|
dezembro 16, 2021
Rebu e Carta às intenções na EAV Parque Lage, Rio de Janeiro
EAV Parque Lage exibe obras de alunos em duas mostras
Exposições refletem os percursos dos integrantes dos programas gratuitos de formação da instituição
Duas exposições, em três espaços distintos, vão apresentar ao público os percursos trilhados pelos alunos dos programas de formação da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV) ao longo de 2021. Na Capelinha, espaço anexo às Cavalariças do Parque, será aberta Carta às intenções, no dia 20 de dezembro, reunindo trabalhos dos integrantes do “Programa de Formação”, voltado a alunos interessados em se aproximar do campo da arte.
Partindo de uma diretriz que orienta as práticas da EAV ao entender que a escola não é o único espaço possível de se aprender e fazer arte, a mostra Rebu acontecerá paralelamente em dois locais: nas Cavalariças (a partir de 20 de dezembro) e na Galeria Cinco Bocas, em Brás de Pina (a partir do dia 18 de dezembro). A exposição, que apresenta obras dos artistas que cursaram o “Programa de Formação e Defomação”, inclui intervenções no Palacete e na área verde do Parque.
“A ideia é mostrar que tipo de função e de experiência com a arte é possível e interessante, não apenas trazendo novos públicos para a EAV, mas levando nosso conhecimento, nossos alunos e nossa circulação para outros espaços, de forma a discutir qualquer suposta centralidade”, afirma o curador da instituição, Ulisses Carrilho que divide a compartilha de Rebu com a professora Clarissa Diniz.
A proposta de dividir a exposição Rebu em dois espaços foi também motivada pelo fato de um dos alunos do Programa de Formação e Deformação, Allan Weber, ser proprietário da galeria Cinco Bocas. Este ano, os integrantes do grupo tiveram como desafio pensar o espaço, o tempo e os deslocamentos.
"Os trabalhos dos alunos refletem suas múltiplas visões e são um espelho da diversidade que buscamos nesses programas. Estamos felizes em poder compartilhar com os cariocas e demais visitantes um pouco do que temos aprendido com eles. Convidamos também todos os agentes do campo da arte para conhecer nossos alunos e descobrirem novas formas de fazer e viver a arte”, diz a diretora da Escola, Yole Mendonça.
Pensar o tempo não é exatamente uma tarefa fácil, sobretudo quando uma pandemia parece ter alterado as percepções. “Para mim, foi muito importante entender como meu trabalho iria se comportar nesse mundo pós ou durante a Covid”, observa Almeida da Silva, participante do programa. “Pude pensar não apenas o tempo, mas as cosmologias, a invisibilidade e a ancestralidade em seus diversos âmbitos”, completa.
Além de Almeida da Silva e Allan Weber, Rebu tem obras de Ana Hortides, André Vargas, Anis Yaguar, Bruno Magliari, Carla Santana, Elisa Maciel, Esther Blay, Loren Minzú, Luiz Camaleão, Mayara Veloso, Patfudyda, Derrete e Tainan Cabral.
Se Rebu trabalha com uma ideia geral de tempo, Carta às intenções, curada por Natália Nichols e Camilla Rocha Campos, partiu de 15 intenções que, ao longo de oito meses, puderam se ampliar, se contorcer, se contradizer, expandir e se confirmar. A exposição reflete um convite feito à turma logo no início do Programa de Formação, em março deste ano: mergulhar nas narrativas e contra-narrativas da arte, um salto na complexidade deste campo cheio de possibilidades e armadilhas.
Durante os encontros, os alunos foram levados a conhecer e a adensar conceitos, teorias, práticas, histórias, pessoas e lugares que compõem o sistema de arte. "A mostra revela compreensões muito diversas da arte e o modo como cada um dos 15 participantes se situa nela”, explica a curadora Camila.
O programa funciona como um curso introdutório de arte e cultura contemporânea, trabalhando diversas formas de se relacionar com as narrativas da arte contemporânea e suas relações políticas, sociais, culturais e históricas. No início, eles elaboraram uma carta de intenções, na qual tratavam de sonhos, objetivos, pontos de partida e caminhos. A exposição apresenta, justamente, algumas das inquietações alimentadas ao longo do programa.
Participam de Carta às intenções, os alunos Thamires Fortunato, Izah Beyaz, Osmar Paulino, Vida Teixeira, Idra Maria, Alex Reis, Mapô, Stéphane Marçal, Loren Stainff, Sophie, Mayra Carvalho, Ludi-K, Ana Paula Mello, Kaue Rodrigo e Ywyzar Guajajara.
Sobre a EAV Parque Lage
A Escola de Artes Visuais foi criada em 1975, pelo artista Rubens Gerchman, para substituir o Instituto de Belas Artes (IBA). Seu surgimento acontece em plena Guerra Fria na América Latina, durante o período de forte censura e repressão militar no Brasil. A EAV afirma-se historicamente por seu caráter de vanguarda, como marco da não conformidade às fronteiras e categorias, e propõe regularmente perguntas à sociedade por meio da valorização do pensamento artístico.
A EAV Parque Lage está voltada prioritariamente para o campo das artes visuais contemporâneas, com ênfase em seus aspectos interdisciplinares e transversais. Abrange também outros campos de expressão artística (música, dança, cinema, teatro), assim como a literária, vistos em suas relações com a visualidade. As atividades da EAV contemplam tanto as práticas artísticas como seus fundamentos conceituais.
A EAV configura-se como centro educacional aberto de formação de artistas e profissionais do campo da arte contemporânea. Como referência nacional, com uma consistente imagem no meio da arte, busca criar mecanismos internos e linhas de atuação externa que permitam um diálogo produtivo com a cidade e com os circuitos de arte nacional e internacional. A instituição integra a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do estado do Rio de Janeiro.
Alguns exemplos marcantes da história do Parque Lage são a utilização do palacete como sede do governo da cidade de Alecrim, em Terra em Transe, dirigido por Glauber Rocha em 1967; e a exposição “Como Vai Você, Geração 80?”, que reuniu 123 jovens artistas de diferentes tendências numa mostra que celebrava a liberdade e o fim do regime militar. O palacete em estilo eclético também foi palco de “Sonhos de uma noite de verão”, clássico shakespeariano, e serviu como locação para Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade.