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junho 2, 2021
Eduardo Haesbaert na Iberê Camargo, Porto Alegre
“Todo artista deveria ser como um rio com suas águas que se renovam sempre”. Esta é uma das frases de Iberê Camargo que mais marcou a trajetória de Eduardo Haesbaert ao lado do artista e que inspirou a produção para a sua primeira exposição individual na Fundação Iberê.
“Um rio que passa” apresenta trinta e seis trabalhos inéditos, entre desenhos, pinturas e monotipias na maior parte em grande formato, um deles de 157 x 500 cm. Todos foram executados a partir do convite do diretor-superintendente Emilio Kalil, em dezembro do ano passado. “Eduardo Haesbaert e a Fundação Iberê são como personagens indissociáveis. O nosso patrono (Iberê Camargo) sempre contou com Eduardo, fazendo dele um assistente/confidente. E, por sua vez, como um guardião desses tempos vividos ao lado do mestre, foi desenvolvendo nele mesmo um artista de talento incomum, entregue, em tempo integral, ao seu mundo criativo”, destaca Kalil.
Haesbaert viveu quatro meses intensos no ateliê que tem em casa, produzindo, em média, uma obra por semana. Uma imersão para dar vazão ao sentimento e transformar os tempos de incertezas em arte. Para ele, “o tema tem a ver com o momento que estamos vivendo e, também, com o desabamento de estruturas antes consideradas sólidas e seus consequentes desajustes humanitários e ambientais. No conjunto de obras realizadas para esta exposição expresso meu pensamento sobre a tensão e a suspensão do tempo, paisagens urbanas em ruínas. Projeto imagens de uma Babel que explodiu, de um plano piloto em desconstrução, de uma torrente de água que inunda o cenário ausente de presença humana e de um trampolim à espera do salto e do mergulho de quem as contempla”.
“Um rio que passa” não deixa de ser um desdobramento de suas exposições: “Negro de Fumo” (2015), “Desumano” (2017) e “Torrente” (2019), realizadas na Galeria Bolsa de Arte – em Porto Alegre e em São Paulo.
Para a exposição “Torrente”, Paulo Pasta escreve: “Nessa escuridão, que quase nos cega, vislumbramos aspectos de coisas, mas que não chegam a formar ou nos dar a notícia de sua totalidade. Não sei se estas feições são reveladas pela luz ou pela escuridão. Quanto mais eu olho para os trabalhos do Eduardo, mais fico convencido de que o negrume também desvela”.
Nuno Ramos, em texto sobre as obras da exposição “Negro de Fumo”, destaca: “‘Diz a verdade quem diz sombra’”. Este verso do poeta romeno-alemão Paul Celan parece descrever perfeitamente o horizonte de trabalho de Eduardo Haesbaert. Feita de carvão, tinta a óleo, de pigmento, à maneira negra numa gravura ou naquela meia luz casual, é sempre a sombra, como uma matéria semis-sólida esparramando-se por tudo, que protagoniza sua obra. Parece estar tanto nas coisas como no intervalo entre elas, fazendo com que troquem de lugar para revelar uma origem (e uma espessura) comum”.
Paulo Pasta e Nuno Ramos participaram em 2005 e 2014, respectivamente, do projeto “Artista Convidado” do Ateliê de Gravura, coordenado por Haesbaert, onde criaram gravuras exclusivas na prensa que pertenceu a Iberê Camargo. Da soma de práticas e experiências, a Fundação Iberê compôs, ao longo dos anos, uma significativa coleção de gravuras assinadas por mais de cem artistas contemporâneos do Brasil e do exterior.