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setembro 17, 2021
Almeida & Dale celebra Luiz Sacilotto em exposição e livro, no Brasil e na Inglaterra
Até dia 23 de outubro Sacilotto – A Vibração da Cor, com curadoria de Denise Mattar e Gabriel Pérez-Barreiro, fica na galeria em São Paulo, com 50 obras produzidas entre 1974 e 2003. Em setembro, o lançamento do livro (Cosac Naify) acontece na SP-Arte, e a mostra abre em Londres, na Cecilia Brunson Projects, com lançamento do livro em inglês na Frieze Master 2021
Luiz Sacilotto (1924-2003) foi um dos signatários do Manifesto Ruptura em 1952, sendo uma das figuras centrais do Concretismo histórico no Brasil. Sempre se manteve fiel aos princípios ordenadores do movimento, e foi considerado por Waldemar Cordeiro como a “viga mestra da arte concreta”, e por Frederico Morais como “o mais concreto dos concretos”. Uma precisão, que, segundo Gabriel Pérez-Barreiro se reveste de outros significados: “Vemos que o artista era obcecado pela perfeição e pela exatidão, e ainda assim podemos presumir que seu intuito não era a precisão técnica como um fim em si, mas antes como ferramenta para estimular uma experiência no subconsciente do observador: uma forma racional de provocar uma resposta irracional.”
No início da década de 1960, Sacilotto interrompeu seu trabalho, desencantado com os caminhos do Concretismo e com o excesso de controle político no país. Retomou a atividade artística em 1974, realizando em 1980 uma retrospectiva no Museu de Arte Moderna de São Paulo, com um trabalho maduro e original sobre o qual disse Décio Pignatari: “o tempo o transformou nele mesmo”.
A mostra Sacilotto – A Vibração da Cor enfoca essa produção do artista, apresentando trabalhos da década de 1970, quando o movimento se tornou o eixo central da sua busca, passando pela vibração da cor em obras das décadas de 1980 e 1990, até a exposição de um impactante conjunto de trabalhos realizados com elementos recortados, produzido na década de 2000, já perto do falecimento de Sacilotto, que ocorreu em 2003.
Na década de 1970, a partir de rotações de signos geométricos serializados, colocados em ordem progressiva ou regressiva, o artista constrói um trabalho pleno de relações, que exploram a ambiguidade espacial e resultam em estruturas de caráter óptico-cinético. Para enfatizar a forma, Sacilotto trabalha apenas com cores básicas – preto, vermelho ou azul, sobre o branco. O processo, decorrente da pesquisa iniciada com guache, se estende para outras técnicas e mantêm as características monocromáticas.
Nos anos 1980, Sacilotto começa a incorporar a cor à sua obra, e faz um verdadeiro mergulho na pesquisa cromática, retornando, de certa forma, à paleta de seu trabalho expressionista da década de 1940. Começa, então, a comprar novos pigmentos e a catalogar os que acumulara ao longo da vida, cria suas próprias tintas e elabora escalas cromáticas para estudar a constituição das cores e as relações entre elas. A minuciosa pesquisa permite que o artista adquira total controle sobre o material e possa obter e repetir exatamente a cor desejada. Ainda testando possibilidades, ele passa a produzir telas pequenas, de 20 × 20 cm, que depois transforma em grandes formatos, com absoluta exatidão, fazendo também o inverso, pequenas obras a partir das grandes.
Para Denise Mattar: “O pleno domínio da forma, aliado ao virtuosismo cromático, permite a Sacilotto realizar de meados de 1980 até 1993 uma produção inteiramente particular. O artista contrapõe cores quentes e frias, e assim aumenta sua intensidade luminosa. Cria profundidades com a alternância cromática de figura e fundo, constrói assimetrias a partir de linhas simétricas alinhadas, ousa trabalhar com semitons e transparências produzindo uma obra que, nas palavras de Enock Sacramento, é ao mesmo tempo “lúcida e lúdica”.
Todas essas facetas estão apresentadas na exposição, incluindo alguns de seus pigmentos e escalas cromáticas, tal como os dispunha, impecavelmente, em seu ateliê. A Almeida & Dale representa o espólio do artista desde 2020 e esta será a primeira grande exposição com obras selecionadas.
LIVRO
Paralelamente à exposição, a Almeida & Dale prepara para lançamento em outubro, durante a realização da SP-Arte, uma publicação reunindo cerca de 250 obras do artista, que integram acervos de instituições internacionais, como MoMA, Coleção Patricia Phelps de Cisneros, The Museum of Fine Arts – Houston, de instituições nacionais, como MAM-SP, MAC- USP, Pinacoteca do Estado de São Paulo, MAM-RJ, Fundação Edson Queiroz, IAC, além de coleções particulares como Hecilda e Sergio Fadel, Gilberto Chateaubriand, e Airton Queiroz. Serão incluídos desenhos, pinturas, esculturas e obras públicas, fazendo o percurso desde o início da carreira do artista até seu falecimento, e a edição é da Cosac Naify.
O livro reúne textos do poeta Augusto de Campos, de Gabriel Pérez-Barreiro, curador da 33ª edição da Bienal Internacional de São Paulo, de Pia Gottschaller, do The Courtauld Institute of Art, Londres e da curadora brasileira, Denise Mattar. Para ampliar a abrangência da publicação os autores tratam de diferentes aspectos da obra do artista: Augusto de Campos conta sua relação com Sacilotto. Denise Mattar traça seu percurso artístico, Pia Gottschaller faz uma análise do processo técnico de Sacilotto e Perez-Barreiro propõe uma leitura do concretismo brasileiro a partir de conceitos de percepção e psicologia visual.