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agosto 6, 2021
Daniel Melim na Iberê Camargo, Porto Alegre
Arte de rua ganha exposição na Fundação Iberê: “Abrir as portas de um museu ao street art é discutir, no cenário das artes visuais, o papel de uma cultura tão importante para as grandes metrópoles”. (Daniel Melim)
O artista Daniel Melim chega a Porto Alegre para acompanhar a montagem da exposição Reconstrução, que abre no dia 7 de agosto (sábado), na Fundação Iberê abre.
Com a curadoria de Miguel Chaia e co-curadoria de Baixo Ribeiro e Laura Rago, o quarto andar do centro cultural será ocupado por doze obras de sua mais recente produção, aliando trabalhos de grandes formatos com outras menores, que tem como foco principal a pintura, oriunda da arte urbana, com o frescor de novas técnicas para uma linguagem artística tão consagrada.
“Com exceção dos trabalhos “Ser” e “Só foi isso que sobrou”, apresento, pela primeira vez, um recorte de obras da minha pesquisa sobre a pintura, uma linguagem tão clássica das artes visuais, mas que trago revigorada, principalmente, através do grafite e da minha relação com a arte urbana”, explica o artista.
Melim é considerado um dos nomes mais importantes no cenário da street art. Um dos seus trabalhos, a grande pintura da moça loira que ocupa a lateral de um prédio perto da Pinacoteca de São Paulo, na avenida Prestes Maia, foi eleito, em 2013, como o mural representativo da cidade.
Para o superintendente da Fundação Iberê, Emílio Kalil, tudo na produção de Daniel Melim é uma reflexão do mundo, com seus problemas e suas epifanias sociais. “O que mais me impacta é a consciência deste artista, um homem que não esqueceu suas origens na street art, permanente fonte de inspiração. Aquele que diz ‘conto com sua ajuda’, que quer lutar onde crack is pop, já que foi só isso que sobrou no sofá, com um buque de Zéfiro, com Jurema e seus mesmos rasgos, tentando ser o que dizem sobre nós. Brincadeiras à parte, quando tomo emprestado os nomes das obras desta exposição, tudo é muito sério. Tudo nos rodeia”.
Dos quadrinhos para o mundo
Nascido e criado em São Bernardo do Campo, filho de pai metalúrgico da Volkswagen e de mãe professora primária, desde muito cedo, Daniel Melim teve acesso aos livros, e foram as ilustrações que sempre lhe chamaram a atenção.
Aos 13 anos, Melim começou a frequentar a primeira pista de skate da cidade, que tinha visual estético marcado pelo pixo e pelo grafite. Foi ali que conheceu o estêncil, técnica da arte de rua que predominava naquele espaço. As intervenções eram feitas por nomes que ficaram muito conhecidos na cena urbana do ABC, como Jorge Tavares, Job Leocadio, Marcio Fidelis e Vado do Cachimbo.
Fascinado por aqueles desenhos que valorizavam a repetição e a ilustração, ele começou a tentar reproduzir por conta própria. Resgatou traços da linguagem de quadrinhos para ilustrar sua primeira personagem, uma figura de uma mulher chorando. Na sequência, fez um homem gritando.
No ano 2000, conheceu Rodrigo Souto, também chamado de Maionese, e, ao lado dos grafiteiros Ignore, Sapo e Tomate, criou a Crew “Ducontra”. "A gente tinha de ser 'du contra': se o lance era fazer letra, íamos e fazíamos algo diferente”, lembra. Ali surgia a técnica da tinta escorrida, um olhar mais aprofundado para as texturas, que ele leva até hoje para seu trabalho.
Foi aí que Daniel Melim resolveu se apropriar da técnica do estêncil tornando-a sistematicamente a linguagem principal do seu trabalho e gerando, assim, o DNA de sua obra. Além da arte de rua, sua pintura já foi apresentada em galerias e museus no Brasil, Alemanha, França, Suíça, Espanha, Inglaterra e Austrália.
Visitação
As visitas de sexta a domingo devem ser agendadas pelo Sympla. Às quintas-feiras, a entrada é gratuita e por ordem de chegada. Obrigatório o uso de máscara, a medição de temperatura e o distanciamento social.