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agosto 30, 2016
Pablo Pijnappel na Cavalo, Rio de Janeiro
Artista que mora entre Rio e Berlim exibe trabalhos que dialogam com memória, fotografia, pesquisa, literatura e cinema
Impulsionado pelo desejo de experimentar e questionar suas próprias memórias, o artista carioca-berlinense Pablo Pijnappel apresenta nova produção na individual Imagem-lembrança, a partir de 1º de setembro, na Cavalo, em Botafogo. O artista de 37 anos, que vive entre Rio e Berlim, exibirá fotografias, vídeos, narrativas impressas e uma performance, que acontecerá a cada 15 dias, com estreia na noite de abertura.
Participante da 30ª Bienal de São Paulo, Pablo projetou a exposição a partir de um texto do filósofo Henri Bergson, que fala sobre o papel da memória na metafísica. Os trabalhos serão distribuídos em duas salas da Cavalo. Todos remetem à ideia de "recordações", ambas pessoais ou coletivas. Na série “Cinemas de Copacabana”, por exemplo, Pablo exibe um estudo de 23 imagens de locações que já foram usadas como salas de cinema no bairro de sua infância.
“Comecei a estudar os antigos cinemas de Copacabana e fiquei impressionado com a quantidade de salas que existiram e como o bairro foi um importante formador na cultura cinematográfica do carioca. O antigo Rian, que ficava na Atlântica, de frente para o mar, marcou várias gerações da década de 40 até a década de 80”, comenta o artista, que também entrevistou antigos frequentadores e donos desses cinemas. As respostas farão parte da exposição.
A mostra agrupa ainda uma série de fotografias intimistas sob o título de ‘Funeral Russo’, além de um vídeo feito em parceria com o artista alemão Oliver Bulas, em que pratica segundo um manual para atores como fazer 33 diferentes expressões faciais. Já a performance se apresenta como um jogo da memória operado em dupla. Nele, imagens coletadas na internet funcionam como gatilhos visuais para despertar narrativas de lembranças. “Costumo criar situações que desafiam o espectador”, convida Pijnappel.
Pablo nasceu em Paris e veio para o Rio de Janeiro com a família brasileira aos 4 anos. Ficou por aqui até os 19 anos e depois seguiu para a Holanda, terra do avô, e Berlim, cidade de sua namorada na época e onde iniciou seus estudos em artes visuais. Realizou sua primeira individual aos 26 anos, em Amsterdã. Desde então, já participou de inúmeras exposições coletivas e individuais em diversos espaços da Europa, Estados Unidos e Brasil.
O trabalho de Pablo Pijnappel invoca meta-narrativas que combinam poeticamente identidades culturais, históricas e ancestrais através do prisma da memória. Nascido em Paris em 1979, Pijnappel cresceu no Rio de Janeiro. Formado em Amsterdã na Rietveld e na Rijksakademie, hoje ele vive e trabalha entre o Rio e Berlim. Já participou de inúmeras exposições coletivas e individuais em diversos espaços nas principais capitais da Europa e dos EUA, com destaque para o Centre Pompidou, Whitechapel Gallery, Konsthall Malmö, Artists Space, LACE, entre outros. Também fez parte da XXX Bienal de São Paulo.
Calder e a arte brasileira no Itaú Cultural, São Paulo
O diálogo entre Alexander Calder e artistas brasileiros em mostra no Itaú Cultural
Em Calder e a Arte Brasileira, o instituto lança luz sobre a influência no Brasil da obra do artista norte-americano, pioneiro da arte cinética, e traz à tona a importância de seu papel na formação do neoconcretismo no país.
A leveza, movimento e colorido da obra de Alexander Calder (1898-1976) em materiais como o metal, o ferro e o arame inundam os três andares do espaço expositivo do Itaú Cultural a partir do dia 31 de agosto, para convidados, e de 1 de setembro a 23 de outubro, para o público. Com curadoria de Luiz Camillo Osorio, e em parceria com a Expomus e a Calder Foundation, conduzida por Alexander S. C. Rower, neto do artista, em Nova York, a mostra Calder e a Arte Brasileira apresenta 60 peças – 32 do próprio artista, entre móbiles, guaches, maquetes, desenhos, óleos sobre tela e dois audiovisuais. Outras 28 são produções de 14 brasileiros, que revelam a proximidade de seu trabalho ao do artista.
Nos anos 40 e 50, experimentalistas como Abraham Palatnik, Lygia Clark, Hélio Oiticica – cujo trabalho foi apresentado no Itaú Cultural em 2009, 2010 e 2012, respectivamente –, Willys de Castro, Judith Lauand, Lygia Pape, Waltercio Caldas, Antonio Manuel e Luiz Sacilotto também embarcaram no caminho da arte cinética influenciando gerações até hoje. A influência se detecta em Ernesto Neto, Franklin Cassaro, Carlos Belvilacqua, Cao Guimarães e Rivane Neuenschwander, igualmente presentes na exposição.
Segundo Camillo Osorio, a poética de Calder, cujo rigor construtivo ganha tonalidade lírica, é uma referência para os artistas brasileiros, com quem teve relação estreita, porém ainda pouco afirmada. Existem obras suas em coleções brasileiras desde os anos de 1940, por meio das quais pode se seguir o rastro de sua influência na vanguarda do país. O movimento presente nos móbiles do norte-americano, por exemplo, está também na série de Bichos, de Lygia Clark, nos relevos espaciais dos parangolés de Oiticica e nos cinecromáticos de Palatnik.
Alexander S.C. Rower relata: “A visita do meu avó ao Brasil teve um impacto duradouro, tanto emocional como intelectual. Ele ficou fascinado pela exuberância e energia da cultura brasileira – ele amou especialmente o samba. No sentido inverso, seus móbiles cativaram os artistas brasileiros e a classe artística e sua influência é percebida até hoje. A exposição no Itaú Cultural apesenta esse fascinante diálogo – afirmando mais uma vez a afinidade de Calder com o espírito brasileiro"
O artista norte-americano realizou a sua primeira exposição no Brasil no final da década de 1940. Passados 13 anos, participou da segunda Bienal de São Paulo (1953) deixando influências diretas no imaginário poético no país. Sua relação com os arquitetos modernos foi próxima. Também com o crítico de arte Mario Pedrosa, que teve posição determinante para que se realizasse uma retrospectiva de Calder no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1959. “A sua obra inscreveu-se na formação construtiva brasileira, misturando o lúdico e o geométrico e isso merece melhor avaliação histórica”, observa o curador. “É esta relação que pretendemos trabalhar nesta exposição.”
A mostra
Calder e a Arte Brasileira, de acordo com Luiz Camillo Osorio, busca evidenciar essa relação e a sua disseminação no imaginário artístico brasileiro, além de mostrar importantes trabalhos da trajetória do norte-americano. “Apresentamos obras de alguns de nossos artistas que foram, direta ou indiretamente, marcados por ele”, diz o curador.
A relação geracional com a tradição concreta e neoconcreta, a vontade comum de concentração e expansão da forma abstrata – no plano pictórico e fora dele –, são conferidas no piso -2.
De Calder encontram-se ali, entre outras obras, guaches sobre papel, Sem título, de 1946, Composição, do mesmo ano e doada pelo artista ao MASP, em 1948. Elas figuram no mesmo espaço que Abraham Palatnik com Aparelho cinecromático, 1969/86, Objeto Cinético, 1986, e mais um de mesmo nome, de 1990/1991. Lygia Clark, entre outros brasileiros, está presente neste andar com o guache, nanquim e grafite sobre papel Composição, 1952. De Hélio Oiticica tem Mestaesquema, um de 1957, outro de 1958. Só para citar mais alguns, este andar comporta Ascenção (1959), de Willys de Castro e, ainda, Concreto 28, obra de Judith Lauand, de 1956.
No piso -1, a linha curatorial sugere o desdobramento subliminar da influência de Calder na arte contemporânea brasileira. “O ponto que cabe ressaltar aqui é a presença do corpo na ativação da forma, a incorporação do movimento e da geometria atravessados por um contexto social e cultural específico, onde passado e futuro se entrecruzam”, observa o curador. De Calder, estão ali, por exemplo, a maquete Brasília (c.a.1959), Móbile amarelo, preto, vermelho, branco, de 1946. Dos brasileiros, encontram-se dos Bichos de Lygia Clark (1920-1988), dos bilaterais e parangolés de Hélio Oiticica (1937-1980) às esculturas de Waltercio Caldas, de 1997 e 2002, NaveMeditaFeNuJardim, 2015, de Ernesto Neto e Catamarã Aéreo, 1997, de Carlos Bevilacqua.
Por fim, no primeiro andar, os móbiles desenham no espaço, desmaterializam-se, resistem à gravidade. Citando algumas das obras de Calder que ali convivem, estão Vermelho, Branco, Preto e Bronze, 1934, nunca antes exibida no Brasil, Digitais Escarlate, 1945 – obra de extrema importância que não é exposta há mais de 60 anos, nunca esteve no Brasil e sempre foi mantida com a família do artista –, Bosquet é o Melhor dos Melhores, 1946, Trinta e dois discos, 1951, exibida na Bienal de São Paulo, em 1953-1954. Elas dialogam com produções como O ar mais próximo, 1991, de Waltercio Caldas, Três Cassarinhos Vermelhos na Gaiola, 2010, de Franklin Cassaro, ou Sopro, 2000, de Cao Guimarães e Rivane Neuenschwander.
Para saber mais
O Itaú Cultural preparou um folder especial para a exposição, procurando apresentar uma contextualização histórica mais aprofundada no que se refere à sua influência na criação dos brasileiros. O instituto também expande as suas ações ao ambiente virtual: é possível pesquisar mais informações sobre Alexander Calder tanto na Enciclopédia Itaú Cultural quanto no site itaucultural.org.br.
agosto 29, 2016
In between na Bergamin & Gomide, São Paulo
Mostra Coletiva na galeria Bergamin & Gomide reverbera obra de Lygia Clark
A curadora Luisa Duarte reúne artistas contemporâneos que dialogam com a obra Quebra da Moldura, da década de 1950, na exposição In Between, que abre dia 31 de agosto
De que forma subversões de sessenta anos atrás encontram reverberações nas obras dos artistas de hoje? Qual o eco contemporâneo? Com o intuito de responder essas perguntas e jogar luz a estas reflexões, a Galeria Bergamin & Gomide reúne a partir de 31 de agosto trabalhos de artistas atuais como Pedro Cabrita Reis, Marcius Galan e Renata Lucas, que dialogam com a obra Quebra da Moldura, feita na década de 1950, pela mineira Lygia Clark, na mostra coletiva In Between, com curadoria de Luisa Duarte.
“Esse foi um momento na história da arte brasileira que alterou o rumo da produção artística no país e chegou a influenciar artistas em todo o mundo”, diz o idealizador Thiago Gomide, da Galeria. “In Between é uma exposição que se dispõe a retornar a esses parâmetros primeiros que sinalizam o desejo de equilíbrio na arte – moldura, plano, geometria – para, justamente, a partir daí, propor uma transfiguração desses elementos e assim pensar em categorias que os transcendam, tais como espaço, sujeito, vazio, formas de geometrias mais sensíveis e menos rígidas”, completa a curadora Luisa Duarte.
Completa a lista de artistas na mostra: Paloma Bosquê, Alexandre Canonico, Rodrigo Cass, Marcelo Cidade, Fernanda Gomes, Andre Komatsu, Leonilson, Manoela Medeiros, Emmanuel Nassar, Fred Sandback, Mira Schendel e Kishio Suga. As obras selecionadas propõem uma discussão sobre as influências carregadas a partir deste capítulo da história da arte. “A ideia é criar um vínculo entre a produção atual de jovens artistas brasileiros e estrangeiros com esta tensão que inquietava este grupo no final dos anos 50”, diz Thiago.
Na obra que norteia a exposição, Lygia demonstra seu conflito com a pintura, como plano bidimensional, assim como Helio Oiticica, problematizando radicalmente os parâmetros da arte, invadindo o domínio da moldura, processo que depois culminou no manifesto neoconcreto em 1959. Nos últimos momentos de suas produções, ambos propuseram uma obra que não mais comportasse a dimensão objectual, tornando-se antes experiência, processo.
Daniel Duda no MAC Paraná, Curitiba
Exposição investiga relações entre tecnologia e meio ambiente
Abstrações digitais, matéria e imagem. De que maneira podemos construir a relação entre nossa nova "cultura de rede" e a infinita conectividade de nossa experiência diária?
A exposição Vídeos e outros objetos digitais, de Daniel Duda, aborda como nossa "cultura de rede” e conceitos relacionados ao mundo digital estão intrinsicamente ligados às formas mais abrangentes no campo da experiência do ser humano no mundo. Para isso, utiliza-se de elementos da natureza como plataforma para explorar relações mais complexas entre tecnologia e meio ambiente. A abertura acontece no dia 01 de setembro, no Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC), com entrada franca.
Os trabalhos consistem em vídeos, objetos e fotografias, e pretendem delimitar, através de uma linguagem de máquina (impressão 3D, recortes a laser, vídeos com manipulação digital), a maneira como a tecnologia afeta nossa percepção de mundo e a forma como interagimos com o espaço que ocupamos. A exposição também vai gerar um catálogo com os mais recentes trabalhos de artista.
Assim, através da utilização de abstrações digitais e sua consequente interação com a imagem, possamos talvez problematizar nosso olhar para os novos meios, e por sua vez, para a “segunda natureza”, conceito adaptado pelo teórico Villém Flusser para determinar o mundo codificado, o mundo artificial da comunicação entre as pessoas. Aqui, como portas, os trabalhos se abrem para dois mundos distintos: o mundo do natural e o mundo do artificial – e qual é o espaço ocupado por cada um na cultura contemporânea. Através dessas construções, novas informações e perspectivas podem ser reveladas.
agosto 28, 2016
Homo Ludens na Luisa Strina, São Paulo
Belo como o encontro casual entre uma máquina de costura e um guarda-chuva numa mesa de dissecção.
Lautréamont
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Este texto deve ser lido como complemento da exposição Homo Ludens realizada na Galeria Luisa Strina, entre os dias 31 de agosto e 5 de novembro de 2016. Digo “complemento”, porque ele é um dos muitos gestos necessários para se chegar ao resultado final da exposição. Na realidade, o texto da exposição é a própria mostra e, por isso, não serve como explicação teórica daquilo que se passa nas salas expositivas. As obras apresentadas são marcos metafóricos e poéticos de visualidade plástica e só podem ser lidos presencialmente durante a visita ao espaço expositivo. Isso, se conseguir de fato realizar a mostra em seu potencial lúdico. Em outras palavras: o conceito da exposição só será alcançado uma vez que ocorra o encontro de todas as obras no espaço em questão.
Assim como em outras mostras que curei (a saber, Noite azul elétrico, Tara por livros, On another scale e Cordão dos mentecaptos*), Homo Ludens parte de uma ideia que, de alguma forma, diz respeito a minha relação com o mundo. Em uma era tão mediada pela tecnologia, parece-me que nos distanciamos cada vez mais do que é essencial e do que nos garante a humanidade, como, por exemplo, o ato de parar para sentir o cheiro do campo molhado, ou mesmo o de observar as espécies de pássaros que vivem em nossas cidades ou passam de visita ao longo do ano. Para esta exposição, minha ideia original foi lidar com o conceito de jogo, e o que me atraiu foi antes o processo de convidar artistas para colaborar do que qualquer definição teórica do tema.
Certo dia, jogando frescobol na praia, dei-me conta de que existem várias dimensões de jogos, pois no frescobol não se joga contra alguém, mas com alguém. O outro, no caso, não é um oponente, e as regras, por sua vez, não são bem definidas. Não existe o lance perfeito – a cortada equivale à bola levantada – e o verdadeiro prazer está em manter a bola no ar, em moto-contínuo. Para usar o jargão curatorial contemporâneo: não existe, neste caso, um recorte, uma estratégia ou um conceito pré-concebido. Pensando o frescobol e a ausência de competição no jogo, cheguei ao entendimento do lúdico, à ideia de brincadeira, que foi o que a princípio me interessou.
Os temas foram fluindo naturalmente: a morte, o universo infantil, os meios de produção capitalista, a guerra, o ilusionismo, a estratégia, a fantasia, a história da arte. Mas, neste caso, nada disso se configura estanque ou pretende apreender chaves de entendimento para a exposição. O diálogo com os artistas e as sugestões poéticas que os trabalhos me trouxeram estão distribuídos no tabuleiro expositivo, para que as relações se deem no convívio, admitindo o embate que é próprio do jogo.
Antes de ser pensada, a exposição deve ser experimentada e contemplada. Se me permitirem a ousadia, sugiro ao visitante que faça com que a experiência anteceda a racionalização. Idealmente, o visitante deve se tornar espectador desse “jogo de frescobol” existente entre os objetos dispostos no espaço, para então descobrir as cartas marcadas no tabuleiro do espaço expositivo.
A ideia original é uma espécie de ímã que atrai para o mesmo contexto todos os trabalhos então apresentados. Uma vez no espaço, uma teia de relações faz com que eles deixem de lado sua autonomia enquanto obras de arte para participarem em conjunto dessa proposição lúdica hic et nunc.
Homo Ludens é um termo que tomei emprestado do livro homônimo do historiador holandês Johan Huizinga. No entanto, a exposição não se revela como uma pesquisa em torno dos conceitos desenvolvidos por Huizinga, mas, antes, como um poema inspirado na proposta original do historiador. Afinal, é próprio do homo ludens jogar dentro de uma estrutura cultural com regras determinadas, ressaltando o caráter lúdico da vida.
O homo ludens volta às cavernas e sugere que o artista contemporâneo seja uma espécie de artista rupestre supermediado. Os nossos gestos, as nossas danças, são tão importante quanto o que pensamos e construímos quando produzimos algo. É bom – e belo – fazer uma pausa para contemplar o fato de que somos todos Homo sapiens, Homo faber e Homo ludens.
* Noite azul elétrico, Mendes Wood DM, 2013; Tara por livros, Galeria Bergamin Gomide, 2014; On another scale, Galleria Continua, San Gimigniano, 2014; Cordão dos mentecaptos, Pivô Arte e Pesquisa, São Paulo, 2016.
As beautiful as the chance meeting on a dissecting table of a sewing machine and an umbrella.
Lautréamont
This text must be read as a complement to the exhibition Homo Ludens, held at Galeria Luisa Strina from August 31st to November 5th, 2016. I say ‘complement’ because it is one among the many gestures required to reach the exhibition’s final result. Actually, the exhibition’s text is the exhibition itself and, for this very reason, it doesn’t work as a theoretical explanation of what goes on the exhibition rooms. The works presented are both metaphorical and poetic tags of plastic visuality, and can only be read in person while visiting the space – considering the exhibition can accomplish its ludic potential. In other words: the exhibition’s concept can only be reached once the encounter of all the works take place in the space at stake.
Just as in other exhibitions curated by me (i.e., Noite azul elétrico, Tara por livros, On another scale, andCordão dos mentecaptos)*, Homo Ludens derives from an idea that somehow concerns my relation with the world. In a time so mediated by technology, it seems to me that we are getting farther and farther from what is essential and what ensures our humanity, such as the act of making a pause and feeling the smell of wet grass or even observing species of birds that live in our cities or just pass by visiting throughout the year. For this exhibition, my original idea was to deal with the concept of game, being attracted rather by the process of inviting artists to collaborate than any other theoretical definition of the theme.
One day, while playing racquetball at the beach, I realized that are several dimensions of games. In this specific one, you don’t play against someone, but rather along with someone. The other, in this case, is not an opponent, and the rules, on their turn, aren’t much defined. There is no such thing as the perfect move – a spike and a dig play equal parts –, and the real pleasure lays on keeping the ball on the air, in perpetual motion. To use the contemporary curatorial jargon: in this instance, there is no preconceived scope, strategy or concept. Thinking about racquetball and the absence of competition in it, I ended up understanding what ludic is and the idea of playing, which interested me in the first place.
The themes then flowed naturally: death, the child universe, the capitalist means of production, war, illusionism, strategy, fantasy, art history. Although, in this case, nothing sets itself steadily nor intends to apprehend keys to understand the exhibition. The dialogue with the artists and the poetic suggestions the works brought me are distributed on the exhibition gameboard so that their relations come up while living together, given that the confrontation is the game itself.
Before being conceived, the exhibition must be experimented and contemplated. If such boldness is tolerated, I suggest the visitor to make an effort so that the experience can precede rationalization. Ideally, the visitor must become a spectator to the ‘racquetball game’ that already exists among the objects positioned on the space, for then figuring out what are the singled out cards on the exhibition’s gameboard.
The original idea is a sort of magnet attracting all the displayed works to the same context. Once in the space, a web of relations makes them waive their autonomy as artworks in order to jointly take part of this ludic proposition hic et nunc.
Homo ludens is a term borrowed from the homonymous book by Dutch historian Johan Huizinga. Yet, the exhibition doesn’t reveal itself as a research ensuing from the concepts developed by him, but rather as a poem inspired by the historian’s original proposition. After all, it is proper to the Homo ludens to play within a cultural structure with determined rules, highlighting the ludic aspect of life.
The Homo ludens goes back to the cave and suggests the contemporary artist as some sort of super-mediated cave painter. Our gestures and dances are so important as what we think and build while producing something. It is good – and beautiful – to make a pause and contemplate the fact that we are all Homo sapiens, Homo faber and Homo ludens.
* Noite azul elétrico [Electric blue night], Mendes Wood DM, 2013; Tara por livros [Book fetish], Galeria Bergamin Gomide, 2014; On another scale, Galleria Continua, San Gimignano, 2014; Cordão dos mentecaptos [Bubbleheads crowd], Pivô Arte e Pesquisa, São Paulo, 2016.
Sacilotto - em ressonância no IAC, São Paulo
A exposição Sacilotto - em ressonância tem, antes de mais nada, o caráter de uma celebração, ao marcar a entrada para o fundo do IAC – Instituto de Arte Contemporânea, de um amplo conjunto de obras, esboços e projetos de Luiz Sacilotto, dando assim continuidade ao projeto de expansão da instituição. Se outros núcleos abrigados no IAC incluem materiais diversos, como fotografias, correspondências e recortes de jornais ou textos de época, no caso de Sacilotto a primeira leva de material recebido centra-se quase que exclusivamente em trabalhos em papel, desde desenhos e aquarelas juvenis ou da primeira maturidade do artista, ainda figurativos, até um grande número de projetos para pinturas e esculturas, inclusive algumas das mais célebres, além de um grande número de estudos de cor.
A partir do estudo desse material, a proposta da curadoria foi de pontuar a exposição com obras de outros artistas, colocando o trabalho de Sacilotto em ressonância com o de seus contemporâneos. Se a relação com alguns deles, em especial Waldemar Cordeiro, companheiro na aventura concreta, é bastante conhecida e se justifica de um ponto de vista por assim dizer acadêmico, algumas das outras são colocadas de maneira quase provocatória, buscando afirmar, por um lado, a centralidade de um artista ainda relativamente pouco conhecido, por outro a importância de se guardar e estudar arquivos como o que acaba de ingressar no IAC, já que várias das relações aqui sugeridas se tornam compreensíveis ou até evidentes através do estudo de projetos e desenhos, mais do que das obras acabadas e (teoricamente) mais representativas. Em outras palavras, é como se existisse toda uma história da arte submersa, que passa desapercebida ao olharmos apenas as obras “maiores” de um artista, e que contudo vem à luz ao estudarmos seus projetos, esboços, rabiscos até.
Ao todo, a exposição será composta por aproximadamente 60 obras de Luiz Sacilotto, entre pinturas e desenhos sobre papel e tela, além de trabalhos pontuais de Waldemar Cordeiro, Lygia Pape, Roberto Burle Marx, Raymundo Colares e Alfredo Volpi.
agosto 24, 2016
Associação Brasileira de Arte Contemporânea lança 1ª Coleção de Fotografia na SP Arte Foto 2016
ABACT lança coleção de 23 fotografias com preços entre R$ 4 e 8 mil, de 25 a 28 de agosto de 2016, com entrada gratuita no Shopping JK Iguatemi 3º Piso
A Associação Brasileira de Arte Contemporânea, visando à ampliação de suas atividades e em diálogo com a crescente presença da fotografia no acervo das galerias associadas, lança durante a SP Arte Foto a 1ª Coleção de Fotografia da ABACT.
Além de fortalecer institucionalmente a Associação, contribuindo para o desenvolvimento de suas atividades, o projeto busca estimular o colecionismo dedicado à fotografia e incentivar a formação de novos colecionadores.
Para essa primeira coleção, foram selecionadas vinte e duas obras fotográficas de artistas representados pelas galerias associadas. Cada uma das obras é comercializada individualmente com preços que variam entre R$ 4 e 8 mil reais, de acordo com a tiragem, que será de dez exemplares por foto. As fotografias serão expostas e comercializadas no estande da ABACT na feira, que acontece entre os dias 25 e 28 de agosto, no JK Iguatemi.
Esta 1ª Coleção tem coordenação artística e seleção de obras de Felipe Hegg (Galeria Lume) e Isabel Amado (Galeria da Gávea), e também será exibida na feira ArtRio 2016 e na SP Arte 2017. A coleção conta com os seguintes artistas:
Alberto Ferreira, Galeria Lume; Alexandre Sequeira, Luciana Caravello Arte Contemporânea; Bob Wolfenson, Galeria Millan; Clarissa Tossin, Galeria Luisa Strina; Cris Bierrenbach, Galeria Rabieh; Ding Musa, Galeria Raquel Arnaud; Elisa Bracher, Mercedes Viegas Arte Contemporânea; Emídio Contente, Galeria Mezanino; Iris Helena, Portas Vilaseca Galeria; João Castilho, Celma Albuquerque; Julio Bittencourt, Galeria da Gávea; Leopoldo Plentz, Bolsa de Arte de Porto Alegre; Leticia Ramos, Mendes Wood DM; Lucia Loeb, Galeria Marilia Razuk; Luiza Baldan, Anita Schwartz Galeria de Arte; Marcelo Tinoco, Zipper Galeria; Mauro Restiffe, Galeria Fortes Vilaça; Nino Cais, Casa Triângulo; Pedro David, Blau Projects; Rochelle Costi, Luciana Brito Galeria; Rodrigo Braga, Vermelho; Rogério Ghomes, Galeria Ybakatu; Thales Leite, Galeria Eduardo Fernandes.
agosto 23, 2016
Fotografia-Pintura e o Espírito de um Tempo: Observatório na Casa para alugar, Ribeirão Preto
Plano A_galeria em parceria com o MARP apresentam Fotografia-Pintura e o Espírito de um Tempo. Observatório
Fotografia-Pintura e o Espírito de um Tempo é um projeto de longa duração da plataforma Plano A [1] constituído por exposições coletivas, encontros de debate, palestras e publicação das questões abordadas nos meios virtuais da informação (redes sociais, sites e revistas eletrônicas) com o intuito de dar ampla circulação às ideias surgidas durante o processo. Tem como tema principal as práticas de pintura e fotografia dentro da nova geração de artistas brasileiros. Possui como objetivo primeiro criar um ambiente que permita o intercâmbio entre seus atores e uma discussão polifônica sobre os significados, antecedentes e as tendências dessa produção artística emergente.
O título faz referência à afirmação de Laura González Flores que “fotografia e pintura são, no fundo, a mesma coisa. (...) Para além de suas diferenças superficiais e de sua aparente independência, ambas as disciplinas pertencem a um paradigma maior, de tipo ideológico-cultural, que não apenas as engloba, mas também determina suas características” [2]. Pretende-se que essa e outras questões possam estimular o desenvolvimento do projeto, como, por exemplo:
1 – Se pintura e fotografia podem ser aproximadas quanto à produção de imagens, o que poderia ser dito sobre pintura e fotografia como objetos físicos experimentados pelo observador?
2 – Desde a década de 1980, escreve-se sobre o desejo dos pintores contemporâneos de “lentificar” o tempo. Estará a pintura tão “morta” a ponto desta ser quase sua única contribuição à contemporaneidade? E a fotografia, com manipulações digitais extensas e meticulosas, não tem exigido tempo de criação e de observação crescentes para serem devidamente apreciadas?
3 –Onde se encaixariam, dentro da narrativa histórica dominante que atrela arte brasileira à tradição neoconcreta, os processos criativos da nova geração de fotógrafos e pintores figurativos?
4 – Haveria uma escola atual (como tradição nacional supra-institucional) de pintura e fotografia no Brasil? Perante um mundo da arte cada vez mais globalizado, é possível falar de “brasilidade” nas pinturas e fotografias produzidas por esses artistas?
Com abertura no dia 24 de agosto e permanência até 3 de setembro, Observatório é o título da mostra de lançamento de “Fotografia-Pintura”. Ocorrerá em uma casa para alugar e contará com a participação de artistas de Ribeirão Preto, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. A decisão de circunscrever a exposição inaugural a artistas pintores/fotógrafos comprometidos com a linguagem figurativa (mas não necessariamente restritos a ela) foi um modo de limitar o campo de estudo e fomentar um grupo minimamente coeso de artistas.Não se pretende apresentar um panorama da pintura e fotografia brasileiras, mas “levantar o véu” de uma realidade para qual os organizadores acreditam ter sido dado relativamente pouca atenção.
Tendo como ponto de partida as obras presentes na exposição, na manhã de 27 de agosto, acontecerá a palestra e debate“Novos artistas. Novos rumos?”_ uma apresentação especulativa a ser desenvolvida pelo artista Daré, associada a debate aberto com o público e demais artistas presentes, sobre a produção artística brasileira recente relacionada à fotografia e pintura figurativas, suas influências e sincronias com o cenário internacional da arte contemporânea.
Fragrânciase Heterotopias Estéticas são mini-individuais concomitantes dos artistas Adriana Amaral e Daré em que esses apresentarão novas séries de obras.
Acompanhando a mostra,um catálogo virtual será publicado com o desenvolvimento de algumas das questões levantadas acima e as opiniões relacionadas (complementares, divergentes, contrárias) dos artistas participantes.
[1] Plano A: plataforma de autogestão criada pelos artistas ribeirão-pretanos Adriana Amaral e Daré em novembro de 2015.
[2] Flores, Laura González: Fotografia e Pintura: dois meios diferentes? São Paulo: WMF Martins Fontes.
agosto 22, 2016
Roberto Magalhães na Carbono, São Paulo
Se em 1922 o Brasil rompia seus grilhões com a Europa - ou ensaiava isto com telas de Tarsila, florações de Mário de Andrade e poética de Manuel Bandeira - com a mostra Opinião 65, no MAM do Rio de Janeiro, o Brasil irrompia na via mundial dos proclamas pelas liberdades – as de Martin Luther King, dos Beatles, de Woodstock. Liberdade de corpo e espírito, de movimento e ritmo, de fusão das artes e da vida como já se ensaiava na música de Zé Ketti em Opinião – show que emprestou o título à mostra — em que a voz frágil de Nara Leão cantava: “Podem me bater/ Podem me prender/ Podem até deixar-me sem comer/ Que eu não mudo de opinião.
Opinião 65 tornou conhecidos os artistas Antonio Dias, Vergara, Gerchman e Roberto Magalhães. É com Roberto Magalhães que a Carbono Galeria homenageia o espírito de liberdade de Opinião 65 por meio da mostra Sem pé nem cabeça apresentando a edição de mesmo nome.
A série se apresenta em um imponente estojo/moldura de acrílico e traz em cada exemplar um original, dos anos 60 aos dias de hoje, escolhidos numa seleção rigorosa de importância histórica e qualidade. Muitos dos desenhos foram expostos em 2000 na grande mostra do artista no Instituto Moreira Salles, e outros foram reproduzidos em catálogos. Da moldura saem duas gavetas: a primeira contém um livro com a reprodução de todos os originais em grande formato, e a outra contém um rolo místico com a escrita enigmática de Roberto.
A realização é de UQ!Editions, com design de Lucia Bertazzo. Como escreve Leonel Kaz, editor da UQ!, no livro que compõe a obra: “Roberto Magalhães talvez seja o mais latino de nossos artistas brasileiros, incorporando símbolos, dissolvidos no tempo, de nossa ancestralidade ibérica. Seus desenhos se encontram em tempo-nenhum, apenas fios, traçados, lianas, cipós, um emaranhado de traços e pigmentos de cor que se originam na cabeça do artista. É bem ali, em seu imaginário aparentemente sem sentido e em sua memória afetiva, que habita toda esta coletividade de monstros, seres ou coisas. ”
Roberto Magalhães
Rio de Janeiro, 1940 | Vive e trabalha no Rio de Janeiro
O carioca Roberto Magalhães recebeu o primeiro incentivo para pintar pelo o pai e professores do colégio, que publicavam, no jornal semanal, caricaturas de seus colegas feitas pelo artista. Desenhista, gravador, pintor, frequentou cursos na Escola Nacional de Belas Artes como aluno livre. Em 1962, expôs desenhos na Galeria Macunaíma e em 1964, gravuras na Petite Galerie, de Franco Terranova. Um ano depois, tornou-se um dos principais integrantes do grupo de jovens pintores que fizeram a revolucionária exposição Opinião 65, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que trouxe uma nova linguagem visual para as artes plásticas no Brasil.
No mesmo ano de Opinião 65 recebeu o prêmio de gravura da 4º Bienal de Paris. Em 1966, ganhou o Prêmio de Viagem ao Exterior do Salão Nacional de Arte Moderna e viajou a Paris no ano seguinte, onde expôs, com Antonio Dias, em 1968, na Galeria Debret. Em 1992 o Centro Cultural Banco do Brasil organizou uma retrospectiva de seus 30 anos de carreira e, em 2000, o Instituto Moreira Salles realizou uma mostra significativa de seus desenhos.
Roberto é artista de estilo singular. Impressiona com seus desenhos, pastéis, gouaches, aquarelas ou pinturas que possuem características próprias. Waltércio Caldas foi curador de uma exposição de Roberto na Mul.ti.plo em 2012. O refinamento do traço, a busca obsessiva da cor ideal, a perseverança de sua mão inventora de coisas transforma gente, bichos e cidades em elementos aparentemente fantásticos e, ao mesmo tempo, vibráteis e integrados ao cotidiano.
Entre as exposições individuais mais recentes do artista destacam-se Eu, na Márcia Barroso do Amaral Galeria de Arte e na Arte 21, ambas no Rio de Janeiro, 2007; Otrebor – A outra margem, na Caixa Cultural de Brasília, 2008, na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, 2008, e no Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, 2009; Roberto Magalhães, na Referências Galeria de Arte em Brasília, 2008, na TNT Galeria no Rio, 2009; na James Lisboa em São Paulo, 2010, e no Art Museum of Beijing Fine Art na China, 2011; Quem sou, de onde vim, para onde vou, no Paço Imperial no Rio, 2012; Viagem Astral, na Marcia Barrozo do Amaral no Rio, 2013.
agosto 18, 2016
Ayrson Heráclito na Blau Projects, São Paulo
Com cinco fotografias e uma vídeo-instalação inédita desenvolvida especialmente para a ocasião, a Blau Projects abre a exposição Pérola Negra, do artista baiano Ayrson Heráclito. A mostra traz obras de duas séries distintas do artista, Buruburu e Agbê Vodun, expostas simultaneamente pela primeira vez. Ayrson também apresenta a performance Buruburu -realizada recentemente em Berlim, na Alemanha- em duas ocasiões, durante a abertura da exposição, dia 20 de agosto, às 17h, e como parte do evento Gallery Weekend, às 19h30, em 2 de setembro. O texto crítico é de Beatriz Franco.
Com forte influência das religiões e da cultura afro-brasileira, Ayrson analisa questões ritualísticas, simbólicas e mitológicas ao trabalhar com o tema do sagrado em sua arte. A exposição é uma homenagem a Obaluayê jovem e a Omolú, a divindade mais velha. O nome Pérola Negra é uma referência a Omolú, um deus do universo do candomblé, com uma história muito sofrida. Ele nasceu coberto de feridas e foi abandonado pela mãe à beira mar, para que a maré o levasse. A deusa das águas Iemanjá o encontrou carcomido por peixes e quase morto, e então, o levou para seu reino e lavou suas feridas, curando-o. Apesar de Omolú ter sido tratado por Iemanjá, ele continuou muito pobre, sobrevivendo de esmolas. Para tentar compensar sua carência, ela lhe ofereceu seu maior tesouro, as pérolas. Por isso, Omolú é considerado o senhor das pérolas. Ademais, a exposição acontece em agosto, mês em que Omolú é homenageado pelos seus devotos.
A performance apresentada na abertura, Buruburu, também é inspirada nesse mito. Na língua iorubá, “Buruburu” quer dizer “pipoca”. “A performance tem esse poder de divindade, de limpar e curar. É um ritual de cura e desintoxicação”, conta Ayrson. Num dos mitos que envolvem Omolú, suas chagas são transformadas em flores, e sua doença em flores brancas que emergem do seu corpo por meio do sopro e da sua energia. “A água e a pipoca são os grandes materiais da exposição, e são os símbolos do processo de cura e de limpeza”, afirma o artista.
Agbê Vodun é o senhor de hu, o mar. Ele é o terceiro filho de Mawu, gerado com sua irmã gêmea Naeté. O mito é representado por uma serpente, um símbolo da perenidade. A festa anual de Agbê (intitulada Gozin) celebra a aliança entre os homens e o mar, e acontece em Grande Popo, no litoral sudoeste do Benin. A reunião entre essas duas séries, Buruburu e Agbê Vodun, se dá devido a suas semelhanças simbólicas, principalmente por ambas tratarem de ritos simbólicos de limpeza e energização.
Conhecido por utilizar em seu trabalho elementos como dendê, charque, açúcar, peixe, esperma, sangue e saliva, corpo, rituais de cura, Ayrson, que também é curador e professor, tem sido convidado para residências e participações em exposições internacionais, como a recente The Incantatin of the Diquieting Muse, no Instituto Savvy Contemporary, em Berlim, Alemanha.
“Para mim ritual significa sacudimento”, sentencia Ayrson. “Meu trabalho mexe com feridas históricas. Eu não sou um artista sem o sagrado. O sagrado perpassa toda a minha ação artística no mundo”, explica. Vida, arte e religião estão misturadas na obra do artista, que lida com a natureza e o sagrado com a mesma intensidade e os transfigura.
Ayrson Heráclito, artista visual e curador, doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo é professor do curso de Artes Visuais do Centro de Artes, Humanidades e Letras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia – UFRB. Suas obras transitam pela instalação, performance, fotografia e audiovisual, lidando com elementos da cultura afro-brasileira. Participou de coletivas como Afro-Brazilian Contemporary Art, Europalia Brasil, Bruxelas, Bélgica (2012); Trienal de Luanda, Angola (2010); e MIP 2, Manifestação Internacional de Performance, Belo Horizonte (2009). Recentemente foi premiado pelo Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil com residência artística na Raw Material, em Dakar, Senegal. Tem obras em acervos no Museum der Weltkulturen Franfurt, no Museu de Arte Moderna da Bahia, e Videobrasil. O artista também foi indicado para o prêmio PIPA nas edições de 2012, 2015 e 2016. Vive e trabalha em Salvador, Bahia.
Rodrigo Cass no Galpão Fortes Vilaça, São Paulo
A Fortes Vilaça tem o prazer de apresentar Até o Concreto, a segunda exposição individual de Rodrigo Cass. O artista paulistano apresenta trabalhos inéditos em vídeo, escultura e pintura, que tem a cor e o conceito de ruptura como elementos centrais, solidificando sua linguagem pessoal.
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Nos três vídeos projetados sobre blocos de concreto, ações performáticas de curta duração são repetidas de maneira exaustiva. Em Até o Concreto (2016), o artista recorta papéis coloridos com a mão num movimento em espiral. O plano se transforma em círculo e o círculo em ponto até a cor se confundir com o concreto. A irregularidade do movimento e a imperfeição das bordas emprestam força física à imagem de uma pintura em movimento feita pela subtração da cor. Espaço Liberto (2015) apresenta bordas de madeira colorida que se equilibram precariamente nas margens do quadro, sendo permanente reconstruídas pelo artista em infinitas combinações. Em O Social (2016), garrafas e recipientes diversos se alternam na tela num movimento autômato, mas com forte carga sexual.
O conjunto inédito Superfícies Mínimas (2016) é composto por pinturas em tecido de cores vivas com intervenções de concreto branco ou cinza. Os trabalhos remetem a uma ação constante de apagamento em que composições geométricas complexas aparecem sempre cheias de fissuras, falhas e zonas vazias. Essas composições exploram a noção de abstrahere (abstrair ou isolar uma parte de um todo). Abstrahere pode se referir também a escolhas, renúncias ou experiências incompletas.
Nas esculturas, o artista combina blocos de concreto com objetos de uso pessoal. Em Torso (2016) um cinto de couro envolve o topo de um bloco de concreto no diâmetro exato da cintura do artista. Já em Ascese (2016), seus sapatos ascendem a um bloco similar, num movimento ambíguo. O ímpeto de alcançar o topo e atingir a Alta Contemplação*, ou profunda união com o sagrado, se confunde com o movimento brusco dos sapatos afundando no cimento. Americae Praeterita (2016) traz um livro aberto com gravuras de índios crucificados e devorados em rituais de antropofagia, incrustado em um bloco de concreto.
Rodrigo Cass nasceu em São Paulo, em 1983, onde vive e trabalha. Suas exposições individuais incluem: Espaço Liberto, Galerie MDM (Paris, 2015); Galeria Meyer Riegger (Carlsrue, Alemanha, 2015), Material Manifesto, Galpão Fortes Vilaça (São Paulo, 2014); Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo (São Paulo, 2013). Entre suas coletivas, destaque para: 10ª Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2015); Imagine Brazil – mostra itinerante que já passou por Astrup Fearnley Museet (Oslo, 2013), Musée d’art contemporain de Lyon (Lyon, 2014), Instituto Tomie Ohtake (São Paulo, 2015); DHC/ART (Montreal, 2015) –; Bolsa Pampulha, Museu de Arte da Pampulha (Belo Horizonte, 2011). O artista tem participado, ainda, de diversas exposições e festivais dedicados à videoarte ao redor do mundo.
* "Glosas sobre um êxtase de alta contemplação e Glosas da alma que pena por não ver a Deus" em (São João da Cruz. Obras Completas. Org. Frei Patrício Sciadini, O.C.D., Petrópolis: Vozes, 1984, p. 38).
Fortes Vilaça is pleased to present Até o Concreto [To the Concrete], the second solo show by Rodrigo Cass. The artist from the city of São Paulo is presenting, for the first time, new works in video, sculpture and painting that take color and the concept of rupture as central elements, solidifying his personal artistic language.
In the three videos projected on concrete blocks, performative actions of short duration are repeated exhaustively. InAté o Concreto (2016), the artist cuts colored papers by hand in a spiral movement. The plane is transformed into a circle, and the circle into a point, until the color blends with the concrete. The irregularity of the movement and the imperfection of the borders lend physical force to the image of a painting in movement made by the subtraction of color. Espaço Liberto [Freed Space] (2015) presents borders of colored wood that are precariously balanced along the edges of the frame, continuously reconstructed by the artist in infinite combinations. In O Social [The Social], bottles and various sorts of recipients are alternated on the canvas in an automated but highly sexually charged movement.
The new set Superfícies Mínimas [Minimal Surfaces] is composed of paintings made with vividly colored fabrics with interventions in white or gray concrete. These works refer to a constant action of erasure in which the complex geometric compositions appear always full of gaps, flaws and empty zones. These compositions explore the notion of abstrahere (to abstract or isolate a part from a whole). Abstrahere can also refer toincomplete experiences, renunciations or choices.
In the sculptures, the artist combines concrete blocks with objects of his own personal use. In Torso (2016) a leather belt is wrapped around the top of the concrete block in the exact diameter of the artist’s waist. In Ascese [Ascesis] (2016), his shoes are climbing a similar block, in an ambiguous movement. The elation of reaching the top and achieving High Contemplation,* or a profound union with the sacred, is blended with the brusque movement of the shoes sinking into the cement. Americae Praeterita (2016) consists of an open book with prints of Indianscrucified and devoured in anthropophagic rituals, embedded in a block of concrete.
Rodrigo Cass was born in 1983 in São Paulo, where he lives and works. His solo shows have included: Espaço Liberto, Galerie MDM (Paris, 2015); Meyer Riegger Gallery (Karlsruhe, Germany, 2015); Material Manifesto, Galpão Fortes Vilaça (São Paulo, 2014); and Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo (São Paulo, 2013). His participations in group shows have most notably included: 10th Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2015); Imagine Brazil – a traveling show that has been held at Astrup Fearnley Museet (Oslo, 2013), Musée d’art contemporain de Lyon (Lyon, 2014), Instituto Tomie Ohtake (São Paulo, 2015), and DHC/ART (Montreal, 2015); and Bolsa Pampulha, Museu de Arte da Pampulha (Belo Horizonte, Brazil, 2011). The artist has furthermore participated in exhibitions and festivals dedicated to video art around the world.
* "Glosas sobre um êxtase de alta contemplação e Glosas da alma que pena por não ver a Deus" em (São João da Cruz. Obras Completas. Org. Frei Patrício Sciadini, O.C.D., Petrópolis: Vozes, 1984, p. 38).
agosto 13, 2016
Floriano Romano no Parque das Ruínas, Rio de Janeiro
Muro de som é o projeto do artista Floriano Romano, sob curadoria de Guilherme Bueno, idealizado especialmente para o Centro Cultural Municipal Parque das Ruínas, no bairro de Santa Teresa, centro do Rio. O artista constrói um ambiente sonoro dentro do mundo – uma casa sonora – através dos seguintes trabalhos:
– Cúpulas sonoras [duas] estarão na escada de acesso ao pátio da casa. Elas contam históriasque apontam para um mundo possível e não para o que se passou na construção. É ficção e não documento;
– Espreguiçadeiras [três] se situam no mirante do Parque das Ruínas. São munidas de alto-falantes, na cabeceira, com som de mar, que contrasta com a paisagem, aqui entendida como ondas de luz. Romano propõe o hábito da escuta, deslocando o sonido do mar para a espreguiçadeira;
– Muro de som são duas paredes de 330 x 170cm instaladas no coração da edificação, com 32 alto-falantes incrustrados em cada uma, que emitem som de vento. Esse registro foi feito com a expiração do artista;
– Binóculos sonoros [três] ficam no ponto mais alto do prédio. Cada um aponta para uma ruína ou um castelo. Eles emitem histórias ficcionais, relacionando ruínas com memória, com história e com sonho. Se o visitante quiser mover o binóculo para além do limite determinado pelo artista, ouvirá uma espécie de microfonia.
A expressão “muro de som” ficou conhecida na cultura popular pelas técnicas de gravação do produtor musical americano Phil Spector nos anos 1960|70. “Resumidamente, tratava-se de uma camada de fundo criada pela execução de um mesmo som por vários músicos, como em uma orquestra, com a particularidade de usar guitarras e outros instrumentos da música pop (sem abrir mão de coros, conjuntos e instrumentos clássicos), provocando a sensação de ser envolvido por uma massa invisível, uma atmosfera sonora”, explica o curador Guilherme Bueno.
Muro de Som foi contemplada pelo Programa de Fomento à Cultura Carioca da Secretaria Municipal de Cultura (SMC).
Floriano Romano [Rio de Janeiro, 1969] é doutorando em Linguagens Visuais e professor-assistente de escultura na Escola de Belas Artes da UFRJ. Ele trabalha com intervenções urbanas e sonoras, abertas à participação do público.
Entre os prêmios e bolsas conquistados pelo artista estão: Prêmio CCBB Contemporâneo e Programa de Fomento Viva a Arte da Prefeitura do RJ (2015), Prêmio Projéteis de Arte Contemporânea [Funarte] e o Prêmio Marcantônio Vilaça, da Funarte (2012); Prêmio Interações Estéticas da Funarte com o trabalho “Sapatos Sonoros” (2009) e Prêmio Projéteis de Arte Contemporânea com a performance Sample Way of Life” (2008). Sua performance com a mochila sonora "Falante" foi premiada no Salão de Abril, Fortaleza, em 2007, e participou da coletiva "Futuro do Presente", no Itaú Cultural São Paulo.
Em 2000-1 ganhou a bolsa de Artista Residente pela Câmara Municipal do Porto, Portugal, e, em 2008, a Bolsa de Estímulo às Artes Visuais da Funarte, com o projeto de intervenção urbana "Lugares e Instantes".
Ele fez mostras individuais na Galeria Laura Alvim em 2013, “Sonar”, no CCBB RJ, em 2016, “Errância” e foi um dos participantes do projeto HOBRA - Residência Artística Holanda Brasil, no Rio, também em 2016.
Entre várias outras coletivas, Romano realizou, em 2011, o projeto INTRASOM no MAM Rio e participou das coletivas Panorama da Arte Brasileira no MAM SP e “Voces Diferenciales”, em Havana, Cuba. Em 2009 integrou a 7ª Bienal do Mercosul, “Grito e Escuta”. Esteve na “Mostra Desenho das Ideias” com a ação sonora “Crude”, de Guilherme Vaz, usando a arquitetura do museu como instrumento para a composição, e na “Mostra Absurdo”, com seus “Chuveiros Sonoros”. Participou da coletiva “Desenhos&Diálogos” em 2010, na Anita Schwartz, RJ, através da qual expôs também na ArtRio 2011.
MAM lança catálogo da mostra Clube da Gravura: 30 anos com mesa redonda sobre a produção gravurista no Brasil
Participam do debate, aberto ao público, o curador Cauê Alves, a gravurista Maria Perez Sola, a artista Regina Silveira e o arquiteto e colecionador René Fernandes
No sábado (13/8), a partir das 10h30, o Museu de Arte Moderna de São Paulo realiza debate sobre a importância da gravura no país, com discussão sobre as técnicas utilizadas, os limites da linguagem, a produção nacional e o colecionismo contemporâneo. O evento também marca o lançamento do catálogo da mostra Clube da Gravura: 30 anos, em cartaz até 21 de agosto, que exibe mais de 170 obras produzidas em três décadas por artistas de variados perfis e gerações dentro do Clube de Colecionadores de Gravura do museu. No debate, a gravurista Maria Perez Sola, a artista Regina Silveira e o arquiteto e colecionador René Fernandes discutem, sob mediação do curador Cauê Alves, as origens, as propostas iniciais e as várias transformações e orientações pelas quais o Clube da Gravura já passou.
Os Clubes de Colecionadores do MAM têm o objetivo de incentivar o colecionismo brasileiro ao permitir que um grande número de interessados possa se associar, anualmente, e adquirir trabalhos de arte desenvolvidos por artistas convidados. A cada ano, os curadores elegem cinco artistas de peso no cenário nacional para criarem as obras em tiragens de 100 exemplares para serem entregues, exclusivamente, aos associados com certificado de autenticidade e chancelados pela curadoria do museu. Esses trabalhos também ganham lugar no acervo, o que, além de fomentar o colecionismo particular, amplia o acervo do MAM.
Sob a gestão de Cauê Alves, nos últimos dez anos, o Clube da Gravura realizou ações para divulgar e refletir sobre a coleção de gravuras do museu. A proposta da curadoria foi a de continuar com nomes consagrados ao lado de apostas, além de dar espaço para artistas reconhecidos no circuito, mas que não tenham ligação com a gravura. Na história do Clube, nunca houve uma linha que privilegiasse uma tendência específica e já foram apresentadas produções do calibre de Ernesto Neto, Beatriz Milhazes, Rivane Neuenschwander, Nino Cais, Nelson Leirner, Cildo Meireles, Paulo Bruscky, Waltercio Caldas, entre muitos outros.
Atualmente, há vagas para sócios no Clube de Colecionadores de Gravura, com curadoria de Cauê Alves que selecionou para este ano nomes relevantes da arte nacional como Lenora de Barros, Brígida Baltar, Cristiano Lenhardt e Nelson Felix, e para o Clube de Colecionadores de Fotografia, sob regência de Eder Chiodetto que apostou em nomes com sólido prestígio na área como Geraldo de Barros (já falecido), Miguel Rio Branco, Yuri Firmeza, Luiza Baldan e Walda Marques.
Nos Clubes de Colecionadores do MAM, os sócios recebem, a cada ano, cinco obras especialmente criadas por nomes prestigiados e selecionados pelos curadores responsáveis em conjunto com a curadoria do museu, o que confere credibilidade à aquisição. As obras são produzidas em tiragens de 100 exemplares, que são entregues aos sócios com certificado de autenticidade. Para participar do Clube de Gravura ou de Fotografia, os interessados se associam anualmente a um deles e, no final do ano, recebem as cinco gravuras ou as cinco fotografias.
Luiz Paulo Baravelli na Marcelo Guarnieri, Rio de Janeiro
Artista expõe na Galeria Marcelo Guarnieri obras que retomam uma série produzida para a 41ª Bienal de Veneza e totens mostrados no MAM carioca em 1970
No dia 13 de agosto, a Galeria Marcelo Guarnieri abre as portas para uma nova exposição que mostrará duas fases da extensa produção assinada pelo artista paulistano Luiz Paulo Baravelli. Daí o nome Duas das Partes: uma alusão à reunião de mais de uma série – nesse caso quatro esculturas KrazyKats, mostradas no MAM do Rio de Janeiro pela primeira vez há 40 anos, e sete obras do trabalho Caras, série originalmente exposta na Bienal de Veneza em 1984 e retomada por Baravelli no ano passado como sequência de uma cronologia circular – e não-linear – de trabalho.
Em outras palavras, nesta atual exposição,Baravelli retoma o que foi produzido no começo da década de 1980, e também apresenta um pulo de 32 anos: o que ficou para trás e o que só agora faz sentido.
“Assim, esses acessórios para as paisagens do KrazyKat, de 40 anos atrás, têm uma relação não evidente com as grandes obras de Caras. Em uma pintura como a Mona Lisa há uma grande figura em primeiro plano e lá no fundo há uma paisagem. A noção de espaço de um pintor é telescópica ao englobar duas distâncias em um conjunto coerente. Esta ‘telescopagem’ acontece aqui, de modo mais radical ao vermos rostos em extremo close e elementos de uma paisagem sem a paisagem”, explica o artista. “Acessórios de paisagens contrastados com rostos vistos em close colocam uma questão curiosa de chegar perto e ir para longe que é tão importante em meu trabalho.”
E o conceito de profundidade extrapola o espaço, discorrendo no tempo. Baravelli explica: “retomei a experiência de criação das caras 32 anos depois e este hiato faz uma espécie de percurso por uma paisagem temporal. As peças viajaram de uma exposição no MAM do Rio em 1976 até outra em Ipanema no ano de 2016.”
Sobre as novas e antigas caras de Baravelli, elas não possuem corpos, são autônomas e vivem dentro de sua lógica. Sem corpo a cabeça pode escolher a perna que bem entender, o pé que achar mais interessante, a vida que quiser seguir. Essa lógica se estende para a construção das obras - materiais dos mais diversos usos - tinta acrílica, encáustica, crayon, esmalte e goma-laca - utilizados sobre compensado recortado. As curvas dos trabalhos sugerem as imagens que são completadas pela pintura: uma mão que é cabelo e um cabelo que também é mão.
A escala dos trabalhos é algo fundamental, um rosto sem corpo que encara o espectador impondo uma presença intimidadora em a escala maior que a do corpo humano. O trabalhos maiores têm a dimensão de 220 x 160 cm, os menores 120 x 90 cme são complementados por uma série de desenhos que serviram de apoio para a construção dos trabalhos da atual mostra.
As obras, que ficarão expostas até o dia 17 de setembro, oferece aos visitantes uma compreensão maior dos rumos seguidos por um artista que é parte importante da história da arte brasileira. Baravelli é a prova viva da riqueza e atemporalidade da inteligência criativa que move artistas e estudiosos, mantendo-os sempre na ativa.
Luiz Paulo Baravelli, nascido em 1942 na cidade de São Paulo, onde vive e trabalha, estudou arquitetura na FAU-USP, desenho e pintura na Fundação Armando Álvares Penteado e, mais tarde, com o pintor Wesley Duke Lee, o qual exerceu grande influência em sua carreira. Foi um dos fundadores da Escola Brasil ao lado de Fajardo, José Rezende e Frederico Nasser, um espaço onde os artistas ministravam cursos livres de arte, e que movimentou a cena cultural de São Paulo nos anos 70. Foi co-editor da revista Malasartes, entre 1975 e 1976, e da revista Arte em São Paulo, no período de 1981 a 1983. Teve como alunos Leda Catunda, Flavia Ribeiro, entre outros, que foram o responsáveis pela volta da pintura nos anos 80, e que tinham em Baravelli o seu mestre.
O artista sempre explora diversos materiais e técnicas em suas obras as quais frequentemente aparecem em “suportes não-suportes” com formatos irregulares (recortes) e se transfiguram como a própria natureza humana e a natureza das coisas em geral. São imagens-objeto.Aborda um “consciente virtual” que mistura impulsos humanos, espaço, tempo e referências culturais e se torna uma representação que desafia a realidade aparente, uma miseenscène da sociedade contemporânea ao estilo do artista.
agosto 12, 2016
Janaina Mello Landini na Zipper, São Paulo
Tema explorado pela artista mineira Janaina Mello Landini nos últimos anos, a arquitetura labiríntica volta a aparecer como eixo central de sua nova exposição na Zipper Galeria, em cartaz a partir de amanhã, 13 de agosto. Depois de apresentar ano passado uma de suas instalações da série “Ciclotramas”, feitas com cordas que se desmembram em espessuras mínimas, desta vez a artista ocupa o espaço principal da galeria com um site-specific desenvolvido a partir de sua pesquisa sobre o que chama de “Labirintos Rizomáticos”. Utilizando pregos e fios, ela realiza uma conjunto especial de obras em cetim, partindo de sua pesquisa “Labirintos Rizomáticos”, que serão dispostas como uma única instalação. Intitulada Labirinto Sintrópico, a mostra tem curadoria da espanhola Marta Ramos-Yzquierdo.
Nesta nova individual, a artista dá continuidade a uma investigação matemática que resulta na construção de perspectivas multifocais, anulando a construção tradicional. O cetim utilizado nas telas funciona como um elemento apurador: o material reflete a luz de acordo com a posição do olhar; à medida em que o espectador passa, a incidência luminosa altera os corredores e vãos criados pela perspectiva. No desenho resultante, as arquiteturas inventadas criam uma reflexão sobre as relações entre tempo e memória, na combinação do estudo arquitetônico e das técnicas manuais com as quais a artista trabalha.
Janaina vem desenvolvendo trabalhos focados em labirintos nos últimos seis anos. No primeiro semestre deste ano, expôs no Palais de Tokyo, em Paris, um trabalho da série “Ciclotramas”, uma pesquisa paralela e complementar dos “Labirintos Rizomáticos”. “As duas séries têm forte ligação com a arquitetura. As Ciclotramas interagem com ela se desdobrando numa trama labiríntica e hierárquica. Já os labirintos Sintrópicos e Rizomáticos usam a trama para representar uma arquitetura multidirecional, onde o olhar corre livre, entrando e saindo pelos caminhos sugeridos por este lugar”.
A instalação criada para esta nova individual foi concebida também a partir da Sequência de Fibonacci, uma sucessão numérica, descrita no final século XII pelo italiano Leonardo de Pisa, que garante as “proporções áureas” e aparece na forma de diversos organismos vivos.
Janaina Mello Landini (São Gotardo/MG, 1974). O trabalho da artista mineira radicada em São Paulo agrega seu conhecimento sobre a arquitetura, a física e a matemática e sua observação sobre o tempo, para tramar a sua visão do mundo. Suas obras transitam por diversas escalas – do objeto ao espaço público, de telas a instalações. Formação: Belas Artes (2007) e Arquitetura (1999), UFMG, Belo Horizonte. Principais exposições individuais: "Ciclotrama 27 (medusa)", Galeria Macca, Cagliari, 2015; "Ciclotramas", Galerie Virginie Louvet, Paris, 2015; "Ciclotrama 20 (onda)", Zipper Galeria, São Paulo, 2015; "Paisagens", Galeria Desvio. Belo Horizonte, 2011; "Ciclotrama", Espaço, Belo Horizonte, 2010. Principais exposições coletivas: "Double Je", Palais de Tokyo, Paris, 2016; "Vértice", Centro Cultural dos Correios, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro, 2015; "43 visões do Monte Fuji por Artistas Contemporâneos Brasileiros", The Fine Art Laboratory, Universidade de Arte de Musashino, Tokyo, 2015; "Art for Florence Design Week – 5.0 Edition", Florença, 2014; "Duplo Olhar", Paço das Artes, São Paulo, 2014.
Marta Ramos-Yzquierdo é curadora independente espanhola, radicada no Brasil desde 2009. Historiadora da arte, formada pela Universidad Complutense de Madrid, mestre em Gestão Cultural pelo Instituto Ortega y Gassete diplomada em Comunicação Institucional pela Universidade dos Andes, no Chile. Depois de trabalhar como diretora na galeria Baró e no espaço independente Pivô, em 2013, iniciou sua atuação como curadora independente, tendo curado, desde então, diversas mostras como Emmathomasteca, Partir do Erro, Ícaro Lira: Campo Geral, em São Paulo; e La historia la escriben losvencedores, Felipe Ehrenberg 67//15 ou After, Depois, Según, em Madri. Atualmente, investiga as condicões laborais do artista junto com Ana Leticia Fialho, e é parte do grupo Historias em Display.
Zip'Up: Iris Helena na Zipper, São Paulo
A Zipper Galeria realiza a primeira individual em São Paulo da artista paraibana radicada em Brasília Iris Helena. Paraísos Fiscais, em cartaz a partir do dia 13 de agosto, reúne um conjunto de trabalhos inéditos que refletem sobre os mecanismos de construção da memória e os processos de documentação e representação no espaço urbano. Com curadoria de Matias Monteiro, a exposição integra o projeto Zip’Up, dedicado a mostras experimentais e propostas curatoriais inéditas.
Na exposição, Iris realiza um novo trabalho com um material extremamente ordinário da vida urbana: comprovantes de pagamento de papel termossensível, tomados por ela como singelos incidentes cromáticos. “O resultado é uma espécie de topografia do descarte, que converte esses tickets em geologias precárias e singelas arquiteturas, novas paisagens potenciais que, longe de buscar redimi-los de sua condição de resíduo, viram pequenos eventos poéticos”, afirma Iris.
A artista aproveita as texturas geradas pelo desgaste do papel e o processo de apagamento de inscrições para investigar noções como registro, documentação ressignificação a partir de um suporte banal do contexto comercial. “A fugacidade programada das informações impressas nestes recibos reforça a condição deles de resto depreciado de uma transação”, analisa. “Paraísos Fiscais” fica em cartaz até 10 de setembro.
Iris Helena nasceu em João Pessoa, PB, em 1987. Vive e trabalha em Brasília, DF. Seu trabalho explora a paisagem urbana e realiza diálogos entre as imagens de cidades e os suportes onde são impressas. Post-its, marcadores de páginas, cartelas de remédio, cascas de parede, papel higiênico, entre outros materiais, redimensionam as paisagens quando aparecem como matéria-prima de suas instalações. Formação: graduada em Artes Visuais pela Universidade Federal da Paraíba, PB, e mestre em Poéticas Contemporâneas pela Universidade de Brasília, DF. Principais exposições individuais: “Marcadores”, Portas Vilaseca Galeria. Rio de Janeiro, RJ, 2015; “Caminho por uma rua que passa em muitas cidades”, Galeria Archidy Picado - FUNESC. João Pessoa, PB, 2013; “Ode à Sena”, Sena Madureira, AC, 2012; “Notas de Esquecimento”, Aliança Francesa. João Pessoa, PB, 2009. Principais exposições coletivas: “61o Salão de Abril”, Fortaleza, CE, 2010, “II Prêmio EDP nas Artes”, Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, SP, 2011; “City as a Process”, II Ural Industrial Biennial of Contemporary Art, Ekaterinburg, Rússia, 2012.
Matias Monteiro, doutorando em Arte na Universidade de Brasília, DF, é artista, curador, professor e desenvolve atividades junto a programas educativos em museus e centros culturais. Atuou como Palestrante e Produtor de Conteúdos para o Educativo Bienal da Fundação Bienal de São Paulo; integrou o corpo curatorial do programa RUMOS Itaú Cultural 2011-2013; participou como Consultor Pedagógico do projeto Gente Arteira da CAIXA Cultural Brasília; ministrou cursos em arte contemporânea e participou do desenvolvimento de materiais no contexto do prêmio Energias da Arte (Instituto Tomie Ohtake/Instituto EDP); foi professor do curso de Licenciatura em Artes Plásticas da Faculdade Dulcina de Morais, FADM, e do curso de Bacharelado em Museologia da Universidade de Brasília (FCI/UnB).
agosto 11, 2016
Thiago Honório no MASP, São Paulo
A instalação reúne, no 1º subsolo do museu, ferramentas de trabalhadores utilizadas durante o restauro de um prédio histórico no centro de São Paulo
O MASP apresenta, a partir de 11.8, a instalação Trabalho, do artista Thiago Honório (Carmo do Paranaíba, MG, 1979), que ocupa o mezanino do 1º subsolo do museu. A instalação integra o acervo do MASP e reúne uma coleção de ferramentas que pertenceram a mestres-de-obras e pedreiros envolvidos no restauro de uma antiga subestação de energia do centro de São Paulo, um edifício da década de 1920, recentemente restaurado. A partir de conversas e negociações com os trabalhadores, durante uma residência artística, Honório propôs a troca das ferramentas, entregando a eles instrumentos novos. Parte delas também foi doada espontaneamente pelos trabalhadores. Algumas, inclusive, foram construídas pelos próprios pedreiros, a partir do conhecimento adquirido em anos de trabalho, por meio de suas vivências. É o caso da “gambiarra”, espécie de luminária usada para verificar a qualidade da pintura nas paredes.
Entre as ferramentas expostas na instalação estão pás, talhadeiras, escadas, picaretas, enxadas, marretas, desempoladeiras, serrotes, rolos, pincéis e espátulas, entre outras. Elas conferem à instalação uma aparência áspera e fria, em contraste com a percepção tradicional de “obras de arte” e de “belas artes”, porém alinhada às próprias características da arquitetura brutalista – com estruturas expostas e sem acabamentos luxuosos – do prédio do MASP.
Segundo Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, e o curador Fernando Oliva, que assinam juntos o texto da exposição, a presença do trabalho de Thiago Honório vai ao encontro de preocupações atuais do programa do museu, no que se refere à revisão crítica não só de artistas, mas também de técnicas e modos de produção que foram deixados de lado, eclipsados pelas narrativas hegemônicas da história da arte, frequentemente por não estarem associadas aos modos, gostos, ofícios e estilos das classes dominantes. “Estas questões estão claramente presentes na reencenação de A mão do povo brasileiro — a histórica exposição de Lina Bo Bardi de 1969, que ocupará o primeiro andar do museu a partir de 1.9. No lugar de arte ou artefato, Lina propunha justamente a noção de trabalho para dar conta tanto de uma pintura de Candido Portinari, quanto de uma ferramenta, ambas, afinal, produtos de um trabalho humano, daí a pertinência desse Trabalho neste momento, no museu”, escrevem eles.
Essa é a terceira configuração inédita da mostra. As duas configurações anteriores, em 2013 e 2014, o artista articulou à medida em que negociava as trocas dos instrumentos, bem como recebia doações espontâneas, assim determinando os tipos e a quantidade de ferramentas que formariam cada conjunto. A configuração exibida no MASP inclui aqueles objetos que se aproximam do vocabulário de pintura e de acabamento, relacionados a noções de restauro, reforma ou, ainda, construção civil.
A exposição tem curadoria de Fernando Oliva, da equipe do MASP.
Thiago Honório (1979) concluiu o Bacharelado em Artes Plásticas na UNESP (2000), o Mestrado (2006) e o Doutorado (2011) em Artes Visuais na ECA/USP e desde 2006 é professor da Faculdade de Artes Plásticas da FAAP. Em 2012 apresentou a mostra Voilá, como artista convidado da 44a Anual de Arte da FAAP, no Museu de Arte Brasileira – MAB/FAAP, e Suite de variations, na Cité des Arts, em Paris. No mesmo ano participou do Programa de Residência Artística da Fundação Armando Álvares Penteado – FAAP em parceria com a Cité des Arts, em Paris, e do Programa Rumos Artes Visuais 2012/2013. Em 2010 foi um dos artistas selecionados para o Goethe-Institut Online Project. Foi vencedor da etapa nacional do Premio Unión Latina a la Creación Joven en Artes Plásticas (2005), semifinalista no Prêmio CNI/SESI Bolsa Marcantonio Vilaça (2004) e recebeu menção especial na 4ª edição da Bolsa Iberê Camargo (2004). Entre as diversas mostras de que tem participado, integra a exposição o Agora, o Antes – uma síntese do acervo do MAC, em cartaz no MAC USP Nova Sede, com a obra Documents, de 2012, incorporada este ano ao acervo do Museu.
agosto 9, 2016
Bijari e Diogo Granato na Praça das Artes, São Paulo
Estúdio Bijari e Diogo Granato lançam a instalação “Matilha” na Praça das Artes
O projeto é o primeiro de vídeo-dança em 360º produzido no Brasil
São Paulo, agosto de 2016 – Na próxima quinta-feira, dia 11 de agosto, o Estúdio Bijari, em parceria com o coreógrafo Diogo Granato, apresenta na Praça das Artes a instalação Matilha, o primeiro projeto de vídeo-dança em 360º produzido no Brasil, no qual registram 70 bailarinos, acrobatas e parkours dos grupos GT’Aime, Silenciosas e Núcleo de Improviso Cênico em performance no próprio espaço da Praça das Artes.
O evento de lançamento acontece a partir das 19h, terá ambientação sonora de Akin Bicudo e Lucas Rampazzo, será aberto ao público e a entrada é sujeita à lotação.
“Matilha” é repleta de intervenções gráficas, mescla vídeo 360º com 3D, e explora o contraponto entre a rigidez da arquitetura e a fluidez dos corpos que nela se deslocam. O público poderá interagir com a instalação por meio de óculos de realidade virtual.
“Trata-se de um formato imersivo que usa a captação através de múltiplas câmeras para recriar a noção do espaço dentro de plataformas de visualização 360º, tais como óculos de realidade virtual, ou VR, plataformas mobile e mesmo a tela do computador”, explica Maurício Brandão, sócio e diretor criativo do Estúdio Bijari.
Estúdio Bijari, criado em 1998, é um centro de criação em artes visuais e multimídia. Com um time de profissionais como artistas, arquitetos, cenógrafos, designers, planejadores, diretores de vídeo e de arte, o trabalho do Bijari deriva de uma pesquisa constante situada na convergência entre arte, design e tecnologia, permitindo imprimir novos olhares e significados à comunicação em diferentes plataformas de atuação. Mais informações em www.bijari.com.br
Diogo Granato é criador e intérprete de solos de dança-teatro como “Aretha”, que o rendeu o prêmio de melhor intérprete de 2006 pela Associação Paulista de Críticos de Arte, e “Seis Sentidos”, que encerrou o “Intransit Festival” em Berlim, de duetos com importantes figuras da música, como Natália Mallo e Mathias Landaeus. Além de “Sketchbook”, um trabalho que mistura parkour, dança, teatro e música com os jazzistas Victor Cabral, Daniel Menezes (Gralha) e Daniel Amorim. Diogo é, também, intérprete-criador da premiada Cia Nova Dança desde sua criação em 1996, e diretor do grupo de dança-teatro Silenciosas + GT’Aime.
agosto 8, 2016
Jonathas de Andrade na Vermelho, São Paulo
Mostra individual de Jonathas de Andrade
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Jonathas de Andrade ocupa a sala antonio – o cinema da Galeria Vermelho – com o curta-metragem O Caseiro (2016) que propõe um diálogo com o filme de 1959, O Mestre de Apipucos, de Joaquim Pedro de Andrade. O filme é construído simetricamente em duas narrativas. À esquerda, o filme de 1959, gentilmente cedido pela produtora Filmes do Serro, exibe o cotidiano de Gilberto Freyre em sua casa no bairro de Apipucos, no Recife. À direita, Jonathas de Andrade cria um espelhamento simultâneo das cenas de O Mestre de Apipucos substituindo Freyre por um suposto caseiro da opulenta morada do sociólogo. O paralelo entre os dois personagens - aquele histórico do documentário, e aquele anônimo da ficção - estabelece uma tensão que sublinha aspectos de classe e raça, dois dos assuntos mais presentes na obra de Freyre, já que este aparece vivendo uma vida de registro aristocrático no filme de Pedro de Andrade.
Do lado de fora do cinema, Jonathas exibe a instalação Suar a Camisa (2014), vista pela primeira vez em São Paulo. Em contato direto com trabalhadores pelas ruas do Recife, de Andrade negociou, trocou e comprou cerca de 120 camisas suadas de trabalhadores da cidade ao final de um dia de trabalho. A montagem das camisas em uma grande fila, cada uma sobre um suporte vertical de madeira, faz menção a uma espécie de fila de espera: do desemprego, do ônibus, ou ate mesmo de uma greve.
A instalação Suar a Camisa foi exibida pela primeira vez na exposição Museu de Homem do Nordeste, no MAR (Museu de Arte do Rio), aonde Jonathas mostrou o maior conjunto da série homônima que vem desenvolvendo desde 2013. As obras do projeto Museu do Homem do Nordeste se articulam como uma coleção paralela a do Museu do Homem do Nordeste, localizado na cidade do Recife [PE]. Criado em 1979 por Gilberto Freyre, o museu antropológico conta com um acervo de mais de 15000 peças representativas da formação étnica, histórica e social da região. Na série de Jonathas de Andrade, o artista experimenta novas bases e metodologias para o museu original.
Suar a camisa
Coletas e negociações realizadas em colaboração com Esdras Bezerra de Andrade e Luiz Henrique Chipã.
Mancebos desenvolvidos por Geraldo Correia do Nascimento em conversa com Esdras Bezerra De Andrade. Com contribuições de Rodrigo Tavares e Taciana Da Fonte Neves.
O caseiro, 2016
Obra em diálogo com o filme “O Mestre de Apipucos”, de 1959, de Joaquim Pedro de Andrade. Filme gentilmente cedido pela produtora Filmes do Serro.
Ficha técnica
Direção: Jonathas de Andrade
Assistencia de direção: Fellipe Fernandes
Direção de fotografia: Thiago Calazans
Ator: Carlos César Martins
Assistência: Dandara Pagu
Agradecimentos: Ana Maria Maia, Clarissa Diniz, Cristina Gouvêa, Fundação Gilberto Freyre, Jamille Barbosa e Jerônimo Lemos.
Créditos do filme Mestre de Apipucos, de 1959:
Roteiro e Direção: Joaquim Pedro de Andrade.
Realização Filmes do Serro e Saga Filmes.
Restauração Teleimage, Cinemateca Brasileira, Secretaria do Audiovisual/MINC, e Trama. Produtor Sergio: Montagna.
Fotografia: Afrodísio de Castro.
Câmera: Jorge G. Veras.
Assistente de direção: Domingos de Oliveira.
Montagem: Carla Civelli e Giuseppe Baldacconi.
Produzido para o Instituto Nacional do Livro do Ministerio da Educação e Cultura em 1959.
Sobre a sala antonio
A sala antonio, sala de projeção da Vermelho, vem para receber a produção dos artistas que têm atuado na fronteira entre o cinema e as artes plásticas. São produções que exigem uma situação especifica de exibição, seja pela duração, aspectos técnicos de produção ou formato de narrativa, que fariam esses filmes não serem devidamente apreciados em situações corriqueiras de exposições. A sala antonio tem como missão aperfeiçoar a experiência de assistir filmes com confortáveis assentos, isolamento adequado do som e luz exterior, condições ideais de projeção e reprodução de trilha sonora, bem como ambiente climatizado.
A Vermelho se aliou às empresas Epson, Fusionaudio e Artefacto como apoiadoras da sala antonio. A Epson, líder mundial em projetores, apoia a sala antonio com equipamentos sofisticados que, juntos, dão conta da diversidade da produção contemporânea em vídeo. O principal deles, o Pro Cinema LS10000, um projetor a laser, com alta definição 4K Enhancement, oferece tecnologia de ponta em projeção digital. A Fusionaudio apoia a Sala de Projeção com toda a técnica em montagens de audiovisual e com a aparelhagem de 5.1 Dolby Surround Sound, com caixas de som da marca JBL, conhecida pela qualidade primorosa de seus equipamentos de áudio. A Artefacto oferece o mobiliário da Sala Antonio com um conjunto de peças elegantes, funcionais e que garantem grande conforto.
Solo show by Jonathas de Andrade
Jonathas de Andrade is occupying the Antonio Room – Galeria Vermelho’s cinema – with the short film O Caseiro [The Caretaker] (2016) which proposes a dialogue with the 1959 film, O Mestre de Apipucos, by Joaquim Pedro de Andrade. The film is constructed symmetrically in two narratives. At the left, the 1959 film, kindly ceded by the producer, Filmes do Serro, shows the daily life of Gilberto Freyre in his house in the district of Apipucos, in Recife. On the right, Jonathas de Andrade creates a simultaneous mirroring of the scenes of O Mestre de Apipucos, substituting Freyre by a supposed caretaker of the sociologist’s opulent residence. The parallel between the two characters – the historical one of the documentary, and the anonymous one of the fiction – establishes a tension that underlines aspects of class and race, two of the main subjects that Freyre dealt with in his work, as the sociologist appears in the film by Pedro de Andrade living an aristocratic life.
Outside the cinema, Jonathas is showing the installation Suar a Camisa [Sweaty Shirts] (2014), seen for the first time in São Paulo. In direct contact with the workers in the streets of Recife, Andrade negotiated, traded and bought about 120 sweaty shirts from the city’s workers at the end of a workday. The mounting of the shirts in a large line, each on a wooden stand, alludes to a sort of waiting line: an unemployment line, a line to enter a bus, or even a line of striking workers.
The installation Suar a Camisa was shown for the first time at the exhibition Museu de Homem do Nordeste, at MAR (Museu de Arte do Rio), where Jonathas showed the largest set of the series of the same name he has been developing since 2013. The works in the project Museu do Homem do Nordeste are articulated as a collection parallel to that of the Museu do Homem do Nordeste, located in the city of Recife (PE). Created in 1979 by Gilberto Freyre, the anthropological museum has a collection of more than 15,000 pieces representative of the region’s ethnic, historical and social formation. In the series by Jonathas de Andrade, the artist experiments with new bases and methodologies for the original museum.
Suar a camisa
Collections and negotiations made in collaboration with Esdras Bezerra de Andrade and Luiz Henrique Chipã. Wooden shirt stands developed by Geraldo Correia do Nascimento in a conversation with Esdras Bezerra de Andrade. With contributions from Rodrigo Tavares and Taciana da Fonte Neves.
O caseiro, 2016
An artwork that dialogues with the 1959 film O Mestre de Apipucos, by Joaquim Pedro de Andrade. Film kindly ceded by Filmes do Serro.
Credits
Direction: Jonathas de Andrade
Director’s assistant: Fellipe Fernandes
Director of photography: Thiago Calazans
Actor: Carlos César Martins
Assistant: Dandara Pagu
Acknowledgments: Ana Maria Maia, Clarissa Diniz, Cristina Gouvêa, Fundação Gilberto Freyre, Jamille Barbosa and Jerônimo Lemos.
Credits for the 1959 film Mestre de Apipucos:
Screenplay and Direction: Joaquim Pedro de Andrade.
Produced by: Filmes do Serro e Saga Filmes.
Restoration: Teleimage, Cinemateca Brasileira, Secretaria do Audiovisual/MINC, and Trama. Producer: Sergio Montagna.
Photography: Afrodísio de Castro.
Camera: Jorge G. Veras.
Director’s assistant: Domingos de Oliveira.
Editing: Carla Civelli and Giuseppe Baldacconi.
Produced for the National Book Institute of the Ministry of Education and Culture in 1959.
About sala antonio
Galeria Vermelho’s projection room, sala antonio, aims at presenting artist’s productions which borders filmmaking and the visual arts. These productions require specific conditions for screening, whether due to their length, technical production aspects or narrative format, which would not allow these films to be duly appreciated in a typical exhibition situation. sala antonio aims at optimizing the viewing experience with comfortable seating arrangements, proper isolation from outside sound and light, improved conditions for visual projection and reproduction of soundtrack, as well as temperature controlled ambient.
Galeria Vermelho has joined efforts with the companies Epson, Fusionaudio and Artefacto as sala antonio’s supporters. Epson, world leader in projectors, supports sala antonio with state-of-the-art equipment capable of showcasing the contemporary video production. The Pro Cinema LS 10.000, is a cutting-edge digital laser projector with high definition 4K Enhancement. Fusionaudio is providing sala antonio with technical expertise in audiovisual setup, offering a 5.1 Dolby Surround Sound powered by JBL speakers known for the excellent quality of its audio devices. Artefacto furnishes sala antonio with a line of elegant lounge furniture developed to be also functional and to ensure great comfort.
Gisela Motta & Leandro Lima na Vermelho, São Paulo
Controle Remoto (2016)
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Controle Remoto é o aparelho utilizado diariamente para mudar os canais de televisão, mas também se refere ao ato de ser comandado remotamente, sofrer um controle à distância. Na instalação Controle Remoto (2016) de Motta e Lima, todos os moradores de um condomínio de casas de passarinho estão com os aparelhos de TV ligados, recepcionando o conteúdo transmitido pelas empresas de telecomunicações. Essa situação faz uma analogia à vida cotidiana, onde grande parte do conhecimento (ou versões do conhecimento) é recebida pela televisão, fazendo menção ao papel de controle exercido pela mídia.
Na instalação, 30 casas de passarinhos, moldadas e dispostas seguindo um desenho de bairro residencial popular brasileiro - contendo em cada casa um dispositivo que emula o estimulo de um aparelho de televisão - apresentam seleções de trechos sonoros variados de programas que foram ao ar nos últimos 30 anos na televisão aberta brasileira, misturando entretenimento rápido com grandes acontecimentos históricos e políticos.
Remote Control is the apparatus used daily to change TV channels, but also refers to the act of being controlled remotely. In the installation Controle Remoto (Remote Control (2016)) by Motta and Lima, all the inhabitants of a bird house condominium are connected to TV sets, receiving the content transmitted by telecommunications companies. This situation makes an analogy to everyday life, where much of the knowledge (or versions of knowledge) is received by the television, making mention to the control exercised by the media.
In the installation, 30 bird houses, shaped and arranged following a Brazilian popular residential neighborhood design - containing in each house a device that emulates the stimulus of a TV set - present a selection of varying sound excerpts from programs that were aired in the last 30 years in the Brazilian broadcast television, mixing fast entertainment with great historical and political events.
Carmela Gross na Vermelho, São Paulo
A segunda exposição individual de Carmela Gross na Galeria Vermelho, Um, Nenhum, Muitos, se organiza em torno de 4 obras: Figurantes (2016), 13 Passantes (2015/2016), Darlenes (2014) e Bando (2016).
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Figurantes
O painel luminoso vermelho de LED, Figurantes (2016), de Carmela Gross, instalado na entrada da Galeria Vermelho, se assemelha aos tantos que se encontram usualmente em bares, lojas e postos de gasolina com anúncios. Só que aqui, ao invés de produtos e serviços, o painel apresenta um cortejo insólito de dúbias figuras. São aquelas listadas por Marx, em O 18 de Brumário de Luís Bonaparte (1852), como membros da Sociedade 10 de Dezembro, constituída de biscateiros, arrivistas, herdeiros arruinados, vagabundos e desocupados de toda ordem: batedores de carteira, ex-presidiários, vigaristas, rufiões decadentes e muitos outros... O resgate luminoso deste grupo peculiar de ativistas políticos, estampado no painel de LED montado pela artista, reatualiza outros grupos que vieram na esteira deste, e aponta para tantos mais em circulação nas cidades contemporâneas.
13 Passantes
Numa sala adjacente, encontra-se a animação em vídeo 13 Passantes (2015/2016), que traz pequenas figuras feitas de fita adesiva preta sobre um fundo de papel quadriculado. As figuras se deslocam de um extremo ao outro da tela. O equilíbrio frágil de suas linhas ressalta e singulariza distintos modos de andar e atravessar “o palco iluminado” da projeção.
Para a montagem de 13 Passantes, a Galeria Vermelho conta com o apoio da Epson que gentilmente cedeu um projetor PowerLite Pro G6900WU para a exibição do filme.
Darlenes
A sala 1 da galeria é ocupada pela instalação Darlenes (2014), constituída de duas cancelas de estacionamento. Usualmente a cancela sinaliza a passagem ou a interdição para os carros. Só que aqui, não. Estas são cancelas para pedestres que podem delas se aproximar e manejá-las, como quiserem, para outros significados.
As hastes mecânicas são comandadas a distância por um controle remoto à disposição de quem passa. O movimento de subir e descer das hastes desdobra e estende uma massa informe de tecido vermelho, desenhando no espaço um grande X. As hastes podem ser novamente acionadas e voltar à posição inicial, desfazendo o desenho em vermelho. Pode-se repetir este processo todas as vezes que se quiser.
Bando
Na sala 2, 78 desenhos dispostos lado a lado formam um ambiente propício a projeções imaginárias de várias ordens. Compõem uma multidão de bichos, feitos de manchas verdes que evocam vultos de animais, situados em meio a campos acinzentados feitos de rabiscos de grafite. Eles cercam, feito uma horda à espreita, quem está de passagem pela sala.
The second solo show by Carmela Gross at Galeria Vermelho, Um, Nenhum, Muitos [One, None, Many], is organized around four segments: Figurantes [Performers] (2016), 13 Passantes [13 Passers-by] [(2015/2016), Darlenes (2014) and Bando [Band] (2016).
Figurantes
The panel lit by LEDs, Figurantes (2016), by Carmela Gross, installed at the entrance of Galeria Vermelho, resembles so many other such panels usually found in bars, stores and gasoline stations, bearing advertisements. But here, instead of products and services, the panel presents an extraordinary procession of dubious figures. They are those listed by Marx in The Eighteenth Brumaire of Louis Napoleon (1852), as members of the Society of December 10, consisting of temporary workers, parvenus, ruined heirs, vagabonds and all sorts of shiftless people: pickpockets, ex-cons, swindlers, decadent ruffians and many others… The luminous redemption of this peculiar group of political activists, shown on the LED panel mounted by the artist, reactualizes other groups that came in the wake of that one, and points to so many more which circulate in the contemporary cities.
13 Passantes
An adjoining room features the video animation 13 Passantes (2015/2016), which presents figures made of black adhesive tape on a background of graph paper. The figures move from one edge of the screen to the other. The fragile balance of their lines highlights and singularizes different ways of walking and crossing “the lighted stage” of the projection.
For 13 Passantes, Vermelho has the support of Epson who kindly provided one PowerLite Pro G6900WU projector for viewing the film.
Darlenes
The gallery’s Room 1 is occupied by the installation Darlenes (2014), consisting of two parking lot gates. Usually such gates signal to the cars whether they can move forward or not. But not here. These are gates for pedestrians who can approach and manipulate them, if they wish, configuring other meanings.
The mechanical posts are remote-controlled by a device accessible to anyone going past. The movement of raising and lowering the posts unfolds and extends two shapeless swathes of red fabric, drawing a large X in the space. The posts can be moved again to return to their initial position, unmaking the drawing in red. This process can be repeated as many times as one wishes.
Bando
In Room 2, a set of 78 drawings displayed side-by-side form an environment suitable for imaginary projections of various sorts. They compose a multitude of animals, made of green splotches that looked like the outlines of animals, situated among grayish fields made of scribbled graphite. They surround, like a lurking horde, whoever is going through the room.
Horror Vacui Tropical no LabART 760, Porto Alegre
‘Horror Vacui Tropical’ reúne obras de dez artistas com curadoria de Gaudêncio Fidelis
No próximo sábado, 11 de junho, o Laboratório de Experimentações Artísticas – LabART 760, inaugura sua segunda exposição desde sua abertura em abril. Horror Vacui Tropical (experiência 2) tem curadoria de Gaudêncio Fidelis e reúne 23 obras dos artistas Ana Norogrando, Britto Velho, Dudi Maia Rosa, Eduardo Haesbaert, Flávio Morsh, Frantz, Ilsa Monteiro, Oswaldo Maciá, Romanita Disconzi e Wilson Cavalcante.
Horror Vacui Tropical é uma exposição que aborda a manifestação do excesso na ocupação do espaço. O termo horror vacui, que designa “medo do vazio”, é uma característica que aparece na produção artística desde a antiguidade, na montagem de exposições da década de 1930, e no design e na decoração de interiores mais recentemente, encontrando assim correspondência em inúmeros aspectos da vida contemporânea. A mostra trata da ocupação do espaço a partir de uma perspectiva produtiva, recusando a estética minimalista do “cubo branco”, padronização muito comum na museografia encontrada em museus e galerias. “O objetivo é estabelecer uma experiência corpórea do espectador com a obra que não seja mais aquela do distanciamento estético, aproximando o contato com o corpo e a visão”, revela Fidelis.
A exposição retira seus ensinamentos da história pregressa das exposições Dadá e surrealistas da década de 1930, dos Penetráveis de Hélio Oiticica e da visualidade excessiva do espaço público da vida contemporânea, para construir uma relação mais direta com a obra de arte. “Podemos constatar de forma mais evidente o horror vacui no Barroco e seu contraponto no Minimalismo, com diversas nuances entre eles e outras manifestações artísticas”, conta. O Minimalismo projetou-se assim contra o horror vacui, enfrentando o “medo do vazio” e desenvolvendo uma estética voltada para a ausência de informação e a estetização dos objetos no espaço. A política da estética minimalista atingiu não só a obra dos artistas, onde sua manifestação estilística produziu obras surpreendentes, mas igualmente um espaço de exposições exclusionário, através de um arremedo da ausência, com seus projetos museográficos mínimos, destituídos de excesso e excessivamente estetizados. Em diversos momentos a obra de arte e seu conteúdo estético e artístico se confundiu com aquele do espaço, determinado por uma política do vazio e da “limpeza” arquitetônica.
De acordo com o curador, esta opção museográfica revela um desdobramento político desta tendência de desocupação. Trata-se de um processo equivalente de exclusão que se reflete tanto em uma tipologia de obras, expresso através de menos obras no espaço e, portanto, menos artistas representados nestas exposições, alimentando a exclusão dos artistas e suas obras.
Horror Vacui Tropicalista rejeita o vazio como manifestação estetizante dos mecanismos de display em uma exposição mediada por um desejo de ocupação produtiva do espaço. Segundo Fidelis, é uma perspectiva tropicalizada da abordagem do espaço, através do informalismo tropicalista da ocupação, com os ensinamentos de Hélio Oiticica e seus Penetráveis. “A abordagem labiríntica do espaço, advinda dos ensinamentos das favelas de onde a obra de Oiticica se alimentou, proporciona lições para que possamos repensar nossa relação com a obra de arte no espaço de exposições. Ao mesmo tempo a cultura visual do espaço urbano, com seu excessivo volume de informação proporciona inspiração para que trabalhemos sem as limitações estetizantes da exibição museográfica e os preconceitos da visão academicista da realização de exposições visualmente reducionistas”.
A exposição inclui obras de períodos diversos da produção destes artistas, que em sua disposição incitam a aproximação do público, promovendo um novo ponto de vista do expectador com obras fora do espaço institucionalizado, minimalista e asséptico que domina o mercado de arte.
Localizado no Caminho dos Antiquários, na rua Marechal Floriano, o LabART 760 é uma iniciativa independente comprometida em apoiar a produção, a crítica e a investigação interdisciplinar acerca das práticas artísticas contemporâneas. Na equipe, os curadores e historiadores Ana Zavadil e Márcio Tavares, a advogada e gestora cultural Marla Trevisan, e o advogado e artista visual Ricardo Giuliani.Horror Vacui Tropical segue em cartaz até 13 de agosto, com entrada franca. O LabART 760 funciona de segunda a sexta-feira das 14h às 18h, e aos sábados, das 10h às 15h, na Rua Marechal Floriano, 760.
Gaudêncio Fidelis (Brasil, 1965) é curador e historiador de arte, especializado em arte brasileira, moderna e contemporânea e arte das américas. É mestre em arte pela New York University (NYU) e doutor em História da Arte pela State University of New York (SUNY) com a tese The Reception and Legibility of Brazilian Contemporary Art in the United States (1995-2005). Foi fundador e primeiro diretor do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul em 1992. Publicou entre outras obras Dilemas da Matéria: Procedimento, Permanência e Conservação em Arte Contemporânea (MAC-RS, 2002); Uma História Concisa da Bienal do Mercosul (FBAVM, 2005) e O Cheiro como Critério: em Direção a uma Política Olfatória em Curadoria (Chapecó: Argos, 2015). Entre 2004 e 2005 foi curador-adjunto da 5a Bienal do Mercosul. É membro do Conselho Consultivo do Patrimônio Museológico Brasileiro do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) e membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA). Foi diretor do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS (2011-2014) e Curador-chefe da 10a Bienal do Mercosul (2014-2015).
agosto 4, 2016
Maurício Adinolfi no CCSP, São Paulo
Centro Cultural São Paulo apresenta instalação de Maurício Adinolfi
O Centro Cultural São Paulo tem o prazer de apresentar, a partir de 6 de agosto de 2016, a exposição-instalação Adamastor, do artista e pesquisador Maurício Adinolfi. Constituída por materiais básicos da construção naval, a instalação é composta por um barco de madeira de sete metros, a ossada de uma baleia jubarte, 20 cabos de aço, além de porções de mercúrio, asfalto e sal.
Partido ao meio, o barco tem suas metades instaladas frente a frente, nas extremidades do Piso Caio Graco. A separação entre a popa e a proa cria um espaço vazio, que é tensionado por 20 fios de aço de 40 metros que ligam as partes.Os cabos de aço acabam por inventar um espaço poético, que no movimento de distensão e retesamento engendra uma certa dramaticidade, por estar sobre um espaço de altura considerável, formando uma espécie de desenho sobre o vão central do espaço cultural.
A obra ainda guarda relação com as intervenções realizadas pelo artista em regiões litorâneas de rio e mar, em especial ações colaborativas e coletivas que envolveram as comunidades locais, de onde vem o barco e os ossos da baleia, pesquisada e encontrada pelo próprio artista. O mar, na poética de Adinolfi, se configura como um exercício de ir e voltar, um “espaço intermediário” de elevado risco, fazendo referência ao mítico "Adamastor" - gigante referido por Luís Camões em "Os Lusíadas", representando as forças da natureza contra Vasco da Gama como forma de tempestade.
Laura Gorski no CCSP, São Paulo
Centro Cultural São Paulo apresenta instalação sensorial e submersiva de Laura Gorski
O Centro Cultural São Paulo tem o prazer de apresentar, a partir de 6 de agosto, às 15h, a instalação Repouso, da artista Laura Gorski, contemplada no Edital ProAc 2015 - Obras e Exposições. Em um espaço de 140 m², o espectador é convidado a caminhar por três ambientes submersivos, onde a tinta preta cobre gradativamente o piso, as paredes, um conjunto de pedras, troncos de árvores e um barco, submergindo os objetos e o espectador em níveis distintos.
A cor preta, que aqui revela e esconde os elementos cria uma situação de baixo contraste, apontando para a realidade oculta das coisas e flertando com a ideia de conter o incontível e desvelar o invisível. Os distintos níveis de preto fazem um paralelo com a ideia de repouso da água, como se a parte preta fosse um líquido contido pelos limites físicos do espaço, totalmente igualado, em busca do nível, do repouso. A atmosfera criada pelas três salas lida com a percepção ao criar uma sensação que engana a visão e mexe com os sentidos, fazendo o espectador sentir seu corpo submergir.
O trajeto sugerido pela instalação começa pela sala das pedras, onde o nível do preto está na altura dos joelhos; em seguida se adentra à sala dos galhos, onde o nível do preto sobe para a altura da barriga, dando a sensação de submersão; por fim entra-se em uma sala com cerca de 70 m², que faz alusão a um horizonte branco e preto, que num primeiro olhar pode-se ver apenas a parte superior do barco. É um ambiente sufocante, onde o nível do preto está entre o pescoço e o peito de uma pessoa de estatura mediana.
“Repouso” dá continuidade à pesquisa poética da artista que envolve a investigação de estruturas essenciais nas paisagens, a criação de lugares de quietude e a busca por um tempo dilatado por meio do desenho e sua relação com o espaço.
Baía de Guanabara: Águas e Vidas Escondidas no MAC, Niterói
MAC de Niterói abre exposições, tendo a Baía de Guanabara como foco, no mês das Olimpíadas
No mês das Olimpíadas, quando o Estado do Rio de Janeiro vai receber ainda mais turistas, o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, recém reinaugurado, preparou atividades especiais para receber bem o público – tanto estrangeiros quanto brasileiros. No dia 6 de agosto, às 10h, serão abertas novas mostras, todas com temáticas ligadas, de alguma forma, aos jogos olímpicos. São elas: a exposição em processo, com o Programa Baía de Guanabara: Águas e Vidas Escondidas, com curadoria de Luiz Guilherme Vergara e que conta com a participação de diversos artistas; continuação da mostra “Ephemera: Diálogos Entre-Vistas”, também com curadoria do Luiz Guilherme Vergara e que abriu juntamente com a reinauguração do MAC; Progressão, do artista Felippe Moraes, com curadoria de Michelle Sommer; e Provar, Aprovar, Reprovar, de Agostinho Moreira.
Além de encontrar o MAC totalmente ocupado por essas mostras especiais, o visitante vai se deparar com um museu reformado, depois de passar por um conjunto inédito de obras, que inclui um sistema de ar condicionado eficiente; impermeabilização da cobertura do prédio; limpeza e pintura da fachada e da rampa; troca de carpete dos salões expositivos (indicado pelo IPHAN); reforma dos banheiros; uma nova recepção e loja; nova iluminação em LED para o espelho d’água, prédio e entorno da Praça, com projeto de Peter Gasper; nova sinalização interna e substituição das grades da entrada por vidro.
É válido ressaltar, ainda, que todos os eventos do museu a partir da reabertura fazem parte do programa ‘MAC + 20’, com exposições que enaltecem a importância e potência histórica da Coleção MAC Sattamini e, simultaneamente, celebram novas perspectivas curatoriais, por meio de colaborações nacionais e internacionais. Afinal, em setembro, o MAC Niterói completa 20 anos. Esta nova fase está sendo construída também pela busca e esforços coletivos por uma nova visão colaborativa, a partir de uma gestão de saberes e práticas compartilhadas intersetoriais, culturais e acadêmicas com a Universidade Federal Fluminense (UFF). O circuito de atividades integradas é parte desta perspectiva MAC+20, unindo curadoria e educação pelas instituições do bairro da Boa Viagem, incluindo o Solar do Jambeiro, o Museu Janete Costa de Arte Popular e o Museu do Ingá, por exemplo.
Baía de Guanabara: Águas e Vidas Escondidas
Exposição e Irradiações de processos colaborativos ambientais na Varanda do MAC
A varanda do MAC é tomada como processo aberto para percursos de instalações e irradiações que remetem a processos de engajamentos e colaborações entre artistas, pesquisadores ambientalistas e comunidades. Uma instalação especial de Nelson Leirner, ‘Terra à vista’ e o Panorama da Baía de Guanabara, assim como a trajetória de intervenções na paisagem da Boa Viagem de Katie Scherpenberg, servem de âncoras para reunir nesta borda circular do MAC um conjunto de projetos experimentais entre artistas, cientistas e comunidades e condições de vida escondidas e desconhecidas. Assumindo conceitual e simbolicamente como referência e vocação intuitiva da arquitetura aberta da varanda do MAC a experiência ambivalente de mirante e sentinela, entre paisagem e meio ambiente, entre arte e mundo, vidas e saberes visíveis e invisíveis. O museu encontra na janela aberta para a Baía de Guanabara sua borda experimental para processos de irradiações da arte para a vida. O nome de Niterói como 'Águas Escondidas'' no idioma tupi-guarani é apropriado como inspiração conceitual que aponta para relações que ultrapassam o visível dentro de um ecossistema de vidas. A Baía de Guanabara, bará = mar, ou então guana ("seio") bara ("mar"), "mar do seio, não é habitada apenas para satisfazer as necessidades do reino humano, mas de um universo de seres e belezas que co-habitam a paisagem”, explica Guilherme Vergara.
Nesta proposta, o anel da varanda inaugura um percurso geográfico de instalações que também remetem ao conceito de irradiações com diferentes interfaces entre arte e ciência, obras e processos de colaborações entre artistas e agentes de ações coletivas e colaborativas em comunidades; cientistas, mergulhadores e pescadores, que definem tendências experimentais de um museu laboratório. Ressalta-se a vocação arquitetônica do MAC para o projeto arte e ações ambientais, onde tanto os artistas quanto o próprio museu são agentes de conexões sociais e de saberes na produção de redes ecológicas. Uma terceira margem de cruzamentos ou transbordamentos artísticos e culturais invoca o princípio feminino universal presente nas diferentes deusas ligadas às águas e oceanos, de Iemanjá e Afrodite (representada pelo coletivo Re-Afrodite do Chipre).
Participam, ainda, desta exposição um conjunto de colaborações internacionais, tais como Nuno Sacramento, curador do Scotish Sculpture Workshop, Aurelien Gamboni e Sandrine Teixido (França), o coletivo Re-Afrodite, com Evanthia Tselika, Chrystalleni Loizidou, Athina Antoniadou, da Universidade de Nicósia, Chipre.
O programa MAC Fórum também lançará importantes filmes especialmente desenvolvidos a partir de questões ambientais, como Os Descartados (The Discarded), de Annie Costner. Ainda previsto como parte do Programa Baía de Guanabara, o lançamento do filme de Celine Cousteau como parte do seminário internacional previsto para outubro. A visão e vocação do MAC como museu laboratório para uma perspectiva de arte em ação ambiental se realiza como plataforma para práticas artísticas experimentais e colaborativas, reunidas neste programa como perspectivas de novas tendências conceituais de atravessamentos entre artistas-pesquisadores e coletivos em diferentes locais e condições adversas da Baía de Guanabara.
Artistas participantes com as suas respectivas obras
Katie Van Scherpenberg
Vídeo e fotos registrando a trajetória das intervenções conceituais da Katie Scherpenberg na paisagem da praia da Boa Viagem. Vídeo (MENARA) com os registros das diferentes performances da artista, incluindo Sal + 1 sobre areia realizadas na Praia de Boa Viagem.
Gabriela Bandeira e Rodrigo Freitas
Entorno – vídeo-instalação a partir das imersões realizadas na colônia de pescadores Cícero Queiroz, na região do Gradim, em São Gonçalo. As imagens são potencializadas com uma instalação sonora. Na tela, documentário com entrevistas com quatro pescadores dessa comunidade no fundo da Baía de Guanabara, onde há imagens do contexto destas entrevistas costurando e ilustrando os relatos dos pescadores.
Nuno Sacramento
Mesa Baldio – Da arte crítica à arte do cuidado’ – projeto apoiado pelo British Council, iniciado em 2014 pelo Scottish Sculpture Workshop (Escócia), em parceria com o Observatório de Favelas, MAC Niterói e Macquinho, que se debruça sobre questões do território e do direito da cidade no Rio de Janeiro. O projeto é baseado numa série de ações coletivas lideradas por jovens habitantes de favelas do Rio de Janeiro e de Niterói. Na primeira ação (Nova Holanda, Maré) construiu-se uma mesa baseada na ideia de miolo. Com a ajuda de dois carpinteiros e de uma arquiteta, os jovens desenvolveram um processo de construção e design inspirado em uma rua da Maré (Rua Miolo), e que deu origem a um conjunto de mesas. Na segunda ação, um conjunto de jovens do Morro do Palácio (Niterói) construíram uma composteira, seguida de alguns canteiros onde produziram vegetais. Na terceira ação, os jovens fizeram pratos e tigelas de cerâmicas. Finalmente, foram feitas bases, cadeiras e canecas, seguidas de uma refeição banquete.
Ignês Albuquerque e Priscila Grimberg
Casa Verde – A descoberta da Casa Verde do Sr. Hernandes no Bumba pela Inês Albuquerque é o ponto de partida e inspiração desta colaboração que se desdobra em práticas de agenciamentos que ultrapassam categorias convencionais entre arte e vida, artista e não artista. A Casa Verde do Sr. Hernandes é também uma escultura muito especial de reinvenção estética e terapêutica ambiental do habitar. Pode-se à primeira vista aproximar este caso com a obra-viva do artista Kurt Schwitters (1887-1948), Merzbau, ou Casa Merz. As apropriações e reinvenções do Hernandes também estará sendo colocada em aproximação e diferenças com a obra de Nelson Leirner. Porém o Sr. Hernandes não é um artista e toda essa guinada na vida que transforma sua casa em uma grande assemblagem ou bricolage existencial e afetiva é fruto de uma grande perda de sua companheira e esposa. Por outro lado, a Inês assume também um papel fundamental como artista educadora e agente de processos de valorização e ressignificação social da vida e talentos de Sr. Hernandes. Trata-se, aqui, de uma trajetória de encontros e afetos mútuos como um acontecimento com plena potencia de futuro. Ambos são agentes e atuam em uma transborda da vida que se reinventa como arte e a arte que se reconfigura como lugar de transformações compartilhadas de sentidos de pertencimento e ações ambientais coletivas.
Martha Niklaus
Horizonte Negro / Diários de Bordos – uma obra-instalação diante da vista da Baía de Guanabara que se apresenta como manifesto com a participação dos velejadores da Marina da Glória. No dia 12 de julho de 2015, eles realizaram a performance Horizonte Negro, na Baia de Guanabara, que trouxe 26 embarcações, com grandes bandeiras pretas em seus mastros, criando uma coreografia náutica, que foi avistada da Praia do Flamengo e da Urca. Foi criada pela artista em solidariedade à luta dos velejadores contra a transformação da única marina pública da cidade do Rio de Janeiro em um polo gastronômico, shopping, área de eventos e estacionamento. A obra se coloca em luto contra todos os problemas da cidade, inclusive em relação ao meio-ambiente. Por outro lado, uma ordem e escala alternativa de relações humanas se espalha como saídas para o coletivo, para as micro-geografias de resistências sociais, poéticas e ambientais. Os Diários de Bordo trazem um pequeno testemunho de vidas escondidas de pessoas que transformam seus barcos em casas flutuantes como habitantes invisíveis da Marina da Glória e Baía de Guanabara.
Fernando Moraes
BiodiversidArte Marinha – toma da vista das Ilhas das Cagarras diante da varanda para unir ciência e arte em suas componentes da história, biologia e oceanografia formam um amalgama inédito com exemplares biológicos, fotos, vídeos e iconografias raras do país que tem a maior costa atlântica do mundo e um povo miscigenado. O mundo submarino registrado pelas lentes dos cientistas-artistas resgata uma outra fronteira entre águas e vidas escondidas como indagação também entre o dentro e o fora do museu e da arte.
Lia do Rio e Enrique Banfi
Vozes de Baleias – Séc. XVIII / Séc. XXI – Reprodução da pintura de Leandro Joaquim ‘Vista da Baia de Guanabara com Baleias, séc.XVIII’ – Instalação sonora com os sons emitidos pelas baleias para criar uma tensão entre o acontecimento relatado no quadro pintado no séc. XVIII e a visão atual.
Evanthia Tselika, Chrystalleni Loizidou, Athina Antoniadou
Coletivo Re Aphrodite – ‘Shrines / Habits - Santuários / Hábitos’ – Colcha de Milagres Cotidianos. Com a colaboração da Universidade de Nicosia.
Colaboradores: Rosa Couloute, Stephanos Staphanides e a Federation of Filipino Organizations Cyprus (FFOC).
Série de intervenções em espaços públicos na forma de instalações fluidas de Santuários para a Deusa da Água (Afrodite) no Chipre e no Rio de Janeiro. Elas são propostas ritualisticamente de tal maneira que sejam abertas para histórias, questões e trocas com a participação do público.
Re-Aphrodite é um grupo de mulheres independentes sem fins lucrativos, baseado em Chipre, de pesquisadoras e agentes ativistas com foco nas questões de gênero, desigualdade social e outras questões políticas e sociais cipriotas através de pesquisa e práticas educativas, curatoriais e criativas. Começaram esta iniciativa em 2010 com Chrystalleni Loizidou e Evanthia Tselika, e, desde então, atuam como coletivo.
Aurelien Gamboni e Sandrine Teixido
A Tale as A Tool – Uma fábula como ferramenta
Patrocínio: Pro Helvetia
Projeto site-specific resultante de uma investigação de longo prazo, baseada sobre o conto do Edgar Allan Poe, A descida no rodamoinho (maelström). No contexto da exposição “Baía de Guanabara: Vidas e Águas Escondidas”, Gamboni e Teixido pretendem estabelecer ligações com a história do ambiente da Baía de Guanabara e com percepções do lugar estabelecidas pela arquitetura do Oscar Niemeyer. A intervenção tem a forma de uma parede de investigação, incluindo arquivos áudio e imagens, que será completada no decorrer da exposição. Para isso, serão organizados encontros, ativações públicas, entrevistas com a perspectiva de pensar o equipamento necessário para construir novas relações e preocupações compartilhadas.
Nelson Leirner
Terra à Vista – instalação especial para a varanda
A obra de Leirner será um ponto culminante de passagens entre gerações de artistas e as novas tendências conceituais de arte em ações ambientais. Concebida especialmente para a vista da paisagem envolvendo a arquitetura e os visitantes em uma única experiência entre espectador e tripulante de uma arca de criaturas que cruzam imaginários popular, religiosos e zoológicos. Os visitantes entram na obra como parte de uma família que ultrapassa a espécie humana.
agosto 3, 2016
Regina Parra + Tatiana Blass na Millan, São Paulo
Galeria Millan e Anexo Millan recebem as novas individuais das artistas Tatiana Blass e Regina Parra
A Galeria Millan tem o prazer de apresentar as novas individuais das artistas paulistanas Tatiana Blass (Anexo Millan) e Regina Parra (Galeria Millan), a partir de 21/07, quinta-feira. Vídeos, pinturas, desenhos e uma instalação integram Por Que Tremes, Mulher?, de Regina Parra, enquanto Tatiana Blass apresenta, em A Desprofissão, novas séries de pinturas e videoinstalações, além de vídeos recentes pouco exibidos em sua trajetória.
Em sua primeira exposição individual na Galeria Millan, “Por Que Tremes, Mulher?”, com curadoria de Moacir dos Anjos, a artista Regina Parra reúne nove pinturas, uma série de desenhos, instalações e um vídeo. Os novos trabalhos refletem uma espécie de “arqueologia da violência”. Não a brutalidade que ganha destaque da mídia diariamente, mas aquela que, muitas vezes, está por trás dela: a violência velada nas relações do dia-a-dia. A hostilidade invisível que funciona como uma ferramenta cotidiana para submeter o outro, especialmente quando esse outro está em uma posição mais frágil. E todo tipo de outro – mulher, imigrante, negro, índio – trava uma luta contra sua própria redução a estereótipos: a mulher domesticada, o imigrante servil, a “nega maluca”, o bom selvagem.
Na instalação sonora "Sim, Senhor", por exemplo, todos os personagens repetem a mesma frase (“- Sim, senhor.”) como uma estratégia de sobrevivência. Ou, nas pinturas a óleo, são reduzidos a estátuas decorativas de fazendas escravagistas de São Paulo, eternamente servis e sorridentes. E abaixam a cabeça no conjunto de desenhos vermelhos de Parra. No olhar da artista, a estratégia de sobrevivência pode ser enxergada como um meio de resistência. As esculturas decorativas blackamoor retratadas em seus óleos sobre papel deixam de ser “enfeites exóticos” para revelar a brutalidade de sua origem. As figuras cabisbaixas representadas ali talvez estejam, enfim, levantando suas cabeças.
Nas pinturas da série que dá nome à mostra, "Por Que Tremes, Mulher?", os versos do poema "Tragédia no Lar", de Castro Alves, fazem as vezes de legendas em cenas de florestas primordiais. Nelas, a violência funciona como ponto de intersecção entre natureza e cultura. Essas mesmas paisagens são o habitat do pássaro Lipaugus vociferans, conhecido como Capitão-do-Mato. A alcunha vem de seu canto estridente, que, no passado, servia para denunciar o movimento de escravos em fuga. Essa espécie de “antifábula” ganha novo significado no grupo de pinturas "Aquele Que Grita" e também no vídeo "Capitão-do-Mato", filmado na Amazônia tendo como personagem um exímio imitador de pássaros. E na instalação em neón, a frase "Manter-se Aterrorizada" é, ao mesmo tempo, o avesso e o espelho da sentença "Tornar-se Terrível". Um dilema essencialmente contemporâneo, de um tempo em que a violência contra a mulher está em evidência, da reação feroz às ondas de imigração e do aumento da desigualdade. Um tempo onde o outro ainda é perseguido.
Já a nova individual de Tatiana Blass, intitulada “A desprofissão”, ocupa o Anexo Millan e marca também o lançamento do primeiro livro a abarcar toda a trajetória da artista (“Tatiana Blass”, Editora Automática).
O primeiro bloco reúne cerca de vinte pinturas inéditas, em pequenas dimensões, feitas em guache sobre algodão e sobre papel. A artista se inspirou em cenas de peças de teatro clássicas, nas quais os atores, ou personagens, são absorvidos pelo espaço ao redor, o que faz com que figura e ambiente tornem-se um só corpo pictórico. As cores intensas e opacas próprias da tinta guache, e as formas sem contornos determinados, características da pintura de Tatiana Blass, dão uma ambiguidade interessante às pinturas.
Junto a elas, Tatiana exibe vídeos inéditos da série Desprofissão. São três “vídeo-pinturas” nos quais a artista estabelece uma relação cromática entre os elementos. Eles então são expostos como pinturas, em monitores ambíguos, emoldurados como se fossem quadros. Em todos os vídeos, um profissional realiza sua atividade mas alcançando um resultado oposto ao esperado. O lavador de carros torna-se um “deslavador”, ao lavar o automóvel com água suja de barro; a manicure vira uma “desmanicure”, que pinta toda a mão da cliente exceto suas unhas; e o pichador grafita por cima das pichações já existentes, usando um spray da mesma cor da parede e, assim, “despichando-a”.
A artista exibe também, e pela primeira vez no Brasil, a videoinstalação “Bocejo”, originalmente realizada para um projeto solo na feira ARCOMadrid deste ano. São onze vídeos sincronizados em diferentes equipamentos audiovisuais, produzidos de acordo com seus formatos e características específicas. Cada um deles exibe uma cena com pessoas que bocejam e então desencadeiam bocejos nos demais personagens. Em seguida, as telas “dormem” e ficam escuras, em modo stand-by, para depois “acordarem” e voltarem a exibir os vídeos em looping, criando assim um círculo de bocejos bastante instigante – e possivelmente contaminador para quem os assiste.
Além disso, Tatiana expõe trabalhos anteriores em vídeo pouco exibidos ao longo de sua carreira. São eles “Cisma” (2014), “Encrenca_Trøbbel” (2014), “Electrical Room” (2013) e “Hard Water” (2012). Todos são videoperformances protagonizadas por atores que realizaram a ação especificamente para esses trabalhos.
Já o livro sobre a obra de Tatiana Blass (homônimo), editado pela Automática e com realização da Galeria Millan, tem o seu lançamento oficial no dia 06/08 (sábado), às 11h30, no Anexo Millan, quando haverá também uma conversa com os críticos Moacir dos Anjos e José Augusto Ribeiro sobre o trabalho da artista. O livro, porém, estará à venda já na abertura da individual, em 21/07.
agosto 2, 2016
Cássio Michalany na Mul.ti.plo, Rio de Janeiro
Artista plástico paulista Cássio Michalany expõe pela primeira vez no Rio suas pinturas-objeto, em que a permutação de cores e relevos permite vários pontos de vista da obra de arte
Em sua primeira individual no Rio, o artista plástico paulista Cássio Michalany mostra, a partir do dia 3 de agosto na Mul.ti.plo Espaço Arte, uma nova vertente de trabalho, na exposição O lugar do outro. São pinturas-objeto – como batizado pelo artista – que trazem, para dentro de caixas de madeira, uma evolução de suas pinturas, ampliando a percepção de profundidade com a tridimensionalidade. São nove pinturas-objetos recentes e algumas inéditas, em que ele reorganiza o espaço da obra de arte, com a distribuição interna de finas peças de madeira pintadas. “O trabalho é todo pensado desta forma: há, digamos, um ‘gabarito inicial’ destes relevos internos, bastante estudado e extremamente construtivo. Entretanto, há até quatro possibilidades de visualização do interior de uma mesma caixa, variando de acordo com a montagem da exposição, que possibilita ‘rodar’ a obra, obtendo uma nova composição”, explica Michalany. A mostra também terá quatro pinturas em madeira de diversas fases de sua carreira – todas, assim como as pinturas-objetos, sem título.
Todas as caixas partem de uma organização espacial bastante criteriosa e singular – a origem é sempre com uma peça alinhada em um dos cantos. A partir daí toda a composição se desenvolve, seguindo coordenadas imaginárias que se complementam. “O enfrentamento direto com a matéria, madeira e tinta dispensa categorias gerais e conceitos anteriores que aprisionam o trabalho. O resultado são pinturas tridimensionais que constroem espaços indeterminados, mas que não possuem nada de aleatório, e que não cessam de se mover e se transformar”, descreve o curador de arte Cauê Alves em um texto sobre as pinturas-objeto de Cássio Michalany.
Exímio colorista, Michalany sempre trabalha com tons mais sóbrios. Azuis, vermelhos e verdes sempre bem escuros, cores terrosas, ocres. “Mas nunca é uma cor simples, fácil. Principalmente porque quero sempre promover a permutação entre elas, uma cor deve interagir com a outra”, diz. No caso das pinturas-objeto, os tons fechados têm ainda outra dinâmica. “Não são cores que saltam aos olhos, são mais profundas. Isso faz com que o observador tenha outro tipo de atenção, os tons mais baixos precisam dessa profundidade”, diz.
A permutação na obra de Cássio Michalany serviu de metáfora para que o historiador da arte Rodrigo Naves comparasse essa interação ao meio social: “Sua pintura procura encontrar cores e relações de cores que correspondam à sociabilidade contemporânea. Há em suas telas a tentativa de reverter a serialização que comanda o dia-a-dia, um mundo impessoal e delimitado”, diz. Para Naves, pode-se considerar sua obra “em âmbito mais amplo, que supõe o reconhecimento do lugar do outro e a consideração de que a posição que ocupamos no mundo só pode ser compreendida se são supostas também as outras posições”. Como suas pinturas-objeto, com seus quatro possíveis pontos de vista e inúmeras interpretações.
Bem-Vindos! na Luciana Caravello, Rio de Janeiro
O carioca que gosta da boa arte terá oportunidade de ver pela primeira vez juntas as obras de alguns expoentes de diversas gerações das artes plásticas brasileira, capitaneados por Gê Orthof – Prêmio Marcantonio Vilaça 2015 – na coletiva Bem-Vindos! na Luciana Caravello Arte Contemporânea. O título da exposição reflete a ideia da galeria de reunir os seus artistas mais recentes que ainda não foram expostos.
Gê Orthof, Paula Trope, Eduardo Kac, Alexandre Sequeira, Armando Queiroz, Claudio Alvarez, Igor Vidor, Lucas Simões, Marina Perez Simão e Pedro Varela mostram, de 3 de agosto a 3 de setembro, seus últimos trabalhos, na galeria de Ipanema.
Com temas atuais como o esporte de Igor Vidor, a infância e a juventude de Paula Trope, as águas de Pedro Varela e o trabalho com colagem e escultura de Lucas Simões, a mostra tem ainda um tom bem brasileiro, abrangendo artistas de várias regiões do país, como os paraenses Alexandre Sequeira e Armando Queiroz, o trabalho engenhoso, provocativo, lúdico e, acima de tudo, belo do paranaense Claudio Alvarez e a dança dos pincéis da mineira Marina Simão.
As obras apresentadas por Igor Vidor têm um quê de Jogos Olímpicos – do lado negro deles. Ex-atleta profissional de futebol – carreira promissora que abandonou, cansado do esquema de propinas e aliciamento que impera no meio –, ele derreteu todas as medalhas que ganhou para fazer o molde de sua última chuteira e vai expô-la na mostra.Resquícios da arquitetura de casas demolidas e das reformas feitas na cidade para os Jogos são a matéria-prima de sua outra obra na mostra. “Desapropriaram pessoas para fazer as olimpíadas”, lamenta, explicando que pedaços de tijolos e paredes, com partes internas e externas, denunciam as relações público/privadas. Bolas de basquete, raquetes de badmington estarão “agredindo” as paredes.
As bolas de tênis de Igor – Tênis Clube 3 – pertencem a Lucas, Mailon e Rafael, de 17, 16 e 14 anos, respectivamente, jovens de Santa Cruz, subúrbio do Rio, que fazem acrobacias com as bolas nos sinais da cidade. Depois de usadas, eles são doadas ao artista. “A cromia da obra acaba vindo deles, das bolas mais ou menos usadas. E o resultado das vendas é dividido em três partes iguais: para a galeria, para mim e para os meninos”, explica o artista.
Já os trabalhos de Paula Trope mostram a continuidade da série “Câmera Luz”, que ela desenvolve desde 2010, e da série “Casulos” – uma documentação poético-fotográfica do primeiro ano de vida de seu filho mais novo, Antonio. “Câmera Maloca” é um protótipo em miniatura da verdadeira câmera – um cilindro com dois metros de altura e três de comprimento, que ainda será construída e homenageia a arquitetura indígena. “O protótipo, por si só, é um objeto curioso. E com ele já é possível ter uma interação com as mesmas características do original”, explica a artista. Da série “Casulos”, Paula vai apresentar “Antonio com 10 meses” – “é uma característica recorrente de meus trabalhos, mostrar o entorno do meu universo mais íntimo”.
agosto 1, 2016
Jogos do Sul no Hélio Oiticica, Rio de Janeiro
Exposição no Hélio Oiticica propõe uma reflexão sobre o impacto social de um mega evento como as Olimpíadas e as interferências que podem causar na cidade-sede e em seu cotidiano
Rap em Guarani, Cabo de Guerra Robótico, Futebol, 32 tabuleiros de Xadrez, Estilingue, Maratona Infinita pela cidade, Arco e Flecha... Estas são algumas das obras que serão apresentadas pelo time de artistas que farão parte da mostra Jogos do Sul, no Centro de Artes Helio Oiticica, a partir de 3 de agosto. A exposição pretende provocar uma reflexão sobre o chamado “modelo olímpico”, formado pelo binômio “beleza atlética x massa feliz”.
Esse outro olhar para além da beleza do esporte teve início em 2015, durante os Jogos Mundiais Indígenas, realizados em Palmas, TO, quando os curadores Alfons Hug e Paula Borghi convidaram artistas e cientistas para assistirem as disputas. Jogos do Sul cruza os Jogos Mundiais Indígenas, em sua originalidade e autenticidade, para propor um contraponto: explorar o tema do esporte fora dos grandes estádios e clubes – numa atmosfera em que competir é mais importante do que ganhar ou perder, ou do que contar medalhas. Num momento em que o jogo é inocente, basta-se a si mesmo e o esporte aflora espontaneamente.
Longe de competir com o megaevento olímpico sediado no Rio de Janeiro, “Jogos do Sul” propõe uma outra vertente. A partir da experiência dos jogos indígenas, apresenta-se uma oportunidade de refletir sobre o espírito dos Jogos Olímpicos, hoje transformados num megaevento cuja repercussão está mais ligada à retórica política e ao marketing das cidades-sede do que a uma interação saudável entre indivíduo e sociedade. “Não queremos negar a capacidade do esporte olímpico de produzir grandes narrativas e cenas sublimes. A mostra busca banir o espírito de Riefenstahl, que desde Berlim (1936), permeia a coreografia dos Jogos Olímpicos representada pela combinação entre um corpo “belo” e a massa “feliz”. Afirma Alfons.
Oito artistas brasileiros, uma cineasta brasileira, um artista boliviano, uma artista alemã, um artista singapurense, um artista suíço, uma socióloga brasileira e uma antropóloga portuguesa formam time de artistas que tornou possível, a partir do encontro entre as artes visuais, o esporte e a cultura indígena, criar um corpo de obras que visa apresentar esse contraponto ao espetáculo olímpico.
AS OBRAS
Ao entrar na exposição o público vai se deparar com uma escultura eletrônica criada por Paulo Nenflidio, que simula, por meio de uma estrutura robótica, as forças centrífugas despendidas em uma disputa de cabo de guerra. É no encontro dessa tensão que o espectador inicia sua visita, em meio à sedução do aparato tecnológico e à violência que ele sugere. Atitude que segue nas fotografias de Romy Pocztaruk, com belas imagens das ruínas olímpicas de Sarajevo.
Em contraponto, encontra-se o vídeo de Cristiano Lenhardt, que nos introduz a vida dos Guaracis, um grupo de andarilhos da cidade que se alimentam de plantas urbanas não convencionais e passam seus conhecimentos de geração a geração, preservando, assim, sua cultura. Trabalho que dialoga com a pesquisa de Bernardo Zabalaga, que vem construindo a identidade do “novo índio”, salvo de preconceitos e atrocidades históricas cometidas contra ele.
Impulsionando a ideia do jogo, Marcone Moreira monta um painel com 32 tabuleiros de xadrez em madeira de diversas regiões do Brasil; Rizman Putra apresenta as curiosidades fictícias do jogo Rumah Dayak, típico da Malásia, e Samuel Herzog convida profissionais das artes a participarem de uma maratona infinita pelo Rio de Janeiro. São trabalhos que traçam um paralelo mais direto com o jogo, porém caminham na contramão do objetivo olímpico. Não se trata de ganhar ou perder.
A dupla Igor Vidor e Guilherme Teixeira busca, através da dimensão poética de jogos e esportes de ação, desafiar o público com experiências corporais que envolvem risco, colaboração e ludicidade, com humor e crítica. Em “Exercício de Meditação”, o espectador vai mirar massa de modelar colorida e disparar com estilingue em silhuetas de madeira. Um trabalho participativo apropriando-se do conceito da “brincadeira infantil” como metáfora de uma agressão social.
Individualmente, Igor Vidor apresenta uma série de frames de vídeos realizados na Vila Autódromo durante a desocupação e destruição de casas desse bairro, que hoje em dia recebe construções olímpicas. Insistindo, também, com a repetição e a perspectiva da assertividade fora de alcance, Guilherme Teixeira lança exaustivamente flechas ao infinito. São trabalhos que apresentam a persistência do artista em um esforço contínuo para manter seus ideais.
Partindo para questões indigenistas, Paulo Nazareth mostra como fazer um cocar com penas de aves mortas encontradas por ele. Enquanto isso, Yuri Firmeza e Igor Vidor realizam um videoclipe pelos Brô Mc’s, cantado em guarani. Duas ações muito distintas, mas que evidentemente contestam o modelo estereotipado que ainda se tem sobre a construção imaginária do homem indígena.
Com um caráter mais documental, Antje Majewski apresenta um vídeo realizado com captação de imagens e áudio dos JMPI, tendo como ponto de partida investigar a atual função do arco e flecha para poder compreender como essa ferramenta de caça se tornou uma modalidade esportiva e, ao mesmo tempo, um objeto comercial e de desejo. Por esse mesmo viés investigativo, Anna Azevedo mostra imagens de momentos pontuais do evento com um vídeo que é fundamental para sua compreensão.
Ivan Henriques no Hélio Oiticica, Rio de Janeiro
Artista brasileiro que vive em Haia apresentará suas biomáquinas, obras recentes e inéditas no Brasil, e um trabalho feito especialmente para a ocasião: um pedalinho – escultura cinética interativa – que ao ser acionado purificará a água. Após a abertura da exposição, a obra circulará na Lagoa Rodrigo de Freitas.
O Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica apresenta a partir do próximo dia 3 de agosto a exposição Relandscape/Repaisagem, que reunirá trabalhos recentes e inéditos no Brasil do artista Ivan Henriques, brasileiro radicado em Haia, Holanda, desde 2009. Com curadoria do próprio artista e da diretora do CMAHO, Izabela Pucu, as obras são resultado da pesquisa de Ivan Henriques em colaboração com cientistas e engenheiros europeus e brasileiros para a construção de máquinas híbridas – que unem robótica e organismos vivos. Essas estruturas eletromecânicas hipersensíveis se conectam com esses organismos, que respondem aos estímulos físicos do meio ambiente, como por exemplo uma planta que responde à diferença de temperatura ou ao toque de uma pessoa. A exposição tem patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, e se insere na programação dos 20 anos do Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, a serem comemorados no próximo dia 30 de setembro. O desenvolvimento de alguns projetos da exposição contou com financiamento da Fundação Mondriaan e Stimulerings Fonds, da Holanda.
"Relandscape/Repaisagem" ocupará as galerias do térreo do CMAHO, e um dos destaques é o trabalho “Pedalinho” (“Water Bike”), projetado para a Lagoa Rodrigo de Freitas. Trata-se de uma escultura cinética interativa, um “pedalinho” que purifica a água quando pedalado. Após a abertura da exposição no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, o Pedalinho estará na Lagoa Rodrigo de Freitas, entre 15 a 23 de agosto, para ser experimentado pelo público.
Outras obras que estarão são três biomáquinas criadas por Ivan Henriques, mestre em ArtScience-Interfaculty pela Academia Real de Artes de Haia: “Protótipo para uma Biomáquina” (2012), “Máquina Simbiótica” (2014) e “Caravel” (2016), desenvolvida em colaboração com cientistas da Faculdade de Bioengenharia da Universidade de Gante, Bélgica. Outros trabalhos em vídeo e fotografia desdobram a ideia central da exposição: a possibilidade de se redesenhar o mundo a partir de tecnologias que engendrem outras formas de relação entre os seres vivos.
Haverá ainda, integrada à exposição, uma Sala de Informação contendo gráficos, filmes e documentos sobre as pesquisas do artista e seu processo de trabalho, além de visitas mediadas que podem ser agendadas por email.
CONVERSA ABERTA
No dia 24 de agosto, às 17h, será realizada uma conversa aberta, gratuita, em torno da exposição, com a participação de Ivan Henriques, do cientista holandês Raoul Frese, Izabela Pucu e Luiz Alberto de Oliveira, curador geral do Museu do Amanhã.
Izabela Pucu comenta o universo de trabalho do artista: “A relação entre arte e ciência é um tema fundamental em nossos dias, e no campo da arte normalmente é tratado a partir do binômio arte-tecnologia, que a meu ver reduz a questão. Sabemos que esta simplificação não nos permitiu, no contexto brasileiro, aprofundar as pesquisas nesse sentido e reconhecer o potencial desta relação, salvo em algumas ocasiões e em trabalhos de artistas específicos. Realizar a exposição ‘Relandscape/Repaisagem’, do artista Ivan Henriques, nos dá a chance de nos conectarmos com pesquisas de ponta nesta área, e de entendermos arte e ciência como campos abertos à experimentação que compartilham entre si práticas e questões“.
“Se as máquinas tradicionalmente são desenhadas para extrair de forma eficiente os recursos naturais da paisagem, funcionando na lógica do aumento de produtividade e do esgotamento desses recursos, as máquinas construídas por Henriques invertem esse sentido, pois guardam na sua constituição uma função ecológica e são, ao mesmo tempo, atos simbólicos. O funcionamento de suas máquinas-esculturas no mundo implica o redesenho/redesign de ferramentas tecnológicas e da própria paisagem a partir de uma plataforma de pesquisa interdisciplinar, onde máquinas e organismos vivos se articulam na invenção de outras formas de produção da paisagem humana e da relação com o meio ambiente”, complementa Izabela Pucu.
REPAISAGEM: OBRAS
A seguir, um resumo das obras que estarão na exposição.
Projeto Marte Mariana/SymSE [Symbiotic Machines for Space Exploration ou Máquinas simbióticas para exploração espacial], 2015/2016
Ivan Henriques visitou a região de Mariana, em Minas, após o acidente ecológico envolvendo a extração de minério. Diante daquela paisagem desoladora o artista coletou imagens e amostras de lama, que ele decompôs em análises químicas e com a qual construiu tijolos. Na instalação "Marte Mariana" a tragédia mineira se mistura a um projeto de pesquisa que o artista desenvolve junto à ESA (Agência Espacial Europeia, na sigla em inglês), e outras instituições como Vrije Universiteit van Amsterdam, Synergetica, Willem de Kooning Academy, para a terraformagem em Marte – drones aéreos que produzem oxigênio e estimulam a formação de uma atmosfera propícia à vida de seres terrestres. Desenhos e protótipo do sistema autônomo que o artista está desenvolvendo para a criação de uma paisagem em Marte se fundem às imagens de Mariana, apontando para possíveis reconstruções do meio ambiente terrestre, como também em outros corpos planetários.
Pedalinho (water bike), 2016
Para a exposição no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, será construída uma unidade móvel flutuante que depois circulará na Lagoa Rodrigo de Freitas por uma semana em agosto. Trabalho interativo que convida o público a pedalar na superfície da água e, ao mesmo tempo, pensar sua interação com o meio ambiente, uma vez que o seu pedalar opera a purificação da água. A obra é composta por materiais em combinação com micro-organismos vivos que facilitam a purificação da água ao reciclá-la. Trata-se de um gesto artístico-simbólico, que o público é convidado a realizar, uma vez que não está comprometido com a eficácia na despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas, mas aponta para a questão e desenvolve outras estratégias e possibilidades para se pensar esse tipo de interação ambiental. Na última semana de junho último Ivan Henriques testou no canal Wijnhaven, em Roterdã, Holanda, o seu protótipo. O desenvolvimento desta proposta faz parte da evolução de biomáquinas construídas previamente pelo artista, que são formas híbridas entre organismos vivos e máquinas, que criam um vetor evolutivo entre as máquinas e a natureza. O projeto aponta também para a colaboração de pesquisadores das disciplinas de arte, design, engenharia, biologia e robótica, tendo como foco as relações entre meio ambiente e sustentabilidade, a partir da urgência da despoluição de rios, baías e lagoas da Cidade e do Estado do Rio de Janeiro. Fenômeno mundial, lagos e lagoas tornaram-se destino de diferentes poluentes devido a fortes impactos antropogênicos, como aterros, esgoto residencial, resíduos industriais, que atacam esses ecossistemas.
Protótipo para uma Biomáquina (Prototype for a New Bio-Machine), 2012
Robô interativo que utiliza a planta cientificamente conhecida Homalomena como interface. Ao tocar a planta, gera-se uma reação bioelétrica na máquina fazendo-a se movimentar. Este trabalho é resultado do desenvolvimento do projeto “Jurema Action Plant” (2011). Vídeo: https://vimeo.com/26224095.
Máquina Simbiótica (Symbiotic Machine), 2014
Obra mostrada inicialmente na Holanda, e depois durante a premiação do 18º Japan Media Art Festival, estará na exposição em formato de vídeo com o registro da obra em ação. Imagens da biomáquina-solar autônoma que produz energia utilizando fotossíntese sintética ao “hackear” a fotossíntese de algas que estão no meio ambiente. A partir de uma estrutura robótica móvel flutuante, ela cria um sistema simbiótico com o ambiente, em que detecta, recolhe, transporta e processa esses organismos, e continuamente amplifica a energia obtida a partir dos mesmos, que podem ser encontrados em lagoas, canais, rios e mar.
Vídeos: https://vimeo.com/90215036
https://vimeo.com/121134958 senha: symbioticmachine.
Relandscaping #1, 2010, vídeo, 2’
A sequência registra um percurso entre Haia e Amsterdã. Utilizando software MAX MSP, um código de vídeo é gerado a partir da mesma fonte em tempo real e gravado. O vídeo é filmado através da janela de um trem, processado, gravado e reproduzido quatro vezes simultaneamente. Quatro momentos diferentes da mesma imagem são apresentados em uma tela.
Vídeo: https://vimeo.com/28672220
Relandscaping #2, 2010, fotografia
“Relandscaping #2” é o desenvolvimentos das mesmas questões que em “Relandscaping #1”: uma série de dez fotografias de uma montanha de areia em uma construção, da qual somente a posição da câmera muda.
Caravel, 2016
No contexto da exposição "Water.War" (Kortrijk, Bélgica, de 13 de março a 26 de junho de 2016), em colaboração com cientistas da Faculdade de Bioengenharia da Universidade de Gante, Bélgica, Henriques desenvolveu uma estrutura robótica flutuante que coleta e armazena sua própria energia utilizando Combustível de Células Microbiais (Microbial Fuel Cells, ou MFCs). As MFCs são dispositivos que utilizam água poluída como catalisador para oxidar materiais orgânicos e gerar eletricidade. A energia coletada das MFCs é aplicada para movimentar a estrutura robótica e ao mesmo tempo limpar águas poluídas, com ajuda de plantas que são conhecidas por suas propriedades de filtragem, integradas à estrutura. O desenvolvimento deste trabalho é parte da evolução de biomáquinas construídas previamente pelo artista, que são formas híbridas entre organismos vivos e máquinas criando um vetor evolutivo entre maquinas e natureza. Projeto commissionado por Gluon, Budafabriek, Mondriaan e Stimulerings Fonds. Desenvolvido em collaboração com: UGhent-LabMET – Prof. Dr. Ir. Korneel Rabaey, Way Cern Khor, Xu Zhang, Dr. Ramon Ganigué & Dr. Jan B. A. Arends, UGhent-R2T, Prof. Leydervan Xavier (CEFET-RJ) e engenheira de soft/hardware Andjela Tomic.
Ivan Henriques, nascido em 1978, no Rio de Janeiro, vive em Haia, Holanda, desde 2009. Artista transdisciplinar, ele é um pesquisador que trabalha em instalações multimídia, especializado em interação espacial, robótica e biotecnologia. Ivan Henriques examina sistemas vivos na interface entre arte e pesquisa científica, onde explora em suas obras híbridas entre arte e ciência, desenvolvendo novas formas de comunicação entre os seres humanos e outros organismos vivos. Considera a natureza como fonte de inspiração e um elemento necessário para o desenvolvimento do mundo tecnológico. Ivan desenvolve o grupo interdisciplinar Formas Híbridas em diversas universidades na Europa, e é diretor do programa de residência móvel EME >> (Estúdio Móvel Experimental), desde 2008. Suas obras são exibidas ao redor do mundo, e ele constantemente participa de festivais, residências e palestras. Em 2016, recebeu a bolsa de pesquisa “Talento Reconhecido” da Fundação Mondriaan (Werkbijdrage Bewezen Talent), da Fundação Stimulerings Fonds, e ganhou o Prêmio New Face Award do 18º Japan Media Arts Festival, e Menção Honrosa para A [próxima] Idea, do Festival Ars Electronica de 2014. Atualmente, desenvolve o SymSE [Symbiotic Machines for Space Exploration], Máquinas simbióticas para exploração espacial, um projeto de terraformagem em Marte, com o financiamento de um edital na Holanda.
Cartas ao Prefeito: São Paulo no Pivô, São Paulo
O Pivô Arte e Pesquisa e a Storefront for Art and Architecture apresentam a exposição Cartas ao Prefeito: São Paulo, com curadoria dos arquitetos Bruno de Almeida e Fernando Falcon.
A exposição faz parte de um projeto mundial concebido pela Storefront for Art and Architecture e intitulado Letters to the Mayor, uma mostra itinerante que já aconteceu em cidades como Nova Iorque (E.U.A.), Atenas (Grécia), Bogotá (Colômbia), Buenos Aires (Argentina), Cidade do Panamá (Panamá), Cidade do México (México), Taipei (Taiwan), entre outras. Em cada uma dessas cidades foi exposto um conjunto de cartas que cinquenta arquitetos locais escreveram para o seu Prefeito, expressando suas ideias, opiniões e expectativas para a cidade.
A edição de São Paulo acontecerá estrategicamente durante a corrida eleitoral para a prefeitura da cidade. As cartas serão exibidas no Pivô Arte e Pesquisa, no icônico edifício Copan no coração de São Paulo, numa exposição gratuita e aberta ao público, com um intenso programa de debates e palestras que acontecerão durante todo o mês de Agosto. Posteriormente todas as cartas expostas serão enviadas para o gabinete do Prefeito.
Ao trazer um conjunto de vozes e ideias relevantes para a consciência pública e também para as agendas e mesas dos candidatos, a exposição pretende intensificar a discussão sobre a cidade em um período em que decisões cruciais sobre o seu futuro e desenvolvimento devem ser tomadas, em meio a um complexo momento político e econômico no país.
O público é convidado a apoiar o projeto, ajudando em seu financiamento através da plataforma Catarse.
O grupo de arquitetos e instituições convidados apresenta um recorte variado das nuances que a disciplina arquitetônica pode conter, incluindo tanto nomes destacados quanto emergentes que atuam em áreas como a prática de projetos, acadêmica, teórica, crítica, artística e curatorial.
Os participantes da edição paulistana do projeto são: 23 Sul (André Sant’Anna, Gabriel Manzi, Ivo Magaldi, Lucas Girard, Luís Pompeo, Luiz Florence, Moreno Garcia, Tiago Oakley), Abílio Guerra, Aflalo/Gasperini Arquitetos (Roberto Aflalo Filho, Luiz Felipe Aflalo, Grazzieli Gomes, José Luiz Lemos), Agnaldo Farias, Andrade Morettin Arquitetos (Vinicius de Andrade, Marcelo Morettin), Apiacás Arquitetos (Anderson Freitas, Acácia Furuya, Pedro de Barros), AR Arquitetos (Marina Acayaba, Juan Pablo Rosenberg), Atelier Branco (Matteo Arnone, Pep Pons), Boladarini Arquitetos Associados (Marcos Boldarini), Carlito Carvalhosa, Carlos Alberto Cerqueira Lemos, Ciro Pirondi, Cristiano Mascaro, Ermínia Maricato, FGMF (Fernando Forte, Lourenço Gimenes, Rodrigo Marcondes Ferraz), Francesco Perrotta Bosch, Francisco Spadoni (Spadoni e Associados Arquitetura), Gabriel Kogan, GrupoSP (Alvaro Puntoni, João Sodré), Grupo Técnico de Apoio (GTA) + Movimento de Trabalhadores sem Teto (MTST), Guilherme Wisnik, Héctor Vigliecca (Vigliecca & Associados), Hereñú e Ferroni Arquitetos (Pablo Hereñú, Eduardo Ferroni), Hugo Segawa, Instituto Pólis, José Armênio (Instituto de Arquitetos do Brasil), Laura Sobral, Ligia Nobre, Lizete Rubano, Lucas Simões, Luis Espallargas Gimenez, Marcio Kogan (Studio MK27), Marcos L. Rosa, Maria Cristina da Silva Leme, Martin Corullon (Metro Arquitetos Associados – Gustavo Cedroni, Helena Cavalheiro, Marina Ioshii), MMBB Arquitetos (Milton Braga, Marta Moreira), Monica Camargo Junqueira, Nadia Somekh, Nitsche Arquitetos (Lua Nitsche, Pedro Nitsche, João Nitsche, André Scarpa), Observatório de Remoções, Paulo Caruso, Piratininga Arquitetos Associados (João Beugger, José Armênio, Marcos Aldrighi, Renata Semin), Regina Meyer, Renato Cymbalista, Rodrigo Cerviño Lopez (Tacoa), Sérgio Ferro, SIAA (Cesar Shundi Iwamizu e Eduardo Gurian), Silvio Oksman (Oksman Arquitetos Associados), Terra e Tuma (Danilo Terra, Pedro Tuma, Fernanda Sakano), Vão Arquitetos (Anna Juni, Enk te Winkel, Gustavo Delonero), Vera Pallamin e Vitor César.
Sobre a Storefront for Art and Architecture
Storefront for Art and Architecture, fundada em 1982 por Kyong Park, em Nova Iorque, E.U.A, é uma instituição comprometida com o avanço de posições inovadoras e críticas, tal como um fórum aberto para experimentos que impactam no entendimento e no futuro das cidades, território e vida pública.
Seu programa de exposições, eventos, concursos, publicações e projetos especiais possibilita uma plataforma alternativa de diálogo e colaboração que atravessa as fronteiras disciplinares, ideológicas e geográficas.
Ao longo de sua história, a Storefront propôs a investigação de questões sociais críticas tais como habitação de interesse social (1984), os sem-teto (1985), identidade de gênero (1994) e também respondendo aos conflitos e movimentos geopolíticos e econômicos tais como a Guerra do Golfo, a questão Israel-Palestina e o Occupy Wall Street, oferecendo a arquitetos e artistas a oportunidade de apresentar novas ideias e expor trabalhos inovadores. Mais de mil arquitetos e artistas reconhecidos internacionalmente já participaram dos projetos da Storefront, incluindo Peter Cook, Diller+Scofidio, Tony Feher, Dan Graham, Coop Himmelblau, Alfredo Jaar, Kiki Smith, Lebbeus Woods, Enric Miralles e Carme Pinós, Eyal Weizman, Bjarke Ingels, Didier Fiuza Faustino, entre outros.
Sobre os curadores
Bruno de Almeida, 1987, Brasil. Arquiteto graduado pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, Portugal. Mestre em Arquitetura pela Accademia di Architettura della Svizzera Italiana, Mendrisio, Suíça. Trabalhou como arquiteto em Londres, Reino Unido. Foi assistente curatorial no Instituto de Investigação Independente da Fondazione Archivio del Moderno, Mendrisio, Suíça. É o criador e curador do SITU (www.projetositu.wordpress.com), uma plataforma de pesquisa que promove uma discussão sobre o potencial diálogo entre arte, arquitetura e cidade, através de uma sequência de obras site-specific, comissionadas a artistas contemporâneos para o exterior do edifício Galeria Leme (São Paulo, Brasil), projeto de Paulo Mendes da Rocha.
Fernando Falcon, 1977, Brasil. Arquiteto graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo em 2001, é sócio do escritório Tacoa Arquitetos desde 2005. Dentre os projetos do escritório estão as galerias de arte Fortes Vilaça (2008) e Luisa Strina (2011), a associação cultural Pivô (2013), o conjunto residencial Vila Aspicuelta (2013), o concurso para a sede do MIS-RJ (2009) e as expografias das mostras Arte-Vida (2014), 31º Panorama da Arte Brasileira (2009) e Casa 7 no Pivô (2015), dentre outros. O escritório Tacoa também fez parte da seleção para o 33º Panorama da Arte Brasileira (2013) e desenvolveu a instalação Jardineira (2015) como centro da exposição Liga 18 para a galeria Liga DF na cidade do México.