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junho 2, 2021
O Fabuloso Universo de Tomo Koizumi na Iberê Camargo, Porto Alegre
Uma explosão de cores e volumes na Fundação Iberê
Depois de uma temporada de sucesso na Japan House São Paulo, a exposição O Fabuloso Universo de Tomo Koizumi, chega ao Rio Grande do Sul. Para a mostra no Brasil, que contou com a curadoria de Natasha Barzaghi Geenen, diretora cultural da instituição nipônica, foram criadas três peças exclusivas, mesclando referências do nosso carnaval e dos quimonos tradicionais japoneses.
A exposição marca também a criação do Departamento de Moda, Design e Arquitetura, três pilares pouco conhecidos que sustentam a Fundação Iberê: a arquitetura de Álvaro Siza premiada com o Leão de Ouro na Bienal de Arquitetura de Veneza (2002); os móveis por ele projetados e utilizados pela equipe e pelo público da instituição e as estampas e vestidos assinados por Iberê Camargo, nos anos 1960.
Tomo Koizumi - do origami à Semana de Moda de NY
"Eu venho pensando que nem todo mundo pode usar os meus vestidos, mas que todos possam se divertir vendo-os. Essa exposição mostra o lado da moda como uma fantasia e espero que possa ser o colírio para os olhos das pessoas".
Tóquio, 2002. Uma revista de moda, com fotos da alta-costura de Christian Dior, assinada por John Galliano, bastou para que Tomo Koizumi, aos 14 anos, dissesse: “Quero ser estilista”. Não era a moda em si que fazia seus olhos brilharem, mas as cores vibrantes das criações de Galliano e a excentricidade de seu ídolo.
Os primeiros moldes de Tomo eram hobbies. As aulas nas faculdades de Pedagogia e Artes Plásticas na Universidade Nacional de Chiba lhe ocupavam quase todo o tempo. E foram justamente essas criações despretensiosas com organza, econômicas e de fácil aquisição no Japão, principalmente os retalhos de cores fortes, somadas à admiração pelo estilista britânico e à memória afetiva que o transformaram em um dos nomes mais importantes do mundo fashion.
“Eu queria fazer algo como alta-costura. Encontrei cortes de organza em muitas cores, mas em pouca quantidade. Era o que o dinheiro podia pagar. Fiz as combinações por causa dessa limitação, e isso resultou em misturas únicas”, recorda o artista.
Uma de suas criações foi compartilhada no Instagram de uma amiga. Quis o destino que a foto chegasse até o dono de uma multimarca de Tóquio, que acabou se encantando pela peça e quis revendê-la. Em 2011, Tomo lançou a sua marca homônima, vendendo inicialmente apenas para esse cliente, e começou a trabalhar como assistente de um figurinista japonês, e depois como figurinista.
Os figurinos, aliás, se tornaram uma grande paixão de Tomo. Produções únicas, feitas com 50m a 200m de organza, de cores e volumes extravagantes, que representam o seu universo recheado de referências nas artes tradicionais e na sua ancestralidade. Tudo ganhou mais significado quando grandes cantoras pop do Japão e globais, como Miley Cyrus, Katy Perry e Lady Gaga, vestiram suas peças.
Fada madrinha
Em 2019, as criações de Tomo Koizumi atravessaram o oceano e chegaram às mãos da editora de moda britânica Katie Grand. Ela estava tão apaixonada pelos vestidos bufantes que deu um jeito do jovem ter um desfile na New York Fashion Week. O amigo Marc Jacobs cederia o espaço de uma de suas lojas, localizada na Madison Avenue; a renomada maquiadora Pat McGrath se encarregaria da beauté e o igualmente renomado cabeleireiro Guido Palau se ofereceu para fazer os penteados. Tomo teria menos de três semanas para preparar vinte e seis vestidos. Ele topou.
O estreante selecionou peças de uma coleção anterior e, com a ajuda de apenas um único assistente, criou outras inspiradas em pinturas abstratas, com material que tinha guardado. Tudo absolutamente reaproveitado, com o que tinha em casa. Como resultado, uma plateia boquiaberta. Ninguém esperava aquela explosão de cores e volumes.
A partir deste dia, Tomo foi considerado um dos 500 nomes mais influentes da moda, lista anual e superconcorrida do Business of Fashion. Em 2020, foi finalista do Prêmio LVMH de jovens estilistas e, em setembro do ano passado, anunciou uma colaboração com Emilio Pucci. Desde a saída de Massimo Giorgetti, em 2017, a marca italiana tem apostado em coleções cápsulas assinadas por diferentes designers e, para o Verão 2021, o estilista japonês foi o convidado para criar onze looks de organza, camisetas, sandálias e uma bolsa, que misturam tons de laranja, amarelo e branco.
Mesmo com as portas abertas e possibilidade de maior investimento, Tomo Koizumi segue os mesmos hábitos e usa os mesmos materiais. As peças mais simples demoram cerca de cinco horas para ficarem prontas. Cada uma delas pode usar até 200 metros de tecido nas coleções, que consistem, basicamente, em vestidos e conjuntos de saia. Em entrevista para a revista Vogue, Tomo disse que continuará fazendo moda para entreter as pessoas: "Trabalhar na indústria da moda significa que, eventualmente, você precisa começar a pensar comercialmente, para que consiga vender algo, mas ainda gostaria de fazer algo para entreter as pessoas. Elas sugerem que eu tente ser mais comercial, pois estou em um momento bem quente. Não estou pronto para isso. Não quero me apressar por algo que não preciso ou não me importa. Por agora".