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janeiro 19, 2010

Projeto Zonas de Contato propõe diálogo entre artistas de diferentes gerações no Paço das Artes

Nesta primeira edição, Paulo Climachauska apresenta a exposição Rota da Seda e convida Rafael Carneiro para um diálogo artístico de desenhos e pinturas que trabalham com a desconstrução e o esvaziamento em busca de novas significações. Workshop e mesa redonda integram a programação

O novo projeto do Paço das Artes, Zonas de Contato, propõe a um artista que convide outro de geração mais nova para promover um diálogo de trabalhos. Paulo Climachauska é o artista-curador escolhido para inaugurar esta primeira edição, que traz como convidado o jovem artista Rafael Carneiro. Climachauska apresenta a exposição Rota da Seda, um conjunto de quatro pinturas e 16 desenhos realizados com contas de subtração, que dialogam com uma pintura de grande dimensão de Rafael Carneiro. Zonas de Contato tem abertura no dia 25 de janeiro, a partir das 20h, em evento aberto ao público, e pode ser visitada de 26 de janeiro a 04 de abril.

De 22 a 26 de março, das 16h às 18h, Paulo Climachauska ministra o workshop gratuito Procedimentos em Arte Contemporânea destinado a interessados na discussão sobre poéticas e procedimentos na arte contemporânea. Haverá análise de material apresentado pelos participantes e exercícios práticos. No dia 25 de março, ocorre o seu encerramento, com mesa redonda gratuita e aberta ao público que contará com as participações de Paulo Climachauska, Rafael Carneiro e Thales Ab’Saber.

Rota da Seda faz referência ao histórico caminho de ligação entre o Oriente e o Ocidente, que inclui regiões do Oriente Médio atualmente marcadas pelas disputas por gás e petróleo. Os desenhos representam imagens de locais destruídos por guerras e confrontos dentro do percurso da Rota da Seda extraídas de jornais impressos e internet; as pinturas mostram insetos como o bicho da seda e libélulas, em referência formal a aviões e helicópteros, todos pintados em padrões semelhantes à camuflagem militar.

Os trabalhos de Paulo Climachauska fazem parte de uma série denominada “construção por subtração”, na qual o artista busca reverter a lógica organizacional de um mundo pautado por uma somatória de processos construtivos e progressivos. “Propor um mundo construído por subtração no lugar da soma é para mim desvendar a artificialidade deste sistema tido como natural e propor outras formas de entendimento do mundo”, afirma o artista.

O contato estabelecido com a pintura de grande dimensão de Rafael Carneiro se dá tanto pela forma expositiva quanto pela linguagem e proposta teórica das obras. Ambos os artistas apropriam-se de imagens anteriormente produzidas como referência para a criação de suas obras e trabalham com a desconstrução e esvaziamento dos elementos que compõem um quadro em busca de uma significação que aponte para outra direção. Para a exposição, foram organizadas duas salas idênticas, formando dois corredores espelhados na entrada do Paço das Artes.

Sobre os artistas

Paulo Climachauska nasceu em São Paulo em 1962 e graduou-se em História e Arqueologia pela Universidade de São Paulo. Realizou sua primeira exposição em 1991 no MAC-SP. Participou da 26ª Bienal Internacional de São Paulo em 2006 e, no mesmo ano, da 8ª Bienal de Cuenca, no Equador, e da 14ª Bienal de San Juan, em Porto Rico. Realizou exposições individuais no Moderna Musset, de Estocolmo, na Galeria Millan (SP), Galeria Lurixs (RJ), Project 01, Park Gauflstrafle, em Hamburgo, Paço Imperial (RJ), entre outras tantas instituições. Participou ao longo deste tempo de quatro edições do Panorama da Arte Brasileira, no MAM-SP, e de outras Bienais como as de Havana, em Cuba, Lima, no Peru, e da I Bienal Ceará América, em Fortaleza, além da coletiva no Henry Moore Institute em Leeds, na Inglaterra, e no Toyota Contemporary Art museum, no Japão. Possui obras nos principais acervos públicos do Brasil, a exemplo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, MAM-SP, Instituto Cultural Itaú, MAC-SP, Pinacoteca Municipal de São Paulo, MAM-RJ e Coleção Gilberto Chateaubriand.

Rafael Carneiro nasceu em São Paulo (SP), em 1985, e concluiu, em 2006, o curso de artes plásticas na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Em 2005, expôs na mostra coletiva do Projeto Nascente, no Centro Universitário Maria Antônia (Ceuma). Em 2007, participou do 32º Salão de Arte de Ribeirão Preto Contemporâneo, onde ganhou o Prêmio Aquisição. Em 2008, expôs como artista premiado na coletiva Projéteis de Arte Contemporânea, promovida pela Funarte, Rio de Janeiro. Na mesma cidade, exibiu uma individual na Galeria Artur Fidalgo. Vive e trabalha em São Paulo.

Zonas de Contato

Zonas de Contato engloba o deslocamento e a ampliação das funções no ambiente da arte: o artista convidado, além de expor suas obras, atua como curador ao eleger e convidar um jovem artista cujo trabalho dialogue com o seu, estabelecendo as múltiplas zonas de contato que a arte contemporânea permite.

A inovação deste projeto do Paço das Artes se encontra nos diálogos possíveis entre as linguagens da arte contemporânea. Zonas de Contato propõe aproximações entre formas de exibição, linguagens e propostas artísticas, além de um diálogo entre artistas de diferentes gerações.

Paço das Artes

O Paço das Artes, Órgão da Secretaria de Estado de Cultura do Governo do Estado de São Paulo, foi criado em 1970 e atualmente é administrado pela Associação dos Amigos do Paço das Artes Francisco Matarazzo Sobrinho, Organização Social de Cultura. Atualmente, conta com a direção geral da curadora e crítica de artes visuais Daniela Bousso, com a direção técnica da pesquisadora e curadora de arte contemporânea Priscila Arantes, com a direção administrativo-financeira do engenheiro Selim Harari e com Marcela Amaral na gerência do Núcleo de Projetos. A missão do Paço das Artes é “fomentar, exibir, difundir e refletir sobre a arte contemporânea”.

Posted by Marília Sales at 4:57 PM

Com curadoria de Hugo Fortes, Urbi et Orbi traz ao Paço das Artes vídeos que partem das experiências de deslocamento do artista contemporâneo

A exposição apresenta vídeos de artistas brasileiros e estrangeiros com seus olhares multiculturais sobre as metrópoles contemporâneas. O filme Dinâmica da Metrópole (2005), baseado em roteiro de 1921 de Moholy-Nagy, destaca-se por atualizar o legado deste precursor da ideia de artista multimídia em trânsito

Os artistas Hugo Fortes e Síssi Fonseca partem de suas vivências em Berlim e trazem ao Paço das Artes, de 26 de janeiro a 04 de abril, a exposição Urbi et Orbi - Para a cidade e para o mundo, composta por 12 vídeos brasileiros e estrangeiros que se focam no olhar revelador do artista contemporâneo, um grande observador em constante mobilidade geográfica à procura de novos modos de ver e sentir. No dia 25 de janeiro, às 19h, ocorre palestra do curador Hugo Fortes seguida de visita guiada à exposição. A partir das 20h, a performance Trajetos da artista e assistente de curadoria Síssi Fonseca marca a abertura da exposição, em evento gratuito e aberto ao público.

Os vídeos descrevem os processos de deslocamento dos indivíduos no ambiente globalizado e transnacional da atualidade. Artistas de nacionalidades diversas usam cidades de vários países (Alemanha, Brasil, Colômbia, França, Japão e Índia) como ponto de partida para discutir a diluição de fronteiras temporais e espaciais que o mundo atual experimenta. Surgem desse processo tensões culturais entre local e global em situações que envolvem identificação e estranhamento, solidariedade e conflito.

Embora centrada na produção atual, Urbi et Orbi – Para a cidade e para o mundo apresenta o filme Dinâmica da Metrópole, experimento cinematográfico de 2005 feito a partir do estudo de um roteiro de 1921-22 do artista László Moholy-Nagy que não chegou a ser filmado à época. A realização ficou a cargo de um grupo de pesquisa da Universität der Künste Berlin coordenado por Andreas Haus, que mesclou imagens originais e atuais para retratar a movimentação da metrópole de Berlim com poéticas construtivistas, dadaístas e futuristas. László Moholy-Nagy, artista e professor da Bauhaus no começo do século XX, é um dos símbolos do espírito de uma época marcada pelas possibilidades trazidas pela eletricidade e pela indústria: viveu nas metrópoles de Berlim e Nova York e transitou por diversas mídias (pintura, fotografia, cinema e design).

“O fenômeno do ‘artista em trânsito’ é o foco principal da exposição. Cada vez mais os artistas contemporâneos desenvolvem suas poéticas a partir de viagens e residências internacionais, o que lhes confere novas visões de mundo e possibilidades de expansão criativa. A ideia da exposição surgiu a partir das nossas vivências por dois anos em Berlim, onde travamos contato com os artistas e trabalhos que serão exibidos.”, explicam Hugo Fortes e Síssi Fonseca.

Sobre o curador

Hugo Fortes é artista plástico, designer e professor da USP. De 2004 a 2006 viveu em Berlim como bolsista de doutorado do Serviço de Intercâmbio Acadêmico Alemão (DAAD) e CAPES. Como artista já expôs no Brasil, Alemanha, França, Espanha, Dinamarca, Grécia, Chile, Venezuela, Marrocos, Armênia e Filipinas. Tem participado regularmente de festivais de vídeo como o Videobrasil, o Videoformes (França), a Kunstfilmbiennale (Alemanha), Athens Videoart Festival (Grécia). Entre suas últimas exposições estão Tierperspektiven, no Georg-Kolbe Museum (Berlim, Alemanha), Nouvelles de São Paulo, na École Nationale des Beaux-Arts (Paris, França), Deformes Bienal Internacional de Performance (Santiago, Chile) e Mostra Verbo, na Galeria Vermelho (São Paulo).

Artistas e obras exibidas

Andreas Haus (Alemanha) / Walter Lenertz (Alemanha) e grupo da Universität der Künste Berlin Dynamik der Großstadt, ein filmisches Experiment nach L. Moholy-Nagy (Dinâmica da Metrópole – um experimento cinematográfico a partir de roteiro de László Moholy Nagy)

Alemanha, 2005/6 , 14 min

A partir de um projeto original de 1921-22 do artista construtivista Moholy-Nagy, o grupo de pesquisa da Universität der Künste Berlin (Universidade das Artes de Berlim) realizou, em 2005, uma versão atual do filme Dinâmica da Metrópole, que nunca chegou a ser filmado pelo próprio Moholy-Nagy. Com uma estética embasada no Construtivismo, no Dadaísmo e no Futurismo, o filme retrata as energias formais e emocionais da grande cidade em movimento. A figura de Moholy-Nagy é emblemática na exposição, já que se trata de um dos artistas do início do século XX de grande trânsito internacional, tendo nascido na Hungria e vivido na Alemanha e nos Estados Unidos. Seu fascínio pelo movimento e pela metrópole e sua busca de um olhar inovador podem ser vistos neste filme.

Antje Engelmann (Alemanha) / Cyrill Lachauer (Alemanha)

Ein Kolonialfilm (Um filme colonial), 2008, 5 min

Em um ambiente rural na Colômbia, um casal se encontra para uma dança entre o sonho e a realidade. Incorporando os estereótipos de sul-americanos, o casal de artistas alemães assume uma nova identidade em uma narrativa irônica e aberta, que leva o espectador a questionar a representação dos papéis sociais e sexuais, suas relações de poder e dominação e as aparências.

Cao Guimarães (Brasil) / Rivanne Neuenschwander (Brasil)

Volta ao mundo em algumas páginas, Brasil/Suécia, 2002, 15 min

O vídeo mostra uma ação realizada pelos artistas em uma biblioteca de Estocolmo, Suécia. Os artistas inserem pequenos pedaços do mapa-mundi em meio a livros escolhidos aleatoriamente para serem encontrados por futuros leitores. Imagens de recordações de viagens são intercaladas entre as imagens dos livros, levando a uma reflexão poética sobre o transitar pelo mundo.

Carola Schmidt (Áustria)

Eine Zerstäubung in mehreren Posen (Uma pulverização em diversas poses), Alemanha, 2005, 13 min

Em um velho teatro, antigas atrizes revivem após um sono centenário e disputam uma vaga em uma audição. No porão do teatro, uma personagem limpa com vigor todo o pó do século, dissolvendo sua própria imagem. Outra figura misteriosa engole algodão, enquanto poemas sobre memória e culpa são lidos por várias vozes. Neste vídeo de impressionante resultado visual, a pulverização da história e seu apagamento são apresentadas de forma surreal e poética. O filme reúne atuações de artistas de origem alemã, inglesa, australiana, brasileira e austríaca. O acerto de contas com a pesada história dos países de língua germânica se dá através de um ambiente multicultural contemporâneo.

Hugo Fortes (Brasil)

Noturno, Alemanha, 2006, 5 min

Neva. É noite. Os últimos carros e transeuntes voltam para suas casas. Apenas os faróis continuam a piscar. Captado pela janela do próprio apartamento do artista em Berlim, o vídeo propõe um olhar sobre a melancólica paisagem noturna de Berlim, o tempo, o trânsito e o fluxo da vida.

Lina Kim (Brasil)

Stairs, Alemanha/Índia, 4 min. A artista brasileira, de origem coreana, que vive atualmente em Berlim, realiza este trabalho em sua viagem à Índia. Suas imagens poéticas mostram um homem lavando uma escada de uma rua em uma cidade indiana, onde tudo é trânsito, fluido e passagem.

Martyna Starosta (Polônia)

Pyromanic Exercises (Exercícios Piromaníacos), Alemanha, 2009, 11 min

O vídeo é uma espécie de parábola sobre poder, impotência e terrorismo. Nesta irônica videoperformance, a artista afirma ser capaz de provocar incêndios em lojas de departamento, shoppings centers e outros símbolos do capitalismo a partir de poderes telepáticos. Sua origem polonesa lhe fornece um olhar crítico sobre o capitalismo que invade Berlim cada vez mais.

Rabi Georges (Alemanha)
I fuck you, Alemanha, 2007, 4 min

Nesta videoperformance o artista desafia valores da sociedade, interagindo corporalmente e sensualmente com esculturas e monumentos públicos, em uma atitude iconoclasta e provocativa. Nascido na Alemanha, porém de origem árabe, o artista realiza frequentemente trabalhos em que questiona os choques culturais e os papéis sexuais tradicionais nas culturas ocidentais e orientais.

Rachel Rosalen (Brasil) / Marit Lindberg (Suécia)

Post-diaries (Pós-diários), Japão/Suécia/Brasil, 2008, 15 min

Uma artista brasileira e uma artista sueca reconstroem suas impressões sobre uma visita ao Japão realizada cinco anos antes da edição final do vídeo. As memórias e sensações que restaram dos momentos ali vividos são reelaboradas a quatro mãos, criando uma narrativa fragmentada feita de percepções sensíveis de uma cultura distante no espaço e no tempo.

Silvia Marzall (Brasil/Alemanha)

Moment: raised, videoinstalação com dois canais, Alemanha, 2007, 3 min

Nesta videoinstalação o movimento de um homem e de uma mulher em balanços é mostrado de forma a colocar em suspensão o poder da gravidade e a passagem natural do tempo. O momento do ápice da suspensão no ar ao balançar é estendido causando uma tensão, parecendo que os corpos dos personagens estão prestes a se soltar. As ideias de trânsito constante e fluidez estão expressas metaforicamente no vaivém dos balanços. Silvia Marzall é artista brasileira, crescida na Itália e vivendo na Alemanha. Este trabalho foi realizado em Berlim, em cooperação com o artista australiano Govinda Lange.

Síssi Fonseca (Brasil)

Trajetos, performance, 20 min, 2010

Nesta performance a artista circula entre os visitantes da exposição, caminhando de diversas formas, como diferentes pessoas em diversas situações nas ruas das metrópoles. Ela observa o gestual dos transeuntes e interage com o público. Ao final ela abre um imenso mapa imaginário de uma metrópole, sobre o qual circula e delineia seus passos.

Ulf Aminde (Alemanha)

Weiter (Continue), Alemanha, 2003, 10 min

Em um terreno abandonado, punks brincam de dança das cadeiras. Um comentário irônico sobre os costumes e os trânsitos sociais.

Wagner Morales

Les Bonnes Manières (As boas maneiras), videoinstalação com dois canais, França/Brasil, 2006, 8 min

A partir de uma residência realizada em Paris, o artista observa os costumes franceses, confrontando a imagem que se tem da França propagada em seus livros de boas maneiras com a realidade da vida diária encontrada no metrô e nas ruas desta metrópole europeia.

Posted by Marília Sales at 4:51 PM

Cálculo de Expressão e Iberê Camargo na Iberê Camargo, Porto Alegre

Exposição Cálculo de Expressão, que abre no dia 10 de dezembro, oferece uma oportunidade rara de encontrar reunidas em um só lugar as obras gráficas de três ícones da arte moderna brasileira, em um total de 156 gravuras, 12 matrizes e nove livros ilustrados. No mesmo dia, também é inaugurada a exposição Paisagens de Dentro, conjunto de 25 pinturas produzidas nos últimos anos de vida de Iberê Camargo. A abertura das duas exposições ocorre às 19h, no átrio da Fundação. Cálculo da Expressão permanece em Porto Alegre até 21 de março e Paisagens de Dentro, até 5 de setembro

Obras de três dos principais nomes da arte moderna brasileira e responsáveis por algumas das mais ricas produções gráficas do país estarão reunidas na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, a partir de 10 de dezembro, na exposição Cálculo de Expressão. A reunião das gravuras de Lasar Segall, Oswaldo Goeldi e Iberê Camargo é um encontro raro, segundo define a historiadora de arte e doutora em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora do Instituto de Artes da UERJ, Vera Beatriz Siqueira, que assina a curadoria da mostra.

A exposição fica em cartaz até 21 de março, com 156 gravuras, 12 matrizes e nove livros ilustrados dos três mestres. O patrocínio é das empresas Gerdau, Itaú, Camargo Corrêa, Vonpar e De Lage Landen. Exibida no segundo e terceiro andares da Fundação, a mostra é um convite ao diálogo e à confrontação da produção destes três grandes nomes, donos de visões muito particulares sobre o fazer artístico. Segundo a curadora, os três estão reunidos sob o rótulo de expressionistas, não como vertente artística, mas pela busca obstinada da arte como expressão máxima, como suporte para a experiência pessoal. "Artistas modernos e contemporâneos, como Goeldi, Iberê e Segall, buscavam construir meios plásticos para a expressão, na tentativa de se repor como artista em cada gesto", afirma.

Desta busca, explica Vera, surge o título da exposição. “Há um hiato entre a intenção do artista, a realização da obra e a percepção do público. Transpor esse espaço exige um elaborado cálculo em busca da expressividade. A ideia da mostra é apresentar as gravuras dos três artistas como um processo estruturado para reproduzir o potencial visual que eles almejavam. A economia de meios de Goeldi, a formalização erudita de Segall, a concentração e intensidade formal de Iberê Camargo seriam esses cálculos de expressão”, completa.

Para compor a mostra, estão presentes na Fundação gravuras que exemplificam ao público a trajetória artística e pessoal de cada artista. Há 44 gravuras e três matrizes de Iberê Camargo, 51 gravuras e sete matrizes de Goeldi e 61 gravuras e duas matrizes de Segall. “Vale destacar as séries Pescadores de Goeldi, os Emigrantes de Segall e os Ciclistas de Iberê Camargo, que são imperdíveis, pois exemplificam bem o tema proposto na mostra: a busca por expressão e afirmação do eu”, avisa a curadora, que optou por posicionar as obras juntas nas salas de exposições. “Reunir as obras destes três nomes deve permitir a reflexão sobre as semelhanças e distinções entre os universos temáticos, as dimensões técnicas e os cálculos estéticos de cada artista, além de propiciar interpretações renovadas para essa vertente expressiva da arte brasileira”, completa.

Os artistas estarão lado a lado, propondo um diálogo direto entre as produções e as influências dos contemporâneos Goeldi e Segall sobre a obra gráfica de Iberê Camargo. “O encontro destes três grandes mestres da arte brasileira, todos exímios gravadores, representa uma rara oportunidade para conhecer mais detalhadamente sua obra gráfica, e investigar de que maneira Goeldi e Segall influenciaram Iberê Camargo e como Iberê Camargo trabalhou e incorporou esses elementos em sua própria produção”, resume o superintendente cultural da Fundação, Fábio Coutinho.

As gravuras presentes em Cálculo da Expressão integram os acervos da Fundação Iberê Camargo, Museu Lasar Segall, Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.

Sobre os artistas da Cálculo de Expressão

Oswaldo Goeldi
Oswaldo Goeldi (Rio de Janeiro, 31 de outubro de 1895 – 15 de fevereiro de 1961) é filho de Adelina Meyer e do naturalista Emilio Goeldi. Após seu nascimento, a família vai para Belém do Pará, onde o pai dirige o atual Museu Goeldi. Lá vive até 1901, quando se muda para a Suíça. Goeldi permanece na Europa até 1919, momento em que inicia sua formação artística junto ao ateliê de Hermann Kummerly, onde aprende a técnica da litografia. De volta ao Brasil, se estabelece no Rio de Janeiro, trabalhando como ilustrador de revistas e jornais. Em 1924, aprende com o xilógrafo alemão Ricardo Bampi a gravar em madeira, utilizando pequenos tacos e instrumentos improvisados. Seu vocabulário conciso em preto e branco dá lugar a experiências com cor a partir de 1937, quando ilustra Cobra Norato, de Raul Bopp. Goeldi dedica-se integralmente ao desenho e à gravura, realizando pequenas tiragens sobre papel de arroz, explorando a poética das aberturas de frestas de luz pelo corte na madeira.


Lasar Segall
Lasar Segall (Vilna, 21 de julho de 1891 – São Paulo, 2 de agosto de 1957) é filho de Esther e Abel Segall, escriba de Torá. Inicia bem jovem sua formação artística, viajando para a Alemanha. Em 1912 vem ao Brasil visitar os irmãos que aqui moravam e no ano seguinte realiza exposições no país. Em 1919 funda com outros artistas a Secessão de Dresden. Nesse momento, sua obra apresenta uma linguagem sintética, na qual tem destaque os contornos agudos e a presença do vazio. A partir do início da década de 1920, aproxima-se das tendências realistas do expressionismo alemão. Em 1923 muda-se definitivamente para o Brasil, passando a participar ativamente do movimento modernista. Sua linguagem sofre mudanças na incorporação afetiva da nova realidade. Sobressaem os temas do desenraizamento, em imagens introspectivas e melancólicas, de contornos arredondados e tratamento volumétrico do espaço. Dedica-se ao desenho, à pintura, à gravura e à escultura.


Exposição Paisagens de dentro: as últimas pinturas de Iberê Camargo

No dia 10 de dezembro, mesma data em que a Fundação Iberê Camargo abre a Cálculo da Expressão, inaugura também Paisagens de Dentro, mostra que traz 25 quadros pertencentes ao acervo da Fundação Iberê Camargo e é, também, um mergulho na entrega de Iberê à sua essência como artista e à expressão máxima de sua realidade interior transposta para as telas.

A curadoria de Icleia Cattani busca nos últimos quadros produzidos pelo artista, na década de 90, o período de retorno de Iberê não apenas à reinterpretação das figuras humanas, mas principalmente às paisagens, que desta vez reaparecem como externalização dos signos, imagens e experiências pessoais, como se fossem paisagens interiores. “Nas telas de Iberê dos anos 90, as paisagens parecem ser geradas de dentro do próprio pintor, de dentro dos corpos humanos presentes nas telas, como se fossem criadas à sua medida. Essa característica é notável até sua última tela, Solidão”, avalia a curadora, crítica de arte professora titular do Instituto de Artes da UFRGS.

Solidão, derradeiro quadro produzido em 1994, ano da morte do artista, surge na exposição acompanhado de outras obras emblemáticas da trajetória final de Iberê, como as séries Tudo te é fácil e inútil e as Idiotas. Elas reproduzem algumas das principais características mantidas pelo artista para compor essas “paisagens”, como os tons monocromáticos, e as figuras planas e desmaterializadas. A exposição ocorre no quarto andar expositivo da Fundação.

Sobre Iberê Camargo
Iberê Camargo (Restinga Seca, 18 de novembro de 1914 – Porto Alegre, 9 de agosto de 1994) é filho de Doralice Bassani de Camargo e de Adelino Alves de Camargo, ferroviário. Inicia seus estudos em Santa Maria e em 1939 vai para Porto Alegre. No mesmo ano, casa-se com Maria Coussirat. Em 1942 se muda para o Rio de Janeiro, onde trava contato com Portinari e Guignard, passando a freqüentar o curso livre por este ministrado. Explora a técnica da gravura, com o mestre Hans Steiner. Em 1948 Iberê viaja para a Europa, onde permanece por dois anos, estudando e visitando museus. De volta ao Brasil, leciona em seu ateliê. Realiza ilustrações, estudos técnicos, escreve ensaios e participa da fundação de cursos de gravura, interessando-lhe investigar todas as possibilidades do meio. Em 1982, volta a residir em Porto Alegre. Nesta época, quando sua série de carretéis e núcleos é celebrada por críticos e pelo mercado, retorna ao tema da figura humana e de sua dor essencial. Dedica-se ao desenho, à pintura e à gravura.

Posted by Marília Sales at 4:45 PM

Uma conversa entre Marco Giannotti, José Spaniol e Carlos Eduardo Uchôa

Marco Giannotti – Acho que a questão inicial é por que a gente está expondo lá no Mosteiro e quais foram as motivações que nos levaram a fazer isso. Acho que tudo surgiu de uma conversa que tive com Carlos Uchoa na minha exposição no Gabinete de Arte Raquel Arnaud em Maio deste ano, onde a gente estava discutindo as limitações que temos hoje em dia para apresentar o nosso trabalho. Nós ficamos muito presos à uma agenda ditada exclusivamente pelos museus e galerias de arte. Nesse sentido, a experiência que o Carlos Uchoa tem de vivenciar duas realidades - o fato dele ser monge e pintor, de passar boa parte da vida em um mosteiro, ou seja, tendo uma vivência espiritual muito intensa, - é muito interessante. Acho que essa possibilidade de pensar a relação entre arte e espiritualidade, no contexto contemporâneo, poderia ser recolocada na medida em que nós fizéssemos uma intervenção em um lugar que é pouco usual hoje em dia, mas que tradicionalmente sempre foi um lugar privilegiado para a ocupação artística. E essa experiência se perdeu hoje. A partir desse diálogo veio esse grande desafio para nós de realizar essa exposição. E aí, imediatamente por uma afinidade, nós chamamos o José Spaniol, que além de ser um grande amigo, acho que partilha conosco uma grande inquietação sobre o lugar da arte contemporânea no contexto atual. E mais que isso: uma vocação para certa espiritualidade. José Spaniol – Eu acho que, para mim, desde o início, participar e ajudar a desenvolver o projeto se tornou um desafio mesmo. Fazer uma intervenção ou levar a sua produção individual para um local como o Mosteiro de São Bento, que é um lugar com uma tradição, uma história... Então ao levar o seu trabalho para lá é impossível não ser sensibilizado, não ser de certa maneira atingido por esse lugar. Você entra em contato com uma coisa que é “O que é fazer uma exposição nesse lugar?”. Por que fazer uma exposição nesse lugar é diferente de fazer uma exposição em outro lugar? Porque esse lugar, de certa maneira é uma exceção hoje em dia em relação a uma galeria, um museu, ou mesmo nessa série de projetos site specific que a gente participa, eu acho que mesmo aí existe uma particularidade. Não é qualquer site specific se a gente for entender dessa maneira. Então as questões que eu tenho pensado, a minha aproximação com esse projeto está se dando ou se deu a partir dessas inquietações e desses pensamentos. “Como levar o trabalho para lá?”, “Como me aproximar desse lugar que é tão impregnado de certa atmosfera, de certa história?”.

Carlos Uchôa – Esse projeto tem me desafiado bastante como artista e tem me trazido essa possibilidade de diálogo próximo com o José Spaniol e o Marco Giannotti, feito através dos nossos trabalhos, o que é também alguma coisa que estimula e desafia, além de considerar o desafio mais sério que é o próprio espaço. De alguma maneira, a presença do meu trabalho no Mosteiro não é óbvia. Seria óbvia se lida sob uma perspectiva que olha o meu trabalho a partir do dado de eu ser monge, mas isso não explica a obra. A ligação não é óbvia, e, portanto, também não é óbvia a pertença do meu trabalho ao espaço do mosteiro. Entretanto, existe um contato que liga de certo modo a obra desses três artistas e o espaço: espiritualidade. Há uma relação que estabelece esse canal de diálogo; esse mesmo fluxo subterrâneo. Ele está percorrendo o nosso diálogo através dos trabalhos. O espaço é bastante forte e significativo em São Paulo: o fato do mosteiro ser um marco histórico da cidade. O Mosteiro foi fundado em 1598, e permanece até hoje no mesmo lugar. Foi referência espiritual e cultural ao longo de várias etapas do crescimento da cidade. Então, além do espaço de exposição ser marcado por um ambiente arquitetônico e cultural específico, ele também é marcado, num contexto bem preciso, por ser um ponto histórico forte da cidade. E São Paulo é carente dessas referências históricas para quem vive nela. Nós também de alguma forma nos colocamos no desafio do diálogo com todo esse contexto.

J – Acho que essa é a primeira vez que você se coloca como monge e pintor em um só contexto. Porque de certa forma você via essas duas atividades como bem distintas na sua vida. Nesse projeto, essas duas coisas chegam a um lugar comum. E acho que isso deve ser uma experiência bastante forte para você. Não?

C – É, eu acho que sim. Acho que as duas atividades se aproximam pela exposição, embora eu justamente não queira... eu não me dedico a nenhum tipo de arte sacra. De uma arte religiosa strictu senso. Existe uma espiritualidade que perpassa o trabalho, mas ela não é demarcada. Temos também uma facilidade na nossa cultura de rotular certas coisas. Isso é justamente do que eu sempre quis fugir. Por isso sempre tive cuidado nessa relação, porque, para alguns, existe sempre esse apelo, e isso ficou claro em outras exposições. Apelo de colocar a minha biografia na frente, mas o que me importa são os meus trabalhos de arte e não a minha biografia.

J – Queria retomar uma coisa só, quando você falou da história do mosteiro, da ligação da história do mosteiro com a ligação com a história de São Paulo. Tem uma coisa interessante na localização do mosteiro em relação à geografia da cidade. Porque o mosteiro fica em uma colina. De um lado tem a colina do mosteiro e do outro lado do vale do Anhangabaú tem a colina da Igreja Santa Efigênia. Porque o vale desce ali e depois sobe de novo onde fica hoje a Igreja Santa Efigênia. E do outro lado ali tem o Pátio do Colégio, que está mais ou menos no mesmo nível, aí desce o Parque Dom Pedro e lá do outro lado começa a região mais baixa, mais plana, onde hoje fica a Radial Leste. Porque é interessante também pensar no Mosteiro, nessa coisa da ocupação da cidade de São Paulo, e o mosteiro faz parte dessa história ocupando uma das colinas. A medida em que a gente passou a freqüentar, o Marco e eu, o Mosteiro, por conta desse projeto, é curioso como esses significados e esses sentidos vão se agregando à nossa plástica, ao nosso assunto poético, como é que esses conteúdos todos vão se aproximando. E enquanto você falava também, Carlos, lembrei de uma coisa sobre o desafio de expor em um mosteiro, é curioso porque em certo sentido o convite para exposição parece que veio em uma hora muito adequada para mim porque as coisas que eu tenho feito ultimamente, apesar de não ter concebido os trabalhos pensando em uma visão religiosa ou espiritual, acho que os trabalhos nesse momento tem muito essa vocação ou uma abertura para essa coisa desse tipo. O último trabalho que eu fiz, lá na Capela do Morumbi, que é o Tímpano, talvez pudesse estar no mosteiro de São Bento. Ele tem uma série de ligações e implicações plásticas que aproximam o trabalho dessa idéia da arte e da espiritualidade. E mesmo esses trabalhos que eu pretendo expor no mosteiro, também acho que têm abertura para essa aproximação.

M – Acho que a experiência da gente trabalhar em um marco da cidade, nos faz refletir como nós somos carentes em relação a isso em São Paulo. Fiquei muito comovido com o Peter Zumthor que ganhou o Pritzker Prize deste ano, por ter projetado uma belíssima capela. Quer dizer, essa prática de se pensar em um lugar para o culto, seja ele cristão ou não, ecumênico, é algo que se perdeu aqui no Brasil e é algo que precisa ser retomado. Pense como grandes artistas têm no final da vida um projeto em que fazem culminar sua trajetória, como a capela de Vence, do Matisse, a capela do Rothko. Ou seja, essa relação de você pensar uma obra específica para aquele lugar, onde você consegue efetivamente criar uma carga simbólica, que diminuiu muito no mundo contemporâneo. Basta pensar que Andy Warhol e Beuys, duas referências de artistas para o século 21, tiveram uma relação muito forte com a religião. Warhol vem de uma família tcheca bastante católica, tinha uma relação muito forte, icônica com a imagem. E a igreja que ele freqüentava quando criança tinha uma relação muito forte com os ícones. A mesma coisa com o Beuys. Os primeiros trabalhos são claramente religiosos, tem a presença da cruz muito veemente.

J – Daí tem que falar do Beuys também porque o Ewald Mataré, que foi o primeiro professor do Beuys lá na Alemanha, ele também foi um artista que vivia de túmulos. Ele fazia túmulos, fazia lápides, modelava figuras para cemitério, e o Beuys ajudava nesses pequenos trabalhos no início da carreira. O Beuys tem uma série de cruzes, cordeiros e figuras da simbologia cristã, que ele fez muito jovem. Muito jovem não, porque ele começou tarde, mas um dos primeiros trabalhos dele era ligado a essa produção.

M – Importante lembrar que talvez o nosso maior pintor brasileiro, tenha feito justamente uma capela. A Capela do Cristo Operário, do Volpi. Também no início da carreira realizou uma capela em Piracicaba. Algo que merece ser visto.

J - E tem a Via Crucis do Guignard também.

M – Tem uma coisa muito instigante no mosteiro pelo fato de que quando você entra lá, você realmente perde a sensação de tempo e espaço. Você entra em um lugar muito curioso, porque ele tem um aspecto eclético muito grande. Não é como quando você vai a Notre Dame de Paris e sabe que está em um período medieval. Aqui, ao contrario, temos uma situação eclética, onde se traduz certo choque cultural. Por exemplo, a presença iconográfica alemã no meio de um país latino. Esses choques, a meu ver, fazem do mosteiro algo muito instigante. Muito forte simbolicamente para nós trabalharmos.

J – Acho que a gente poderia falar mais dessa relação com a espiritualidade.

M –todos nós tivemos em graus maiores ou menores, uma educação cristã, mas não estamos querendo fazer uma exposição iconográfica nesse sentido. Acho importante deixar isso bem claro, embora acho que faça parte do nosso imaginário, de maneira forte, essa iconografia. Nossas obras tratam da questão da Via Crucis, do céu e do inferno. O que é muito interessante é como é possível trabalhar com a espiritualidade em um momento em que a obra moderna, contemporânea, tem uma relação diferente com a narrativa, que ela tinha até o final do século 19. A obra de arte não está mais ilustrando um texto bíblico. Ela adquire certa autonomia e cria uma relação quase simbólica, uma realidade que às vezes alude a um tema, mas sempre de maneira indireta.

C – A meu ver, em nosso tempo, no mundo contemporâneo, há um olhar rápido. Uma rapidez na experiência. Há um limite para a experiência. E, no entanto, quando a gente fala de arte e espiritualidade, estamos falando de um tempo lento. Ele se dá na contramão de uma tendência atual, de uma coisa que passa depressa, de uma imagem ou aparência que se modifica muito rapidamente e até se configura, se a gente pensar no Lyotard, em presentes absolutos, porque parece descontínua em relação ao passado. Estamos propondo alguma coisa de uma experiência mais lenta, que trata com alguns aspectos da nossa sensibilidade que exigem esse cultivo, esse tempo mesmo, existencial, e não cronológico, mais estendido, mais dilatado.

J – Isso que você está falando eu acho muito interessante porque a imagem do jeito que é tratada hoje, a imagem hoje em dia, virou sinônimo de velocidade, agilidade, rapidez. Então os meios tecnológicos mais recentes usam, se valem da imagem, se utilizam da imagem através desse viés: velocidade, agilidade, rapidez. A imagem, na verdade, é muito mais do que isso. Também tem esse tempo mais lento, tempo da observação. Acho que nas artes plásticas hoje talvez seja um dos poucos lugares, dos poucos meios expressivos, é onde esse olhar mais lento, uma certa vivência para experimentar os objetos todos existe. É uma necessidade isso. E a imagem do jeito que ela vem sendo tratada é sinônimo de velocidade. Acho importante a gente perceber, como eu disse algumas vezes numa comparação interessante a respeito de meios expressivos. O Cartier Bresson, falando de fotografia e desenho, tem uma frase linda, que diz que o desenho é meditação e a fotografia é um tiro. Então eu acho que existe esse tempo da meditação em torno da imagem ou em torno do tempo de produção da imagem, de experiência...

C – Somos pintores e estamos mostrando séries de fotografias nessa exposição, quero dizer... acho que a nossa fotografia é pintura, assim como nossos vídeos são pinturas no sentido de que se integram num mesmo olhar daquilo que buscamos quando pintamos. Claro, esses trabalhos dialogam com prática da fotografia hoje, mas eles têm um pouco um olhar e uma pretensão específica.

M – Acho importante deixar bem claro que o público pode pensar: “Mas esses três artistas estão fazendo de tudo. Vídeo instalação, pintura, fotografia...”. Acho que mais do que uma celebração da técnica, das novas técnicas, acho que na verdade é a própria riqueza e complexidade do mosteiro que demanda linguagens técnicas distintas. Por exemplo, o teatro é um espaço marcante do mosteiro, assim como a capela, e efetivamente não caberia colocar pinturas ali. O importante nisso é que nós mantemos a nossa individualidade poética nessas incursões, tanto em meios não antes navegados, que aparecem muito mais como um desafio diante da complexidade espacial do próprio mosteiro, que é muito diversificado. Nós temos o teatro, a capela, a sala de aula, o parlatório... E essa riqueza espacial demandou intervenções de naturezas muito distintas para que a gente pudesse dar conta do recado. Outra coisa que eu também diria a respeito do que vocês falaram tão bem, a respeito dessa necessidade de resgatar uma relação mais meditativa com a imagem... O mosteiro é esse lugar onde você procura uma situação extra-cotidiana. As pessoas que vão ao mosteiro estão de certa forma procurando algo além do dia-a-dia. De certa forma isso vai ser muito interessante. Estamos tratando não só de espaços muito distintos, mas de um público que ao meu ver vai ser muito diferente daquele que a gente está acostumado, que é aquele que freqüenta vernissages e exposições de arte. Vamos nos deparar com um público muito mais amplo. Que muitas vezes vai ao mosteiro para assistir uma missa, e que vai se deparar com obras de arte contemporânea. Esse embate pode ser bastante interessante para o nosso trabalho.

J – Quando você estava falando que o mosteiro é esse lugar onde as pessoas vão procurar o excepcional, o extraordinário, eu pensei em uma coisa que eu acho que a gente também vai se deparar que é justamente isso: arte contemporânea atualmente é feita muito desse embate entre o extraordinário e o cotidiano, aquilo que é simples. Então essa idéia dos deslocamentos, do objeto comum que se torna outra coisa, é muito comum hoje. É uma operação muito freqüente na arte contemporânea. Acho que também vai haver uma coisa interessante na hora que... fiquei pensando na coisa de que o mosteiro, que é o lugar do recolhimento, o lugar que... quando a gente entra, tem uma experiência... a gente pensa “puxa, não parece São Paulo. Não parece que eu estou no centro de São Paulo. Parece que eu estou em outro lugar”. O mosteiro tem esse negócio que já cria imediatamente um deslocamento. Você parece que não está naquele lugar. Você olha pela janela e vê a praça do Largo São Bento ali na frente, mas você vê à distância. Tem a distância. Quando você entra no mosteiro parece que você imediatamente passa a habitar certa distância virtual. Você está do lado da praça, mas ali dentro do mosteiro você se sente recolhido, mais distante, ou mais separado daquele cotidiano atribulado da cidade. O mosteiro imediatamente já provoca essa sensação. Estou curioso para ver uma coisa: como é que vai acontecer, como será, e no meu caso acho que isso vai acontecer porque a minha instalação vai ser feita também com objetos cotidianos, com coisas que estão no dia-a-dia. Então, o que vai acontecer exatamente quando esse lugar, que é um lugar de distanciamento ou de recolhimento... o trabalho de arte feito lá será feito com objetos do cotidiano ou do dia-a-dia. Acho que pode haver muita surpresa na hora que isso estiver acontecendo.

C – Para mim também é muito marcante no dia-a-dia essa relação de presença e não-presença com a cidade de São Paulo. É um lugar, é o mesmo lugar, o centro de São Paulo, com toda aquela agitação, e ao mesmo tempo a gente sente esse outro lugar, que é o lugar da espiritualidade. Essa relação de presença e não-presença que a todo o momento me inquieta no meu trabalho de arte, na minha pintura, na fotografia, nas instalações... isso vai ficar também marcado com as duas séries fotográficas que vão ser apresentadas como imagens em sucessão, em looping contínuo. Uma delas são essas presenças não-presenças, aparições, em um ambiente natural, com luz, com reflexos, e outra um olhar sobre a cidade, mas é um olhar a partir do dentro, do próprio ateliê, de uma construção geométrica das próprias janelas, e o fora, a cidade, o movimento da cidade, e essa mesma luz que desconstrói, essa humanização e desumanização, essa formação de figura e dissolução através de uma imagem não reconhecível... tudo isso materializa essa visão, ou melhor, essa experiência vital do próprio centro. Essa relação de presença e não-presença, desse lugar e não lugar.

M – tem uma coisa bonita no mosteiro que eu estava pensando que é essa capacidade que o Mosteiro tem de sedimentar o tempo. Em contraposição a uma cidade como São Paulo onde tudo tende a ser apagado. Estive no Museu Iberê Camargo, e uma das experiências mais fortes que eu tive foi não só com as obras, mas justamente como o Siza criava corredores que funcionam como um colírio para os olhos. Visto que as obras vão estar dispersas no Mosteiro, o tempo inteiro você vai ter essa tensão entre arte e espiritualidade. Ao seja, ao sair de um parlatório e ir para um teatro ou subir para o primeiro andar, você vai sempre estar em um mosteiro. E essa viagem ao interior, o mosteiro mostra um interior íntimo, é uma viagem no tempo e no espaço, que faz com que as experiências de andar pelas obras se amplifique ao máximo. Você está efetivamente se relacionando com uma experiência específica daquele lugar tão cheio de história.

C – E me parece também que tudo isso caracteriza uma relação com o caráter público da obra que tanto se fala. Existe uma interioridade, uma intimidade, uma experiência pessoal, individual, existencial de percurso nesse espaço, que se configura mesmo através de uma percepção muito forte de estar nesse lugar outro, e ao mesmo tempo um caráter público, uma presença no centro da cidade, no largo São Bento, na boca do metrô, com aquele fluxo de pessoas. Então nós temos ali as grandes artérias que estão em volta, sobretudo da Prestes Maia e isso tudo leva a também essa presença na cidade. É uma presença pública de qualquer maneira. Essa relação muito própria que se estabelece ali entre uma subjetividade e uma dimensão pública.

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