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abril 27, 2021
Fefa Lins na Amparo 60, Recife
Amparo 60 recebe a primeira exposição individual do artista pernambucano Fefa Lins
Na história da arte, pinturas de corpos quase sempre serviram para reforçar, com viés assumidamente didático, padrões de gênero, estética e comportamento. O pintor Fefa Lins vem se destacando no circuito das artes plásticas nacionais ao trazer autorretratos que rompem com essas vigilâncias hegemônicas sobre os corpos, trazendo visões não binárias em relação ao gênero e uma afetividade não heteronormativa de sexualidade. Entre a tradição e a ruptura, está a tecnologia. Fefa conquistou público, inicialmente, através das redes sociais e agora irá estrear a sua primeira exposição individual, Tecnologias de Gênero, com curadoria de Aslan Cabral, que fica em cartaz na Galeria Amparo 60, no Recife, entre 29 de abril a 28 de maio.
A mostra, que faz parte do projeto Mirada, uma parceria da galeria com a SpotArt, ocupa a primeira sala da galeria, reunindo obras de 10 x 10 até 1,5m. Para quem já conhece os trabalhos do artista pelas redes, será uma oportunidade de experienciar essas telas presencialmente e em conjunto. “Montar a primeira exposição individual é um momento de muitos conflitos e crises, mas alinhamos uma síntese de produção que acabou sendo uma celebração. É como uma tríade de síntese, expansão, e sobretudo, celebração”, diz Fefa.
Aos 23 anos, Fefa redescobriu a paixão pela pintura, algo que começou na infância, ao conhecer um grupo de empoderamento feminino através da ilustração no Facebook. Assim, passou a produzir obras que foram ganhando cada vez mais personalidade, seja na técnica ou nas temáticas apresentadas.
O olhar simultaneamente sensível e transgressor em relação ao corpo, com fruição através da internet, cria um contexto que o artista chama de “tecnologia de gênero” – conceito que deu título à exposição. “É como se os gêneros de ‘homens’ e ‘mulheres’ não fossem criados apenas por órgão sexuais, mas sim por várias ferramentas. A pintura é uma das ferramentas históricas de criação de narrativa, inclusive no processo de colonização, então entendo essa linguagem como um lugar que transita entre cultura e subversão, partindo do corpo, da sexualidade e do gênero”, continua.
“Essas tecnologias de gênero surgem de uma maneira tech, pop e trending”, ressalta o curador Aslan Cabral. “As questões tecnológicas são como vetores: fazem uma manutenção de lugar de privilégios para o conservadorismo, mas também promovem um certo 'hackeamento' por parte de populações e pautas mais marginalizadas. Isso traz novas perspectivas de cenários artísticos e da utilização dessas tecnologias para colocar novos planos em ação. Estamos aqui juntando forças para isso.”
Diante desse aspecto viral, a exposição presencial carrega consigo um ineditismo de experiência. “A mostra traz esse local da dimensão, da escala, com obras que são muito maiores do que as pessoas esperam e veem pela tela do celular. A questão da materialidade, a partir da pintura, é emocionante e não é completamente acessível pela internet”, ressalta Fefa.
A exposição faz parte do projeto Mirada, idealizado pela galerista Lúcia Costa Santos em parceria com a SpotArt. A ideia é, a partir da mirada, do olhar, de um espaço expositivo reduzido, quase uma vitrine, ampliar o alcance das obras. A iniciativa, que nasceu neste momento de pandemia, tem um caráter virtual muito forte, aliado à possibilidade do presencial. Esta será a terceira exposição do projeto que vai se estender ao longo de 2021.