece refletir a sua imagem. Já em outras fotografias percebem-se figuras humanas na imensidão da arquitetura.
Flávio Damm foi indicado como um dos oito fotógrafos brasileiros de linha bressoniana pelo curador Eder Chiodetto. “Persigo sempre meus motivos pelo interesse documental que os mesmos contenham e, seguindo o mestre Cartier Bresson, ‘tirar uma foto é como reconhecer um evento e naquele exato momento – e, numa fração de segundo – organizar as formas que vê para expressar e dar sentido ao mesmo: é uma questão de pôr o cérebro, o olho e o coração na mesma linha de visão. É uma forma de viver’”.
Fiel à fotografia analógica em preto e branco e avesso ao uso do Photoshop ou de outras manipulações na imagem, Damm preza pelo registro direto, pois acredita que assim cumpre, de maneira responsável, com a sua função de “testemunha ocular”. “Para estudar melhor a forma dispenso sempre a cor por ser desnecessária”, afirma.
Flávio Damm nasceu em 1928 em Porto Alegre, Brasil. Vive e trabalha no Rio de Janeiro, Brasil.
Um dos grandes nome do fotojornalismo brasileiro, Flavio Damm integrou, de 1949 a 1959, a equipe da revista O Cruzeiro, realizando, ao longo desse período, reportagens históricas ao redor do mundo. Suas fotografias davam conta de retratar um grande escopo de assuntos e situações, que iam desde os modos de vida de comunidades isoladas no interior de um Brasil ainda pouco conhecido, até a coroação da Rainha Elizabeth II na Inglaterra. Em 1962, fundou, junto a José Medeiros e Yedo Mendonça, uma das primeiras agências de fotografia do país, a Image.
Possui em seu acervo mais de 60 mil negativos. Ilustrou 29 livros, sendo cinco – edições e reedições – de Jorge Amado. Ilustrou, em 1949, o livro “Um roteiro histórico de Recife”, de Gilberto Freyre. Fotografou o dia-a-dia de Candido Portinari em seu ateliê durante os dois últimos anos de vida do artista. Trabalhou dois anos agregado ao escritório de Oscar Niemeyer na época da construção de Brasília.
Participou de diversas exposições individuais e coletivas, destacando-se: Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, Brasil (2009); Caixa Cultural do Rio de Janeiro e Curitiba, Brasil (2012-2013); As origens do fotojornalismo no Brasil, Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro e São Paulo, Brasil.
Angella Conte na Oswald de Andrade, São Paulo
Angella Conte celebra 20 anos de trajetória com exposição na Oficina Cultural Oswald de Andrade
A Oficina Cultural Oswald de Andrade tem o prazer de apresentar, a partir de 13 de maio, das 15h às 19h, a exposição Terra Nua, da artista paulista Angella Conte. A mostra, que tem curadoria de Agnaldo Farias (ler texto), celebra os 20 anos de produção da artista e contempla trabalhos que narram sua trajetória, incluindo obras importantes para o desenvolvimento de sua linguagem, além de trabalhos inéditos, exibidos pela primeira vez.
Ocupando as duas salas expositivas do espaço, são exibidas esculturas, fotografias, objetos, colagens, e videoinstalações com intuito abordar a heterogênea produção da artista e apresentar questões recorrentes presentes em sua produção, como reflexões acerca da noção de paisagem, do corpo como dispositivo e sua relação com o espaço, assim como questões sócio-políticas. Uma das salas é ocupada com uma videoinstalação inédita de grandes proporções, “Ir e Vir”. A obra é composta por 15 vídeos que registram deslocamentos, (registrados pela artista refazendo estes trajetos que centenas de pessoas fazem diariamente se locomovendo de um ponto ao outro em suas rotinas) questionando a paisagem em seu viés conceitual - memória, deriva, ficção e realidade.
Tendo a memória e o tempo com matéria prima, Angella junta lembranças com objetos e espaços, retraça os mesmos caminhos de diferentes maneiras e cria novas experiências, novos espaços e novos objetos. O trânsito entre arte, realidade e ficção também é abordado nas diversas colagens fotográficas que marcam a pesquisa da artista sobre a imagem. Suas combinações de corte seco, feitos de modo proposital, criam paisagens construídas isentas de ordem cronológica e geografia.
Para Angella, um dos trabalhos mais tocantes em exibição é “Precisou ser Outros” - um pequeno baú engaiolado, que remonta a chegada da família da artista ao Brasil, imigrantes italianos que chegaram no navio Caffaro, em 1891. Seu avô, ao desembarcar, descobre que o baú com pertences da família havia desaparecido. Sem ferramentas de trabalho, documentos e bagagem, a família teve que se aventurar em uma nova realidade, longe daquela que haviam imaginado.
Para 17 de junho, está programado uma conversa com artista e curador, às 15 horas.
maio 10, 2017
Cinthia Marcelle na Bienal de Veneza, Itália
“Chão de Caça”, Cinthia Marcelle Pavilhão do Brasil na 57ª Bienal de Veneza
A Fundação Bienal de São Paulo anuncia que a participação brasileira na 57ª International Art Exhibition, La Biennale di Venezia, em 2017, consiste na instalação Chão de Caça (Hunting Ground), desenvolvida pela artista Cinthia Marcelle (Belo Horizonte, 1974) especialmente comissionada para o Pavilhão do Brasil, com curadoria de Jochen Volz.
Na instalação de Marcelle, um piso inclinado, feito de grades soldadas, ocupa o interior das duas galerias conectadas que compõem o Pavilhão do Brasil. Seixos comuns, como aqueles que se encontram ao redor, nos Giardini, espremem-se nos vãos da grade. Logo se reconhece o tipo de piso, normalmente utilizado em contextos industriais ou em espaços públicos, como em trilhos de ferrovias ou para cobrir poços de ventilação de metrô ou sistemas de esgoto. Entrelaçados nas grades e nas pedras encontram-se outros elementos escultóricos, uma série de pinturas e um vídeo.
Várias hastes de madeira foram fixadas na estrutura do piso, cada uma equilibrando uma pintura em tecido na ponta superior, como um grupo de fantasmas ou uma pequena floresta de sinais, lanternas ou mesmo totens. O suporte das pinturas são faixas de algodão listradas em preto e branco, lençóis comuns, sendo que cada uma das faixas pretas foi cuidadosamente apagada com tinta branca. Pedras de vários tamanhos envoltas pelos cadarços se tornam parte da estrutura maior, dando a ela peso e volume escultóricos.
Há ainda um vídeo: uma tomada de ângulo único para o telhado, paulatinamente desmantelado por homens que criam uma abertura ampla o suficiente para que o escalem e decolem. Na peça, feita em parceria com o cineasta Tiago Mata Machado, os uniformes de cores vibrantes sugerem que esses homens são prisioneiros preparando-se para uma fuga ou um protesto, lembrando décadas de rebeliões em prisões no mundo todo, de Bangcoc, Glasgow, Milão, Sri Lanka e Sydney, para citar algumas, aos terríveis massacres nas penitenciárias brasileiras nos últimos meses. Evidentemente, o filme de Marcelle e Machado não comenta diretamente nenhum desses eventos, muito menos ilustra a condição real do encarceramento.
“Marcelle joga com a ambiguidade, cria um ambiente enigmático, guiado por suspensão, obsessão, rebelião. A instalação como um todo provoca certa sensação de instabilidade”, sugere Volz. “Mesmo que sejamos seduzidos a nos agarrar à imagem da prisão e da fuga ou rebelião, sugerida pela projeção de vídeo e reverberada na aspereza das grades de aço, é possível também imaginar que estamos em um laboratório peculiar ou no ateliê de um artista, em uma floresta tecno ou em meio à selvageria de uma grande cidade grande.”
Sobre Cinthia Marcelle
Desde o início dos anos 2000, Cinthia Marcelle vem construindo sua obra com uso de suportes variados que vão da instalação à escultura, da fotografia e do vídeo à performance. A artista trabalha com invenção de imagens e procura desenhar cenas poéticas e potentes com os elementos que registra e com os materiais que utiliza. Com frequência, busca expressamente criar circunstâncias ou configurações-modelo a fim de verificar coisas e situações.
Partindo da curiosidade, suas ideias e pensamentos se transformam em experimentos, que por sua vez se traduzem em imagens. Sua obra é uma declaração de que a arte é toda sobre o ato de lançar questionamentos. Respostas são dadas apenas e na medida em que são necessárias para estimular novas perguntas. Sempre marcados por um grau de absurdo, os trabalhos de Marcelle parecem derivar seu poder do fato de refletir a jornada da artista pela vida e de seu desejo de entender e experimentar as relações entre o eu e o mundo.
Cinthia Marcelle participou de individuais na América do Sul e na Europa e recentemente foi comissionada pelo Projects 105 para apresentar Educação pela Pedra, novo site-specific para a Duplex Gallery do MoMA PS1, em Nova York (2016). Participou também da 11ª Bienal do Sharjah (2015) com At the Risk of the Real e apresentou sua instalação Dust Never Sleeps na Secession, em Vienna (2014). Em 2006, recebeu o International Prize for Performance por seu trabalho Gray Demonstration e em 2010 foi agraciada na primeira edição do Future Generation Prize.
Sobre a participação brasileira na 57 ª Bienal de Veneza
O pavilhão do Brasil, construído em 1964, é o espaço no qual o próprio país escolhe e expõe artistas que a cada nova edição o representa. Desde 1995, a responsabilidade por essa escolha foi outorgada pelo governo Brasileiro à Fundação Bienal de São Paulo, a segunda mais antiga no gênero em todo o mundo. A partir da mesma data, as participações brasileiras no evento são organizadas em colaboração conjunta entre o Ministério das Relações Exteriores - mantenedor do pavilhão brasileiro -, o Ministério da Cultura – por meio do aporte de recursos da Fundação Nacional de Artes (Funarte) - e a Fundação Bienal de São Paulo - responsável pela escolha do curador e produção das mostras.
Topografias Intermitentes na Casa Nova Arte, São Paulo
Artistas brasileiros e argentinos dialogam sobre os efeitos da ação humana sobre a paisagem em mostra
Resultado de uma residência artística que a curadora Thais Gouveia fez em Buenos Aires em 2016, como parte do Prêmio C.Lab Mercosul, a Casa Nova Arte e Cultura Contemporânea recebe a exposição Topografias Intermitentes que reúne em torno de 15 obras de nove artistas brasileiros e argentinos que têm em comum a discussão sobre os efeitos das ações humanas sobre a paisagem circundante. Sempre com um pensamento ecológico, social e político.
Em pinturas, instalações, esculturas e fotografias, os artistas refletem sobre o gênero da paisagem dentro do cenário atual - marcado por numerosos desastres ambientais, extinções em massa, crises econômicas, guerras, migrações e fechamento de fronteiras. “Quando os meios de comunicação e ciberespaço se tornam os principais instrumentos de relacionamento humano com o mundo, o que se instala é uma ausência ilusória de limites e uma grande distância entre a realidade material finita, gerando desorientação e negação da própria vida e seus estágios naturais de início, meio e fim”, afirmou a curadora, que se baseou em livros de filosofia para elaborar a exposição como A cultura-mundo: resposta a uma sociedade desorientada, de Gilles Lipovetsky e Jean Serroy.
Os brasileiros Beto Shwafaty e Renata Padovan e o argentino Samuel Lasso tratam aspectos políticos e governamentais. Renata apresenta a instalação de acrílico Escape Routes, cujas linhas remetem à fronteiras geopolíticas - incluindo Sudão, Síria e Coréia do Norte - atravessadas por refugiados e emigrantes em suas rota de fuga de regimes totalitários ou em profunda crise -, e Shwafaty em Projeções (Planos em Progresso) X, onde a figura geométrica, herança do Concretismo, é apresentada aqui como referência racional humana tanto para demarcar territórios quanto para projeções desenvolvimentistas. As cores do trabalho remetem ao petróleo e ao logotipo da Petrobrás.
Em Timelapse, uma pequena caixa com terra, areia e pedras recolhidas no deserto do Atacama ao lado de uma placa que indica o tempo que estiveram os primeiros habitantes da região, Moscheta faz o gesto de guardar a memória deste território como uma espécie de arquivo. Enquanto, Carolina Zancolli investiga a memória de sua infância nas paisagens de Córdoba em obras em vidro, cimento e impressão fotográfica que traduzem a construção de um relato próprio a partir da história que a paisagem conta.
Os impactos ambientais são tocados fortemente no trabalho de Santiago Porter e Renata de Bonis. Porter apresenta parte da série Brumas, resultado de uma grande viagem que começou em 2007, na Argentina e segue até hoje, para fotografar locais onde a aparência da paisagem foi modificada, tanto por decisões políticas como pelo peso da própria história. Já De Bonis transforma o espaço da exposição em uma paisagem permeável e frágil, convidando o espectador a examinar as conchas preenchidas com cimento no chão. Ao preencher os espaços vazios das conchas, a artista bloqueia aos ouvidos humanos o ruído da quebra das ondas na costa criando um silêncio melancólico.
Uma dimensão mais abstrata e subjetiva permeia as obras de Mariana Sissia e Sol Pochat. Misturando elementos orgânicos, grafite, papel e a técnica da frottage, as duas artistas revelam o intento artístico de entender a universo ao reduzí-lo a um nível inteligível. "De acordo com Rancière, seria próprio da arte inscrever em nossa compreensão o rastro do impensável, essas camadas de mundo que ainda não podemos conceber, 'fazendo-nos ver' cartografias até então invisíveis. O gesto dos nove artistas de apropriar-se da paisagem - através de desenhos, pinturas, medições cronológicas e geometrias - instala no espaço expositivo novas formações topográficas", completa a curadora.
Agradecimentos: Galeria Luisa Strina, Galeria Hilo, Galeria Rolf Art, Galeria Vermelho, Galeria BFA Boatos, Gachi Prieto, Proyecto PAC e Blau Projects.
maio 7, 2017
Daqui pra frente - Arte contemporânea em Angola na Caixa Cultural, Rio de Janeiro
Com obras de três artistas, a exposição Daqui pra frente discute as tensões nas relações entre ex-colônia e colonizador
A Caixa Cultural Rio de Janeiro apresenta, de 22 de março a 14 de maio de 2017, a exposição Daqui pra frente – Arte contemporânea em Angola, que exibe obras da produção recente de três artistas da novíssima geração do país: Délio Jasse, Mónica de Miranda e Yonamine. Com a curadoria de Michelle Sales, a mostra exibe uma série de fotografias, vídeos e instalações, fazendo um mapeamento da fronteira estética entre a Angola de hoje e as imagens submersas e muitas vezes escondidas de um passado colonial recente. O projeto tem patrocínio da Caixa Econômica Federal e Governo Federal.
“A representação da fronteira, excessivamente recorrente no pensamento atual, discute as trocas culturais que ocorrem na situação de pós-independência que muitas das ex-colônias vivem hoje. “Na maioria das vezes, tais territórios são encarados como esquecidos, vigiados e vazios”, comenta a curadora Michelle Sales.
É justamente essa perspectiva que o trabalho dos artistas busca problematizar e questionar sob diferentes óticas. As obras de Délio Jasse, por exemplo, consistem, num embate direto de referências que fazem alusão à crise de todo o modelo colonial e seus desdobramentos contemporâneos: guerra, exílio, perdas. Através do retrato de rostos escavados numa antiga feira de antiguidades de Lisboa, Délio nos coloca frente a frente com aquilo que mais as práticas coloniais se ocuparam de apagar: as identidades.
Já Monica de Miranda mostra os pedaços de uma memória coletiva que resiste no tempo. Angolana da diáspora, seu trabalho atravessa diversas fronteiras e esboça uma paisagem de identidades plurais inspiradas pela própria existência e vivência de uma artista itinerante. Sua poética autoral e autorreferencial, inerente a uma geração que cresceu longe de casa, já lhe rendeu diversos prêmios internacionais.
E o trabalho de Yonamine remete à arte urbana, usando referências que vêm do grafite, da serigrafia e da pintura, num embate violento com o acúmulo cultural do caótico cenário político-econômico de Angola. A alusão ao tempo presente é recorrente na utilização de jornais como suporte. São muitas camadas históricas que se somam, produzindo imagens profundamente perturbadoras e desestabilizadoras. O artista fala de um país cujo passado foi sistematicamente apagado, seja pela Guerra Civil, pela ocupação russa, cubana e agora chinesa e coreana.
Rodrigo de Castro na Um Galeria, Rio de Janeiro
Filho de Amilcar de Castro (1920-2002), o artista apresentará pinturas inéditas na Um Galeria, com curadoria de Vanda Klabin
A Um Galeria inaugura, no dia 9 de maio de 2017, a primeira exposição individual no Rio de Janeiro do artista plástico Rodrigo de Castro, filho do consagrado escultor Amilcar de Castro (1920 - 2002). Com curadoria de Vanda Klabin, serão apresentadas cerca de 15 pinturas inéditas, em óleo sobre tela, produzidas este ano pelo artista mineiro, que atualmente vive em São Paulo.
“Ao longo de dezessete anos de atividade artística, a sua gramática pictórica se transformou em um campo fértil de pesquisa e inovações. O artista investiga a relação fluida dos campos cromáticos, contrapõe ritmos e problematiza o espaço interno aliado a um rigoroso jogo de derivações geométricas”, afirma a curadora Vanda Klabin, que acompanha a trajetória de Rodrigo há muitos anos, pois era muito próxima de seu pai, de quem fez diversas curadorias.
Rodrigo de Castro participou de importantes exposições coletivas no MAM Rio, no Centro Cultural São Paulo e na Funarte, onde foi premiado no 11º Salão Nacional de Artes Plásticas, na década de 1990. Dentre seus projetos futuros, está a exposição “5 artisti brasiliani geometria”, que será realizada em novembro, no Palazzo Pamphilj, em Roma. A exposição, que também terá a participação de Maria-Carmen Perlingeiro, Suzana Queiroga, Luiz Dolino e Manfredo de Souzanetto, seguirá para a Casa-Museu Medeiros e Almeida, em Lisboa, em 2018.
OBRAS EM EXPOSIÇÃO
Na Um Galeria, Rodrigo de Castro apresentará sua mais recente produção, em que dá continuidade àpesquisacom as cores e o espaço, que vem desenvolvendo desde o início de sua trajetória. As linhas, as cores e as formas são elementos presentes em suas pinturas. “São diálogos com as áreas de cor, com a proporcionalidade delas”, explica o artista.
A maioria das pinturas possui cores fortes e vibrantes, mas haverá também algumas obras em preto e branco e outras com pequenos pontos de cor. “Como componente essencial, a cor é tratada pelas suas qualidades visuais, seja para organizar a superfície da tela, seja para dinamizar o ritmo da construção e da geometria, com infinitas possibilidades de ordenação do espaço. A construção de extensas áreas cromáticas, indicativas de suas luminosidades e contrastes, traz a predominância das cores primárias – vermelho, azul e amarelo – ou as não cores, preto, cinza e branco”, diz a curadora.
Além de formas geométricas e de grandes áreas de cor, linhas finas, com cores diversas, também estão presentes em várias pinturas. “As linhas não dividem as áreas, elas na verdade marcam ou delimitam mais a geometria, o estudo das áreas, as formas”, afirma o artista. A curadora Vanda Klabin completa: “A constante presença das linhas negras ou coloridas, dispostas de forma horizontal ou vertical, não representa linhas de força, mas serve para acentuar as relações métricas proporcionais e amplificar as zonas cromáticas. Todos os elementos que compõem o quadro tendem a se contrair ou a se dilatar até encontrar o seu equilíbrio, formando uma superfície homogênea, um verdadeiro plano geométrico”.
O artista destaca que suas pinturas possuem poucos elementos, mas que estes “conversam entre si”, sendo cada um deles fundamental para a construção do quadro. Seu processo de trabalho é longo. “Uso tinta a óleo, que demora para secar, então é um trabalho lento. Além disso, antes de pintar, há uma fase de estudo das cores, que não saem direto do tubo de tinta. O azul, por exemplo, misturo muito até chegar na tonalidade que quero, assim como o amarelo”, conta o artista.
Rodrigo de Castro teve muitas influências em sua trajetória artística. “A formação do seu olhar tem referências culturais no ideário da tradição construtiva e na linguagem geométrica do neoplasticismo. Encontra ressonâncias nas obras de artistas que pontuaram a vanguarda da contemporaneidade, como Kazimir Malevich, Piet Mondrian, Josef Albers, Henri Matisse, Mark Rothko, entre outros. Rodrigo de Castro manifesta sua profunda admiração por Claude Monet e Vincent van Gogh – pela intensidade da cor de um lado e a poesia da luz, de outro. Segundo o artista, ambos realizam a mesma coisa: acordes perfeitos de luz e cor”, conta Vanda Klabin. Rodrigo ressalta que também recebeu influências do pai e de artistas amigos dele com os quais conviveu desde a infância. No entanto, ao longo de sua trajetória, foi criando uma linguagem própria. “Pintura é uma atividade solitária. Com o tempo, você vai deixando de lado as influências e descobrindo um caminho próprio”, diz o artista.
Rodrigo de Castro nasceu em Belo Horizonte, em 1953. Vive e trabalha em São Paulo. Iniciou suacarreira na década de 1980. Sua pintura é rigorosa, sugere precisão. Mas ele recusa a associação de seu trabalho com omatemático e o científico. Gosta do que chama de geometria sensível. Arte que vem da sensibilidade. Acredita que a vivênciaessencial do artista é com sua alma e consciência. Considera essencial nesse processo: a importância da prática, defende que ofazer ensina, que teoria só ensina teoria. Seu desafio é ser mais do que reprodução de uma teoria. O artista experimenta
relações de cores, desequilíbrios, harmonia e estruturas não complementares. No geral, suas pinturas são produto de estudos.Pesquisa cujo ponto de partida é a busca de construção com áreas de cor que instalem relações de contraste, profundidade, vibração luminosa e espaciais.
Artista premiado, no 11º Salão Nacional de Artes Plásticas, Funarte, no Rio de Janeiro e agraciado com o Prêmio Principal, no 13º Salão de Arte de Ribeirão Preto, Rodrigo de Castro participou de diversas mostras individuais e coletivas, no Brasil e no exterior, entre elas, uma exposição no MAM Rio, na década de 1990, ao lado de artistas como Nuno Ramos, Carlito Carvalhosa, Paulo Pasta, entre outros.
A carioca Vanda Klabin é formada em Ciências Políticas e Sociais pela Puc/Rio e em História da Arte e arquitetura pela UERJ. Fez pós –graduação em Filosofia e História da Arte (PUC/Rio).Trabalhou como coordenadora adjunta da Mostra do Redescobrimento – Brasil 500 anos; diretora geral do Centro de Arte Contemporânea Hélio Oiticica e coordenadora assistente do curso de pós-graduação em História da Arte e Arquitetura da PUC/Rio por muitos anos. Realizou diversas mostras coletivas tais como A Vontade Construtiva na Arte Brasileira, 1950/1960, Art in Brazil 1950/2011, Festival Europalia – Palais des Beaux – Arts (Bozar) – Bélgica, Bruxelas, Outubro 2011, entre muitas outras.
Responsável pela curadoria e montagem de diversas exposições de artistas nacionais e internacionais como: Iberê Camargo, Alberto da Veiga Guignard, Eduardo Sued, José Resende, Carlos Zilio, Frank Stella, Antonio Manuel, Mira Schendel, Richard Serra, Luciano Fabro, Mel Bochner, Guilhermo Kuitca, Amilcar de Castro, José Resende, Walter Goldfarb, Nuno Ramos, Jorge Guinle, Antonio Bokel, Laura Belém, Niura Bellavinha, Alexandre Mury. Fernando de la Rocque, André Griffo, Joana Cesar, Leonardo Ramadinha, Luiz Aquila, Alfredo Volpi, Henrique Oliveira, Antonio Dias, Lucia Vilaseca, Daniel Feingold, André Griffo,Maritza Caneca, Renata Tassinari, Célia Euvaldo, entre outras.
Gustavo Speridião na Mercedes Viegas, Rio de Janeiro
Gustavo Speridião apresenta, pela primeira vez, na Galeria Mercedes Viegas, 9 trabalhos inéditos e recentes, criados especialmente para esta exposição, A gente surge da sombra: 5 em grandes formatos (2 m X 4 m) e 4 em pequenos formatos que variam 20 cm X 40 cm a 40 cm X 40 cm. O artista utiliza nanquim, carvão e verniz, mantendo sempre o uso das palavras e a relação delas com a imagem. Além disso, vem trabalhando na sequência de metros e metros de lonas pintadas e repintadas.
- A princípio, eu trabalho coma produção de uma imagem. Imagem em movimento, impressa, apropriada, pintada, escrita, desenhada. A pintura; tinta sobre tela, é suporte mais utilizado para este trabalho com a imagem por diversos fatores práticos de produção de imagem bidimensional, mas é na carga histórica e conceitual que sua importância está colocada pois nela estão acumulados séculos de discussão sobre o poder da imagem para a humanidade. Sobre este suporte convencional são criados meu jogos poéticos de idéias e formas. Mas o motivo pelo foco na pintura não é o teórico apenas. Eu busco na pintura a essência de onde tudo começou: o desenho, a abstração de uma ideia. É o rabisco no papel. É a pintura na caverna. É um “Existir” – diz Gustavo.
Mestre em Linguagens visuais pela Escola de Belas Artes da UFRJ (PPGAV-UFRJ,2007), Os trabalhos de Gustavo Speridião são regidos pela ideia de “Kino-Glaz”, do cinema avant-garde russo que pode ser traduzida grosseiramente por “cinema-olho”. Suas ações tem foco na ideia de que o meio artístico deve imitar o olho humano, utilizando esta técnica para explorar situações da vida cotidiana. Sua prática multimídia inclui desenhos, colagens, pinturas, instalações e esculturas, embora ele talvez seja mais conhecido por suas pinturas, fotografias e vídeo. O trabalho de Speridião é caracterizado por suas justaposições espirituosas de imagens, atenção à linguagem, atenção ao enquadramento e cor. Seu trabalho critica e se envolve com a história da arte, as tradições em fotografia e cultura visual contemporânea.
Carlos Fajardo no Ling, Porto Alegre
Mostra de Carlos Fajardo apresenta obras inéditas e criadas especialmente para o Instituto Ling
Exposição Espelho no espelho, com curadoria de Henrique Xavier, traz oito trabalhos do artista paulista que tratam de reflexos, reflexões e subjetividade
De 10 de maio a 5 de agosto, o Instituto Ling apresenta a exposição Espelho no espelho, de Carlos Fajardo, um dos mais atuantes artistas brasileiros, desde o final dos anos 60 até os dias atuais. A mostra traz oito obras – entre fotografias, esculturas e instalações – criadas especialmente para serem apresentadas no Instituto Ling.
Nessa mostra, que tem a curadoria de Henrique Xavier, Fajardo trabalha com materiais como vidros, espelhos e superfícies reflexivas, transparentes e coloridas, combinadas entre si e também associadas a fotografias de grandes dimensões, delicados tecidos, caixas e estruturas tridimensionais. Através deste conjunto de materiais e por meio de um jogo entre reflexões e transparências, as obras produzem labirintos estéticos para a percepção do espectador, que vê sua imagem refletida nas obras. Ao mesmo tempo, os trabalhos formam um conjunto coeso que reflete a si mesmo e interage com o ambiente da galeria, criando um diálogo entre as obras e espaço.
“A experiência do deslocamento produzida pela multiplicação de imagens nas obras de Fajardo, exige que nos debrucemos criticamente sobre nós, pois, em tais obras, não apenas a nossa imagem foi deslocada, mas, principalmente, algo em nós mesmos”, explica o curador da exposição, Henrique Xavier. Para o curador, as imagens fotográficas presentes na exposição acrescentam, ainda, uma particularidade ao conjunto de obras apresentado: “Há um delicado erotismo presente nos fragmentos de corpos das imagens fotográficas, que se expande no jogo com as tênues imagens formadas pelas superfícies semitransparentes e semi-reflexivas empregadas pelo artista”, afirma.
Para saber detalhes sobre cada obra, acesse o texto curatorial completo.
A exposição tem patrocínio da Fitesa e financiamento do Governo RS / Sistema Pró-Cultura / Lei de Incentivo à Cultura.
maio 3, 2017
Fala na Ecarta, Porto Alegre
Na sexta-feira, 5 de maio, acontece a abertura da exposição Fala, na Galeria Ecarta, com curadoria de Gabriela Motta e Fernanda Albuquerque. A mostra procura manifestar a incredulidade, inquietação, tristeza, falência, descontentamento, impotência, lamento, raiva, ira – e mesmo uma certa incompreensão – frente à crise política e institucional que reflete na democracia do Brasil.
Os envolvidos na realização da mostra acreditam em valores parecidos, sobretudo na potência da arte como forma de expressão capaz de aproximar as pessoas e estimular a seguir confiando nas pessoas e duvidando do mundo. Para os integrantes, a arte é um meio que todos podem expressar suas reflexões e sentimentos da forma como quiserem.
A abertura acontece às 19h e a mostra reúne obras dos artistas: Amanda Copstein, Carla Borba, Carla Zaccagnini, Fernanda Gassen, Guilherme Teixeira, Gustavo Diehl, Leticia Bertagna, Luiz Roque, Michel Zozimo, Romy Pocztaruk, Telmo Lanes, Traplev e Viviane Pasqual, e pode ser visitada até 11 de junho.
No lançamento, que tem entrada franca, a trilha sonora será de Leo Felipe, diretor da Galeria que em maio completa 12 anos.
Galeria Ecarta – dedicada à arte contemporânea e à experimentação. Recebe em média seis exposições por ano, sendo duas delas realizadas por seleção de edital. Promove também debates, oficinas e festas. O espaço, que recebeu o VI Prêmio Açorianos de Artes Plásticas na categoria "Destaque Espaço Institucional de Divulgação Cultural", e a curadoria é de Leo Felipe.