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setembro 13, 2021
Sérvulo Esmeraldo na Pinakotheke São Paulo
A Pinakotheke São Paulo, em colaboração com a Galeria Raquel Arnaud, realiza a exposição Sérvulo Esmeraldo (1929-2017): 90 + 2, dentro das comemorações dos 90 anos do artista iniciada na cidade de Fortaleza em 2019. Com curadoria do especialista em arte contemporânea latino-americana Hans-Michael Herzog, a exposição reunirá aproximadamente 90 obras do artista, abrangendo os anos 1950 a 2000, entre maquetes, pinturas, desenhos, gravuras, esculturas, instalação, e a maior coleção de Excitables exibidos numa única exposição - trabalhos ativados pela eletricidade estática que levam em conta a interação entre o corpo e o objeto.
A mostra obedecerá a uma cronologia, nos conceitos que compõem a sua trajetória de artista. Herzog destaca que o vai-e-vem artístico entre a bidimensionalidade da arte gráfica e do desenho e a tridimensionalidade que abrange e encerra o espaço da plástica escultórica de Sérvulo não é contraditório, mas sim uma consequência inevitável no pensar e agir do artista. “Para ele, a segunda e a terceira dimensões não eram contraditórias, mas grandezas e categorias mutuamente complementares ou até condicionantes, dentro das quais ele se movimentava com agilidade e destreza”.
Em seu texto, o curador indica que o seu interesse não é o aprofundamento nas raízes artísticas brasileiras do artista, nem a relação dele com o neoconcretismo, mas opta inicialmente por inscrever suas obras escultóricas no grande contexto internacional.
Nas palavras de Hans-Michael Herzog, historiador, crítico de arte e o curador desta exposição:
“Sérvulo Esmeraldo faz parte das personalidades artísticas brasileiras absolutamente preeminentes da segunda metade do século 20. O que lhe falta (assim como a tantos de seus colegas brasileiros) é simplesmente o reconhecimento internacional. Eis o que move o desiderato de “colocá-lo no mapa”, à semelhança do que ocorreu também, há nem tanto tempo, com artistas muito festejados como Lygia Clark e Hélio Oiticica. Por fim, grande quantidade de suas obras — as mais importantes — ainda estão disponíveis, melhor dizendo ainda podem ser visitadas in situ.
No início deste século, enquanto percorri toda a América do Sul a fim de escolher obras de arte para a futura coleção Daros Latinamerica, ninguém me chamou a atenção para o trabalho de Sérvulo Esmeraldo. Por que não? Soto, Le Parc, Cruz-Diez e suas galerias dominavam o campo latino-americano da arte contemporânea tornada clássica. O motivo não poderia ser a origem nordestina de Sérvulo; afinal, viajei intensamente todas as regiões do país. Por fim, Mario Cravo Neto e Antonio Dias permaneceram sendo os únicos nomes do nordeste brasileiros que incorporei à coleção.
Creio que o reduzido reconhecimento internacional de Sérvulo Esmeraldo se deva a um curioso fenômeno do mercado de arte especificamente brasileiro: um mercado que opera de maneira bastante hermética e autóctone, com regras próprias e níveis de preço que se mantêm em larga medida estáveis e incontestáveis pelo tempo e espaço. Independentemente das influências do mercado externo e ainda antes da virada do século, uma série de artistas brasileiros de muita qualidade havia se estabelecido no mercado interno brasileiro sem nunca ter estado sob os holofotes internacionais. Sérvulo Esmeraldo foi um deles”.
Sobre Sérvulo Esmeraldo
Escultor, gravador e desenhista, Sérvulo Esmeraldo iniciou-se profissionalmente em Fortaleza, no final dos anos 40, nos ateliês livres da SCAP- Sociedade Cearense de Artes Plásticas. Fixando-se em São Paulo, em 1951, para estudar arquitetura, é atraído pela efervescência da 1ª. Bienal e sua revolução artística-cultural.
Ilustrador no Correio Paulistano, entre 1953 e 1957, desenvolveu em paralelo, de forma vigorosa, xilogravuras de natureza geométrica. Sua exposição realizada no MAM (SP), em 1957, o credenciou para um ano de estudos em Paris, com bolsa do governo francês. Temporada que resultou numa permanência de mais de vinte anos. E no desenvolvimento de uma obra plural e de muitas vertentes.
Em Paris, frequentou os ateliês de Litogravura da École Nationale des Beaux-Arts e de Gravura em Metal de Johnny Friedlaender, dedicando-se largamente a esta última, tendo inclusive feito gravuras a partir de guaches e pinturas para Serge Poliakoff. O esmero nestas obras levou Poliakoff a confiar-lhe, em 1965, a execução de um painel de 1,80 x 9,00 no Hotel Carlton, em Cannes.
Detentor de considerável obra gravada, editado e distribuído por importantes editores europeus, em meados dos anos 60, Esmeraldo estava decidido a não ser gravador em tempo integral. Interessava-lhe por em prática seus projetos cinéticos. Trabalhando em objetos movidos a motores, imãs e eletroímãs, ou manipuláveis, em acrílico ou metal, foi com os Excitables, trabalhos movidos à eletricidade estática, iniciados em 1966, sua contribuição mais original ao cinetismo internacional. O funcionamento destas “máquinas” está ligado a cargas eletrostáticas produzidas por fricção do observador sobre a sua superfície. Datam do mesmo período as esculturas em plexiglass, preto e branco, cujo interesse é a topologia do volume.
Iniciou em 1977 o retorno ao Brasil, trabalhando em projetos de arte pública que incluíam esculturas monumentais na paisagem urbana de Fortaleza, cidade onde fixou atelier em 1979. Foi o idealizador e curador da I e II Exposição Internacional de Esculturas Efêmeras (Fortaleza, 1986 e 1991). Com importantes exposições realizadas e participação em salões, bienais e outras mostras coletivas na Europa e nas Américas, sua obra está representada nos principais museus do país e em coleções públicas e privadas do Brasil e exterior. Em 2011, a Pinacoteca do Estado de São Paulo organizou importante retrospectiva da sua obra. Grandes mostras de sua obra passaram a acontecer a partir de 2006, no Brasil e exterior, em recortes cada vez mais abrangentes. Em tributo aos 90 anos que completaria em 2019 é decretado no Estado do Ceará o Ano Cultural Sérvulo Esmeraldo. É o artista homenageado da Bienal Internacional do Livro do Ceará e é realizado no Crato sua cidade natal o Festival Sérvulo Esmeraldo 90.
LIVRO
Acompanha a exposição, o livro bilíngue (português /inglês) homônimo, “Sérvulo Esmeraldo (1929-2017): 90 + 2” formato 21 x 27cm, com textos críticos, alguns inéditos, imagens e informações sobre as obras (será lançado ao longo da exposição).
Sérvulo Esmeraldo — Reflexões sobre sua obra plástica, – Hans-Michael Herzog
Giuseppe Marchiori, Veneza, abril de 1966;
Guy Weleen, julho de 1967;
Jacques Queralt, julho de 1973;
Fernando Cochiaralle: Entre a linha e o espaço, dezembro de 2002
Depoimento: Sérvulo Esmeraldo sobre Serge Poliakoff
Ensaio fotográfico de Alécio de Andrade
Cronologia atualizada