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outubro 4, 2021
Marina Saleme no CCBB, Rio de Janeiro
Exposição terá uma grande instalação da artista paulistana, composta por cerca de 1500 desenhos, que formam uma imagem monumental
No dia 6 de outubro, o Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro inaugura a exposição “Apartamento s”, da artista paulistana Marina Saleme, composta por uma grande instalação, com cerca de 1500 obras, dentre desenhos e pequenas pinturas, recentes e inéditas, produzidas nos últimos três anos, que tratam de temas como a espera, a solidão e a separação. Os desenhos estarão dispostos em uma grande parede, de 5,70m X14m, na Sala B, no segundo andar do CCBB RJ, ocupando do chão ao teto do espaço, formando uma imagem monumental e fragmentada.
Conhecida pelas pinturas em grandes dimensões, a artista criou, para esta exposição, uma instalação com obras em pequenos formatos, com tamanhos máximos de 25cm X 35cm, que reproduzem uma mesma figura: uma mulher sentada, com as mãos nos ombros, a cabeça abaixada, as pernas e os pés tensos. Apesar de reproduzirem a mesma imagem, nenhum é igual ao outro. “Dependendo do ângulo, essa figura parece estar desesperada, cansada ou pensativa”, conta a artista.
O nome da exposição, “Apartamento s”, tem dois sentidos, o de moradia e o de estar apartado. O S, separado, traz a ideia de um indivíduo no meio da coletividade. “Uma cidade é uma multidão de pessoas, mas também uma multidão de pessoas solitárias, como a mulher do desenho. É um mundo apartado no sentido íntimo e plural”, diz Marina Saleme, que sugere que o grande desenho formado pelas pequenas obras se assemelha a um mapa de uma cidade ou a planta baixa de um imóvel. “Entre os blocos de desenhos, abre-se um espaço, que poderia ser as ruas ou o espaço entre os ambientes de um imóvel”, completa.
Os desenhos começaram a ser produzidos cerca de um ano antes da pandemia. Ao folhear uma revista de arte, a fotografia de uma mulher sentada chamou a sua atenção. “Não era uma imagem muito grande, mas ela me impactou e voltei a página, o que quase não acontece num mundo com tantas informações”, conta Marina Saleme, que começou a desenhar a figura incessantemente. “Quando comecei a desenhar, pensava no social, no isolado, no sozinho. Mas, ao colocar um desenho ao lado do outro, a obra fez todo o sentido. Logo em seguida, veio a pandemia e o trabalhou ganhou ainda mais sentido”, afirma a artista.
“Embora a série se inicie antes da pandemia, não resta dúvida de que seu significado ganha conotações de um drama ainda mais intenso, se ligarmos a figura ali feita e refeita centenas e vezes à situação em que vivemos. Porém, seria importante que não nos esquecêssemos de um fato: como obra de arte que é, Apartamento s, ao mesmo tempo em que se impõe como registro de sua conjuntura, do espírito do seu tempo é, igualmente, a transcendência de si mesma e de sua circunstância histórica”, afirma o historiador da arte e curador Tadeu Chiarelli, que assina o texto crítico que acompanha a exposição.
As obras são feitas em técnica mista, em suportes diversos, como papel 100% algodão, papel de arroz, lona e papel de caderno, e os desenhos são feitos com tinta e caneta. Na instalação, os papeis iguais são postos juntos na parede, em blocos, e são presos por pregos, sem moldura, como folhas soltas.
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“O que Marina vivenciou durante a produção da série foi um jogo: repetia o desenho de olho na matriz, produzindo algum tipo de ação sobre ele: modificava o fundo com cores, descaracterizava as linhas que contornam a imagem, apagava o rosto da figura, cobrindo-o com a ação violenta do grafite até quase mutilar o suporte para, num próximo desenho, trazer a imagem de volta, revelando-a a partir de outros modos de representa-la, em um vai e vem infinito”, escreveu Tadeu Chiarelli.
SOBRE A ARTISTA
Marina Saleme (São Paulo, 1958) concluiu a licenciatura em Artes Plásticas na Fundação Armando Álvares Penteado em 1982. Nos primeiros anos a artista trabalhava principalmente com manchas tonais, sem referência à figura humana, utilizando formas compostas por linhas ou grids. No entanto, como afirma a artista: “Meus trabalhos nunca são totalmente abstratos”. Já a partir da metade da década de 1990, sua produção passa a ganhar alusões figurativas a pessoas, chuva, flores, nuvens, muitas vezes indicadas nos próprios títulos. Na década seguinte sua linha se torna sinuosa e se curva desenhando arabescos que por vezes estão parcialmente encobertos por outras imagens, em outros momentos são evidenciados na camada mais superficial.
Destacam-se as exposições individuais e coletivas no Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto (2019); Paço Imperial, Rio de Janeiro (2017); Museu de Arte Contemporânea de São Paulo (2008); Paço das Artes, São Paulo (2003); Centro Universitário Maria Antônia, São Paulo (2001); Centre D’Art Contemporain De Baie-Saint-Paul, Canadá (2004); Palácio das Artes, Belo Horizonte (1996); Embaixada do Brasil na França, Paris (1989); entre outras.
Coleções das quais seus trabalhos fazem parte incluem: Coleção Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto; Embaixada do Brasil em Roma; Instituto Cultural Itaú, São Paulo; Pinacoteca do Estado de São Paulo; Museu de Arte Moderna de São Paulo e do Rio de Janeiro.