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maio 29, 2013
Fundação Iberê Camargo abre mostras de Paulo Pasta e Elida Tessler
Ao lado dos curadores Tadeu Chiarelli e Glória Ferreira, os artistas apresentam dois grandes momentos das suas produções. Mostras serão inauguradas juntas no dia 6 de junho e exibidas ao público de 7 de junho a 18 de agosto
Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, RS - 07/06/2013 a 18/08/2013
Elida Tessler - Gramática Intuitiva e Paulo Pasta - A pintura é que é isto
Após iniciar o calendário de 2013 com a mostra William Kentridge: Fortuna e com Iberê Camargo: O Carretel – Meu Personagem, assinada pelo curador Michael Asbury, a Fundação Iberê Camargo dá sequência a sua programação com dois grandes nomes da arte contemporânea brasileira. Dia 7 de junho abrem juntas para visitação a exposição de obras mais recentes do pintor, desenhista, ilustrador e professor Paulo Pasta, que terá como curador Tadeu Chiarelli, e a panorâmica dos últimos 20 anos de produção de Elida Tessler, artista conhecida por entrelaçar palavras a objetos, com curadoria de Gloria Ferreira. As mostram tem o patrocínio das empresas Gerdau, Itaú, Vonpar e De Lage Landen.
Infusão luminosa
Paulo Pasta. A pintura é que é isto, com curadoria de Tadeu Chiarelli, apresenta 34 trabalhos (25 pinturas e 9 desenhos) da produção mais recente de Paulo Pasta, entre 2008 e 2013. Ao longo dos anos, sua pintura vem adquirindo mais fluidez, como se perdesse a opacidade e ganhasse mais luminosidade, sem deixar de lado a característica marcante em seu trabalho, a indefinição com as formas e as cores. “Minha pintura sempre guarda para si uma indefinição, como uma espécie de segredo, algo que possa instigar o olhar. Como se ela pudesse produzir o instante”, diz.
A pintura de Paulo Pasta possui uma fisicalidade notória, e não apenas por suas dimensões e cores, mas também pela intensificação de todos os elementos que a constitui, tornando sua presença um pedido de convivência por parte do espectador, o que vai além de uma simples contemplação. Nos trabalhos Dia e Noite, que serão exibidos no 4º andar da Fundação Iberê Camargo, há um aspecto atmosférico que ele imprime, principalmente, por meio do uso das cores. “Nunca uso a cor pura. O tom se desdobra em vários outros tons, criando uma atmosfera de infusão luminosa. Parece que sempre estou pintando estados da consciência”, conta o artista, expoente da chamada Geração 80 de pintura no Brasil.
Para o curador Tadeu Chiarelli, nas obras que formam Paulo Pasta. A pintura é que é isto compreende-se como as estruturas simples concebidas pelo artista estão ali para dar suporte à cor, suporte precário que mal consegue contê-la nas áreas predeterminadas. “É no jogo entre o caráter tíbio dos limites das áreas de cor e a potência dessa última, que, parece, se encerra o poder de suas pinturas atuais”. Segundo Chiarelli, embora pareçam tender sempre a uma estruturação prévia que privilegia o estático e se constituam a partir de cores quase nunca primárias, frente a elas percebe-se que determinadas áreas do quadro pulsam, como se quisessem escapar do plano em direção ao espaço tridimensional.
Influências de Volpi e Iberê
No catálogo da mostra, o curador destaca pontos de contato entre a pintura de Paulo Pasta e do consagrado pintor brasileiro Alfredo Volpi, cuja marca pessoal era o tema das bandeirinhas e dos casarios. De acordo com ele, as estruturas de Pasta tendem a se repetir de uma tela para outra, sofrendo, com o tempo, delicadas mudanças em sua morfologia. “É a escolha das cores, sempre em tons rebaixados, que se modifica de uma obra para outra, que singulariza cada uma das obras produzidas pelo artista”, diz.
Sobre a Fundação Iberê Camargo, artista diz ser um museu feito para um pintor, pensado enquanto luz e espaço para abrigar a pintura. “Se a minha pintura não tiver a luz adequada, ela não vive”. Estar próximo da obra de Iberê e do prédio erguido em sua homenagem faz Paulo Pasta lembrar a influência que o artista teve em sua vida. “Iberê representou para mim a possibilidade da existência da pintura, de uma relação profunda e verdadeira com ela”.
Elida Tessler: Gramática Intuitiva
A mostra da artista Elida Tessler será uma panorâmica dos últimos 20 anos de sua produção. Esta é a segunda exposição individual da artista em Porto Alegre. A primeira foi em 1988, no MARGS, no qual ela apresentou exclusivamente trabalhos em desenho. “De alguma forma, estou me reapresentando ao público de minha cidade natal”. Segundo Elida, esta será a primeira vez que ela mesma poderá ver uma quantidade tão grande de trabalhos seus juntos, dialogando entre si. Frequentemente, ela realiza proposições para lugares específicos, de acordo com as características arquitetônicas do local.
A mostra Elida Tessler: gramática intuitiva, no terceiro andar da instituição, apresenta 14 instalações com curadoria de Gloria Ferreira e marca o encontro entre as duas, que teve início como colegas de Doutorado em 1989, em Paris. Desde então, elas vem mantendo uma conversa em exposições no Brasil e no exterior e em atividades acadêmicas. “Para mim, esta curadoria veio dar forma a um intenso e precioso diálogo, concebido em torno de dois eixos principais: a relação entre arte e literatura, incluindo a presença da palavra no contexto das artes visuais, e a questão da passagem do tempo e seus registros cotidianos”, conta Elida.
A artista tem utilizado o termo “gramática intuitiva” informalmente há alguns anos, quando percebeu que para realizar os trabalhos, criava regras preliminares, com a intenção de sublinhar palavras específicas em suas leituras literárias. Para a concepção de O homem sem qualidades caça palavras (2007), por exemplo, Elida estabeleceu a regra de rasurar todos os adjetivos no livro, assumindo o que estava sendo sugerido pelo próprio título do romance do autor austríaco Robert Musil,O Homem Sem Qualidades. O trabalho reúne 134 telas de algodão cru com formato correspondente àquelas das revistas de passatempo. Em cada tela, há 40 adjetivos retirados do romance de Musil. Além dos adjetivos, Elida também realizou outros trabalhos que envolveram o uso de substantivos, verbos, advérbios e gerúndios.
Diálogo entre o visível e o dizível
Segundo a curadora Glória Ferreira, ao criar diferentes imagens que dão suporte a seu jogo com a linguagem, Elida Tessler dialoga com a tradição da relação entre o visível e o dizível, entre a imagem e a linguagem. “A gramática, com sua longa história, com suas regras de regulação, é como que desfeita, tornando-se intuitiva, embora a partir de regras traçadas a priori pela artista na construção das obras. As palavras incorporadas em objetos chamam atenção para si mesmas, como puros significantes, obstruindo qualquer possibilidade de sintaxe passível de transmitir um significado completo e compreensível da mensagem verbal”. Desta forma, palavra e objeto se cruzam em sentidos diversos em uma relação entre arte e vida.
Para a exposição, Elida criou um trabalho inédito no qual faz uma referência especial ao livro de Iberê Camargo Gaveta dos Guardados e ao de Gonçalo M. Tavares, Biblioteca. “Tenho particular apreço por livros e bibliotecas. Guardo na memória o ato de buscar as referências nos fichários do Instituto de Artes da Ufrgs desde os meus tempos de estudante”. Há alguns anos, Elida encontrou alguns pacotes contendo as fichas catalográficas que seriam descartadas após a digitalização. “Certamente o trabalho assumiria uma espécie de homenagem à biblioteca”.
O trabalho resultou em um móvel de madeira, evocando a gaveta do fichário original, apresentado de forma circular, aludindo a um determinado ciclo de tempo. As fichas foram classificadas em ordem alfabética pelo sobrenome do autor, sem distinguir as áreas de conhecimento: música, teatro, artes visuais, arquitetura, literatura, física, filosofia entre outras. Além das letras do alfabeto, um dos separadores indica uma nova possibilidade de classificação, com a palavra impressa em latim: et cetera.
Além de todas as fichas da biblioteca do Instituto de Artes, a artista criou 40 fichas catalográficas correspondendo a trabalhos realizados por ela a partir de obras literárias, mimetizando a forma de apresentação gráfica das fichas originais. “Nos tempos atuais, quando tanto se discute a substituição do ‘objeto livro’ pelo ‘livro eletrônico’, e por esta via, as aceleradas transformações que estamos vivendo, este trabalho propõe uma reflexão sobre o descarte e a memória das coisas”.
SOBRE OS ARTISTAS
Elida Tessler é artista plástica e professora do Departamento de Artes Visuais e do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Realizou doutorado em História da Arte Contemporânea na Université de Paris I - Panthéon-Sorbonne (França), e Pós-Doutorado na EHESS-Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales e junto ao Centro de Filosofia da Arte - UFR de Philosophie - Université de Paris I- Panthéon – Sorbonne. É pesquisadora do CNPq, desenvolvendo pesquisa em torno das questões que envolvem arte e literatura, relacionando a palavra escrita à imagem visual. Manteve durante 16 anos em Porto Alegre, ao lado de Jailton Moreira, o Torreão, espaço de trabalho, formação e intervenções de arte contemporânea.
Paulo Pasta vive e trabalha em São Paulo. É doutor em artes plásticas pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Lecionou pintura nesta instituição e é professor licenciado da Faap. Participou de várias exposições coletivas, nacionais e internacionais, bem como de mostras individuais em museus, galerias e instituições. Em 2012, a editora WF Martins Fontes, publicou seu livro de ensaios A Educação pela Pintura. Teve uma sala especial na 22ª Bienal de São Paulo (1994) e foi premiado no Salão Nacional (1989) e no Panorama da Arte Brasileira do MAM (1997). Em 2000, foi um dos onze artistas brasileiros selecionados para a Mostra do Redescobrimento: Brasil 500 Anos, que inaugurou em São Paulo e foi também exibida em Portugal.
SOBRE OS CURADORES
Glória Ferreira é doutora em História da Arte pela Universidade de Paris I - Sorbonne, professora colaboradora da EBA/UFRJ, crítica e curadora. Entre suas curadorias recentes destaca-se Arte como questão – anos 70 (2007) e, entre suas publicações, coorganizou as coletâneas Clement Greenberg e o debate crítico (1997) e Escritos de artistas 1960/1970 (2006); organizou a coletânea Crítica de arte no Brasil: temáticas contemporâneas (2006) e Arte contemporáneo brasileño: documentos y críticas / Contemporary Brazilian Art: Documents and Critical Texts (2009) e é coautora do livro Sobre o Ofício do Curador (2010).
Tadeu Chiarelli é professor titular junto ao Departamento de Artes Plásticas da ECA-USP e diretor do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, desde 2010. Foi curador-chefe do Museu de Arte Moderna de São Paulo entre 1996 e 2000. Em 1999, publicou a coletânea de artigos Arte Internacional Brasileira, pela Lemos Editorial. Tem livros publicados sobre a obra de Leda Catunda (Cosac Naify) e Nelson Leirner (Takano). Tem no prelo o livro sobre a crítica de arte de Mário de Andrade, baseado em sua tese de doutoramento, defendida na USP em 1996.
maio 27, 2013
Fábio Carvalho - Bai feliz buando, no bico dum passarinho na Dumaresq, Recife
Fábio Carvalho abre a exposição Bai feliz buando, no bico dum passarinho, na Dumaresq Galeria de Arte, no dia 5 de junho de 2013.
Uma exposição que recupera uma antiga ligação entre Brasil e Portugal, e que promete fazer refletir a respeito de estereótipos de gênero. Uma mostra diferente e ao mesmo tempo instigante.
Com a exposição de bordado e objetos sobre tecido do artista carioca Fábio Carvalho, que será inaugurada no dia 5 de junho, às 18h, na Dumaresq Galeria de Arte, o público vai poder conferir obras das séries “Bai feliz buando, no bico dum passarinho” e “Em sendo patente...”, decorrentes da Residência Artística que o artista fez em Portugal em 2012, durante o Ano de Brasil-Portugal, quando foi promovido um intenso intercâmbio cultural entre os dois países. Esta é a nona individual de Fábio Carvalho, e a primeira na Dumaresq Galeria de Arte.
Nestas obras Fábio Carvalho incorporou, em sua pesquisa de trabalho, características dos Lenços de Namorados, tradicionais da cultura lusitana nortenha, elemento de conexão afetiva no passado entre Brasil e Portugal. O Lenço de Namorados era bordado por uma jovem, para declarar seu interesse por um rapaz. Ela entregava o lenço para o seu pretendente, que caso o usasse no dia seguinte, indicaria corresponder ao sentimento. Mais tarde, os lenços passaram também a ser levados com uma lembrança da amada pelos homens que partiam para terras distantes, na maioria das vezes, o Brasil.
Nas obras de Fábio Carvalho, porém, é feito o caminho inverso – um brasileiro lança seus lenços ao mundo, depois de passar uma temporada em Portugal. Além disso, nos 10 trabalhos que serão vistas na exposição, os elementos femininos frágeis e afetuosos dos Lenços de Namorados são contrapostos a alguns estereótipos de masculinidade e virilidade: soldados, insígnias militares, armas pesadas e a camuflagem militar. A pesquisa de Fábio Carvalho, denominada “Macho Toys”, surgiu da reflexão sobre como desde a infância, mesmo que não intencionalmente, são moldados os padrões de comportamento tidos como “corretos” para cada gênero, através dos brinquedos presenteados às crianças, e as brincadeiras encorajadas e permitidas para cada sexo, e como depois isto é reforçado e perpetuado pela sociedade na vida adulta. Macho Toys opera na superposição e no conflito entre os conceitos de masculinidade e virilidade, e os elementos associados ao feminino.
Todas as obras foram inteiramente bordadas pelo próprio artista, pois segundo Fábio Carvalho “isto faz parte da dialética do trabalho, eu submeto meu próprio corpo e minha mente masculinos a um labor que é normalmente aceito como feminino”.
Mais sobre o artista
Fábio Carvalho, artista carioca em atividade desde 1994, já realizou 8 exposições individuais e participou de mais de 80 exposições coletivas. Integrou importantes projetos de mapeamento da produção emergente no Brasil na década de 1990, entre estes o Antarctica Artes com a Folha, e o Rumos Visuais/Itaú Cultural. Fez exposições por quase todo o território nacional e já integrou mostras nos EUA, Alemanha, Reino Unido, República Tcheca, Portugal, Cuba, Argentina e Equador.
Participou das Residências Artísticas “Bordallianos Brasileiros”, na fábrica Faianças Artísticas Bordallo Pinheiro, em Caldas da Rainha (2011), junto com mais 19 artistas brasileiros, entre estes, Barrão, Tunga, Saint Clair Cemin, Vik Muniz; “Projecto Artistas Contemporâneos”, na fábrica Porcelana Vista Alegre, em Ílhavo (2011), tendo sido o primeiro artista brasileiro a participar do projeto; e “Maus Hábitos”, no Porto (2012), todas em Portugal.
Tem mais de 60 obras em coleções públicas e particulares: Gilberto Chateaubriand / MAM-RJ - RJ; Vieira Resende Barbosa & Guerreiro Advogados – RJ; Centro de Arte Contemporáneo Wilfredo Lam - Havana – Cuba; entre outras coleções.
maio 23, 2013
Participação do Brasil na 55ª Bienal de Veneza
Artistas brasileiros produzem obras in situ para a 55ª Bienal de Veneza
Biennale di Venezia - Partecipazioni Nazionali: Dentro/Fora, Padiglione Brasile, Veneza, Itália - 01/06/2013 a 24/11/2013
Dentro/fora [Inside/outside] é o título dado pelos curadores Luis Pérez-Oramas e André Severo à exposição que representa o Brasil na 55ª Esposizione Internazionale d'Arte – La Biennale di Venezia, que acontece entre 1 de junho e 24 de novembro no complexo do Giardini. O título faz referência a um problema implícito na questão da fita de Moebius – estrutura estudada por August Ferdinand Moebius, em 1858 e objeto articulador da exposição - de grande relevância para a arte moderna e contemporânea brasileira, como exemplifica a obra de Lygia Clark, uma das pontuações históricas da mostra: “Feita em 1963, a escultura O Dentro é o Fora de Lygia Clark foi o trabalho a partir do qual a artista entendeu a razão completa de sua obra. Para o título da mostra, eliminei o verbo, no sentido de que todos os artistas que ocupam o Pavilhão Brasileiro nesta exposição estão elaborando suspensões entre o dentro e o fora.” - explica Pérez-Oramas.
A representação oficial brasileira está ancorada pelos trabalhos de Hélio Fervenza (Sant’Ana do Livramento, 1963) e Odires Mlászho (Mandirituba, 1960) e dialoga com um núcleo histórico composto por esculturas da brasileira Lygia Clark, do italiano Bruno Munari, e do suíço Max Bill. Dividida em dois ambientes, a exposição traz uma sala protagonizada pela fita de Moebius e um ambiente composto por 35 obras inéditas criadas por Mlászho e Fervenza especialmente para a exposição.
Ambos os artistas iniciam a montagem de seus trabalhos em Veneza no dia 21 de maio. Mlászho levará duas séries novas, intituladas Pontos Cegos Móveis e Vozes nas Cortinas - esta última, saídas digitais em papel japonês contendo alfabetos e padrões de pontos. Além disso, testa uma nova variação de suas esculturas sobre livros, produzindo oito Livros Cegos in situ, durante a semana que antecede a exposição. Já Fervenza, aproveitando o pé direito de quase 7 metros do Pavilhão Brasileiro, trabalhará no local a instalação (peixe,sombra) dentrofora (do céu da boca) d'água ( , ) pela extensão das paredes, utilizando fotografias e uma escultura de fios metálicos.
Curada por Massimiliano Gioni, a 55ª Bienal de Veneza recebe o título de O Palácio Enciclopédico e propõe-se a indagar sobre o domínio da imaginação. Interroga, por meio da arte, sobre o destino das "imagens interiores em um mundo assediado por imagens exteriores". A representação oficial brasileira na mostra visa ressonância com o tema proposto ao passo que reflete os motivos, ideias e modalidades curatoriais que regeram a organização da 30ª Bienal de São Paulo – A iminência das poéticas (2012).
Sobre a participação brasileira na 55. Esposizione Internazionale d'Arte – La Biennale di Venezia
A mais antiga das grandes mostras internacionais de arte, a Bienal de Veneza oferece, a cada dois anos, uma grande exposição coletiva e dezenas de pavilhões nacionais. O pavilhão do Brasil, por sua vez, construído em 1964 no espaço mais prestigiado do evento italiano, o Giardini, é o lugar onde o próprio país escolhe e expõe artistas que a cada nova edição o representam. Desde 1995, a responsabilidade por essa escolha foi outorgada pelo governo Brasileiro à Fundação Bienal de São Paulo, reconhecimento da grande importância da instituição – a segunda mais longeva no gênero em todo o mundo – para as artes visuais do país. “A organização da participação brasileira nas Bienais de arte e arquitetura de Veneza já faz parte da tradição da Fundação Bienal. Nesta edição, apresentar um recorte conceitual da 30ª Bienal de São Paulo demonstra o quanto estamos alinhados e comprometidos em dar continuidade aos projetos da Fundação, assim como reforçar a voz dos artistas contemporâneos brasileiros em âmbito mundial”, afirma Luis Terepins, comissário da exposição e Presidente da Fundação Bienal de São Paulo.
Participação do Brasil na 55ª Exposição Internacional de Arte - la Biennale di Venezia
Comissário: Luis Terepins, Presidente da Fundação Bienal de São Paulo
Curador: Luis Pérez-Oramas
Cocurador: André Severo
Artistas Participantes: Hélio Fervenza, Odires Mlászho, Lygia Clark, Max Bill e Bruno Munari
Título da Exposição: Dentro/Fora (Fervenza/Mlászho/Clark/Bill/Munari)
Local: Pavilhão do Brasil
Endereço: Giardini Castello, Padiglione Brasile, 30122 Veneza, Itália
Data: de 1 de junho a 24 de novembro de 2013
maio 20, 2013
Latitude promove Arte Contemporânea Brasileira na Art Basel Hong Kong
Evento acontece entre 23 e 26 de maio e conta com a presença de três galerias do Brasil
Três importantes galerias nacionais estarão presentes este ano em Hong Kong. Entre 23 e 26 de maio, as galerias Nara Roesler, Mendes Wood e Casa Triângulo, sob o incentivo do Latitude, o projeto de internacionalização da Arte Contemporânea nacional, parceria da ABACT (Associação Brasileira de Arte Contemporânea) com a Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), participam da Art Basel Hong Kong.
Esta é a primeira feira na cidade asiática sob a marca Art Basel. Entre os artistas apresentados pelas galerias estão Vik Muniz, Joana Vasconcelos, Lucas Arruda, Mariana Palma, Marcos Chaves e Marco Maggi.
“Este é um momento importante de aproximação com um mercado que para nós ainda é muito novo e pouco mapeado. A participação em eventos como esse garante o intercâmbio de informações que permite maximizar o diálogo entre galeristas, artistas, colecionadores e curadores de diferentes continentes, permitindo um incremento estratégico dos negócios”, diz Mônica Novaes Esmanhoto, gerente do Latitude.
O trabalho contínuo e com afinco do projeto de internacionalização da arte contemporânea do Brasil ao longo de seis anos já se reflete em números. Enquanto a exportação total do mercado de arte caiu 14,9% em 2012 (comparado a 2011), as 52 galerias do projeto Latitude apresentaram um crescimento nas vendas de 46,6% em relação a 2011 e de 350% em relação a 2007, quando o projeto foi implementado. Esses resultados são conquistados pelo trabalho em feiras internacionais como Art Basel Hong, marcando presença em atividades no país e em diversas feiras de arte ao redor de todo o globo.
Segundo pesquisa coordenada pela Dra. Ana Letícia Fialho para o Latitude em 2012, as galerias participantes do projeto contam com cerca de 48% de seus artistas em coleções internacionais (instituições culturais, museus e coleções particulares) e 20% de seu faturamento provém de vendas internacionais.
Além de dar suporte aos artistas, o Latitude irá promover ações de relacionamento entre galeristas, curadores e colecionadores. Essa ação foi iniciada já na SP-Arte, com a vinda de quatro curadores chineses que visitaram a feira e depois fizeram uma imersão na Arte Contemporânea Brasileira por meio de uma visita a Inhotim, além de realizar intercâmbio de conhecimento com profissionais brasileiros, por meio de eventos como uma palestra sobre a Arte Contemporânea no Brasil e em outros mercados do mundo, que contou com a participação de Juan Eyheremendy, especialista em mercado do Oriente Médio, David Robert, correspondente de Le Journal Des Arts (versão francesa de The Art Newspaper), Peifen Sung, editora da Harper´s Bazaar Art China, e da consultora do projeto Latitude e pesqusiadora de mercado de arte, Ana Letícia Fialho, com mediação do crítico de artes plásticas da Folha de São Paulo, Fabio Cypriano.
Com a identidade visual renovada em 2013, o Latitude já trouxe ao Brasil mais de uma centena de compradores e formadores de opinião internacionais desde 2007. Dentre alguns de seus resultados mais significativos, a iniciativa conseguiu que o número de curadores interessados na cena artística do país mais do que dobrasse, e se mostrou uma importante plataforma para geração de projetos, parcerias e negócios.
Sobre o Projeto Latitude
O Projeto de Promoção Internacional da Arte Contemporânea Brasileira foi criado em 2007 pela Apex-Brasil em parceria com a Fundação Bienal de São Paulo e o segmento de galerias nacionais do mercado primário com o objetivo de promover a arte contemporânea brasileira internacionalmente.
Em 2011, a Bienal passa a gerência do projeto para ABACT. Hoje, o projeto Latitude representa 52 galerias de arte contemporânea em seis estados, promovendo o trabalho de mais de mil artistas. Dentre as galerias, 46 também são associadas à ABACT.
maio 15, 2013
Cine Lage: Vídeopoemas, curadoria Lula Wanderley, na EAV Parque Lage, Rio de Janeiro
EAV apresenta “Vídeopoemas” com curadoria Lula Wanderley, no Cine Lage de Maio
No dia 17 de maio, às 20h, o poeta e artista visual Lula Wanderley será o curador do Cine Lage - um programa único, que, mensalmente, tem um convidado para a seleção de filmes e vídeos, comentados ao longo da sessão, projetada em um telão no pátio da piscina do casarão da EAV Parque Lage - vinculada à secretaria de Estado de Cultura.
“A poesia experimental deverá buscar novas forças na técnica digital e na possibilidade de animação visual e de capacidade cognitiva. Ela se expandirá mais nos espaços digitais ou nos espaços públicos, com a ajuda dos novos meios (espaço urbano, galeria de arte, museus, etc), fundindo-se com outras linguagens para uma relação mais direta com o espectador. No fundo, é o grau de poiesis (criação originária de linguagem) o que pretendo defender com meus vídeopoemas, na EAV Parque Lage”, diz Lula Wanderley.
A programação será dividida em duas partes – na primeira, serão exibidos seis vídeos de autoria do artista, que compõem os “Vídeopoemas”. Na segunda parte, serão exibidos três vídeos de artistas que foram forte influência para Lula Wanderley - Paulo Brusky, Torquato Neto e Wlademir Dias.
O Cine Lage é uma programação mensal de exibição de filmes e vídeos com o objetivo de promover o debate e a reflexão sobre essa produção. “Com o programa, a EAV busca contribuir para a divulgação de obras que não são exibidas no circuito comercial. É uma atividade que divulga esta produção independente para um público ligado às artes visuais”, afirma Claudia Saldanha, Diretora da EAV Parque Lage. A entrada é gratuita.
Mais sobre os filmes:
- Primeira parte -
1. “BEM DENTRO” - uma televisão tem a tela cimentada, deixando um pequeno orifício (que funciona como uma câmera e recorta a realidade da imagem televisiva), um pouco a esquerda do centro onde as imagens ainda poderão ser parcialmente vistas. Por meio de filmes pornôs, é editado outro filme, onde são captadas cenas eróticas pelo orifício. Duração: 1 minuto. Criação: Lula Wanderley
2. “ARTE É O FUTEBOL SEM BOLA” – Por meio de um processo digital, a bola é retirada da imagem televisiva de 3 famosos gols do futebol, que foram exaustivamente exibidos pela televisão. O olhar do espectador sem o apoio da imagem da bola cairá no vazio e ele deverá buscar uma nova maneira de assistir ao jogo. Duração: 3 minutos. Criação: Lula Wanderley
3. “DUPLOECLIPSE” - relação claro/escuro. Dois poemas com duas versões diferentes. A primeira chama-se PALAVRALUZ, onde um casal portando, respectivamente, duas lâmpadas na boca ligadas a uma pequena bateria se beija. Na união das bocas, a iluminação proveniente deixa de ser vista, passando a ser interna ao casal. E MALEVICTHI E O FUNERAL DE CHICO SCIENCE: um jogo de luminosidade entre o claro e o escuro animam um texto sobre o ponto onde Science morreu, em um acidente automobilístico: entre Olinda Lua da Imaginação e Recife Sol da Experiência. Claro sobre claro em variáveis densidades de escuridão. Duração: 12 minutos. Criação: Lula Wanderley
4. “PERCURSO” - duas micro-câmeras foram instaladas, respectivamente, em cada pé. Durante 8 horas, Lula Wanderley realizou o percurso pela cidade do Rio de Janeiro. As imagens captadas pela junção olho (câmera) e pé foram editadas e serão exibidas em um único filme. Duração: 12 minutos. Criação Lula Wanderley
5. “TODO ARTISTA É IMPOSTOR” – conjunto de dois vídeos e vinte duas fotos feitas em parceria com Wlademir Dias-Pino. Trata-se de um estudo sobre a imagem do artista e sua potencialidade de se colar/aderir ao mundo contemporâneo. Duração: 3 minutos. Criação: Lula Wanderley
6. “NO SILENCIO DE UM PÉNALTI” - aforismos sobre o silêncio e a relação entre a bola, o atacante e o goleiro acompanham a desconstrução poética das imagens televisivas de um pênalti cobrado por Zidane . Duração: 2 minutos. Criação: Lula Wanderley
- Segunda parte -
1. A poesia experimental – de Waldemir Dias-Pino
2. Ciclo pernambucano de Super 8 - Paulo Brusky - Filme “A Escada”
3. Ciclo Piauiense de Super 8 - Torquarto Neto - “O Terror da Mineira”
Mais sobre o curador:
Lula Wanderley é artista visual e poeta. Trabalha com a linguagem visual multimídia, compreendendo a palavra, o objeto, o vídeo e a performance. Nascido no Recife, mudou-se para o Rio de Janeiro, em 1976, quando ligou-se a Nise da Silveira, trabalhando no Museu de Imagens do Inconsciente e na Casa das Palmeiras. Colaborou, ainda, com Lygia Clark em suas pesquisas sobre arte, corpo e psiquismo, o que resultou no livro O dragão pousou no espaço: arte contemporânea, sofrimento psíquico e o objeto relacional de Lygia Clark. Atualmente, o interesse de Lula tem se voltado para os videopoemas e para o trabalho com O grupo de ações poéticas – sistema nervoso alterado.
Ricardo van Steen - Noir na Zipper Galeria, São Paulo
A Zipper Galeria inaugura no dia 18 de maio a exposição “Noir”, individual de Ricardo van Steen. No mesmo dia a galeria abre no espaço Zip’Up a exposição “A Direção do Vento Predominante II”, de Victor Lema Rique, artista uruguaio radicado no Brasil.
Ricardo van Steen - Noir, Zipper Galeria, São Paulo, SP - 20/05/2013 a 15/06/2013
No dia 18 de maio, às 14h, a Zipper promove a abertura da exposição individual do artista Ricardo van Steen. O artista apresenta em “Noir” uma nova série de aquarelas inspiradas em imagens encontradas na internet e que reproduzem diferentes céus, como Ricardo mesmo define “imagens do além céu”. A exposição permanece em cartaz até 15 de junho.
“Há um ano digito quase todo dia em sites de busca termos como ‘sobre as nuvens’, ‘above the clouds’, ‘au dessous des nouages’, ‘sopra le nuvole’. A partir dos resultados, fui selecionando um apanhado de registros que trouxessem, cada uma individualmente, uma nova dimensão ao céu”, explica Ricardo. Para esta série, o artista repensou essas imagens dentro de um campo quadrado, às vezes ampliando partes, outras distorcendo, até que ficassem quadradas, dando um novo sentido aos espaços. “O formato quadrado me encantou pela primeira vez quando adquiri uma câmera Polaroid SX70, mídia que sempre usei pela possibilidade de novos enquadramentos”. Em “Noir” todos os quadros têm a mesma dimensão e, quando colocados lado a lado, passam uma forte noção de movimento, dando a percepção de um horizonte infinito.
A experiência de Ricardo com o cinema se reflete nesta exposição de muitas formas. Da construção de uma narrativa por vários pontos de vista, até o comprometimento em transportar o espectador gradativamente para outra dimensão, ora a visão é subjetiva e vivencial, portanto dinâmica e fugaz, ora ela enquadra o personagem voando, estabelece um momento de equilíbrio e frenagem de tempo, e ainda, em outros momentos, essa visão é tão ampla e inalcançável que remete ao eterno, imemorial.
Para Ricardo, a técnica da aquarela utilizada nessas telas é um exercício de persistência e interatividade com os poderes da água e os caprichos do pincel. “Quando eu uso uma imagem de satélite como ponto de partida, estou conectando extremidades do conhecimento para, quem sabe, nesse campo de força que se cria com o acúmulo dos poderes das duas formas de expressão, colocar o espectador em um lugar até aqui desconhecido”, finaliza.
Também no dia 18 de maio, a Zipper Galeria abre no espaço Zip’Up a exposição “A Direção do Vento Predominante II”, de Victor Lema Rique. A mostra apresenta uma série de seis desenhos em carvão sobre papel realizados entre 2012 e 2013, além de um trabalho em carvão e tinta acrílica sobre tela e um conto, chamado “Alêm do Ángulo”.
SOBRE OS ARTISTAS
Ricardo van Steen
Ricardo van Steen nasceu em agosto de 1958, em São Paulo. Artista multimídia desde 1980, Ricardo atua como fotógrafo, pintor, cineasta e designer. Filho do pintor Loio Persio e da então escritora e marchand Edla van Steen, cresceu entre artistas e estagiou em vários ateliês ao longo da adolescência: assistiu Luís Paulo Baravelli, fez aulas de desenho e pintura com Carlos Fajardo, de gravura com Marcelo Grassmann e Sergio Fingerman. Com o pai adotivo, o fotógrafo e arquiteto Ennes Silveira Mello aprendeu o ofício da fotografia. Cursou a Faculdade de Comunicação Visual da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Interessado pela dinâmica do cinema, fez wokshop de roteiro no American Film Institute, de Los Angeles, e de direção com o diretor argentino Alberto Solanas. Esse envolvimento resultou em dois documentários sobre arte, um curta-metragem e um longa sobre a vida do artista, cantor e compositor Noel Rosa. Atualmente é Publisher e Diretor de Arte da revista de arte e cultura seLecT.
Victor Lema Rique
Nascido em Montevidéu, Uruguai, em 1955, realizou estudos primários, secundários e universitários em sua cidade-natal. Em 1979, ganha uma bolsa de estudos na Escola de Comunicações e Arte da USP, onde estudou até 1984. A partir de 1989 começa a expor seus trabalhos em galerias e museus da América Latina, Europa e Estados Unidos. Entre 1991 e 1995 divide sua residência entre São Paulo e Paris, onde passa longas temporadas produzindo e expondo seus trabalhos. A Partir de 1995 se instala definitivamente em São Paulo. A partir de 1997 seu trabalho toma um rumo nitidamente multimídia, passando a usar diferentes meios para criar uma obra: literatura, pintura, vídeo, rádio-novela, cinema, e internet.
maio 12, 2013
Entre Sensíveis Pixels: espaço –tempo – agora no MAmute, Porto Alegre
Acesse trabalhos e catálogo online
A exposição Entre Sensíveis Pixels: espaço –tempo – agora leva ao Estúdio Galeria Mamute, uma discussão a respeito da arte em diálogo com as tecnologias digitais e com os questionamentos deste tempo. Uma mostra que pensa a condição na qual o indivíduo vive hoje, entre experiências do cotidiano e virtuais, entre os fluxos e as memórias, entre o passado, o futuro e, sobretudo, o agora. Uma conexão entre artistas gaúchos e de outros lugares do Brasil, como São Paulo e Recife no intuito de evidenciar as proximidades entre as problemáticas abordadas por eles, contribuindo para inserir o Rio Grande do Sul no cenário da arte digital nacional.
A partir da união dos menores elementos de uma imagem digital, os pixels, enfatizam-se as relações entre espaço e tempo, por meio da poética artística dos participantes da mostra. Os pixels são a síntese da imagem e pela composição destes elementos, se exploram obras envolvendo machinima, gamearte, fotografia móvel e videoarte. O agora adquire novas dinâmicas e percepções pautadas na interatividade. O conceito da mostra aborda o modo como as tecnologias afetam a vida contemporânea, transformando as noções espaciais e temporais, ativando novas memórias ou reconfigurando antigas. O propósito é despertar o público para questionamentos sensíveis sobre este agora, sobre a vida que se leva hoje.
Gabriel Mascaro e Paulo Bruscky encontram-se no espaço e tempo do virtual, um mundo simbólico, atravessado por fluxos eletrônicos, lugar onde é possível viver novas histórias e reinventar até mesmo as lembranças. Em As Aventuras de Paulo Bruscky (2010), Gabriel Mascaro convive com este renomado artista brasileiro no Second Life. Bruscky compartilha algumas memórias, concepções sobre arte e ainda, viaja em novas aventuras pelo espaço virtual do maquinima, modo como os vídeos no Second Life são conhecidos. Um projeto encantador que revela a magia das relações estabelecidas pelos artistas no mundo virtual.
Imagens da história da arte retornam ao tempo da pós-história por meio da gamearte de Anelise Witt. A artista explora a "imemorização”, partindo do conceito de “não-jogo”. Onde está a arte? (2012) faz referência a um jogo da memória, sob novas regras, ainda desconhecidas ao jogador, onde se tece uma procura pela arte, através da interatividade. Uma obra imprevisível que subverte os padrões tradicionais do jogo. Neste mesmo sentido de subversão, Dai-me Paciência (2013) rompe com os espaços vazios, abusando da saturação e da ansiedade, uma conexão direta com as regras da sociedade contemporânea, na qual o jogador se vê imerso.
Tempo, espaço e memória são revisitados na videoarte de Fernando Codevilla, Felipe Barros, Kelly Wendt e Carlos Donaduzzi. A videoarte, nos anos 1960, é imprescindível para pensar a cultura das massas e as influências dos meios de comunicação na vida contemporânea. Os artistas que seguem trabalhando nesta linha desenvolvem obras que procuram subverter os meios e exaltar questões sempre em processo.
Em Antropaisagem (2010), Fernando Codevilla utiliza a técnica do time lapse para traduzir os diferentes tempos entre a urbe e o campo, quebrados pelo som, que insere uma nova temporalidade. Os espaços onde se passa correndo, da lógica urbana, suplantam em ritmo acelerado o espaço natural, articulados por cruzamentos ligeiros que chegam a sugerir que os espaços são mutuamente invadidos e reconfigurados. Por meio desta obra pode-se refletir uma nova visualidade para as trajetórias humanas na contemporaneidade.
Já, Felipe Barros, em Tempo Líquido (2008), Memória Perdida (2009) e Tempo dentro do Tempo (2010), pensa a destruição de imaginários por parte dos grandes meios de comunicação, procurando reconstruí-los a partir do audiovisual. O artista trabalha o tempo, remetendo às questões existenciais, como a passagem da vida, ativando a memória. As três obras evidenciam, entre os recursos da fotografia e do vídeo, a efemeridade dos momentos, sugerindo que enquanto a vida passa, alguns instantes congelados podem ser ativados, mas sempre em novos contextos, os quais organizam novas lembranças, muitas vezes, perdidas, de vidas, cada vez mais, líquidas.
O que restou dos lugarejos tranquilos e desabitados? Em que esquina foi parar o fluxo? Kelly Wendt realiza mapeamentos perceptivos de lugares. Suas deambulações transportam o público para um espaço de abandono, acionando uma dinâmica temporal que remete à memória, ao vazio, à solidão e ao medo, propondo pensar sobre a condição humana em meio a uma temporalidade que parece nem mesmo fazer parte desta vida contemporânea. Em Vídeo Mapeamento: Colônia em férias: Laranjal Beach (2012) a movimentação das formigas contrasta com um gato à espreita e a lenta degradação do espaço esquecido pelo homem; enquanto em A espera no percurso (2012), a artista observa a pacata rua e o cidadão comum. A solidão aguarda um lugar no transporte coletivo, restam o vazio e o vento. Em meio à profusão de imagens desta era, o silêncio e o vazio tornaram-se desconcertantes.
Carlos Donaduzzi transita entre o analógico e o digital. Em Balloons (2012), Tarde de Sol (2012) e Vou Guardar (2012) ele captura imagens por meio de Lomokinos, em película 35mm, e as digitaliza produzindo cenas em stop motion. Já em Huh, Embaú! (2013) a captura é digital, mas independente do meio utilizado, é a poética do artista que prevalece, através da união de fragmentos desconexos do cotidiano, que articulados à trilha, evidenciam a sutileza da vida em meio ao caos contemporâneo. O encantamento da vida comum reproduzido nestes vídeos remete a um agora mágico.
As mídias móveis deslocam as questões do espaço na arte. A narrativa visual de Luciana Swarowsky é traçada por meio do iPhone 3GS e de sobreposições feitas no próprio dispositivo de captura, em uma “caça imagética”, onde beneficia-se dos pixels para suas composições. Mesmo utilizando as tecnologias digitais, Luciana registra instantes que fazem referências a um espaço-tempo sem fim, como em Caleidoscópio (2012). Esta obra trabalha a fotografia em um "território mutável", por meio de diálogos possíveis.
É buscando desvendar o tempo, o espaço e o agora contemporâneos que Entre Sensíveis Pixels mostra diferentes abordagens sobre a influência da tecnologia digital no cotidiano. Assim, a partir da poética destes artistas se propõe novas experiências, por meio dos menores elementos da imagem, em um encontro sensível.
Débora Aita Gasparetto
Curadora da Exposição
maio 10, 2013
Ernesto Neto - Linha da vida na Fortes Vilaça, São Paulo
Ernesto Neto - Linha, Galeria Fortes Vilaça, São Paulo, SP - 21/05/2013 a 15/06/2013
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A Galeria Fortes Vilaça tem o prazer de apresentar nova exposição de Ernesto Neto. A mostra é uma retrospectiva de desenhos produzidos pelo artista desde a década de 80 até os dias de hoje, grande parte da qual é ainda inédita no Brasil. As obras foram recentemente apresentadas na mostra, La Lengua de Ernesto, curada por Adriano Pedrosa que itinerou pelo México entre 2011 e 2012.
Em Linha da Vida, Ernesto apresenta conjuntos de desenhos que são agrupados não necessariamente pelas datas em que foram feitos, mas a partir de conceitos, processos e problemáticas similares. No conjunto Estrelas os desenhos são feitos com tinta para carimbo colorido e nanquim sobre papel encharcado de água. O pingo de tinta, ao cair sobre o papel, cria um campo de cor que se expande formando manchas circulares no plano. Na série Ossos de Ipanema, o artista usa o grafite para criar uma sucessão de linhas rítmicas que envolvem um núcleo central, como se uma forma abraçasse a outra. No grupo Idade da Pedra, a mesma ideia de um corpo envolto por outro aparece, mas desta vez as linhas se revelam por meio de frottage usando grafite.
Em Folha Afeganistão, - conjunto feito no dia seguinte à invasão dos EUA no Afeganistão – uma caneta prata gordurosa é usada para delimitar a expansão das manchas de naquim. Para o artista, as formas orgânicas desta série abordam a questão da pele enquanto fronteira e do corpo enquanto território. Em Fetus Female, Neto usa linha, cera e papel criando formas antropomórficas que enfatizam espaços vazios, o dentro e o fora. Já em Poro pele Vida esse espaço vazio é preenchido por manchas de naquim diluído, trabalhando conceitos de expansão e contenção. A referência ao corpo humano é um denominador comum à vários trabalhos. Se ora o corpo aparece de maneira explicita, ora ele é apenas uma sugestão, uma presença subliminar. Há ainda obras que sugerem uma paisagem interna humana, imagens que remetem a fecundação ou atividades celulares.
O desenho sempre foi uma prática paralela ao desenvolvimento das esculturas de Neto, onde o papel é o anteparo, a superfície necessária, para a projeção de imagens que surgem, tanto a partir das esculturas como também de eventos vividos pelo artista. Não se trata de imagens de suas esculturas mas sim da projeção do pensamento escultórico do artista. É assim possível identificar nestes trabalhos bidimensionais a mesma linguagem e conceito de suas obras tridimensionais.
Ernesto Neto nasceu em 1964 no Rio de Janeiro onde vive e trabalha. Entre suas exposições individuais recentes, destacam-se; O Bicho SusPenso na PaisaGen, Estação Leopoldina, Rio de Janeiro, 2012 a instalação no Nasher Scultpure Center em Dallas, EUA, 2012; a grande retrospectiva La Lengua de Ernesto: 1987-2011, no Museo de Arte Contemporáneo de Monterrey (MARCO), México, que itinerou para o Antiguo Colegio de San Idelfonso, Cidade do México, 2011-2012; O Bicho SusPenso na PaisaGen, FaenaArt Center, Buenos Aires, Argentina, 2011; The Edgesofthe World, Hayward Gallery, Londres, UK, 2010; Neto: Intimacy, Astrup Fearnley Museum of Modern Art, Oslo, Noruega, 2010; Dengo, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil, 2010; Anthropodino, Park Avenue Armory, Nova York, EUA, 2009. O artista ainda participou de duas Bienais de Veneza, em 2001 e 2003 e participa atualmente da Bienal de Sharjah nos Emirados Árabes.
Ernesto Neto - Linha, Galeria Fortes Vilaça, São Paulo, SP - 21/05/2013 a 15/06/2013
We are pleased to present a new exhibition by Ernesto Neto. The show is a retrospective of drawings produced by the artist since the 1980s until today. Most of the works were never shown in Brazil but were recently presented at the show La Lengua de Ernesto, curated by Adriano Pedrosa, which traveled through Mexico in 2011 and 2012.
In Linha da Vida [Life Line], Ernesto presents sets of drawings grouped not necessarily according to the dates they were made, but rather on the basis of similar concepts, processes and problematics. In the set Estrelas [Stars], the drawings are made with colored stamp ink and India ink on water-soaked paper. As each drop of ink falls on the paper, it creates a color field that expands, forming circular patches on the plane. In the series Ossos de Ipanema [Bones of Ipanema], the artist uses graphite to create a succession of rhythmic lines that circle a central nucleus, as though one form were embracing the other. In the group Idade da Pedra [Stone Age], the same idea of a body surrounded by another one reappears, but this time the lines are revealed by means of graphite frottage.
In Folha Afeganistão [Afghanistan Leaf] – a set made on the day after the US invasion of Afghanistan – a silver grease pen is used to delimit the expansion of the fields of India ink. For the artist, the organic shapes of this series deal with the question of skin as a border, and the body as a territory. In Fetus Female, Neto uses thread, wax and paper to create anthropomorphic shapes that emphasize empty spaces, the inside and the outside. In Poro Pele Vida [Pore Skin Life], this empty space is filled by patches of dilute India ink, working with concepts of expansion and containment. The reference to the human body is a common denominator of various artworks. At times the body appears in an explicit way, at others it is only a suggestion, a subliminal presence. There are also works that suggest an inner human landscape, images that refer to fertilization or cellular activities.
Drawing was always a parallel practice to the development of Neto’s sculptures, where the paper is the screen, the necessary surface, for the projection of images that arise either from the sculptures themselves or from the artist’s life experiences. They are not images of his sculptures but rather the projection of the artist’s sculptural thought. It is thus possible to identify in these two-dimensional works the same language and concept found in his three-dimensional ones.
Ernesto Neto was born in 1964 in Rio de Janeiro, where he lives and works. His recent solo shows have most notably included O Bicho SusPenso na PaisaGen, Estação Leopoldina, Rio de Janeiro, 2012; an installation at Nasher Sculpture Center in Dallas, USA, 2012; the large retrospective La Lengua de Ernesto: 1987–2011, at the Museo de Arte Contemporáneo de Monterrey (MARCO), Mexico, which traveled to the Antiguo Colegio de San Idelfonso, Mexico City, 2011–2012; O Bicho SusPenso na PaisaGen, FaenaArt Center, Buenos Aires, Argentina, 2011; The Edges of the World, Hayward Gallery, London, UK, 2010; Neto: Intimacy, Astrup Fearnley Museum of Modern Art, Oslo, Norway, 2010; Dengo, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brazil, 2010; and Anthropodino, Park Avenue Armory, New York, USA, 2009. The artist has also participated in two editions of the Venice Biennale, in 2001 and 2003, and is currently participating at the Sharjah Biennial in the Arab Emirates.
Katia Maciel - Suspense na Zipper Galeria, São Paulo
Zipper Galeria apresenta a exposição “Suspense” de Katia Maciel
Katia Maciel - Suspense, Zipper Galeria, São Paulo, SP - 25/04/2013 a 15/05/2013
São Paulo, abril de 2013 – No dia 24 de abril, às 19h, a Zipper Galeria promove a abertura da segunda exposição individual da artista Katia Maciel na galeria. ”Suspense” apresenta o trabalho da artista que investiga a questão do gênero cinematográfico como conceito deflagrador das obras em exposição. A mostra fica em cartaz até 15 de maio.
Para “Suspense”, Katia criou uma instalação composta por seis suportes diferentes. Através deles a artista busca gerar uma situação de cinema, onde o espectador é convidado a vivenciar esse clima e também a interagir com a obra. “Temas como a incerteza, ansiedade e suspensão, são estados possíveis do corpo quando sujeito a situações inesperadas”, explica a artista. Em seu trabalho de vídeo Katia apresenta uma projeção na qual ela própria está pendurada em uma árvore em movimento pendular, marcando a repetição do tempo. Outras duas fotografias, “Espreita” e “Espera”, também fazem parte da exposição.
Uma instalação diante do jardim da galeria permite que o espectador interaja diretamente com a obra da artista. Um grande espelho é colocado em frente ao jardim, e captura em tempo real, a imagem que está sendo refletida nele. Isso pode incluir o visitante que se vê com a imagem do jardim ao fundo. Esta imagem será projetada, também em tempo real, no verso do espelho que funcionará como uma tela. Os espectadores da galeria irão assistir, pelo outro lado do espelho, a imagem do visitante enquanto ele se vê.
Fazem parte ainda da exposição a “Caixa de Ar” e a “Caixa de Luz”, que trazem dispositivos especulares (com espelhos) onde é possível experimentar dois poemas visuais de forma inusitada. A artista também pensou a exposição além do espaço da galeria e em seu processo de divulgação: cartazes serão divulgados progressivamente com o objetivo de gerar um suspense em torno da mostra. Eles também estão presentes na exposição criando uma narrativa visual.
É artista, cineasta e poeta, pesquisadora do CNPq e professora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro desde 1994. Em 2001 realizou o pós-doutorado em artes interativas na Universidade de Walles na Inglaterra.
Publicou, entre outros, os livros Zun (poemas 2012) Letícia Parente (org. com André Parente, 2011), O Livro de sombras (org. com André Parente, 2010), O que se vê, o que é visto (org.: com Antonio Fatorelli, 2009), Transcinemas (org.: 2009), Cinema Sim (org. 2008), Brasil experimental: Guy Brett (org. 2005), Redes sensoriais (em parceria com André Parente, 2003), O pensamento de cinema no Brasil (2000) e A Arte da desaparição: Jean Baudrillard (org.: 1997).
Katia realiza filmes, vídeos, instalações e participou de exposições no Brasil, Colômbia, Equador, Chile, Argentina, México, Estados Unidos, Inglaterra, França, Espanha, Alemanha, Lituânia, Suécia e China. Recebeu, entre outros, os prêmios: Prêmio da Caixa Cultural Brasília (2011), Funarte de Estímulo à Criação Artística em Artes Visuais (2010), Rumos Itaucultural (2009), Sérgio Motta (2005), Petrobrás Mídias digitais (2003), Transmídia Itaúcultural (2002), Artes Visuais Rioarte (2000). Seus trabalhos operam com a repetição nos códigos amorosos e seus clichés e com desnaturezas.
maio 9, 2013
Celina Portella - Dublês na EAV Parque Lage, Rio de Janeiro
Celina Portella, indicada ao prêmio Pipa 2013, apresenta suas video-instalações em "Dublês" no Parque Lage
A exposição “Dublês” da artista Celina Portella ocupará a partir do dia 17 de maio as galeria 1 e 2 da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, com duas vídeo-instalações.
A artista vem trabalhando nos últimos anos com instalações que colocam em questão o suporte do vídeo, criam interfaces com “novos espaços” e exploram novos meios e tecnologias. A partir do vídeo, suas obras dialogam com a performance, a dança, a arquitetura e ultimamente com a escultura, caracterizando-se especialmente por um questionamento sobre a representação do corpo e sua relação com o espaço.
Nas instalações intituladas “Vídeo-Boleba” e “Derrube”, apresentadas nesta mostra, o corpo e a imagem do corpo dialogam tornando a questão do duplo uma característica forte e promovendo conexões entre ação virtual e espaço real. Realizadas em períodos diferentes, as obras abordam de duas formas as fronteiras entre a ilusão e a realidade.
A instalação “Vídeo-Boleba” mostra dois meninos jogando bolinhas de gude. A imagem dos corpos e objetos é apresentada em escala real na tela de uma tv, posicionada no chão ao fundo da sala. Agachados, Nino e Guilherme revezam-se no arremesso das bolinhas que, ao sumirem do quadro da imagem pela borda lateral da tela, irrompem o real. Pouco a pouco as bolinhas vão espalhando-se pelo chão da sala, formando desenhos ao acaso.
A cena iniciada na imagem é estendida para o espaço próximo ao público dando continuidade ao deslocamento espacial virtual no plano material. A interação entre o vídeo e objetos, produz articulações entre naturezas supostamente paralelas, atribuindo substância, volume, peso, enfim, matéria, a imagem.
A obra “Vídeo-Boleba” é resultado de um projeto selecionado pelo edital de apoio à Pesquisa e Criação Artística da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, que contou com a orientação da crítica e curadora Ligia Canongia.
Na vídeo-instalação "Derrube", o corpo e seu duplo, projetados em escala real, interagem entre si. Na imagem, uma das figuras golpeia a outra com uma marreta. Ao mesmo tempo que assistimos as reações do individuo que recebe as pancadas, vemos na parede abrir-se aos poucos um buraco por onde o corpo finalmente escapa. A obra revela uma sobreposição de imagens, embaralhando dimensões, tempos e espaços e confundindo a percepção do espectador.
“Derrube”, foi realizada em 2009, por meio do prêmio do II concurso de Vídeoarte da Fundação Joaquim Nabuco em Recife. Após de ser exibida em diferentes mostras e festivais no Rio é a primeira vez que a projeção faz parte de uma exposição na cidade.
Em “Dublês”, o mundo concreto é contraparte do ilusório e vice e versa. Enquanto o vídeo busca uma representação fiel da realidade, seu desdobramento fora da tela busca reproduzir a imagem. O material e o virtual dublam, um ao outro. Finalmente, os dispositivos de Celina Portella burlam, manipulam, desordenam o olhar do espectador, confundindo sua percepção e propondo um questionamento sobre a idéia consensual de realidade.
Sobre a artista
Celina Portella estudou design na Puc-rj e se formou em artes plásticas na Université Paris VIII. Desde 2001 investiga questões sobre a representação do corpo a partir do vídeo. Recentemente foi Indicada para o Prêmio Pipa 2013 e contemplada com a Bolsa de Apoio a Criação da Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro. Ultimamente participou das residências Récollets em Paris, LabMIS no Museu da Imagem e do Som em São Paulo, entre outras. Foi contemplada no Núcleo de Artes e Tecnologia NAT-EAV Parque Lage, Rj e no II Concurso de Videoarte da Fundaj em Recife. Participou da III Mostra Do Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo, da Mostra SESC de Artes, entre outras exposições.
Oscar Oiwa - Clima tempestuoso na Nara Roesler, São Paulo
Recém-incorporado à lista de artistas da Galeria Nara Roesler, Oscar Oiwa exibe obras inéditas sobre o mundo contemporâneo globalizado em sua primeira individual na galeria
Oscar Oiwa - Clima tempestuoso, Galeria Nara Roesler, São Paulo, SP - 15/05/2013 a 15/06/2013
No dia 14 de maio, às 19h, Oscar Oiwa inaugura sua primeira exposição na Galeria Nara Roesler. A mostra Clima tempestuoso conta com 12 pinturas criadas nos últimos dois anos, todas inéditas no país. A mostra fica em cartaz até 15 de junho.
As obras retratam desastres (naturais ou causados pelo homem), violentos episódios climáticos, equívocos políticos e estados de calamidade com o traço fantasioso de Oscar Oiwa.
É possível reconhecer nas telas a influência de grandes mestres do ukiyo-e, estilo de pintura desenvolvido no Japão entre os séculos XVII e XIX. Em Rescue Boat, por exemplo, ondas gigantescas ameaçam engolir um grande navio, lançando mão da estética e do tema tipicamente nipônicos.
Esta homenagem aos mestres japoneses, porém, é aliada a questões absolutamente globais e contemporâneas, como a alusão ao Superdome que abrigou as vítimas do furacão Katrina na obra de sugestivo título Swirl (Redemoinho), de 2012, ou as menções a grandes obras de arte de muitas cifras indo para debaixo da ponte no mundo pós-crise da tela Occupy everywhere, em aberta citação ao movimento Occupy.
O trabalho de Oscar Oiwa é fruto direto de sua itinerância: filho de Japoneses, o artista nascido em São Paulo mudou-se para Tóquio durante o ápice da crise econômica. Em seguida para Londres e, em 2002, ao receber a Guggenheim Fellowship, estabeleceu-se em Nova Iorque, onde vive e trabalha até hoje. Essas diferentes estadias implantaram sua familiaridade com histórias de fantasmas, notícias cotidianas, filmes e quadrinhos de terror na sua visão do mundo urbano.
No texto crítico sobre a mostra, Marilyn Zeitlin conclui: ”Oiwa não desvia o olhar do mundo ao seu redor; ele nos faz ter sentimentos diferentes e pensar de maneira distinta sobre esse mundo. Ele usa sua consciência da imensidão do mundo, sua sagacidade, sua imaginação, sua tremenda habilidade artística para transformar o terrível em algo sobre o qual conseguimos refletir.”
SOBRE O ARTISTA
Oscar Oiwa nasceu em São Paulo (1965). Vive e trabalha em Nova Iorque, EUA, desde 2002.
Recebeu o prêmio de residência artística do Delfina Studio Trust, em Londres, assim como prêmios das instituições Pollock-Krasner Foundation, Asian Cultural Council e John Simon Guggenheim Memorial Foundation.
Participou da 21ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo (1991) e de mostras coletivas em instituições como El Museo del Barrio (Nova Iorque, EUA), Instituto Tomie Ohtake (São Paulo), Art Arsenal (Kiev, Ucrânia) e Kunsthalle Dusseldorf (Dusselfdorf, Alemanha).
Seus trabalhos foram recentemente exibidos em mostras individuais no Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro, 2011), Takamatsu City Museum of Art (Takamatsu, Japão, 2009), Tokyo Museum of Contemporary Art (Tóquio, Japão, 2009), Arizona State University Art Museum (Tempe, EUA, 2006) e Centre for Contemporary Art (Leiden, Holanda, 2000).
Suas obras estão importantes coleções públicas, como a do National Museum of Modern Art (Tóquio, Japão), Museum of Contemporary Art (Tóquio, Japão), Phoenix Museum of Art (Phoenix, EUA) e a do Príncipe Albert II de Mônaco.
SOBRE A GALERIA
Há mais de 35 anos, Nara Roesler promove arte contemporânea junto a um conjunto nacional e internacional de colecionadores, curadores e intelectuais. Em 1989, fundou a Galeria Nara Roesler em São Paulo, como um espaço para expandir as fronteiras da prática artística no Brasil e fora dele. Representando alguns dos mais interessantes artistas da atualidade, a galeria direciona seu interesse à justaposição de trabalhos dos anos 60 em diante e suas ramificações contemporâneas, representando nomes históricos ao lado de um seleto grupo de artistas em ascensão.
Em 2012, a galeria teve seu espaço expositivo dobrado, totalizando uma área 1600m² e revitalizou o projeto curatorial Roesler Hotel, iniciado em 2004, com propostas inovadoras como as mostras coletivas Lo bueno y lo malo, sob curadoria de Patrick Charpenel (diretor da Fundacción/Colección Jumex), e Buzz, mostra dedicada à op art idealizada por Vik Muniz com obras de Bridget Riley, Josef Albers, Marcel Duchamp e Yayoi Kusama.
Eduardo Climachauska - O fundo do poço na Laura Marsiaj, Rio de Janeiro
“O fundo do poço” é o título da segunda exposição individual de Eduardo Climachauska na Galeria Laura Marsiaj. Desta vez o artista apresenta um conjunto de pinturas inéditas das séries “Rua Belgrado” e “Ilusão à toa” e também algumas esculturas das séries “Ho-ba-la-lá” e “O fundo do poço”.
O conjunto de pinturas a óleo, betume e carvão sobre tela em tons bastante rebaixados são também “quadros onde a geometria existe, mas apenas para indicar, paradoxalmente, uma espécie de clareza na escuridão” (1). Elaborados em parte com materiais incomuns em pintura, aparentemente concordam que “o mais surpreendente em seu trabalho, que parece se mover entre a dormência e a faísca, é uma espécie de coragem para lidar com matéria aparentemente morta – e não à toa Eduardo Climachauska tem predileção por materiais como betume e carvão, que a longuíssima duração do tempo geológico decantou” ( 2).
Os conjuntos escultóricos construídos a partir de materiais como o mármore, o concreto e a madeira aparecem aqui e ali também como a abrir brechas nesse espaço dominado por um cortinado denso. Particularmente as peças que dão título à exposição são conjuntos duais, onde blocos maciços assumem a função de interromper bruscamente a queda natural de prumos esculpidos em diferentes materiais, como se a representação figurada e tensa desse fundo de poço fosse também (e novamente de forma paradoxal), o motor de uma ação afirmativa, de construção de uma outra ordem, embora ainda instável como de resto em todo o trabalho do artista “marcado por tensões irresolvidas entre forças poderosas” (3).
(1) Ohata, Milton. “Noite ativa do sentido” in “Eduardo Climachauska”, Editora Livre, 2009.
(2) Idem
(3) Naves, Rodrigo. “O melhor amigo do.” “Revista Zum”, IMS, nº 3, 2012.
Tonico Lemos Auad na Luisa Strina, São Paulo
Tonico Lemos Auad, Galeria Luisa Strina, São Paulo, SP - 20/05/2013 a 22/06/2013
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A Galeria Luisa Strina tem o prazer de apresentar a exposição individual do artista Tonico Lemos Auad. Nascido em Belém do Pará, o artista vive e trabalha em Londres, Inglaterra. Para sua terceira exposição individual na Galeria Luisa Strina, Auad apresenta uma série de trabalhos que ganham inspiração no rico simbolismo de sua cidade natal, em duas instalações principais.
Brick House (Casa de tijolos), é uma construção imponente que nos aparece como um casa mas não possui portas ou janelas. Encontramos no entanto uma série de ofertas aparentemente abstratas sendo esmagadas para fora de suas emendas de cimento: cordas, ramos, correntes de metal, esses elementos relacionam-se com a tradição da cidade de Círio de Nazaré, onde presentes de agradecimento e esperança são oferecidos aos Deuses: um tijolo propondo um desejo ou gratidão por uma casa. A estrutura funciona como uma intervenção no espaço da galeria, sua presença oferecendo uma sólida permanência, rica em iconografia incorporada.
O mar, tema recorrente em seu trabalho, revela-se em painéis de linho preto que flutuam no espaço expositivo. O conceito nesses trabalhos é o de remover, mais que adicionar. Os fios do linho são retirados a fim de criar desenhos abstratos de barcos e velas. Juntos, os painéis criam uma meditativa paisagem marinha noturna.
Dando continuidade ao trabalho exibido em suas últimas mostras em galerias no exterior, Tonico Lemos Auad prepara para essa exposição trabalhos que carregam um poderoso diálogo com a materialidade e o simbolismo cultural.
SOBRE O ARTISTA
Tonico Lemos Auad (1968 Belém, Brasil) vive e trabalha em Londres, Inglaterra.
Exposições individuais recentes incluem; ‘Figa’, CRG Gallery, New York (2012); ‘Carrancas and Reflected Archaeology’, Special commission, The Folkestone Triennial, Folkestone (2011); ‘Sleep Walkers’ Centro Cultural São Paulo (2011); ‘Mouth, Ears, Eyes…Just like us’, Stephen Friedman Gallery, London (2009); ‘Silent Singing’, CRG Gallery, New York (2008); Aspen Art Museum, Aspen, Colorado (2007).
Exposições Coletivas incluem; ‘Além da Vanguarda' Bienal Naifs do Brasil, SESC Piracicaba, São Paulo (2012); ‘Mythologies’, Cité Internationale des Arts, Paris (2011); ‘Undone: Making and Unmaking in Contemporary Sculpture’, Henry Moore Institute, Leeds (2010); ‘Epílogo’, Zapopan ‘Museum, Zapopan, Mexico; ‘Going International,’ The Flag Art Foundation, New York (2010); ‘Textiles Art and the Social Fabric’, MUHKA, Museum of Contemporary Art, Antwerp (2009); ‘Blooming: Brazil-Japan Where you are’, Toyota Municipal Art Museum, Japan (2008); ‘This is Not a Void’, curated by Jens Hoffman, Galeria Luisa Strina, São Paulo (2008); ‘The British Art Show 06’, Hayward Gallery touring exhibition, UK (2006); ‘Art Circus (Jumping from the Ordinary)’, International Triennial of Contemporary Art, Yokohama, Japan (2005) and ‘Adaptive Behavior’, New Museum, New York (2004).
Tonico Lemos Auad, Galeria Luisa Strina, São Paulo, SP - 20/05/2013 a 22/06/2013
Galeria Luisa Strina is pleased to present the solo show by artist Tonico Lemos Auad. Born in Belém do Pará, the artist lives in London, England. For his third solo show at Galeria Luisa Strina, Auad is presenting a series of works that find inspiration in the rich symbolism of the city of his birth, in two main installations.
Brick House is an imposing construction that looks like a house, but without doors or windows. We find a series of apparently abstract offerings being squeezed out of its cement seams: ropes, branches, metal chains - elements related with the tradition of the city of Círio de Nazaré, where gifts of thanks and hope are offered to the gods: a brick proposing a wish to gain a house, or gratitude for receiving one. The structure functions as an intervention in the space of the gallery, its presence offering a solid permanence, rich in incorporated iconography.
The sea, a recurrent theme in his work, is revealed in panels of black linen that float in the exhibition space. The concept in these works involves the removal and reorganization of the weave of the fabric, rather than addition. The threads of linen are taken out in order to create abstract drawings of boats and sails. Together, the panels create a meditative nocturnal seascape.
Lending continuity to the work shown in his recent exhibitions in galleries abroad, for this show Tonico Lemos Auad has prepared artworks that bear a powerful dialogue with materiality and cultural symbolism.
The opening will take place on May 18 at noon, and the exhibition will run from May 19 to June 22, 2013.
ABOUT THE ARTIST
Tonico Lemos Auad (1968 Belém, Brasil) lives and works in London, England.
Next shows include: 'Textiles: Open Letter', Museum Abteiberg, Germany (2013); 'Labour and Wait', Santa Barbara Museum of Art, USA (2013); 'Site: Place of Memories, Spaces with Potential', Hiroshima City Museum Of Contemporary Art, Japan (2013); besdides a special project at PINTA - The Modern & Contemporary Latin American Art Show.
Recent solo shows include: Stephen Friedman Gallery, London (2012); 'Figa', CRG Gallery, New York (2012); 'Carrancas and Reflected Archaeology', Special commission, The Folkestone Triennial, Folkestone (2011); 'Sleep Walkers' Centro Cultural São Paulo (2011); 'Mouth, Ears, Eyes Just like us', Stephen Friedman Gallery, London (2009); 'Silent Singing', CRG Gallery, New York (2008); Aspen Art Museum, Aspen, Colorado (2007).
Group Shows include; 'Além da Vanguarda' Bienal Naifs do Brasil, SESC Piracicaba, São Paulo (2012); 'Mythologies', Cité Internationale des Arts, Paris (2011); 'Undone: Making and Unmaking in Contemporary Sculpture', Henry Moore Institute, Leeds (2010); 'Epílogo', Zapopan Museum, Zapopan, Mexico; 'Going International,' The Flag Art Foundation, New York (2010); 'Textiles Art and the Social Fabric', MUHKA, Museum of Contemporary Art, Antwerp (2009); 'Blooming: Brazil-Japan Where you are', Toyota Municipal Art Museum, Japan (2008); 'This is Not a Void', curated by Jens Hoffman, Galeria Luisa Strina, São Paulo (2008); 'The British Art Show 06', Hayward Gallery touring exhibition, UK (2006); 'Art Circus (Jumping from the Ordinary)', International Triennial of Contemporary Art, Yokohama, Japan (2005) and 'Adaptive Behavior', New Museum, New York (2004).
maio 3, 2013
Claudia Andujar, Dora Longo Bahia e Keila Alaver na galeria Vermelho, São Paulo
A Galeria Vermelho apresenta, de 7 de maio a 1 de junho de 2013, as exposições "O Vôo de Watupari", de Claudia Andujar, “Passageiro” de Dora Longo Bahia, e “Corpo Mobília” de Keila Alaver.
Galeria Vermelho, São Paulo , SP - 08/05/2013 a 01/06/2013:
Sala 1: Claudia Andujar - O Vôo de Watupari
Sala 2: Dora Longo Bahia - Passageiro
Sala 3: Keila Alaver - Corpo Mobília
Claudia Andujar
O Vôo de Watupari
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Em 1976, a fotografa Claudia Andujar viajou de São Paulo até o norte do Brasil, em um fusca preto, acompanhada de seu então parceiro de trabalho, Carlo Zacquini. O objetivo dessa viagem era atingir por terra as aldeias Yanomami, em Roraima, e dar continuidade aos trabalhos iniciados em 1971, ano em que a artista teve seu primeiro contato com a cultura Yanomami.
Nos mais de 16 dias de duração da viagem, a artista fotografou paisagens entre São Paulo e Manaus, sempre de dentro do fusca preto, e de Manaus até Roraima, em uma balsa onde o fusca foi embarcado.
"O Vôo de Watupari", terceira exposição individual de Andujar na Vermelho, apresenta uma série de imagens dessa viagem. Nelas, percebe-se como o instrumento de locomoção usado pela artista, ou seja, o fusca restringe o campo de alcance da câmera Nikon usada por ela na época, enquadrando a imagem fotográfica a partir dos limites do carro. A série inclui imagens da Avenida Paulista e da marginal [São Paulo], de estradas no Mato Grosso, Rondônia, do Rio Negro e Rio Branco, e da na época recém aberta Rodovia Perimetral Norte até a Terra Yanomami em Roraima.
Andujar permaneceu em Roraima até 1977 quando foi expulsa da área Yanomami pela FUNAI e teve que voltar para São Paulo sem o seu Watupari [ser urubu na língua Yanomami], apelido dado pelos índios ao seu fusca preto.
A partir de 1978, as imagens feitas por Andujar de sua experiência com a cultura Yanomami começaram a ser publicadas em revistas e livros no Brasil e no exterior. No mesmo ano, a artista assumiu a coordenação da Comissão Pró Yanomami [CCPY].
A luta encabeçada por Andujar em defesa da vida e cultura Yanomami, obteve destaque na pauta política do inicio dos anos 1980, e, após 14 anos de serias dificuldades, ameaças e lutas, a reivindicação pela demarcação da Terra Indígena foi reconhecida em ato político, durante a ECO 1992, no Rio de Janeiro.
A viagem empreendida por Claudia Andujar, em 1976, gerou imagens luminosas. Translúcidas, elas se fundem umas nas outras e representam não apenas belas imagens, mas documentos de uma época.
Claudia Andujar
Neuchatel, Suíça, 1931.
Exposições Individuais [seleção] Marcados Para, Centro da Cultura Judaica [CCJ], São Paulo, Brasil [2011]; Uma Autobiografia Visual, Museu de Arte Moderna da Bahia [MAM BA], Salvador, Brasil [2007]; Vulnerabilidade do Ser, Pinacoteca do Estado, São Paulo, Brasil; Identidade, Fundação Cartier, Paris, França [2005]; The Yanomami, Lannan Foundation, Santa Fé, EUA [2000]; Genocídio Yanomami: Morte no Brasil, Museu de Arte de São Paulo [MASP], São Paulo, Brasil [1989]; Claudia Andujar, Eastman House, Rochester, Nova Iorque, EUA; Claudia Andujar, Limelight Gallery, Nova Iorque, EUA [1958]. Exposições Coletivas [seleção] O Abrigo e o Terreno. Arte e Sociedade no Brasil I,Museu de Arte do Rio [MAR], Rio de Janeiro, Brasil [2013]; Rituals of Chaos, Bronx Museum, Nova Iorque, EUA [2012]; Untitled (12ª Bienal de Istambul), Istambul, Turquia [2011]; The 70s: Photography and Everyday Life, The Netherlands Fotomuseum, Rotterdam, Holanda [2010]; 27ª Bienal de São Paulo: Como viver junto, Pavilhão da Bienal, São Paulo, Brasil [2006]; Citizens, Pitzhanger Manor Museum, Londres, Inglaterra [2005]; Yanomami: L’esprit de la Forêt, Fondation Cartier, Paris, França [2003]; 24ª Bienal de São Paulo: Na Sombra das Luzes, Pavilhão da Bienal, São Paulo, Brasil [1998]; A New Installation of Photography from the Collection, Museum of Modern Art [MOMA], Nova Iorque, EUA [1993].
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Passageiro, de Dora Longo Bahia, também apresenta imagens de viagens realizadas pela artista por várias partes do planeta. Nessa caso, entretanto, o vídeo constrói junto com a imagem fotográfica a narrativa da exposição.
Na África do Sul, Longo Bahia realizou em 2005 o video “Silver Session” que apresenta imagens nebulosas de uma viagem de barco por canais de um rio do país. No vídeo “Desterro”, criado em 2007 nas ruas do bairro de Santa Tereza [Rio de Janeiro], a artista direciona a câmera para o céu, captando a confusão de cabos elétricos e postes de luz, criando um emaranhado de encontros e separações. Captado com uma câmera fixa no teto do carro, o vídeo ganha velocidade até desaparecer completamente. O vídeo “Passasjer”, de 2013, foi captado em uma tomada única durante uma viagem de trem entre as cidades de Stavanger e Kragerö, na Noruega. Na obra, a imagem estática dos passageiros refletida sobre a janela de vidro do trem se confunde com a paisagem em constante movimento.
Nos três casos, imagem e trilha de sons apropriada e recontextualizada para os vídeos, diários de viagem de Longo Bahia, transformam a paisagem e agregam subjetividade a essas vistas grandiosas.
Já as fotos da série “Sem Título [Patagônia]” foram captadas numa viagem de carro realizada pela artista a Patagônia, em 2007. A série é composta por vistas de montanhas, geleiras, praias e florestas, desertos e rios. Desprovidas da presença humana, essas imagens foram criadas com câmeras Pinhole e Holga, as famosas máquinas chinesas de baixo custo cujo corpo e lentes são feitos de plástico. O resultado é de imagens que, devido ao aparato técnico escolhido pela artista para o registro, deformam a paisagem, no caso das feitas com as câmeras Holga, e, no caso das Pinholes, permitem a entrada de luz, produzindo sobre o campo da imagem grandes manchas avermelhadas. Esse procedimento de corromper a imagem aparece em outros trabalhos da artista, como nos da série “Escalpo” ou na sua série de pinturas “Farsa” em que Longo Bahia vandaliza suas próprias telas derrubando sobre elas tinta vermelha.
Dora Longo Bahia
São Paulo, Brasil, 1961.
Exposições Individuais [seleção] Desastres da Guerra, Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil [2013]; Trash Metal, Galeria Vermelho, São Paulo, Brasil [2010]; Escalpo carioca e outras canções, Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães [MAMAM], Recife e Centro Cultural Banco do Brasil [CCBB], Rio de Janeiro, Brasil [2006]; Marcelo do Campo 1969 –1975, Centro Mariantônia, São Paulo, Brasil [2003]. Exposições Coletivas [seleção] Imaginarios Contemporâneos, Museo Tecnológico de Monterrey, Monterrey, México [2013]; The Spiral and the Square, SKMU Sorlandets Kunstmuseum, Kristiansand, e Trondheim Art Museum, Trondheim, Noruega [2012]; Destricted.br, Galpão Fortes Vilaça, São Paulo, Brasil [2011]; IX Bienal Monterrey FEMSA, Centro de las Artes, Monterrey, México [2009]; 28ª Bienal Internacional de São Paulo, Fundação Bienal, São Paulo, Brasil [2008]; Farsites: urban crises and domestic symptoms in recent contemporary art, Centro Cultural Tijuana e San Diego Museum of Art, Tijuana - Mexico/ San Diego, EUA [2005]; Imagem Experimental, Museu De Arte Moderna [MAM SP], São Paulo, Brasil [2000].
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“Corpo Mobília” é a segunda exposição individual de Keila Alaver na Vermelho. Como na anterior, “O Jardim da Pele de Pêssego” [2009], o ponto de partida para a criação da exposição é o cotidiano. É dele que a artista retira a matéria prima para a criação do universo onírico que permeia a maior parte da sua obra.
“Corpo Mobília” surge a partir da pesquisa feita por Alaver com livros de anatomia publicados nas décadas de 1920 e 1950, do século passado, e combina esculturas e vídeo.
“Cabeção”, “Pulmão”, “Estômago”, “Coração” [2013] são os títulos das 4 esculturas que empregam ilustrações agigantadas de partes do corpo humano. As imagens, impressas sobre placas de MDF, fazem referência a uma época distante que não contava com as câmeras de alta definição que atualmente perscrutam o corpo humano.
O vídeo “Coração” [2013] revela, como uma tomografia, as camadas fibrosas que constituem o coração humano. Para as paredes do espaço expositivo, Alaver criou uma pintura mural que copia suas formas de alvéolos pulmonares.
Completa a individual um conjunto de livros de artista, similares as esculturas da exposição, mas que além dos órgãos mencionados acima, incluem também arcada dentária, ouvido e garganta. Uma edição limitada desses livros, produzidos pela Edições Tijuana, estará disponível para compra na data de abertura da exposição.
Keila Alaver
Londrina, Brasil, 1970.
Exposições Individuais [seleção] O Jardim da Pele de Pêssego”, Galeria Vermelho, São Paulo [2009];
Série Paisagens, Sesc Pompéia, São Paulo [2006]; Galeria Luisa Strina, São Paulo [2007 - 2003 -1998. Exposições Coletivas [seleção] A foto dissolvida, Sesc Pompéia, São Paulo [2004]; Imagética, Museu Metropolitano de Arte, Curitiba, Brasil [2003]; Marrom, Galeria Vermelho, São Paulo [2002]; Auto Retrato, Espelho do Artista, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo [2001]; Mujeres de Las dos Orillas, Centre Valencia de Cultura Mediterránea, Valencia; Bienal de Gravura, Curitiba [2000].
ENGLISH VERSION
From May 7 to June 1, 2013, Galeria Vermelho is presenting the exhibitions O Vôo de Watupari [The Flight of the Watupari], by Claudia Andujar, Passageiro [Passenger], by Dora Longo Bahia, and Corpo Mobília [Body Furniture], by Keila Alaver.
Galeria Vermelho, São Paulo , SP - 08/05/2013 a 01/06/2013:
Sala 1: Claudia Andujar - O Vôo de Watupari
Sala 2: Dora Longo Bahia - Passageiro
Sala 3: Keila Alaver - Corpo Mobília
Claudia Andujar
O Vôo de Watupari [The Flight of the Watupari]
In 1976, photographer Claudia Andujar traveled from São Paulo to North Brazil in a black Volkswagen Beetle accompanied by her work partner at that time, Carlo Zacquini. The goal of this trip was to take a land route to the Yanomami villages, in Roraima, to thus continue the works begun in 1971, the year the artist had her first contact with Yanomami culture.
Throughout that trip of more than 16 days, the artist photographed landscapes between São Paulo and Manaus, always inside the black Beetle, and from Manaus to Roraima while onboard the ferryboat that carried the Beetle upriver.
O Vôo de Watupari, Andujar’s third solo show at Vermelho, presents a series of images from this trip. In them, one perceives how the instrument used for the artist’s locomotion – that is, the Beetle – restricts the field of view of the Nikon camera she used at that time, framing the photographic image based on the limits of the car. The series includes images of Avenida Paulista and São Paulo’s Riverside Beltway, the highways of Mato Grosso and Rondônia, as well as the Rio Negro, Rio Branco and the then recently opened North Perimetral Highway leading to the Yanomami Lands in Roraima.
Andujar stayed in Roraima until 1977 when she was expelled from the Yanomami area by FUNAI and had to return to São Paulo without her Watupari [the Yanomami word for a “vulture being”], the nickname the Indians gave to her black Beetle.
Beginning in 1978, the images made by Andujar about her experience with Yanomami culture began to be published in magazines and books in Brazil and abroad. That same year, the artist took charge of the coordination of the organization Comissão Pró Yanomami [Pro-Yanomami Commission] (CCPY).
The struggle headed up by Andujar in defense of Yanomami life and culture became a key political issue in the early 1980s, and after 14 years of serious difficulties, threats and struggles, the demand for the demarcation of the indigenous lands was recognized in a political act, during ECO 1992, in Rio de Janeiro.
The trip Claudia Andujar took in 1976 resulted in luminous images. Translucent and blending together as a set, they go beyond being beautiful images, serving as documents of an era.
Dora Longo Bahia
Passageiro
Passageiro [Passenger], by Dora Longo Bahia, also presents images of trips taken by the artist through various parts of the planet. In this case, however, the exhibition’s narrative is constructed by video together with the photographic image.
In South Africa, in 2005, Longo Bahia made the video Silver Session, which presents nebulous images of a boat trip along the channels of a river in that country. In the video Desterro [Exile], created in 2007 along the streets of the district of Santa Tereza (in Rio de Janeiro), the artist points her camera skyward, capturing the jumble of electric wires and light poles, creating a tangle of encounters and separations. Captured by a camera fixed to the roof of a car, the video gains velocity until disappearing completely. The video Passasjer, from 2013, was shot in a single take during a trip by train between the cities of Stavanger and Kragerö, in Norway. In this work, the static image of the passengers, reflected on the train’s window panes, blends with the landscape in constant movement.
In each of the three works, the soundtrack features sounds appropriated and re-contextualized for the video shot by Longo Bahia as a sort of travel diary, thus transforming the landscape and adding subjectivity to these grandiose vistas.
For their part, the photos of the series Sem Título (Patagônia) [Untitled (Patagonia)] were captured in a car trip taken by the artist to Patagonia, in 2007. The series is composed of views of mountains, glaciers, beaches and forests, deserts and rivers. These images, destitute of human presence, were created using pinhole cameras or Holga cameras, the Chinese brand famous for its inexpensive cameras with a plastic lens and body. The result is images of majestic landscapes which, due to the technical device chosen by the artist to record them, are either distorted, in the case of those made with the Holga cameras, or else marked by large reddish patches of light that entered the pinhole cameras. This procedure of corrupting the image appears in other works by the artists, as in the series Escalpo [Scalp] or in her series of paintings Farsa [Farce], in which Longo Bahia vandalizes her own canvases, pouring red paint on them.
Keila Alaver
Corpo Mobília
Corpo Mobília [Body Furniture] is Keila Alaver’s second solo show at Vermelho. As in the previous one, O Jardim da Pele de Pêssego [Peach Peel Garden, 2009], the starting point for creating the exhibition is daily life, from which the artist gets the raw material for making the dreamlike universe that pervades most of the work.
Corpo Mobília arose on the basis of research made by Alaver with anatomy books published in the 1920s through the 1950s, and features a mix of sculptures and video.
Cabeção [Big Head], Pulmão [Lung], Estômago [Stomach], and Coração [Heart] are the titles of the four sculptures that use oversized illustrations of parts of the human body. Printed on MDF sheets, the images refer to a distant era before the invention of high-definition cameras that currently scan the human body.
Like a tomography, the video Coração reveals the fibrous layers that constitute the human heart. On the walls of the entire exhibition space, Alaver installed a mural painting that presentes shapes of lung alveoli.
The solo show is capped off by a set of artist’s books, similar to the sculptures in the exhibition, but which beyond the organs mentioned above also include the dental arch, ear and throat. A limited edition of these books, published by Edições Tijuana, will be available for purchase on the day of the exhibition’s opening.