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maio 19, 2021
José Resende inaugura o segundo espaço expositivo da Bergamin & Gomide, a Casa Flávio de Carvalho
A individual de José Resende inaugura o segundo espaço expositivo da Bergamin & Gomide, a casa projetada em 1933 pelo artista e arquiteto Flávio de Carvalho. Tendo já exposto na Galeria Bergamin em 2005, esta é a primeira mostra do artista na galeria sob a direção de Antonia Bergamin e Thiago Gomide. A exposição conta com dois trabalhos que Resende produziu para a ocasião, um externo na fachada lateral e um interno que ocupa a área central da nave da Casa – além de uma seleção de obras que datam desde 1975. José Resende, também um artista arquiteto, se interessa pela obra de Flávio de Carvalho no que ela tem de original dentro projeto de construção da modernidade no país. É com isso em mente que concebe as duas peças inéditas aqui expostas, na esteira de suas produções que dialogam intensamente com o espaço urbano e com a arquitetura.
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O trabalho concebido por José Resende para a área externa da Casa busca, conforme o conceito de site-specific formulado por Rosalind Krauss, interpelar o outro que circula pela rua de modo que essa construção, até então obliterada pelos edifícios ao seu redor, salte aos olhos mediante o estranhamento da sua presença em meio a uma paisagem banal – ou seja, a obra, uma vez ali instalada, aporta uma particularidade antes inexistente. Além disso, a peça dirige o olhar do transeunte para cima, o que contribui para que o chapéu de sol na cobertura da Casa seja mais notado. Para Resende, esse é um elemento importante da construção por rebater a forma do volume que está sob ele – que, por sua vez, também é rebatida na forma do degrau que fica ao nível do chão na frente da porta de entrada. Ressaltar esse deslocamento de planos ainda chama atenção para a coluna que parte do solo, atravessa o volume e vai sustentar a pequena laje circular do chapéu de sol.
A obra no interior da Casa se situa em seu principal cômodo. Quem entra vê apenas parte dela – em seguida, subindo a escada que leva ao piso superior, se tem uma visão lateral. Ao percorrer a estreita balaustrada que circunda o mezanino, é possível se ter uma visão à cavaleiro. Assim, ver o trabalho implica fazer um percurso passando por todos os principais espaços da Casa. Resende busca enfatizar ao espectador a intenção de, através da sua intervenção, propor um modo de se percorrer e perceber esse lugar. A escolha pelo latão como material de ambas as obras lhes confere uma conotação mais escultórica – distanciando-as do repertório da construção civil e fazendo, assim, com que se destaquem e se individuem no contexto da Casa.
Os trabalhos de José Resende, ainda que se realizem em técnicas e dimensões variadas, guardam procedimentos em comum que, como comenta Rodrigo Naves em seu texto Mágicos & Trapezistas (2021), norteiam a sua produção desde os fins da década de 1970. Entre eles está a noção de continuidade na estrutura das obras, que são construídas de modo que suas partes apareçam como um todo, sem evidenciar a secção e colagem dos materiais combinados de modo a compor uma peça única – o que se verifica, por exemplo, em uma de suas “esculturas lineares” datada de 1980 (figura 1): “É possível que saibamos que os tubos de cobre e de borracha pertenceram a unidades maiores, que foram cortadas, entrelaçadas etc. A direção e a flexão de dois tubos com maleabilidade opostas produzem, então, um passe de mágica: torna-se possível vergar um tubo de cobre sem amassá-lo, como se fosse feito de borracha”, diz Naves.
O que interessa a José Resende é estabelecer uma experiência autêntica com a matéria e com as tensões que cria ao distribuí-la no espaço, sem imputar símbolos e significados exteriores. É desse modo que o artista exerce aquilo que Rodrigo Naves identifica, dessa vez em texto de 1985, como um “entrave à prolixidade da expressão” – o seu poder de síntese é o que leva a sua obra longe. E quão longe! Contando com um currículo notável, Resende foi contemplado, em 1985, com importante bolsa da Fundação Guggenheim, expôs diversas vezes na Bienal Internacional de São Paulo (9ª, 17ª, 20ª e 24ª), na 11ª Bienal de Paris com menção honrosa, na 43ª Bienal de Veneza, na Documenta IX, na 11ª Bienal de Sydney e em importantes instituições nacionais e internacionais ao longo dos seus mais de cinquenta anos de carreira.
Dito isso, o encontro da obra de José Resende com a arquitetura de Flávio de Carvalho é um evento que nos atenta para o legado mais precioso do projeto modernista brasileiro, que se estende e se transforma através de artistas dotados de originalidade que ainda encontram ali direções e sentidos. Para José Resende, a Vila Modernista de Flavio Carvalho configura o marco histórico de um projeto moderno que visava fundar o novo homem, algo tão importante de ser lembrado em um momento de retrocessos políticos no país. Assim, os trabalhos de Resende, ao conversarem com o nosso passado, buscam nos lembrar de um futuro, aquele futuro em que acreditamos.
Bergamin & Gomide inaugura segundo espaço expositivo em São Paulo
Em 22 de maio, a Bergamin & Gomide inaugura seu segundo espaço expositivo, localizado a poucos metros da tradicional galeria no bairro dos Jardins, em São Paulo. A casa, que permitirá à galeria dobrar seu programa de exposições, foi projetada em 1933 pelo multifacetado artista Flávio de Carvalho e apresenta um ensaio de Guilherme Wisnik, crítico de arte e arquitetura.
O espaço abre ao público com a primeira exposição individual de José Resende na Bergamin & Gomide, que acontece de 22 de maio a 3 de julho de 2021. A exposição conta com duas instalações inéditas produzidas pelo artista, uma externa na fachada lateral e uma interna que ocupa a área central da nave da Casa, além de uma seleção variada de obras que datam desde 1975. As instalações que José Resende concebeu para a Casa sugerem ao público a intenção de realizar um percurso pelo espaço e chamam atenção de quem passa pela rua, dirigindo o olhar do transeunte para a laje circular do chapéu de sol na entrada da galeria.
Com mais de 50 anos de carreira, José Resende possui extenso currículo, participou de quatro Bienais de São Paulo (1967, 1983, 1989, 1998), da 43ª Bienal de Veneza (1988) e da Documenta IX (1992). A produção do artista-arquiteto - assim como Flávio de Carvalho - é caracterizada pelo interesse em estabelecer uma experiência autêntica entre a matéria e as tensões desta com o espaço, que são notáveis pelo poder de síntese da forma. A prática do artista é predominantemente escultórica, na qual investiga materiais e seus desdobramentos. A partir do constante diálogo entre a arquitetura e o espaço urbano, José Resende produziu ao longo de sua trajetória relevantes obras públicas como a escultura Passante (1996) do Largo da Carioca, ou Sorriso (2015) criada para a sua individual na Pinacoteca do Estado de São Paulo.
“Uma casa branca, com um volume semicircular protuberante na fachada, coroado por uma marquise redonda apoiada numa coluna central, que atravessa todo o volume da casa e se solta no andar térreo, marcando o plano de entrada. Assim a construção demarca sua curiosa presença na cidade.” Guilherme Wisnik
Para os sócios Antonia Bergamin e Thiago Gomide, abrir um espaço expositivo em uma casa histórica sempre foi um sonho. A indicação de uma amiga de que a Casa estava disponível era o que faltava, ao visitarem o espaço foi amor à primeira vista, ali seria o segundo espaço da Bergamin & Gomide.
A renovação buscou, criteriosamente, preservar as características modernistas do imóvel que faz parte de um conjunto de 17 residências projetadas e incorporadas por Flávio de Carvalho em um terreno de sua família, entre a Alameda Lorena e a Alameda Ministro Rocha Azevedo. A Vila América - atualmente conhecida como Vila Modernista - é hoje um polo de arte e cultura onde se encontram galerias de arte e escritórios de arquitetura.
Para Wisnik, “É louvável que, nos dias de hoje, instituições privadas, como galerias de arte, estejam empenhadas em restaurar obras residenciais que são patrimônios da nossa arquitetura moderna, devolvendo-as à fruição coletiva.” Com efeito, a estratégia em abrir um novo espaço faz parte de um investimento no futuro da cultura e da arte em São Paulo. Embora galerias de arte ainda sejam vistas como espaços de luxo, os sócios almejam que a expansão contribua para uma maior disseminação da expressão cultural na cidade e que atinja a pluralidade do público apreciador de arte.
Considerando a situação que o Brasil experimenta, como as graves consequências econômicas em decorrência da pandemia da Covid-19 - aliada ao desmonte federal dos bens culturais, da arte e da pesquisa - a expansão da galeria ganha contornos ainda mais ousados.
Se para o radical e provocador Flávio de Carvalho a cidade seria a verdadeira casa do “homem de amanhã”, abrir este espaço depois de mais oitenta anos de sua inauguração significa para a Bergamin & Gomide preservar a memória da cidade e contribuir para que arte e a cultura continuem estimulando a construção do pensamento crítico de hoje e de amanhã.
Ensaio de Guilherme Wisnik sobre a Casa Flávio de Carvalho
Uma casa branca, com um volume semicircular protuberante na fachada, coroado por uma marquise redonda apoiada numa coluna central, que atravessa todo o volume da casa e se solta no andar térreo, marcando o plano de entrada. Assim a construção demarca sua curiosa presença na cidade. Importante expoente do movimento modernista em São Paulo, essa casa-óvni, inaugurada em 1938, faz parte de um conjunto de 17 residências feitas para aluguel, projetadas e incorporadas por Flávio de Carvalho em um terreno de sua família no bairro dos Jardins, entre a Alameda Lorena e a Alameda Ministro Rocha Azevedo, que antes pertencia ao pai do poeta Oswald de Andrade. A Vila América – também conhecida como Vila Modernista – possui uma rua interna, que integra todos os imóveis do conjunto, tornando-se, idealmente, uma espécie de quintal coletivo dos moradores-inquilinos. Morador ele mesmo da casa situada na esquina do conjunto, Flávio manteve uma loja no térreo da vila, chamada “Vaca”, na qual vendia laticínios produzidos na sua fazenda em Valinhos.
Radical e provocador, Flávio de Carvalho era um feroz crítico dos costumes burgueses, e acreditava que a cidade seria a verdadeira casa do “homem de amanhã”, que ele chamava de “homem nu”. Daí o sentido de coletividade da vila, que confronta o individualismo dos lotes privados fazendo casas muito próximas e/ou geminadas. O que, nos arranjos internos das plantas acaba levando à supressão de corredores, à maior integração entre áreas sociais e de serviço, à criação de cômodos com dimensões modestas, à sugestão do uso de cortinas (ao invés de paredes) para a separação de alguns ambientes, tornando-os flexíveis, e à preparação de uma cuidadosa bula com instruções de uso correto das casas. Bula com normativas pedagógicas visando a educação do novo homem a surgir, menos afeito aos padrões de conforto burgueses e, portanto, mais apto a se tornar um ativo habitante da cidade.
As paredes masseadas e pintadas de branco, as estruturas de concreto armado, e o recurso ao uso de delicados perfis metálicos para caixilhos e guarda-corpos são alguns dos índices que remontam à ideia de casa como “máquina de habitar”, tal como proposto por Le Corbusier nos anos 1920. Na São Paulo da década de 30, as casas modernistas projetadas por Gregori Warchavchik e Flávio de Carvalho apareceram como provocativas aberrações. Isto é, como se objetos voadores não-identificados tivessem pousado em meio aos ornamentados sobrados de feição eclética que dominavam a paisagem dos bairros da elite paulistana. Incompreendido, o conjunto de Flávio acabou sendo vendido e descaracterizado, perdendo, com isso, tanto a capacidade de educar o novo homem, como pretendia o irreverente artista-arquiteto, quanto o sentido de coletividade. Ainda assim, nas décadas de 1980, 90 e 2000, essa casa (número 1052 da Alameda Ministro Rocha Azevedo) abrigou lojas de design de móveis como a Nucleon 8, e escritórios de arquitetura e design como o Studio Arthur Casas.
É louvável que, nos dias de hoje, instituições privadas, como galerias de arte, estejam empenhadas em restaurar obras residenciais que são patrimônios da nossa arquitetura moderna, devolvendo-as à fruição coletiva. No caso dessa obra, uma das poucas casas razoavelmente preservadas do conjunto, trata-se de uma construção cujo espaço central tem um generoso pé-direito duplo, com paredes de cantos arredondados, e uma alternância calculada entre peitoris opacos e planos vazados com leves barras horizontais de ferro, dando a esse vazio central um caráter fortemente cinético. Característica que será, certamente, muito bem explorada por artistas em trabalhos site-specific que venham a ser feitos aqui.
Diferentemente de Warchavchik, próximo da Bauhaus, Flávio de Carvalho tinha um espírito libertário e experimental, muito mais identificado ao dadaísmo. Na sede da Fazenda Capuava, que projetou e construiu para si mesmo em Valinhos, o arquiteto-artista combina um léxico moderno com referências a culturas ancestrais, como a egípcia, articulando o progressismo das vanguardas a uma heterodoxa pulsão erótica de vida. Aqui, no bairro dos Jardins, ele tentou se adequar às regras do mercado, de maneira a poder subvertê-lo. Mas o mercado resistiu. Oitenta anos depois, com o seu espaço aberto a experimentações artísticas, uma dessas casas ganha uma inesperada sobrevida. Que venham outras!
Sobre José Resende
O artista José Resende (São Paulo, 1945), em resposta à pergunta o que te instiga, o que te move?, enuncia sem hesitar: a vida. Com um percurso artístico iniciado há quase seis décadas, Resende progressivamente buscou, através de suas esculturas, uma intervenção no espaço público urbano que pudesse agir no cotidiano dos passantes de modo a confrontar a tendência dessensibilizante que reside na repetição dos dias. Dessa forma, obras como o Passante (1996) do Museu de Arte Moderna de São Paulo, no Parque do Ibirapuera, e a Vênus (1991) localizada na Rua do Rosário, no Rio de Janeiro, tornaram-se personagens da cidade, interagindo com quem passa por ali, seja no ir e vir da rotina de trabalho, seja dançando junto, movendo-se com os trancos dos corpos dos foliões nos ensaios e saídas de blocos carnavalescos. Para Resende, todas essas ativações e impactos recebidos e causados pelas obras a partir do lugar em que elas estão situadas são os aspectos que dão sentido à sua presença no espaço comum, que completam, complementam e adicionam camadas de significação ao seu trabalho.
Seja através dessas obras que preenchem o espaço através de placas de cobre, metal, aço, através de contêineres e vagões suspensos, empilhados ou blocos de concreto orquestrados em uma edificação da alternância; seja através do que o artista chamou de “desenhos tridimensionais”, linhas de tensão formando ângulos agudos entre fios de couro, barras de ferro, pedregulhos e espaços vazios – o trabalho de José Resende convoca o outro em uma experiência corporal que começa por um estranhamento mental, dada a dificuldade de colar à maioria de suas obras atribuições do comum, de um repertório de imagens e construções pré-estabelecidas. O seu interesse vem do que na obra é desconhecido, a convocatória vem do que o trabalho tem a ensinar sobre a imaginação do impossível, sobre a manipulação das coisas duras, sobre o fascínio da tensão. Nesse sentido, há momentos em que cruza com o chamamento corporal dos neoconcretos como Hélio Oiticica e Lygia Clark, mas as propostas logo se distanciam quando estes não abdicam do comum como recurso e como convite à experiência corpórea que conta sobretudo com os sentidos e com o movimento que o outro agrega à obra.
De importância incontornável no cenário contemporâneo brasileiro, o comprometimento de José Resende para com a arte sempre foi exercido não só através da sua produção, mas também do seu engajamento no debate por meio da participação e fundação de jornais, revistas como a Malasartes (1975-76), A Parte do Fogo (1980) e o Centro de Experimentação Artística Escola Brasil (1970-74), tendo iniciando sua atividade profissional na Rex Gallery & Sons, que existiu entre junho de 1966 a maio de 1967. Podendo ser associado a diversas correntes artísticas relevantes do século XX, como a arte minimalista, conceitual e povera, devido à variedade de dimensões e formas das quais lançou mão e ao uso de materiais de naturezas distintas, como a parafina e o concreto, como o vidro e o aço, o que mais chama a atenção no trabalho de José Resende é a sua singularidade que nunca permitirá restringi-lo ao programa de um movimento específico. Nesse ponto, Resende reivindica à sua obra aquilo que sua grande amiga e artista Mira Schendel também reivindicou: um poder de autonomia e síntese, um descompromisso com a comunicabilidade imediata, já que ambos exercitam, por meios distintos, a linguagem artística como potência condensada.
José Resende’s solo show opens Bergamin & Gomide’s second exhibition space, the house projected by artist and architect Flávio de Carvalho in 1933. Having exhibited at Galeria Bergamin in 2005, this is the first of Resende’s exhibitions at the gallery under the direction of Antonia Bergamin and Thiago Gomide. The exhibition contains two works that Resende produced for the occasion, one external, on one of the side walls, and another internal, occupying the central area of the house’s atrium – apart from a selection of works dating as far back as 1975. José Resende, who is himself an artist-architect, is interested in Flavio de Carvalho’s work for its originality within the construction of Brazil’s project of modernity. It is with this in mind that the two works shown here were conceived, following from Resende’s production, which carries out an intense dialog with urban space and architecture.
The work conceived by José Resende for the outside area of the house, according to Rosalind Krauss’ site specific concept, seeks to interpolate the other who circulates on the street, so that the construction, which thus far had been obliterated by the surrounding buildings, may stand out to the gaze, given its presence amid a banal landscape – that is to say, the work, once installed, brings a previously nonexistent particularity. Furthermore, the piece directs the pedestrian’s gaze upward, making the circular awning on the house’s rooftop area more noticeable. For Resende, this is an important element of the construction since it bounces off the form of the volume above it – which, in turn, bounces off the form of the steps on the ground level, in front of the doorway. Highlighting this displacement between planes also draws attention to the column which starts from the ground, crosses through the volume and supports the small circular awning on the rooftop.
The work inside the house is situated in its main room. Whoever walks in sees only a part of it – later, walking up the stairway to the upper level, it can be seen laterally. When walking along the narrow balustrade that circles the mezzanine, it is possible to regard it from a circular perspective in movement. Thus, seeing the work implies following a course through all the main spaces in the House. Resende seeks to emphasize to the spectator the intention of, through his intervention, proposing a way of roaming and perceiving this place. The choice for brass as the material of both works gives them a more sculptural connotation – distancing them from the repertoire of civil construction and allowing them to stand out and individualize in the context of the House.
José Resende’s works, while made from a number of different techniques and dimensions, bear common procedures that, as Rodrigo Naves remarks in his text Mágicos & Trapezistas (2021) , give direction to his production since the late 1970s. Among these is the notion of structural continuity between works, built in such a way that each of their parts appear as a whole, without evidencing the sections or collages of combined materials composing a single piece – which can be seen, for example, in his “linear sculptures”, from 1980 (figure 1): “It is possible to know that the copper and rubber tubes belong to larger units, which have been cut, interwoven, etc. The direction and bending of the two tubes with differing points of malleability produce, then, a magic trick: it becomes possible to bend a copper tube without denting it, as if it were made of rubber”, says Naves.
What interests José Resende is the establishment of an authentic experience with matter and the tensions created when distributing it in space, without imposing exterior symbols and significations. It is in this manner that the artist exercises that which Naves identifies, this time in a 1985 text, as a “blockade to the prolixity of expression” – his synthetic power is what takes his work to new distances. And to what distances! Boasting a notable resumé, Resende received in 1985 the prestigious Guggenheim Foundation scholarship, has exhibited many times at the São Paulo Biennial (9th, 17th, 20th and 24th), at the 11th Paris Biennial, where he received an honorable mention, at the 43rd Venice Biennial, at Documenta IX, at the 11th Sydney Biennial and in important national and international institutions throughout his more than 50 years of activity.
That being said, the encounter between José Resende’s work and the architecture of Flávio de Carvalho is an event that draws our attention to the most valuable legacy of the Brazilian modernist project, which extends and transforms through original artists who still find in it new directions and meanings. For José Resende, Flávio de Carvalho’s Vila Modernista configures the historical mark of a modern project that sought to establish a new man, something crucial to be remembered at this moment of political regression in the country. Thus, Resende’s works, in dialog with our past, remind us of a future, that future in which we believe.
Guilherme Wisnik about the House of Flávio de Carvalho
A white house displaying a protruding semicircular bulge on its facade, crowned by a round marquee supported by a center column that spans the entire volume of the house and descends to the ground floor, defining the front porch plan. Thus, the construction marks its curious presence in the city. An important exponent of the modernist movement in São Paulo, this UFO-house, inaugurated in 1938, is part of a development of 17 built-for-rent houses, designed and developed by Flávio de Carvalho on his family lot in the Jardins neighborhood, between Alameda Lorena and Alameda Ministro Rocha Azevedo, which previously belonged to the father of the poet Oswald de Andrade. Vila América - also known as Vila Modernista - has an internal street, which integrates all the properties in the complex, becoming, ideally, a kind of collective backyard for tenant-residents. A resident of the house located on the corner of the complex, Flávio maintained a store on the ground floor of the Villa, called “Vaca”, where he sold dairy products produced on his farm in Valinhos.
Radical and provocative, Flávio de Carvalho was a fierce critic of bourgeois habits and believed the city was the true home of the “man of tomorrow,” who he referred to as “the naked man.” Hence the Villa’s sense of community that challenges the individualism of private lots, designing semi-detached and/or row houses. Which, within the interior layout of the houses’ blueprints ends up leading to the suppression of hallways, a greater integration of social and service areas, the creation of modestly-sized rooms, the suggestion of curtains (instead of walls) to divide some rooms, making them flexible, and the drafting of careful instructions for the correct usage of the houses. Pedagogical regulation instructions aiming to educate the new man to come, less inclined to bourgeois standards of comfort and therefore more apt to become an active inhabitant of the city.
The plastered walls painted white, the reinforced concrete structures, and the expedient of employing thin metal profiles in window frames and guardrails are some of the features that date back to the idea of the house as a “machine for living”, as devised by Le Corbusier in the 1920s. In 1930s São Paulo, the modernist houses designed by Gregori Warchavchik and Flávio de Carvalho emerged as provocative aberrations. In other words, it was as if UFOs had landed amid the ornate two-story houses with eclectic features that dominated the landscapes in São Paulo’s elite neighborhoods. Misunderstood, Flávio’s development ended up being sold and disfigured, thus losing both its ability to educate the new man, as intended by the irreverent artist-architect, and its sense of community. Even so, in the 1980s, 90s and 2000s, this house (number 1052 on Alameda Ministro Rocha Azevedo) housed furniture design stores like Nucleon 8, and architecture and design offices such as Studio Arthur Casas.
It's commendable that nowadays private institutions such as art galleries are committed to restoring residential projects that are part of our modern architectural heritage, returning them to collective fruition. In the case of this project, one of the few reasonably preserved houses from the development is a structure whose central space has high ceilings, walls with rounded corners and a calculated alternance of opaque windowsills and open plans displaying thin horizontal iron bars, providing this empty center with a highly kinetic character. A feature which will certainly be explored to the fullest by artists in site specific works created here.
Unlike Warchavchik, who was closer to Bauhaus, Flávio de Carvalho was an experimental free spirit, much more identified with Dadaism. At the headquarters of Fazenda Capuava, which he designed and built for himself in Valinhos, the artist-architect combines a Modern lexicon with references to ancient cultures, like the Egyptians, conveying the avant-garde’s progressivism and an unorthodox erotic life drive. Here in Jardins, he tried to adapt to the rules of the market, in order to be able to subvert it. But the market resisted. Eighty years later, with its space open to artistic experimentation, one of these houses is now given unexpected new life. Let's hope there will be others!