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agosto 10, 2021

Gisel Carriconde Azevedo e Suyan de Mattos na Referência, Brasília

Com curadoria de Marília Panitz e Ralph Gehre, a mostra reúne trabalhos inéditos em aquarela e bordado produzidos a partir de situações de isolamento físico e do olhar para o outro. Em Lives | Visitas Guiadas, artistas e curadores conversarão com o público com transmissão pelo Instagram da galeria

Em 28 de julho, quarta-feira, a Referência Galeria de Arte abriu a mostra “Manual de observação”, com aquarelas de Gisel Carriconde Azevedo e bordados de Suyan de Mattos e curadoria de Marília Panitz e Ralph Gehre. As obras inéditas produzidas a partir de 2019 são resultado de uma nova dinâmica na produção das artistas em grande parte pelo advento da pandemia. Durante o período, da exposição, serão realizadas duas Lives | Visitas Guiadas, com transmissão pelo Instagram @referenciaarte. A mostra fica em cartaz até o dia 4 de setembro, com visitação de segunda a sexta, das 10h às 19h, e sábado, das 10h às 15h. A entrada é gratuita, livre para todos os públicos, mas sujeita à lotação de 10 visitantes por vez.

Para a mostra, Gisel Carriconde Azevedo apresenta três séries produzidas a partir de 2019: “#pinturinhasliquidas: Jardins da Burguesa”; “#pinturinhassolidas: Jardins da Burguesa”; e “Morada do Sol, 360 graus”. A artista trabalha com aquarela em 2016, interessada pela fluidez do material, como uma forma de exercitar a perda de controle no processo artístico. Além de forçar a quebra de padrões mentais ligados à sua disciplina de produção, a escolha pela aquarela “supre uma necessidade de me afastar temporariamente da arte contemporânea, em busca das motivações que há cerca de trinta anos me fizeram largar tudo pra fazer arte”, afirma a artista. Pesou também na escolha a aproximação com uma linguagem considerada menor na história da arte, tradicionalmente delegada às mulheres. Por fim, foram as restrições do primeiro ano de quarentena, trancada em casa e sem ateliê, que abriram seus olhos para o jardim à disposição da minha varanda. “Pintar a “florestinha” da república burguesa marcou meu reencontro com a natureza, e a descoberta de uma nova paixão, a pintura de paisagem”, completa Gisel.

Suyan de Mattos apresenta a série “Bordado hospeda Aquarela”, que nasceu a partir da prática visual de exercitar o fazer e o olhar para o trabalho do outro, neste caso, a produção em aquarela da artista plástica Gisel Carriconde Azevedo. Suyan ressalta que o bordado é uma atividade próxima ao exercício da pintura: preencher espaços vazios a partir de técnicas que percebam a presença do volume e da textura, numa tentativa de se fazer crível com intenção de ser real por meio das cores. As três séries em aquarela apresentadas por Gisel têm correspondentes imagéticos nos bordados produzidos por Suyan. “O meu propósito não foi a cópia. A minha determinação de bordar as aquarelas foi tentar ver o que Gisel olhava. Assim, muitos dos bordados se aproximam ao abstracionismo, não se distanciando do figurativo, numa fronteira de chancelas abertas”, afirma a artista.

No texto sobre as produções das duas artistas, os curadores Marília Panitz e Ralph Gehre afirmam que em tempos de pandemia, com o isolamento social, o receio e as indefinições mudaram as dinâmicas de produção. "O recolhimento ao espaço de trabalho se torna diverso, sem alternância com o outro, o da rua”, escrevem os curadores. Eles ressaltam que neste período, Gisel Carriconde Azevedo a partir da varanda de seu quarto montou um observatório do jardim da casa, de onde, “à maneira dos artistas viajantes do século XIX, retrata o desconhecido-familiar: o pátio, a folhagem, o mesmo, todo dia diferente, sua própria morada”.

Suyan de Mattos, por sua vez, montou o projeto “40Antenas e algumas parabólicas”, uma plataforma virtual a partir da qual passou a acompanhar a produção de aquarelas. “As ferramentas de sua pesquisa estão centradas em sua cesta de linhas e agulhas, sua paleta atual. A produção, durante a pandemia, desenha o mundo com fios. Assim surge Bordado hospeda Aquarela, releitura paradoxalmente livre e fiel aos originais, que a artista experimenta com pintura de agulha”, apontam os curadores.

Lives | visitas guiadas

Como parte da programação da mostra “Manual de observação”, a Referência Galeria de Arte realizará duas Lives | Visitas guiadas com as artistas e os curadores, com transmissão pelo Instagram @referênciaarte. No dia 12 de agosto, quinta-feira, às 17h, Ralph Gehre conduz uma conversa e comenta os trabalhos na live Bordando aquarelas. No dia 19 de agosto, quinta-feira, às 17h, Gisel Carriconde Azevedo e Marília Panitz fazem o percurso pela exposição e comentam sobre os trabalhos na live Pintando a florestinha. A participação é gratuita e livre para todos os públicos.

Visibilidade para o Centro-Oeste

Ainda que Gisel Carriconde Azevedo e Suyan de Mattos não sejam representadas pela galeria, a mostra “Manual de observação”, vem de encontro com a proposta da Referência Galeria de Arte de dar mais visibilidade à produção dos artistas visuais de Brasília e do Centro-Oeste. “Quando conheci o projeto apresentado pelo Ralph Gehre, fiquei encantada com a possibilidade de mostrar mais da produção de artistas visuais da cidade”. Atualmente, cerca de 70% do elenco da galeria mora e produz no Centro-Oeste, em especial no Distrito Federal e em Goiás. “Ao olharmos para as obras, nos deparamos com artistas cujas produções levam à retomada de técnicas antes relegadas a um segundo plano. Aqui a aquarela e o bordado assumem um protagonismo para questões

Sobre as artistas

Gisel Carriconde Azevedo trabalha com instalação de objetos e pintura. Formada em artes pela Universidade de Brasília, tem mestrado e doutorado em artes na Inglaterra, na University of Brighton (1997) e na University of East London (2012), respectivamente. Entre 2000 e 2016, trabalhou como designer de exposições no Museu de Valores do Banco Central do Brasil, despertando sua atenção para as relações entre espaço, objeto e público. Em 2014, partindo da premissa de que existe uma poética expositiva, transformou seu ateliê num espaço coletivo dedicado a experimentações expográficas e curatoriais, com o objetivo de explorar novas maneiras de exibir, apreciar e discutir arte contemporânea. Desde 1997, tem realizado exposições coletivas e individuais, no Brasil e na Inglaterra. Na última década, participou de residências artísticas locais e internacionais, de projetos de gestão cultural, e de comissões de seleção de salões e premiações. Atualmente, vive e trabalha em Brasília.

Suyan de Mattos é pós-doutora em Artes pela Universidade de Buenos Aires (UBA, Argentina) e doutorado em História da Arte pela Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM, México). Realizou diversas curadorias de exposições, As Caixas, no Museu Vivo da Memória Candanga (Brasília), Carta/Obra, na galeria deCurators (Brasília) e Centro Cultural Brasil-México, na Cidade do México. Também realizou diversas exposições individuais em espaços como o Museu de Arte de Goiânia e a galeria da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás/ FAV-UFG, em Goiânia, Goiás; Museu de Arte de Blumenau (Blumenau, Santa Catarina); galeria da Casa da Cultura da América Latina da Universidade de Brasília (Cal-UnB); e projetos Atos Visuais e Prima Obra, na galeria da Fundação Nacional das Artes (Funarte), em Brasília. Participou de exposições coletivas no Brasil e no exterior, como MUDA, com o Coletivo F.A.D.A., na Casa da Cultura da América Latina da Universidade de Brasília (Cal-UnB), Curanderias e Ebulições, exposição virtual, Coletivo F.A.D.A., Onde Anda Onda I, II, e III, Museu Nacional de Brasília/Brasil, a IX Bienal Nacional de Santos de Artes Visuais, II Bienal Nacional de Dibujo y Pintura Orozco/México. Participou de residências artísticas no Brasil, na Espanha, no Chile e em Portugal. É coordenadora e curadora da residência artística Hospitalidade/Casa Aberta, em Olhos d’Água, Goiás. No desenvolvimento do seu trabalho utiliza múltiplas linguagens na composição de narrativas, pautadas, principalmente, pela ótica do mundo sexual e sensual feminino/feminista, cujas evidências são coletadas em memórias vividas, diariamente, como mulher. Vive e trabalha em Brasília.

Sobre os curadores

Marília Panitz é mestre em Arte Contemporânea: teoria e história da arte, foi professora na Universidade de Brasília, de 1999 a 2012. Dirigiu o Museu Vivo da Memória Candanga e o Museu de Arte de Brasília. De 1994 a 2013, atuou como pesquisadora e coordenadora de programas educativos em exposições. Atua como crítica de arte e curadora independente, com projetos como: Felizes para Sempre, Coletivo Irmãos Guimarães BSB, Curitiba e SP, 2000/2001; Gentil Reversão, BSB, RJ 2001/2003; Rumos Visuais Itaú Cultural 2001/03 e 2008/10; Azulejos em Lisboa Azulejos em Brasília: Athos Bulcão e a azulejaria barroca, Lisboa, 2013; Vértice – Coleção Sérgio Carvalho, nos Correios em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo 2015| 2016; 100 anos de Athos Bulcão CCBB Brasília, Belo Horizonte São Paulo e Rio de Janeiro, 2018-9; Curadorias on-line: 40 Antenas. 2020; Sobre Pães Pequenos: notas em torno do isolamento 2020/21. Realiza projetos com ênfase na produção artística do Distrito Federal e na formação de uma visualidade determinada pela cidade nova; e em mapeamento da cena cultural de espaços não hegemônicos. Vive e trabalha em Brasília.

Ralph Gehre é artista indicado ao Prêmio PIPA 2020. Nasceu no Mato Grosso do Sul, em 1952, vive e trabalha em Brasília desde 1962, onde realizou sua primeira exposição em 1980, na Galeria A da FCDF. Cursou Arquitetura e Urbanismo e Desenho e Plástica na UnB no período entre 1972 e 1980. Tem obras incluídas no acervo do MAR, Museu de Arte do Rio, RJ; Museu Nacional da República, Brasília - DF; MAC, Goiânia - GO; MAB, Brasília - DF; MASC, Florianópolis - SC e FUNARTE, Rio de Janeiro - RJ. Pesquisa o problema da composição, o processo de leitura e as relações entre imagem e palavra, em busca de uma natureza da pintura. Utiliza diversas mídias gráficas, além do desenho, da pintura e da fotografia. Realizou diversas curadorias de exposições e projetos de expografia, como por exemplo a exposição Laranja C.I. 15985, de Gustavo Silvamaral, Ciclo Curare, galeria deCurators, em 2018, Brasília- DF; mostra coletiva COMBOS, Hill House Brasília-DF, 2015; da Comissão de Seleção Nacional do Edital Programa Rede Nacional Funarte Artes Visuais 11ª edição, 2014, RJ; coletiva Aldemir Martins e o acervo da CAIXA: um nome no centro da coleção, CAIXA Cultural Brasília, junho, Galeria Acervo CAIXA, Brasília-DF e Fortaleza-CE, 2013. Foi curador assistente para a mostra coletiva Aos ventos que virão: Artes visuais em Brasília 1960-2010, curadoria geral Fernando Cocchiarale, agosto, ECCO, Brasília-DF.

Posted by Patricia Canetti at 10:26 AM