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outubro 24, 2003
Coletiva - participação Ronald Duarte
Patricia, Valeu o convite...
O q eu posso mandar agora é:
"Botar Fogo na Rede"
Esta foto é do Wilton Montenegro, Super!!!!
Quanto ao coletivo, eu lembro sembre de onibus,
cada janela é um, que tal?
Em falar nisso SABADO AS 13:00 TEREMOS DOIS ONIBUS
sedidos pela Prefeitura de São João do Meriti,
Vamos ocupar uma super Lona de Circo dessas azul e
amarela em listras... IMAGINARIO PERIFERICO
DIA 25 as 13hs no LARGO DO MACHADO, na escadaria da
igreja, partindo direto para o CIRCO PERIFERICO.em SJM
Serão 70 artistas locais e globais
Apareça e divulgue
Beijos e Sucesso!!!!
Ronald Duarte
outubro 22, 2003
Coletiva - participação Franklin Cassaro
Olá Patricia,
Estou respondendo com atraso por conta de emergências que tomaram (até ontem) o meu tempo e saúde.
Peço desculpas.
Uma das emergenciais se não fala diretamente sobre a sua exposição, fala sobre o que você sugere no seu texto: "Afinal, também tecemos uma rede quando conectamos conceitos de obras e artistas, na história da arte e na vida, e imagino que se colocarmos no ar estes diálogos, comentários, opiniões, idéias e cutucadas, estaremos experimentando algo novo em relação a esta etapa de nosso trabalho."
Resumidamente aqui está:
Depois de receber e ler a sua correspondência eu me programei para visitar a sua exposição no sábado e depois passar lá na A GENTIL CARIOCA para o último dia da exposição do Fabiano Gonper:
Na sexta feira eu acordei com os olhos inchados e o olho direito já tinha um pequeno, mas incômodo processo inflamatório.
No sábado já com orientação médica e usando os medicamentos prescritos não tive muito animo (e cara) de sair de casa.
Finalmente no domingo ultimo dia da sua exposição o meu único programa externo foi um rápido passeio com minha família (todos de óculos escuros) aqui bem perto e de volta para casa para resolver as outras emergenciais.
Como você pode notar não vi a sua exposição mas fiquei interessado em saber se você fotografou ou filmou, alem de saber se foi tudo bem se você ficou satisfeita etc e tal.
Agora só poderei conversar sobre as imagens e/ou sobre as informações que você ou outra pessoa fornecer.
Na verdade esse é um assunto interessante.
Muitas exposições e obras de artistas nacionais (incluído alguns bem próximos) eu só vejo por fotos ou catálogos e no caso dos amigos em projetos.
No seu caso...
A primeira coisa que me tocou na sua exposição foi o convite e mais especificamente aquele carimbo no envelope com uma mensagem que ganhou um significado especial quando a Lara enrolou e colocou na minha mesa de trabalho.
Na hora aquela construção me lembrou muito aquele trabalho do Tatlin:
Como eu estava no meio do processo de animação de pequenas esculturas (minhas), resolvi parar o que estava fazendo e dediquei um tempo para simplesmente pensar na frase:
"as relações são o espaço" .
Pensei, quase meditei.
Antes de voltar para as minha animações fiz aquele pequeno e-filme meio que para aumentar
as relações e o espaço.
Obrigado mais uma vez em meu nome e da Lara (por gostar do e-filme)*
e
Boa sorte na rede que você está construindo.
Conte com minha agulha e linha virtuais.
Beijos
* O e-filme dos Cassaro pode ser visto na página de abertura do portfolio em construção de Patricia Canetti: www.canalcontemporaneo.art.br/patriciacanetti
Coletiva - participação Cristina Pape
Olá Patrícia,
O que eu posso falar da exposição é uma questão que está mais ligada à dimensão do que qualquer outra coisa. Vou me deter nos trabalhos do jardim, ainda mais porque foi uma boa conquista esse novo espaço de mostra lá no museu. Mais um! Os dois trabalhos que mais me chamaram a atenção foram os dois, que por sinal estão pertos um do outro: o dos vergalhões cravados no gramado com a corrente e a trama que está encostada numa árvore. Senti que eles pediam para crescer, expandir, tomar todo aquele espaço e se fazer presente no mundo.
Sinceramente vi os dois como desenho no espaço, sem fronteiras delimitantes. Grandes, com material bruto e pesado, mas incrivelmente suaves, entrando e saindo da terra, costurando o mundo.
Abraços
Cristina Pape
Olá CrisPape,
Ainda não tinha colocado isso em palavras, ficou tão bonito... "Grandes, com material bruto e pesado, mas incrivelmente suaves, entrando e saindo da terra, costurando o mundo."
De cara relaciono o seu "costurando o mundo" com o "Conte com minha agulha e linha virtuais" do Franklin Cassaro. Se você visse o movimento das crianças passando por baixo e por cima dos vergalhões e correntes veria a sua imagem em movimento... e foram justamente as crianças brincando no trabalho, e o comentário de uma das professoras*, "Eles jamais conseguirão repetir o mesmo caminho", que me fizeram perceber a necessidade de aumentar o tamanho destas anotações, já que esta reflexão trouxe a tona o principal assunto ali desenvolvido: o percurso caótico do hipertexto no espaço cibernético.
Gosto muito de trabalhar nestes resíduos visuais os contrastes entre bruto-suave e leve-pesado, tanto nas correntes flutuantes, e nas rendas transparentes do cimento, como nas contradições do mosaico aplicado junto a uma estrutura ou nas novas características que ele adquire, instabilidade e mobilidade, quando aplicado sobre papel, com o objetivo que eles reforcem as relações entre eles, por acreditar que está aí, neste diálogo, o verdadeiro trabalho.
A trama encostada na árvore reforça ainda mais as relações entre os trabalhos, pois assim displicentemente, sua presença evoca os trabalhos de Orlândia 1 e Grande Orlândia, onde elas estiveram formando outros trabalhos em situações bem diversas a esta encontrada no gramado do Museu da República.
Abração,
Patricia Canetti
* Foram levados alunos de 7/8 anos e 15/16 anos (por iniciativa das próprias professoras, já que o departamento educativo do museu ignora a programação da Galeria Catete), da 2a série do Ensino Fundamental da Escola Eliezer-Max, que estão dando Linhas e Formas no Espaço Bi e Tri-dimensional; e alunos da 1a série do Ensino Médio do Colégio Pedro II que estudam arte moderna e contemporânea, respectivamente.
O desvio é o alvo
O desvio é o alvo
LUISA DUARTE
"(...) há um preconceito enraizado que vê a tragédia como algo mais profundo do que a comédia. Mas Sócrates indicou uma identidade entre comédia e tragédia, e não vejo nenhuma razão pela qual a comédia não possa, como na Divina Comédia (de Dante), ser profunda e nos mostrar quais os nossos limites e como encontrar a felicidade dentro deles. A Divina Comédia, é claro, não é muito engraçada, mas o riso é incitado pelo conhecimento de nossos limites, nossa inabilidade para permanecer eretos quando escorregamos numa casca de banana. Ou para manter uma ereção no ato de amor - que é engraçado e trágico ao mesmo tempo, mas menos trágico do que engraçado, se conseguimos aprender a rir disso. Mas boa parte da arte contemporânea é brilhante e sagaz, quer seja engraçada, quer não."
Arthur Danto [1]
"O humor é uma forma de tirar a tragicidade das coisas, de olhar o mundo de uma outra maneira, menos fatal."
Marcos Chaves
Numa subversão da noção ordinária - que se conecta com o jogo proposto pelo próprio trabalho de Marcos Chaves - podemos afirmar que a bússola desta obra é o desvio, desvio que promove deslocamentos. Chaves é um realizador de proposições artísticas que, através da apropriação ou da intervenção, deslocam significados correntes, banais, convencionais, dados como certos, a fim de gerar a aparição de novos sentidos, inesperados, não vistos, não perscrutados. Trata-se do olhar agudo que se descola do habitual, reflete e produz o novo na linguagem, tendo como motor um misto contundente de humor e ironia. A escolha por estes recursos de forma alguma é casual, e sim consistente e coerente, pois eles são portadores de um alto grau de potência desviante: o humor e a ironia são dispositivos que acertam o alvo pelo caminho menos óbvio.
Este procedimento típico da obra de Chaves - que como já foi bem constatado ocorre valendo-se muitas vezes da vitalidade e atualidade da matriz duchampiana e seus readymades, além da fotografia [2] e do vídeo - pode ser visto como uma busca incessante por tirar a experiência de sua banalidade; dar leveza a certas circunstâncias trágicas via humor; ver de soslaio situações e objetos já enquadrados pelo senso comum; fazer crítica à própria arte e à condição de artista valendo-se de uma fina ironia; adentrar o registro culto da arte contemporânea com elementos associados ao lixo urbano.
Como afirmamos, a meta aqui é realizar o desvio, o deslocamento. No universo chaveniano tudo é o mesmo, mas já não é o mesmo. Como o desenho do pato/lebre de Wittgenstein, que dependendo do ponto de vista, pode ser um ou outro. Tudo se alterou, nada se alterou. É o mesmo, mas já não é o mesmo, por um simples e leve deslocamento do olhar.
Nesta construção de deslocamentos opera-se uma espécie de intervenção clínica no mundo através da arte. Nesta intervenção a linguagem (neste momento entendida como língua) tem papel central. Sabedor perspicaz e ágil da polissemia contida em cada palavra e nas combinações de umas com as outras, Chaves faz dos títulos de seus trabalhos partes fundamentais para a articulação do sentido. Neste instante cabe lembrar a condição especialmente ativa que a obra de Marcos solicita do espectador, será ele quem irá fechar o círculo do sentido, entrando no jogo de associações e/ou inversões que a obra propõe.
Mas o que representa este repertório de procedimentos - que aqui chamamos de desvios, deslocamentos, intervenções - encarnados nas obras deste artista? O que esta série de deslocamentos produz, qual seu efeito?
A tentativa de responder ao menos em parte tais perguntas irá tangenciar, inevitavelmente, aspectos que tocam no antigo binômio arte e vida. Mas para os que tremem só de ler estas duas palavras tão próximas uma da outra, saturados que estão pela enxurrada de obras de cunho auto-biográfico que a contemporaneidade vem nos legando, cabe tranqüilizá-los. A tentativa aqui não é a de através da vida compreender a arte, mas sim a de ver na arte de Marcos Chaves que tipo de enfrentamento está havendo com a vida, com o mundo.
A própria obra de Marcos não nos permite que façamos uma leitura estritamente biográfica. Não se trata de um território no qual estão sendo exorcizados plasticamente dramas de um sujeito lírico. Há uma impessoalidade na sua estética e um pulso forte na condução intelectual e intuitiva que fazem com que este tipo de abordagem torne-se claramente equivocada. O procedimento estrutural encontrado nesta obra - a sua arkhé [3] - nos lega, isso sim, contundentes índices de uma nova possibilidade de ligação com a vida, com as coisas do mundo e com a leitura que fazemos de nossos próprios destinos.
Ao constatarmos que esta obra lida com objetos e imagens já existentes - tanto no caso dos objetos e instalações, quanto nos vídeos e fotografias - verificamos que, a princípio, aqui não se está criando nada de realmente novo, e sim trata-se de realizar uma sutil e fina articulação que irá gerar uma nova significação para estas coisas já existentes. Eis o pulo do gato. O desvio do mesmo que já não é o mesmo é a possibilidade de que a cada momento, a cada encontro com os entes do mundo, sejamos capazes de tirar a experiência deste encontro da sua banalidade original, expressando, na linguagem, sentidos antes inexpressos, imperscrutáveis, não vistos, não ouvidos. Quando se afirma que Marcos Chaves "surpreende significados e valores imersos nas coisas vulgares, dissimulados no hábito ou na convenção" [4] está-se afirmando justamente este poder contido em cada uma de suas obras de se desprender das teias paralisantes do hábito (que embotam o olhar, o pensamento, a vida) e revelar sentidos surpreendentes no que antes parecia fadado à visão única ou até mesmo à não visão. Esta operação artística, que aqui entendemos como sendo o procedimento estrutural da obra de Chaves e que tem no humor e na ironia seus dispositivos principais, garante a possibilidade de reversibilidade do que parecia irreversível; do riso surgir diante do que a princípio só provocaria dor; da riqueza polissêmica surgir onde só haveria um sentido; do aparecimento do terceiro que nos tira do pêndulo fatal do duplo: bem ou mal, sombra ou luz.
**
No trabalho que Marcos apresenta agora - "Passarinho que come pedra sabe o cu que tem", na Escola de Cinema Darcy Ribeiro, local onde funciona a CAPACETE entretenimentos sob curadoria de Helmut Batista - temos uma amostra da potência desviante que habita a obra deste artista.
"Passarinho que come pedra sabe o cu que tem" traz consigo diversas marcas características da produção de Chaves. Trata-se de uma intervenção num readymade, no caso os versos dos maços de cigarro. Neste trabalho a advertência colocada pelo Ministério da Saúde é retirada e no seu lugar entra a expressão tragi-cômica "Passarinho que come pedra sabe o cu que tem". O objeto continua o mesmo (numa escala ampliada), a tipografia também, mas se retira a frase original "Fumar causa câncer no pulmão", ou "Crianças começam a fumar ao ver os adultos fumando", e introduz-se um dito popular. No lugar das imagens originais encontra-se o próprio artista simulando e ao mesmo tempo parodiando tais situações - do sujeito sem fôlego diante de uma escadaria, do adulto fumando ao lado do filho, etc.
As advertências do Ministério da Saúde passaram a vir nos maços de cigarro a cerca de quatro anos. Sabemos que uma das principais marcas culturais que a década de 1990 nos legou foi a invasão da ideologia do politicamente correto nas diversas dimensões da vida cotidiana, e também no seio da dita alta cultura, como as universidades e as artes plásticas. Na face negativa desta onda gestada nos EUA encontram-se aspectos como lances de neo-conservadorismo, recalques dos prazeres, e intromissão em dimensões da vida do indivíduo que não caberia ao governo intervir. As advertências nos maços de cigarro constituem um sintoma do politicamente correto deste último tipo, qual seja, o de se rogar o direito de dizer o que é certo ou errado para a vida de cada um. A extrema legitimidade conquistada por esta ideologia acabou por habilitar os governos a agirem desta forma.
"Passarinho que come pedra sabe o cu que tem" possui como alvo este autoritarismo de mau gosto. Esta frase popular nos remete ao indivíduo que afirma: não venham dizer o que é o melhor para mim. Sim, como pedra e sei os desdobramentos disso. O lado bom e o ruim. Afirmo os dois, a um só tempo. Esta expressão se presta justamente a doar um sentido cômico para uma circunstância trágica. Trata-se do humor intervindo sob o significado original da situação e inserindo um outro. No lugar do fumante tomado pela culpa e vergonha de fumar, entra o fumante que não reprime seus vícios, pois sabe onde eles gozam e onde eles doem. Enfim, o indivíduo que sabe rir de si mesmo, de suas delícias e desgraças, que assume a esquizofrenia da vida, essa linha tênue que separa prazer e dor, assumindo o gozo no fumo, nos entorpecentes, nos prazeres da carne e se recusando a recalcá-los.
A presença do próprio artista nas fotos que simulam as situações advertidas contribui para enfatizar tanto este caráter de responsabilidade sobre os próprios atos da esfera da vida privada - que o politicamente correto tenta penetrar e censurar - quanto para doar ainda mais humor à situação. Temos aqui o artista que ri de si mesmo, doando leveza e graça para a situação pesada do fumante que é advertido, a cada maço, que, se continuar com aquilo, irá morrer de câncer no pulmão, e ao mesmo tempo a introdução de um tom irônico e jocoso que brinca com a "aura" protegida e elevada que envolve a condição de artista plástico na modernidade.
Neste trabalho também é clara a aproximação entre vida e obra. Fumante que é, Chaves sabe do que está falando. É passarinho, come pedra e conhece o próprio cu. Mas deve estar claro neste ponto que a relação que se faz aqui entre vida e obra não se restringe à mera decifração de uma condição de ordem biográfica transportada para a esfera artística, e sim de uma articulação sofisticada que envolve diversas camadas de sentido. "Passarinho que come pedra sabe o cu que tem" comenta criticamente - valendo-se da potência desviante do humor e da ironia - uma situação/sintoma que não é de apenas um indivíduo, mas sim da condição humana e mais precisamente deste tempo que é o nosso.
E, se as palavras de um certo pensador francês valerem de alguma coisa, e pudermos pensar, como ele pensou, que uma obra de arte "é tudo que se quiser (...), desde que funcione", que "a obra de arte moderna é uma máquina e funciona como tal" [5], aí então, talvez, possamos tirar algum efeito deste encontro atento e cuidadoso com a máquina de Marcos Chaves. Quem sabe este encontro possa surgir para nós como uma centelha, uma centelha que carrega consigo a potencialidade de nos lembrar da possibilidade, sempre aberta, de se promover desvios no mesmo. Mesmo que, pelo desvio, já não mais irá configurar-se como o mesmo.
Eis o pulo do gato, que possui na arte de Marcos Chaves uma bela morada.
Rio de Janeiro, Setembro de 2003
Luisa Duarte é formada em jornalismo pela PUC-RIO. Concluiu a sua graduação com a monografia "Sobre a Experiência na obra de Walter Benjamin". Cursa hoje a Especialização em Arte e Filosofia do Departamento de Filosofia da PUC-RIO.
luisaduarte@yahoo.com
1. Esta citação foi extraída de uma entrevista concedida por Arthur Danto publicada no livro "Memórias do Presente - 100 entrevistas do Mais! - Artes do Conhecimento", com organização de Adriano Schwartz, editado pela PubliFolha, em 2003. Arthur Danto é crítico de arte e professor de filosofia da Universidade de Columbia, nos EUA. Autor de "After the end of art", "Beyond the Brillo Box", "Encounters & Reflections - Art in the historical present", entre outros. Escreve regularmente para o jornal nova-iorquino The Nation.
2. Ligia Canongia no texto "Vazio e Totalidade", de 2002, atentou para um aspecto importante, qual seja, o da aproximação entre readymade e fotografia no contexto da obra de Marcos Chaves: "A mesma lógica que preside o ato fotográfico governa o ato duchampiano. O readymade, como a fotografia, suspende o objeto do contínuo de seu tempo e de seu meio original, da cadeia progressiva, evolutiva, separando uma fatia do mundo do resto do mundo. O readymade é outra espécie de cut, que interrompe, assim como a foto, o fluxo normal de um objeto. O disparo que fundamenta a operação fotográfica é o mesmo disparo que isola, no readymade, uma porção do mundo."
3. Esta palavra de origem grega possui dois grandes significados principais: 1) O que está à frente e por isso é o começo ou o princípio de tudo; 2) O que está à frente e por isso tem o comando de todo o restante. No primeiro significado arkhé é fundamento, origem, principio, o que está no princípio ou na origem; ponto de partida de um caminho; fundamento das ações e ponto final a que elas chegam ou retornam. No segundo significado, arkhé é comando, poder.
4. CANONGIA, Ligia. In: Vazio e Totalidade. Texto publicado por ocasião da exposição Come into thewhole, de Marcos Chaves, na Galeria Nara Roesler (SP), em 2002.
5. DELEUZE, Gilles. In: Proust e os Signos. Tradução de Antonio Carlos Piquet e Roberto Machado. Editora Forense Universitária - 1987. Pg. 145.
outubro 9, 2003
Respostas a 3 perguntas paulistanas
Estive em São Paulo durante o FILE (Festival Internacional de Linguagem Eletrônica), e conversando com algumas pessoas no Paço das Artes, surgiram questões e dúvidas sobre o Canal Contemporâneo, que desenvolvo aqui para compartilhar uma melhor compreensão deste trabalho coletivo de arte, midiático e informacional, atualmente tão indispensável às nossas coletividades.
Porque o Canal publica a sua lista de assinantes?
Quem patrocina o Canal Contemporâneo?
Porque a equipe do Canal busca por mais matérias no Rio do que em São Paulo?
Porque o Canal publica a sua lista de assinantes?
Para dar visibilidade a rede que o constrói e é construída por ele, seria a primeira resposta. Mas também para possibilitar, a partir da visisbilidade destes nomes, um entendimento mais aprofundado das características deste trabalho. Não se trata de um agrupamento de informações que responde a interesses de mídias convencionais, nem mesmo a regras de negócios, ou à lógica do capital. Não se trata de um serviço anônimo ou autômato, e sim de uma relação de reciprocidade de indivíduos e coletividades em torno de um tema comum. Eu diria mesmo que esta relação de quem constrói e ao mesmo tempo é construído é de fato a coluna vertebral deste trabalho. (É preciso esclarecer também que para algumas pessoas é mais interessante permanecerem anônimas, e este desejo é respeitado.)
Quem patrocina o Canal Contemporâneo?
Nós mesmos - as pessoas físicas e jurídicas que compõem as nossas coletividades, através das assinaturas semestrais, dos portfolios bienais e da publicidade (que ainda engatinha entre nós).
Trazer as questões econômicas e de mercado para dentro deste trabalho, e trabalhá-las construindo uma autosustentabilidade e uma redistribuição de recursos, ao mesmo tempo em que novas estratégias de visibilidade são criadas, é o que torna esta mídia potente e transformadora. A maturidade artística deste trabalho coletivo de arte passa fatalmente por questões financeiras e jurídicas, que nos apontam para a construção de uma sociedade anônima, aonde estaremos participando com nosso trabalho e usando os serviços do Canal Contemporâneo, e recebendo dividendos como acionistas daquilo que fazemos parte.
Porque a equipe do Canal busca por mais matérias no Rio do que em São Paulo?
Esta pergunta revela dois equívocos comuns em relação à estrutura e ao funcionamento do Canal Contemporâneo. Imagina-se quase sempre que sejamos uma extensa equipe, montada artificialmente e anteriormente ao processo de criação desta mídia, e também muito bem equipada, que busca em todo Brasil e no exterior pelas matérias que são publicadas. Algumas pessoas chegam a pensar que todos os textos de imprensa são aqui redigidos... e não é nada disso.
Desde o início, em janeiro de 2001, quando comecei a enviar alguns emeios noticiando exposições de amigos (se você é assinante, conheça os primeiros e-nformes na página http://www.canalcontemporaneo.art.br/e-nformes.php) que o Canal Contemporâneo é construído como um mosaico coletivo de informação: as pessoas (físicas e jurídicas) enviam o seu material e nós olhamos, escolhemos, pedimos mais ou diferente, para atender ao que acreditamos ser o potencial desta mídia coletiva. Portanto, não se trata de uma escolha que tem um ponto de partida, mas sim, um de chegada, o que faz toda a diferença, tornando esta escolha muito mais próxima da produção contemporânea brasileira - me refiro aqui à produção que tem vontade e necessidade de visibilidade e troca. (Funcionamos como eu acho que deveria ser a estratégia dos Salões de Arte, se estes tivessem por objetivo ampliar a visibilidade de nossa produção, o que considero uma função mais contemporânea do que apontar para uma qualidade específica num conjunto de obras selecionadas.)
A partir deste mês estaremos indicando a origem do material recebido para dar maior visibilidade ao mosaico informacional que construímos coletivamente.
Em relação à equipe, é preciso deixar claro o funcionamento do Canal Contemporâneo, inclusive para que as pessoas entendam as nossas limitações em relação a processar o material que chega em cima da hora dos eventos. Trabalhamos aqui no Canal, que também é casa e ateliê, eu e o editor-assistente João Domingues (que por enquanto trabalha apenas meio período). Ele recebe e pré-seleciona o material, monta os e-nformes e os envia, e atualmente também coordena a produção da seção Portfolios do sítio do Canal Contemporâneo, http://www.canalcontemporaneo.art.br/portfolio.php, que estamos tentando dinamizar. Júlia Morales, que era nossa estagiária no ano passado, hoje é responsável por alimentar a Agenda Carioca, http://www.canalcontemporaneo.art.br/guiacarioca. Marcus Moura, da Clique Aqui, é responsável pelo sítio do Canal Contemporâneo, e pela sua intranet, extranet e internet. E Rubens Pileggi Sá é o primeiro artista a receber um pagamento, ainda simbólico, pelos seus textos publicados atualmente no Blog do Canal, http://www.canalcontemporaneo.art.br/blog.
Essa é a equipe que podemos ter. Apesar de enxuta, ela é bastante eficiente, como vocês podem avaliar constantemente, mas ela ainda está muito aquém de nossas reais necessidades - o que nos leva sempre ao mote HORA DE CRESCER.
Patricia Canetti é artista plástica e criadora do Canal Contemporâneo.