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junho 2, 2021
Modelar no tempo: Iberê e a moda na Fundação Iberê, Porto Alegre
Em diálogo com a exposição de vestidos do estilista japonês Tomo Koizumi, pela primeira vez, a Fundação Iberê revela o “passeio” do pintor gaúcho pelo cenário da moda através de obras e documentos do acervo da instituição.
Modelar no tempo: Iberê e a moda apresenta, como uma pesquisa em andamento, oito estudos de figurinos, em guache, para o balé As Icamiabas (1959), outros seis estudos para a série Manequins e reproduções de fotos, jornais e editoriais de moda para revistas. A mostra é complementada por um conjunto de vestido e bolero com a primeira estampa assinada por Iberê, em 1963, para a empresa francesa de fibras sintéticas Rhodia, e que pertenceu a Maria Coussirat Camargo, esposa do artista.
Quando a arte vira moda
No final dos anos 1950, quando a moda ainda engatinhava no Brasil, a Rhodia desembarcou no país tropical em que reinava o algodão e foi cirúrgica para se tornar conhecida: contratou o visionário publicitário italiano radicado em São Paulo, Lívio Rangan (1933-1984), para comandar o marketing da empresa. Foi então que ele convidou artistas plásticos para desenhar estampas a cada coleção, entre eles: Iberê Camargo, Tomie Ohtake, Nelson Leirner, Manabu Mabe, Alfredo Volpi e Willys de Castro.
A escolha dos artistas por Rangan revelava o interesse em dialogar com a arte contemporânea do momento e refletia as principais tendências da arte e da moda. As coleções eram apresentadas na Feira Nacional da Indústria Têxtil (FENIT), em desfiles-show que tinham uma extraordinária força midiática, graças também à participação de artistas consagrados e de músicos brasileiros, importantes alavancas na cadeia da moda nacional.
A parceria entre Lívio Rangan e artistas plásticos durou aproximadamente sete anos, entre 1960 e 1967. Ele levou aos palcos da FENIT, às passarelas de todo o Brasil, a outros países e às páginas de diversas revistas nacionais, obras de artistas das mais diversas linhagens de trabalho. De lá para cá, muitos vestidos se perderam, entre eles os assinados por Iberê e Ohtake. Setenta e nove modelos com estampas de 28 artistas foram doados ao Museu de Arte de São Paulo (MASP).