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setembro 30, 2015
Adriana Amaral no MARP, Ribeirão Preto
Vacuidade é o novo trabalho da artista visual Adriana Amaral que estará em exposição de 2 de outubro a 1º de novembro no MARP (Museu de Arte de Ribeirão Preto Pedro Manuel-Gismondi). Além da exposição, a artista participará de dois encontros com o público interessado. No dia 3 de outubro, às 10 horas, acontece um bate-papo sobre o processo criativo da artista. Já no dia 20 de outubro, às 19h30, Adriana Amaral promove um debate sobre sua obra com a participação dos críticos paulistanos Carolina Coelho Soares e Jaime Lauriano e mediação do diretor do MARP, Nilton Campos. Este é um projeto realizado com o apoio do ProAC – Editais – Artes Visuais.
Durante 30 dias, o público de Ribeirão Preto e região poderá conferir a exposição Vacuidade - uma instalação fotográfica constituída por três fotografias em grandes formatos. Esta produção da artista foi pensada durante a desmontagem de Dias e Noites - projeto anterior de Adriana Amaral que teve como ocupação a casa em que morou por 40 anos em Ribeirão Preto. Segundo ela, o processo criativo da exposição Vacuidade surgiu em uma tarde, durante a observação de uma tempestade pela janela do quarto dos seus pais. “Não sei precisar quanto tempo fiquei observando, mas o único pensamento que ficou foi que ainda estava presa ali. Foi neste silêncio, seu momento de autoconhecimento criativo. “Logo busquei a câmera e fiz as imagens desta exposição”, explica Adriana Amaral.
“Sempre pensei a obra como uma instalação fotográfica em que os visitantes se sentissem imersos em um espaço que não fosse mera reprodução de um quarto real, mas uma dimensão atemporal de percepção, interpretação e transformação”, destaca.
Adriana observa que Vacuidade se fundamenta na definição budista do curto e fugaz instante entre um pensamento e outro que nos permite experimentar um potencial sem limites para várias aberturas. Ela avalia que o trabalho é um despertar para paisagens internas, que são os espaços do afeto, do conforto, do aconchego. “Aberturas que são janelas. Janelas abrem e fecham. Coloco minhas janelas em tamanho natural, em um espaço que também é minha casa, como infinitas possibilidades de ver”, define a artista.
ADRIANA AMARAL
Sua trajetória começou em 2003 - quando participou pela primeira vez da Mostra Coletiva dos Artistas de Ribeirão Preto no Museu de Arte de Ribeirão Preto Pedro Manuel Gismondi (MARP). Integrou o grupo de acompanhamento de processos artísticos A Casa Onírica, coordenado por Juliana Monachesi e Guy Amado entre 2006 e 2007. É integrante do Grupo APROA, desde 2008. Atualmente faz parte do Latitude22, ateliê de pesquisa em poéticas visuais.
Em 2013, fez acompanhamento com o artista/fotógrafo Rubens Mano. Participou de exposições individuais no MARP (Museu de Arte de Ribeirão Preto Pedro Manuel Gismondi), na Unidade Centro de Convenções (2007), USP – Ribeirão Preto (2007), MIS de Ribeirão Preto (2005), Sesc Unidade de Ribeirão Preto (2004, 2006, 2007, 2008, 2009, 2012), Sesc Unidade Interlagos (2013), Sesc Unidade Catanduva (2014) e de exposições coletivas em instituições como Sesc Unidade de Ribeirão Preto (2004, 2006, 2007, 2008, 2009, 2012), MARP (2003, 2005, 2006, 2009, 2010. 2011, 2013, 2014), Pinacoteca Miguel Dutra – Piracicaba (2009), Galeria Graça Landeira – Belém (2008), Galeria Adearte – Ribeirão Preto (2008, 2009) e Espaço W – Ribeirão Preto (2011).
Conquistou o Prêmio Aquisitivo/Acervo no 37º SARP - Salão de Arte de Ribeirão Preto – Nacional - Contemporâneo – MARP – Cidade de Ribeirão Preto em 2012. Recentemente, teve dois projetos aprovados: Entradas (2013) Pelo ProAc – ICMS e Vacuidade pelo Edital - Artes Visuais 15/2014. Recentemente também realizou a exposição Dias e Noites na casa em que morou por 40 anos com seus pais em 2013.
Clube do Colecionador promove encontro de artistas com seus colecionadores na Matias Brotas, Vitória
AGENDA ES Hoje 01/10 às 19h30 @ Matias Brotas: Encontro com artistas e colecionadores marca o encerramento da 2ª edição...
Posted by Canal Contemporâneo on Quinta, 1 de outubro de 2015
Galeria Matias Brotas encerra 2ª edição do Clube do Colecionador e promove encontro de artistas com seus colecionadores
Durante o evento, na quinta-feira, 1º de outubro, também serão apresentadas as obras dos artistas Vanderlei Lopes, Lara Felipe, Mai-Britt Wolthers e Antonio Bokel que fazem parte da 3ª edição do clube de arte
Depois de marcar presença na ArtRio Fair, com stand da galeria e lançamento nacional da 3ª edição do Clube do Colecionador, a Matias Brotas Arte Contemporânea recebe agora em Vitória, no dia 1º de outubro, às 19h30, convidados e colecionadores para encerramento da 2ª edição do Clube do Colecionador e lançamento da 3ª edição para os capixabas. O evento vai promover também o encontro dos colecionadores com Rosana Paste, Shirley Paes Leme, Renata Egreja e Suzana Queiroga, as quatro artistas que fizeram parte da 2ª edição do Clube. Elas vão falar sobre as obras produzidas com exclusividade para o clube, além de contar ao público um pouco de sua trajetória artística.
As artistas criaram obras inéditas para a 2ª edição, em uma tiragem de 30 exemplares. O clube teve curadoria de Almerinda Lopes, Doutora em Linguagens Visuais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Universidade de Paris I, e assessoria da advogada em propriedade intelectual Flávia Dalla Bernardina.
A artista multimídia e professora da UFES, Rosana Paste, criou a escultura "Encontro de Corpos" feita de acrílico e alumínio, em que o metal assume uma forma mais delgada, lisa, convidando o olhar a deslizar com facilidade sobre sua superfície. A artista plástica possui como característica marcante em sua carreira o trabalho de esculturas em escala arquitetônica ou em forma de múltiplos. Chumbo, ferro, alumínio e inox estão entre os materiais mais utilizados por ela. Em trabalhos do início dos anos 2000, Paste vale-se de esferas de vidro soprado e peles de coelho. Sua última exposição foi “eu museu rosana paste”, no primeiro semestre deste ano, na Galeria Matias Brotas e teve como característica marcante a artista de corpo presente, sendo ela a própria a arte, seu corpo, seus pensamentos, seus sentimentos, sua família.
Já a mineira radicada em São Paulo, Shirley Paes Leme, trouxe para o clube uma serigrafia sobre papel espelhado chamada “Eu Quero Fluxo”. Shirley Paes Leme possui uma extensa e consolidada carreira artística, sendo hoje uma das artistas contemporâneas brasileiras mais requisitadas, pois sua obra transita por importantes museus e galerias comerciais brasileiros e estrangeiros. Doutora em Belas Artes pela John F. Kennedy University, na Califórnia, USA, Shirley possui em seu portfólio artístico inúmeras exposições individuais, inclusive fora do Brasil como no México, Alemanha, França.
Shirley também possui suas obras em várias coleções particulares no Brasil, Europa e Estados Unidos: Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu de Arte Contemporânea de São Paulo; Museu Nacional em Aalborg, Dinamarca; Museu Universitário de Arte da Universidade Federal de Uberlândia–MG; Pinacoteca da cidade de São Paulo, São Paulo; Rede Globo de Televisão, Uberlândia, Minas Gerais; Instituto Cultural Itaú, São Paulo; Gilberto Chateaubriand, Rio de Janeiro; Coleção Patricia Cisneiros, Caracas, Venezuela.
Com uma aquarela intitulada “As pétalas, as flores, o gesto”, Renata Egreja é a mais jovem artista da segunda edição do Clube do Colecionador. Renata vive e trabalha em São Paulo e é formada pela École National Supérieure des Beaux Arts, em Paris. A jovem artista traz em suas pinturas cores que povoaram sua infância, formas naturais, exuberantes, uma luz clara que a faz pensar no sol tropical. Apesar de ser jovem, considerada artista da geração 80, Renata já ganhou importantes prêmios como Prêmio Itamaraty de Arte Contemporânea (Ministério das Relações Exteriores, Brasília, 2012); Menção Honrosa no 18º Salão de Artes Plásticas de Praia Grande (Palácio das Artes, Praia Grande, 2011); Expo Jeunes Talents em Paris Dauphine, Paris, França(2010) e 38ª Anual de Artes da FAAP na Fundação Armando Álvares Penteado, São Paulo (2007).
E para completar o quarteto de obras/artistas, Suzana Queiroga criou para a 2ª edição do Clube uma escultura em acrílico que está diretamente conectada às suas pesquisas em relação com os fluxos e espaços urbanos que explorou na série "Velofluxo", iniciada em 2006. O múltiplo representa uma cidade imaginária vista de cima, como se estivesse sendo percebida em pleno voo. Carioca, atuante desde os anos 80, Suzana trabalha com uma grande diversidade de meios em sua pesquisa, como pintura, escultura, infláveis, vídeos e instalações. Suzana já recebeu mais de 10 premiações nacionais entre elas, o 5º Prêmio Marco Antonio Vilaça/Funarte para aquisição de acervos, em 2012, Prêmio Nacional de Arte Contemporânea/Funarte em 2005, a Bolsa RIO ARTE em 1999 e os X e IX Salões Nacional de Artes Plásticas, entre outros. Participou de inúmeras coletivas e individuais nacionais e internacionais.
3ª edição do Clube do Colecionador
Cumprindo esse papel de fomentar o colecionismo de arte, incentivando a produção artística, a Matias Brotas Arte Contemporânea dá seguimento ao projeto do Clube do Colecionador e lança a 3ª edição. O lançamento nacional aconteceu no ArtRio Fair, início de setembro, e agora a galeria lança em Vitória para os capixabas. Mais de 50% das 40 vagas já foram preenchidas. Os artistas selecionados para a 3ª edição foram Vanderlei Lopes, Lara Felipe, Mai-Britt Wolthers e Antonio Bokel.
O carioca Antônio Bokel, indicado ao PIPA 2015 e com obras nas maiores coleções brasileiras como a de Gilberto Chateubriand , BGA Investimentos e no acervo do MAM, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, criou para a 3ª edição do clube uma escultura: uma caveira em bronze e spray sobre espelho chamada “Vai Idade”. “Esse trabalho é uma versão contemporânea do mito do Narciso, misturado com a poesia concreta de Augusto de Campos no jogo de palavras VAI - IDADE. É um trabalho poético e mitológico ao mesmo tempo, uma ideia simples, mas com muito significado”, explica o artista.
O artista paulista Vanderlei Lopes traz para o clube uma versão de sua escultura “Ralo” em bronze polido. Segundo o artista, esta obra refere-se e problematiza noções tradicionais da escultura, por meio de sua materialidade ou de sua aderência ao chão. “O bronze aqui alude a seu estado transitório, incandescente e líquido e seu tratamento polido, espelhado reflete o ambiente entorno da poça representada a ser drenada”, explica. Vanderlei já realizou diversas coletivas pelo Brasil e no exterior como Argentina e Estados Unidos, e foi indicado duas vezes ao PIPA, em 2012 e 2014. Suas obras estão em coleções da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Coleção Itaú, Gilberto Chateaubriand, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Já a artista dinamarquesa, Mai-Britt Wolthers, criou para o clube uma gravura em metal. Morando no Brasil desde os anos 80, Mai-Britti com suas longas pinceladas coloridas expande sua obra em direção à abstração, num constante trabalho focado na experiência do processo. Realizou diversas exposições individuais e possui trabalhos no acervo da Prefeitura Municipal de Gribskov – Dinamarca, Centro Cultural dos Correios - Rio de Janeiro, Museu de Arte Contemporânea - Campo Grande e Instituto Figueiredo Ferraz - São Paulo. Ao falar sobre sua obra criada para o clube, Mai-Britti destaca o interesse em trabalhar com a massa e a linha na mesma matriz. "Existe um duelo e ao mesmo tempo uma complementação entre a massa e a linha nesta gravura e fica claro que uma pequena linha sozinha no vazio (como a linha menor na parte direita da gravura) pode ganhar a cena toda”, explica.
Fechando a seleção de artistas da 3ª edição do Clube do Colecionador de Arte da Matias Brotas, está a capixaba Lara Felipe, que atualmente mora no Arizona, Estados Unidos, e já recebeu prêmios como designer e artista plástica, sendo mais importante o Prêmio Phillips de Arte para Jovens Talentos no Brasil e América Latina. Recentemente ela realizou sua individual “O Peso exato dessa Leveza” na galeria Matias Brotas. Também estava representada com suas diversas obras no stand da galeria na ArtRio e foi convidada a participar da 1ª edição da Trio Bienal Internacional do Rio. Lara traz para esta edição do clube a obra ‘Dometila’, um desenho em técnica mista com colagem e aquarela. "A obra carrega em si parte de minha memória pessoal e afetiva. Dometila significa aquela que ama a sua casa”, explica a artista.
A 3ª edição do Clube do Colecionador de Arte da Matias Brotas Arte Contemporânea contará com 40 participantes que receberão as obras trimestralmente e poderão adquirir sua cota diretamente do hotsite (www.matiasbrotas.com.br/clubecolecionador). Além de receber os convites para participar das vernissages e eventos da galeria, o colecionador receberá o cartão fidelidade do Clube do Colecionador, que confere benefícios exclusivos em estabelecimentos parceiros.
setembro 27, 2015
José Patrício na Nara Roesler, Rio de Janeiro
AGENDA RJ Hoje 01/10 às 19-22h: José Patrício @ Nara Roesler http://bit.ly/N-Roesler-Rio_J-Patricio >>> O artista...
Posted by Canal Contemporâneo on Quinta, 1 de outubro de 2015
José Patrício apresenta coletânea de trabalhos produzidos nos últimos dez anos, trazendo como novidade formatos menores na exibição de variações geométricas que criam grafismos
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O pernambucano José Patrício faz sua exposição de estreia na Galeria Nara Roesler do Rio de Janeiro a partir do dia 1º de outubro, trazendo uma coletânea de uma série e oito trabalhos produzidos nos últimos dez anos, com seleção e texto de parede de Felipe Scovino. No conjunto, trabalhos de técnicas variadas trazem como eixo comum o uso de padrões geométricos na composição de grafismos com materiais cotidianos, muitas vezes descartados ou não valorizados, como botões, lápis de papel, pregos e os dominós e dados que já se tornaram marca registrada do artista.
Uma novidade são obras de dimensões mais reduzidas que, por exemplo, na última exposição realizada na Galeria Nara Roesler de São Paulo, Afinidades Cromáticas (2014), em que todos os trabalhos tinham as dimensões de 155,5 x 160,5 cm.
Um novo trabalho dessa série, Afinidades Cromáticas - Dourados (2015), é o carro-chefe da mostra. Com uma infinidade de botões dourados nos mais variados formatos bordados sobre um fundo de tom terroso, lembrando ouro velho, o trabalho recente aproveitou a sobra dos botões dourados, que não foram usados nas peças da exposição do ano passado. Com a incidência de luz sobre os metais, a obra ganha um efeito brilhante impactante.
Obra Cega e Obra Cega II, ambas com 67 x 67 cm, também trazem um brilho que deve mudar com a ação do tempo. Sendo ambas superfícies quadradas de madeira recobertas com pregos de cobre e de latão, respectivamente, apresentam o brilho dos materiais metálicos em diferentes matizes, de acordo com sua idade. "Tanto o cobre quanto o latão se alteram com a ação do tempo, vão ganhando uma pátina, uma oxidação. Já há essa diferença entre os pregos: os mais novos são mais brihantes, os mais antigos já mostram pontos escurecidos. É um elemento que deve ser incorporado pela obra", declara José Patrício.
Com a colocação dos pregos muito próximos um ao outro, numa "precisão de arrumação", o efeito é o de uma superfície tátil, monótona e contínua. A diferença entre ambos os trabalhos é conferida pelas cabeças dos pregos: os de cobre tem cabeça mais achatada, enquanto os de latão tem cabeça mais arredondada.
Outra peça que compartilha o brilho, aqui sobre uma superfície prateada, é Espelho (2006/2014, edição de três exemplares + exemplar de exibição). Apesar de trabalhar com brilho, sua dimensão é a menor do grupo apresentado na mostra: 24 x 43,5 cm. São 6.274 peças de metal organizadas dentro de uma caixa de acrílico da mesma forma que as obras da série 112 Dominós, colocadas uma ao lado da outra em camadas sobrepostas. Pela formação de uma superfície lisa, cria-se uma reflexão das imagens como um espelho, daí seu nome. Mas a imagem refletida não é perfeita: pela fragmentação das peças que formam a superfície refletora, o que se vê é uma figura fragmentária projetada no plano prateado.
Catorze obras exibidas em um único conjunto trazem como base de composição os dominós. Dominós - Série Branca (2012/2015) é um grupo de pequenas placas de madeira de 32 x 32 cm cobertas com dominós pintados primeiramente com esmalte sintético, recoberto ainda com tinta automotiva. "Elas começaram a ser feitas há muito tempo atrás, em 2012, e ficaram no meu ateliê, então resolvi revitalizá-las com a tinta automotiva, que deu um novo brilho às obras, monocromáticas", conta Patrício.
O dominó também é matéria-prima de Superfície Ondulada em Branco II (2011), que cria um efeito de ondulação suave por meio da sobreposição e do desbaste da tinta em sua forma . Sobre uma superfície, os dominós de resina branca são aplicado de forma a ganharem inclinação alternada. Quando uma peça tem sua ponta esquerda elevada, a seguinte ganha elevação na ponta direita.
Essa alternância da colocação dos dominós já cria por si só uma ilusão de ondas sobre a superfície, ainda de forma mais geométrica, pelo formato retangular dos dominós. Para dar fluência ao ritmo visual ondulado, o artista aplicou esmalte acrílico branco em diagonais. "Depois do esmalte seco, passa-se uma lixa e cria-se a suavidade da ondulação. Em alguns casos, a peça perde sua marcação de dominó. Ficam apenas vestígios, resquícios do que a peça foi. Então é um processo que vai desbastando, revelando o que a tinta branca cobriu, e ao mesmo tempo apagando os números das peças", diz o artista.
Se os dominós surgem parcial ou totalmente recobertos pelo branco ou desbastados, os dados, componentes numéricos de forte qualidade visual lógica, têm na junção dos mesmos números de suas faces a formação de padronagens geométricas rítmicas. Essa é a forma compositiva da obra Mosaico (2014), um quadrado de 58,5 x 58,5 cm em que dados muito pequenos criam padrões visuais pela aglomeração dos números 3, 4 e 5.
Seguindo a ordenação de materiais por uma regra pré-estabelecida e seguida à risca para formar efeitos gráficos, duas obras da série Vanitas -- Vanitas - Notações em Campo Aleatório (2015, 52 x 52 cm) e Vanitas - Notações Ritmadas em Campo Aleatório (2015, 42 x 42 cm) -- retomam figuras de caveiras para lembrar o caráter perecível do homem. "As Vanitas (vaidades), expressões artísticas que ressaltam a finitude do ser humano, aglutinam tematicamente o primeiro conjunto de obras. Quando as pinturas vanitas se popularizaram, no século XVII, o mundo europeu passava pelo estremecimento de certezas detonado parcialmente pela acensão do Protestantismo. Os quadros apresentavam elementos que advertiam severamente sobre a brevidade da vida e a vanidade das riquezas e dos luxos terrenos, sendo quase que constante a presença da caveira ou mesmo do esqueleto inteiro. José Patricio transpõe esta discussão para a atualidade ao trabalhar a imagem da caveira (...)", segundo a curadora Cristiana Tejo.
Nada melhor que utilizar lápis de papel comprados já envelhecidos, desbotados, em uma papelaria para criar uma sequência rítmica intercalada por pequenas caveiras de cerâmica, componentes de bijuterias. Em ambas as obras, os lápis são arrumados em movimento de espiral de fora para dentro das superfícies quadradas em que são sobrepostos, cerrados em esquadria de 45 graus. A diferença da notação em campo aleatório comum para a ritmada é que na segunda as caveiras são dispostas no fim de cada lápis, enquanto na comum as caveiras são colocadas aleatoriamente, sem uma regra de ordenação.
Seguindo a mesma lógica organizacional em espiral, de fora para dentro, a obra Sete em Sete também usa botões como base cromática de composição de um esquema visual. Com botões todos do mesmo tipo, o que os diferencia são as sete cores dispostas em grupos de sete em sete botões sempre na mesma sequência, repetida novamente assim que completada. No fim do trabalho, todas as cores foram usadas sete vezes na padronagem.
Com esse apanhado abrangente e variado, José Patrício faz seu début na capital fluminense trazendo nas entrelinhas o elogio do comum como índice e registro da existência humana. Se em seus trabalhos a mão do artista dá lugar a elementos cotidianos, é para colocar em primeiro plano a coletividade, representada tanto no agrupamento das matérias-primas quanto na escolha desses elementos, resultantes do trabalho de tantas outras mãos. Pela junção de peças banais senão pela compreensão da técnica criada pelo homem para suas forjas, formam-se jogos de imagem completados pela figura do espectador, complementar ao artista.
José Patrício nasceu em 1960, em Recife, onde vive e trabalha. Participou de bienais como a 22ª Bienal de São Paulo (1994) e a 3ª Bienal de Artes Visuais do Mercosul, em Porto Alegre (1994), ambas no Brasil; e a 8ª Bienal de Havana, Cuba (2003). Participações recentes em exposições coletivas incluem: Le Hors-Là (Usina Cultural, João Pessoa, Brasil, 2013); Art in Brazil (Palais des Beaux Arts, Bruxelas, Bélgica, 2011); e 50 anos de arte brasileira (Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, Brasil, 2009). Suas mais recentes mostras individuais são: A espiral e o labirinto (Galeria Nara Roesler, São Paulo, Brasil, 2012); José Patrício: o número (Caixa Cultural, Rio de Janeiro, Brasil, 2010); e Expansão múltipla (Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil, 2008). Suas obras fazem parte de coleções como a da Fondation Cartier pour L’Art Contemporain, Paris, França; Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães, Recife, Brasil; Fundação Joaquim Nabuco, Recife, Brasil; Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador, Brasil; Itaú Cultural, São Paulo, Brasil; e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro / Gilberto Chateaubriand, Rio de Janeiro, Brasil.
José Patrício presents a collection of work created in the past ten years, with the addition of smaller formats featuring graphisms geometric variations
Pernambuco state native José Patrício’s first show at Galeria Nara Roesler in Rio de Janeiro will open on October 1, featuring pieces from a series and eight individual works created over the past ten years, with selected and wall texts from Felipe Scovino. Artworks using assorted techniques share the use of geometric patterns that form graphisms, combined with commonplace materials often discarded or not given much thought, such as buttons, paper pencils, nails, as well as the dominoes and dice that have become the artist’s trademark.
A new addition to Patrício’s work are smaller-sized pieces than, for instance, the ones featured in his last show at Galeria Nara Roesler in São Paulo, Afinidades Cromáticas (Chromatic Affinities, 2014), where all of the works shown measured 155.5 x 160.5 cm.
A new piece from the series, Afinidades Cromáticas - Dourados (2015), is the highlight of the show, containing a myriad of golden buttons of all sizes embroidered on an earth-toned backdrop reminiscent of old gold. The recent work was built from scraps of golden buttons that didn’t make it into the pieces from last year’s show. As light shines down on the metals, the piece takes on a striking brilliance.
Obra Cega and Obra Cega II, both measuring 67 x 67 cm, boast a glossiness that should change with time. Both are square wood surfaces, respectively covered with copper and tin nails, and display the sheen of metal materials in different tones, depending on their age. "Both the copper and the tin change over time, they grow tarnished from oxidation. This difference between the nails is already there in the piece: the newer ones are shinier, the older ones have darker spots on them. This is an element that must be incorporated by the piece,” states José Patrício.
The nails are placed very close to each other, “precisely and neatly arranged,” creating the effect of a tactile, monotonous, continuous surface. What makes the pieces differ from one another is the heads of the nails: the copper ones are flatter and the tin ones are rounder.
Another piece with shine, this time over a silver-colored surface, is Espelho (2006/2014, three editions plus an exhibition copy). Although it works with brightness, it is the smallest of the artworks shown in the show: 24 x 43.5 cm. It’s made of 6,274 metal pieces arranged inside an acrylic box the same as the pieces in the 112 Dominós series, set side by side in superimposed layers. They form a smooth surface that reflects images like a mirror, hence the piece’s name. But the reflected image is not perfect: due to the fragmentation of the pieces that form the reflective surface, what one sees is a fragmentary picture projected upon the silver-colored sheet.
Fourteen pieces shown as a single set are built from dominoes. Dominós - Série Branca (2012/2015) is an assemblage of small wooden boards measuring 32 x 32 cm, covered with dominoes coated with synthetic enamel and then automotive paint. "They started being done long ago, in 2012, and they were just lying around in my studio, so I decided to revive them with automotive paint, and it gave these monochrome pieces a new sparkle,” says Patrício.
Dominoes are also the raw material for Superfície Ondulada em Branco II (2011), which creates a slight undulation effect through the juxtaposition and wearing out of the paint. The white resin dominoes are applied to a surface in alternating tilted position. One piece is elevated on the left side and the next one on the right.
In itself, the way the dominoes are arranged creates an illusion of waves upon the surface, but so far the shape is more geometrical, due to the rectangular shape of the dominoes. To make this undulated visual rhythm more flowing, the artist applied a diagonal coating of white acrylic enamel. "After the enamel dries, I sand it to make the undulations smooth. Some of the pieces lose their domino markings. All that’s left is vestiges, traces of what the piece once was. So it’s a process of wear and tear that gradually reveals what the white paint had covered, and at the same time it erases the numbers from the pieces,” says the artist.
Whereas the dominoes are partially or fully covered in white enamel or sanded, the dice, numerical components with a strong logical visual quality, are placed next to each other to create rhythmic geometric patterns through the numbers on their sides. Such is the compositional form of the piece Mosaico (2014), a 58.5 x 58.5 cm square in which very small dice create visual patterns by agglomerating the numbers 3, 4 and 5.
With materials arranged following a preset rule that’s strictly adhered to, creating graphical effects, two of the pieces in the Vanitas series -- Vanitas - Notações em Campo Aleatório (2015, 52 x 52 cm) and Vanitas - Notações Ritmadas em Campo Aleatório (2015, 42 x 42 cm) – revisit skull images as reminders of man’s perishable nature. "The Vanitas (vanities), art expressions that underscore the finitude of the human being, tie together the first set of pieces thematically. When vanitas paintings first became popular, in the XVII century, the certainties of the European world were partly shaken by the rise of Protestantism. The paintings featured elements that were stern warnings about the brevity of life and the vanity of earth wealth and luxury, with skulls or entire skeletons a near-constant presence. José Patricio transposes this discussion to our days by working with the image of the skull (...)," according to the curator Cristiana Tejo.
Nothing better than to paper pencils that were bought worn out and faded from a stationery shop to create a rhythmic sequence interspersed with small ceramic skulls from costume jewelry. In both pieces, the pencils are laid out on top of each other in an outward spiral within square surfaces, enclosed in 45-degree wooden frames. The difference in notation between the regular random field and the rhythmic one is that in the latter, the skulls are placed at the end of each pencil, whereas in the regular one they are randomly placed in no particular order.
Following the same spiral organizational logic, this time inward, the piece Sete em Sete also uses buttons as the chromatic basis for composing a visual scheme. The buttons are all of the same type, and what differentiates them are the seven colors, arranged into repeating groups of seven buttons, always in the same sequence. At the end of the piece, each color has been used seven times in the patterning.
With this broad, varied selection, José Patrício debuts in Rio de Janeiro, and between the lines he praises commonplace things as an index and register of human existence. If, in his work, the artist’s hand gives way to commonplace elements, it does so to bring to the foreground the collectiveness represented both by how raw materials are brought together and by their very choice, since they are the outcome of labor from so many other hands. The combination of ordinary pieces, rather than the comprehension of the forging techniques created by man, creates image games to be completed by the figure of the spectator, which complements the artist’s.
setembro 24, 2015
José Resende na Millan, São Paulo
AGENDA SP Hoje 26/09 às 11h30 @ Millan: Visita guiada com o artista José Resende no último dia da exposição http://bit.ly/1Fxn553
Posted by Canal Contemporâneo on Sábado, 26 de setembro de 2015
José Resende apresenta novas esculturas na Galeria Millan; a mostra abre em 22 de agosto, das 12h às 16h, e fica em cartaz até 26 de setembro.
A individual de José Resende na Galeria Millan pode ser compreendida como um desdobramento da exposição realizada na Pinacoteca do Estado de São Paulo, entre abril e junho de 2015. Até caberia dizer que a exposição vem a ser um transbordamento através do espaço e do tempo.
Na Millan, a mostra também é composta apenas por esculturas recentes e inéditas. Mas engana-se quem, apenas, antevê uma nova etapa do trabalho de José Resende -composta por projetos e soluções inovadoras. Pois o caminho percorrido nos 50 anos de produção do artista é de um “eterno retorno”; um continuum refletido e surpreendente. O humor, a tensão, as oposições de sentido, o movimento latente e a sua inscrição no espaço público sempre estiveram e estão presentes em sua obra.
É inegável que a escultura de José Resende explora as relações entre a cidade e o corpo. Seja pela escolha de materiais– chapas e tubos metálicos, pedras, vidro, tecidos -, ou seja pelo embate direto da obra – entre verticais, horizontais, diagonais e curvas – com o entorno. Guiado por um rigoroso pensamento plástico e uma imaginação lúdica, o artista, através de suas esculturas, provoca uma outra visibilidade sobre a paisagem urbana, a corporeidade e a mobilidade do mundo.
Aliás, a ideia de imprecisão do movimento é algo que une as obras de Resende expostas na Galeria Millan. A escultura Dobras (2015) é constituída pelo encaixe de duas chapas de aço: uma circular, dobrada ao meio, com duas fendas em “v” e outra em formato de meia lua. A densidade e a resistência das chapas inspiram uma permanência; uma estabilidade aparente. Que logo cai por terra quando percebe-se que há uma multiplicidade de possibilidades escultóricas dentro da mesma escultura – basta mudar o encaixe da chapa em v. É na ideia de um obra aberta que reside seu movimento, sua tensão constante.
Vale ainda por fim, ressaltar que se na Pinacoteca, a obra Dobras (2015) estava disposta como um par de esculturas idênticas, já na Galeria Millan, a peça se desmembra e aparece como um conjunto de esculturas, em diversas dimensões.
A obra inédita Corpo de Prova II, 2015 alcança outro tipo de movimento. O título já faz uma alusão ao que está em jogo na escultura. O cálculo e a precisão da engenharia são suficientes para controlar a imprevisibilidade da imaginação e do caráter sugestivo da forma plástica? De um lado, dois tubos de aço inox escovado de 4 metros, do outro, dois tubos de aço inox polido também de 4 metros inclinados e, ambos, conjuntos estão ligados por um cabo de aço. Corpo de Prova II remete a procedimentos anteriores - como nos vagões de trem suspensos por cabos de aço e ainda em algumas esculturas da década de 1970 - mas apresenta novas soluções: um balanço pressuposto e potente.
No átrio da galeria, a obra inédita Up Side Down, 2015 – constituída por tubos de latão conectados por cabos de aço - impacta pela sua monumentalidade, pelo humor e pelo desafio da gravidade. Mesmo a despeito da leveza e da qualidade aérea da obra que, aliás, parece criar um volume virtual que avança em direção do corpo do observador, Up Side Down, com os seus 6 metros de altura, tem como desafio se manter em pé. A escultura também excede em termos de escala o ambiente onde está instalada; há uma tensão entre obra e arquitetura, as dimensões dos espaços – como as colunas, a espessura das paredes, as passagens, os revestimentos de parede, o piso, o teto – são revistas. A mostra fica em cartaz na Galeria Millan até 26 de setembro.
Daniel Steegmann Mangrané e Philippe Van Snick no MAM Rio e Casa Modernista
O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro inaugura, no próximo dia 5 de setembro de 2015, exposição do artista catalão que vive no Brasil Daniel Steegmann Mangrané (1977) e do belga Philippe Van Snick (1946), que terá um outro segmento em outra mostra a ser apresentada na Casa Modernista, em São Paulo, a partir do próximo dia 19 de setembro. “A exposição enfatizará o jogo entre simultaneidade e dualismo existentes no trabalho dos artistas”, diz a curadora Marta Mestre. A mostra, fruto de uma parceria institucional entre o MAM Rio e o Museu da Cidade/ Prefeitura de São Paulo, procura reforçar as redes de curadoria e de colaboração entre as duas instituições, apresentando obras individuais dos artistas e também feitas em parceria. Esta é a primeira exposição dos dois artistas em conjunto em um museu brasileiro.
Um dos elementos centrais da proposta curatorial para o MAM Rio é a apresentação do trabalho de Daniel Steegmann Mangrané e de Philippe Van Snick sobre um conjunto de mesas de madeira, aproximando os artistas e o olhar do visitante. Para Marta Mestre, essas mesas “ocupam a arquitetura de vazios transversais do segundo piso, abertos à paisagem do Aterro”. “Elas tridimensionalizam uma sintaxe de geometria e de display comum a ambos os artistas”, diz. Dentre estes trabalhos sobre as mesas, Daniel Steegmann Mangrané remontará “Mesa com objetos”, diversos objetos de trabalho que o artista tem recolhido entre 1998 – 2015, e Philippe Van Snick apresentará cerca de 20 obras, fotografia, aquarela, desenho e maquetas, produzidos na década de 1970 e obras recentes, produzidas entre 2011 e 2015.
Em paralelo, os artistas farão intervenções nos painéis expositivos do MAM Rio. Philippe Van Snick realizará uma pintura mural in-situ, explorando as relações da arquitetura do MAM-Rio e dos jardins do paisagista Burle Marx, que recentemente vem pesquisando, e Daniel Steegmann Mangrané realizará “Morfogenesis Cripsis” (2015, um trabalho de aquarela e desenho, justapondo formas orgânicas e geométricas). Por fim, “Fôlego” (2014), instalação realizada em colaboração com a flautista Joana Saraiva permite a escuta de um longo fôlego de clarinete, distribuído por sete alto-falantes, em todo o espaço expositivo.
Na Casa Modernista, Philippe Van Snick realiza duas intervenções que exploram o quanto, para ele, a cor da superfície pintada não existe isoladamente como elemento científico, mas antes se descreve pela experiência física e espacial de cada espectador. No piso térreo apresenta “Mexican dream cabin” (2015), uma instalação concebida com base em um repertório de cores primárias e secundárias e formas puras e simples orientadas por ideais dinâmicos e matemáticos, e na área externa do jardim “Sun umbrella” (1979/2015), toldos coloridos que dão um contraponto doméstico e descomprometido à arquitetura moderna da Casa.
Steegmann Mangrané ocupa os quartos do piso superior com “Família moderna” (2015), presenças escultóricas semiorgânicas e semigeométricas que estabelecem ironia com a normatividade do sujeito e ideário modernos, e “Systemic Grid (floor)” (2015), uma instalação de aço ocupando o piso da Casa.
Segundo Marta Mestre, “o projeto, pensado como um diálogo em dois capítulos, visa proporcionar diversos modos de aproximação ao trabalho dos dois artistas, através das arquiteturas de Reidy e de Warchavchik, no Rio e em São Paulo, um repertório moderno, que para os artistas, aparece não como narrativa linear mas na forma de traços ou fragmentos”.
A prática de Daniel Steegmann Mangrané abrange várias mídias e oscila “entre as sutis, poéticas e, no entanto, cruas experimentações que questionam a relação entre habitat e linguagem e os efeitos fenomenológicos desta relação sobre o sujeito”. Embora principalmente conceitual, o trabalho de Steegmann Mangrané exibe uma “forte preocupação com a existência e as características concretas das obras, ativando a linguagem abstrata como um princípio gerador de pensamento, e emprega a ideia de significado instável e de construções desmaterializadas como uma forma de abordar questões relativas ao ‘objeto artístico’”.
Philippe Van Snick é um dos mais importantes artistas belgas, com trajetória iniciada nos anos 1970 com pesquisas conceituais, e que “avança para a pintura para refletir muito além da superfície pintada”. “Cria objetos e esculturas, e serve-se da instalação para examinar, analisar e criar espaço. A força de seu trabalho surge do material visual mínimo que emprega e que reflete um entendimento muito específico e sutil do fazer artístico”, explica Marta Mestre. “A pesquisa de Phillipe Van Snick tem pontos de contato ainda não explorados com alguns dos mais importantes capítulos da arte brasileira contemporânea, como os diálogos do concretismo e do neoconcretismo, protagonizados por figuras de destaque como Roberto Burle Marx, Lygia Clark e Hélio Oiticica”.
Daniel Steegmann Mangrané nasceu em Barcelona em 1977; vive e trabalha entre Rio de Janeiro e São Paulo desde 2004. Suas principais mostras individuais incluem: Animal que no existeis, CRAC Alsace, Altkirch (2014); Phasmides, Mendes Wood DM, São Paulo; Cipó, Taioba, Yví, Casa França Brasil, Rio de Janeiro (2013), Halfhouse, Barcelona (2011), Centro Cultural Sergio Porto, Rio de Janeiro (2010), Fundació La Caixa, Barcelona (2008). Seu trabalho foi apresentado em diversas exposições coletivas, incluindo: Out of the blue, Centro de Arte 2 de Mayo, Tropicalia Negra, Museo Experimental el Eco Ambiguações, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro (2013); 30ª Bienal de São Paulo Biennial (2012); Bienal de Teheran, Teheran; Museo de Arte Contemporanea de Santiago do Chile (2008), Centro Cultural São Paulo (2007), entre outras.
Philippe Van Snick nasceu em Ghent, na Bélgica em 1946 e vive e trabalha em Bruxelas. Participou em exposições de grupo e individuais, em lugares como a 48 ª Bienal de Veneza; Museum M, Leuven; CCNOA, Center for Contemporary non Objectif Art, Bruxelas; De Appel, Amesterdão; MuHKA Antuérpia; S.M.A.K., Ghent; Espace d’Art Contemporain, Lausanne; Witte de With, Roterdão; e Tatjana Pieters.
Marta Mestre nasceu em Beja, Portugal, em 1980 e vive e trabalha no Rio de Janeiro. É curadora assistente no MAM Rio. Graduada em História da Arte e mestre em Cultura e Comunicação. Em 2016 participará do programa “curador visitante” da Escola de Artes Visuais do Parque Lage.
setembro 18, 2015
Sonia Guggisberg na Rabieh, São Paulo
Conhecida por abordar poeticamente, em diversas mídias e suportes, tensões entre unidades dicotômicas como movimento e imobilidade ou ação e constrição das possibilidades do agir, Sonia Guggisberg apresenta entre 24 de setembro e 21 de outubro a sua primeira individual na Galeria Rabieh, intitulada Em TRânsito. A artista foi contemplada com o Prêmio Brasil de Fotografia (Porto Seguro), na categoria Ensaio, em 2014, e possui obras no acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, SESC SP, Instituto Figueiredo Ferraz e Museu Lasar Segal, entre outros.
Com curadoria de Priscila Arantes, a exposição é composta de fotografias e vídeos que documentam trânsitos de viagem. Não se trata, no entanto, de registros tradicionais. As obras expostas configuram-se como movimentos que borram o passado no presente, pontuando detalhes de realidades encontradas. As imagens absorvem a temporalidade da memória, esse lugar fora do tempo, entre o outrora e o agora, em uma investigação sobre os limites da imagem contemporânea na elaboração de memórias fluidas. Trata-se de propor um olhar sobre velocidades, fluxos e dimensões.
A exposição ocupa três diferentes áreas da Galeria. O primeiro espaço expositivo é preenchido por um vídeo e uma série de fotografias em papel algodão, ambos realizados com iPhone em uma travessia entre Suíça e Alemanha em 2015. São paisagens etéreas, cobertas por brumas, em que parece haver um apagamento natural dos contornos do mundo; à medida em que as imagens perdem definição, porém, ganham densidade, como se a neblina fosse capaz de conferir materialidade ao bidimensional. Nessas fotos, o horizonte, essa linha definidora do gênero paisagem, desvanece em meio a tons de cinza, lembrando a própria nebulosidade da memória.
O segundo espaço expositivo funde-se ao jardim, que será coberto e ocupado pela instalação “Horizonte móvel”, de 2012, constituída por três projeções em grandes dimensões. São ondas gigantes, movimentos maciços de água das Cataratas do Niágara que, devido a seu grande volume, jamais chegam a quebrar, mantendo como que uma mobilidade suspensa, uma tensão constante.
O terceiro espaço é ocupado por duas obras distintas. A primeira, a instalação de vídeos e fotos “Imagens cruzadas”, de 2015 corta toda uma longa parede. Este trabalho é um desdobramento direto de sua individual em Nova York, apresentada no início deste ano na MediaNoche New Media Gallery and Digital Film Studio, composta por uma grande videoinstalação em que as imagens captadas em uma viagem de trem foram editadas em linhas horizontais que se entrecruzam em velocidades e movimentos diferentes. Para a exposição na Rabieh, os vídeos mesclam-se a frames, montados em metacrilato, confundindo a percepção do que é estático e daquilo que se move. As imagens borram temporalidades ao se desmanchar no movimento e assumem tanto as realidades captadas pela câmera como os recortes poéticos e as manipulações tecnológicas. A imagem transcende o caráter de documento ao negociar entre o fato bruto e as representações construídas pela artista.
Por fim, temos a obra “Barco”, de 2011, um díptico composto por dois vídeos da mesma embarcação, centralizada no quadro. No primeiro, a imagem está congelada, enquanto no segundo, apesar de o barco estar com os motores ligados, uma forte correnteza o impede de se deslocar, criando uma espécie de “movimento parado”. Essa obra hipnótica e potente pode ser entendida como síntese da pesquisa recente da artista acerca das tensões entre movimento e imobilidade, ação e inação.
Sobre o Artista
Sonia Guggisberg (São Paulo, SP, 1964) vive e trabalha em São Paulo. Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Mestre em Artes pela Universidade Federal de Campinas, Guggisberg atua como artista, videomaker e pesquisadora, participando de mostras coletivas e individuais, palestras e workshops no Brasil e no exterior desde a década de 1990. Entre 2007 e 2013, dedicou-se ao projeto (I)mobilidade, onde nadadores têm seus movimentos de alguma forma confinados. O resultado foi uma série de videoinstalações que provocam um visível estado de pressão emocional pela oposição entre deslocar-se ou não deslocar-se. Este foi o ponto de partida para iniciar uma reflexão sobre a clausura social e o caos urbano. Hoje, dedica-se à pesquisa sobre o redesenhar das cidade e de suas identidades. Trabalha com fotografia, site specific, instalação audiovisual e documentário experimental. Já realizou dezenas de exposições individuais e, além do Brasil, seus trabalhos foram exibidos nos Estados Unidos, Alemanha, México, Colômbia, Espanha e França. Possui obras no acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, SESC SP, Instituto Figueiredo Ferraz e Museu Lasar Segal, entre outros. Em 2014, foi contemplada com o Prêmio Brasil de Fotografia (Porto Seguro), na categoria Ensaio.
Sara Ramo na Fortes Vilaça, São Paulo
A Galeria Fortes Vilaça tem o prazer de apresentar Os Ajudantes, a nova exposição de Sara Ramo.
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A artista apresenta trabalhos inéditos – incluindo vídeos, fotografias e esculturas – que operam no limiar entre realidade e ficção. As obras interrogam nosso relacionamento habitual com os objetos que nos rodeiam, lançando um olhar de estranheza para as coisas cotidianas.
Em Os Ajudantes, vídeo que dá nome à exposição, doze criaturas mascaradas perambulam por uma paisagem noturna, tocando seus instrumentos musicais. Imersos na penumbra,tornam-se visíveisapenas à luz tremulante das fogueiras, aparecendo e desaparecendo sob uma atmosfera mágica e misteriosa. Sara compõe com os personagens e seu entorno,desprovendo-os de uma narrativa– as criaturas não aparentam ir a lugar algum, apenas se movimentam. Música e escuridão os envolvem e dão unidade ao universo onírico em que habitam.
O jogo de revelar e esconder faz a ponte entre o abstrato e oconcreto, etambém acontecenas outras obrasda mostra. Na série Matriz e a Perversão da Forma, a artistaapresenta esculturas de gesso pedraconcebidasa partir das máscaras d’Os Ajudantes. São seus moldes e revelam seu avesso.Cada peça traz em si a potência de uma forma concreta e significante, mas que se realiza apenas na nossa imaginação. Como no vídeo, a totalidade nunca nos é oferecida e o que vemos são fragmentos.
A escuridão é explorada ainda na sua nova série de fotografias, em queobjetos ordinários são fotografados na penumbra, usandosomente uma iluminação pontual. Assim como acontece com os personagens do vídeo, figura e fundo se fundem, de modo que suas formas ganham contornos difusos e quase abstratos.As fotos são inspeções da adaptação do olho às incidências variadas de luz sobre formas familiares,um estudo sobre oescuro infantil. Uma vez iluminadas as formas, a revelação será a de seus negativos.
Sara Ramo nasceu em 1975 em Madrid, Espanha, e atualmente vive e trabalha entre sua cidade natal e Belo Horizonte, Brasil. Entre suas exposições individuais, destacam-se: Desvelo y Traza, Matadero (Madrid, 2014) e Centre d’Art la Panera (Lérida, 2014); Punto Ciego, Espacio de Arte Contemporáneo (Montevidéu, 2014); SinHeroismos, por favor, CA2M (Madrid, 2012); Penumbra, Fundação Eva Klabin (Rio de Janeiro, 2012). Suas exposições coletivas incluem participações em: Imagine Brazil, Astrup Fearnley Museet(Oslo, 2013), Musée d’artcontemporain de Lyon (Lyon, 2014) e Instituto Tomie Ohtake (São Paulo, 2015); 11ªBienal de Sharjah (2013);Bienal do Mercosul (Porto Alegre, 2013 e 2007); Panorama da Arte Brasileira (São Paulo, 2011 e 2003); 29ª Bienal de São Paulo (2010); 53ª Bienal de Veneza (2009). Sua obra está presente em diversas coleções importantes, como Inhotim (Brumadinho), MAM (Rio de Janeiro), Instituto Cultural Itaú (São Paulo), Pinacoteca do Estado (São Paulo), Fundacione Casa di Risparmiodi Modena (Itália), entre outras.
Galeria Fortes Vilaça is pleased to present Os Ajudantes [The Helpers], the new exhibition by Sara Ramo. The artist presents new works – including videos, photographs and sculptures – that bridge the edge between reality and fiction. The works question our standard relationship with the objects that surround us, casting an uncanny eye over everyday life.
In Os Ajudantes, the video that lends its title to the exhibition, 12 masked creatures wander through a dark landscape, playing their musical instruments. Immersed in the shadows, they become visible only in the flickering light of bonfires, appearing and disappearing under a magical and mysterious atmosphere. Sara composes the work with the characters and their surroundings, bereft of any narrative – the creatures don’t seem to be going anywhere, they are just moving around. Music and darkness encircles them and unify the dreamlike world they inhabit.
The action of revealing and concealing creates a link between the abstract and the concrete, and is also repeated in the other works of the show. In the series Matriz e a Perversão da Forma [Matrix and the Perversion of Form], the artist presents sculptures made of dental stone conceived from the masks in Os Ajudantes. They are their molds, thus revealing their back sides. Each piece bears the power of a concrete and meaningful shape, but which can only happen in our imagination. As in the video, the whole is never offered to us and all we see are fragments.
Darkness is also explored in the artist’s new series of photographs, in which ordinary objects are photographed in extreme darkness, dimly lit only at certain spots. As what happens with the characters in the video, the figures blend with the background, making the outlines of their shapes hazy and nearly abstract. The photos investigate how the eye adapts when familiar shapes are placed into different lighting conditions, in a study on infantile darkness. Once the shapes are illuminated, their negatives are revealed.
Sara Ramo was born in 1975 in Madrid, Spain, and currently lives and works between the city of her birth and Belo Horizonte, Brazil. Her solo shows have most notably included Desvelo y Traza, at Matadero (Madrid, 2014) and Centre d’Art la Panera (Lleida, 2014); Punto Ciego, at Espacio de Arte Contemporáneo (Montevideo, 2014); Sin Heroismos, por favor, at CA2M (Madrid, 2012);Penumbra, at Fundação Eva Klabin (Rio de Janeiro, 2012). Group shows she has participated in include: Imagine Brazil, Astrup Fearnley Museet (Oslo, 2013), Musée d’art contemporain de Lyon (Lyon, 2014) and Instituto Tomie Ohtake (São Paulo, 2015);Sharjah Biennial 11 (2013);Mercosul Biennial (Porto Alegre, 2013 and 2007); Panorama da Arte Brasileira (São Paulo, 2011 and 2003); 29th São Paulo Biennial (2010); 53th Venice Biennale (2009). Her work figures in various important collections, including those of Inhotim (Brumadinho), MAM (Rio de Janeiro), Instituto Cultural Itaú (São Paulo), Pinacoteca do Estado (São Paulo), and Fundacione Casa di Risparmio di Modena (Italy).
setembro 17, 2015
Opinião 65: 50 anos depois no MAM, Rio de Janeiro
O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro inaugura, no próximo dia 19 de setembro de 2015, a exposição “Opinião 65 – 50 anos depois”, com 57 obras de artistas brasileiros que participaram da emblemática exposição em 1965, organizada por Ceres Franco e Jean Boghici (1928-2015), no MAM Rio. Dessas obras, três participaram da exposição original: as pinturas “Miss Brasil” (1965), de Rubens Gerchman, e “O artista chorando assina...” (1964), de Wesley Duke Lee, e um Parangolé de Hélio Oiticica, que apresentou seus Parangolés pela primeira vez ao público na exposição em 1965.
Com curadoria de Luiz Camillo Osorio, a mostra terá ainda uma série de cartazes de filmes que estavam em exibição no período da exposição em agosto/setembro de 1965, documentos de época, críticas de jornal, uma série de fotografias dos artistas e da exposição em 1965, um vídeo de 1967, intitulado “Arte Pública”, e um novo feito para a exposição. A ideia é reconstituir a atmosfera do período e mostrar o quanto a exposição foi um momento importante de resistir ao golpe militar, juntando artistas de uma mesma geração que atualizavam o vocabulário plástico da arte brasileira pondo-a em contato com a energia da visualidade popular. A mostra é uma parceria com a Pinakotheke Cultural, que irá inaugurar na mesma data, em seu espaço em Botafogo, uma exposição com cerca de 70 obras, em que todos os trinta artistas participantes da montagem original estarão representados. Destas, todas foram produzidas na época, e várias integraram a mostra no MAM.
Os artistas que terão obras na exposição do MAM são: Adriano de Aquino (Belo Horizonte, 1946), Angelo de Aquino (Belo Horizonte, 1945 - Rio de Janeiro, 2007), Antonio Berni (Rosário, 1905 - Buenos Aires, 1981), Antonio Dias (Campina Grande, 1944), Carlos Vergara (Santa Maria RS, 1941), Flávio Império (São Paulo, 1935 – 1985), Gastão Manoel Henrique (Amparo SP, Brasil, 1933), Hélio Oiticica (Rio de Janeiro, 1937 – 1980), Ivan Freitas (João Pessoa, 1932 - Rio de Janeiro, 2006), Ivan Serpa (Rio de Janeiro, 1923 – 1973), José Roberto Aguilar (São Paulo, 1941), Pedro Escosteguy (Santana do Livramento, 1916 - Porto Alegre, 1989), Roberto Magalhães (Rio de Janeiro, 1940), Rubens Gerchman (Rio de Janeiro, 1942 - São Paulo, 2008), Tomoshige Kusuno (Yubari/Hokkaido, Japão/Brasil, 1935), Vilma Pasqualini (Rio de Janeiro, 1930) e Wesley Duke Lee (São Paulo, 1931 – 2010).
“A exposição Opinião 65 está no inconsciente coletivo da história cultural recente. Tentando recontar este capítulo de nossa história para as gerações mais novas, ao mesmo tempo em que homenageamos os curadores e artistas que fizeram parte daquele momento, o MAM Rio – palco dos acontecimentos – e a Pinakotheke Cultural resolveram juntar seus esforços nesta empreitada. Aqui no MAM, daremos foco aos artistas brasileiros que participaram da exposição, além de mostrar material de arquivo referente à mostra – críticas, iconografia, filmes e entrevistas”, afirma o curador Luiz Camillo Osorio.
Apodi 69 no Pivô, São Paulo
Exposição coletiva 'Apodi 69' no Pivô, com os artistas Cinthia Marcelle, Lais Myrrha, Marilá Dardot, Matheus Rocha Pitta e Sara Ramo
Com a exposição Apodi 69, o Pivô dá continuidade ao seu Programa Anual de Exposições 2015, que este ano tem como patrocinadora master a Qualicorp. Trata-se de uma mostra coletiva que surgiu da vontade de um grupo de artistas de construir uma exposição conjunta pela primeira vez. Entre 2003 e 2008, os artistas Cinthia Marcelle, Lais Myrrha, Marilá Dardot, Matheus Rocha Pitta e Sara Ramo compartilharam uma casa que serviu de ateliê, moradia e ponto de encontro, na rua Apodi, número 69, em Belo Horizonte. Selecionados para a primeira edição da Bolsa do Museu de Arte da Pampulha, esses artistas partilharam momentos intensos de convívio, criação e diálogo, o que rendeu inclusive algumas obras conjuntas. Foi uma fase importante na formação de todos eles, a época em que começaram a se dedicar exclusivamente à arte e quando suas trajetórias individuais começaram a se desenvolver.
No Pivô, a exposição “Apodi 69” apresenta pela primeira vez uma mostra do grupo, passados doze anos do convívio em Belo Horizonte. Apesar de nunca terem sido um coletivo, sempre foram grandes interlocutores, o que enriqueceu a produção individual de cada um. Com toda liberdade, os próprios artistas escolheram as obras da mostra, pensando nos trabalhos que sempre quiseram ver lado a lado e em diálogo. Serão mostrados trabalhos individuais inéditos, antigos e de autoria conjunta, além de uma seção documental com cartazes, fotos e textos. Dessa forma, o público vai encontrar no Pivô a gênese do trabalho de cada um desses artistas, com ênfase na contribuição gerada pela troca entre eles.
Jimson Vilela no CCSP, São Paulo
Artista toma partido da espacialidade local e inaugura obra com 1 tonelada de papel que sai de um único livro em espaço próximo à bilbioteca
O Centro Cultural São Paulo – CCSP inaugura no dia 19 de setembro, sábado, às 15 horas, a instalação Adaptável ao espaço que as palavras ocupam, do artista Jimson Vilela. Situada na ala 23 de maio do Piso Flávio de Carvalho, a obra consiste em seis estantes de ferro entrecortadas por bobinas de papel branco contínuo, pesando uma tonelada, que saem de um único livro.
Acostumado a números considerados megalomaníacos para alguns, Jimson não se surpreende com a tonelada de celulose, afinal a matéria-prima de sua produção pesa mesmo. Aqui, são usadas 160 bobinas de papel de 300 metros cada uma. “Essas seis estantes suportariam mais ou menos esse peso em livros”, declara. O ponto de partida é sempre o livro, objeto simbólico de onde a maioria de suas instalações em papel brota, dele efluindo para ocupar espaços diversos.
Entretanto, não é só papel e tampouco um livro. Em “Adaptável ao espaço que as palavras ocupam”, as escolhas do artista quanto ao posicionamento da instalação dentro do edifício, sua volumetria dentro do enorme vão, a luminosidade, o acúmulo e, sobretudo, a reconfiguração espacial que instalação proporciona, são fundamentais para sua a compreensão da obra.
Sobre sua escolha, escreve “(...) o lugar onde está é uma ‘passarela’ sobre a biblioteca. (...) Comecei a imaginar os pavimentos do CCSP enquanto nichos de uma estante. Certamente, essa imagem foi deflagrada pelas estantes de livros da própria biblioteca do CCSP e também pelos vãos que marcam aquela arquitetura”.
Ainda no texto de apresentação, assinado pelo artista e Liliane Benetti, “a instalação expande-se como um corpo escultórico em proliferação: as páginas de um livro alastram-se pelo lugar, escalam estantes e aceleram-se em quedas”, contrariando a distribuição sistemática das fileiras de livros avistadas no piso inferior.
“Adaptável ao espaço que as palavras ocupam” foi contemplada no ano de 2014 pelo Proac Artes Visuais da Secretaria de Cultura do Governo do Estado de São Paulo.
Jimson Vilela (Rio de Janeiro, 1987), vive e trabalha em São Paulo, Brasil. É mestrando em Poéticas Visuais (ECA/USP, 2014) e Bacharel em Artes Visuais (IART/UERJ, 2010). Entre suas principais exposições destacam-se as individuais “Sintomas e Efeitos Secundários da Sintonia” (Casa Modernista, 2013), “Cambio” (Nuevo Museo Energía Arte Contemporáneo, Buenos Aires, 2012) e “Laboratório” (Fundação Cultural de Criciúma, 2011); as coletivas “Convite à viagem” (Rumos Itaú Cultural, 2012 e 2013), e 6ª e 7ª Bienal Internacional da Bolívia (SIART, 2009 e 2011).
Possui trabalhos em coleções públicas como MAC Niterói, MAM-RJ e Pinacoteca do Estado de São Paulo. Foi premiado com a Bolsa Funarte de Estímulo à Produção em Artes Visuais 2012. Em 2013, recebeu o Prêmio Honra ao Mérito Arte e Patrimônio do IPHAN/Centro Cultural Paço Imperial/MinC e o Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça – 6ª Edição. Em 2014, recebeu o Prêmio Aquisição Centro Cultural São Paulo pela exposição “Sintomas e Efeitos Secundários da Sintonia”.
Fernando Zarif na Luciana Brito, São Paulo
A mostra reúne cerca de 15 obras que revelam a importância do desenho em seu processo artístico.
Falecido em 2010, o artista tem sua múltipla produção recuperada e catalogada desde 2011 pelo Projeto Fernando Zarif
A Luciana Brito Galeria apresenta de 19 de setembro a 31 de outubro de 2015 a exposição “Antes de começar termino”, de Fernando Zarif (1960 – 2010). Primeira individual do artista paulistano na galeria, a mostra serve como porta de entrada para explorar seu complexo corpo de trabalho, ainda pouco conhecido no país principalmente pela relutância do próprio Zarif em divulgar sua obra.
Contemporâneo da chamada geração 1980, ele construiu um acervo a contrapelo das tendências de sua época, marcada pela profissionalização do mercado e um circuito cada vez mais institucionalizado das artes. De maneira independente, Zarif produziu não apenas em diversos suportes, mas também em diferentes campos culturais. Criou pinturas, esculturas, desenhos, fotografias, performances, concertos, capas de discos, óperas, músicas e videoinstalações.
Composta por cerca de 15 obras, a exposição “Antes de começar termino”– título que advém de um dos inúmeros escritos do artista – traz um recorte da produção de Zarif delimitada por um olhar particularmente sensível à relevância do desenho em seu processo artístico e às inúmeras formas que esse desenhar assumia.
De acordo com o artista plástico José Resende, no livro Fernando Zarif – uma obra a contrapelo (Metalivros, 2014), “o cerne de sua produção se situa aí, sobretudo no desenho que desenvolve como pintura, colagem, objeto, ou seja, manifesta sua forma de ser, compreender e se relacionar com o mundo”.
PROJETO FERNANDO ZARIF E PARCERIA LUCIANA BRITO GALERIA
Fernando Zarif teve seu trabalho ofuscado, de certa forma, pela força de sua persona. A personalidade magnética e a influência que exerceu sobre artistas, músicos, atores, poetas e jornalistas de sua geração o fizeram mais conhecido do que sua obra, que ele preferia esconder do público e até de amigos e familiares.
Desde seu falecimento, sua extensa produção tem ganhado cada vez mais visibilidade graças à atuação do Projeto Fernando Zarif, que foi fundado por sua família em 2011 e desde então vem restaurando e catalogando suas obras. Com o objetivo de contribuir para a difusão do legado do artista, a Luciana Brito Galeria é parceira do projeto e representante do seu espólio desde 2014.
Com esta exposição, a galeria e o projeto pretendem oferecer ao público a oportunidade de entrar em contato com um recorte dessa produção ampla e plural, ainda pouco exibida se levarmos em consideração a relevância e o volume da obra de Zarif, que teve nove individuais em vida. Além da mostra na galeria, outros trabalhos podem ser vistos no projeto, que recebe visitas com agendamento.
ARTISTA MULTIDISCIPLINAR
Tanto o desejo de um fazer livre e autêntico quanto a vocação multidisciplinar de Fernando Zarif já eram evidentes em seus anos de formação, quando abandonou a faculdade de arquitetura para frequentar cursos livres e aulas particulares, como de fotografia, pintura e cinema. Entre seus mentores, destacam-se o poeta Décio Pignatari, expoente do Concretismo no Brasil, e o compositor Hans-Joachim Koellreutter.
Em 1982, realizou sua primeira exposição individual, no Gabinete Fotográfico, na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Em 1983, apresentou performances no MASP e videoinstalação no MIS (Museu da Imagem e do Som). Nos anos seguintes, realizou performances, mostras e projetos musicais em locais como Sesc Pompeia, Paço das Artes e Centro Cutural São Paulo. De 1989 a 1997, teve diversas coletivas e também individuais, como no MAM do Rio de Janeiro. Em 1998, apresentou uma grande exposição na Maison Des Arts André Malraux, na França. Sua última exposição foi uma coletiva do Espaço Tom Jobim, no Rio de Janeiro, em 2009.
Na música, Zarif se destacou por trabalhos com o grupo Titãs. Ele compôs músicas com a banda e criou a capa dos álbuns “Tudo ao Mesmo Tempo Agora” (1991) e “Titanomaquia” (1993), dando também o título para este disco, inspirado na batalha dos Titãs da mitologia grega.
José Carlos Machado na Marcelo Guarnieri, São Paulo
José Carlos Machado apresenta na Galeria Marcelo Guarnieri sua mais recente produção. Na individual, as obras reiteram o trabalho de investigação do artista, marcado pelo equilíbrio e atração entre as formas, o espaço e o movimento.
“José Carlos Machado (Zé Bico) não inventa: descobre. Descobriu que o tempo altera a química das coisas, que o uso de ímãs cria zonas de tensão, que agrupar as peças em duplos/pares propicia contrastes conceituais. E assim, vai dobrando, cortando e enroscando suas peças (sem soldas) em busca de um equilíbrio cada vez mais precário onde o mínimo é o máximo – um achado que confere à sua obra uma insustentável leveza. Amilcar de Castro deu as melhores lições de esculturas ancoradas no chão; José Carlos é um aprendiz aviador, prestes a ocupar o ar enquanto espaço.” – Lisette Lagnado In: Poéticas Atraentes (1989).
José Carlos Machado é um "hábil designer do impossível”. Desde a década de 80 tem se dedicado à pesquisa na escultura sobre as formas geométricas e suas relações com a lei da gravidade. Conhecido pelo uso do ímã, matéria-prima que confere às suas criações a liberdade do movimento, José Carlos Machado apresenta sua recente e inédita produção no próximo dia 19 de setembro (sábado), a partir das 11h, na unidade dos Jardins, em SP, da Galeria Marcelo Guarnieri.
São doze obras, com dimensões variadas, que se configuram como um “ensaio em suspensão”, relacionando as formas com o espaço. Os materiais, que vão desde a madeira, o ferro, o ímã e a fita de aço desafiam às leis da percepção sensorial, como nas obras inspiradas em móbiles, ou que necessitam da força do ar para o movimento ou a flutuação.
Intitulando-se como um “equilibrista”, o artista – ao contrário da sua formação em Arquitetura – não projeta a obra no desenho, tudo nasce, ou melhor, é “descoberto”, por meio da experiência dos materiais e as suas sugestões de formas, e possibilidades de relações com o ato do movimento. Neste exercício de “tentativa e erro”, e percepção da potência do mover-se na matéria bruta, interessa a naturalidade das cores dos materiais, em detrimento da aplicação de outra que não pertence – originalmente – aquela matéria-prima.
Os trabalhos de José Carlos Machado não desafiam somente às leis naturais da percepção, num diálogo com a física, mas abrem uma senda no espaço. Como se fosse uma folha de papel em branco, o artista desenha, traça, coloca em fuga, como numa dança, as linhas geométricas de suas esculturas. Os movimentos que daí derivam contam com o acaso: o encontro de “atração” da força da natureza (a matéria-prima e o ar), e as formas sugeridas pelo artista.
setembro 11, 2015
Zip'Up: Zé Vicente na Zipper, São Paulo
“Pela Rua com Recortes”, primeira individual de Zé Vicente reúne fotografias, esculturas e vídeo
Um projeto iniciado no Instagram que mistura colagem, fotografia e intervenções urbanas é tema da primeira individual do paulistano Zé Vicente na Zipper Galeria, no espaço Zip’Up. Com curadoria de Cauê Alves, a mostra Pela Rua com Recortes reúne um conjunto de 12 fotos, além de assemblages e um vídeo mostrando os trajetos do artista pelas ruas de São Paulo.
Iniciada em 2014, a série é feita a partir de imagens retiradas de livros e revistas. Carregando-as no bolso, Zé Vicente sai pela cidade em busca de cenários para encaixar os recortes e depois fotografar a cena, explorando a questão da escala para sugerir situações improváveis e fictícias. De acordo com o artista, trata-se de uma procura incessante pelos “não lugares, aqueles que quase ninguém vê”. Em uma dessas imagens, por exemplo, dois meninos são vistos em uma espécie de cachoeira que se confunde com as pedras da calçada. Em outra, uma mulher vestindo um collant de bolinhas aparece misturada ao lado exterior de uma janela enferrujada, que lembra um cenário de ruínas. “É um constante diálogo com a rua, um ruído causado por pequenos tesouros incrustados em brechas e buracos”, complementa o artista.
O projeto original que deu origem a série exibida na galeria pode ser visto no perfil do artista no Instagram, @zevicent.
Zé Vicente (1978) vive e trabalha em São Paulo. É bacharel em Artes Plásticas pela UNICAMP e possui mestrado em Poéticas Visuais pela UFRGS. Em 2011, participou da mostra “ColetivaA3”, no Clube Alberta #3, com os ilustradores Adão Iturrusgarai, Daniela Hasse, Andrés Sandoval e Luiza Pannunzio, entre outros. Em 2013, participou de duas exposições internacionais, a coletiva “Utropica”, em Poznan, Polônia, com Regina Silveira, Guto Lacaz, Juliana Kase, Alice Shintani, Eduardo Verderame e Manuela Eichner, com quem exibiu “Vi Teu Nome Num Peixe” na galeria Pony Royal, em Berlim. Em 2014, participou com o fotolivro “Eu Múltiplo” da Feira Plana II no MIS SP e em 2015, com publicação sobre o início de seu projeto “Pela Rua com Recortes”. No mesmo ano, participou, com outros artistas e coletivos, da mostra coletiva organizada por Felipe Morozini por ocasião da Virada Cultural paulistana.
Cauê Alves é professor do Departamento de Arte da Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes da PUC-SP e coordenador do curso de Artes Visuais do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. É mestre e doutor em filosofia pela FFLCH-USP e, desde 2006, curador do Clube de Gravura do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Realizou, entre outras curadorias, “MAM[na]OCA: arte brasileira do acervo do Museu de Arte Moderna de São Paulo” (2006), a mostra “Quase líquido”, Itaú Cultural (2008), “Da Estrutura ao Tempo: Hélio Oiticica” (2009), no Instituto de Arte Contemporânea. É autor do livro “Mira Schendel: avesso do avesso” (Bei Editora/ IAC, 2010) e da mostra homônima. Foi um dos curadores do 32o. Panorama da Arte Brasileira do MAM-SP (2011) e curador-adjunto da 8a Bienal do Mercosul (2011). Fez a cocuradoria de “Para Além do Arquivo” (2012), no Centro Cultural BNB, em Fortaleza e, no mesmo ano, de “Más Allá de la Xilografía”, no Museo de la Solidaridad Salvador Allende, em Santiago, Chile. Integrou a equipe do projeto LAB VERDE: Experimentações Artísticas na Amazônia como curador e orientador (2013). Publicou texto no catálogo da exposição de Mira Schendel na Tate Modern, Londres (2013); Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto, e Pinacoteca do Estado de São Paulo (2014). Foi curador assistente do Pavilhão Brasileiro da 56a Bienal de Veneza (2015).
Estela Sokol na Zipper, São Paulo
“Mastro”, segunda individual de Estela Sokol, reúne esculturas e pinturas que resultam de sua pesquisa sobre a cor no espaço
Em sua nova individual na Zipper Galeria, a artista paulistana Estela Sokol apresenta um conjunto inédito de seis esculturas e oito pinturas nas quais aprofunda sua busca pelo lugar da cor no espaço da arte atual. Com curadoria de Taisa Palhares, a mostra Mastro reúne 14 obras que utilizam combinações incomuns de materiais como plástico sobre tela e tinta sobre pedra.
Mais conhecida por suas esculturas e intervenções na natureza, nas quais reverberam cores fluorescentes, dessa vez a artista faz uso de peças em escala rasteira e com paleta rebaixada. O branco das pedras, seu brilho ou opacidade, ganham evidência, associados a discretos gestos tonais e formas que sugerem um diálogo com a atmosfera das nossas festas de junho.
O desenho de cordões, bandeiras e balões pode ser intuído nas peças que ocupam o chão da galeria. No entanto, aqui, a natureza destes objetos aéreos é subvertida, seu peso de pedra os faz aterrissar e sua alvura e brilho insistem em nos lembrar que seu lugar é alto.
Nas pinturas desta exposição, por sua vez, a luz também tem um papel fundamental, pois é ela que revela a potência cromática dos quadros, realizados a partir da sobreposição de lâminas de diferentes materiais sintéticos, que, por serem mais ou menos translúcidos, permitem que um certo vigor luminoso seja responsável por cada cor que se apresenta. Segundo a curadora, “as peças e pinturas de Estela Sokol, ao recordarem o vocabulário plástico do pintor brasileiro Alfredo Volpi, buscam atualizar a sutileza construtiva e a luminosidade das cores volpianas como valores contemporâneos. E o mais surpreendente é que isso se dá pela combinação inusual de materiais que remetem tanto ao mundo da artesania e da tradição artística quanto à assepsia da produção industrial”.
Estela Sokol (1979) vive e trabalha em São Paulo. Nos últimos anos, realizou exposições individuais em lugares como Museu da Taipa, (Macau, China), Gallery 32 (Londres, Inglaterra), Galerie Wuensch (Linz, Áustria), Anita Schwartz Galeria de Arte (Rio de Janeiro, Brasil) Participou de mostras coletivas como “Prometheus Fecit” (2014), no Museu Nacional de Soares dos Reis, em Porto, Portugal; e “Além do Ponto e da Linha” (2013), no MAC-USP, São Paulo, “III Bienal del Fin del Mundo. (Ushuaia, Argentina), “16º Bienal de Cerveira”, (Cerveira, Portugal), “Light Art Biennalle” (Linz, Austria) e “Nova Arte Nova” no Centro Cultural Banco do Brasil (São Paulo, Brasil). Ainda em Setembro, participa de duas mostras de escultura no Rio de Janeiro, a “Bienal Tridimensional Internacional” (2015), no Museu Histórico Nacional e “Intervenções Urbanas Bradesco ArtRio”, no Museu da República.
Taisa Palhares é curadora, crítica de arte e professora de Estética do Departamento de Filosofia da UNICAMP. Atuou como pesquisadora e curadora na Pinacoteca do Estado de São Paulo de 2003 a 2015, onde trabalhou em diversos projetos, dentre eles, as retrospectivas dos artistas Antonio Lizárraga, Paulo Monteiro, Lygia Pape, Mira Schendel e Nelson Felix. Foi co-fundadora e co-editora da revista de crítica de arte número. É autora de artigos sobre filosofia da arte, estética, arte moderna e contemporânea, tendo se dedicado mais especificamente ao estudo da obra do artista brasileiro Alberto da Veiga Guignard e do filósofo alemão Walter Benjamin. Publicou o livro Aura: a crise da arte em Walter Benjamin (São Paulo, Editora Barracuda, 2006).
setembro 7, 2015
Projeto Respiração: Eduardo Berliner na Eva Klabin, Rio de Janeiro
20ª edição do Projeto Respiração, no aniversário de 20 anos da Fundação Eva Klabin
A Fundação Eva Klabin apresenta a partir do dia 10 de setembro a exposição Eduardo Berliner – A presença da ausência, 20ª edição do Projeto Respiração, com curadoria de Marcio Doctors. A exposição integra a programação comemorativa do 20º aniversário da Fundação Eva Klabin.
Eduardo Berliner é o primeiro pintor convidado pelo curador para participar do Projeto Respiração, que desde 2004 já trouxe outros 23 artistas para fazerem intervenções na casa-museu da Lagoa, Zona Sul do Rio de Janeiro. “Parecia-me natural não convidar pintores devido às características da Fundação Eva Klabin, que tem suas paredes totalmente preenchidas pela Coleção, não sobrando espaço físico para absorver mais pinturas. E, por isso, tornou-se mais lógico trabalhar com instalações”. A principal razão que motivou Doctors a quebrar a sequência de instalações e convidar Berliner foi a qualidade da sua pintura, que mobilizou a percepção do curador. “Acreditei que deveria dar atenção a minha intuição, e pensei que a experiência de um pintor participar do Respiração seria uma contribuição importante para o Projeto”. “Nenhum artista conseguiu se aproximar tão intensamente da história das imagens que é apresentada pela Coleção”, afirma Marcio Doctors. (ler texto curatorial)
Nascido em 1978, no Rio de Janeiro, o pintor e desenhista Eduardo Berliner destaca que trabalhar no espaço da Fundação Eva Klabin “oferece um problema interessante, pois, diferentemente de outros lugares, ali não se pode partir da estaca zero, uma vez que os trabalhos serão apresentados em contato com o acervo permanente”. Seu ponto de partida então foi se dar “ao direito de simplesmente andar pelo espaço”. Durante vários meses ele fez seguidas visitas à casa-museu, observando a Coleção, sem se preocupar com a importância desta ou daquela obra, e sim deixando o olhar passear de um objeto a outro, “coisas pequenas, detalhes”. Para se familiarizar com o ambiente, ele desenhava o que estava vendo.
A cada visita à Fundação Eva Klabin, peças diferentes lhe chamavam a atenção. “Deixei meu pensamento flutuar para um lugar mais distante, quando não tinha certeza para onde andar, e voltava à casa para novas observações. Percebi que gradualmente meus trabalhos acabavam espalhando-se pelo espaço”. “Tentei absorver parte do imaginário do lugar e acabei reconfigurando o repertório do acervo e da arquitetura em minhas próprias narrativas, cruzando minhas memórias com a da própria casa”, conta. Sua preocupação não era “a imagem das coisas em si, e sim a atmosfera”.
VELUDOS, ÁGUA SANITÁRIA E BIOMBOS
Chamou a atenção do artista o fato de haver muitas tapeçarias, “quase uma decisão museológica de Eva Klabin”. Na Sala Renascença, ele logo percebeu a presença dos veludos, nos forramentos, nas molduras, e o missal, com o veludo corroído pelo tempo, lhe pareceu uma pintura, e esta ideia – o veludo como representação da casa, associado à ação do tempo – permaneceu em sua cabeça. A partir daí fez uma série de experimentos em seu ateliê, usando água sanitária sobre veludo. “O uso da água sanitária foi uma tentativa de desenhar com manchas”, explica. “Não pensamos em produtos de limpeza quando estamos diante daquelas obras, mas estes também fazem parte de uma casa. O ato de deixar manchas seria uma forma de falar sobre memória”. Entretanto ele não quis se limitar a desenhar no veludo com a substância cáustica, e sim desejou que “o repertório formal viesse do conteúdo da casa”. Adquiriu três cadeiras revestidas com tecido, “que poderiam dialogar com as peças da casa-museu”, e esgarçou o estofamento com um estilete. O aparecimento do enchimento acabou por falar da memória do próprio material, e possibilitou “outro tipo de matéria para desenhar”. O veludo trabalhado com água sanitária estará presente nesses trabalhos com as cadeiras e também, sem chassis, “em uma relação com os tapetes, tapeçarias e cortinas”.
Eduardo Berliner construiu ainda vários biombos, com madeiras revestidas por seda – “material mais liso do que a lona normalmente utilizada em minhas pinturas” – que tratou para poder receber a tinta a óleo. Desta forma, usou um objeto normalmente associado ao ambiente doméstico (o biombo), como suporte para suas pinturas e desenhos. “Este tipo de estrutura oferece uma outra possibilidade de suporte evitando a parede já ocupada em grande parte por pinturas pertencentes ao acervo”.
“O processo, através do contato com os materiais, conta uma história que se sobrepõe a minha. Não podia prever o que aconteceria, no entanto, confiava que lentamente os trabalhos começariam a dialogar entre si e com o espaço”, afirma. Ele criou ainda pinturas em vários formatos, “umas com uma quantidade maior de óleo, outras mais diluídas”.
BICHOS, CARANGUEJOS E CARPAS
O cartão de tapeçaria “Meninos pescando”, do italiano Giovanni Francesco Romanelli (1610-1622), que fica na parede em frente à cama da colecionadora, no Quarto de Dormir, causou especial interesse em Eduardo Berliner. Um caranguejo que morde o dedo de uma criança, imagem que é um detalhe em um canto desta peça, chamou a atenção do artista, que construiu “várias narrativas a partir disso”. Berliner diz que a presença de peixes neste trabalho assim como na escultura de uma carpa com figuras humanas em tamanho reduzido, montadas em seu dorso, o levou a pensar não só em naturezas mortas com peixes realizadas ao longo da história da arte, mas também em um desenho de Brügel” (“Peixe grande come peixe pequeno”, de 1557). A partir daí ele pintou a sua natureza morta. No entanto esta pintura, apesar de autônoma, funciona como ligação entre diferentes espaços físicos da casa através da relação com assuntos análogos encontrados no acervo, assim como no lago de carpas, presente no jardim da casa, projetado por Burle Marx. Também localizado no quarto de dormir da colecionadora, o tapete persa Tabriz causou especial interesse em Eduardo Berliner. “Achei muito bonita a representação dos bichos nesta cena de caça, alternando violência e delicadeza. Me interessa também a planaridade deste tipo de representação com suas pequenas figuras preenchidas com chapadas de cor”.
SOBRE O PROJETO RESPIRAÇÃO
O Projeto Respiração constrói uma ponte entre a arte contemporânea e o acervo de arte clássica da Fundação Eva Klabin, que cobre 50 séculos de história da arte. Artistas contemporâneos são convidados a criar intervenções especialmente para o espaço da casa, estabelecendo relações com as peças do rico acervo. Já participaram do projeto, em edições anteriores, os artistas Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Brígida Baltar, Carlito Carvalhosa, Chelpa Ferro (Luiz Zerbini, Barrão e Sergio Mekler), Claudia Bakker, Daniela Thomas, Enrica Bernardelli, Ernesto Neto, João Modé, José Bechara, José Damasceno, Laura Lima, Lílian Zaremba, Marcos Chaves, Maria Nepomuceno, Marta Jourdan, Nelson Leirner, Nuno Ramos, Paulo Vivacqua, Rosângela Rennó, Sara Ramo, e os portugueses Daniel Blaufuks e Rui Chafes.
A COLEÇÃO
A Fundação Eva Klabin possui um acervo com obras que remontam do Egito Antigo ao Impressionismo. As obras de arte, divididas por núcleos pelos espaços da casa, refletem a paixão da colecionadora Eva Klabin (São Paulo,1903-Rio de Janeiro,1991), que reuniu um dos mais importantes acervos de arte clássica dos museus brasileiros, com mais de duas mil peças, oriundas de quatro continentes e abrangendo quase cinquenta séculos, do Egito Antigo ao Impressionismo. Um dos destaques da exposição são as pinturas holandesas e flamengas do século XVII, o “século de ouro da Holanda”, de artistas como Govaert Flinck, Gerard Ter Borch, Willem Dubois, Herman Nauwincx, Hercule Seghers e Philips Wouwerman. A coleção inglesa reúne o “Retrato de Lady Jane Grey”, de anônimo, do século XVI, a obras do século XVIII, de Thomas Lawrence, Lemuel Francis Abbot, George Romney, John Hoppner, e as atribuídas a Thomas Gainsborough e Joshua Reynolds. A coleção tem preciosidades da arte italiana dos períodos Renascentista e Barroco, com pinturas e esculturas de grandes mestres como Tintoretto, Bernardo Strozzi, Lucca e Andrea della Robbia, Benedetto da Maiano e Boticelli, entre outros.
setembro 5, 2015
Matias Brotas lança Clube do Colecionador na ARTRio
A 3ª edição do Clube do Colecionador da Matias Brotas Arte Contemporânea ganha novo fôlego na medida em que avança com grande aceitação do público. Esta edição será lançada, dia 9 de setembro, às 17h, no stand da galeria na ArtRio Fair. Os artistas selecionados foram Vanderlei Lopes (escultura em bronze), Lara Felipe (desenho), Mai-Britt Wolthers (serigrafia) e Antonio Bokel (escultura).
O carioca Antônio Bokel, indicado ao PIPA 2015 e com obras nas maiores coleções brasileiras como a de Gilberto Chateubriand , BGA Investimentos e no acervo do MAM, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, criou para a 3ª edição do clube uma escultura: uma caveira em bronze e spray sobre espelho chamada “Vai Idade”. “Esse trabalho é uma versão contemporânea do mito do Narciso, misturado com a poesia concreta de Augusto de Campos no jogo de palavras Vai-idade. É um trabalho poético e mitológico ao mesmo tempo, uma ideia simples, mas com muito significado”, explica o artista.
Bokel realizou a sua primeira exposição individual em 2003, na Ken’s Art Gallery, em Florença, Italia, onde residiu e fez cursos de fotografia e história da arte. No Rio de Janeiro, teve aulas de modelo vivo com Bandeira de Mello e fez cursos de pintura, com João Magalhães, e de arte, com Luiz Ernesto, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro. Ao longo das duas últimas décadas, tem apresentado seu trabalho no Brasil e no exterior, em galerias e em intervenções urbanas, fazendo a ponte entre a arte de Rua e a arte contemporânea. Seu trabalho já foi publicado nas revistas brasileiras Zupi, Vizoo e Santa, e na espanhola Rojo.
O artista paulista Vanderlei Lopes, traz para o clube uma versão de sua escultura “ralo”, em bronze polido. Segundo o artista, esta obra ‘ralo’ refere-se e problematiza noções tradicionais da escultura, por meio de sua materialidade ou de sua aderência ao chão. “O bronze aqui alude a seu estado transitório, incandescente e líquido e seu tratamento polido, espelhado reflete o ambiente entorno da poça representada a ser drenada”, explica.
Vanderlei já realizou diversas coletivas pelo Brasil e no exterior como Argentina e Estados Unidos, e foi indicado duas vezes ao PIPA, em 2012 e 2014. Suas obras estão em coleções da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Coleção Itaú, Gilberto Chateaubriand, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Ele constrói seu trabalho na intersecção das diversas linguagens que emprega, como desenhos, esculturas e vídeos. Por meio de uma observação do mundo e de um sentido experimental, opera sobreposições de temporalidades e espaços diversos em que tradição da cultura e transitoriedade se confluem na construção da experiência em seu trabalho.
Já a artista dinamarquesa, Mai-Britt Wolthers, criou para o clube uma gravura em metal. Ao falar sobre sua obra produzida para o clube, Mai-Britti destaca o interesse em trabalhar com a massa e a linha na mesma matriz. "Existe um duelo e ao mesmo tempo uma complementação entre a massa e a linha nesta gravura e fica claro que uma pequena linha sozinha no vazio (como a linha menor na parte direita da gravura) pode ganhar a cena toda”, explica.
Morando no Brasil desde os anos 80, Mai-Britti com suas longas pinceladas coloridas expande sua obra em direção à abstração, num constante trabalho focado na experiência do processo. Realizou diversas exposições individuais, dentre elas, a exposição “Hileia” no Centro Cultural dos Correios em 2010 e “Equações” no Centro Cultural São Paulo 2014, e foi selecionada para a Bienal Nacional de Santos em 2006 e XI Bienal do Recôncavo em 2011. Ela possui trabalhos no acervo da Prefeitura Municipal de Gribskov – Dinamarca, Centro Cultural dos Correios - Rio de Janeiro, Museu de Arte Contemporânea - Campo Grande e Instituto Figueiredo Ferraz - São Paulo.
Fechando a seleção de artistas, a capixaba Lara Felipe, que encerrou este mês de agosto sua individual “O Peso exato dessa Leveza” na Matias Brotas, traz para esta edição do clube do colecionador a obra ‘Domitila’, um desenho em técnica mista com colagem e aquarela. "A obra carrega em si parte de minha memória pessoal e afetiva. Domitila significa aquela que ama a sua casa”, explica a artista.
Lara Felipe, que atualmente vive no Arizona, Estados Unidos, participou de exposições de arte e design no Brasil e na América Latina, e já recebeu prêmios como designer e artista plástica, sendo mais importante o Prêmio Phillips de Arte para Jovens Talentos no Brasil e América Latina. A artista possui obras no acervo da Galeria da UFES e já participou de coletivas em outros estados com artistas renomados como José Bechara, Manfredo de Souzanetto, Amilcar de Castro. Em setemebro, Lara participa de uma exposição no distrito de Wynwood, em Miami e, também se prepara para participar da Trio Bienal Internacional do Rio.
SOBRE O CLUBE
A #3 edição do Clube do Colecionador da Matias Brotas Arte Contemporânea será lançada na ArtRio no stand V13 da Galeria, localizado no Armazén 4, contará com obras dos artistas Vanderlei Lopes (bronze polido), Lara Felipe (desenho), Mai-Britt Wolthers (serigrafia) e Antonio Bokel (escultura).
Serão 40 participantes que receberão as obras trimestralmente e poderão adquirir sua cota diretamente do hotsite (www.matiasbrotas.com.br/clubecolecionador). Além de receber os convites para participar das vernissages e eventos da galeria, o colecionador receberá o cartão fidelidade do Clube do Colecionador, que confere benefícios exclusivos em estabelecimentos parceiros.
Ao final de cada edição, cumprindo com o objetivo principal de aproximar o público da arte contemporânea, do artista e de sua produção, a Matias Brotas promove um encerramento do Clube, onde os colecionadores poderão conhecer um pouco mais sobre as obras e terão a oportunidade de dialogar com os artistas.
Programa Curador Visitante: Quarta-feira de cinzas na EAV Parque Lage, Rio de Janeiro
Exposição reúne cerca de quarenta trabalhos de 27 artistas, brasileiros e estrangeiros, para refletir sobre a época pós-utópica, como um pós-carnaval.
A Escola de Artes Visuais do Parque Lage inaugura no próximo dia 8 de setembro de 2015, às 20h, a exposição Quarta-feira de cinzas, com curadoria de Luisa Duarte (ler texto de parede), a terceira do programa Curador Visitante, criado este ano.
A convite de Lisette Lagnado, diretora da EAV Parque Lage, Luisa Duarte levou para a instituição a pesquisa a que se dedica nos últimos anos, em que discute “as consequências de uma época pós-utópica; a aceleração do tempo e a perda da experiência, e a ruína como símbolo de uma época inconclusa e uma imagem potente para novas construções”, entre outras questões.
Para refletir sobre “o pós-carnaval, momento de parada, onde a festa acabou e, no lugar da euforia, entra uma tonalidade afetiva de caráter melancólico, em que a esperança se dispersa”, a curadora reuniu cerca de quarenta obras de vinte e dois artistas – a maioria dos quais acompanha há mais de dez anos –, e ainda trabalhos de cinco estudantes da EAV Parque Lage, condição do programa Curador Visitante. O título “Quarta-feira de cinzas” é retirado do filme homônimo feito em 2006 por Cao Guimarães (1965, Belo Horizonte) e Rivane Neuenschwander (1967, Belo Horizonte), que embora não esteja na exposição, “por ser uma obra já muito vista”, “surge como uma origem importante do pensamento aqui desenvolvido”, conta a curadora. A curadora selecionou para a exposição na EAV Parque Lage outros trabalhos, individuais, dos dois artistas. Outra inspiração para o processo conceitual da mostra foi o artista Leonilson (1957-1993), que em 1989, ano da queda do Muro de Berlim, inscreveu em dois trabalhos: “Leo não consegue mudar o mundo” e “Leo can’t change the world”. Luisa Duarte salienta que entre “conseguir” e “poder”, outra versão possível para “can’t”, a frase “denuncia sua impotência política”.
O critério de escolha das obras foi resultado de visitas aos ateliês e conversas com os artistas. Entretanto, alguns trabalhos foram especificamente buscados, como “Construção de Brasília”, fotografia de 1965 de Claudia Andujar (1931, Neuchâtel, Suíça, radicada em São Paulo). Matheus Rocha Pitta (1980, Tiradentes, Minas) criou especialmente para a exposição a instalação “Mão no fogo”, em que dispõe recortes de jornal colecionados por ele há cinco anos, na Gruta, localizada na área verde do Parque Lage. Integrarão a exposição uma videoinstalação feita em conjunto pelos cineastas Karim Aïnouz (1966, Fortaleza) e Armando Praça (1978, Aracati, Ceará).
Os demais artistas que terão obras em “Quarta-feira de cinzas” são Adriano Costa (1975, São Paulo), André Komatsu (1978, São Paulo), Carlos Garaicoa (1967, Havana), Cinthia Marcelle (1974, Belo Horizonte), Clara Ianni (1987, São Paulo), Deyson Gilbert (1985, São José do Egito, Pernambuco), Jorge Macchi (1963, Buenos Aires), Laercio Redondo (1967, Paranavaí, Paraná), Lais Myrrha (1974, Belo Horizonte), Marcelo Cidade (1979, São Paulo), Marilá Dardot (1973, Belo Horizonte), Mauro Restiffe (1970, São José do Rio Pardo, São Paulo), Miguel Rio Branco (1946, Las Palmas de Gran Canaria, Espanha, vive no Rio de Janeiro), Nicolás Robbio (1975, Mar del Plata, Argentina, radicado em São Paulo), Rosangela Rennó (1962, Belo Horizonte) e Sara Ramo (1975, Madri, radicada em Belo Horizonte).
Os estudantes com trabalhos na exposição são Felipe Braga (1982, Rio de Janeiro), Julia Pombo, Juliette Yu-Ming, Manoela Medeiros – que já havia participado da curadoria anterior de Bernardo José de Souza, a segunda exposição do Programa Curador Visitante –e Romain Dumesnil. O assistente de curadoria é Victor Gorgulho.
Um jornal em formato tabloide, com distribuição gratuita, acompanhará a exposição “Quarta-feira de cinzas”, com uma entrevista de Luisa Duarte para Lisette Lagnado.
DELICADEZA X BARBÁRIE
Luisa Duarte observa que todos os trabalhos expostos trazem uma certa delicadeza, como “uma resposta à brutalidade, à barbárie que acomete a vida cotidiana”. “A delicadeza não é inerente aos humanos. Os humanos são naturalmente bárbaros. A delicadeza é uma capacidade que cultivamos para exercer e viver no mundo de maneira melhor. É uma construção. E as obras de arte podem deflagrar processos de percepções mais delicadas, agudas e sensíveis, e a partir disso quem sabe mudar alguma coisa, não importa a escala, ainda que seja minimamente”, destaca. “A delicadeza é uma via para se construir vínculos de uma outra natureza, um mundo possível, não mais aquele mundo impossível, utópico”. Ela localiza em 1979 e 1980 o fim das utopias dos anos 1960 e 70, “com a entrada em cena do neoliberalismo de Margareth Thatcher e Ronald Reagan”. “Esta é a grande barbárie, a do capital, e, como diz o [filósofo italiano] Agamben, Deus não morreu, ele virou o dinheiro”.
Os trabalhos na exposição apontam para questões do interesse de Luisa Duarte, como a ideia de “tempo circular”, “que não anda nem pra frente e nem pra trás”, presente no redemoinho provocado na obra “Água suja” (2015), de André Komatsu. “Octavio Paz tem uma expressão de que gosto muito, de que vivemos em uma ‘frenética imobilidade’, pois parece que a gente corre, corre, e não sai do lugar”, comenta. “A ideia de progresso, que tanto alimentou a modernidade, cai por terra. É um girar em círculos”. “Na modernidade se construía uma linha reta, sabia-se o que ia fazer, o conselho das gerações anteriores valia, você aprendia com seus pais: vou virar médico, engenheiro. Hoje em dia as coisas se esgarçaram, demandam muito mais emocionalmente da gente”. “Se existe uma certeza na contemporaneidade é a incerteza. Pisamos em um solo escorregadio, onde os parâmetros se diluíram, a tradição terminou, o futuro nunca chega, não existe mais uma linha reta”, diz. “A contemporaneidade acolhe a dúvida, a incerteza”.
Luisa Duarte cita a expressão “niilismo ativo”, do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, para destacar a “crítica que não paralisa, que contém uma ação por vir, que leva em conta as ruínas, toma partido da delicadeza, no mínimo pede um olhar mais paciente, menos acelerado”. “É muito importante para mim a ideia de como construir um novo mundo por vir a partir das ruínas, do que já está dado, ao invés de fazer tábula rasa, que é um exercício tipicamente moderno, e Brasília é um exemplo cabal disso”. Duas fotografias de Carlos Garaicoa, “Hospital baleado” (1996) e “Hueco con cielo” (1996) remetem à ideia de construção a partir das ruínas. “É uma crítica à questão do progresso e, de uma maneira mais delicada, da fragilidade humana”. Ela menciona o escritor Jorge Luis Borges, para quem “é preciso edificar cada dia como se fosse pedra, mesmo sabendo que se trata de areia”. O trabalho de Adriano Costa “Progress Regress / cidade rapadura” (2014), com tijolos e areia, nos lembra com delicadeza desta possibilidade de construção.
PERFORMANCES E CONVERSAS ABERTAS AO PÚBLICO (ver programação abaixo)
Em torno da exposição haverá na EAV Parque Lage uma programação com performances, Cine Lage, e conversas abertas. No dia 21 de setembro, às 19h, o artista Matheus Rocha Pitta conversará sobre seu trabalho no espaço ao lado da Gruta. E no dia 30 de outubro, também às 19h, no Salão Nobre, a psicanalista e ensaísta Maria Rita Kehl irá falar sobre “Aceleração e depressão”. A programação completa estará no site www.eavparquelage.rj.gov.br.
Luisa Duarte nasceu no Rio de Janeiro em 1979. Vive entre Rio e São Paulo. É crítica de arte e curadora independente. Mestre em filosofia pela PUC-SP. Doutoranda no Instituto de Artes da UERJ (2015). É crítica de arte do jornal “O Globo” desde 2010. É coordenadora do núcleo significativo sobre Walter Benjamin da Biblioteca do MAR – Museu de Arte do Rio de Janeiro (2015/2016). Integrou o Conselho Consultivo do MAM-SP (2009-2013). Foi professora da graduação em artes visuais da Faculdade Santa Marcelina (2009/2010). Foi curadora da exposição coletiva “Um outro lugar”, realizada no MAM-SP, 2011. Foi coordenadora geral do ciclo de conferências "A Bienal de São Paulo e o Meio Artístico Brasileiro – Memória e Projeção", plataforma de debates da 28ª Bienal Internacional de São Paulo, "Em vivo Contato", 2008. Foi curadora do Rumos Artes Visuais, Instituto Itaú Cultural, 2005/ 2006. Organizou, em dupla com Adriano Pedrosa, o livro “ABC – Arte Brasileira Contemporânea” (Cosac & Naify, 2014).
CURADOR VISITANTE
O programa Curador Visitante consiste em convidar curadores residentes no Rio e atuantes no circuito da arte, para que acompanhem a produção dos estudantes da EAV e realizem uma exposição mesclando seus trabalhos com o de artistas já reconhecidos. “Ao convidar agentes do sistema da arte – críticos, escritores e curadores – a fazerem curadorias experimentais nos espaços do Parque Lage, o programa Curador Visitante garante uma fluidez entre o período de aprendizado e a inserção profissional dos alunos, e ao mesmo tempo oferece a esses curadores a possibilidade de exercer um trabalho piloto, de caráter experimental, inserido em âmbito educativo”, diz Lisette Lagnado, diretora da EAV Parque Lage. Ela ressalta que o programa reafirma a EAV “como laboratório de prática e reflexão curatorial para profissionais em início de carreira”. A exposição inaugural foi “Encruzilhada”, com curadoria de Bernardo Mosqueira. Após “A Mão Negativa”, com curadoria de Bernardo de Souza, os demais curadores visitantes de 2015 serão Daniela Labra e Marta Mestre. Os curadores de 2016 já estão sendo convidados e serão anunciados em breve.
PROGRAMAÇÃO
Entrada gratuita
21 de setembro, segunda-feira, às 19h, ao lado da Gruta, na área verde
Conversa com Matheus Rocha Pitta
24 de setembro, quinta-feira, a partir de 18h, em torno do Palacete
Performances "Deslocamento de paisagem", de Manoela Medeiros, e "Entre o que se faz e o que se pode fazer (Ação 5)”, de Julia Pombo
24 de setembro, quinta-feira, às 19h, no jardim, junto ao Chafariz
Cine Lage, com exibição dos filmes:
"Brasília: contradições de uma cidade nova" (1967, 22'), de Joaquim Pedro de Andrade. Filmado sete anos após a inauguração de Brasília, o filme questiona se uma cidade planejada, símbolo do desenvolvimento nacional da época, reproduziria a desigualdade social presente nas metrópoles brasileiras. O documentário de Joaquim Pedro de Andrade se propõe a mostrar a distância entre um projeto arquitetônico e a vida das pessoas que o materializam.
"Nada levarei quando morrer, Aqueles que me devem cobrarei no Inferno" (1981, 19'), de Miguel Rio Branco
Sinopse: Montado em 1985, a partir de imagens da série “Maciel” (1979) e de tomadas também feitas no Pelourinho, o filme foi exibido inicialmente no circuito de festivais de cinema. Nestas imagens, vemos a resistência da organização social e dos valores afetivos, mas também do erotismo, em meio ao cenário de ruína desta região de Salvador. As cenas revelam uma intensa relação entre retratista e retratados, aproximando documentário e ficção, realidade e fantasia.
"Limbo" (2011, 17'), de Cao Guimarães,
"Paradox of Praxis 1 (Sometimes making something leads to nothing)" (1997, 5'), de Francis Alÿs
27 de outubro, terça-feira, às 19h, no Salão Nobre
Conversa entre a curadora Luisa Duarte e Lisette Lagnado, diretora da EAV Parque Lage, com a participação da artista Rosangela Rennó, que integra a exposição “Quarta-feira de cinzas”.
30 de outubro, sexta-feira, às 19h, no Salão Nobre
Conferência da psicanalista e ensaísta Maria Rita Kehl, com o tema “Aceleração e depressão”
5 de novembro, quinta-feira, das 19h às 23h, no Pátio da Piscina
Celebração de encerramento da exposição
Robert Kelly na Mercedes Viegas, Rio de Janeiro
A galeria Mercedes Viegas Arte Contemporânea tem o prazer de apresentar a obra do artista norte-americano Robert Kelly. Nascido em Santa Fé, Novo México, em 1956, Kelly é formado em Artes pela Harvard University. Reside e trabalha em Nova York e realiza exposições individuais nos mais diversos centros de arte ao redor do mundo desde 1982. Agora, em sua primeira exposição individual no Brasil - From Here To There, apresenta seus novos trabalhos ao público do Rio de Janeiro. São em torno de 20 obras, produzidas recentemente, com dimensões variadas. Os trabalhos são em óleo e técnica mista sobre tela ou painel, além de alguns desenhos, sendo a maioria dos trabalhos reproduzidos no catálogo que acompanha a exposição.
As obras de Robert Kelly se inscrevem na ampla tradição construtiva moderna. O holandês Piet Mondrian, do De Stijl e o suprematista russo Kazimir Malevich, além dos artistas e professores da Bauhaus, no que poderíamos chamar de a primeira grande geração de artistas construtivistas. Igualmente importantes são artistas que gravitam, com maior ou menor proximidade, à volta do núcleo construtivista: o escultor romeno Constantin Brancusi, o pintor uruguaio Joaquin Torres-Garcia, o escultor americano Alexander Calder, além de Tony Smith, Ellsworth Kelly e Myron Stout, os modernos alemães Kurt Schwitters e Hans Arp e o contemporâneo Blinky Palermo.
Mais recentemente, a partir dos anos 1990, quando sua produção artística já estava bem consolidada, Kelly travou contato e se aproximou da obra de alguns dos nossos principais artistas construtivos e neoconcretos, notadamente Sergio Camargo, Lygia Clark e Hélio Oiticica. Não obstante o contato tardio, a influência das obras dos artistas brasileiros se faz notar pela convergência dos processos de construção das formas. Kelly afirma: “eu não quero pintar algo, eu quero deixar a pintura ser ela mesma”.
Por vezes o processo se torna perceptível na maneira como as formas de uma obra anterior geram descendências. Formas que nascem de outras formas, em uma série de variações que se auto engendram. “Não quero me ver tanto nas pinturas”, declara ele, “tanto quanto quero que as pinturas assumam sua própria autoridade”.
As obras de Robert Kelly fazem parte das coleções de alguns dos museus e instituições culturais mais prestigiosos da Europa e dos Estados Unidos, entre eles: The Whitney Museum of American Art, New York, NY; The Brooklyn Museum, Brooklyn, NY; The Museum of Fine Arts, Santa Fe, NM; Milwaukee Art Museum, Milwaukee, WI; Smith College Art Museum, Northampton, MA; Jane Voorhees Zimmerli Art Museum, Rutger’s University, NJ; Montgomery Museum of Fine Arts, Montgomery; The Fogg Museum, Cambridge, MA; The Margulies Collection, Miami, FL; and the McNay Art Museum, San Antonio, TX.
Na feira ArtRio 2015, entre os dias 9 e 13 de setembro, o trabalho de Robert Kelly está também presente, pelo segundo ano consecutivo, no stand da galeria Mercedes Viegas, no Píer Mauá, stand E8, armazém 2.
Robert Kelly (Estados Unidos, 1956) é um pintor Americano. Nascido em Santa Fé, Novo México, Kelly recebeu seu Bacharelado em Artes em 1978 pela Universidade de Harvard - Cambridge, MA. Influenciado pelo movimento De Stijl, Kazimir Malevich (Pintor Russo/Ucraniano, 1878–1935), Piet Mondrian (Holandês, 1872–1944) e modernistas como Kurt Schwitters (Alemão, 1887–1948), Kelly cita também artistas como Louise Bourgeois (Francesa-Americana, 1911–2010), Hans Arp (Francês, 1886–1966) e Ellsworth Kelly (Americano, b.1923). Nesse período Kelly começou a trabalhar para Polaroid em Cambridge; e também participou de residências no The MacDowell Colony e na Fundação de Károlyi em Vence, França. Então, em 1982, ele decidiu seguir uma carreira exclusivamente na pintura.
O trabalho de Kelly investiga a idéia de duplicidade através de imagens que refletem, opõe-se ou imitam umas as outras. Ele compara seu método de trabalho com a prática de um masom ao construir um muro: Joga com as bordas, ângulos e cortes criando uma tensão e uma lógica intuitiva para a colocação de linha e forma. Kelly encontrou inspiração ao viajar por todo os Estados Unidos, Europa, norte da África e Nepal. Suas obras frequentemente incorporam materiais incomuns encontrados durante suas viagens, tais como posters vintage ou impresso de papéis antigos, para criar colagens com pigmentos saturados.
Kelly realizou exposições individuais no mundo inteiro, inclusive no Spazio BiancoAR Arte Contemporânea em Milão, Itália, Leslie Feely Fine Art, em Nova York, NY, John Berggruen Gallery, em San Francisco, CA e Linda Durham em Santa Fé, Novo México. Suas obras fazem parte de coleções públicas no Museu Whitney em Nova York, NY, o Fogg Museum em Cambridge, MA, o Brooklyn Museum, NY e o McNay Art Museum em San Antonio, TX.
Kelly atualmente vive e trabalha em Nova York e Santa Fe, Novo México.
Wanda Pimentel na Anita Schwartz, Rio de Janeiro
Anita Schwartz Galeria de Arte faz grande individual com obras da artista carioca, um dos grandes nomes da geração dos anos 1960. Em outubro, ela participará da Frieze Masters, em Londres, que homenageia os “mestres da arte”.
Anita Schwartz Galeria de Arte apresenta, a partir do dia 8 de setembro para convidados e do dia seguinte para o público, a exposição Geometria / Flor, com cerca de 35 obras inéditas da artista carioca Wanda Pimentel (1943).
Com uma importante e reconhecida trajetória artística de quase 50 anos, a artista irá mostrar no grande salão térreo da galeria pinturas da série “Geometria/Flor”, iniciadas há dois anos. Cada uma das pinturas tem uma moldura diferente, que integra o trabalho. Apesar de ser uma série totalmente nova, ela carrega elementos que sempre estiveram presentes em seu trabalho, como as formas geométricas e as famosas escadas, que estão presentes em algumas pinturas. “É como se fosse uma celebração de todas as séries que fiz desde a década de 1960”, conta Wanda Pimentel, ressaltando que sempre trabalha com séries. “Quando termino uma, quero criar algo novo, totalmente diferente, mas uma série sempre carrega elementos das outras”.
Anita Schwartz destaca que este é “um momento de homenagem ao trabalho e à trajetória da Wanda Pimentel”, que em outubro participará da Frieze Masters, no Regent’s Park, em Londres, feira que reúne mestres da história da arte contemporânea, onde mostrará nove pinturas produzidas nos anos 1960.
As obras que estarão na exposição na Anita Schwartz Galeria têm a ver com um processo iniciado pelo artista em 2011, de rever o passado. “Esses trabalhos tem um tom dramático, têm a ver com as minhas memórias, mas, ao mesmo tempo, é uma saudação à vida, rompendo com tudo que já fiz. Vou dissecando lembranças e construindo novas memórias”, afirma a artista. Neste processo, ela partiu em busca de lembranças do pai, açoriano, de natureza muito reservada, que faleceu quando ela tinha 12 anos. Ela atribuiu a esta procura por sua origem o fato de ter incluído o dourado em seus trabalhos. “O manuseio com o dourado é muito difícil. A condução da cor deve seguir uma trajetória do não efeito fácil. O dourado da série relaciono com Portugal, pois é uma cor presente no Barroco, lembrando a celebração da vida”, diz.
“Introduzi nos trabalhos atuais um novo elemento: flores, em tons de branco, vermelho e dourado. Ao olhar o trabalho, você percebe que há um embate entre geometria e natureza, por mais paradoxal que seja”, afirma.
No terceiro andar da galeria estarão os trabalhos iniciais desta fase, que fazem parte da série que ela chamou de “Memória”. Serão três caixas de acrílico, medindo 97cm x 33cm cada, onde a artista coloca desenhos e objetos. Em uma delas há um coração vermelho, cheio de alfinetes, em alusão ao coração de espuma que a sua mãe usava para colocar os alfinetes enquanto costurava. Em outra, há casulos do bicho-da-seda e, na terceira, uma linha e uma tesoura desenhadas, como se esta cortasse o desenho. Junto a esses trabalhos, estarão quatro obras de 1965, que nunca foram expostas. “São desenhos da época que eu era aluna do Ivan Serpa, feitos com caneta esferográfica em folha de papel ofício. Nunca mostrei esses desenhos, mas eles falam muito sobre o meu trabalho”, afirma a artista.
Ao invés de texto crítico, o público poderá ler o poema “O último sortilégio”, de Fernando Pessoa, que Wanda Pimentel encontrou durante o processo de produção das obras, e considerou muito apropriado com o que estava fazendo. “O poema tem muito a ver com esses trabalhos. Queria algo sensível, por isso escolhi esta poesia. O português de Portugal é muito denso, muito bonito quando escrito. E meu pai gostava muito de Fernando Pessoa”, ressalta. A poesia também estará no catálogo, que será lançado ao longo da exposição.
Wanda Pimentel nasceu no Rio de Janeiro, em 1943. Estudou pintura com Ivan Serpa, no MAM Rio, em 1965. Dentre suas principais exposições individuais estão a exposição no MAM Rio, em 2004; no Paço Imperial, em 1999 e em 1997; no Centro Cultural Banco do Brasil, em 1994; entre outras.
Dentre suas principais exposições coletivas estão: “Artevida Política”, no MAM Rio, em 2014; “Nova Figuração anos 1960-1970”, no MAM Rio, em 2009; “Panorama dos Panoramas”, no MAM São Paulo, em 2008; “Arte contemporânea e patrimônio”, no Paço Imperial, em 2008; “Arte Como Questão/Anos70”, no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, em 2007; “Manobras Radicais”, no CCBB São Paulo, em 2006; “Um Século de Arte Brasileira – Coleção Gilberto Chateaubriand”, no MAM Rio, na Pinacoteca do Estado de S.Paulo e no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, ambas em 2006; “Abrigo Poético – Diálogos com Lígia Clark”, no MAC de Niterói, em 2006; “Arte En América Latina (Coleccion Eduardo Constantini)”, no MALBA, em Buenos Aires, em 2001; entre outras.
Participou, ainda, do Salão da Bússola (1969), no MAM Rio; Salão de Verão (1969), no MAM Rio; V Salão de Arte Contemporânea de Campinas (1969), no Museu de Arte Contemporânea de Campinas; XVIII Salão Nacional de Arte Moderna, no Ministério da Educação e Cultura- Rio de Janeiro/RJ (1969); II Salão Esso de Artistas Jovens (1968), no MAM Rio e Representação Brasileira à Bienal de Paris (1969), no MAM Rio.
setembro 4, 2015
TRIO Bienal: exposição internacional de arte contemporânea tridimensional, Rio de Janeiro
A TRIO Bienal é uma exposição internacional de arte contemporânea em torno do tridimensional em seu escopo clássico – escultura, instalações e objetos – assim como, em todos os seus campos expandidos – pintura, fotografia, desenho, vídeo e outros suportes, como investigação tridimensional, e vai ocupar diversos museus e instituições culturais no Rio de Janeiro, de 5 de Setembro a 26 de Novembro de 2015.
[Ver abaixo links para as agendas da programação]
O evento celebra a posição da cidade, como catalisadora e principal centro irradiador de cultura do país, bem como o berço dos mais proeminentes artistas do Brasil na escultura ou onde suas carreiras floresceram – muitos deles, nomes presentes nos mais importantes museus em todo o mundo.
A Bienal é um dos principais eventos junto as comemorações do aniversário de 450 anos do Rio de Janeiro, e passará a fazer parte do calendário dos eventos da Cidade Maravilhosa, a cada dois anos.
A curadoria, a cargo de Marcus de Lontra Costa, sob o tema “Quem foi que disse que não existe amanhã?” – frase de uma letra do rapper Marcelo D2 – pretende discutir o momento de incerteza e de crise, tanto no Brasil quanto no mundo, e resume a persistência na procura de uma determinada arquitetura no caráter utópico da arte, recarregando fortemente a fé modernista em um mundo mais perfeito, a partir da falta de distinção entre arte e vida.
Esta modernidade – atualizada – deve-se principalmente ao nosso dia-a-dia, que se torna cada vez mais virtual, o que exige uma materialidade mais presente e monumental, muito clara no panorama de tensão tridimensional, na maior parte da produção de artistas contemporâneos.
A Bienal contará com artistas convidados entre nomes locais e internacionais de grande relevância. Através do convite da Coordenadoria de Relações Internacionais da Cidade do Rio, os Consulados de todos os países foram contatados para participar da TRIO Bienal e cooperarem com a participação de seus artistas, escolhidos pelo recorte curatorial.
Mostras
Celebrando Franz Weissmann no Oscar Niemeyer
Utopias – Pretéritos da Contemporaneidade no Getúlio Vargas
Reverberações – Cruzamentos Universais de Tridimensionalidade no IED
Forma e matéria – Limites do Tridimensional em Campos Expandidos no CCBB
Gravidade – Tensão e Elasticidade na Chácara do Céu
Gravidade – Equilíbrio e Balanço no Parque das Ruínas
Reflexões sobre o Reflexo – Dinâmicas do Cinetismo no Tridimensional no MNBA
Transversalidades das Identidades Tropicais no MHN
Performances
Rodolpho Parigi (Fancy Violence) - Levitação no CCBB, 7 de setembro, 19-20h
Felippe Moraes – Movimento Pendular no Paço Imperial, 11 de Setembro, 16h
Instalação
Gê Orthof – Ambos Mundos no Paço Imperial
Paralelas TRIO
Regina Silveira – Grafias e Bordados na Chácara do Céu
Regina Silveira na Chácara do Céu, Rio de Janeiro
Regina Silveira lança no Museu da Chácara do Céu, a gravura Blue Skies, como parte do projeto “Os Amigos da Gravura”. O lançamento acompanha as exposições Grafias e Bordados e Duelo.
A exposição Grafias e Bordados reúne obras gráficas recentes, realizadas sobre diversos suportes, que vão da gravura tradicional aos meios digitais usados para imprimir e recortar.
Os vários conjuntos de obras que formam a exposição mostram aspectos comumente ligados à poética da artista, como a exploração do universo de significados das sombras e sua capacidade de transformar imagens de objetos do cotidiano. Nas últimas produções onde se inclui a nova gravura editada especialmente para o projeto Os Amigos da Gravura dos Museus Castro Maya, surge também o uso inusitado que Regina Silveira vem fazendo dos bordados em ponto de cruz, como ferramenta gráfica para codificar diversos tipos de imagens. Com elas, a artista tem composto obras extensas para revestir arquiteturas de grande porte, como o MASP e o pórtico interior do Museu Amparo, em Puebla, México. Essas obras, de duração efêmera, comparecem nesta exposição na forma de maquete ou vídeo documentário.
Paralelamente, a artista apresenta a instalação Duelo, que revela, por meio da projeção de luz sobre lâminas de acrílico fatiadas a imagem que dá título à obra.
Regina Silveira (Porto Alegre, 1939) desde os anos 1960 realiza exposições individuais e participa de coletivas selecionadas no Brasil e exterior. Foi artista convidada da Bienal de São Paulo (1981, 1983, 1998), Bienal do Mercosul (2001, 2011), 6th Taipei Biennial (2006), Bienal Mediations em Poznan (2012) e da Bienal Internacional de Curitiba (2013, 2015). Algumas exposições recentes são: Lumen, (Palácio de Cristal, Museu Reina Sofía, Madrid, 2005), Sombra Luminosa (Museo Banco de la República, Bogotá, 2007), Tropel Reversed (KøgeArtMuseum, Dinamarca, 2009), Linha de Sombra (Centro Cultural Banco do Brasil, RJ, 2009), Abyssal (Atlas Sztuki, Lodz, 2010), 1001 Dias e Outros Enigmas (Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, 2011) e El sueño de Mirra y otrasconstelaciones(Museo Amparo, Puebla, México, 2014). Foi bolsista da Guggenheim Foundation (1990), da Pollock-Krasner Foundation (1993) e da Fulbright Foundation (1994). Algumas premiações recentes são o Premio Bravo Prime (2007), Prêmio Fundação Bunge (2009), Prêmio ABCA pela carreira (2012) e o Prêmio MASP (2013).
Sobre o projeto Os Amigos da Gravura
Raymundo de Castro Maya criou a Sociedade dos Amigos da Gravura no Rio de Janeiro em 1948. Na década de 1950 vivenciava-se um grande entusiasmo pelas iniciativas de democratização e popularização da arte, sendo a gravura encarada como peça fundamental a serviço da comunicação pela imagem. Ela estava ligada também à valorização da ilustração que agora deixava um patamar de expressão banal para alcançar status de obra de arte. A associação dos Amigos da Gravura, idealizada por Castro Maya, funcionou entre os anos 1953-1957. Os artistas selecionados eram convidados a criar uma obra inédita com tiragem limitada a 100 exemplares, distribuídos entre os sócios subscritores e algumas instituições interessadas. Na época foram editadas gravuras de Henrique Oswald, FaygaOstrower, Enrico Bianco, Oswaldo Goeldi, PercyLau, Darel Valença Lins, entre outros.
Em 1992 os Museus Castro Maya retomaram a iniciativa de seu patrono e passaram a imprimir pranchas inéditas de artistas contemporâneos, resgatando assim a proposta inicial de estímulo e valorização da produção artística brasileira e da técnica da gravura. Este desafio enriqueceu sua programação cultural e possibilitou a incorporação da arte brasileira contemporânea às coleções deixadas por seu idealizador. A cada ano, dois ou três artistas plásticos são convidados a participar do projeto com uma gravura inédita. A matriz e um exemplar são incorporados ao acervo dos Museus e a tiragem de cada gravura é limitada a 61 exemplares, sendo 50 destinados à Associação Cultural de Amigos dos Museus Castro Maya para comercialização. A gravura é lançada na ocasião da inauguração de uma exposição temporária do artista no Museu da Chácara do Céu. Neste período já participaram cerca de 50 artistas, entre eles Iberê Camargo, Antonio Dias, Tomie Ohtake, Daniel Senise, Emmanuel Nassar, Carlos Zílio, Beatriz Milhazes e Waltercio Caldas.
setembro 2, 2015
Pierre Verger na Marcelo Guarnieri, Ribeirão Preto
A Galeria Marcelo Guarnieri tem o prazer de apresentar a exposição de Pierre Verger. Depois de realizar em fevereiro deste ano a mostra “O Mensageiro” na unidade de São Paulo, a galeria amplia o conjunto de imagens em uma nova montagem a ser realizada entre 4 setembro e 9 de outubro na unidade de Ribeirão Preto.
Antes de chegar ao Brasil, antes de se debruçar sobre a cultura afro-brasileira, antes de se tornar babalaô, Pierre Verger era, essencialmente, fotógrafo. Um fotógrafo já reconhecido desde antes da Segunda Guerra Mundial e com fotografias publicadas nas mais importantes revistas francesas e internacionais da época, como Life, Vu, Regards e Arts et Métier Graphiques.
Quando sua vida e sua obra caminharam em direção às questões afro-brasileiras, tornou-se um homem do candomblé, publicou intensamente sobre essa temática – notadamente sobre sua matriz religiosa -, fixou residência na Bahia e mergulhou tão profundamente nesse novo viver que foi aos poucos desaparecendo da memória de seus contemporâneos franceses e europeus, ao menos como fotógrafo.
Em 1993, a Revue Noire, das primeiras a destacar a arte africana no mercado ocidental, realizou a grande exposição Pierre Verger, Le Messager, com mostras na Suíça e na França, no Musée d’Art d’Afrique et d’Océanie. Amplamente divulgadas nos meios de comunicação franceses, esse grande evento cultural recolocou Verger no cenário da fotografia em seu país de origem.
No processo de construção dessa exposição e com o objetivo de selecionar imagens para a mostra e para o livro-catálogo, os diretores da Revue Noire vieram até a casa de Verger, na Bahia. Após um minucioso trabalho, desenvolvido em conjunto com o fotógrafo, levaram mais de 300 negativos para Paris, onde realizaram, pela primeira vez, cópias de excelente qualidade. A maioria dessas ampliações foram, então, utilizadas para fazer os fotolitos do livro Le Messager e/ou expostas.
Nessa época, os donos da Revue Noire, aproveitando a presença de Verger em Paris, conseguiram que ele assinasse uma certa quantidade dessas cópias, o que Verger aceitou fazer, embora normalmente não se submetesse a esse tipo de cerimonial. O que realmente importava para Verger – ao contrário de muitos fotógrafos – eram seus negativos, por representarem suas memórias. Na verdade, ele dava pouca importância às ampliações, que não costumava vender e que podia reproduzir quando se fizesse necessário.
Poucos anos depois, em fevereiro de 1996, Verger faleceu na Bahia, deixando esse conjunto único de imagens, que continuou em poder da Revue Noire, em Paris. Essas imagens foram comercializadas na França, até o final do ano de 2000, quando a Fundação adquiriu sua quase totalidade.
(Fundação Pierre Verger)
setembro 1, 2015
A Biblioteca Mário de Andrade inaugura oficialmente a obra pública Paraler de Regina Silveira em sua calçada
AGENDA SP Hoje 01/09 às 19h30: Inauguração oficial da obra PARALER de Regina Silveira na calçada da Biblioteca Mário de Andrade http://bit.ly/R-Silveira_PARALER
Posted by Canal Contemporâneo on Terça, 1 de setembro de 2015
Remetendo a uma grande malha bordada em ponto-cruz, no chão da esquina da Rua da Consolação com a Avenida São Luís, dois milhões de placas de porcelanato formam a palavra “biblioteca” em diferentes idiomas. Contrapondo o cotidiano agitado e multicultural da cidadeem relação à um espaço público de reflexão, o trabalho permanente é entregue no dia 1 de setembro com patrocínio do Banco Itaú e apoio do Itaú Cultural e de leis de incentivo do MinC
Um dos pontos históricos mais expressivos de São Paulo, a Biblioteca Mário de Andrade, localizada nos arredores do Vale do Anhangabaú, no centro, ganha a partir de 1º de setembro uma obra pública e permanente de autoria da artista Regina Silveira. Trata-se de PARALER, um mosaico de aproximadamente mil metros quadrados, com quase dois milhões de placas de porcelanato em tons claros e escuros, na calçada,remetendo a uma extensa malha com a palavra “biblioteca”em diferentes idiomas representando umbordado em ponto-cruz.
Realizada com patrocínio do Banco Itaú e apoio do Itaú Cultural e, ainda, por meio de leis de incentivo do Ministério da Cultura, da Associação de Amigos da Biblioteca Mário de Andrade e apoio de Luciana Brito Galeria, PARALERtem o formato ”L” eabarca as duas entradas da biblioteca, na esquina da Rua da Consolação com a Avenida São Luís. “É arte para pisar no chão”, diz a artista.
Algumas placas de porcelanato formam agulhas transpassadas por linha branca como se estivessem iniciando o alinhave dessa palavra em português, italiano, e espanhol, coreano, grego, alemão, russo, arábico, japonês, chinês, hebraico e outras línguas. É a prática popular de fazer alfabetos bordados, desde os primórdios da história em muitas culturas do mundo.
PARALER foi projetado originalmente em 2002, com outra configuração e com o título Paving the Way (Pavimentando o Caminho, em português) fez parte do projeto do novo edifício da New York Public Library, no bairro do Bronx, em Nova York (EUA). A proposta venceu o concurso Pencent for Artpromovido pela prefeitura local para artistas renomados, mas não chegou a ser executada. Adaptada para a cidade de São Paulo, após a reabertura da Biblioteca Mário de Andrade, em 2011, a calçada levou pouco mais de dois anos para ser construída e foi entregue em novembro de 2014.
Regina Silveira, nascida em Porto Alegre, RS (1939) e radicada em São Paulo, Regina Silveira já realizou exposições individuais em instituições como MuseoAmparo (México), Palacio de Cristal, Museo Reina Sofia (Madri), Pinacoteca do Estado de São Paulo, MAM-SP, CCBB, MASP, Queens Museumof Art (Nova York), Fundação Calouste-Gulbenkian (Lisboa), além de dezenas de outras. Sua obra integra acervos como os das instituições citadas acima e de San Diego Museum of Contemporary Art, Taipei Fine Arts Museum e MoMA, entre muitos outros.