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julho 13, 2021
Gabriela Noujaim na Simone Cadinelli, Rio de Janeiro
Idealizado e produzido durante a pandemia pela artista Gabriela Noujaim, o livro-experiência “Latinamerica 2020” é composto por serigrafias em diversos suportes – com imagens visíveis e “ocultas", em tinta ultravioleta e só reveladas com luz negra –, um vídeo (em pendrive) e textos realizados por mulheres que relataram suas experiências durante o período da pandemia em 2020.
Simone Cadinelli Arte Contemporânea apresenta, de 14 de julho a 27 de agosto de 2021, o livro de artista “Latinamerica 2020”, de Gabriela Noujaim: uma caixa, com edição limitada, contendo dez serigrafias – oito sobre papel, uma sobre uma máscara cirúrgica, e outra sobre espelho – um vídeo e um livro trilíngue (port/esp/ingl) com depoimentos de sete mulheres. Todos os trabalhos estarão expostos em um espaço dedicado à artista dentro da exposição “Modo Contínuo”.
A obra foi iniciada por Gabriela Noujaim em abril de 2020, durante seu isolamento social, quando criou a série de serigrafias com o mapa da América Latina sobre máscaras cirúrgicas – “Cov19 Latinamerica” – que foram enviadas para profissionais da saúde e para mulheres de diversas regiões e áreas de atuação. Como parte do trabalho, as mulheres, em seu ambiente de trabalho, faziam selfies com a máscara, e enviavam a foto para a artista. Seus retratos integram o vídeo, e ilustram sete relatos, sobre suas experiências durante a pandemia.
Gabriela Noujaim diz que “o impacto da pandemia nas mulheres se tornou algo latente, revelando questões extremamente urgentes na América Latina, como as condições precárias de trabalhos informais – cuidadoras e empregadas domésticas, por exemplo – além do aumento da violência contra a mulher, e ainda os casos de mortes pelo vírus entre as indígenas”. “Segundo dados do TJRJ, houve aumento de mais de 50% no número de denúncias de violência doméstica desde que o isolamento começou” , afirma.
A artista conta que “para além da proteção ao vírus, as serigrafias sobre as máscaras buscavam uma proposição de romper o silêncio camuflado nas fissuras estampadas de vermelho das veias abertas e dilatadas da América Latina”. “Ao mesmo tempo, reforçava a ideia de formas de silenciamento dos corpos, principalmente das mulheres em nossa sociedade”.
TINTA ULTRAVIOLETA
As oito serigrafias sobre papel contêm também uma imagem criada pela artista com tinta ultravioleta, só visível com luz negra.
A serigrafia “Heroína” (2020) é feita sobre espelho, permitindo uma dupla imagem ao ser vista: a criada pela artista, e o rosto do espectador.
Será exibido na galeria o vídeo “Mulheres Latinamerica 2020” (3' 33"), que integra, em um pendrive, a caixa-experiência de Gabriela Noujaim.
Nesses tempos de reinvenções diárias, no sentido de reexistir, Gabriela Noujaim cria formas inusitadas de questionar o estabelecido, abrindo diálogos para uma interação. Uma performance do objeto-máscara no campo das experimentações com o outro, que passa a ser de alguma forma parte da obra da artista no ato de vestir a máscara registrado pelos destinatários, nos apresenta estratégias de coletividades humanas e enfatiza um estado de atenção para as questões sociais e humanitárias.
Gabriela Noujaim comenta que “diante de tentativas de encontrar formas de se estar num mundo marcado por diferenças sociais abismais, principalmente, no contexto de pandemia, ‘Latinamerica’ busca fazer um alerta à nova forma de se estar em um território em suspensão, onde as fronteiras físicas e sociais, em especial nos países latino-americanos, se tornam mais evidentes”.
LISTA DE OBRAS DE “LATINAMERICA”
• Caixa: 40 cm de largura x 40 cm altura x 10 cm profundidade. Tiragem: 32+ 2 PA + 1 Prova de Manuseio
• Oito gravuras, 35 cm x 70 cm, impressas separadamente sobre papel com uso de tinta à base de água e fosforescente; Gramatura do papel Conqueror Bamboo:250 gramas; Cores usadas: tintas verde, vermelha e dourada (hidrocolorcolordex fosforescente, base água). Para o livro ser experienciado em sua totalidade, deve-se estar em ambiente com pouca luminosidade e utilizar uma lanterna UV luz negra LED ultravioleta detector de luz negra tocha de alumínio lâmpada uvzoomable, lanterna do celular ou lanterna comum de Led com 100 watts de potência sobre as páginas em serigrafia para visualizar as imagens serigrafadas em “tinta invisível”.
• “COV 19 Latinamerica” (2020), serigrafia sobre máscara cirúrgica; edição ilimitada
• “Heroína” (2020), serigrafia sobre espelho, 30x35 cm; Tiragem: 50
• “Mulheres Latinamerica 2020” (2020), vídeo, 3' 33", Edição: 32 + 2 PA, em pendrive
O vídeo é marcado pelo som da batida de um coração. A uma certa altura, a silhueta da artista aparece de forma fantasmagórica sobre a região da América Latina no mapa-múndi, seguindo com a projeção de uma radiografia de pulmão sobre seu corpo e o áudio de sua respiração. O som da música funde-se ao batimento cardíaco, apresentando os rostos das mulheres que estão lutando pela sobrevivência, trazendo suas marcas de “alma” estampadas nas máscaras cirúrgicas, formando um só corpo. Uma maneira de chamar a atenção para um vírus silencioso, que ninguém vê, e que é negligenciado por muitos chefes de Estado, o que agrava a situação da pandemia, principalmente em países marcados por desiguais sociais, como o Brasil.
SOBRE GABRIELA NOUJAIM
Gabriela Noujaim nasceu em 1983, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. A artista tem estruturado sua poética tensionando as noções de permanência e risco, como a defesa sobre a violação aos corpos, as crises políticas e desastres ambientais. Formada em gravura na Escola de Belas Artes, UFRJ, em 2007, Gabriela, se insere em uma tradição de exploração dos limites e possibilidades da gravura, com nomes como Fayga Ostrower, Anna Letycia, Anna Maria Maiolino, Anna Bella Geiger e Leya Mira Brander.
Em 2020, participou da ARTFEM – WomenArtists 2nd InternationalBiennialof Macau, China, da exposição FeministArtFest na OCAD University, Canadá, e da residência artística Capacete, Rio de Janeiro. Em 2019, participou das exposições “O Ovo e a Galinha” (coletiva) e “Maracá” (individual / Espaço Anexo) na galeria Simone Cadinelli Arte Contemporânea, Rio de Janeiro. Recebeu menção Honrosa no festival de videoarte "Lumen EX" (Badajoz, Espanha); foi finalista do 3m Love Songs Festival no Instituto Tomie Ohtake (2014); recebeu o prêmio de aquisição da 39ª exposição de Arte Contemporânea de Santo André, SP (2011) e foi indicada ao Prêmio PIPA (2012).
Possui obras nas coleções: Museu de Arte do Rio; Instituto Ibero-Americano, Berlim; Centro Cultural São Paulo; Museu de Arte Digital, Valência; Palácio de Las Artes Belgrano, Buenos Aires; Casa da Cultura da América Latina (CAL/UnB).