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janeiro 25, 2006
Inscrições 3ª Edição do Curso de Captação de Recursos à Cultura - Articultura
Inscrições 3ª Edição do Curso de Captação de Recursos à Cultura - Articultura
Inscrições abertas
Até 6 de fevereiro de 2006: preço promocional de R$ 1.6 mil (módulos básicos) e R$ 2 mil (curso completo)
7 a 20 de fevereiro de 2006: R$ 1.8 mil (módulos básicos) e R$ 2.2 mil (curso completo)
21 de fevereiro a 7 de março de 2006: R$ 2 mil (módulos básicos) e R$ 2.4 mil (curso completo)
Centro da Cultura Judaica - Auditório
Rua Oscar Freire 2.500 piso térreo, Estação Sumaré do Metro, São Paulo - SP
Inscrições: 11-6818-5020 ou cursos@articultura.com.br
www.articultura.com.br
Horário: terças, 19-22h
Período: 7 de março a 4 de julho de 2006
Apoio: Centro da Cultura Judaica
Promoção: O Estado de São Paulo, Rádio Eldorado, Canal Contemporâneo, Revista Marketing Cultural
O valor da inscrição inclui material didático com os conteúdos apresentados, textos de referência bibliográfica e certificado de conclusão e dá direito a dois manuais de patrocínio da Articultura em PDF
Articultura ensina técnicas de captação de recursos para projetos culturais não dependerem somente de incentivos fiscais
Um dos aspectos inovadores do Curso é o planejamento de programas de doações pessoais para a cultura, prática ainda restrita a projetos sociais no país
O patrocínio se desenvolve em todo o mundo, independente de estímulos fiscais. Englobando as áreas esportiva, social, ambiental e cultural, movimenta dezenas de bilhões de dólares por ano. No Brasil, já absorve 8% do orçamento de comunicação das empresas, o que correspondeu a R$ 3,2 bilhões, em 2005. Para atender a demanda crescente do mercado e a necessidade de especialização dos profissionais, a Articultura abriu as inscrições para a terceira edição do seu Curso de Captação de Recursos à Cultura, que terá início no dia 7 de março, no Auditório do Centro da Cultura Judaica, em São Paulo.
Desenvolvido com nível de pós-graduação pela Articultura em 2003, para ser integrado no MBA em Gestão Cultural da Universidade Candido Mendes, do Rio de Janeiro, o Curso passou também a ser ministrado de forma autônoma em 2004. Na primeira e segunda edições, as vagas se esgotaram antecipadamente, com a participação de quase duas centenas de alunos. Nesta terceira edição, as aulas serão novamente ministradas pelos especialistas Yacoff Sarkovas e Sharon Hess, da Articultura, a primeira consultoria de patrocínios do país.
O Curso é voltado para produtores, promotores e administradores culturais; gestores de instituições culturais; profissionais de marketing cultural e profissionais especializados na captação de recursos. As aulas têm três horas de duração e ocorrem uma vez por semana, totalizando uma carga de 54 horas de aula, em 18 semanas.
Um dos aspectos inovadores do Curso é a aplicação, no campo cultural, de uma metodologia para o planejamento de programas de estímulo a doações pessoais, prática até então restrita a projetos sociais. "É necessário que as organizações culturais também aprendam a mobilizar os cidadãos para a sua sustentabilidade econômica", afirma Yacoff Sarkovas.
Dividido em dois módulos básicos e um módulo complementar opcional, específico sobre captação de doações pessoais, o curso abordará, de maneira teórica e prática, entre outros temas: fontes de financiamento à cultura; marca, comunicação e patrocínio empresarial; responsabilidade social e inclusão cultural; visão e percepção empresarial do patrocínio; cotas, reciprocidades e propostas de patrocínio; estratégias de prospecção de patrocinadores; tipos e casos de patrocínio cultural; estrutura de projetos para captação; conceitos de programas de doações pessoais; comunicação e formas de abordagem; banco de dados e sistemas de pagamento; e fidelização de doadores pessoais.
O conteúdo do Curso de Captação de Recursos à Cultura foi extraído dos 20 anos de experiência da Articultura em estratégias de patrocínios e investimentos de empresas e pessoas em projetos de interesse de seus públicos. Entre outras realizações pedagógicas, a Articultura concebeu o Seminário Interativo de Patrocínio Cultural, ministrado para mais de 40 instituições, no Brasil e no exterior, como a FGV, USP, UFB, PUC, ESPM, ADVB, Sebrae, CCBB, CEF, M&M, as Redes Colômbia, Brasil e Latino-Americana de Promotores Culturais e diversas secretarias de cultura do país; concebeu e realiza anualmente, em São Paulo, o Com:Atitude - Seminário Integrado de Patrocínio e Investimento Social, Cultural, Ambiental e Esportivo, o mais importante fórum sobre o tema, no Brasil.
A Articultura planejou e gerenciou quase uma centena de diretrizes, programas e ações para empresas como Bridgestone, Citibank, Natura, Pepsico, Philips, Microsoft, Santander, Sul América, Votorantim, entre muitas outras. Foi responsável por toda a reformulação da política de patrocínios da Petrobras, a maior patrocinadora brasileira, concluída em 2002. Também planejou os bem sucedidos sistemas de patrocínios da Brasil + 500 Mostra do Redescobrimento, da Bienal do Mercosul, do Carnaval Multicultural do Recife e das ações em comemoração aos 450 Anos de São Paulo.
janeiro 23, 2006
Arthur Omar, de rosto inteiro, por Cyril Béghin
Arthur Omar, de rosto inteiro
Artigo de Cyril Béghin, originalmente publicado nos Cahiers du Cinema nº 606, de novembro de 2005, traduzido por Joanne Martins
35 retratos do cineasta e artista brasileiro são expostos em Arles
Nos Rencontre d'Arles, neste verão, foram poucos a praticar a foto-gnose. A fotografia, sim: havia cenas de atualidades jornalísticas (o Oriente Médio por to-da parte); Jogos de signos, exagerados ou discretos, em belas paisagens desér-ticas ou aplicados sobre ilusões vivas de carnes; sutis desvios de comportamento como tremores na superfície sempre já muito lisas das imagens aproximando pa-radoxalmente, alem das salas retratos dissolvidos de uma jovem atriz encontra-dos na internet ampliados e digitalmente perfeitos (Kristleifur Bjornsson), de uma bela serie de retratos de Talibans afeminados e glamourizados pelo uso da cor ( Thomas Dworzak, com coletivo Off Broadway). Memórias intimas, traços de a-contecimentos sobre corpos ou territórios, objetos simbólicos serializados e/ou desviados, e feitos digitais tão perfeitamente integrados que ai se produzem es-tranhas dissonância, a fotografia parece tomada por impasses sempiternos. As obras eram belas porém deixaram todas um tédio sentimento de coisas vãs, en-tre abstrações elegantes e quadro de massacre distanciados - dos quais um dos premiados, o inglês Simon Norfolk, oferecia uma imagem emblemática com a superfície gelada da água recobrindo um ossuário na Bósnia onde percebemos, imobilizada, uma ínfima e bem vermelha gota de sangue.
A foto-gnose diria, mais ou menos, que a imagem, mais do que se afixar nas costas da figura, com fios grossos ou não, os eternos penduricalhos da sua signi-ficação sócio-histórica, deve, antes de mais nada, se liberar delas para aceder enfim a um conhecimento novo e diferente. O cineasta, vídeasta, performático, e fotógrafo brasileiro Arthur Omar, inventor e fervoroso praticante desse método ilustrava-o em Arles com uma arrasadora serie de 35 retratos em preto e braço, extraídos das cercas de 300 imagens da sua grande obra, Antropologia da Face Gloriosa. Desde 1973, ate hoje Omar fotografa os participantes de diversos car-navais brasileiros - as imagens de carnaval estando aliás num grande número de suas obras, de sua espantosa reciclagem que vai desde o soberbo longa-metragem Triste Tropico realizado em 1974 ate os seus vídeos mais recentes.
Ampliadas, re-enquadradas, trabalhadas minuciosamente ao nível de suas luzes e matérias, essas fotografias são abstraídas de seus contextos e concentradas sobre a força única de um rosto apreendido cegamente por pura comunicação estática do fotógrafo e seu objeto, num instante de um transe: grito, risos, es-panto ou fadiga extrema, algo como uma saída de si. Ocupando o quadro intei-ro, os rostos atormentam a imagem na tempestade das suas confusões: sexo, idades, cores, sentimentos, os signos são ao mesmo tempo exacerbados e con-fusos, cada retrato apresentado uma encarnação intermediaria, inédita e sobera-na, de estados geralmente separados.
"Foto-gnose" é assim, na prosa sempre rica e borbulhante de Omar, o nome de um conhecimento, pela fotografia, de uma espécie de fundamento humano ante-rior a grande divisão do signo. Os corpos "gloriosos" são essa massa ou pasta pré-social (ante-social) fervilhante, e poderosa, que o Carnaval reativa à maneira de um vasto estúdio onde as imagens se oferecem disponíveis ao fotógrafo, ele mesmo em busca do seu próprio instante glorioso: "Foto-gnose: não como quem lembra do momento em que se assoprou a vela do aniversário [...] mas, se fosse possível de ativar a memória aqui, lembrarmos do momento onde, por um instante, nos também fomos gloriosos."
Palmas para a pequena maldade curatorial que colocou os retratos-falados de Leandro Berra, frios, anônimos e mecânicos, justapostos às faces gloriosas, no salão de exposições em Arles. Nada disso se encontrará em Omar, onde a ima-gem cria a cada instante um novo ser: maquiagens, máscaras, véus, suores, im-perfeições da pele, a superfície das carnes e o que as cobrem se misturam em pesadas tempestades patéticas e desfigurantes. Em ampliações fotográficas magníficas, os sais de prata parecem soprados, esbatidos e pulverizados pela ação do rosto em si mesmo: as peles se descamam, partem-se em retalhos de luminescências e crepitações em volta dos olhos e das bocas sempre abertas ou distendidas, pronta a aspirar a sua própria matéria para em seguida voltar a ex-pelí-las numa chuva cinzenta ou arrebanhá-la numa zona de negro absoluto, nas bochechas infladas, sobre olhos encarquilhados. Assim tramados e deslocados em detalhes os traços e os acessórios do rosto, sejam eles feitos de tintas, ócu-los, colares, perucas ou chapéus extravagantes, espocam nesse caos não mais vulto de pessoas mas semi-deuses. Estes retratos fora de escala, de uma energia louca e delirante, criam um panteão de metamorfoses - eis que enfim a fotogra-fia reencontra a sua função esotérica, para mostrar de nossos corpos aquilo que é maior que eles.
Arthur Omar constrói, com a foto-gnose, uma espécie de ficção teórica: o apare-lho fotográfico "sabe" captar o instante glorioso porque este é imediatamente fotográfico, fora do tempo ou num tempo imobilizado que brota por vezes sob fluxo dos movimentos; a metamorfose descoberta sobre as imagens não é o momento de um tornar-se, mas uma potência sempre presente que pulsa na su-perfície dos corpos sob a ação do disparador da câmera, numa tensão erótica do fotógrafo para seu objeto. E para conservar claramente o estado assim captura-do, é preciso ao mesmo tempo a operação plástica do re-enquadramento da ampliação, dos jogos da matéria, e a operação semântica da atribuição de uma frase, acompanhando cada foto à maneira de um titulo mas cuja a primeira fun-ção é na verdade aquela de uma formula mágica, acelerando na imagem o efeito da metamorfose e a fascinação de um toque de humor ou de delírio. Tratados naquilo que Omar chama de estilo "épico-kitsch", estes títulos se assemelham a uma escrita automática que condensaria, como no sonho, as qualidades das i-magens em micro-roteiros, "O Príncipe Ainda Respira", "O Mandarim da Ambi-güidade Entre o Ouro e a Carne", "Santa Porque Avalanche", "Retire o Centro e Terás Um Universo", "O Oftalmologista da Divina Luz" ... Reconcentrada sobre o mistério de sua formula, cada foto se olha então como o emblema do semi-deus, não seu retrato, mas a imagem do poder ou do atributo que sustenta a tempes-tade do seu rosto: sopros, brilhos dourados, o branco de neve, gravitação.
"Santa Teresa d'Ávila (especialista em faces gloriosas), compara a alma humana a um castelo interior, feito de diamante, e compostos de diversos aposentos ou moradas. Na passagem de uma morada a outra, avançamos um grau no sentido da perfeição cada vez maior. Mas o que seria de um castelo sem uma galeria de retratos? " Omar coloca a questão e oferece ao castelo-Brasil sua coleção de brasões místicos - como Glauber Rocha havia multiplicado e desdobrado os "Cris-to do Terceiro Mundo" no A Idade da Terra, ele gera e multiplica uma miríade de santos materialistas, profetas, anjos, demônios instantâneos e sem rumo, que representam o seu papel de maneira cômica e sublime com os clichês dos sincre-tismos e messianismos brasileiros.
O grande arrebatamento da Antropologia da Face Gloriosa é pois duplamente critico: abalar aqui mesmo os códigos do retrato e da pesquisa etnográfica, in-verte ou subverter a imagem documental ate atingir a mais inverossímil e espa-lhafatosa ficção, é aqui afirmar o caráter sempre vivo e impetuoso de um gênio nacional que nenhuma analise poderia reduzir. É assim deixar um espectador a-turdido diante desse panteão magnífico que queima como brasa viva, estes ros-tos que giram em todos os sentidos, por vezes enlouquecidos de não saberem onde estão. A foto-gnose mostra os rostos gloriosos mas não o seu castelo, Bra-sil fantasmático que eles talvez tenham perdido para sempre.
NOTA: Ver também o livro de 160 fotos da serie, também com alguns textos de Arthur Omar em inglês: Antropologia da Face Gloriosa, Rio de Janeiro, Ed. CosacNaify, 1997.
janeiro 18, 2006
A Hermenêutica Transformativa da Gravidade Quântica, por Tarcisio Pequeno
Texto de Tarcisio Pequeno, produzido para a exposição de Yuri Firmeza no Museu de Arte Contemporânea do Ceará
A Hermenêutica Transformativa da Gravidade Quântica
TARCISIO PEQUENO
A 'realidade física' é, no fundo, um construto lingüístico social. Desse irrecusável fato da epistemologia pós-moderna se conclui que para que a ciência possa vir a exercer um papel libertário em nossa sociedade deve ser subordinada a estratégias político-sociais progressistas. Uma ciência libertária não poderá ser construída sem uma ampla revisão do canon da matemática, uma vez que a matemática atual foi construída sob profundas influências do capitalismo liberal do Século XIX. Alguns aspectos que uma 'matemática emancipatória' deve incluir são 'não-linearidade', 'dinâmica de fluxo' e 'interconectividade'. Tais elementos podem ser encontrados na lógica não linear e multidemensional dos sistemas nebulosos e na 'teoria das catástrofes', por exemplo, ainda que estas teorias estejam também irremediavelmente marcadas pela crise das relações de produção do capitalismo tardio. Por outro lado, a introdução do conceito de 'campo morfogenético' na teoria da 'gravidade quântica' permitiu a confirmação das especulações psicoanalíticas de Lacan nos mais recentes trabalhos em teoria quântica do campo.
Se você consegue entender o texto aí em cima e se é mesmo capaz de concordar com ele e ter simpatia por suas idéias, querido leitor, é preciso revisar seus conceitos. Qualquer semelhança entre ele e a "fotografia 'shiitake' de objetos atmosféricos invisíveis" certamente não é mera coincidência. O texto é uma montagem livre e pessoal de trechos do artigo "Transgredindo as Fronteiras: Por uma Hermenêutica Transformativa da Gravidade Quântica", do físico Alan Sokal, da Universidade de Nova York, submetido, aceito e publicado pela revista Social Text. O problema é que o eminente cientista enviou paralelamente a uma outra publicação acadêmica, a revista Lingua Franca, o artigo "Experimento de um Físico em Estudos Culturais", no qual descreve a peça que havia pregado na Social Text. O artigo original, confessava o autor, era um pastiche de termos científicos e pseudo-científicos, teorias exóticas, citações, conclusões improváveis apresentadas sem qualquer argumentação razoável, conexões esdrúxulas e idéias, para dizer o mínimo, extravagantes. Era, em fim, um samba do crioulo doido científico-cultural.
O que Alan Sokal fez com a Social Text foi, no pior e no melhor sentido da palavra, uma molecagem. O que intriga no episódio é - por que um cientista de prestígio entre seus pares, um intelectual engajado que inclusive deu aulas de matemática como voluntário durante o governo sandinista na Nicarágua, arriscaria a reputação e a careira e se exporia à ira de outros scholars de esquerda para fazer uma sacanagem dessas? O melhor é deixar a ele a resposta - "meu método foi satírico, mas minha motivação foi extremamente séria". Sokal sentia-se incomodado por uma tendência anti-racionalista, anti-científica e ultra-relativista que dominava um certo ramo da esquerda americana, auto-denominada pós-moderna. Deixar à direita o monopólio da racionalidade e da ciência não fazia para ele nenhum sentido político, estratégico ou filosófico. A sua incapacidade de entender a literatura dessa esquerda o fazia cismar se provinha de irremediável limitação intelectual e ignorância pessoal ou se decorria da falta de nexo da própria literatura. Daí o experimento. Onde argumentos seriam simplesmente ignorados, a ação subversiva obrigou à discussão.
A peça que Yuri Firmeza, o 'Japa Invasor' pregou foi 'um experimento sócio-cultural'. Não teve a mesma elaboração e sofisticação do de Sokal, talvez não tenha seu alcance, nem é mesmo muito original, mas teve dessas qualidades o suficiente para funcionar na cena cultural da província, que é o que importa. Funcionar para que? Para forçar o debate, agitar os espíritos, acordar mentes opiadas na modorra cultural. E o debate se deu, ou se ensaiou. A pena, e o que sobremodo preocupa, é que mal começado o que deveria ser um embate de largas idéias, estreitos palpites e mesmo loucas opiniões já dá lugar a raivosas manifestações, corporativas pressões, intimidadoras reações.
O 'Japonês' merece o beneplácito da suposta boa motivação que Sokal advoga para si. O episódio, em si, não seria de gravidade. Não causa dolo físico, moral ou profissional a quem quer que seja. O dolo vem é da desmedida reação, do recibo mal passado, da arrogância juvenil e da truculência senil em lugar ao bom humor com que deveria ser tratado. Não somos a terra do humor e da molecagem? Herdeiros orgulhosos da irreverência sem limites da Padaria Espiritual? E é o senso de humor outra coisa que não a capacidade de rir de si próprio? De aprender achando ridículos e engraçados os próprios erros? Teremos inadvertidamente abolido essas qualidades e virado todos chatos de galochas e velhos rabujentos? Se assim for, Yuri, my brother, o melhor a fazer é fazer as malas. Dada a ira que se anuncia não lhe restará instalação sobre instalação.
Tarcisio Pequeno é Professor do Doutorado em Ciência da Computação e do Mestrado em Filosofia da Universidade Federal do Ceará
An Oak tree, uma porta de entrada para a obra de Souzousareta Geijutsuka, por Luisa Duarte
Texto de Luisa Duarte, produzido para a exposição de Yuri Firmeza no Museu de Arte Contemporânea do Ceará
An Oak tree, uma porta de entrada para a obra de Souzousareta Geijutsuka
LUISA DUARTE
Ao ser apresentada a obra do artista japonês Souzousareta Geijutsuka, na mostra Geijitsu Kakuu, imediatamente me veio a lembrança de um trabalho de arte que me é muito caro, chamado An Oak Tree, de 1973, do inglês Michael Craig-Martin, que se encontra no acervo da Tate Modern, em Londres.
Pela simplicidade, pela devoção ao que é quase impalpável, pela crença incluída em qualquer trabalho de arte, crença primeiro do artista, depois do espectador, por esses e outros motivos creio que a obra de Craig-Martin pode ser uma excelente porta de entrada para quem quiser adentrar o universo proposto por Geijutsuka em sua exposição no Centro Dragão do Mar.
An Oak tree nada mais é do que um copo de vidro com água dentro, apoiado sobre um suporte de vidro preso numa parede. Ao lado lê-se um pequeno texto, que traz o seguinte diálogo:
Q: To begin with could you describe this work?
A: Yes, of course. What I've done is change a glass of water into a full-grown oak tree without altering the accidents of the glass of water.
Q: The accidents?
A: Yes. The colour, feel, weight, size.
Q: Haven't you simply called this glass of water an oak tree?
A: Absolutely not. It is not a glass of water anymore. I have changed its actual substance. It would no longer be accurate to call it a glass of water. One could call it anything one wished but that would not alter the fact that is an oak tree
Q: Do you consider that changing the glass of water into a oak tree constitutes an artwork?
A: Yes.
Se não for uma afronta ao grande artista que temos a honra de receber no Brasil, e dada a simplicidade da obra que trago aqui como referência, sugiro que reproduzam An Oak Tree na ante-sala da exposição Geijitsu Kakuu, de Geijutsuka. O público terá, a meu ver, um ótimo cartão de visita para compreender melhor a aposta feita pelo trabalho deste artista asiático que lida com a crença no poder do artista, com a imaterialidade e os fenômenos da natureza.
Luisa Duarte é crítica de arte e curadora