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maio 27, 2021
Paulo Whitaker na Millan, São Paulo
Paulo Whitaker revisita pesquisas em torno da relação entre pintura e desenho
A Galeria Millan tem o prazer de apresentar, de 29 de maio a 26 de junho de 2021, a exposição A ressignificação da forma dessignificada, primeira individual do artista Paulo Whitaker na galeria. Com organização de Ricardo Kugelmas, a mostra reúne um conjunto de 8 pinturas em óleo em grande formato acompanhadas de um grupo de menor tamanho, elaborados durante uma residência artística na Art Farm Project, em São Paulo, em outubro de 2019, que revisitam pesquisas realizadas pelo artista em torno da relação entre a pintura e o desenho.
Os trabalhos de Whitaker trazem uma contribuição singular para o cenário da arte brasileira, por meio de um processo de experimentação marcadamente dinâmico, desde os anos 1980. Na década seguinte, sua prática apresenta uma importante inflexão a partir de seu contato com a obra de Terry Winters (1949, Nova York, EUA), passando a incorporar, ao desenvolvimento pictórico, elementos presentes no pintor e gravador norte-americano como o acúmulo de decisões tomadas, mudanças de percurso e tentativas demarcadas na superfície da pintura.
Nos anos que se seguem, Whitaker passa a trabalhar um "povoamento da tela", em sua própria definição, agregando mais elementos e novos repertórios e experimentando variações com a técnica do estêncil ao fundir procedimentos de uso da tinta spray com a tinta óleo, alternando entre as pinceladas contidas pela máscara e a liberdade de borrar seus contornos. Neste processo, ampliou também as possibilidades das formas pintadas, num movimento rítmico em que ora estas aproximam-se, ora sobrepõem-se em uma configuração escultórica ou distanciam-se para voltar ao caráter plano.
Nesse sentido, a relação entre a pintura e o espaço é crucial para demarcar cada passo dado e cada nova direção. Para o crítico Tadeu Chiarelli, a produção de Whitaker mostra-se “como uma espiral que vai e volta sobre si mesma – que segue para depois retornar –, (...) se constituindo entre e a partir de convulsões cíclicas que de repente fazem retornar crostas antes submersas, novas formações, configurando assim um dos territórios mais movediços e intrigantes por onde a arte brasileira atual se afirma.”
O artista menciona que, à maneira da música instrumental, que se constrói a partir de seus elementos básicos (melodia, harmonia e ritmo), deixa de fora a narração e a literatura. Assim age Whitaker, "dessignificando" as formas que cria, para ressignificá-las mais adiante, através da pintura. Da unicidade da linguagem pictórica é que muitos caminhos de significados possíveis são explorados, sem lançar mão de narrativas pré-estabelecidas, senão daquilo que é mais fundamental em seu ofício: forma e cor, figura e fundo. Neste último corpo de trabalhos, a espiral retorna para o ponto de esvaziamento do real, em que a superfície, enquanto devir, é ela própria o palco para o acontecimento. "Sigo buscando imagens que me deixem em estado de suspensão, uma situação estável / instável, que me criem um certo desconforto e alguma plenitude (se temporária ou permanente, o tempo me vai dizer)", conclui o artista.
SOBRE PAULO WHITAKER
Paulo Whitaker nasceu em 1958, São Paulo, SP, onde atualmente vive e trabalha. Pintor e desenhista, forma-se em Educação Artística na Universidade para o Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina - UDESC/SC, em 1984. Entre diversas exposições, participa da 25ª edição da Bienal Internacional de São Paulo, em 2002. Entre 1991 e 1992, é artista residente no Plug In, em Winnipeg, no Canadá, em E-Werk Freiburg na Alemanha e em 1993 recebe o Prêmio Gunther de Pintura do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Em 1999, participa de residência no The Banff Centre for the Arts, também no Canadá. Neste mesmo ano participa da exposição Arte Contemporânea Brasileira sobre Papel, no MAM, em São Paulo; em 2001 da 3ª BIENAL DO MERCOSUL em Porto Alegre e, em 2007, da Biennale de Montreal, no Canadá. Suas obras integram acervos de importantes instituições e museus como: Museu de Arte de Santa Catarina – MASC, Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM/SP, Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, MAC/USP, Museu de Arte Contemporânea do Paraná – MAC/PR, Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado – MAB/Faap, Pinacoteca de São Paulo, entre outros.
The Resignification of the Designified Form, first solo show by the artist Paulo Whitaker at the gallery, is organized by Ricardo Kugelmas and brings together a set of 8 large-format oil paintings accompanied by a smaller group, elaborated during a residency at Art Farm Project, in São Paulo, in October 2019, that revisit a research conducted by the artist around the relation between painting and drawing.
Whitaker's work has made a unique contribution to the Brazilian art scene, through a markedly dynamic process of experimentation since the 1980s. In the following decade, his practice presents an important inflexion after his contact with the work of Terry Winters (1949, New York, USA), starting to incorporate to the pictorial practice elements present in the work of the American painter and engraver, such as the accumulation of taken decisions, changes of course and demarcated attempts in the painting's surface.
In the following years, Whitaker began to work on "populating the canvas," in his own definition, adding more elements and new repertoires and experimenting with variations on the stencil technique by merging usage procedures of spray paint and oil paint, alternating between brushstrokes contained by the mask and the freedom to blur its outlines. In this process, he also expanded the possibilities of the painted forms, in a rhythmic movement in which they sometimes come closer, sometimes overlap in a sculptural configuration, or distance themselves to return to a flat character.
In this sense, the relation between painting and space is crucial to demarcate each step taken and each new direction. For critic Tadeu Chiarelli, Whitaker's production shows itself "like a spiral that goes back and forth on itself - that follows and then returns -, (...) constituting itself between and from cyclical convulsions that suddenly make previously submerged crusts return, new formations, thus configuring one of the most shifting and intriguing territories through which current Brazilian art asserts itself."
The artist mentions that, as with instrumental music, which is built from basic elements (melody, harmony and rhythm), his practice is free from narration and literature. This is how Whitaker acts, "designifying" the forms he creates, in order to resignify them later on, through painting. It is from the uniqueness of the pictorial language that many paths of possible meanings are explored, without making use of pre-established narratives, but of what is most fundamental in his craft: form and color, figure and background. In this most recent body of work, the spiral returns to the point of emptying the real, where the surface, as a becoming fact, is itself the stage for the event. "I keep searching for images that leave me in a state of suspension, a stable / unstable situation, that create a certain discomfort and some plenitude (whether temporary or permanent, time will tell)," concludes the artist.