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setembro 30, 2016
Projeto Planta Baixa na Cândido Portinari, Rio de Janeiro
Natureza, memória e imagens do Jardim Botânico, sob o olhar contemporâneo na UERJ
Desenhos, objetos, instalações, vídeos e ferramentas compõem a exposição ProjetoPlantaBaixa, a ser inaugurada na Galeria Cândido Portinari, no dia 29 de setembro, às 18h30. A mostra reúne obras de Débora Mazloum, Júnia Penna, Nena Balthar e Susana Anágua, sobre visões e percepções da residência artística realizada no Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Foram quatro meses de imersão e de experimentações compartilhadas, tendo como base de referência a flora e a história da instituição. “Na construção de uma casa, a planta baixa permite visualizar os primeiros traços do desenho, espaço bidimensional para os ensaios de um novo projeto. De modo semelhante, o ProjetoPlantaBaixa acolheu práticas estruturadas em diferentes poéticas”, afirma a curadora Malu Fatorelli, professora do Programa de Pós-graduação em Artes da UERJ.
Nesse sentido, Débora Mazloum pesquisa a memória do Jardim Botânico, frequentando a biblioteca e observando fotos de espécies raras e mudanças na planta baixa, criando um gabinete de curiosidades. Júnia Penna acompanha o corte de árvores, utilizando fragmentos de troncos para compor seu trabalho. Nena Balthar apresenta desenho e vídeo com foco nos deslocamentos na percepção do local. Já Susana Anágua opta por materiais como ferramentas de manutenção das plantas e outros aparatos.
A exposição conta também com uma exibição de filmes selecionados pelo artista Cadu, que viajou ao redor do mundo, trazendo imagens de lugares distantes e exóticos. A projeção dos vídeos acontece durante a mostra, cotidianamente, até o dia 27 de outubro.
setembro 20, 2016
museu do louvre pau-brazyl, São Paulo
A Revolução Francesa, a mudança da família real para Versalhes, e o espírito enciclopédico Iluminista possibilitaram a criação do Museu do Louvre no dia 10 de agosto de 1793 em Paris. O antigo Palácio do Louvre tornava-se lugar público, abrindo a coleção real à sociedade.
Em São Paulo, na década de 1950, o Edifício Louvre é projetado pelo incorporador João Artacho Jurado. Localizado no número 192 na Avenida São Luís, o prédio traz consigo o imaginário burguês afrancesado da modernidade que modelava a visão de mundo, o comportamento e os hábitos da elite local. Nesse edifício, cada bloco recebe o nome de um pintor importante da História da Arte: Da Vinci, Rembrandt, Velásquez e Renoir. Em alusão ao museu parisiense, o Edifício Louvre desde sua inauguração exibe uma reprodução da Monalisa em um dos halls de entrada.
Foi pensando na relação entre os dois Louvres que surgiu o museu do louvre pau-brazyl. Localizado no Edifício Louvre, aproveita a configuração estrutural do prédio: o térreo e o mezanino são dedicados ao comércio, comportando agências de viagem, cartório, perfumaria, imobiliária. Por esse motivo, permanece aberto durante o horário comercial. São esses dois andares que serão ocupados pelo museu.
A exposição busca lidar com os conflitos dos espaços e os grupos sociais que os constituem. Interessa problematizar o papel do museu por meio de um lugar não museológico, e testar as múltiplas relações da produção contemporânea com o espaço e com as vidas na cidade – desde a interferência que causará dentro de um edifício residencial até as transformações que um aparelho cultural provoca no seu entorno. O prédio localiza-se numa área em que grupos de classes sociais coexistem: a avenida-boulevard, a luta dos movimentos sociais por moradia, o centro de acolhida ao imigrante, os moradores em situação de rua, a biblioteca municipal, a instituição cultural, a prostituição. Apresenta também, devido aos diferentes tamanhos e preços dos apartamentos , uma multiplicidade de moradores e arranjos familiares.
O intuito do projeto é também jogar com os deslocamentos dos museus globais e o processo de abertura de franquias, com o exemplo iminente da sede do Museu do Louvre em Abu Dhabi. O discurso oficial da equipe do Museu é que a sua chegada vai desenrolar um papel social importante nos Emirados Árabes, podendo ser visto como um produto do Iluminismo do século XVIII na Europa [1]. Essa colocação endossa o desejo de um centro de poder influenciar a maneira com o a periferia se pensa estética e culturalmente, revelando a força, ainda, do imperialismo e da colonização cultural.
Um marco da imposição de formas expressivas e estéticas europeias no Brasil é o desembarque da Missão Artística Francesa no século XIX. A sua função era “desenvolver culturalmente” a colônia que havia se tornado capital com a chegada da Corte portuguesa. A fundação do ensino formal das Belas Artes influenciou o cenário artístico local disseminando o conceito de arte como restrito ao que os acadêmicos executavam. A Semana de Arte Moderna de 1922 foi uma reação às influências externas na produção cultural nacional, sem defender uma noção nacionalista e identitária, mas sim a mestiçagem imanente das construções simbólicas brasileiras. Oswald de Andrade, um dos inventores do movimento antropofágico, lança em 1924 o Manifesto da Poesia Pau-Brasil reivindicando a mistura do primitivo com as vanguardas como nossa originalidade.
Propõe-se pensar, ainda, quais os sentidos e os efeitos da arquitetura escolhida para os museus. Atualmente, os chamados starchitects são indissociáveis da concepção dos museus globais. Cabe questionar o lugar de Artacho Jurado em oposição aos grandes arquitetos de museus, assim como as especificidades de sua arquitetura constr uída em meio do modernismo brasileiro. A arquitetura pode ser ativada também como metalinguagem em museus e trabalhos artísticos. O Museu do Louvre, de Paris, preserva a parte medieval da construção e a apresenta como parte integrante da exposição. A artista Andrea Fraser em Little Frank And His Carp (2001) explicita como o projeto do Guggenhein Bilbao está focado no espetáculo da arquitetura de Frank Gehry [2].
Nesse sentido articulam -se os trabalhos, práticas e propostas em diferentes escalas e plataformas d os artistas participantes do museu do louvre pau -brazyl, que combinam o público e privado, lidam com o imaginário vanguardista e tropical do Brasil (e sua projeção muitas vezes estereotipada internacionalmente), provocam tensões institucionais, usam o espaço como elemento de conexão e estabelecimento de relações.
O gesto sutil de provocar a possibilidade da instalação de uma sede do Museu do Louvre em São Paulo reconhece a existência de um outro Louvre, onde acontecerá a exposição, mas propõe exercícios de deslocamentos, numa tentativa de desfazer o imperativo da instituição como agente neutralizador das tensões da arte, sem negar o ambiente catalizador e suas múltiplas contradições.
1 “Louvre Abu Dhabi is intended to be a place of discovery, exchange and education. It will also play an important social role in United Arab Emirates. In this respect, it can be seen as a product of the 18th -century Enlightenment in Europe. This movement gav e birth to the principle of the encyclopaedic and universal museum housing diverse collections of artworks for the purposes of public display and scientific study.” (Fonte: Louvre Abu Dhabi: A Universal Museum - http://louvreabudhabi.ae/en/about/Pages/a-universal-museum.aspx)
2 O trabalho consiste em um vídeo da artista andando pelo átrio do museu ouvindo o áudio -guia oficial da instituição e reagindo a ele. Ele começa afirmando: “esse não é um lugar maravilhoso? É como uma catedral gótica, você consegue sentir sua alma subir junto com o edifício ao seu redor”. Nos sete minutos de duração, nenhuma obra exposta no museu é mencionada, somente a arquitetura revolucionária e as curvas poderosamente sensuais projetadas pelo arquiteto.
Arthur Luiz Piza na Gustavo Rebello, Rio de Janeiro
Gustavo Rebello Arte inaugura no dia 26 de setembro, às 18h, a exposição Piza, do artista plástico Arthur Luiz Piza. O público carioca vai ter a oportunidade de conhecer um pouco do ateliê do artista em Paris na galeria do Copacabana Palace, de 27 de setembro a 21 de outubro de 2016. A mostra, que é um panorama da produção de Piza, terá trabalhos de várias épocas, desde as colagens em madeira e cartão dos anos 60, passando pelas aquarelas, os corte e recorte, as cerâmicas de Sèvres, os relevos em metal s/sisal, as tramas em aço galvanizado, até os mais recentes, Elementos no espaço.
Artista consagrado internacionalmente, sendo um inventor de linguagens e técnicas, em pintura e gravura, Piza fez sua brilhante carreira na capital francesa, desde o início dos anos 50, sem nunca perder o contato e as raízes com o seu Brasil natal. Nas últimas cinco décadas, seu ateliê fez parte do roteiro de gerações de artistas, historiadores de arte, museólogos e intelectuais brasileiros. Foi neste espaço, imantado por uma força criativa poderosa, que concebeu e consolidou uma obra singular, densa e provocativa: e se transformou – para uma legião de admiradores como Lygia Clark (1920-1988) e Sergio Camargo (1930-1990), de quem foi interlocutor privilegiado no conturbado cenário parisiense dos anos 1960/1970.
Aluno nos anos 1940 de Antonio Gomide importante nome do Modernismo brasileiro, Artur Luiz Piza, na qualidade de um dos grandes herdeiros dessa tradição, foi personagem chave nos inúmeros embates que marcaram a arte brasileira nas décadas seguintes, para os quais ofereceu brilhantes respostas, como superação entre o impulso libertário do informalismo e o sentido ordenador do construtivismo, que configuraria sua produção daquele período. Incansável explorador de materiais os mais distintos – do papel tradicional à refinada porcelana, dos nobres metais a inusitados capachos – é responsável por uma produção que se estende de diminutos formatos a generosas estruturas em espaços públicos. Em toda sua obra – Piza foi, e continua sendo no presente, um mágico criador de espaços.
Por meio da multiplicidade de linguagens utilizadas ao longo dos mais de sessenta anos de sua carreira, o artista instalou um dialogo entre todas as unidades produzidas, quais notas de uma sinfonia em permanente elaboração, que se articulam, e reverberam incessantemente. Seus mais recentes trabalhos são construções engendradas a partir de diferentes sistemas de redes e molas metálicas, muitas delas exibindo as marcas de uso, e que se revelam como constelações gravitando em um território sem limites, definido não pela extensão, mas pelo tempo. Por um tempo de poéticas construídas por delicadas relações cromáticas, que condensam, qual energia pura, todas as sutilezas da alma humana.
“No auge dos seus oitenta anos, Artur Luiz Piza continua, com uma generosidade única, a nos presentear com experiências estéticas fascinantes, que guardam o vigor e uma radicalidade próprios da juventude, ao mesmo tempo em que se distinguem por uma depuração e uma concisão que só a maturidade conquistada é capaz de forjar. Seu compromisso ético com a arte é uma referência inspiradora que nos revela, a cada dia, novos espaços”, descreve Marcelo Mattos de Araújo no prefácio do livro sobre a vida de Piza.
Arthur Luiz Piza nasceu em 1928, em São Paulo, onde teve seu primeiro contato com as artes. Nos anos 40, estudou pintura e afresco com Antonio Gomide, um dos grandes nomes da Primeira Geração de Modernistas. Mudou-se em 1951 para Paris, onde passou a trabalhar no estúdio do mestre da gravura Johnny Friedlaender. Piza logo se tornou um especialista em todas as suas técnicas. Abandonou as mais tradicionais e desenvolveu uma técnica exclusiva de gravar nas placas com martelos e cinzéis de diferentes formatos. Entre 1951 e 1963, participou das Bienais de São Paulo; em 1959, da Documenta de Kassel, e em 1966, da Bienal de Veneza, ganhando o prêmio de gravura. Seu trabalho encontra-se nos acervos dos principais museus do mundo, como o Museum of Modern Art (MoMA) e o Guggenheim Museum, em Nova York, a Bibliothèque Nationale de France e o Musée National d’Art Moderne Centre Georges Pompidou, em Paris. No Brasil, seus trabalhos estão no Museu de Arte Contemporânea e no Museu de Arte Moderna, ambos em São Paulo. Em 2002, a Pinacoteca do Estado organizou uma importante retrospectiva e a editora Cosac Naify lançou um catálogo de seus relevos. O artista vive e trabalha em Paris desde 1951.
setembro 19, 2016
Projeto Respiração: Regina Silveira na Eva Klabin, Rio de Janeiro
A 21ª edição do RESPIRAÇÃO, Programa de intervenções de arte contemporânea na Fundação Eva Klabin, concepção e curadoria de Marcio Doctors, terá a participação de Regina Silveira, com a intervenção Insolitus
O Respiração tem por objetivo criar intervenções de arte contemporânea no acervo de arte clássica da casa-museu Eva Klabin, criando uma ponte entre a arte do passado e as manifestações da atualidade; entre a preciosa coleção de obras dos grandes mestres da história da arte, como Tintoretto, Boticelli, Reynolds, Pisarro, Govaert Flinck, entre outros, e os mais importantes artistas contemporâneos brasileiros.
O Respiração é um programa de longa duração, iniciado em 2004, e tornou-se referência cultural pelo inusitado e singularidade da sua proposta, que é a de trazer uma nova respiração para o museu, com o intuito de atrair novos públicos, criando um olhar diferenciado sobre o museu e sua coleção.
O Respiração foi se firmando pela qualidade dos 27 artistas que participaram ao longo de 12 anos e 20 edições. Podem ser citados alguns nomes como: Anna Maria Maiolino, Anna Bella Geiger, Nuno Ramos, Carlito Carvalhosa, Ernesto Neto, Claudia Bakker, Eduardo Berliner, Rosangela Rennó, Marcos Chaves Nelson Leirner e Daniela Thomas, entre outros. (www.evaklabin.org.br / Projeto Respiração)
Regina Silveira, artista da Luciana Brito Galeria, é a convidada da 21ª edição e fará a intervenção Insolitus, que criará uma situação insólita/inusitada, como o próprio nome diz. A fachada da Fundação será ocupada pela obra Mundus admirabilis, que é uma infestação de insetos gigantes; na Sala Renascença a obra Dark swamp (nest) dominará o espaço, nos surpreendendo com um ovo negro de 1.80m de altura, confrontando-se com as obras Renascentistas da coleção; na Sala de jantar, a mesa e as cadeiras se transformarão em mesa e cadeiras peludas, desencadeando uma estranheza no ambiente requintado e ordenado da casa-museu.
Com a ocupação Insolitus, Regina Silveira radicaliza a ideia de intervenção da proposta do Respiração, desestabilizando os códigos de uma residência, onde a tranquilidade é perturbada pelo imaginário da artista, criando, dessa maneira, uma metáfora contundente dos tempos atuais.
Nas palavras do curador Marcio Doctors:
Insolitus nos traz a crueza de uma realidade substantiva, que Regina Silveira explicita por meio das obras apresentadas no Respiração, que são como materializações na superfície do mundo das angústias de nossa sociedade atual. Com sua poética singular, a artista faz um raio X das incertezas e dúvidas que estamos atravessando e chama a nossa atenção para aquilo que nos incomoda hoje no mundo. São como pragas contemporâneas.
O Respiração conta com o apoio de: Klabin S/A, Itaú Cultural, Luciana Brito Galeria, DHBC advogados, e parceria ArtRio.
Cristina Canale na Silvia Cintra + Box 4, Rio de Janeiro
Caleidoscópio é o título da nova exposição que Cristina Canale inaugura na galeria no próximo dia 29 de setembro. Através de 11 pinturas, a artista propõe a geometrização do mundo como uma nova forma de olhar, convidando o espectador a imaginar cenas cotidianas como se fossem vistas através deste brinquedo.
Paisagens urbanas, fenômenos da natureza (chuva, raios e trovões) e figuras humanas são reinterpretados usando referências da pintura geométrica, pictogramas e chablones. Canale passeia no universo de Alfredo Volpi, Piet Mondrian e Wassily Kandisky para construir essa nova temática.
O que interessa à artista é o encontro entre o geométrico, o abstrato, a figuração e a narrativa através de uma forma de pintar que vai criando contradições, tencionando, e desestabilizando o “olhar” para que se possa ter um melhor entendimento do tempo dessa pintura.
A carioca Cristina Canale é formada em desenho e pintura pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. Sua primeira participação em exposições foi em 1984, na coletiva “Como Vai Você, Geração 80?”. A partir desta mostra ela passou a fazer parte de um dos núcleos mais consistentes e conhecidos da retomada da pintura no Brasil. Em 1991 recebeu o Prêmio Governador do Estado, na 21ª Bienal Internacional de São Paulo. A artista mudou-se para Alemanha, onde vive até hoje, em meados da década de 1990, lá estudou na Academia de Artes de Düsseldorf sob a orientação do artista conceitual holandês Jan Dibbets.
Entre as exposições institucionais mais recentes de Cristina Canale estão as mostras individuais no Instituto Figueiredo Ferraz em Ribeirão Preto (2013), no Paço Imperial no Rio de Janeiro (2015) e no Kunstforum Market em Hamburgo (2015).
Daniel Feingold no MON, Curitiba
A exposição Acaso Controlado foi montada pela primeira vez no Museu de Arte Moderna do Rio do Janeiro (MAM Rio) em 2013. O artista Daniel Feingold e a curadora Vanda Klabin selecionaram 22 obras do artista, em grandes formatos, e uma série fotográfica com 32 peças para compor a mostra.
Na primeira exibição, Acaso Controlado foi um dos destaques do MAM no ano de 2013. Agora o Museu Oscar Niemeyer em Curitiba, (MON) recebe a mostra, que ocupa a sala 2 do MON. A curadora e o artista dividiram a sala em 4 ambientes distintos, criando um ambiente individual para cada série. No primeiro espaço, são apresentados três obras históricas, entre elas, o tríptico Grid# 02, que fez parte da Bienal do Mercosul, seguidas de outras duas obras da série “Espaço Empenado”, dando um caráter retrospectivo da carreira de Feingold.
Nas salas seguintes são apresentados quatro pinturas da série “Estrutura” que medem até dois metros e oitenta cada, são dípticos, em esmalte sintético, cada um com uma paleta reduzida de cores, enfatizando as questões: estrutura, plano e cromatismo.
A série negra, que o artista chama de Yahweh (Javé) leva o nome do Deus judaico do Antigo Testamento e é composta por 6 telas em grandes formatos, pintadas em preto sobre branco, na posição vertical e, depois, unidas na horizontal, formando dípticos de grandes dimensões. Essa série marca um novo ciclo de trabalhos do artista.
Fechando a exposição, são mostradas29 fotografias da série "Homenagem ao Retângulo", feitas no Jardin des Plantes, em Paris. As fotografias dessa série são abstrações geométricas feitas a partir de troncos de árvores secas, que o artista descreve como uma maneira de reestruturar o espaço, contradizendo a situação arquitetônica. Essa série integra a mostra um espaço mais ágil, as 29 fotografias são montadas em grupos que podem variar conforme o espaço disponível para exibição. Sendo assim, a cada montagem, a sala das fotografias se mostra diferente, sempre mutante e dinâmica.
As fotografias, assim como as pinturas que compõe Acaso Controlado, possuem flexibilidade de adaptação ao espaço ocupado em cada mostra, podendo variar em numero de obras de acordo com a demanda espacial de cada local expositivo.
“A fotografia para Feingold é um modo de apreensão do real e o eixo condutor do seu aparelho sensível e perceptivo”, comenta a curadora.
Para Juliana Vosnika, diretora-presidente do Museu Oscar Niemeyer, “oferecer ao público a oportunidade de conhecer obras emblemáticas da produção de Daniel Feingold, artista carioca que já tem seu nome estabelecido nas artes visuais brasileiras atende o nosso propósito de disseminar a cultura e acrescentar mais informações ao repertório do nosso visitante.”
Processo de criação
Daniel Feingold trabalha com esmalte sintético escorrido, e a pintura acontece neste processo, quando a geometria organiza o olhar na apreensão do movimento dos planos. A articulação da grade geométrica é atingida pela fluência do esmalte sintético escorrendo na tela sem que o artista interfira no seu movimento. O controle surge pela combinação da espessura da tinta com a precisão obtida pelo ritmo e quantidade despejada. Não há fitas separando os campos de cor, não há pincel, rolo ou espátula.
Feingold revela o seu enfrentamento direto com a pintura por meio da execução de unidades de grande escala. A exuberância da matéria combina um sistema pictórico com conceitos críticos, com o repensar a arte, seus limites, suas inquietações. O seu trabalho pulsa, irradia-se para as bordas e margens em formas ondulantes, fluidas, sempre materializando um novo gesto.
O Secretário de Estado da Cultura do Paraná, João Luiz Fiani, ressalta que “o Museu Oscar Niemeyer está atento com o que acontece no mundo, essa contemporaneidade é muito importante, e trazer as obras do Daniel Feingold é fundamental para que o museu se firme cada vez mais como espaço expositivo atualizado. É um artista de grande categoria e isso só vem enaltecer o trabalho do museu”.
Daniel Feingold, nascido no Rio de Janeiro, em 1954, formou-se em Arquitetura na FAUSS, RJ 1983. Estudou História da Arte e Filosofia com o crítico de arte Ronaldo Brito, UNIRIO/PUC 1988-1992; Teoria da Arte & Pintura e Núcleo de Aprofundamento, EAV Parque Lage, RJ 1988-1991; Mestrado no Pratt Institute, NY 1997.
setembro 18, 2016
Giselle Beiguelman na Caixa Cultural, São Paulo
Exposição de Gisellle Beiguelman na Caixa Cultural discute estética da obsolescência e fraturas das paisagens urbanas
Vídeos e instalações de Gisele Beiguelman fazem o espectador viajar pelo tempo entre a “paleoweb” e o pós-cinema, e suas imagens entre o Low-tech e o Hi-tech.
A Caixa Cultural São Paulo apresenta, entre 16 de julho e 25 de setembro de 2016, a exposição Cinema Lascado, que faz um recorte dos últimos 10 anos de produção da artista e pesquisadora Giselle Beiguelman, um dos principais nomes nacionais e internacionais de artemídia. Sob curadoria de Eder Chiodetto, a mostra é composta por vídeo instalações, projeções e 22 imagens inéditas, resultantes de suas pesquisas sobre imagem digital, estéticas da obsolescência tecnológica e paisagens urbanas arruinadas. A entrada é franca e o patrocínio é da Caixa Econômica Federal.
Utilizando-se de softwares, ferramentas e aparatos eletrônicos de várias gerações, a produção de Giselle Beiguelman problematiza a tecnologia no campo estético. Seus vídeos fazem o espectador viajar pelo tempo entre a “paleoweb” e o pós-cinema, e suas imagens entre o Low-tech e o Hi-tech. São viagens por paisagens urbanas que choram, que explodem, que passam rapidamente pelos olhos e se fixam na memória, que discutem, em paralelo, ainda, o consumo desenfreado de tecnologia e a obsolescência programada.
"Cinema Lascado", obra que dá nome a mostra é um projeto marcado pelo acidente e pela busca de estéticas capazes de dar conta de cicatrizes urbanas provocadas por intervenções públicas na paisagem das cidades. Com uma câmera de vídeo, a artista captou paisagens urbanas devastadas, onde vias elevadas, como o Minhocão, em São Paulo, e a extinta Perimetral, no Rio de Janeiro, produzem fraturas sociais e cicatrizes no tecido urbano e simbólico dessas cidades. Editando os vídeos gravados em HD através de antigos programas de animação de imagem e criação de site, hoje obsoletos, a artista explora as estéticas das ruínas tecnológicas e do ruído do processamento maquínico (Glitch), criando obras que transitam entre e o hi e o low-tec, o acidente e o projeto, a intensidade da cor e a pretensa assepsia dos meios digitais. Apresentadas em formato inédito, as videoinstalações "Cinema Lascado - Minhocão" (2010) e "Cinema Lascado -Perimetral" (2016), permitem o espectador vivenciar escombros e percursos impossíveis, como estar, simultaneamente, em cima e embaixo do Minhocão, ou passear pela Perimetral, ao mesmo tempo em que assiste sua implosão.
A ponte aérea entre São Paulo e Rio de Janeiro é o tema do vídeo "CDH-SDU" gravado com celular durante decolagens e aterrissagens nos aeroportos de (Congonhas, CGH) e Rio de Janeiro (Santos Dumont, SDU). Apesar da paisagem ser reduzida a elementos mínimos informativos, as cores dominantes e o som convertem o movimento em texturas e volumes modulados pela luz, despertando os sentidos do espectador que logo é arrebatado ao trajeto ao reconhecer os áudios de comando das chefes de cabines dos voos.
A série de vídeos "Fast/Slow Scapes" (2006) foi gravada com alguns dos primeiros modelos de celulares com câmera acoplada, entre 2005 e 2006. São vídeos curtos gravados sempre de dentro de carros, táxis, barcos, trens e ônibus, como diários de viagens de cidades como São Paulo, Belo Horizonte, Berlim, Nova York e mar Egeu (Grécia), que registram experiências nômades mediadas pelo terceiro olho ciborgue da câmera de celular.
Ainda explorando paisagens urbanas e experimentando sua desordem como paradigma essencial para fruição, a série inédita "Paisagens Ruidosas" (2013-2016) investiga estéticas do ruído, em particular o glitch, e os modos pelos quais dialoga com espaços fragmentados e as experiências que temos das fraturas urbanas.
Em uma homenagem ao cineasta Michalangelo Antonioni e ao filme "Deserto Rosso" (1964), seu primeiro filme fotografado em cores, Giselle exibe em série homônima 12 imagens que através de processos de corrupção de seu código original registram a descartabilidade dos equipamentos digitais e as suas relações com as dificuldades de comunicação.
Giselle Beiguelman, artista e professora da FAU-USP, é um dos principais nomes internacionais da artemídia. Nos últimos anos, tem se concentrado em uma vigorosa pesquisa poética sobre a imagem e suas transformações.
Eder Chiodetto é um dos principais curadores do Brasil e um dos nomes referenciais do debate e da produção imagética contemporânea. Autor de diversos livros premiados, foi curador de "Geração 00: A Nova Fotografia Brasileira" (Sesc Belenzinho, 2011) e "O Elogio da Vertigem: Coleção Itaú de Fotografia Brasileira" (Maison Europeénne de la Photographie, Paris, 2012), entre outras.
setembro 17, 2016
Maurício Adinolfi na Ponta da Praia, Sesc Santos, Cine Arte Posto 4 e MISS, Santos
Governo do Estado de São Paulo, Secretaria da Cultura, Sesc-Santos, Cine Arte Posto 4 e o Museu da Imagem e do Som Santos apresentam, a partir de 24 de setembro, das 14h às 18h, o projeto Calado do Cais, do artista Maurício Adinolfi.
O projeto, que consiste em uma instalação artística e uma série de curta-metragens, tem como eixo central dois barcos de madeira tradicionais da cultura caiçara. As embarcações são retrabalhadas pelo artista e instaladas (semi-enterradas) na areia da Ponta da Praia, em frente a ETEC "Dona Escolástica Rosa”, em direção ao canal de entrada do Porto de Santos/SP. A instalação parte da reflexão sobre o resíduo das intervenções urbanas e naturais, contrapondo poeticamente barcos tradicionais de madeira que relutam em existir à expansão portuária e à escala das grandes embarcações que adentram o porto de Santos, discutindo o processo de urbanização, a diminuição do espaço de areia da praia e a disputa entre cidade e mar.
Ainda refletindo sobre a memória, a tradição, a história da cidade e sua relação com o porto e o mar, o artista lança o curta-metragem "Macuco" (20 min.) e exibe os "Vídeos Calado do Cais", uma série de mini documentários. "Macuco" é um vídeo experimental que trata da relação humana com o mar. Filmado no litoral da baixada santista, entre barcas, catraias e navios, tem como protagonistas: um homem e uma mulher, um túnel, a chuva e o oceano. A estréia do filme acontece na quinta-feira 27/09, às 21h, seguida de conversa com o artista, no Cine Arte Posto 4. No dia posterior, o Museu da Imagem e do Som de Santos faz uma exibição especial do filme, às 20h. Após um híato de duas semanas, a obra volta a ser exibida em 11/10, com sessões às 16h; 16h30; 17h; e 17h30, no Cine Arte Posto 4.
A mostra de vídeos do projeto Calados do Cais é exibida no Sesc Santos em televisores espalhados pela unidade. Os vídeos reunem mini-documentários, vídeos de performance e curtas que apresentam diferentes trabalhos do artista Maurício Adinolfi, nos quais o mar está sempre presente. Em 05/10, às 19h30, o Sesc sedia uma conversa aberta ao público entre o artista e o curador Josué Mattos. A fala é seguida de apresentação do curta-metragem "Macuco". Este projeto foi selecionado através do ProAC 2015.
Gabriela Machado na Marcelo Guarnieri, Rio de Janeiro
Artista apresentará 30 trabalhos inéditos na Galeria Marcelo Guarnieri, feitos este ano, em Nova York e no Rio de Janeiro, onde produziu uma pintura por dia, tendo como inspiração a paisagem do entorno
A artista Gabriela Machado passou 20 dias em uma residência artística nos Hamptons, em Nova York, em junho deste ano, onde se propôs a produzir uma pequena pintura a cada dia, inspirada na paisagem ao redor. O resultado deste trabalho será apresentado na exposição Gabriela Machado – Pequenas Pinturas, a ser inaugurada no dia 24 de setembro, na Galeria Marcelo Guarnieri. Junto com os trabalhos produzidos em Nova York, estarão tambémdez obras da mesma série, feitas no Rio de Janeiro após a residência, mostrando como o lugar influencia no fazer artístico. Todos os trabalhos são inéditos.
Conhecida por suas pinturas em grandes formatos, em que coloca painéis no chão e pinta com movimentos rápidos, andando sobre a tela, em um forte trabalho corporal, Gabriela Machado sempre produziu pequenas pinturas, mas estas foram poucas vezes mostradas ao público. “A pintura grande é uma projeção do corpo, entenderaquela área e ocupá-la. A pintura pequena é mais de observação, de pulso, onde a pincelada define a pintura. A tinta, o fazer, te levam para outro lugar, definem como será aquele trabalho”, explica a artista.
Gabriela Machado, que foi convidada por Christina Macdonald para a residência artística “Furtheronair”, passava os dias em uma casa de frente para um grande lago produzindo suas obras, quase como um diário, tornando o ato de pintar algo contínuo. “Fiquei sozinha, em contato direto com a natureza, trabalhando o dia todo, tendo como inspiração a linda paisagem ao redor”, conta a artista, que chamou a série de “Hamptons”, em homenagem ao lugar. “Esta é uma exposição de reflexão”, diz.
De volta ao Rio de Janeiro, Gabriela Machado continuou pintando obras da série, tambémem pequenos formatos, em seu ateliê no Horto. “As cores mudaram completamente. A luz aqui é mais estourada, então as pinturas possuem cores mais fortes, como o vermelho. Lá, os tons são mais pasteis, a luz é menos intensa e é possível ver mais os detalhes”, explica a artista.
A exposição terá 20 trabalhos produzidos nos Hamptons, em Nova York, e dez produzidos no Rio de Janeiro. As pinturas da exposição serão todas em pequenos formatos, com tamanhos que variam entre 28cmX36cm e 20cmX30cm, e foram produzidas este ano, em tinta a óleo sobre linho.
Gabriela Machado (Santa Catarina, 1960) é formada em arquitetura e urbanismo pela Universidade Santa Úrsula. Estudou gravura, pintura, desenho e teoria da arte na Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Sua mais recente exposição individual foi “Thingsthatfit in myhand”, de maio a julho deste ano, no MAM Rio. Atualmente, participa das coletivas “Em Polvorosa – Um panorama das coleções do MAM Rio”, no Rio de Janeiro, e “Projeto Auroras – Pequenas Pinturas”, em São Paulo.Ainda este ano, realizou a mostra “Bicho Solto”, na Galeria Marcelo Guarnieri, em Ribeirão Preto. Anteriormente, participou da coletiva “Múltiplos” (2015), do projeto Carpe Diem – Arte e Pesquisa, no Palácio das Artes, em Lisboa; “Para o pequeno lago verde” (2014), no Museu do Açude, Rio de Janeiro; o trabalho “Caderno” (2014), no Oi Futuro Flamengo, e a mostra “Rever”, no Paço Imperial (2012), no Rio de Janeiro.
Ganhadora do prêmio “Mostras de artista no exterior”, do Programa Brasil Arte Contemporânea, da Fundação Bienal de São Paulo (2010), em 2011 realizou a exposição “Os Jardins de Lisboa em Gabriela Machado”, na instituição Carpe Diem, em Lisboa. No mesmo ano, participou da coletiva II Mostra do Programa Anual de Exposições do Centro Cultural São Paulo. Em 2010, participou da mostra “Coisário Cassino Museu”, onde exibiu as duas obras doadas ao Museu da Pampulha através do Prêmio Marcantonio Vilaça de Artes Plásticas. Em 2009, realizou a exposição “Doida Disciplina”, na Caixa Cultural do Rio de Janeiro e de São Paulo. Em 2008, foi contemplada com o Prêmio Marcatonio Vilaça em aquisição coletiva da Fundação Ecco, Brasília.
Dentre suas exposições individuais destacam-se ainda a mostra “Desenhos”, no CCBB Rio (2002); as exposições no Centro Universitário Maria Antônia (2002), em São Paulo, na NeuhoffGallery de Nova York (2003), e no Largo das Artes (2007), no Rio de Janeiro; e o “Projeto Macunaíma” (1992), na Funarte, no Rio de Janeiro. Das exposições coletivas destacam-se: “Desenho Contemporâneo” (2002), no CCBB São Paulo e na CaelumGallery, em Nova York; “Novas Aquisições Coleção Gilberto Chateaubriand” (1998), no MAM Rio; a mostra no Paço Imperial (1998), no Rio de Janeiro; 1ª Bienal Nacional da Gravura (1994), em São Paulo; a mostra no Centro Cultural São Paulo (1993); X Bienal do Desenho de Curitiba (1991); Projeto Macunaíma (1992/1990), na Funarte, no Rio de Janeiro, entre outras.
O trabalho de Gabriela Machado está presente em importantes coleções brasileiras, como as de Gilberto Chateaubriand/MAM Rio de Janeiro, José Mindlin, George Kornis, João Carlos Figueredo Ferraz, Charles Cosac, Museus Castro Maya, Instituto Brasileiro de Arte e Cultura, Centro Cultural Cândido Mendes, Fundação Catarinense de Cultura (MASC), Fundação ECCO, do Museu de Arte da Pampulha, e do Centro Cultural São Paulo. Faz parte também da coleção da Squire, Sanders&Dempsey (Arizona, EUA), Arizona StateUniversityArtMuseum (Arizona, EUA) e Ted G. Decker (Arizona, EUA).
Z42 Arte - Novo centro cultural é inaugurado no Rio de Janeiro
Exposição “A Máquina do Mundo” marca abertura do espaço, que tem 1500 m2, cinco salas expositivas, ateliês de sete artistas visuais, a coleção de Fábio Szwarcwald e a redação da Santart
No próximo dia 24 de setembro, o Rio de Janeiro ganhará um novo espaço dedicado às artes visuais, a Z42 Arte. Localizado em uma linda casa dos anos1930, no Cosme Velho,ao lado do acesso ao Corcovado, o espaço, de 1500 metros quadrados, terá cinco salas expositivas climatizadas, totalmente preparadas para receber as mais diversas obras de arte, além de abrigar ateliês de sete artistas visuais, a importante coleção de Fábio Szwarcwald e a redação da SANTART, publicação de artes visuais premiada no Benny Awards (Chicago, 2013) como a melhor do mundo no segmento fine art.Todos os espaços serão abertos para visitação.
“A Z42 é um espaço de arte e pensamento, um misto de galeria de arte e ateliês de artistas. É um polo de cultura, vivo, pulsante, com uma programaçãoqualificada, onde o público terá a oportunidade de ter contato direto com os artistas em seus ateliês”, diz Eduardo Lopes, diretor da Z42 Arte.
A exposição inaugural, A Máquina do Mundo, com curadoria Sérgio Mauricio Manon e Clara Reis, editores da SANTART, ocupará as cinco salas expositivas no térreo, com 26 obras, dentre esculturas, fotografias, pinturas e instalações, de 22 artistas: Anthony Goicolea, Cadu, Charlie White, Conrad Schawcross, Erwin Wurm, Henrique Oliveira, Isaque Pinheiro, João Castilho, Jorge Barata, José Bechara, Katia Wille, Leda Catunda, Marcio Atherino, Maria Lucia Fontainha, Mariana Palma, Mauro Piva, Reginaldo Pereira, Rodolpho Parigi, Rona, Sergio Mauricio, Talitha Rossi e Walmor Corrêa.
“A experiência da ‘Máquina do Mundo’ vai além de uma exposição convencional nas galerias expositivas. Todos os espaços da Z42 Arte foram concebidos como ambientes para mostras - afim de convidar o expectador para uma imersão artística. Os sete artistas residentes vão apresentar uma montagem especial em seus ateliês, batizada de ‘Universos Paralelos’ e o espaço do colecionador FabioSzwarcwald vai abrigar uma mostra do projeto Aurarte”, contam os curadores.
O nome da mostra surgiu do poema de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e também do capítulo que leva o mesmo nome em “Os Lusíadas”, do poeta português Luís Vaz de Camões (1520-1580). “O resultado é uma narrativa poética que mescla o verbo e as imagens, na tentativa de capturar o espírito do tempo”, explicam os curadores. Há cinco meses, os artistas,os curadores e convidadosse reúnem para leituras constantes dos poemas. A partir dessa experiência foi realizado um recorte curatorial, que mescla os artistas da coleção de Fabio Szwarcwald com os artistas residentes: Jorge Barata, Katia Wille, Maria Lucia Fontainha, Marcio Atherino, Rona, Sérgio Mauricio Manon e Talitha Rossi.
“Nos inspiramos nos poemas de Carlos Drummond de Andrade e Camões e na fortuna crítica sobre eles. É como se os dois grandes poetas da língua portuguesa fossem uma espécie de ‘curadores imaginários’. Afim de trazer o tempo poético para o processo criativo da mostra, organizamos rodas de leitura e análises sobre os poemas entre os artistas”, contam os curadores Sérgio Manon e Clara Reis. Cada obra será acompanhada de um pequeno texto curatorial, que “dará um retrato de nossa época”.
Sergio Mauricio Manon, participou com coletivo Rádio Novela na Mostra iconográfica Como vai você geração 80 e de diversas exposições individuais e coletivas ao longo dos anos 1990 e 2000. Realizou como curador diversas exposições, inclusive a Mostra Geração Digital no Museu de Belas Artes em 2001. Em 2008 criou a revista SANTA ART MAGAZINE e até aqui publicou 10 edições, 170 artistas, 140curadores e pensadores e em 2013 ganhou o prêmio BennyAwards - Best ofcategorywinner, The Premier Print Awards, como melhor publicação de arte do mundo.
Clara Reis é jornalista, sócia e editora adjunta da SANTART que até aqui publicou 10 edições, 170 artistas, 140curadores e pensadores e em 2013 ganhou o prêmio BennyAwards - Best ofcategorywinner, The Premier Print Awards, como melhor publicação de arte do mundo. Colaborou com publicações como BazaarArt, The Beach, Time Out, Vogue Brasil, GNT, Radar55 e é co autora do livro Anônimos + Famosos (Arte e Ensaio, 2014).
ATELIÊS ABERTOS
Paralelamente à exposição, os ateliês dos sete artistas visuais da Z42 Arte,abrigarão exposições individuais e estarão abertos para visitação. Com isso, o público poderá ter acesso ao universo paralelo de cada artista. “Será possível ver as obras na exposição coletiva e depois subir para conhecer um pouco mais do universo do artista, e sua forma de criação”, ressaltam os curadores.
HISTÓRIA DA CASA
A casa que hoje abriga a Z42 Arte foi construída pelo engenheiro Raimundo Bezerra Santiago, na década de 1930, para ser sua residência. Depois disso, foi moradia de um cônsul japonês e pertenceu à família Laura Alvim. Comprada por Ahmad Moukhtar Zein, passou a ser sede da construtora Zein. Após a mudança da empresa para o centro da cidade, até passar a abrigar a Z42 Arte. O espaço passou por uma grande reforma para poder ser um espaço cultural,sonho antigo de Zyan Zein, sócia do espaço.
A imponente fachada de pedra esconde um lindo espaço interno, com portas trabalhadas em ferro, além de uma linda escadaria curva, com grades também em ferro trabalhado. Três grandes vitrais acompanham o percurso do visitante rumo ao segundo andar do casarão. Há, ainda, um pátio interno.
Z42 é um espaço inovador dedicado às artesvisuais em suas mais variadas vertentes, linguagens e pensamentos. Localizada em uma casa de arquitetura eclética dos anos 1930, com 1.500 m2, abriga sete ateliês, cinco espaços expositivos, a coleção particular de Fabio Szwarcwald, além de um auditório e a redação da SANTART.
setembro 15, 2016
Exposição de arte contemporânea reunindo dez artistas brasileiros inaugura a Sem Título Galeria, Fortaleza
Ao trazer o corpo para a discussão, precisamos, entre outros aspectos, considerá-lo pelas relações de que é capaz de gerar. Em profunda cumplicidade com a vida, o corpo salta e se desprende de sua identidade, pronto para a criação de outros contornos e modos de existir. Ele é babel, invenção, sujeito e objeto... Traz em si uma ambiguidade constitutiva de nossa experiência como carne reversível e organismo mutante.
Corpo e desconstrução são questões da exposição Em Desalinho, cuja curadoria é assinada por Ana Cecília Soares e Júnior Pimenta, e inaugura um novo espaço de arte em Fortaleza, a Sem Título Galeria.
Em Desalinho nos apresenta poéticas de artistas que se encontram pelas distintas possibilidades de olhar e pensar o corpo no contexto contemporâneo: a tensão entre a presença e a ausência, as questões de gênero, a nova tentativa de configurar a corporeidade, desfigurá-la e fazê-la ressurgir sob outra forma.
Em meio a tal conjuntura, deparamo-nos com trabalhos em incessante transcurso de desnaturalização daquilo que está posto ou firmado. Assim, sobressaem-nos figuras que despontam entre a sombra e a luz, o real e o fantástico, o grotesco e o fascínio. Pelos traços minuciosos de Ingra Rabelo e José de Arimatéa, seres escorrem para fora de si, exibindo-se desafiantes e dilatando o olhar.
Mais adiante, Luiza Veras, Gilvan Barreto e Jas-One dão continuidade ao diálogo, brandindo fisionomias contorcidas e desagregadas que buscam meios de se reinventar a partir de singularidades perturbadoras em furor aos modelos de corpos perfeitos. Na poética de Yuri Firmeza, a corporeidade ganha nova esfera, parece mergulhar numa tentativa de resistir ao esquecimento, embora, sujeito ao esvaecer fadário no que se refere à existência de uma imagem. Metáfora à memória que resiste ao tempo e a própria morte.
As obras de Dalton Paula, Célio Celestino, Henrique Viudez e Maurício Coutinho reverberam (des)construções de infinitas identidades e maneiras outras de existir. O que faz com que as coisas sejam como são? Somos interpelados quando confrontados com as poéticas desses artistas. As representações existem porque alguém as criou. E se alguém as produziu é porque podem também ser desconstruídas. Na arte como na vida vivemos esse movimento de reestruturação.
Na exposição Em Desalinho, o corpo é residência precária e transitória, habitada em seu todo ou em fragmentos, imersa na enxurrada do tempo e das coisas. Melhor dizendo, nas palavras de Deleuze sobre o artista Francis Bacon, “a figura não é apenas o corpo isolado, mas o corpo deformado que escapa...”.
Em Desalinho será aberta ao público no dia 23 de setembro, às 19 horas, na Sem Título Galeria (rua João Carvalho, 68). Durante os meses de exposição, de setembro a dezembro de 2016, serão realizadas conversas com os artistas envolvidos, mediadas por pesquisadores; minicursos; mostras de vídeo com o mesmo recorte curatorial e visitas guiadas.
Sobre a Sem Título Galeria
Quando um novo espaço de arte surge na cidade são novos modos de existir que passam a habitar o território. Tal um vaga-lume na paisagem e seus pequenos lampejos, um campo aberto para a aventura do pensamento, do sensível e dos jogos de afetos. O filósofo e historiador francês Michel de Certeau partilha da concepção de que “praticamos o espaço”. Praticar o espaço é repetir as experiências de infância. É, naquele lugar, ser outro e passar ao outro e ao outro... E assim se tornar múltiplo.
A Sem Título Galeria se propõe a ser esse espaço de engajamento no presente, de reunir em trocas e intercâmbios artistas visuais, realizadores e curadores, pensadores e os moradores da cidade de Fortaleza. São encontros que vão se dando através da produção e circulação da Arte Contemporânea; das exposições articuladas ao trabalho de curadores; da composição de grupos de estudos para refletir sobre questões do contemporâneo,- o inatual de pertencer e não pertencer ao seu tempo; dos workshops e cursos que fortaleçam a produção do pensamento e criação em arte.
Sem Título vem de uma ideia que não carrega em si a preocupação de tudo nomear ou classificar. O fazer artístico é assim entendido como um gesto de observar o mundo e dele extrair e criar fissuras, um exercício do olhar que é político, ético e estético. Sob a direção da pesquisadora e artista visual Elizabeth Guabiraba, o espaço se abre à cidade fortalecendo um cenário de formação e incentivo à produção de arte tão necessário aos nossos tempos.
setembro 14, 2016
Rochelle Costi na Anita Schwartz, Rio de Janeiro
Anita Schwartz Galeria de Arte apresenta de 21 de setembro a 3 de dezembro de 2016 a exposição Contabilidade, com trabalhos recentes e inéditos de Rochelle Costi, celebrada artista nascida em 1961, em Caxias do Sul, e radicada em São Paulo. Os trabalhos ocuparão todos os espaços expositivos da galeria do Baixo Gávea, no térreo e no terceiro andar, na maior individual da artista na cidade, e a primeira na Anita Schwartz Galeria de Arte. O texto crítico é de Bernardo Mosqueira.
Em mais de trinta anos de trajetória, com presença em exposições importantes como o Panorama da Arte Brasileira (1995), VI e VII Bienal de Havana (1997, 2000), II Bienal de Fotografia de Tóquio (1997), XXIV e XIX Bienal de São Paulo (1998 e 2010), II Bienal do Mercosul (1999), Bienal de Pontevedra (2000) e Bienal de Cuenca (2009), Rochelle Costi só fez duas mostras individuais no Rio de Janeiro.
Na exposição “Contabilidade”, sua primeira individual na Anita Schwartz Galeria de Arte, Rochelle Costi optou por retomar a instalação homônima elaborada no início de 2016 para a 20ª Bienal de Arte Paiz, na Cidade de Guatemala, além de reunir um conjunto de trabalhos inéditos formado por um tríptico fotográfico, um vídeo, a ser projetado na grande parede do térreo da galeria, com onze metros de comprimento e mais de sete metros de altura, um GIF e uma instalação de parede formada por mais de 200 corações de diversos materiais e origens, coletados pela artista nos últimos 23 anos.
A instalação “Contabilidade”, que é composta por um vídeo, cinco fotografias em grande formato e dezenas de bolas de borracha feitas artesanalmente, nasce exatamente da fascinação da artista pela cultura popular. Nesse caso, a instalação foi desenvolvida a partir de uma vivência na Cidade de Guatemala para a 20ª Bienal de Arte Paiz. Nos trabalhos de Rochelle podemos perceber um interesse recorrente sobre a diversidade das “formas de mostrar” da cultura popular. Bernardo Mosqueira destaca que “muitas vezes, suas obras são a transposição para o contexto institucional da arte contemporânea das soluções expositivas do repertório popular”. “No caso de ‘Contabilidade’, não apenas a diversidade dos objetos da cultura tradicional local pode estar fadada ao fim ou à adequação ao gosto dos turistas consumidores diante da globalização, mas também a forma singular de expor os objetos pode ser transfigurada. Mais uma vez, está presente a pesquisa da artista sobre a relação entre a representação e a ação do tempo sobre as identidades, mas essa série de fotos nos faz lembrar, também, que o trabalho de Costi é muito ligado ao interesse na experimentação das formas de expor e de ocupar o espaço”, destaca ele.
O crítica explica que “o interesse de Rochelle Costi pelo humano, e por aquilo que ele escolhe para lhe cercar, se manifesta não apenas nos resultados de seus trabalhos, mas, também, na importância do colecionismo para a dinâmica de seu processo criativo”. “A artista, desde a infância, coleta objetos do mundo, organizados em conjuntos definidos por complexidades das mais variadas, e permite que eles a cerquem até o dia em que se transformam em outras coisas, outros grupos, ou em trabalhos”. Foi assim que nasceu “Coleção de artista”, o conjunto de corações presente na exposição “Contabilidade”, em construção há mais de 23 anos. “Há algo muito singular sobre este trabalho: o coração, que todo humano carrega dentro de si, é provavelmente o símbolo mais prolífica e diversamente representado. A força dessa coleção está no fato de que, ao mesmo tempo em que cada um deles pode representar a unidade humana, pode representar também aquilo que nos une uns aos outros”, observa Bernardo Mosqueira.
SOBRE A ARTISTA
Uma das mais respeitadas do cenário contemporâneo, Rochelle Costi tem forte presença em mostras no Brasil e no exterior, sendo bastante atuante no circuito internacional da arte. Alguns destaques dessas mostras são a individual “Reprodutor”, realizada este ano paralelamente à exposição “Double Take: Drawing and Photography”, na The Photographers' Gallery, em Londres, e sua participação em várias edições de Bienais: 20ª Bienal de Arte Paiz, Ciudad de Guatemala (2016); 29a Bienal Internacional de São Paulo (2010); X Bienal de Cuenca, Equador (2009); I Bienal del Fin del Mundo, Ushuaia, Argentina (2007); Rede de Tensão: Bienal 50 Anos. Fundação Bienal de São Paulo (2001); VII Bienal de La Habana; XXVI Bienal de Pontevedra, Espanha; Mostra do Redescobrimento: Brasil 500 anos. Fundação Bienal de São Paulo; Bienal Internacional de Fotografia da Cidade de Curitiba (2000); II Bienal do Mercosul, Porto Alegre (1999); XXIV Bienal Internacional de São Paulo; II Tokyo Photography Biennale, Metropolitan Museum of Photography, Tóquio e VI Bienal de La Habana, Havana (1998), dentre muitas outras importantes exposições. Em 2010 foi premiada com uma residência artística na WBK Vrije Academie, em Gemak, Holanda, e seu trabalho integra importantes coleções, como Caixa Geral de Depósitos, Lisboa; Centro Gallego de Arte Contemporáneo, Santiago de Compostela, Espanha; Cisneros Fontanals Art Foundation, Miami, EUA; Coleção Centro de Arte Contemporânea Inhotim, Brumadinho, Minas; Coleção Itaú, São Paulo; Fonds National d’Art Contemporain, Marselha, França; Fundación Arco, Madri; Museum Moderner Kunst Stiftung Ludwig, Viena; Museum of Latin American Art, Long Beach, EUA; San Diego Museum of Contemporary Art, La Jolla, EUA; Pinacoteca do Estado, São Paulo; Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand; Museu de Arte Moderna de São Paulo; e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Ivan Grilo na Luciana Caravello, Rio de Janeiro
Com 12 obras inéditas, Ivan Grilo inaugura, no próximo dia 20 de setembro, na Luciana Caravello Arte Contemporânea, a exposição Preciso te contar sobre amanhã.
Logo ao entrar na Galeria, o visitante vai se deparar com duas placas – uma virada para quem entra, e outra para quem sai: “como se a exposição tivesse algo a falar para o mundo, e o mundo tivesse algo para contar à exposição”, explica o artista.
A exposição não tem a pretensão de prever o futuro, mas quer apontar as possibilidades que podemos seguir. Ivan quer falar de encontro, de quando você liga para uma pessoa querida e diz que precisa falar sobre como vai ser o dia seguinte, o dia que vocês vão se encontrar.
“Talvez não seja mais o momento de ficar apenas olhando todas as chagas da nossa história, e não pensarmos no que vem depois de hoje. Talvez seja o momento de imaginar as novas direções, e não somente, mas apontar as pequenas vitórias do passado, de gente, como Dandara e Chico Rei, que já começaram a criação desse novo mundo, que há de chegar. Está chegando”, diz.
Chico Rei, um rei que veio escravizado do Congo e conseguiu comprar sua alforria e a de muitos outros com o ouro que tirava escondido em seu cabelo da mina de Ouro Preto, onde trabalhava e voltou a ser coroado. Nesse trabalho é usada em uma foto, onde Ivan pintou pontinhos dourados, como se fossem as estrelas da Bandeira Nacional no céu do Rio de Janeiro em 1889.
Mas o que interessa ao artista é a constelação Cruzeiro do Sul, utilizada como orientação no hemisfério sul, além da bandeira branca, que no ocidente é facilmente associada à paz, mas para os povos antigos, ainda nômades, principalmente em Angola, mostrava o destino que deveriam seguir. Ao fincá-la na terra, para onde ela apontasse era a direção que deveriam seguir. “A bandeira branca há de nos apontar a nova direção”, diz Ivan.
Há também uma instalação dedicada às heroínas que pensaram a liberdade, as heroínas que não são um pó branco. São exatamente o contrário.
Ivan quer que se abram portas e janelas e deixe que o tempo mostre a direção a seguir. E, numa proposta para se voltar à terra, ele plantou uma horta nos jardins da Galeria, em um “paisagismo comestível”. Tem berinjela, almeirão roxo, tomate, funcho, abobrinha e capuchinha. “No metro quadrado mais caro da cidade, vamos gerar comestíveis e não apenas especulação”, diz.
Pablo Lobato no MAR, Rio de Janeiro
O Museu de Arte do Rio – MAR, sob gestão do Instituto Odeon, apresenta a primeira exposição individual do mineiro Pablo Lobato na cidade. Com cerca de 50 obras, Da natureza das coisas – Pablo Lobato convida o público a uma reflexão sobre a constituição das coisas e das imagens, atentando para as singularidades de suas “naturezas”. São vídeos, fotografias, instalações, objetos e uma publicação que traduzem o desejo do artista em lidar com a imanência e a experiência das coisas em estados de menor intervenção e manipulação pelo outro, lançando um olhar que desconstrói fluxos, dinâmicas e situações do cotidiano às quais estamos acostumados. As obras propõem cortes – físicos, simbólicos, políticos e espaço-temporais que buscam “liberar sentidos”.
Para tanto, o artista problematiza as ideias de temas, narrativas ou vocações de totalidade. Pablo Lobato explora a linguagem do cinema sem ter a ambição de contar histórias. Portanto, a intenção é aproximar o visitante de experiências que o levem a outras formas de perceber. Em uma das obras, a instalação Expiração, o artista cria uma espécie de máquina para expirar (desarquivar e excluir) imagens. Sabendo que as cenas deixarão de existir ao fim da exibição, o espectador tem sua capacidade de percepção aguçada e, com isso, se lança com maior radicalidade à experiência da imanência – até que reste apenas um único frame branco e a reflexão sobre o lugar da imagem no mundo.
Expandindo esse campo de investigação, Pablo apresenta RUA, pesquisa com fotografias que documentam pequenos arranjos criados organicamente nos interstícios dos dias das cidades, sem qualquer tipo de intervenção, como galhos que se amontoam após a chuva para criar instalações naturais ou ruinas que são resultado do tempo. Ao se apropriar dessas situações pré-existentes ao invés de optar por gestos definidores – e, por vezes, autoritários perante as especificidades da matéria –, o conjunto de imagens que compõe RUA questiona o papel do artista e do olhar, convidando o público a embarcar nessa reflexão por meio da publicação homônima ao projeto, bem como através de uma série de objetos que dele derivaram. Objetos que, com base em cortes e aproximações, apresentam uma nova perspectiva que vai além do interior das coisas: elas tensionam e rearranjam os gestos de ordenamento do mundo.
Por fim, Pablo Lobato se apropria do conceito de inframince, criado por Marcel Duchamp, para forçar o visitante a não só lidar com as faces que se apresentam horizontalmente como com a lateralidade das coisas, por menor que sejam – como a de uma folha de papel, por exemplo. Para isso, na série Frontlight, o artista fotografa outdoors por esse ângulo, transformando grandes estruturas em simples feixes de luz.
Com curadoria assinada por Clarissa Diniz, Da natureza das coisas – Pablo Lobato dá continuidade ao programa expositivo do MAR dedicado a artistas cuja obra é pouco vista no eixo Rio-São Paulo, advindos de contextos de pouca institucionalização e mercado, onde, portanto, a produção artística se dá como um corte na lógica social. Para marcar a abertura, Pablo Lobato e a curadora participam de uma Conversa de Galeria no dia 26 de abril, terça-feira, às 11h. A mostra fica em cartaz até 31 de julho no andar térreo do Pavilhão de Exposições.
setembro 13, 2016
Zip'Up: Thais Graciotti na Zipper, São Paulo
A travessia, estágio incerto na jornada entre um território e outro, é o tema da individual da artista Thais Graciotti na Zipper, que abre no dia 15 de setembro. Com curadoria de Isabella Lenzi, Quando linhas imaginárias entrecruzam latitude e longitude reflete sobre o enlace entre ficção e realidade nas narrativas de migração. A exposição integra o projeto Zip’Up, coordenado por Mario Gioia, dedicado a mostras experimentais e propostas curatoriais inéditas.
Na instalação principal desenvolvida para a sala superior da galeria, relatos de viajantes ou refugiados extraídos de obras clássicas da literatura ou colhidos pela própria artista aparecem em textos escritos com sal sobre placas de vidro. Apresentadas em diversos idiomas, as narrativas reais e fictícias são vistas ora em placas sobrepostas, ora isoladas, sugerindo uma aproximação entre as artes visuais e a literatura e uma multiplicidade de discursos.
Toda travessia envolve inúmeras motivações: o exílio, seja por imposição ou escolha; a aventura, o desejo e a esperança de uma vida melhor. Ao pedir para que viajantes traduzissem outros relatos para seus próprios idiomas, a artista reflete como tal diversidade de sentimentos se reflete no campo da linguagem. E, de modo análogo à contraposição entre as experiências vivida e relatada, a exposição também propõe um confronto entre a imprevisibilidade e fluidez do mar às formas geométricas rígidas das placas do vidro.
Thais Graciotti (Vitória, ES, 1979) tem a viagem como disparador para a produção de seus trabalhos, tendo como elementos básicos de investigação a ilha, o barco, a ficção e a literatura. Colagem, fotografia, vídeo, livro de artista e instalação são seus principais meios de expressão. Formação: Doutorado em Arte e Cultura Contemporânea (UERJ-RJ, 2014). Principais exposições individuais: "Relatos de uma ilha distante", Cartel 011, São Paulo (2016); "Trocas", Galeria Espaço Universitário, UFES, Vitória (2006). Principais exposições coletivas: "Formas de voltar para casa", Sala ao Lado, Vitória (2014); "Windshift ([artists in residency])", SÍM Gallery, Reykyavik, Islândia (2013); "Roupa de Domingo", Casa das Rosas, São Paulo (2011). Prêmios: Salão Anapolino de Arte (2015).
Isabella Lenzi é arquiteta formada pela FAU-USP e pela Universidade do Porto, Portugal. Possui pós-graduação em arte contemporânea, com especialização em fotografia, da Universitat Pompeu Fabra, Barcelona. Consultora Cultural do Consulado Geral de Portugal em São Paulo desde 2013, também integra o Núcleo de Programação da Associação Cultural Videobrasil. Gestora cultural, curadora, editora e pesquisadora, foi curadora da exposição “Desenho só desenho a – sós”, individual do artista português Fernando Lemos, além de assistente de curadoria dos Programas Públicos do 18º Festival de Arte Contemporânea Sesc Videobrasil, realizado no SESC Pompeia. Também foi assistente de curadoria da Galeria Vermelho, onde realizou diversas exposições, e antes disso foi assistente de curadoria de Agnaldo Farias na XI Bienal de Cuenca, Equador. Vive em São Paulo.
Flávia Junqueira na Zipper, São Paulo
Em Quando os Monstros Envelhecem, sua nova individual na Zipper Galeria, Flávia Junqueira apresenta trabalhos que refletem sobre seres e situações que assombram a infância e mantêm-se de alguma maneira vivos no imaginário adulto. Realizada simultaneamente à 32ª Bienal de São Paulo, a mostra inaugura na próxima quinta-feira (15) e reúne fotografias, objetos e instalações, entre elas o díptico que dá nome à exposição: retratos encenados da artista com o personagem Mickey em representações ambíguas sobre seu papel como figura presente nas fantasias infantis e adultas.
A individual trata também do lado perverso que rodeia o universo da criança e se expressa em circunstâncias inusitadas. Dois trabalhos dispostos logo na entrada da sala expositiva traduzem o espírito da mostra: ao lado de bandeirolas de festa com a frase “Não consigo respirar direito aqui. Posso sair?”, um cavalo de carrossel atravessado por um lança recebe o visitante. Ou, ainda, na lápide que ocupa o centro da exposição, onde se lê: “Pense como uma festa que um dia foi festa, mas que talvez tenha sido interrompida abruptamente e cujo espaço tenha ficado desabitado e esquecido”.
Se em mostras anteriores as obras apareciam mais uniformes, desta vez Flávia Junqueira reúne trabalhos em diversos suportes – fotografia, objetos e instalação – e utiliza formatos variados para compor uma narrativa coerente. Outra mudança é a forma como tal universo é retratado: “As séries atuais tratam da visão do adulto que está preso à criança, embora consiga ter algum distanciamento em relação a ela. Esse adulto não deixa de temer totalmente seus monstros, porém consciente de seu próprio envelhecimento, intui que tais monstros, agora obsoletos, também envelheceram, isso o possibilita talvez não se assustar mais”.
Os textos críticos da exposição são assinados por Mario Ramiro e Daigo Oliva.
Flávia Junqueira (São Paulo/SP, 1985) lida principalmente com fotografia. O universo visual da infância e a construção de um imaginário sobre este período permeiam a obra da artista desde o início de sua produção. Seus trabalhos constam em acervos como MAM-SP, MIS-SP, MAB-FAAP, Museu do Itamaraty, RedBull Station, World Bank, Instituto Figueiredo Ferraz entre outros. Mestre em Poéticas Visuais pela Universidade de São Paulo, e Bacharel em Artes Plásticas pela Fundação Armando Álvares Penteado, atualmente cursa Pós Graduação em fotografia na Fundação Armando Alvares Penteado e cursa Doutorado no Instituto de Arte da Universidade Estadual de Campinas- UNICAMP. Entre os principais projetos e exposições coletivas que participou destacam- se, as coletivas: Culture and Conflict: IZOLYATSIA in Exile no Palais de Tokyo, The World Bank Art Program, Kaunas Photo festival, Exposição Individual “Tomorrow i will be born again” na Cité Dês Arts, coletiva una mirada latino americana do projeto Photo España, Temporada de Projetos do Paço das Artes, Prêmio Energias na Arte do Instituto Tomie Otahke, Programa Nova Fotografia do Museu da Imagem e do Som, Concurso Itamaraty, Residência RedBull House of Art, Atêlie Aberto da Casa Tomada, entre outros.
Mario Ramiro é graduado em artes plásticas pela Universidade de São Paulo (1982), mestre em arte e mídia pela Kunsthochschule für Medien Köln [Escola Superior de Arte e Mídia de Colônia, na Alemanha] (1997) e doutor em artes visuais pela Universidade de São Paulo (2008). É professor do Departamento de Artes Visuais e do Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da Escola de Comunicações e Artes da USP.
O jornalista Daigo Oliva, 31, é editor do blog sobre fotografia contemporâneaEntretempos, hospedado no site da Folha de S. Paulo. É repórter da editoria de notícias internacionais do mesmo jornal e foi editor-adjunto do caderno Ilustrada.
setembro 11, 2016
Picasso na Caixa Cultural, Rio de Janeiro
Exposição com mais de 130 obras do gênio da arte do século XX esteve em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, onde foi sucesso de público e crítica.
O Instituto Tomie Ohtake, a CAIXA Cultural Rio de Janeiro, Arteris e IRB BRASIL RE apresentam a partir do dia 13 de setembro de 2016 a exposição Picasso: mão erudita, olho selvagem, com 138 obras, entre pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, cerâmicas e fotografias pertencentes ao Musée National Picasso-Paris. Organizada pelo Instituto Tomie Ohtake em conjunto com o Musée National Picasso-Paris, a exposição tem curadoria de Emilia Philippot, também curadora da instituição francesa.
As obras traçam um percurso cronológico e temático em torno de conjuntos que seguem as principais fases de Pablo Picasso, nascido em Málaga, Espanha, em 25 de outubro de 1881, e morto em Mougins, França, em 8 de abril de 1973. A exposição percorre sua trajetória desde os anos de formação, com o óleo sobre tela “L'Homme à la casquette” (1895), até os últimos de produção, como na gravura em metal “Couple: femme et hommechien. Avec femme à la fleur” (1972). O patrocínio é da Arteris e IRB BRASIL RE, com apoio da CAIXA, da Prosegur e da Repsol Sinopec Brasil, realizado através da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Rouanet).
A exposição possibilita uma rara imersão do público no universo do artista espanhol, que viveu grande parte de sua vida na França. Das 138 obras, 109 são de Picasso: 27 pinturas, 42 desenhos, 20 gravuras e 20 esculturas, incluindo 12 cerâmicas, em sua quase totalidade nunca vistas no Brasil.
Também integram a mostra 22 fotografias feitas por Andres Villers (1930-2016) em parceria com Picasso, e três fotografias feitas por Pierre Manciet durante as filmagens de "La vie commence demain" (1949), de Nicole Védrès, no ateliê do artista em Fournas, Vallauris, na França. O filme, de 89 minutos, também poderá ser visto pelo público, junto com dois outros: “Guernica” (1950), de Alain Resnais e Robert Hessens, com 13 minutos, que aborda a obra-prima de Picasso, entre pinturas, desenhos e esculturas feitas por ele entre 1902 e 1949; e “Le Mystère Picasso” (1956), de Henri-Georges Clouzot, com 78 minutos, que revela seu processo criativo.
A curadora Emilia Philippot destaca o fato de que as obras expostas revelam para o público a ligação íntima e pessoal que alimenta toda a produção de Picasso, presente nos retratos íntimos da mãe do artista ou de seu primeiro filho, Paul, na celebração apaixonada da sensualidade feminina de Marie-Thèrèse Walter, e nas denúncias intransigentes dos males causados pelos conflitos contemporâneos, da Guerra Civil Espanhola ou da Ocupação da França pelas tropas alemãs. “Escolhemos aproveitar o caráter específico da coleção para esboçar um retrato do artista que questiona sua relação com a criação, entre fabricação e concepção, implantação e pensamento, mão e olho”, afirma Emilia Philippot. Estão presentes nos trabalhos as experiências vividas por Picasso. “Os laços afetivos do amante, as dúvidas do homem, as alegrias do pai de família, os compromissos do cidadão: tudo se introduzia em sua arte”, completa.
Uma característica importante da exposição é que o acervo é composto por obras selecionadas e mantidas pelo artista ao longo de sua vida. São trabalhos que estiveram ao seu lado e pertencem ao Musée National Picasso-Paris, um dos mais importantes do mundo sobre o artista, formado por doações sucessivas dos herdeiros do pintor, em 1979 e 1990.
PERCURSO DA EXPOSIÇÃO
As obras estão dispostas de acordo com um roteiro cronológico e temático, em dez seções: “O primeiro Picasso. Formação e influências (por volta de 1900)”; “Picasso exorcista. As senhoritas de Avignon (processo da geometrização das formas)”; “Picasso cubista. O violão (relação com a música)”; “Picasso clássico. A máscara da antiguidade (a maternidade, o teatro e a dança)”; “Picasso surrealista. As banhistas”; “Picasso engajado. Guernica (estudos da obra, fotos e foco na apresentação da tela em 1953 no Brasil/ 2ª Bienal de São Paulo)”; “Picasso na resistência. Interiores e vanitas (processo de trabalho durante a guerra, vida doméstica e vaidades)”; “Picasso múltiplo. A alegria da experimentação (da cerâmica ao fotograma)”; “Picasso trabalhando. O Mistério Picasso (a magia de seu processo criativo na pintura)”; e “O último Picasso: o triunfo do desejo (erotismo em todos seus estados)”.
Saiba mais sobre a biografia de Pablo Picasso / Musée National Picasso-Paris.
Emilia Philippot é diplomada pela École du Louvre e especializada em conservação do patrimônio pelo Institut national Du Patrimoine (Paris). Foi gerente de projeto na Réunion des Musées Nationaux, Paris (2007 e 2009), onde organizou a exposição “Le grand monde d’Andy Warhol”, nas Galeries nationales du Grand Palais (2009). Foi responsável pelas coleções de artes decorativas, artesanato e design industrial no Centre national des Arts Plastiques (Paris), entre 2010 e 2012, coordenando a exposição “Liberty, Equality and Fraternity”, no Wolfsonian Museum (Miami), em 2011. Responsável pela segmento de artes gráficas e pinturas do Musée National Picasso-Paris desde 2012, Philippot preparou a reabertura do museu e organizou importantes mostras como “¡Picasso! L’exposition anniversaire no Musée National Picasso-Paris” (2015); “Picasso chez Delacroix no Musée National Eugéne Delacroix” (Paris 2015); “Miquel Barceló, Sol y Sombra”, no Musée National Picasso-Paris (2016), e está desenvolvendo a exposição “Histoires d’Olga – Filtres de l’Histoire auprès de Picasso”, no Musée National Picasso-Paris prevista para março de 2017.
Rubem Valentim na Berenice Arvani, São Paulo
A Galeria Berenice Arvani realiza a partir de 13 de setembro, às 19h, a exposição Rubem Valentim: A Pintura Pulsa - segunda individual dedicada ao artista baiano Rubem Valentim (1922-1991) na galeria. Sob curadoria de Celso Fioravante, a mostra apresenta 32 obras realizadas entre os anos 1960 e 1980, entre pinturas, desenhos, guaches, esculturas e relevos, além de oito estudos de grandes dimensões.
Com uma uma arte comprometida com a transformação consciente do signo, a mostra prioriza a matriz construtiva do artista, que, aliada a seu intenso sincretismo religioso e seu apuro cromático, posicionou Rubem Valentim no panteão dos grandes artistas da segunda metade do século 20, e um dos mestres do construtivismo no Brasil.
Movido por questões ideológicas, Valentim buscou na cultura afro-brasileira e na cultura popular africana as características que norteariam seu trabalho até o final da vida.Ele sintetizou os elementos presentes nos cultos de candomblé, como os oxês de Xangô em objetos geométricos, em linearidade, como uma espécie de escrita para esses elementos, uma nova signografia, uma arte semiótica, que promove uma leitura profunda, sintética e habilidosamente cromatizada da identidade afro-brasileira.
Rubem Valentim é comparado a Alfredo Volpi e Tarsila do Amaral, no sentido em que os três criaram uma linguagem individual que os tornou facilmente reconhecíveis.
A intensidade artístico-sincrética de Rubem Valentim foi redescoberta recentemente pelo circuito internacional de arte e fez com que sua produção tenha sido adquirida por colecionadores particulares e instituições nos EUA, Europa e África, além de ter sido exposta em instituições de relevo, como a Tate Liverpool (Inglaterra) e o Centro Galego de Arte Contemporânea, em Santiago de Compostela, que realizaram conjuntamente em 2010 a exposição “Afro Modern: Journeys Through the Black Atlantic”. Nesta exposição, inspirada no seminal livro de Paul Gilroy “The Black Atlantic: Modernity and Double Consciousness” (1993), Rubem Valentim dividiu espaço com artistas modernos e conpemporâneos, como Pablo Picasso, Constantin Brancusi, Wifredo Lam, Kara Walker, Glenn Ligon, Wangechi Mutu, Uche Okede, Chris Ofili e outros. A mostra teve curadoria de Tanya Barson e Peter Gorschlüter.
Cleverson Oliveira, Gabriele Gomes e Fernando Burjato na Galeria Virgilio, São Paulo
A Galeria Virgílio exibe obras dos artistas paranaenses Fernando Burjato, Gabriele Gomes e Cleverson Oliveira produzidas nos últimos vinte anos.
A carreira dos três artistas começa no início dos anos 1990, quando ainda eram alunos da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP), em Curitiba. Logo que se formaram, cada um tomou um rumo diferente, fora da capital paranaense. Ainda assim, as obras dos três seguem paralelas, e nestes últimos vinte anos, têm mantido um rico diálogo, feito de aproximações e divergências, o que pôde ser observado na mostra intitulada Colapso, realizada entre 2015 e 2016 no Museu Oscar Niemeyer, com a curadoria de Ana Rocha.
O mundo físico é uma espécie de transbordamento da exposição curitibana, que teve mais de 11 mil visitantes; propõe um outro recorte do trabalho dos artistas, que se desenvolve em diversos materiais e linguagens: pintura, desenho, objeto, fotografia.
Gabriele Gomes (Curitiba, 1971), que reside no Rio de Janeiro, produz instalações, fotografias, objetos e poemas, tendo como referência a tradição da pintura. Há em sua obra o desejo de fazer uma pintura que se estenda para fora do quadro, transformar em pintura aquilo que existe de mais trivial.
Se Gabriele traz a pintura para o mundo físico, para os espaços entre as coisas, Cleverson Oliveira (Curitiba, 1972) cria instalações gráficas, como desenhos de paisagem que podem ser vistos por dentro. Ou obras em grafite sobre papel em que o olhar do espectador oscila entre a nitidez da superfície e o caráter turvo de uma imagem que se reconhece.
Fernando Burjato (Ponta Grossa, 1972), desde 2000 trabalha principalmente como pintor. Seus quadros, entretanto, se alongam para fora dos limites da tela, a tinta escorre e seca, formando franjas, como uma pele que se escama e pende, como farrapos, contrastando com a luminosidade e a leveza das cores. É representado pela Galeria Virgílio desde 2009.
Temporada de Projetos 2016: Tiago Mestre em Paço das Artes no MIS, São Paulo
O Paço das Artes inaugura no dia 13 de setembro, às 19h, a mostra Fundação, de Tiago Mestre. A exposição selecionada para a Temporada de Projetos 2016 fica em cartaz até 16 de outubro de 2016 no MIS com entrada gratuita.
Em um conjunto de esculturas em gesso brancas, o artista problematiza questões relacionadas à formação da história e da identidade da capital paulista, a partir do contexto do patrimônio arquitetônico.
Tiago Mestre afirma que as obras estabelecem relações formais com a escultura do século 20, mas desenvolvem uma narrativa visual autônoma e ficcional. “A exposição tem uma ênfase forte na questão do desenho e da forma. Nesse sentido, gostaria de obter a maior neutralidade possível do espaço e, dentro do possível, o seu ‘desaparecimento’”, diz.
A mostra tem como pano de fundo uma carta de 1945 enviada por Luís Saia (então assistente técnico de Mário de Andrade no SPHAN – atual IPHAN) a Lúcio Costa (diretor de divisão dos estudos e tombamentos do SPHAN) ilustrando possibilidades de desenho para as colunatas da capela do Sítio Santo Antônio, então em processo de recuperação. “Fascinou-me a ideia deste documento, desta incerteza, desta coloquialidade como pano de fundo para a construção de um conjunto de colunas / esculturas. Pensei numa sala em que estas esculturas se dispusessem de um modo irregular abrindo a possibilidade de um percurso errante que permitisse diversas leituras comparativas”, conta.
Atividades paralelas
Em diálogo com a mostra, o Paço das Artes realizará duas atividades paralelas: no dia 23 de setembro, às 19h, ocorre a mesa-redonda sobre arte e arquitetura com Guilherme Wisnik, Jacopo Crivelli Visconti e Tiago Mestre no espaço expositivo. A mediação é de Priscila Arantes. No dia 7 de outubro, às 15h, o Paço das Artes promove uma visita guiada ao Museu Brasileiro de Esculturas e bate-papo com Cauê Alves, curador do MuBE, partindo da exposição de Tiago Mestre.
Os eventos integram a programação da Temporada em debate, que promove até dezembro uma série de eventos relacionados às mostras dos demais selecionados para a Temporada de Projetos 2016 - Bruno Oliveira e Victor Tozarin, Grasiele Sousa e Marina Takami e José Viana (em colaboração com Camila Fialho).
Tiago Mestre nasceu no Alentejo, no sul de Portugal, em 1978. Vive e trabalha em São Paulo. A sua pesquisa e produção artística confrontam diferentes meios e situações de apresentação, partindo de uma elaboração sensível que se caracteriza pela consciência crítica da materialidade, do fazer, do valor simbólico e antropológico da obra.
A pintura, a escultura, a instalação e o vídeo são alguns dos meios privilegiados do trabalho do artista. Estudou arquitetura, participou do Programa Independente de Estudos de Artes Visuais da MAUMAUS com Jürgen Bock, em Lisboa em 2009, e frequentou o curso Avançado em Pintura no Ar.co, em Lisboa, em 2009. Participou das residências artísticas Wiels Residency, em Bruxelas, em 2009 e Pivô Pesquisa, São Paulo, em 2016. Expôs em Portugal, no Brasil e no estrangeiro. É mestre pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP).
Sobre a Temporada de Projetos
A vocação experimental do Paço das Artes, instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, é constatada, principalmente, por meio da Temporada de Projetos, que foi criada com o objetivo de abrir espaço à produção, fomento e difusão da prática artística jovem. Concebida em 1996, a Temporada de Projetos teve sua primeira exposição realizada em 1997 e se tornou, ao longo dos anos, um rico celeiro para a cena da jovem arte contemporânea brasileira.
Anualmente, a Temporada abre uma convocatória nacional selecionando nove projetos artísticos e um projeto de curadoria para serem desenvolvidos e produzidos com o respaldo do Paço das Artes. Os selecionados recebem acompanhamento crítico, a publicação de um catálogo sobre suas obras e um cachê de exibição. Desde seu surgimento, quando ainda era bienal (tornando-se anual em 2009), o programa possibilita a emergência de inúmeros artistas, curadores e críticos, muitos deles presentes na cena artística atual.
Em 2014, o Paço das Artes lançou a plataforma digital MaPA, concebida por Priscila Arantes, que reúne todos os artistas, curadores, críticos e membros do júri que passaram pela Temporada de Projetos.
setembro 8, 2016
Sérvulo Esmeraldo na URCA Campus Pimenta, Crato
Exposição Sérvulo Esmeraldo: A Linha, A Luz, O Crato dá início às celebrações dos 88 anos do artista
Reconhecido pela efetiva contribuição à arte brasileira e universal, Sérvulo Esmeraldo completará 88 anos em 27 de fevereiro de 2017. Antecipando as comemorações, o Instituto Sérvulo Esmeraldo, em parceria com o Núcleo de Produções Culturais e Esportivas, organiza uma importante exposição de sua obra no Crato (CE), cidade natal do artista, onde ele cresceu e realizou sua primeira exposição individual, em 1951. Intitulada Sérvulo Esmeraldo: A Linha, A Luz, O Crato, a mostra será inaugurada no próximo sábado (10/09), às 10h, no Campus do Pimenta da Universidade Regional do Cariri (URCA), e às 16h30, na Encosta do Seminário, onde exibirá duas esculturas monumentais. Com patrocínio do Governo do Estado do Ceará, a exposição terá entrada franca e seguirá até o dia 08/10.
O evento marcará ainda a posse do artista na cadeira Aldemir Martins, do Instituto Cultural do Cariri e o lançamento do livro Sérvulo Esmeraldo: A Linha e a Luz. Na ocasião, será apresentada também a performance Heli Cubo, de Guto Lacaz (SP), um dos ícones das artes plásticas e gráficas no país.
Com curadoria de Dodora Guimarães, a mostra Sérvulo Esmeraldo: A Linha, A Luz, O Crato reunirá um conjunto representativo do trabalho do artista. Serão expostos relevos, esculturas, gravuras e também desenhos inéditos da série denominada Suíte Araripe, feitos especialmente para a exposição no Crato, entre 2015 e 2016. No total, 58 trabalhos estarão distribuídos nos jardins, no Salão da Terra e no hall principal da URCA, somados às Pirâmides e às Folhas Pendentes, em exposição na Encosta do Seminário.
“Estaremos frente a frente com a produção recente do Mestre do Crato. E se é um privilégio para os seus conterrâneos e o público em geral, para Sérvulo Esmeraldo esta exposição é seu feito mais importante, posto que é a realização de um sonho”, revela a curadora, que é também sua companheira de vida há mais de 30 anos.
O início da celebração de seus 88 anos não poderia ser em outro lugar, pois como o artista costuma dizer, “tudo começou no Crato”. É da infância no sítio da família Esmeraldo, onde funcionava o engenho Bebida Nova, que vêm as primeiras “astúcias” ou experimentações de Sérvulo. Mais tarde, a curiosidade e a inventividade encontraram melhor direção ao observar os afazeres de mestres como o ourives Theopista Abath, o marceneiro Zé Barbosa e o Juvenal Carpinteiro, além do inspirador Tio Pergentino, como relembra o artista em texto autobiográfico. Vem das feiras do Crato também o interesse pela xilogravura, adentrando para o universo da arte por meio das ricas manifestações da cultura popular nordestina.
“Sérvulo é um inventor. Traz dentro de si a inquietude que se traduz em criação. Formou, ao longo da vida, um repertório diversificado e domina técnicas com as quais faz arte”, define o pesquisador e escritor Gilmar de Carvalho. De acordo com ele, “Sérvulo e o Crato são um. Ele volta sempre, porque nunca saiu de lá. Ecoam, ainda que recriados pelo homem cosmopolita, as facas dos Irmãos Aniceto, os pandeiros do Mestre Cirilo, a espada do Mestre Aldenir, e a alegria dos folguedos das crianças da Mestra Zulene Galdino. Ecoam, ainda, o grito de guerra do índio do jornal ‘O Araripe’ (1855), o repente bem temperado de Zé de Matos, e o som roufenho da Rádio Araripe (1951)”.
setembro 7, 2016
Estudos sobre o Mercadismo na Casa Tomada, São Paulo
A exposição Estudos sobre o Mercadismo propõe uma reflexão sobre como indivíduos e coletividades - entre elas, o universo da arte - se relacionam com a economia e o capital financeiro. O mercadismo – termo que define com ironia o nosso tempo – é o estado de religião, portador de verdades transcendentes, que o capitalismo assumiu.
Ao refletir sobre os padrões que definem a economia atual, enfocando aspectos da economia de serviços, do capitalismo cognitivo e da relação arte-trabalho, a exposição convida artistas, economistas e teóricos para pensar, em duas tardes de debates, configurações econômicas que tencionem o capitalismo atual.
+ Sessões Pirata, pelo Coletivo Filé de Peixe
+ Áudio de entrevistas sobre arte, trabalho e economia
Enric Duran, Fabiana de Moraes, Marta Ramos-Izquierdo
Conversas com artistas e economistas convidados
9 setembro, sexta-feira, 20h
Arte, mercado e especulação
Lourival Cuquinha, Maíra das Neves, Pedro Victor Brandão e Cesar Abelenda (galerista e economista argentino)
17 setembro, sábado, 17h
Redes, invisibilidade e capital financeiro
Jaime Lauriano, Raphael Escobar, Ladislau Dowbor (economista político e professor da PUC-SP) e Rosa Maria Marques (economista e professora da PUC-SP)
Luiz Braga no MEP, Belém
Luiz Braga apresenta recorte inédito de sua produção em curadoria de Diógenes Moura
Com mais de 100 imagens inéditas, o fotógrafo Luiz Braga apresenta a partir do próximo dia 10 de setembro a exposição Retumbante Natureza Humanizada, com curadoria de Diógenes Moura, no Museu do Estado do Pará (MEP), em Belém. São fotografias selecionadas de seu arquivo, realizadas entre 1976 e 2014, e que mostram a unidade e a essência da sua produção, a partir de retratos do homem da Amazônia. A abertura ocorrerá às 10h, com entrada gratuita, e terá visita guiada com artista e curador. A mostra é uma realização do Governo do Estado do Pará e da Secretaria de Estado de Cultura (Secult) e se estenderá até 17 de novembro com palestras, jantar, um passeio pela Cidade Velha, leitura de portfolio, exibição de filmes e lançamento de catálogo.
Não se trata de uma retrospectiva da carreira de Braga, mas da seleção de obras que apresentam no espectro do tempo o percurso do olhar do artista, sejam elas em preto e branco, como a maioria do início de sua trajetória; sejam as coloridas, com as quais se tornou conhecido, ou mesmo as feitas pela técnica nigthvision, com imagens sobretudo esverdeadas. “O mais interessante dessa exposição é que as pessoas vão poder verificar um jogo em que as fotografias parecem ter sido realizadas no mesmo dia, mas por vezes têm diferença de 30 anos. Isso revela uma característica da minha obra, que se expande e retorna. São ciclos dentro do mesmo território criativo e afetivo e é o homem amazônico que se destaca, seja pela forma como modifica o lugar ou como protagoniza a imagem”, analisa Luiz Braga.
A exposição já foi montada em 2014, no Sesc Pinheiros, e recebeu o prêmio de melhor exposição de fotografia daquele ano pela APCA - Associação Paulista dos Críticos de Arte. Para esta mostra, o curador destaca que a montagem vai dialogar com o próprio espaço expositivo, de forma simples e sofisticada. “Pequenas aglomerações de retratos e cenas da vida cotidiana, onde estarão o corpo e a alma do povo paraense, a luz flutuante que está em todas as imagens”, ressalta Diógenes Moura, informando ainda que um espaço apresentará a obra do artista com documentos, livros, catálogos, cartas, fotografias de época, contatos.
Em outra sala especial, ocorrerá a exibição de filmes e livros que inspiraram o fotógrafo em sua trajetória, numa maneira didática de apresentar o artista para um público mais jovem - no ano em que ele completa 40 de carreira e 60 de vida. O nome da mostra é uma referência a um texto do professor e poeta João de Jesus Paes Loureiro e que reflete a sua trajetória por meio das imagens realizadas ao longo de sua carreira.
A recente imersão na Ilha de Marajó, após o fotógrafo não sentir-se mais seguro na capital paraense para fotografar como um flâneur, também terá destaque. As andanças pela Estrada Nova, atual Bernardo Sayão, onde costumava fotografar frequentemente, por exemplo, foram substituídas pelas cidades do arquipelágo – o qual Luiz Braga considera um novo território de afeto. E é afeto também que sua obra fala, quando relembra da sua relação com as pessoas as quais fotografou e sobre os processos de produção fotográfica.
“Sempre fui uma pessoa muito de andar pela cidade e observar, o meu trabalho é fruto dessa observação e tem tanto a cidade e o centro histórico, quanto a paisagem ribeirinha. Eu tenho chamego pela cidade cabocla, enxergo neste cenário muita sabedoria, que não depende de cânones europeus e vem da vivência do caboclo. Cedo aprendi a valorizar isso, o caboclo, a caboquice, que não é juízo de valor, mas o que nos diferencia do resto do mundo globalizado. Enxerguei isso muito tempo atrás, nos anos 1980”, revela.
Programação
Setembro
10/09 - Abertura, 10h, com visita guiada de Luiz e Diógenes
14/09 - Programa Roda da Memória, 19h30, no MEP
16/09 - Jantar Harmonizado no Remanso do Bosque, com Thiago Castanho
18/09 - Visita guiada pela Cidade Velha, com Michel Pinho
Outubro
13/10 - Palestra Ernani Chaves, 19h30, sobre Retrato.
20/10 - Leitura Poética de João de Jeus Paes Loureiro e música de Salomão Habib, às 10h30, na Capela do MEP. (35 pessoas)
23/10 - Leitura de Portfólio, com Luiz Braga e Paula Sampaio – Programação do Circular Campina - Cidade Velha
27/10 - Palestra de Alexandre Sequeira, 19h30, no MEP
Novembro
11/11- Lançamento do catálogo e fala do Luiz e Rosely Nakagawa, no MEP.
16/11- Palestra de Tereza Siza e lançamento do livro, no MEP.
Luiz Braga nasceu em 1956, em Belém (Pará), onde vive e trabalha. O seu primeiro contato com a fotografia foi aos 11 anos. Em 1975, montou seu primeiro estúdio para trabalhar com retratos, ao mesmo tempo em que ingressava na Faculdade de Arquitetura da UFPA, onde se graduou em 1983, embora nunca tenha trabalhado como arquiteto. Até 1981, fotografava principalmente em preto e branco. Suas primeiras exposições, em 1979 e 1980, eram compostas de cenas de dança, nus, arquitetura e retratos. Após essa fase, descobriu as cores vibrantes da visualidade popular amazônica e, convidado pela Funarte, viajou pela região aprofundando o ensaio que seria exibido sob o título “No Olho da Rua” (Centro Cultural São Paulo, 1984), considerado o primeiro passo de seu amadurecimento autoral.
Em “A Margem do Olhar” (1985 a 1987) retorna ao preto e branco dos primeiros tempos, retratando com dignidade o caboclo amazônico em seu ambiente. Exibido nacionalmente em 1988, esse ensaio rendeu-lhe o Prêmio Marc Ferrez conferido pelo Instituto Nacional da Fotografia. O encantamento pela cor da sua região e as possibilidades pictóricas extraídas do confronto entre a luz natural e as múltiplas fontes de luz dos barcos, parques e bares populares resultam no ensaio “Anos Luz”, premiado em 1991 com o “Leopold Godowsky Color Photography Awards” da Boston University e exibido no Museu de Arte de São Paulo (Masp) em 1992. Uma de suas características é o enfoque, que passa ao largo das visões estereotipadas e superficiais sobre a Amazônia. A outra é o domínio da cor, com a qual passou a ser referência na fotografia brasileira contemporânea.
Realizou mais de 200 exposições entre individuais e coletivas no Brasil e no exterior, e suas fotografias compõem coleções públicas e privadas importantes, como a do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, do Centro Português de Fotografia, do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro e da Pinacoteca do Estado de São Paulo, entre outras. Em 2005, comemorou 30 anos de carreira abordando os diversos segmentos de sua obra na mostra Retratos Amazônicos, no MAM/SP, e na exposição Arraial da Luz, a maior de sua carreira, montada ao ar livre num parque de diversões em sua cidade natal, a qual recebeu mais de 35 mil visitantes. Em 2009, foi um dos representantes do Brasil na 53ª Bienal de Veneza.
Diógenes Moura nasceu na Rua do Lima, em Recife, Pernambuco. Passou a infância entre os quintais, os pés de abiu e a linha do trem no arrabalde de Tejipió. Depois viveu 17 anos em Salvador, na Bahia, no bairro negro da Liberdade, quando a cidade ainda não havia perdido a memória. Vive em São Paulo desde 1989. É escritor, curador de fotografia e editor independente. Entre 1998 e maio de 2013 foi Curador de Fotografia da Pinacoteca do Estado de São Paulo onde realizou exposições e reflexões sobre o pensamento fotográfico e possibilitou o reconhecimento do acervo do museu – hoje com cerca de 700 imagens de fotógrafos brasileiros – como um dos mais importantes da América Latina. Premiado no Brasil e no exterior, só entende fotografia vendo-a como literatura. Em 2009 foi eleito o Melhor Curador de Fotografia do Brasil pelo Sixpix/Fotosite. No ano seguinte recebeu o prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes) de melhor livro de contos/crônicas com Ficção Interrompida – Uma Caixa de Curtas (Ateliê Editorial). Com o mesmo título foi finalista do Prêmio Jabuti de Literatura 2011. Acaba de finalizar seu novo livro, Fulana Despedaçou o Verso (Ed.TerraVirgem). Mesmo sem ter nenhuma expectativa em relação ao futuro da humanidade, atualmente trabalha na sua primeira novela, A Placa Mãe.
setembro 5, 2016
32ª Bienal de São Paulo: Incerteza viva
Elogio à incerteza, 32ª Bienal aposta no poder da arte
Concebida como um jardim, Incerteza Viva reúne 70% de projetos comissionados e ocupa Pavilhão da Bienal até 11 dezembro
A 32ª Bienal de São Paulo: Incerteza viva é um processo coletivo que se iniciou há mais de um ano com envolvimento de professores, estudantes, artistas, ativistas, lideranças indígenas, educadores, cientistas e pensadores dentro e fora do Brasil. Mas é também um processo coletivo prestes a começar. Com curadoria de Jochen Volz e dos cocuradores Gabi Ngcobo (África do Sul), Júlia Rebouças (Brasil), Lars Bang Larsen (Dinamarca) e Sofía Olascoaga (México), a mostra acontece de 07 de setembro a 11 de dezembro de 2016 no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, reunindo aproximadamente 340 obras de 81 artistas e coletivos e procurando refletir sobre as possibilidades oferecidas pela arte contemporânea para abrigar e habitar incertezas. Assim como a arte une o pensar e o fazer, a reflexão e a ação, é apenas através do encontro dos visitantes com as obras, performances e programas públicos da Bienal ao longo dos próximos meses que a verdadeira riqueza de Incerteza viva vai aparecer. “Hoje, é papel da Bienal ser uma plataforma que promove ativamente a diversidade, a liberdade e a experimentação, ao mesmo tempo exercendo o pensamento crítico e propondo outras realidades possíveis”, sugere Volz.
Obras e direções
Disposta a rastrear o pensamento cosmológico, a inteligência ambiental e coletiva, e as ecologias sistêmicas e naturais, Incerteza viva se constrói como um jardim, no qual temas e ideias se entrelaçam livremente em um todo integrado. Não está organizada em capítulos, mas antes baseada em diálogos entre diferentes produções.
A exposição olha para uma série de artistas históricos que fornecem um conjunto de estratégias que talvez sejam agora particularmente relevantes: a poética visual de Wlademir Dias-Pino; os experimentos pioneiros com a poesia concreta de Öyvind Fahlström; as investigações na imaterialidade de Lourdes Castro; a busca por transformações metafísicas de Víctor Grippo ou o grito contínuo de Frans Krajcberg pela saúde do planeta, com esculturas feitas de troncos de coqueiros e manguezais que articulam toda a entrada da exposição no piso térreo.
A maioria dos projetos artísticos, no entanto, foi comissionada especialmente para a mostra, não para ilustrar um arcabouço teórico ou temático, mas para desdobrar os princípios criativos da incerteza em diferentes direções.
Diversas obras abordam diretamente a natureza e os processos biológicos, botânicos ou alquímicos: o laboratório de cogumelos criado por Nomeda e Gedeminas Urbonas; os desenhos, filmes e colagens desenvolvidos por Carolina Caycedo a partir de uma pesquisa sobre barragens e hidroelétricas, ou a instalação com projeções e experimentos fisico-químicos de Susan Jacobs. Ao mesmo tempo, um olhar sobre narrativas históricas norteia as pinturas de Mmakgabo Helen Sebidi; a apresentação inédita de um recorte dos arquivos do coletivo Vídeo nas Aldeias; a obra de Lais Myrrha sobre modos construtivos indígenas e urbanos, e a escultura de Rita Ponce de León, para citar alguns exemplos.
O exame crítico de estruturas políticas, econômicas e midiáticas de poder e de representação está no cerne da obra de Hito Steyerl, cuja videoinstalação Hell Yeah We Fuck Die (2016) parte das cinco palavras mais populares em músicas da década; ou das pesquisas sobre gênero e discurso que orientam o trabalho de Henrik Olesen, Katia Sepúlveda e Luiz Roque, entre outros. Compõem ainda a exposição obras que acionam a imaginação e experimentam caminhos alternativos para o futuro como a Ágora: OcaTaperaTerreiro de Bené Fonteles – espaço de celebrações e rituais envolvendo músicos, xamãs, educadores e o público – ou a Oficina de Imaginação Política, um conjunto de sessões de trabalho, apresentações e debates sob coordenação de Amilcar Packer.
A 32 a Bienal de São Paulo entende a si mesma como permeável e acessível, participando da construção contínua do Parque Ibirapuera como espaço público e expandindo seu senso de comunidade. Intitulada ARROGATION, a instalação de Koo Jeong A é uma pista de skate para uso público construída no Parque Ibirapuera, convidando skatistas a novos deslocamentos e experimentações do espaço. Concebida por Jorge Menna Barreto em parceria com redes de produção de produção de alimentos sustentáveis, como agroflorestas, produtores orgânicos e sistemas dedicados à recuperação de solos e da biodiversidade, Restauro é um obra que opera como o restaurante da exposição, com cardápio baseado em plantas. O jardim se torna, assim, um modelo, tanto metafórica como metodologicamente, com uma diversidade de espaços que favorecem a experiência e a ativação.
PROGRAMAÇÃO PÚBLICA & ATIVAÇÃO DE OBRAS
Ao longo dos três meses de sua duração, a 32ª Bienal de São Paulo abriga uma programação pública sempre às quinta-feiras e sábados, além de ativações contínuas em diversas obras. Concebidos como narrativas alternativas e novas formas de produzir conhecimento, shows, conversas, performances, filmes, danças e oficinas de culinária coletiva, bio construção, bordado, entre outros, desdobram e complementam a pesquisa e os trabalhos dos artistas. Entre as atividades confirmadas estão um show das cantoras Ava Rocha e Tetê Espíndola, uma palestra com as ativistas Eleanor Saitta e Elisa Gargiulo, performances da artista Grada Kilomba e uma experiência culinária com a chef e artista Asia Komarova.
Ativação de obras
Oficina de Imaginação Política, coordenada por Amilcar Packer; Ágora: OcaTaperaTerreiro, de Bené Fonteles; Restauro, de Jorge Menna Barreto; ARROGATION, de Koo Jeong A; TabomBass, de Vivian Caccuri; Corazón del Espantapajáros, de Naufus Ramírez-Figueroa, e Psychotropic House: Zooetics Pavilion of Ballardian Technologies, de Nomeda & Gediminas Urbonas, são algumas das obras que contam com programação própria, gerando diferentes modos de interação e ativação por parte do público.
Consulte a programação no site: 32bienal.org.br.
CONTEÚDO EDITORIAL E DIGITAL
Além da exposição e de um programa público, a realização da 32ª Bienal de São Paulo comporta a produção de conteúdos envolvendo obras, artistas e processos relacionados a diferentes linguagens, expandindo a mostra e seus debates para além dos limites do Pavilhão da Bienal. Incerteza viva é, assim, um processo que pode ser lido, ouvido e acompanhado a partir de seis plataformas:
1. 32 a Bienal: Incerteza viva - Catálogo
Organizado por Jochen Volz e Júlia Rebouças, reúne textos da equipe curatorial e ensaios comissionados ao sociólogo Boaventura Souza Santos, à antropóloga e cineasta Elizabeth Povinelli e à professora e diretora do Instituto de Justiça Social da University of British Columbia, Canadá, Denise Ferreira da Silva. Os artistas participantes da 32ª Bienal têm seus processos de trabalho e suas obras apresentados por leituras elaboradas por jovens críticos e curadores em atuação no Brasil, bem como por uma ampla seleção de imagens.
18 x 24 cm/ 440 páginas/ edições em português e inglês. R$ 100 (desconto de 50% para professores e estudantes mediante apresentação de comprovantes, ou para pagamento com vale-cultura).
2. 32 a Bienal: Incerteza viva - Guia
Em formato de bolso, o Guia traz informações sucintas – em imagens e textos – sobre os artistas e obras presentes na 32 a Bienal. É uma ferramenta útil para o visitante ter à mão ao percorrer os caminhos da exposição.
11,5 x 17,2 cm/ 208 páginas/ edições em português e inglês/ R$ 20
3. 32 a Bienal de São Paulo: Incerteza viva - Processos artísticos e pedagógicos
Produzido num processo colaborativo com professores e educadores sociais, o material educativo da 32 a Bienal compõe-se de textos curatoriais e de ensaístas convidados (Mia Couto, Rodrigo Nunes, Milene Rodrigues Martins e Virginia Kastrup) que abordam o tema da incerteza em quatro dimensões escolhidas para o enfoque pedagógico – narrativa, ecologia, cosmologia e educação. Traz ainda textos e imagens sobre o trabalho de doze artistas selecionados.
Organização: Jochen Volz e Valquiria Prates
25 x 30 cm/ Fichário contendo 7 livretos e 12 cartazes/ Distribuição gratuita para professores, educadores sociais, mediadores bibliotecas e instituições culturais em todo o país. Também disponível para download no site 32bienal.org.br
4. Dias de Estudo - Publicação complementar [título a ser definido]
Antes do término da exposição, será lançada uma publicação com base em contribuições de artistas, ativistas, escritores, pesquisadores e outros participantes dos Dias de Estudo organizados em Santiago (Chile), Acra (Gana), Lamas (Peru), Cuiabá (Brasil) e São Paulo (Brasil). Como parte da programação pública da 32 a Bienal, os Dias de Estudo envolveram viagens de campo a centros culturais, comunidades tradicionais, reservas ecológicas, ateliês de artistas e centros de pesquisa, bem como conferências abertas ao público com profissionais locais de diferentes trajetórias e disciplinas.
5. Campo Sonoro
O projeto Campo Sonoro da 32ª Bienal oferece ao visitante experiências sonoras complementares à exposição. Composto por mais de 40 faixas criadas em colaboração com os artistas da mostra, traz depoimentos, músicas, leituras de poemas, conversas e narrativas, além de uma proposta de caminhada desde o portão 3 do Parque Ibirapuera até a entrada principal da exposição.
camposonoro.32bienal.org.br
app.32bienal.org.br
6. Aplicativo e site
O aplicativo e o site e da 32ª Bienal contêm textos e imagens sobre todas as obras, detalhes sobre a programação pública, informações sobre visitas guiadas, além de conteúdos produzidos em colaboração com artistas sobre processos de trabalho, músicas, e conversas com curadores e agentes envolvidos nas pesquisas dos artistas.
32bienal.org.br
app.32bienal.org.br
PROGRAMA DE ITINERANCIAS 2017
No ano seguinte a cada Bienal, recortes da exposição viajam para diferentes cidades dentro e fora do Brasil por meio de parcerias estabelecidas com museus, instituições culturais e órgãos públicos e privados em diferentes regiões. Repetindo a experiência bem-sucedida de edições anteriores, seleções da 32ª Bienal serão exibidas em 15 cidades ao longo de 2017.
No Brasil, Belo Horizonte, Campinas, Cuiabá e Santos são alguns dos municípios integrantes do programa. No exterior, está confirmada a renovação da parceria com a Fundação Museu de Serralves (Porto, Portugal), além de duas itinerâncias na América Latina a serem anunciadas nos próximos meses.
“Trata-se de um modo de projetar as questões levantadas pela 32 a Bienal rumo a novos públicos e novas direções”, sugere o presidente da Fundação Bienal de São Paulo, Luís Terepins. Em 2015, recortes da 31ª Bienal passaram por 13 cidades e receberam mais de 250 mil visitantes.
VISITAS MEDIADAS
Público espontâneo
Ter, qua, qui e sex: 10h, 11h30, 14h e 16h30
Sáb e dom: a cada 30 minutos a partir das 9h30 até às 17h
Visitas noturnas: Qui e sáb, 19h e 20h
Todas as visitas com grupos espontâneos têm duração de 1 hora. Procure os balcões de atendimento nas entradas da exposição.
Grupos agendados
Ter, qua, qui, sex, sáb e dom: visitas com 2 horas de duração.
Para grupos a partir de 10 pessoas, agendar pelo telefone +55 (11) 3883-9090 (Diverte Cultural)
Línguas estrangeiras
Visitas em inglês e espanhol:
Agendamento com 48h de antecedência pelo site da 32ª Bienal.
Visitas em libras e multissensoriais
Atendimento para a pessoa surda:
Qua, sex e sáb: 11h30 e 17h
Atendimento para a pessoa cega ou com baixa visão
Qua e qui: 11h30 e 17h
Para as visitas em libras e multissensoriais procure os balcões de atendimento nas entradas da exposição nos horários indicados acima.
Cadeira de rodas
Os visitantes que precisarem de cadeira de rodas devem dirigir-se aos balcões de atendimento nas entradas da exposição. As visitas com cadeirantes têm o auxílio de funcionários da Bienal para condução nas rampas.
O útero do mundo no MAM, São Paulo
MAM retrata corpos indomáveis e histéricos na exposição O útero do mundo
A curadora Veronica Stigger selecionou cerca de 280 obras de 120 artistas contemporâneos em que o corpo aparece como lugar de expressão de um impulso desvairado e que se apresenta transformado, fragmentado, deformado, sem contorno ou definição
A partir de 5 de setembro, o Museu de Arte Moderna de São Paulo apresenta a exposição O útero do mundo, que reúne cerca de 280 obras pertencentes ao acervo do MAM que mostram a indomabilidade e as metamorfoses do corpo. Com curadoria da escritora e crítica de arte Veronica Stigger, as produções selecionadas - num universo de mais de cinco mil trabalhos da coleção do museu - são de variados suportes como fotografia, pintura, vídeo, gravura, desenho, escultura e performance de mais de 120 artistas que revelam um corpo que não respeita a anatomia e liberto de amarras biológicas e sociais. Baseada na proposição dos surrealistas de compreender a histeria como uma forma de expressão artística, a apurada seleção da curadora faz um elogio à loucura, ilustrando esse “corpo indomável” que, embora reprimido pela humanidade, manifesta-se no descontrole, na histeria e na impulsividade.
Para organizar a mostra, a curadora recorreu a três conceitos extraídos da obra da escritora Clarice Lispector que servem como fios condutores que separam os trabalhos nos núcleos Grito ancestral, Montagem humana e Vida primária. Segundo Veronica, a autora naturalizada brasileira retomou com brilho o elogio ao impulso histérico. “Clarice organizou um pensamento simultâneo da forma artística e do corpo humano como lugares de êxtase e de saída das ideias convencionais, tanto da arte quanto da própria humanidade”, afirma. São exibidas, conjuntamente, obras de artistas celebrados como Lívio Abramo, Farnese de Andrade, Claudia Andujar, Flávio de Carvalho, Sandra Cinto, Antonio Dias, Hudinilson Jr., Almir Mavignier, Cildo Meireles, Vik Muniz, Mira Schendel, Tunga, Adriana Varejão e muitos outros, além de duas performances de autoria de Laura Lima.
Grito Ancestral
Abrindo a mostra, Grito ancestral contém obras que representam uma série de gritos. “É como se esse som, anterior à fala e à linguagem articulada, atravessasse os tempos e rompesse com as próprias imagens”, explica a curadora. “O grito se contrapõe à ponderação e pode ser visto como indício de loucura. Gritar é, em certa medida, libertar-se das frágeis barreiras que delimitam aquilo a que convencionamos chamar de ‘cultura’ em oposição à ‘natureza’ e ao que há de selvagem e indomável em nós”, afirma. Nessa área estão expostos três autorretratos da série Demônios, espelhos e máscaras celestiais, de Arthur Omar, artista com trabalhos que demonstram estados alterados de percepção e de exaltação. Também fazem parte a fotografia O último grito, de Klaus Mitteldorf; a colagem Medusa marinara, de Vik Muniz; fotos de performances de Rodrigo Braga; a gravura Mulher, de Lívio Abramo; além de imagens em preto e branco de Otto Stupakoff. Com a série Aaaa..., a artista Mira Schendel apresenta uma escrita que não constitui palavras ou frases e em que se percebe a desarticulação da linguagem e uma volta ao estado mais bruto e inaugural.
Montagem humana
Neste nicho são apresentados corpos fragmentados, transformados, deformados e indefinidos, o que prova a indomabilidade do mesmo. Na exposição é percebido como o traço se convulsiona nas obras intituladas Mulheres, de Flávio de Carvalho, nos desenhos de Ivald Granato e nas produções de Tunga, Samson Flexor e Giselda Leirner. Nas fotografias, é a falta de foco que borra o contorno da figura nas imagens de Eduardo Ruegg, Edouard Fraipont e Edgard de Souza. Com o uso da radiologia, é possível verificar o interior do corpo humano nas obras de Almir Mavignier e Daniel Senise. Destacam-se ainda as fotografias feitas por Márcia Xavier, um desenho de Cildo Meireles e as produções que misturam imagens, couro e madeira de Keila Alaver que representam, literalmente, corpos transformados e fragmentados.
Vida Primária
Este nicho dá vez às formas de vida mais elementares, como fungos, flores e folhagens. “Este tipo de vida desestabiliza a percepção que temos da própria vida porque, de certa maneira, deteriora as coisas do mundo ‘civilizado’”, explana Veronica. Isso é ilustrado na série Imagens infectas, de Dora Longo Bahia, em que um álbum de família é alterado pela ação de fungos. Em Vivos e isolados, Mônica Rubinho usa papéis propositalmente fungados em placas de vidro para promover a geração desta espécie. No vídeo Danäe nos jardins de Górgona ou Saudades da Pangeia, Thiago Rocha Pitta propõe uma leitura mitológica da vida primária. Ainda são exibidas partes do corpo como o coração feito de bronze, de autoria de José Leonilson, e a foto Umbigo da minha mãe, de Vilma Slomp. A vagina, porta de entrada e de saída do útero, é mostrada em diversos trabalhos como nas gravuras de Rosana Monnerat e de Alex Flemming, nas fotografias da série vulvas, de Paula Trope e no desenho Miss Brasil 1965, de Farnese de Andrade.
Veronica Stigger é escritora, crítica de arte e professora universitária. Possui doutorado em Teoria e Crítica de Arte pela USP e pós-doutorados pela Università degli Studi di Roma “La Sapienza”, pelo MAC-USP e pelo Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP. É professora das pós-graduações em Fotografia e em História da Arte na FAAP, além de coordenadora do curso de Criação Literária da Academia Internacional de Cinema (AIC). Foi curadora de Maria Martins: metamorfoses no MAM São Paulo (2013) e ganhou o Grande Prêmio da Crítica da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e o Prêmio Maria Eugênia Franco, concedido pela Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) de melhor curadoria. Com Eduardo Sterzi, curou Variações do corpo selvagem: Eduardo Viveiros de Castro, fotógrafo, no SESC Ipiranga. Entre as publicações, estão Os anões (SP: Cosac Naify, 2010), Delírio de Damasco (SC: Cultura e Barbárie, 2012) e Opisanie świata (SP: Cosac Naify, 2013).
Ulla! Ulla! Ulla! Ulla! Marcianos, Intergalácticos e Humanos @ Casa Nova Arte, São Paulo
Casa Nova Arte e Cultura Contemporânea apresenta exposição "Ulla! Ulla! Ulla! Ulla! Marcianos, Intergalácticos e Humanos" com os artistas David Medalla, Fernando Duval, Henrique Alvim Corrêa, Kiluanji Kia Henda e Olaf Breuning, com curadoria de Jane de Almeida, a mostra apresenta obras com inspiração “alienígena”
Em 4 de setembro, domingo, às 11h, a Casa Nova Arte e Cultura Contemporânea inaugura a exposição Ulla! Ulla! Ulla! Ulla! Marcianos, Intergalácticos e Humanos, coletiva com curadoria de Jane de Almeida que apresenta obras com inspiração “alienígena” dos artistas David Medalla, Fernando Duval, Henrique Alvim Corrêa, Kiluanji Kia Henda e Olaf Breuning.
A mostra propõe ao público a reflexão sobre imagens clichês da ciência, a construção de seres e objetos do espaço exterior, além da produção de utopias no século XXI. Partindo da ideia de que estamos vivendo tempos políticos estranhos e “mensagens ambíguas vêm sendo transmitidas por seres intergalácticos ao planeta Terra”, a curadoria convida “artistas com contatos especiais com o cosmos” para esta exposição. De acordo com a curadoria, “alguns artistas ousam decodificar figurativamente seres espaciais desconhecidos, outros invertem e alteram as imagens científicas, alguns se apresentam com a própria forma alienígena e outros elaboram utopias para o século XXI“.Ulla, Ulla, Ulla Ulla! é composta por 5 artistas brasileiros e estrangeiros.
O destaque da exposição são as obras do artista brasileiro Henrique Alvim Corrêa (1876 – 1910), criador das ilustrações de “Guerra dos Mundos”, ficção e clássico do autor britânico H.G. Wells no qual relata a invasão de marcianos na Terra e que completa neste ano 110 anos desde seu lançamento. Serão apresentadas uma edição original do livro “Guerra dos Mundos” de 1906, com 31 gravuras feitas por Alvim, além de cinco desenhos originais que deram origem a esta edição do livro. A exposição apresentará também uma pintura a óleo inédita produzida em 1900.
David Medalla, artista filipino que será homenageado na próxima Bienal de Veneza, apresenta as obras "Stitch in Time Around Mars” (Costurando no Tempo ao Redor de Marte) e “Cosmic Pandora's Micro-Box”(Micro-Caixa de Pandora Cósmica). O primeiro consiste em uma instalação que convida o público a bordar em um tecido suas utopias sobre a possível existência de planetas e seres desconhecidos e o último trabalho, que foi desenvolvido durante sua estadia em São Paulo em 2010, apresenta dejetos e objetos coletados pelo artista, criando uma ‘caixa de pandora’ contemporânea. São Paulo, desta forma, transforma-se no “cosmos” de Medalla.
O angolano Kiluanji Kia Henda, destaque da última Bienal de São Paulo e Bienal de Veneza, apresenta a obra “The bad guys and good guys” (Os caras bons e os caras maus) de 2016, composta por uma série de 10 serigrafias que traça uma narrativa sobre a influência da Guerra Fria na África. O título do trabalho e as legendas foram apropriadas do documentário Histórias da Guerra Fria , produzidos em 1997 pelo fundador CNN's Ted Turner. As imagens alienígenas contrastam com as legendas de guerra, compondo a ideia primeira da exposição: como as práticas políticas se desassociam da realidade do cidadão comum, tornando-se alienígenas e alienadoras.
Fernando Duval, artista brasileiro, gaúcho-carioca, participante da última Bienal do Mercosul, traz a obra “Instrumentos musicais de Wasthavastahunn”, série de desenhos de 2010 na qual apresenta os instrumentos musicais de seu universo artístico pertencente ao planeta Fahadoica, da Galáxia de Washemin. Estes instrumentos pertencem à importante instituição Wasthiana que é o Instituto do Silêncio. O universo artístico de Duval produz um referente paralelo ao nosso universo científico e às nossas instituições “reais”.
Outro destaque é artista suíço Olaf Breuning que apresenta os vídeos “Home 1”, de 2004 e “Home 2”, de 2007 e “Can someone tell us why we are here”(em português, Alguém pode nos dizer porque nós estamos aqui), instalação de 2010. Breuning, com obras em importantes galerias de arte como a Saatchi de Londres, e com apresentações em importantes espaços artísticos como a WhiteChapel, o Centre Georges Pompidou ou a Bienal do Whitney é muitas vezes considerado “freak” (bizarro), ou como ele mesmo gosta de se considerar “naif”(ingênuo). Breuning, é, ele mesmo um “alien” da arte contemporânea e seus filmes “Home 1”e “Home 2” desafiam não só os limites entre realidade e ficção, mas também os conceitos instituídos de obra de arte.
O nome da exposição, “Ulla! Ulla! Ulla! Ulla! Marcianos, Intergalácticos e Humanos”, foi inspirado em manifestos futuristas das utopias socialistas dos soviéticos. “Refere-se ao som das naves marcianas da obra de H.G Wells e ao manifesto ‘A trombeta dos marcianos’ do poeta russo Velimir Khlebnikov. Escrito em 1916, este ano marca o centenário do manifesto que faz uma espécie de convocação para se pensar a arte e a invenção. Um outro manifesto posterior, assinado pelo intelectual russo Viktor Shiklovsky, também faz uso do ‘Ulla, Ulla’ para receber alienígenas que literalmente deveriam alienar os humanos”, diz Jane de Almeida.
A mostra conta, ainda, com uma série de encontros nomeados “Utopias e Escapismos do Século XXI – ou, Como decodificar o que a classe política quer nos dizer. Ulla, Ulla!”. A programação dos encontros será divulgada no decorrer do período expositivo.
Miguel Rio Branco na Millan, São Paulo
Miguel Rio Branco apresenta a sua nova exposição individual, ‘Barro’, no Anexo Millan
O Anexo Millan tem o prazer de apresentar Barro, a nova individual do artista visual Miguel Rio Branco, um dos mais destacados fotógrafos brasileiros do cenário contemporâneo e o único a integrar a agência de fotografia Magnum, fundada por Cartier-Bresson e Robert Capa em 1947. A mostra no Anexo Millan, com abertura marcada para 03/09, sábado, das 12h às 16h, reúne cerca de 24 trabalhos de Rio Branco realizados do início da década de 1980 até recentemente. “Minhas novidades são feitas com coisas velhas”, costuma dizer o artista.
A seleção inclui mais de 100 fotografias (sejam individuais ou em dípticos, trípticos e polípticos) e um vídeo (“Sob as estrelas, as cinzas”), que demonstram a variedade de técnicas e soluções utilizada pelo artista na construção de suas obras. Os trabalhos de Miguel Rio Branco exploram ao máximo o potencial das mais diversas linguagens visuais, geralmente alcançando a integração de umas com as outras. Combinando imagens, muitas vezes distintas, Miguel sugere ritmos narrativos e insinua volumetrias, em trabalhos múltiplos que apontam para a edição e a montagem cinematográfica. Os contrastes e a saturação de cor e de luz borram os limites entre os elementos das imagens, e suas composições muitas vezes levam ao observador uma atmosfera de prazer e de dor, de drama e de lirismo, em trabalhos bastante singulares e reconhecíveis no contexto da arte contemporânea brasileira.
Entre os destaques da nova exposição estão imagens de índios Kayapó feitas na aldeia de Gorotire, no sul do Pará, ao longo da década de 1980. Muitos desses registros aparecem também no curta-metragem “Sob as estrelas, as cinzas”, de 14 minutos de duração, que será projetado na íntegra em uma sala no Anexo. Uma curiosidade: uma das mais belas fotografias tiradas em Gorotire e agora apresentada na exposição, trazendo dois índios com ornamentos de penas vermelhas correndo durante um ritual típico, havia aparecido anteriormente na capa do disco “The Rhythm of the Saints” (1990), do músico norte-americano Paul Simon.
Há também, em “Barro”, imagens de mineradores feitas durante a passagem de Miguel por Serra Pelada, também no Pará; outras de elementos barrocos e de azulejos de tradição portuguesa; outras de animais; e outras, ainda, de paisagens impactantes e devastadas por queimadas. O impressionante políptico “Barro”, que batiza a exposição e que nunca havia sido apresentado no Brasil, combina com maestria elementos e cenários que conversam com as fotografias espalhadas pela individual. Quem adentra a primeira sala do Anexo Millan, com seu pé-direito de quase sete metros, é, de imediato, surpreendido pela força dessa obra e sua incrível combinação de 18 imagens.
Miguel da Silva Paranhos do Rio Branco (Las Palmas de Gran Canária, Espanha, 1946), filho de diplomata brasileiro, neto de J. Carlos, bisneto do barão do Rio Branco e tataraneto do visconde de Rio Branco. É pintor, fotógrafo, diretor de cinema, além de criador de instalações multimídia. Atualmente vive e trabalha no Rio de Janeiro. Trabalhou intensamente na Europa e Américas desde o começo de sua carreira, em 1964, com uma exposição em Berna, Suíça. Em 1966 estudou no New York Institute of Photography e, em 1968, na Escola Superior de Desenho Industrial no Rio de Janeiro. Começou expondo pinturas em 1964, e fotografias e filmes em 1972. Trabalhou como fotógrafo e diretor de filmes experimentais em Nova York de 1970 a 1972. Dirigiu e fotografou curtas-metragens e longas nos nove anos seguintes. Paralelamente, perseguindo sua fotografia pessoal, desenvolveu um trabalho documental de forte carga poética. Em pouco tempo foi reconhecido como um dos melhores fotojornalistas de cor. Nos anos 80 foi aclamado internacionalmente por seus filmes e fotografias na forma de prêmios, publicações e exposições, como o Grande Prêmio da Primeira Trienal de Fotografia do Museu de Arte Moderna de São Paulo, e o Prêmio Kodak de la Critique Photographique, de 1982, na França, que foi dividido com dois outros fotógrafos. Seu trabalho fotográfico foi visto em várias exposições nos últimos 20 anos, como no Centre George Pompidou, Paris; Bienal de São Paulo, 1983; Stedelijk Museum, Amsterdam, 1989; Palazzo Fortuny, Veneza, 1988; Burden Gallery, Aperture Foundation, Nova York, 1986; Magnum Gallery, Paris, 1985; MASP, São Paulo; Fotogaleria FUNARTE, Rio de Janeiro, 1988; Kunstverein Frankfurt, in Prospect 1996; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, 1996.
Dirigiu 14 curtas metragens e fotografou oito longas. Seu trabalho mais recente como diretor de fotografia pode ser visto em 1988 no filme “Uma Avenida Chamada Brasil”, de Otavio Bezerra. Ganhou o prêmio de melhor direção de fotografia por seu trabalho em “Memória Viva”, de Otavio Bezerra, e “Abolição”, de Zózimo Bulbul, no Festival de Cinema do Brasil de 1988. Também dirigiu e fotografou sete filmes experimentais e dois vídeos, incluindo “Nada Levarei Quando Morrer Aqueles que Mim Deve Cobrarei no Inferno”, que ganhou o prêmio de melhor fotografia no Festival de Cinema de Brasília e o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio da Crítica Internacional no XI Festival Internacional de Documentários e Curtas de Lille, França, 1982. Suas fotografias foram publicadas em diversas revistas, como Stern, National Geographic, Geo, Aperture, Photo Magazine, Europeo, Paseante. “Dulce Sudor Amargo”, o primeiro livro de Rio Branco, foi publicado em 1985 pelo Fundo de Cultura Economica, México. O segundo, “Nakta”, com um poema de Louis Calaferte, foi publicado em 1996 pela Fundação Cultural de Curitiba. Em 1998 lançou dois livros: “Miguel Rio Branco”, com ensaio de David Levi Strauss, lançado pela Aperture; e “Silent Book”, pela Cosac& Naify.
Miguel Rio Branco possui obras no acervo de coleções públicas e particulares europeias e americanas, entre elas: Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu de Arte de São Paulo; Centro George Pompidou, Paris; San Francisco Museum of Modern Art; Stedelijk Museum, Amsterdã; Museum of Photographic Arts of San Diego; e Metropolitan Museum of New York. Possui um pavilhão dedicado à sua obra no Instituto Inhotim, em Brumadinho (MG).
setembro 4, 2016
Globo da morte de tudo, instalação de Nuno Ramos e Eduardo Climachauska, no Sesc Pompeia, São Paulo
A instalação, que acontece em São Paulo pela primeira vez, traz em outubro uma performance dividindo a obra em dois momentos diferentes
A unidade do Sesc Pompeia recebe, a partir de 3 de setembro, a instalação O globo da morte de tudo, de Nuno Ramos e Eduardo Climachauska, dois inventivos e múltiplos artistas das artes visuais. A instalação fica aberta para visitação até 6 de novembro.
O projeto é pensado há mais de quatro anos, a partir do ritual da dádiva, da oferenda, existente em sociedades primitivas. Consiste em dois globos de aço sobrepostos e unidos por um ponto, “formando um oito tombado, o símbolo do infinito”, como aponta Nuno Ramos. Estes globos estarão conectados a quatro paredes de prateleiras de aço, com seis metros de altura, nas quais serão depositados mais de 1.500 objetos, comprados, coletados e doados por amigos e conhecidos ao longo do processo de criação.
Os objetos são agrupados em quatro categorias:cerâmica, cerveja,nanquim e porcelana.“Essas categorias podem ter um aspecto antropológico, mas é muito arbitrário”, explica Eduardo Climachauska. “É uma forma que encontramos para organizar as coisas e podemos trocar os objetos de categoria também”, conclui.
Segundo descrito pelos artistas, cada uma das quatro categorias presentes nas estantes tem um significado. A categoria cerâmica tem a ver com coisas arcaicas: instrumentos agrários, berrantes e material de construção. A categoria cerveja tem objetos ligados à vida cotidiana, como máquinas, troféus e bolas de sinuca. A categoria nanquim está ligada à morte, às coisas escuras e calcinadas. Já, a categoria porcelana representa o luxo, a frescura e coisas fora de moda, como peças de decoração, frascos de vidro e computadores antigos.
Estes elementos empilhados em bandejas de vidros planos formam um frágil equilíbrio, contrastando com a presença dos dois globos. Fazem, assim,uma espécie de inventário da cultura prestes a desabar. No dia 4 de outubro,um mês após a abertura da exposição, às 20h, acontece um evento-performance no qual dois motoqueiros giram dentro dos globos. Com o ruído provocado pelos motores e a trepidação, os objetos despencam parcialmente das prateleiras espatifando-se no chão. A exposição terá dois momentos: o antes e o depois da performance.
O momento performático convida à reflexão sobre alguns conceitos, tais como: consumo, acumulação e memória afetiva em relação aos objetos do cotidiano, sem tirar o bom humor da cena: ver as coisas quebrando. “A obra traz um aspecto cômico, um fundo de raiva, com sensação de querer que tudo vá pro inferno”, destaca Nuno Ramos, que ainda ressalta: “é a obra que mais me divertiu”.
Para Climachauska, a destruição das coisas, quando se quebram e se separam é, ao mesmo tempo, o momento no qual se misturam, virando matéria. “Surge uma fusão dos materiais, mistura de cores, líquidos, texturas [...] e depois existe outra organização que independe da nossa vontade”, conclui o artista.
Assista ao vídeo de Nuno e Climachauska falando um pouco mais sobre a obra, em dezembro de 2012, durante o período de exposição na galeria Anita Schwartz.
Sobre os artistas
Amigos e parceiros de longa data, Nuno Ramos (1960, São Paulo) e Eduardo Climachauska (1958, São Paulo) já compuseram juntos diversas canções, nove delas gravadas por Rômulo Froes e uma por Gal Costa, e realizaram os filmes: “Iluminai os terreiros” (2007), “Casco” (2004) e “Para Nelson – Luz Negra” e “Duas Horas” (2002), os dois primeiros com o cineasta Gustavo Moura.
O caráter questionador de Nuno Ramos não se apresenta apenas na obra “O globo da morte de tudo”. A transmutação de formas por via violenta adquire caráterprocedimental em toda a produção do artista, que possui desdobramentos em várias áreas. Nuno cursou filosofia na Universidade deSão Paulo. Realizou os primeiros trabalhos tridimensionais em 1986. Em 1992, em Porto Alegre, expôs pela primeira vez a instalação111, que se refere ao massacre dos presos na Casa de Detenção de São Paulo (Carandiru). Publicou, em 1993, o livro em prosa “Cujo” e, em 1995, olivro-objeto “Balada”. Venceu, em 2000, o concurso realizado em Buenos Aires para aconstrução de um monumento em memória aos desaparecidos durante a ditadura militarnaquele país. Em 2002, publicou o livro de contos “O Pão do Corvo”. Para compor suasobras, o artista emprega diferentes suportes e materiais, e trabalha com gravura, pintura,fotografia, instalação, poesia e vídeo. Participou de quatro edições da Bienal de São Paulo(em 1985, 1989, 1994 e 2010, quando levou polêmicos urubus ao Pavilhão da exposição) eda 46ª Bienal de Veneza (em 1995).
Formado em cinema pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo -ECA-USP (1976-1980), Eduardo Climachauska vem realizando exposições em importantes museus,instituições culturais e galerias de arte no Brasil e no exterior. Já realizou exposições noMuseu de Arte Moderna de São Paulo - MAM, no Museu de Arte de São Paulo - MASP, noMuseu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo - MAC USP, no CentroCultural São Paulo - CCBB, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro - MAM-RJ, e emgalerias, como a SycomoreArt em Paris, entre outras. Produziu filmes e vídeosexperimentais de curta e média metragem, exibidos em mostras e festivais de várias capitais, como “Outono de Bashô” (1994), em parceria com Guto Araujo; “Bólide-Filme”(1995); “Exposto nº 2” (1997); “The RightNumber” (2001), com Guto Araujo; “Três Caras eum Matagal” (2001), com Alexandre Boechat e Guto Araujo; “Pensamento Selvagem”(2002), com Alexandre Boechat; além dos realizados com Nuno.
Novas Aquisições - MAPA no CCSP, São Paulo
Centro Cultural São Paulo expõe obras do acervo do Museu de Artes Plásticas de Anápolis
O Centro Cultural São Paulo apresenta, no período de 3 de setembro a 4 de dezembro, a exposição Novas Aquisições - MAPA com produções dos artistas Carlos Sena, Marcelo Solá, Divino Sobral, Rodrigo Godá, Humberto Espíndola, Gê Orthof, Elyeser Szturm, Elder Rocha, Luiz Mauro, Pitágoras Lopes e Adir Sodré. A exposição reúne 13 trabalhos, todos incorporados, recentemente, ao acervo do Museu de Artes Plásticas de Anápolis (MAPA). São desenhos, pinturas e uma instalação.
Fez-se um recorte curatorial marcado pela diversificação de linguagens abordadas por artistas de Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Esses artistas, durante décadas, contribuíram para a construção da História da Arte e o aprimoramento da produção da região Centro-Oeste, e para o fortalecimento das divisas culturais geradas a partir da interação com as outras regiões do Brasil.
Outro princípio que norteia a concepção curatorial remete à afinação existente na pesquisa plástica e poética desses artistas, explica o curador da mostra, Paulo Henrique Silva. Apesar de a maioria utilizar suportes tradicionais como a tela e o papel, são capazes de preencher essas superfícies de inquietações inerentes ao mundo contemporâneo, onde o agora e o hoje são expressos por meio de manobras intelectuais extremamente sofisticadas.
A intenção, de acordo com a curadoria, é a de oferecer ao público um panorama temporal, que esboça o cenário da arte contemporânea no Centro-Oeste, desde os anos 60, com Humberto Espíndola, primeiro artista a vivenciar e operar códigos contemporâneos na região, perpassando pelo artista mato-grossense pertencente à geração dos anos 70, Adir Sodré; por Carlos Sena, Elder Rocha e Luiz Mauro, artistas emergentes da década de 80; por Marcelo Solá, Pitágoras Lopes, Divino Sobral, Elyeser Szturm e Gê Orthof, que fazem suas primeiras exposições no cenário local no início da década de 1990 e, para fechar este recorte, chega-se a Rodrigo Godá, que tem sua trajetória iniciada em meados dos anos 90.
Gustavo von Ha NO MAC USP Ibirapuera, São Paulo
O Museu de Arte Contemporânea da USP apresenta, a partir de 3 de setembro às 11 horas, a exposição Inventário: Arte Outra, com 34 trabalhos recentes e inéditos (telas, objetos e vídeo) do artista visual paulista Gustavo von Ha. As obras remetem a uma visualidade inscrita a partir do segundo pós-guerra, entre os anos 1950 e 1960, comumente denominada abstração expressiva ou gestual, pintura de ação, informalismo ou pintura matérica. Quase como um falsificador, von Ha se apropria de procedimentos, modos de fazer e mesmo da imagem de outros artistas, em trabalhos que evocam de Jackson Pollock a Alberto Burri. São citações e comentários de uma imagem genérica que pautou essa pintura de grande repercussão durante o segundo pós-guerra e que é celebrizada mesmo nos dias de hoje.
Von Ha recria o ambiente abstrato gestual oferecendo ao espectador telas e objetos que parecem eles mesmos originais. Para a curadora Ana Cândida de Avelar, crítica e professora do Instituto de Artes da Universidade de Brasília, “esses trabalhos aludem ao mito de um gesto artístico heroico. Uma marca sobre o suporte deixada pelo artista-criador que fundaria, assim, algo novo e original. O resultado são obras que participam de um imaginário da abstração expressiva como um banco de imagens que compõem nosso entendimento artístico”.
Von Ha não recria obras. Ele produz aquilo que poderia ter sido como numa serialização a partir de matrizes que simulam essa existência possível. Mas essas simulações não são escolhidas aleatoriamente e, além disso, não se trata de uma apropriação apenas da visualidade, mas dos procedimentos aos quais recorriam os principais nomes da pintura abstrato-expressiva. Assim, para a curadora “há uma dimensão de performance que percorre o processo produtivo de von Ha, ou seja, as obras aqui presentes revelam apenas parte daquilo que em realidade são”. Já suas pinturas matéricas, feitas do acúmulo de tinta, não são resultado de empasto, mas sim da raspagem de telas construtivas que von Ha realiza à maneira de um Volpi, de um Hercules Barsotti, entre outros. “O gesto em questão não é aquele que cria, mas o que desfaz a forma clara, de contornos rígidos, metamorfoseando-a num informalismo contemporâneo”, explica Ana Avelar.
Os trabalhos de von Ha contribuem, ainda, para os debates sobre a celebrização do artista, a originalidade e a novidade na arte contemporânea. A exposição, além de mostrar a produção recente de um artista presente no acervo do MAC USP, atualizando o conhecimento sobre seu trabalho, amplia o debate sobre obras pertencentes ao Museu, por meio do aprofundamento de temas como originalidade, imitação, cópia, ilusão, subjetividade e gesto.
setembro 2, 2016
Ivens Machado no Pivô, São Paulo
Em setembro, paralelamente à abertura da 32a Bienal de São Paulo, o Pivô apresenta a segunda edição do programa “Fora da Caixa”. Nessa ocasião, o espaço expositivo principal da instituição será ocupado por uma grande mostra revisional do artista Ivens Machado, com curadoria de Kiki Mazzucchelli.
A mostra individual de Ivens Machado (Florianópolis, 1942 - Rio de Janeiro, 2015) O Cru do Mundo reúne um conjunto de esculturas, vídeos e desenhos com foco nas duas primeiras décadas de sua produção. Conhecido por sua obra escultórica, na qual emprega materiais característicos da construção civil popular, o artista iniciou sua carreira no Rio de Janeiro, na década de 1970, tendo como interlocutores nomes como Anna Bella Geiger, Fernando Cochiaralle e Paulo Herkenhoff.
Parte da geração que sucedeu imediatamente os grupos filiados ao Concretismo e ao Neoconcretismo, Ivens optou por forjar uma trajetória estética própria, que encontrou certa resistência no circuito por não se conformar às genealogias artísticas estabelecidas e pelo modo controverso com que tratava de temas como a sexualidade e a violência. Ainda assim, é considerado um dos artistas mais significativos da segunda metade do século no Brasil pela crítica especializada, e a relevância e a influência de sua obra, sobretudo para as gerações mais jovens, é cada vez mais evidente. Grande parte das obras reunidas em O Cru do Mundo foram produzidas nas décadas de 1970/80, sendo que algumas foram exibidas apenas em mostras individuais do artista em galerias comerciais neste período. A exposição inclui, ainda, obras mais recentes que tiveram pouca ou nenhuma circulação em espaços institucionais. Ao reunir trabalhos de diferentes períodos da produção do artista, O Cru do Mundo pretende enfatizar o caráter original da obra de Ivens e a coerência formal e crítica que perpassa os diversos meios com que trabalhou.
No relato de seu encontro com a instalação de Ivens Machado apresentada na 16a . Bienal de São Paulo (1981) - uma grande forma ovóide de concreto armado cravejada de cacos de vidros e suspensa por cabos de aço - o crítico Paulo Sergio Duarte escreve: “Digamos que, se pudéssemos reduzi-la à oposição cru/cozido, estaríamos no mundo das formas cruas”. Essa crueza característica da obra de Ivens se manifesta explicitamente no modo em que manipula materiais de aspecto bruto, como os cacos de vidro, cimento e vergalhões recorrentes em suas construções escultóricas. Mas para além de sua aparência física, suas formas desreprimidas e primitivas, que se recusam a se conformar aos limites da pureza visual, reiteram a insistência em operar a desconstrução da norma, algo presente desde os primeiros anos de sua produção.
Desde suas intervenções gráficas em papeis pautados (1974-5), nas quais interrompia ou desviava o curso das linhas, passando pelo espaço de subversão de regras de conduta social criado na instalação Obstáculos/Medidas (MAM-RJ, 1975) até sua produção escultórica - “arquiteturas sem projeto”, nas palavras de Milton Machado -, a obra de Ivens Machado está em contato vivo com a existência das coisas em seu estado cru, pré-normativo ou racionalizado. O Cru do Mundo . Como escreveu Paulo Herkenhoff: “Saber conviver com essas obras é atravessar o umbral do conhecimento que propiciam. É saber arte naquilo que o míope vê trambolhos.”
*As obras presentes na exposição pertencem a acervos públicos e privados e sua viabilização foi possível graças ao apoio do Acervo Ivens Machado sob a coordenação de Monica Grandchamp.
Sobre o programa Fora da Caixa
O programa Fora da Caixa revisita obras e projetos artísticos exibidos no passado e que agora permanecem guardados em acervos públicos ou privados. Procura-se assim investigar a produção artística dos últimos 50 anos e refletir sobre sua influência na atualidade, promovendo interlocuções possíveis com o panorama da produção contemporânea recente.
A cada edição, um curador é convidado para se encarregar da pesquisa e reapresentação desses trabalhos históricos no Pivô. Essa proposta possibilita novamente seu contato com o público, que os reencontra em outro contexto ou os descobre pela primeira vez. Ao exibir esses trabalhos simultaneamente à produção contemporânea recente no ambiente do Pivô, relações intergeracionais são promovidas naturalmente e espera-se que, a partir dessa fricção ou sinergia, sejam abertas possibilidades de pesquisa e pensamento crítico. A primeira edição do programa ocorreu em 2015 com a mostra Casa 7 no Pivô, com curadoria de Eduardo Ortega.
Ivens Machado (1942-2015) já teve sua obra exposta em importantes instituições do Brasil e do mundo, como: MAR - Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro (2014), Fundação Bienal de São Paulo (2013 e 2004), Casa França Brasil, Rio de Janeiro (2011), Centro Cultural Hélio Oiticica, Rio de Janeiro (2010), Paço Imperial, Rio de Janeiro (2007 e 2001), Musée de L’hôtel-Dieu, Mantes-la-Jolie, França (2005), Bienal do Mercosul, Porto Alegre (2003), Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro (2002), Museu de Arte Moderna de São Paulo, São Paulo (2001 e 2000), Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo (2001 e 1977), Museu de Arte Contemporânea, Curitiba (2001), Fundação Caloustre Gulbekian, Lisboa, Portugal (2000), Art Museum of the Americas, Washington D.C., EUA (1999), Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro (1998), El Museo del Barrio, Nova Iorque (1997), Palazzo di Lorenzo, Gibellina, Itália (1997), PS1, Nova Iorque, EUA (1998), entre outros.
O Acervo Ivens Machado é o projeto responsável pela gestão do acervo pessoal do artista, com curadoria da designer Mônica Grandchamp, que foi assistente e amiga de longa data de Ivens Machado. Selecionado pelo Prêmio Funarte de Incentivo às Artes Visuais em 2015, para mapeamento da obra, o Acervo Ivens Machado tem como missão a catalogação da produção do artista, sua manutenção e visibilidade.
Kiki Mazzucchelli é curadora, escritora e editora independente. É cocuradora (com Rocío Aranda-Alvarado, Kathleen Ash-Milby, Pip Day e Pablo León de la Barra) de “much wider than a line”, a Bienal do Site Santa Fe (2016-17), Novo México. Projetos de exposição recentes incluem “O que não tem conserto”, individual de Tonico Lemos Auad no Pivô (2015, São Paulo) e Pia Camil, Pablo Helguera e Pedro Reyes no MIMA (2015, Middlesbrough), com cocuradoria de Alix Collingwood-Swinburn. Contribui regularmente para publicações internacionais, entre elas Art Review (UK), Flash Art (Italy), Frieze (UK), Mousse (Italy) e Terremoto (Mexico).
Caio Reisewitz + Tobias Putrih na Luciana Brito, São Paulo
No dia 3 de setembro, sábado, às 12h, a Luciana Brito galeria inaugura duas exposições simultâneas em seu novo espaço expositivo. O artista Caio Reisewitz abre a exposição Aterro, com obras inéditas realizadas no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, com curadoria de Guilherme Wisnik. Também no dia 3 de setembro, o artista esloveno Tobias Putrih apresenta a exposição “Compreensões”, compostas por duas instalações inéditas inspiradas pela arquitetura da casa onde está instalada a Galeria Luciana Brito, um projeto modernista de Rino Levi.
Caio Reisewitz (São Paulo, 1967) apresenta sua primeira individual no novo espaço da Luciana Brito Galeria, “Aterro” será composta por oito fotografias inéditas realizadas no Aterro do Flamengo, um dos mais famosos projetos paisagísticos de Burle Marx localizado no Rio de Janeiro.
O Aterro de Caio Reisewitz é uma paisagem onírica, vista como que em estado de sono ou vigília, em que a noite e dia se confundem. As imagens, todas noturnas, ganham tons fantasiosos devido à iluminação artificial do Aterro, estabelecendo um diálogo com as primeiras fotografias a cor produzidas por Marc Ferrez, em 1914, que também são referencias neste projeto. O artista paulistano lida com patrimônios arquitetônicos e paisagísticos da modernidade brasileira criando cruzamentos discretamente delirantes entre a exuberância da natureza tropical e as linhas sóbrias da construção moderna e agora em “Aterro” desloca o diálogo com a arquitetura para uma escala urbana. Não vemos pessoas nem edifícios nessas fotos, apenas a natureza projetada e construída sobre uma particular luz noturna.
Este jardim gigante que virou floresta, onde até mesmo a lua cheia é mimetizada por postes de luz gigantescos, escondidos pelas copas das árvores, aparece como epítome da construção do real, da natureza como simulacro.
Caio Reisewitz apresentou recentemente individuais em instituições internacionais de renome como o ICP - Internacional Center for Photography (Nova York, 2014), o Huis Marseille Museum voor Fotografie (Amsterdam, 2015) e a Maison Européenne de la Photographie (Paris, 2015). Ano passado, também em Paris, apresentou a individual “Plantes, Pavillions et Pétrole” [Plantas, Pavilhões e Petróleo]. Em 2007, foi selecionado para representar o Brasil na 51a Bienal de Veneza (2007).
Tobias Putrih (Eslovênia, 1972), Representado pela galeria há três anos, apresenta sua primeira individual na Luciana Brito Galeria, “Compressões”. A partir da ideia de Rino Levi de uma sala de estar comprimida entre duas camadas de jardim tropical – também projetados por Burle Marx –, telas de papelão corrugado extensível formam barreiras semitransparentes no espaço expositivo. O material, bastante flexível, será manipulado pelo artista com prensas plásticas que criam distorções em sua estrutura original, dando origem a padrões visuais diversos. Uma das instalações é formada com 15 telas de 150 x 106 x 3 cm sustentadas por molduras de alumínio semelhantes às encontradas na Luciana Brito Galeria.
Parte da instalação poderá ser manipulada pelos visitantes, que, através do reposicionamento das prensas, criam novas composições e padrões para as telas de papelão. A exposição apresentara uma segunda instalação criada a partir de pedras que o artista recuperou em cavernas ao redor do mundo, mostradas juntamente com variações da escala de cinza da Pantone que traduzem a quantidade de luz que esses minerais receberam ao longo de sua existência.
Com uma produção artística que inclui instalação, escultura, desenho e intervenção, entre outras técnicas e linguagens, Tobias Putrih tem um interesse especial por objetos funcionais, lidando com sua natureza um tanto corriqueira, mas reinventando seu estatuto de modo radical. Um de seus procedimentos comuns para fazê-lo é criar, em suas instalações, intervenções e objetos, “situações de fluxo” e pontos de encontro, redefinindo a própria ideia de mobília, recriando seu significado e, assim, ampliando o alcance da coexistência humana e da percepção individual.
Caio Reisewitz (São Paulo, 1967) Formado em artes plásticas pela Universidade de Mainz (Alemanha), Reisewitz tem especialização em poéticas visuais e mestrado pela Universidade de São Paulo. Entre as bienais de que participou estão a 26ª Bienal de São Paulo, 51ª Biennale di Venezia e Nanjin Biennale (2010, China). MUSAC – Museo de Arte Contemporáneo de Castilla e León, Instituto Moreira Salles Rio de Janeiro, Martin-Gropius-Bau Berlin, Ella Fontanals-Cisneros Collection Miami estão entre as instituições em que já expôs. Sua obra pode ser encontra em acervos como Cisneros Fontanals Art Foundation, Fundación ARCO Madrid, Collezione Fondazione Guastalla (Milão, Itália), Centre National des Arts Plastiques – CNAP (Paris, França), MUSAC, Museu de Arte Moderna (de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador), Fundación Helga de Avear (Cáceres, Espanha), Musée Malraux (Le Havre, França), entre outros. Em 2014 realizou exposição individual no ICP – International Center of Photography, em Nova York, um dos mais importantes espaços da fotografia mundial. Em 2015 Caio Reisewitz realizou quatro exposições individuais pela Europa, entre elas Caio Reisewitz no Maison Europeénne de la Photographie em Paris e Florestas, favelas e falcatruas no Huis Marseille Museum voor Fotografie em Amsterdam.
Tobias Putrih (Eslovênia, 1972) é natural de Kranj, Eslovênia, e mora e trabalha em Nova York. Seu trabalho foi apresentado em instituições importantes no mundo todo, como o MUSAC (León, Espanha), Fondazione Sandretto Rebaudengo (Turim, Itália), Centre Pompidou (Paris, França), Ludlow38 (Nova York, EUA), Wexner Center (Columbus, Ohio, EUA), Bienal de Veneza (Veneza, Itália), MoMA (Nova York, EUA), Musée d’art Contemporain de Montréal (Canada), Bienal de São Paulo (Brasil) e Musée d’art Moderne Grand-Duc Jean (Luxemburgo). A obra de Putrih está representada nas seguintes coleções públicas: MoMA (Nova York, EUA), Centre Georges Pompidou (Paris, França), Musée d’ Art Moderne Grand-Duc Jean (Luxemburgo) e Museum Boijmans Van Beuningen (Roterdã, Holanda).
Corpos Informáticos + Naura Timm na Gabinete de Arte k2o, Brasília
Exposição individual da artista Naura Timm, reúne pinturas, esculturas e objetos recentes, grande parte inéditos, produzidos em materiais híbridos, com obras que evocam a profundidade e a visceralidade da obra desta grande personagem das artes, radicada em Brasília há mais de 30 anos cuja obra é fortemente influenciada pela espiritualidade e transcendência em diversas formas. Serão apresentadas também algumas obras históricas como pinturas e objetos escultóricos.
Em paralelo, o grupo brasiliense "Corpos Informáticos" apresentará instalação e painéis murais relativos à série KOMBEIROS, lançando também fotografias inéditas da série. Esta participação integra nova edição dos projetos VITRINE e MURO.
Naura Timm vive e trabalha em Brasília. Estudou no Centro de Artes da UFSM-RS e no Instituto Brasileiro de Artes. Formada na Escola de Belas Artes Parque Lage do Rio de Janeiro-RJ, foi aluna no ateliê de Iberê Camargo. Participou de inúmeras mostras individuais e coletivas, dentre as quais destacam-se: Museu Nacional da República Dominicana; galerias de arte em Nova York (2012); Museu Nacional da República e Casa da América Latina, em Brasília-DF etc. Lançou o livro “Voz do Coração” (2013). Utiliza diversas técnicas na produção de suas obras, desde litografia, gravura em metal a desenho, escultura, pintura, mural e poesia. Vencedora de prêmios como: Prêmio de Arte Contemporânea de Brasília – Iate Clube (2011) e o Prêmio “Artist Prefered” – Saatchi Gallery (2012). Sua obra integra várias coleções privadas e públicas, tanto no Brasil quanto no exterior, inclusive a Cartier (França).
VITRINE #3 e MURO #2
Os projetos VITRINE e MURO apresentam o coletivo de artistas "Corpos informáticos" grupo de pesquisa em arte contemporânea, fundado em Brasília em 1991, sob a liderança de Bia Medeiros que foi contemporânea de Naura Timm no Parque Lage/RJ. O coletivo realiza fotografia, composição urbana, performance, webarte, videoarte, organiza eventos e escreve artigos e livros. Os conceitos pensados são fuleragem, lance, mar(ia-sem- ver)gonha, pronóia, iteração, volução. Os artistas atuais incluem: Ayla Gresta, Bia Medeiros, Bruno Corte Real, Diego Azambuja, Gustavo Silvamaral, João Stoppa, Maria Eugênia Matricardi, Mariana Brites, Mateus de Carvalho Costa, Matheus Opa, Natasha de Albuquerque, Rômulo Barros, Thiago Marques, Zmário (José Mário Peixoto).
Corpos Informáticos realizou em 2011: "Mar(ia-sem-ver)gonha" (6/150 m), a mais extensa e duradoura intervenção urbana do DF, cujo videoarte ganhou o 1 o Prêmio no Salão do Pará 2013. Realizou também o "Kombeiro", conjunto composto por 7 Kombis uma das quais está posicionada nos jardins do espaço expositivo. Três grandes painéis murais serão expostos acompanhados por edições inéditas em Brasília da obra em fotografia com tiragem limitada, cujo lançamento será feito na ocasião.
Gabinete de Arte k2o
A galeria "Gabinete de Arte k2o" foi criada por sua diretora Karla Osorio Netto, em 2013, culminando longo percurso dedicado à difusão da arte contemporânea em Brasília. Durante 15 anos, ela criou e manteve o ECCO - Espaço Cultural Contemporâneo, maior e principal espaço institucional privado dedicado só à arte contemporânea da capital do Brasil.
Colabora de modo direto na inserção de artistas contemporâneos no mercado e na cena institucional. Privilegia a produção mais inovadora em arte, com programa de exposições temporárias, fomentando várias linguagens e técnicas. Representa artistas brasileiros e estrangeiros, focando sua ação tanto a nível nacional, quanto internacional, inclusive participando em feiras de arte. Apoia pesquisas e projetos inovadores, desenvolvendo também programa de cursos, palestras, parcerias com outros espaços e instituições, além de intervenções no espaço público. Pretende estimular a produção curatorial, em projetos com curadores visitantes e residências de artistas. Além da sede em Brasília no SCS, possui espaço expositivo no Lago Sul e escritório em São Paulo. Atua também no mercado secundário.
Carmela Gross na Chácara Lane, São Paulo
Museu da Cidade de São Paulo promove panorama de 50 anos da carreira de Carmela Gross
A Secretaria de Cultura do Município de São Paulo e o Museu da Cidade abrem no dia 3 de setembro de 2016, às 15 horas, na Chácara Lane, a exposição Arte à Mão Armada da artista Carmela Gross. Para Douglas de Freitas, curador da mostra, “em 50 anos de produção Carmela Gross tem se dedicado a trabalhos em que a presença da cidade e seus elementos de funcionamento e construção se fazem presentes, trazendo como principal característica a radicalidade com que a arte pode desafiar e questionar a normalidade das coisas, as lógicas da cidade, e sua própria lógica”.
A exposição “Arte à Mão Armada” propõe um panorama de 50 anos de trabalho da artista, exibindo cerca de 15 séries de trabalhos em cerca de 50 obras, entre históricas e inéditas, além de extensa documentação nunca exposta sobre seus trabalhos e processo criativo. “Exibimos numa sala pela primeira vez os fac-símiles de todas as pastas de projetos da artista, onde todo o processo de construção da obra está registrado. São cerca de 100 pastas, algumas com 300 documentos dentro, incluindo “A Negra” (1997) e os “Carimbos e Carimbadas” (1977), com desenhos e estudos de execução”, conta o curador.
Na sala que recebe o público, no andar térreo, encontram-se a seminal “Escada” (1968), fotografia que regista desenho em esmalte sobre a terra na periferia paulistana, e os lambe-lambes que emprestam nome à mostra “Arte à Mão Armada” (2009), que, por sua vez, são distribuídos gratuitamente durante o período expositivo. A sala seguinte abriga “Feche a Porta” (1997), série de obras de tubos de ferro presos por dobradiças à parede. Em seguida, são exibidas a volumosa série de 20 monotipias “Pensas, Achas, Pode, Gosto” (1996), obra da Coleção de Arte da Cidade de São Paulo, que será reposicionada toda segunda-feira, além da série “Carimbos e Carimbadas”. “Comedor de Luz” (1999-2000), instalação em ferro e lâmpadas fluorescentes, está disposta diretamente no chão, ocupando a sala ao fundo da Casa.
O corredor, por sua vez, é tomado pela irônica instalação “Figurantes” (2015), com nomes de profissões e tipos humanos impressos em placas azuis de ágata presos às paredes, à semelhança das antigas placas de nomes de rua. São as figuras listadas por Marx, em “O 18 Brumário de Luís Bonaparte” (1852), como membros da Sociedade 10 de Dezembro, constituída de biscateiros, arrivistas, herdeiros arruinados, vagabundos e desocupados de toda ordem: batedores de carteira, ex-presidiários, vigaristas, rufiões decadentes e muitos outros…
A varanda da casa é tomada pela instalação “Hino à Bandeira” (2002), composta de aproximadamente 30 m2 de lençóis rosa em diferentes tonalidades que são molhados todos os dias. “Escada Chácara Lane” (2016)é um site-specific inédito. A escultura propõe a ligação do espaço do Museu à Escola Municipal, articulando o projeto educativo da exposição aos alunos da escola vizinha.
O primeiro andar é reservado às obras de maior envergadura como a extensa instalação em néon vermelho “Us cara Fugiu Correndo” (2000-2001), a série de 25 unidades de “Gravuras Rosas” (2002) e estudo para “Hino a Bandeira”. Seguindo a poética da artista, que extrapola os limites espaciais das instituições com obras monumentais, a instalação “Eu sou Dolores” (2002), realizada para o “Arte/Cidade” e cujo projeto está no acervo do MAM-SP, será remontada. São cerca de 400 lâmpadas tubulares vermelhas presas a uma estrutura metálica de 20 m de comprimento que transpassa o espaço interno da casa e se projeta para a área externa, podendo ser vista desde a Rua da Consolação.
Também como parte de mostra, é inaugurada no dia 04 de setembro, domingo, às 11h, a instalação da artista na Capela do Morumbi, também unidade do Museu da Cidade. “A instalação da Carmela foi realizada em 1992, logo no início do projeto de instalações da Capela. A remontagem da obra é uma comemoração do aniversário de 25 anos do projeto e integra a exposição porque se relaciona diretamente com panorama exposto na Chácara Lane”, acrescenta Douglas. Depois da montagem da obra em 1992, a instalação foi doada pela artista para a coleção do MAC-USP.
Essa grande mostra dá sequencia à implantação da Chácara Lane dentro do projeto proposto pela gestão, do Centro de Artes Visuais, dedicado ao fomento, pesquisa, difusão e formação em artes visuais. A exposição também coloca a Secretaria de Cultura dentro do circuito de exposições da 32ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo.
Carmela Gross, (São Paulo, SP, 1946). Doutora em arte pela ECA-USP. Desde os anos 1970, atua em linguagens diversificadas como desenho e litografia, utilizando novos meios como carimbos, heliografia, xerox e videoarte, desenvolvendo experiências de transposição entre mídias. A partir de 1972, leciona na Faculdade de Artes Plásticas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA-USP. Obtém a Bolsa Vitae de Artes Plásticas, São Paulo, em 1991. Em 1994, recebe bolsa para pesquisar no European Ceramics Work Centre, em s'Hertogenbosch, Holanda, onde elabora o conjunto de cerâmica intitulado “Facas”, posteriormente apresentado no Rio de Janeiro e em São Paulo. A artista participou de duas edições do “Arte/Cidade”, em 1994 e 2002, e de várias edições da Bienal de São Paulo, como as de 1967, 1969, 1981, 1983 e 2002. Tem obras nas seguintes coleções públicas: Museu de Arte Contemporânea – MAC-USP, São Paulo, Brasil; Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM SP; Pinacoteca do Estado de São Paulo; Pinacoteca Municipal de São Paulo - Centro Cultural São Paulo – CCSP; Museum of Fine Arts, Houston, EUA; e Museum of Modern Art [MOMA], Nova Iorque, EUA.
Art Weekend São Paulo movimenta a capital paulista com mais de 45 exposições em galerias da cidade
De 2 a 4 de setembro, galerias de arte oferecem programação especial em horários estendidos
Em sua edição inaugural, o Art Weekend São Paulo traz à capital paulista mais de 40 eventos especiais – entre aberturas, visitas guiadas, lançamentos de livros, performances e bate-papos –, com mais de 130 artistas em foco. Ao total, 36 galerias espalhadas pela cidade participam do evento, feito pela SP-Arte e o Projeto Latitude – voltado à internacionalização do mercado brasileiro de arte contemporânea e realizado por meio de uma parceria entre a ABACT - Associação Brasileira de Arte Contemporânea e a Apex-Brasil - Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos.
Realizado às vésperas da 32a Bienal de São Paulo, aproveitando a movimentação cultural paulistana, o Art Weekend ocorre das 17h de sexta-feira (2/9) até as 20h de domingo (4/9) e é totalmente gratuito. Serão ao todo 40 pontos de visitação, organizados em quatro circuitos: Centro/Barra Funda, Itaim, Jardins, Pinheiros/Vila Madalena.
Na sexta, as galerias funcionam até as 22h. Já no sábado e no domingo, os espaços ficam abertos das 12h às 20h. Em 3/9 e 4/9, vans transportam o público sem custo pelos circuitos, mediante disponibilidade dos veículos.
Confira abaixo os locais de horários de saída de vans, que vão percorrer um trajeto circular:
Centro/Barra Funda. Galerias participantes: Boatos Fine Arts, Galeria Fortes Vilaça (Galpão), Galeria Jaqueline Martins, Sé e Vermelho.
- Saídas das galerias Fortes Vilaça (Galpão) e Sé: 12h, 13h, 14h, 15h, 16h, 17h, 18h e 19h
- Saídas da Vermelho: 12h30, 13h30, 14h30, 15h30, 17h30, 18h30 e 19h30
Itaim. Galerias participantes: Andrea Rehder Arte Contemporânea, Carbono Galeria, Choque Cultural, Fólio, Galeria Luciana Brito, Galeria Lume, Galeria Marilia Razuk, Galeria Mario Cohen e Galeria Nara Roesler.
- Saídas das galerias Carbono e Marilia Razuk: 12h, 13h, 14h, 15h, 16h, 17h, 18h e 19h
- Saídas da Nara Roesler: 12h30, 13h30, 14h30, 15h30, 17h30, 18h30 e 19h30
Jardins. Galerias participantes: Galeria de Arte Almeida e Dale, ArtEEdições, Baró Galeria, Galeria Bergamin & Gomide, Casa Nova Arte, Casa Triângulo, DAN Galeria, Frente, Galeria Luisa Strina, Galeria Marcelo Guarnieri, Mendes Wood DM, Paulo Kuczynski Escritório de Arte, Galeria Rabieh e Zipper Galeria.
- Saídas das galerias Almeida e Dale e Rabieh: 12h, 13h, 14h, 15h, 16h, 17h, 18h e 19h
- Saídas da Zipper: 12h30, 13h30, 14h30, 15h30, 17h30, 18h30 e 19h30
Pinheiros / Vila Madalena. Galerias participantes: Bolsa de Arte de Porto Alegre, Blau Projects, Central, Choque Cultural, Galeria Eduardo Fernandes, Galeria Fortes Vilaça, Galeria Leme, Galeria Mezanino, Galeria Millan e Galeria Raquel Arnaud.
- Saídas das galerias Eduardo Fernandes e Leme: 12h, 13h, 14h, 15h, 16h, 17h, 18h e 19h
- Saídas da Millan: 12h30, 13h30, 14h30, 15h30, 17h30, 18h30 e 19h30
Para escolher percursos e atividades, o público pode consultar o mapa oficial do evento, distribuído nas galerias, ou ainda seguir as rotas no aplicativo Artikin – ao fazer o download, é possível se localizar pelo celular.
Serviço
Art Weekend São Paulo – www.artweekend.com.br
Circuitos: Centro/Barra Funda, Itaim, Jardins, Pinheiros/Vila Madalena
Dia 2 de setembro, sexta-feira, das 17h às 22h
Dias 3 e 4 de setembro de 2016, sábado e domingo, das 12h às 20h
Circulação de vans gratuitas sujeitas à disponibilidade nos dias 3 e 4 de setembro
Realização: Latitude – Platform for Brazilian Art Galleries Abroad e SP-Arte
Informações: info@artweekend.com.br
Stuart Brisley na Jaqueline Martins, São Paulo
Em novo endereço, Galeria Jaqueline Martins abre primeira individual do britânico Stuart Brisley
Com projeto arquitetônico do Tacoa, dos sócios Fernando Falcon e Rodrigo Cerviño (Pavilhão Adriana Varejão, no Instituto Inhotim), a partir do dia 2 de setembro, o público poderá conhecer a nova sede, agora no centro da cidade, cinco vezes maior, com opening expandido até domingo (4), em clima de Bienal
Imagine um elefante no meio de uma sala e todos passando sem prestar atenção nele. É essa a ideia central da instalação que o artista britânico Stuart Brisley (1933) irá montar pela primeira vez no Brasil, na Galeria Jaqueline Martins, a partir de 2 de Setembro. “A origem é de uma frase em inglês [elephant in the room] que significa um grande problema ou questão controversa que é obviamente presente, mas evitada. É o que todo mundo sabe, mas ninguém fala”, explica Maya Balcioglu, que acompanha Stuart e é responsável pela documentação das suas performances.
Stuart Brisley, que ganhou notoriedade em 1972 por entrar em uma banheira de água putrefata e ali permanecer durante duas semanas, fará, sob medida para a galeria, uma peça em grande escala, semelhante a uma jaula, que norteará Interregnum. A obra faz conexão com o que ele apresentou na Bienal de São Paulo de 1985. A diferença é que naquela ocasião as pessoas podiam atravessar a peça e quase que tocar em coisas que não queriam tocar. “Stuart trabalha muito com essa ideia do que é jogado fora sem necessariamente ser lixo”, explica o português João Laia, curador da mostra.
Dessa vez, a instalação não permitirá a passagem dos visitantes. “Não será possível entrar, apenas circular ao redor”, explica João. “Stuart discute a redefinição do espaço e a forma como as pessoas interagem com ele. Essa reconfiguração é que vai ativar o trabalho e fazer refletir sobre o fato das pessoas não estarem aprisionadas no interior do trabalho, mas sim desde o exterior por não poderem entrar”, completa.
Pelo viés político, sempre presente nos trabalhos do artista, a discussão se dá pela suspensão que a obra propõe. “A pergunta é: Vai confrontar ou não vai? Senão, o que vai acontecer? Pode ser vista como um eco do que se passa aqui no Brasil. Um país em suspensão. A participação da população ou a sua ausência no que está acontecendo terá consequências muito importantes”, diz João.
“Stuart Brisley participou da Bienal e, somente em 2015, 30 anos depois, numa exposição coletiva. Acredito na imensa responsabilidade que é concretizar na galeria a primeira exposição individual de Brisley no Brasil. Isso expandirá o conhecimento de sua obra além da performance, mídia a qual ele é geralmente conhecido por dominar desde os anos 1960, nominado como o ´pai da performance´ por muitos. O tom crítico de sua obra, tanto político, quanto social, cabe como uma mensagem subliminar ao sistema dominante, o que eu acredito pode provocar o público no momento atual do nosso país", afirma Jaqueline Martins, idealizadora da exposição, que terá ainda publicações, livros, dois vídeos Next Door (the missing text) e Before the Mast e uma série de fotografias de obras do artista.
Sobre a nova sede
Com o objetivo de expandir o acervo de mais de 1.000 obras, entre documentos, publicações, fotografias e instalações, a galeria Jaqueline Martins anuncia a mudança para a Vila Buarque (região central da cidade), o prédio originalmente construído para um armazém industrial nos anos 40 conta com 600m e vai nos permitir abrigar exposições mais ambiciosas.
“Literalmente as ideias não cabiam mais nas gavetas’’. Sentimos que é momento de renovação do espaço expositivo e de acesso do nosso público. O prédio e a sua localização vêm de encontro com a nossa concepção do ‘não obvio’. Um projeto ousado e surpreendente baseado no percurso desenvolvido nos últimos cinco anos de atividade”, completa Jaqueline.
O projeto arquitetônico é do Tacoa, dos sócios Fernando Falcon e Rodrigo Cerviño, os mesmos do Pavilhão de Adriana Varejão, no Instituto Inhotim. A mudança acontece ainda em agosto, à rua Dr. Cesário Mota Júnior, 443.
Sandra Gamarra na Leme, São Paulo
A Galeria Leme apresenta o quinto site-specific comissionado para o projeto SITU, curado por Bruno de Almeida, que dá continuidade a uma investigação sobre formas de pensar e discutir a produção do espaço (urbano) através de um diálogo entre arte, arquitetura e cidade. SITU convida a artista peruana Sandra Gamarra a conceber uma obra que se relacione com o exterior do edifício da galeria (projetada pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha e Metro Arquitetos) e também com o espaço público contíguo.
O projeto de Gamarra, Cielo raso, se estrutura a partir da retícula construtiva do edifício, uma malha ortogonal marcada nas paredes de concreto aparente, resultante da modulação das fôrmas usadas na sua construção. Para a artista, a noção de retícula (grid) transcende a condição arquitetônica e se afirma com um elemento fundamental para entender a maneira como o homem tem estruturado o seu espaço físico e social. Porém, ela não encara este conceito de forma unívoca. Por um lado, Gamarra considera o grid como símbolo da ideologia modernista, expressa no seu caráter modular, geométrico, abstrato e homogeneizador, que também representa o ímpeto em direção ao futuro e a ordem humana perante a “desordem” da natureza e das narrativas históricas precedentes. Por outro lado, a artista também lê a retícula através da herança ancestral de seu país natal, o Peru. Para as civilizações pré-Colombianas a geometria representava uma lógica maior, cósmica e mística, e era através desta retícula pré-estabelecida que o homem poderia compreender a ordem da natureza para depois atuar sobre ela.
Querendo colocar em fricção estas diferentes percepções sobre o mesmo elemento, Sandra Gamarra delineia uma instalação onde o grid construtivo da galeria é desmontado e decomposto em seus módulos base. Para isso, a artista cria um conjunto de blocos de concreto que mimetizam, em dimensão e materialidade, aqueles das fachadas, e os dispõe horizontalmente no chão do pátio, destituindo-lhes da sua função construtiva original. Ao empilhar alguns dos blocos, Gamarra indicia uma tentativa de construção, porém deixa-a incompleta, num limbo entre o canteiro de obras e a ruína de um edifício porvir. A construção “inacabada” dialoga com o ritmo modular das fachadas da galeria e delineia um vazio central em meio ao pátio. Este espaço livre tem um desenho cruciforme, mas não remete à cruz comumente usada no Ocidente, mas à cruz escalonada, símbolo central das civilizações pré-Colombianas. Denominada Cruz Inca ou Chakana, esta simboliza a ligação entre o mundo terreno e o mundo “superior”. Sua forma é recorrente tanto no léxico arquitetônico assim como em vários outros elementos da vida cotidiana desses povos, mostrando uma completa união do místico e do divino com a cultura e vida humana.
A grande Chakana delineada no pátio tem uma de suas pontas abertas para a rua, convidando o transeunte a adentrar nesta cruz. Para a mitologia Andina o centro da Chakana representa a dualidade interna do universo, o desconhecido, o inimaginável e o sagrado. É dentro deste espaço (simbólico) e mais próximo dos blocos tombados, que o visitante descobre outras retículas sutilmente marcadas nas superfícies dos módulos de concreto.
Se no pensamento arquitetônico da escola paulista, deixar o concreto aparente seria uma das formas de acabar com o desconhecimento do trabalho humano que por ele passou, evidenciando o caráter social da arquitetura. No trabalho de Sandra Gamarra, os ténues rastros marcados nos blocos não só subvertem a materialidade construtiva destas peças ao conferir-lhes uma qualidade manual mas também remetem a outras concepções de tramas estruturadoras da sociedade e culturas humanas, desde as que tocam o corpo até aquelas que dialogam com o cosmos.
Sandra Gamarra, 1972, Lima, Peru. Vive e trabalha em Madri, Espanha. Criadora do LiMAC, museu fictício de Arte Contemporânea de Lima, cujo acervo é composto por pinturas de Gamarra como cópias de outras obras. O seu método de apropriação não só levanta questões sobre a autenticidade e o status de réplicas, mas também sobre os mecanismos do mundo da arte, incluindo o mercado de arte, instituições e o processo criativo. Outro aspecto recorrente no seu trabalho é o paralelo entre experiências artísticas e místicas. A artista vê os museus de arte como locais para peregrinação e contemplação adoradora. Para ela, apreciar obras de arte é, antes de qualquer realidade política ou filosófica, um ato de fé. Em sua mais recente série de trabalhos, explora as consequências sócio-políticas do que considera uma modernidade incompleta na América do Sul. Expôs individualmente em instituições tais como: Bass Museum of Art, EUA; Sala Luis Miró Quesada Garland, Peru; Instituto Figueiredo Ferraz, Brasil, entre outras. Desenvolveu um trabalho site-specific para o Museo Artium, Espanha e participou de importantes exposições coletivas como: Permit Yourself to Drift…, Santa Mónica Centro de Arte, Barcelona, Espanha (2016); Don´t Shoot the Painter, Galleria de Arte Moderno, Milão, Itália (2015); The Marvelous Real, Museum of Contemporary Art, Tóquio, Japão (2014); Setting the scene, Tate Modern, Inglaterra (2012); XI Bienal de Cuenca, Equador; 29ª Bienal Internacional de São Paulo, Brasil (2010); 31° Panorama da Arte Brasileira, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil; Mundus Novus, 53ª Bienal de Veneza, Itália (2009); Pipe, Glass, Bottle of Rum: The Art of Appropriation, MoMA, EUA (2008), entre outras. O seu trabalho faz parte de coleções tais como: MoMA, Nova Iorque, EUA; Tate Modern, Londres, Inglaterra; MUSAC, León, Espanha; MALI, Lima, Peru; MAR, Rio de Janeiro, Brasil, entre outras.
Bruno de Almeida, 1987, Salvador, Brasil. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil. Graduado em Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, Portugal. Mestre em Arquitetura pela Accademia di Architettura della Svizzera Italiana, Mendrisio, Suíça. Trabalhou como arquiteto em Londres, Reino Unido. Para além de ser o criador e curador do SITU, Bruno de Almeida desenvolveu projetos com instituições tais como o Instituto de Investigação Independente da Fondazione Archivio del Moderno, Mendrisio, Suíça; Kunsthalle São Paulo, Brasil; Pivô Arte e Pesquisa, São Paulo, Brasil e Storefront for Art and Architecture, Nova Iorque, EUA.
Gabriel Acevedo Velarde na Leme, São Paulo
Em As Fantásticas Viagens da Energia, o artista peruano Gabriel Acevedo Velarde cria uma estrutura frágil de display sob a forma de um corredor que ecoa um espaço burocrático genérico e um mausoléu. Os desenhos, colagens, folhas de plástico e vídeos hospedados neste corredor evocam diferentes noções de "energia" retiradas de propagandas e fotografias encontradas, conectando indústria e sexualidade, economia e misticismo. Para o artista, a semelhança notável em que a energia é representada em tal variedade de contextos (muitas vezes opostos) é um indício de sua preeminência contemporânea como uma espécie de deusa global. Com a criação de um mausoléu quase cenográfico, o artista articula uma experiência ritualística e um chamado para uma posição política dentro de um espaço em colapso pela semelhança da energia como vida e energia como mercadoria morta-viva.
O corredor orienta o fluxo dos espectadores, que são estimulados pelas imagens que os rodeiam: uma sequência de folhas de plástico pendurados, recortadas em formas orgânicas e eróticas, além de uma série de colagens e desenhos em tinta amarela que lembram exercícios de caligrafia de arabescos. Não sem um certo senso de humor, esta série de folhas de papel em formato A3 têm a aparência de um manuscrito desdobrado, como as páginas de uma narrativa de viagens e aventuras de heróis míticos e deuses. Mas o personagem principal aqui não é tão velho. Como o filósofo austríaco Ivan Illich afirmou, "energia" é uma superstição na religiosidade cívica moderna, uma ilusão viciante que promove um despertar espiritual para um cosmos definido pelo pressuposto de escassez.
"As Fantásticas Viagens da Energia" é a terceira exposição individual de Gabriel Acevedo Velarde na Galeria Leme e sua segunda exposição individual em uma galeria privada desde que regressou a Lima, sua cidade natal, depois de um período de 14 anos vivendo na Cidade do México, São Paulo, Nova Iorque e Berlim.
A exposição será acompanhada por um texto crítico desenvolvido por Max Hernández-Calvo, curador do pavilhão Peruano na 56ª Bienal de Veneza (2015).
Gabriel Acevedo Velarde (Lima, Peru, 1976, vive e trabalha em Lima). Seu trabalho foi apresentado em diversas exposições, entre as individuais mais recentes destacam-se: Pasillo de documentos e imágenes promocionales, 80m2 Livia Benavides, Lima, Peru (2015); MAM Project 020, Interruptions in decrees and stages, Mori Museum, Tóquio, Japão (2014); Ciudadano Paranormal, Sabatini Building, Espacio Uno e Protocol Room, Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madri, Espanha (2013); Escorpiao e/ou Fotocopias de 1999, Galeria Leme, São Paulo, Brasil (2012); Art pieces/ Party project: Tonotono, Arratia, Beer, Berlim, Alemanha (2011); Cone Flow, Museum of Modern Art of Fort Worth, Fort Worth, EUA (2010); entre outras, e as exposições coletivas: Corruption: Everybody Knows…, E-flux, Nova Iorque, EUA (2015); 11ª Biennale de Lyon, França (2011); Colección contemporánea del Museu de Arte de Lima, Estação Pinacoteca, São Paulo, SP, Brasil (2011); Bienal de São Paulo, Fundação Bienal, São Paulo, Brasil (2010); 7ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brasil (2009); 3rd Guangzhou Triennial, Guangdong Museum of Art, Guangzhou, China (2008); entre outras. Ganhou os prêmios Fundación Jumex, grant for animation project, In Progress (2007), Re:New Media Artists, Grant for “Turbulencia”, Rockefeller Foundation, Nova York, EUA (2006), 15º Festival de Arte Eletrônica Video Brasil, Menção Honoraria, São Paulo, Brasil (2005) e seus trabalhos integram coleções tais como Mali, Lima, Peru; Malba, Buenos Aires, Argentina; Lacma, LA, EUA; Museum of Fine Arts, Houston, EUA; JPMorgan Chase Art Collection, EUA; entre outras.
Valeska Soares na Fortes Vilaça, São Paulo
A Galeria Fortes Vilaça tem o prazer de apresentar Lugar Comum, quinta exposição individual de Valeska Soares. Em esculturas e trabalhos de parede recentes a artista utiliza linho, bastidores de costura, tapeçaria e peças de mobiliário para explorar a relação entre a abstração, a memória e experiência cotidiana. Lugar Comum refere-se metaforicamente a um denominador emocional que estes objetos de natureza e épocas distintas criam na relação entre a obra e o público.
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Ground (2016) dá título a um grupo de trabalhos composto por tapetes antigos recortados, pintados, dobrados e enrolados em composições geométricas simples que se estruturam em termos da escala e da padronagem – quase imperceptível pela idade dos tapetes – mas também do peso, brilho e cor. A escolha do tapete parte do interesse por uma qualidade doméstica e transcultural, por ser um objeto de uso religioso, decorativo e até monetário presente em inúmeras culturas na história do Oriente e Ocidente.
A geometria também está presente nos trabalhos da série Conjunction (2016) feitos com bastidores de costura aplicados diretamente sobre linho cru e preto, sem chassis. Os bastidores delimitam áreas lisas na superfície drapeada que são então bordadas, pintadas ou laminadas. A paleta é reduzida ao tom bege do linho, ao vermelho, preto e branco das linhas e tintas e, finalmente, à prata e ao ouro que banham os bastidores da obra Constellation (2016). Referências históricas à Abstração Geométrica permeiam os trabalhos de forma oblíqua. Construtivismo, Minimalismo, Concretismo sugerem um lugar de origem da artista – e das obras – sem se revelar nominalmente em um trabalho ou outro.
Na obra que dá nome a exposição, Lugar Comum (2016), quatro cadeiras de madeira e palhinha são unidas por seus acentos formando uma cruz perfeita onde a forma toma o lugar da função. Num movimento igualmente preciso, Valeska substitui uma portinhola retangular de uma antiga porta por um espelho de latão para compor a obra Untitled (2016). Nas duas esculturas fica evidente o jogo entre abstração, afeto e memória que permeia todas as obras da exposição.
Na ocasião da abertura da exposição, será lançada a publicação Valeska Soares, uma co-publicação das editoras Mousse (Milão) e Cobogó (Rio de Janeiro). O livro cobre a produção da artista nos últimos dez anos e inclui texto de Jens Hoffmann e uma entrevista com a artista conduzida por Kelly Taxter, respectivamente Diretor de Exposições e Curadora Assistente do Jewish Museum, Nova York (EUA).
Valeska Soares participou das Bienais de São Paulo (2008), Sharjah (2009), Istambul e Taipei (2006), além da 51ª Bienal de Veneza (2005). Em 2009, inaugurou um pavilhão individual no Inhotim Centro de Arte Contemporânea (MG). Entre suas exposições individuais destacam-se Jewish Museum, Nova York (EUA); Bronx Museum of the Arts, EUA; Museo de Arte Contemporáneo de Monterrey, México; New Museum, EUA. Sua obra está em importantes coleções públicas, como Hirshhorn Museum and Sculpture Garden, Washington; The Solomon R. Guggenheim Museum, Nova York; The Carnegie Museum of Art, Pittsburgh; Cisneros Fontanals Art Fundation, Miami; e Tate Modern, Londres.
Galeria Fortes Vilaça is pleased to present Lugar Comum [Commonplace] the fifth solo show by Valeska Soares. In recent wall works and sculptures the artist uses linen, embroidery frames, tapestry and pieces of furniture to explore the relation between abstraction, memory and day-to-day life. Lugar Comum metaphorically refers to an emotional common denominator that these objects of distinct natures and periods create in regard to the relation between the artwork and the public.
Ground (2016) is the title of a group of artworks made using carpets that have been cut up, painted, folded and rolled into simple geometric compositions that are structured in terms of size and pattern – nearly imperceptible due to the age of the carpets – but also according to their weight, sheen and color. The choice of carpet springs from its domestic and transcultural quality, being an object of religious use, as well as a decorative and even monetary object present in countless cultures in the history of both the Orient and the Occident.
Geometry is also present in the artworks of the series Conjunction (2016)made with embroidery frames applied directly onto raw and black linen, without stretcher bars. The embroidery frames delimit smooth areas in the draped surface which are then embroidered, painted or laminated. The palette is reduced to the beige tone of the linen, to the red, black and white of the threads and paints and, finally, to the silver and gold plating of the embroidery frames in the work Constellation (2016). The works are pervaded by indirect historical references to geometric abstraction. Constructivism, Minimalism, and Concretism suggest a place of origin of the artist – and of the works – without being explicitly revealed in one artwork or another.
In the work that lends the exhibition its title, Lugar Comum (2016), four thatched wooden chairs are united by their seats, forming a perfect cross, their shape relevance thus being replaced by their function. In a likewise precise movement, Valeska replaces a small rectangular window of an old door with a brass mirror to compose the work Untitled (2016). Both sculptures involve the same interplay between abstraction, feeling and memory found in all the artworks in the exhibition.
The exhibition’s opening will coincide with the launching of the book Valeska Soares, a co-publication by publishers Mousse (Milan) and Cobogó (Rio de Janeiro). The book covers the artist’s production over the last ten years and includes a text by Jens Hoffmann and an interview with the artist conducted by Kelly Taxter, respectively, the Director of Exhibitions and Assistant Curator of the Jewish Museum in New York (USA).
Valeska Soares has participated in the biennials of São Paulo (2008), Sharjah (2009), Istanbul and Taipei (2006), as well as the 51st Venice Biennale (2005). In 2009, her individual pavilion was inaugurated at Inhotim Centro de Arte Contemporânea (MG). She has held solo shows at many prestigious venues, most notably including the Jewish Museum, New York (USA); Bronx Museum of the Arts, USA; Museo de Arte Contemporáneo de Monterrey, Mexico; and New Museum, USA. Her work is found in important public collections, including those of Hirshhorn Museum and Sculpture Garden, Washington, DC; Solomon R. Guggenheim Museum, New York, NY; Carnegie Museum of Art, Pittsburgh, PA; Cisneros Fontanals Art Foundation, Miami; and Tate Modern, London, UK.
setembro 1, 2016
Akram Zaatari no Galpão VB, São Paulo
Galpão VB apresenta primeira exposição individual do artista libanês no Brasil
A Associação Cultural Videobrasil realiza a primeira exposição individual do artista libanês Akram Zaatari no Brasil, ocupando os 800 m² do Galpão VB. Um dos mais importantes artistas libaneses em atividade, Akram Zaatari é autor de uma obra que reflete sobre as relações complexas entre acervos visuais e a política, o desejo e a memória. Akram Zaatari - Amanhã vai ficar tudo bem (Tomorrow Everything will Be Alright) apresenta seis videoinstalações nas quais essas relações emergem uma vez mais e nos dão uma imagem da nossa época, tal como vista do Líbano contemporâneo.
A exposição é a primeira individual de Akram Zaatari no Brasil e coroa uma colaboração de exatos vinte anos entre o artista e a Associação Cultural Videobrasil.
A abertura acontece no dia 3 de setembro, das 16h às 20h. A exposição segue em cartaz com horários especiais de visitação durante a primeira semana: de 5 a 10 de setembro (segunda a sábado), das 11h às 20h. No dia 5 de setembro (segunda), às 20h, será realizada a primeira atividade de programas públicos, com uma conversa conduzida pelo pesquisador e curador Moacir dos Anjos com Akram Zaatari acerca da poética do artista, a partir dos trabalhos apresentados no Galpão VB. A partir do dia 13 de setembro até 3 de dezembro, a visitação volta a seguir horários normais do Galpão VB (de terça a sexta, das 12h às 18h, sábado, das 11h às 17h).
Para a exposição Akram Zaatari - Amanhã vai ficar tudo bem (Tomorrow Everything will Be Alright), a curadora Solange Farkas e o cocurador Gabriel Bogossian selecionaram seis videoinstalações produzidas entre 1998 e 2014, cujo eixo central reflete a experiência afetiva no contexto contemporâneo. As obras exploram questões de auto-representação, identidade, corpo, desejo, além do papel da comunicação nas relações interpessoais, principalmente as relações homoafetivas no contexto árabe. A cidade de Beirute e seus cenários,às vezes quase pós-apocalípticos, contidos em algumas das obras, revelam ainda o interesse do artista em evidenciar o contexto político e social libanês.
Entre os trabalhos apresentados, três são inéditos no Brasil. Dance to the end of Love (2011) reúne material veiculado no Youtube e produzido por indivíduos do Egito, Emirados Árabes, Arábia Saudita, Palestina, Iêmen e Líbia. Trata-se de quatro canais de vídeos divididos em temas como mágica, fisiculturismo, acrobacias automobilísticas, dança e música. Another Resolution (2008/2013), instalação com 12 micro projetores, traz adultos reencenando as poses de crianças em antigas fotos familiares. O conjunto de imagens permite veras transformações ocorridas no Líbano ao longo das últimas décadas. Por sua vez, em Beirut Exploded Views (2014), dois jovens, após um apocalipse, transformam ruínas urbanas em sua casa improvisada. O contexto apresentado é muito semelhante à realidade dos refugiados no Líbano e o cenário, centro de Beirute, assemelha-se a uma cidade destruída.
Os outros três trabalhos integram o Acervo Videobrasil e já foram exibidos em São Paulo, em diferentes edições do Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil e mostras especiais. Em Red Chewing Gun (2000), Zaatari reflete sobre o fim de um relacionamento entre dois homens. A história de separação, contada através de cartas, é situada no contexto da paisagem urbana em mutação de Hamra, bairro libanês que um dia foi um efervescente centro comercial. Uma intensa troca de mensagens e notas sugestivas também dá o tom da narrativa de Tomorrow everything Will be alright (2010), obra vencedora do Grande Prêmio do 17º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil. O uso constante de tecnologias para comunicação traz para o foco da obra a oscilação entre um sonho, um roteiro audiovisual e um amor desejado. Já em The End of Time (2012), o artista cria um retrato poético de um romance que se desfaz por meio de uma coreografia para dois amantes, esboçando o surgimento e o desaparecimento do desejo masculino e a efemeridade das paixões.
A exposição de Akram Zaatari contará com atividades de programas públicos com a participação de artistas, curadores e pesquisadores brasileiros, a fim de explorar diálogos e pontos de conexão entre a produção de Zaatari e a de artistas e pesquisadores brasileiros. Um programa educativo específico, desenvolvido com o objetivo de aproximar o público do repertório explorado pelo artista, irá relacionar pontos chave da sua produção à experiência cultural no Brasil.Além da mesa da semana de abertura, reunindo Akram Zaatari e Moacir dos Anjos, serão realizados um curso e duas oficinas, todas com inscrições gratuita. Como parte do projeto da exposição, uma publicação reunirá ensaios críticos em torno da obra de Akram Zaatari, constituindo-se como o primeiro livro de referência sobre o artista editado no Brasil.
Akram Zaatari - Amanhã vai ficar tudo bem (Tomorrow everything Will be alright) permanece em cartaz no Galpão VB até o dia 3 de dezembro de 2016.
Akram Zaatari (1966, Líbano), um dos notáveis artistas contemporâneos da atualidade, trabalha com arquivos de imagens e documentos para examinar noções de desejo, resistência, memória e vigilância, bem como a produção e circulação de imagens em tempos de guerra e com a mudança das fronteiras políticas. Seus projetos formam um complexo e consistente mosaico sobre a história recente do Líbano. Zaatari já participou da Trienal de Turim (2008), das bienais de Istambul (2011), Veneza (2007) e São Paulo (2006), e da DOCUMENTA (13) (2012). Alguns de seus trabalhos integram a coleção da Tate Modern, Centre Pompidou, Kadist, MoMA e MCA Chicago. Vive e trabalha em Beirute, Líbano.
Galpão VB, espaço de exibição, reflexão, encontro e pesquisa, foi desenhado para ativar a coleção de vídeo construída em três décadas de atividade da Associação Cultural Videobrasil. Com foco na produção do Sul global, o Acervo Videobrasil abrange obras que participaram do Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil, trabalhos doados por artistas, obras-chave da videoarte internacional, registros de performances, testemunhos, documentários, publicações e documentos, num total de quase 10 mil itens – 4.500 deles já estão catalogados e disponíveis para consulta pública.
O Galpão VB é o primeiro equipamento com programação de artes visuais da Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo. Aberto ao público em outubro de 2015, abriga galeria, sala de vídeo, sala de leitura e jardim com arena aberta. Sua loja institucional disponibiliza a coleção completa de livros, revistas e documentários produzidos pela parceria entre o Videobrasil e as Edições Sesc São Paulo.
Ascânio MMM na Triângulo, São Paulo
Casa Triângulo apresenta retrospectiva de Ascânio MMM em São Paulo
Desde 2005 sem uma individual em São Paulo, Ascânio MMM ganha mostra de abordagem retrospectiva na Casa Triângulo. Com curadoria de Paulo Miyada, a exposição propõe um mergulho cronólogico que discute o sofisticado jogo de escalas e espacialidades na produção do artista luso-brasileiro.
Nascido em em Fão, Portugal, em 1941, o artista vive e trabalha no Rio de Janeiro desde 1959. Sobrinho-neto de um dono de estaleiro, o artista cresceu familiarizado com a marcenaria e a criação do objeto. Suas peças evoluíram das ripas de madeira, a princípio pintadas de branco para salientar o movimento e depois expondo os veios pictoricamente, até chegar à manipulação do alumínio e o domínio dos grandes volumes.
A relação entre escultura, arquitetura, matemática e filosofia fixou-se como questão central do seu trabalho a partir da década de 1970. Período em que o artista emprega módulos de ripas de madeira pintadas de branco, desenvolvendo progressões em torções verticais e horizontais, explorando a questão da luz e sombra em formas sinuosas e harmônicas. É também neste período que ele cria as caixas lúdicas, sobre as quais o espectador pode deslocar molduras vazadas, em formato quadrado, intercaladas, e de tamanhos decrescentes.
Na década de 1980, com os relevos e esculturas o ritmo das formas dá lugar a linhas retas, e o escultor passa a incorporar a cor e a textura da madeira crua, passando a explorar as cores naturais de diferentes espécies (cedro, mogno, pau marfim, ipê, freijó, etc), potencializando as qualidades visuais específicas do material e explorando ainda a tensão entre matéria e forma.
Já no final dos anos 1980 surgiram as primeiras Piramidais de madeira. Nos anos 1990, a questão das grandes dimensões e o espaço público tornaram-se uma preocupação central para Ascânio e as pesquisas com perfis de alumínio se intensificaram. O alumínio tornou-se então a base para a criação de novos trabalhos, sempre utilizando o módul. As esculturas desta fase caracterizam-se pelos tubos retangulares de alumínio cortados, que geram esculturas de grandes dimensões com vazios internos e sucessões de transparências e opacidades, tornando-as quase imateriais conforme a posição do espectador.
"Praticamente todas as suas obras desde meados da década de 1960 podem ser reconstituídas como fórmulas matemáticas enxutas e cristalinas. Fenômenos concretos, suas esculturas e relevos possuem correspondentes no território da lógica abstrata. Por mais sinuosas as curvas que desenhem no ar, por mais surpreendentes suas topologias, mantém sempre a legibilidade das razões numéricas que fundamentam a invenção e a construção efetiva de cada peça." comenta o curador no texto crítico que acompanha a exposição.
Vik Muniz na Nara Roesler, São Paulo
Vik Muniz abre, no dia 2 de setembro, na Galeria Nara Roesler - São Paulo, a exposição Handmade, na qual retoma com força renovada caminhos e procedimentos que já havia trilhado no passado, investigando de forma aguda e sintética a tênue fronteira entre realidade e representação, entre o objeto original e sua cópia. São mais de 70 obras, nas quais deixa de lado qualquer recurso narrativo e torna explícito o esqueleto processual do trabalho, ao mesmo tempo em que brinca com as certezas do espectador.
“Sempre funciona das duas maneiras. O que você espera ser uma foto não é e o que você espera que seja um objeto é uma imagem fotográfica”, ironiza Vik. “Em uma época em que tudo é reprodutível, a diferença entre a obra e a imagem da obra quase não existe”, acrescenta.
Durante o processo de pesquisa de seu catálogo raisonné, lançado recentemente, Vik se deu conta de como havia deixado de lado um procedimento recorrente em sua produção no início de sua carreira, quando tinha menos envolvimento com o campo da fotografia: a manipulação da superfície fotográfica após a realização da imagem. Retomou então tais estratégias, refazendo e complementando as fotografias. O resultado é uma espécie de antologia, formada por projetos antigos e recentes, bastante estimulante em tempos de Bienal. “É como um cardápio das ideias que já usei, um compêndio de estratégias expostas de formas muito simples”, sintetiza Vik, que no momento também se dedica à cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos 2016, da qual será um dos diretores.
O público não verá em Handmade obras realizadas a partir de imagens conhecidas, tampouco referências a materiais mundanos – aspectos comuns no trabalho do artista. Vik alude aqui à vasta tradição da arte abstrata, destilando para isso suas fórmulas básicas na criação de maneiras inusitadas de meditar sobre a imagem e o objeto, sobre a ambiguidade dos sentidos e a importância da ilusão. Handmade traça a constante preocupação do artista em transcender as dimensões simbólicas da imagem.
Um exemplo de investigação que não se encerra com o ato de fotografar é Two Nails (1987/2016), uma espécie de trabalho-chave em Handmade e cuja primeira versão pertence à coleção do Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York. Extremamente enxuta, a composição mostra uma folha de papel presa por dois pregos: um real, o outro fotografado, gerando um quadro tão ambíguo que se torna impossível identificar as diferenças por meio de uma reprodução fotográfica. “É necessário estar diante da obra. E mesmo assim você terá dúvidas”, ressalta Vik.
Além da paradoxal relação entre imagem e objeto e do recorrente uso de estratégias ilusionistas – “A ilusão é um requisito fundamental de todo tipo de linguagem”, diz –, esses trabalhos flertam com a arte conceitual e estabelecem um intenso diálogo com a arte abstrata, cinética e concreta. Sobretudo, segundo Vik, pelo interesse comum em relação às teorias da Gestalt, mais especificamente nos campos da psicologia e da ciência.
Repetição, ritmo, profundidade, espaçamento, uso das cores primárias ou gradações sutis de cinza e preto estão entre as questões caras à abstração e que compõem o alfabeto com o qual Vik lida em Handmade. Mas ele vai além disso. Lança mão do vocabulário construtivo para mais uma vez colocar em questão o estatuto da imagem no mundo contemporâneo. “A exposição mostra um artista diferente e que sou eu ao mesmo tempo”, conclui.
No dia da abertura, às 17 horas, o artista conversa com a curadora Luisa Duarte e o público, no espaço da galeria, sobre a exposição e seu processo de trabalho. Entrada franca.
Vik Muniz (n. 1961, São Paulo, Brasil) vive e trabalha entre Rio de Janeiro e Nova York. Alcançou reconhecimento internacional como um dos artistas mais inovadores e criativos do século 21. Conhecido por criar o que ele descreve como ilusões fotográficas, Muniz trabalha com uma surpreendente variedade de materiais não convencionais – incluindo açúcar, diamantes, recortes de revista, calda de chocolate, poeira e lixo – para meticulosamente criar imagens antes de as registrar com sua câmera. Suas fotografias muitas vezes citam imagens icônicas da cultura popular e da história da arte, desafiando a fácil classificação e envolvendo de maneira divertida o processo de percepção do espectador. Seu trabalho mais recente utiliza microscópios eletrônicos e manipula microorganismos para revelar tanto o familiar quanto o estranho em locais que normalmente são inacessíveis ao olho humano.
Vik Muniz iniciou sua carreira artística ao chegar em Nova York em 1984, realizando sua primeira exposição individual em 1988. Desde então vem realizando prestigiadas exposições em instituições como o International Center of Photography, New York; Fundació Joan Miró, Barcelona; Museo d’Arte Contemporanea, Rome; Museu de Arte Moderna, São Paulo; Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro; Tel Aviv Museum of Art e Long Museum, Shangai.
Suas exposições recentes incluem Vik Muniz (High Museum of Art, Atlanta, EUA, 2016); Vik Muniz: Verso (Mauritshuis, The Hage, Holanda, 2016); Escola Vidigal – 15a Mostra Internazionale di Architettura | La Biennale di Veneza (Veneza, Itália, 2016); Une Saison Brésilienne | Vik Muniz na Coleção Géraldine e Lorenz Bäumer (Maison Européenne de la Photographie, Paris, França, 2016); Lampedusa, 56a Bienal de Veneza, (Naval Environment of Venice, Itália, 2015) e Vik Muniz: Poetics of Perceptions (Lowe Art Museum, Miami, EUA, 2015).
Em dezembro de 2008, o MoMA sediou Artist’s Choice: Vik Muniz, Rebus, como parte de uma série de exposições com artistas convidados. Muniz também foi convidado da 49ª Bienal de Veneza; da edição do ano 2000 da Bienal de Whitney, no Whitney Museum of American Art; da 24ª Bienal Internacional de São Paulo; e da 46ª Corcoran Biennial Exhibition: Media/Metaphor, na Corcoran Gallery of Art em Washington, DC. Em 2011, Muniz foi nomeado Embaixador da Boa Vontade da UNESCO.
Seus trabalhos fazem parte de coleções de arte públicas como a do Museum of Modern Art, Nova York; Guggenheim Museum, New York; Tate, London; e do Museum of Contemporary Art, Tokyo. Em 2001, Muniz representou o Brasil no Pavilhão da 49a Bienal de Veneza. O trabalho do artista também é tema do filme Lixo Extraordinário (Waste Land), indicado ao Oscar de melhor documentário em 2010.
Barracão: Hélio Oiticica e parceiros na Nara Roesler, São Paulo
Um mergulho na essência coletiva da arte de Hélio Oiticica (1937-1980) é a proposta da exposição Barracão, a ser inaugurada em 2 de setembro na Galeria Nara Roesler (São Paulo). Reagrupando um conjunto sucinto e potente de trabalhos desenvolvidos pelo artista com alguns de seus parceiros mais próximos, a mostra pretende resgatar o caráter ao mesmo tempo revolucionário e agregador de sua poética.
A partir de meados dos anos 1960, com o desenvolvimento de noções como as de anti-arte e de programa ambiental, Oiticica afasta radicalmente a ideia de arte como objeto de contemplação estética, aprofundando e radicalizando uma revisão crítica dos preceitos tradicionais e defendendo uma forma aberta, coletiva e socialmente transformadora de ação artística. Aposta na experimentação livre, no esfacelamento dos limites tradicionais entre as linguagens, na substituição da noção de espectador pela de participante ativo e na recuperação dos valores de cultura popular em contraposição à “glorificação do que já está fechado”. Oiticica radicaliza o que Mario Pedrosa definiu como “exercício experimental da liberdade” e passa a propor a transformação do ambiente cotidiano dos indivíduos e dos grupos, em escala íntima ou urbana, algo que até hoje mobiliza parcela importante da arte contemporânea e explica sua posição de absoluto destaque na cena artística brasileira.
Estabelece então um vasto e ininterrupto diálogo criativo com diversos interlocutores, dos companheiros do Morro da Mangueira a amigos próximos como Antonio Manuel e Neville d’Almeida, que são também os principais coautores dos trabalhos selecionados para a exposição. Obras como a fotonovela A Arma Fálica (1970) e o parangolé Nirvana (1968), elaborados com Antonio Manuel, e a instalação interativa Cosmococa 2, em homenagem a Yoko Ono, criada em parceria com Neville de Almeida, são resultado desse processo.
“Hélio era uma pessoa maravilhosa e muito generosa”, conta Antonio Manuel ao relembrar as circunstâncias de criação do parangolé Nirvana, uma veste branca, de corte geométrico, que deriva de uma imagem de um menino de Biafra, esquelético, usada por ele em suas Urnas Quentes, trabalho mostrado na manifestação Apocalipopótese (1968), que tinha Oiticica como um de seus organizadores. O próprio conceito do Parangolé é público, grupal. “Tem a ver com fantasia, samba, carnaval, o parangolé sozinho não existe”, explica o curador César Oiticica Filho, sobrinho do artista e responsável pela gestão de sua obra há vinte anos. “Ele tinha esse ideal de produção coletiva, democrática e teve vários parceiros nesse sentido. Tinha esse espírito”, sintetiza Antonio Manuel.
Ganha destaque também na mostra um trabalho inédito, Information (1970/2016), que mescla elementos sonoros, fílmicos e imersivos, criado originalmente em 1970 em parceria com o artista norte-americano Lee Jaffe[1], num momento de grande efervescência e resistência cultural no Brasil. É neste mesmo ano que Oiticica escreve o texto Barracão, que dá título à exposição e no qual elabora conceitualmente sua prática crescente de participação coletiva, de “possibilidade aberta de uma cultura”, em clara referência ao trabalho comunitário nas escolas de samba. Apresentada por Hélio como proposta para sua participação na antológica exposição Information, em 1970, no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), a obra acabou não se concretizando e deu lugar à célebre instalação Nichos. “Este é o desafio, reger uma obra que nunca foi executada”, afirma César. “É uma exposição que traz novas questões inclusive museológicas para a obra dele”, comenta, acrescentando não se lembrar de “nenhuma outra mostra que tenha avançado tanto no pensamento, na pesquisa do Hélio”. “É uma semente. Estamos começando a nos debruçar sobre o Barracão, que foi a própria vida dele”, conclui.
No dia 3 de setembro, às 11h30, César Oiticica Filho, Neville d’Almeida, Lee Jaffe e Paula Braga participam de uma conversa com o público, no espaço da galeria, sobre a exposição e a produção de Hélio Oiticica. Entrada gratuita.