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maio 18, 2021

Iberê Camargo - O Fio de Ariadne no Tomie Ohkake, São Paulo

A Fundação Iberê chega a 2021 expandindo sua presença no Brasil, com a exposição Iberê Camargo – O Fio de Ariadne em cartaz no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, até o dia 11 de julho.

Com curadoria de Denise Mattar e Gustavo Possamai, a mostra revela 36 cerâmicas e oito tapeçarias de grandes dimensões, obras que não eram expostas há cerca de 40 anos e que estão espalhadas em coleções públicas e particulares de Lisboa, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo e Porto Alegre. Acompanham a mostra cartões e gravuras e uma linha do tempo em referência à urdidura feminina que apoiou o trabalho do pintor ao longo de sua história.

A itinerância é complementada com uma tapeçaria localizada recentemente em uma coleção particular de Belo Horizonte. Trata-se de uma obra de 140 x 225 cm, produzida no início dos anos 1980, que faz par com o cartão que serviu de base para a sua criação, pertencente a uma coleção de São Paulo.

Em diálogo com a exposição, o Instituto exibe o filme “Dédale”, do artista e diretor francês Pierre Coulibeuf. A obra, que integra o acervo da Fundação, foi produzida em 2009 a partir de filme 35mm, inspirada no universo artístico e criativo de Iberê Camargo e realizada através de um projeto curatorial de Gaudêncio Fidelis. “Dédale” é uma construção circular e descentrada, na qual o prédio representa uma mise en abyme, uma reflexão infinita para dentro de si na visão asfixiante, contundente e poética de Coulibeuf.

Presente para a família de Clarice Lispector – Quem visitar “O Fio de Ariadne” poderá ver de perto uma pintura de Iberê Camargo feita para o filho de Clarice Lispector, Paulo Gurgel, e sua esposa, em 1976. O presente de casamento foi doado pela família da escritora ao acervo da Fundação.

“Ao conceber a exposição em Porto Alegre, entramos em contato com a família da escritora, pedindo autorização para usar uma foto de Clarice, e fomos surpreendidos com a doação da obra", recorda Gustavo Possamai, responsável pelo Acervo da Fundação Iberê.

Iberê e Clarice se conheceram no meio artístico do Rio de Janeiro, que contava ainda com nomes como Carlos Scliar, Burle Marx, Bruno Giorgi e Aloísio Magalhães. Em 1969, o pintor gaúcho foi um dos entrevistados dos “Diálogos possíveis com Clarice Lispector”, uma seção da revista Manchete.

“Um homem alto, um pouco curvo, olhar manso, pele morena, o ar ascético de um monge: eis diante de mim Iberê Camargo, um dos nossos grandes pintores. Era impossível não conversarmos sobre o calor: fazia 40,9 graus à sombra. Eu estava no ateliê do pintor que fica numa cobertura na Rua das Palmeiras: como Iberê nota, parece que o terraço é um tombadilho e que, em breve, vamos zarpar. Bebemos água, bebemos café requentado – até que mais tarde, sua esposa Maria, uma das mais simpáticas das Marias, vem e nos faz um café expresso que me lembra a Itália. Enquanto isso, Iberê me dá uma toalha de rosto para eu enxugar de quando em quando o suor que me escorre pela testa, pelo rosto. Bebemos mais água. E a entrevista começa. O que me impressiona logo de início é o ar de honestidade, modéstia e, simultaneamente, de confiança em si próprio que Iberê transmite.” (Clarice Lispector)

Para ler a entrevista na íntegra, escaneie o QR Code em http://iberecamargo.org.br/criar-um-quadro-e-criar-um-mundo-novo/

Durante as décadas de 1960 e 1980, além de sua intensa produção em pintura, desenho e gravura, Iberê Camargo realizou trabalhos em cerâmica e tapeçaria. Eles respondiam a uma demanda do circuito de arte, herdada da utopia modernista que preconizava o conceito de síntese das artes; uma colaboração estreita entre arte, arquitetura e artesanato.

Com assessoria técnica das ceramistas Luiza Prado e Marianita Linck, o artista realizou, nos anos 1960, um conjunto de pinturas em porcelana com resultados surpreendentes. Na década seguinte, selecionou um conjunto de cartões que foram transformados por Maria Angela Magalhães em impactantes tapeçarias.

A mostra é complementada por uma cronologia ilustrada, apresentando algumas das mulheres que marcaram presença na vida de Iberê, por meio de fotos, biografias e depoimentos: a esposa Maria Coussirat Camargo; as artistas Djanira, Regina Silveira e Maria Tomaselli; a tapeceira Maria Angela Magalhães; as ceramistas Luiza Prado e Marianita Linck; as gravadoras Anna Letycia, Anico Herskovits e Marta Loguercio; a escritora Clarice Lispector; a galerista Tina Zappoli; a produtora cultural Evelyn Ioschpe; a cantora Adriana Calcanhotto e a atriz Fernanda Montenegro.

Posted by Patricia Canetti at 3:33 PM