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abril 23, 2021

Yuli Yamagata no Fortes D’Aloia & Gabriel - Galpão, São Paulo

Em sua primeira exposição individual na galeria, a paulistana Yuli Yamagata apresenta 18 novas obras que arquitetam complexas relações entre a pintura, a escultura e o espectador. Ao longo dos últimos meses, a artista se debruçou, dentre outras referências, sobre a obra de David Lynch, trazendo para o corpo de trabalho da mostra algo do universo intangível proposto pelo cineasta. Nas palavras da artista: “Me interessa como o mistério se desenrola. É algo que você não entende, mas está no ar. Meu desejo é que as obras não sejam imediatamente digeridas. A continuação do trabalho não se dá nele próprio, mas em quem observa.”

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Desconectada de uma narrativa linear e vivendo a expectativa de um cotidiano funcional que não chega, Yamagata se apropria da incerteza e faz desse lugar de suspensão seu campo de experimentação. O fazer da obra é pautado pela experiência tátil, pela construção de volumes e fragmentos gerando imagens corpóreas que projetam-se da tela diretamente para o espaço. A costura desempenha papel central no vocabulário pictórico da artista. Yamagata lança mão de mecanismos para explorar a tensão entre plano e tridimensionalidade, um eventual estiramento dos fios é transformado em cicatriz, sobras de tecidos ganham recheio, dando forma e volume à tela.

Na obra Summer Sweaty Dream, um relevo de veludo, seda e elastano engendra a imagem de um enorme esqueleto que, apesar de morto, contempla flores brotando do solo. Entre a forma e a sensorialidade, constitui-se uma cena contundente, reflexiva do momento atual. A indistinção entre realidade e sonho, característica da linguagem dos mangás japoneses, informa as composições da artista. Yamagata se aprofunda em suas origens nipônicas também ao resgatar a técnica milenar japonesa conhecida como shibori (popularizada pelo nome de tie-dye). A temática do ciborgue, parte orgânico parte cibernético, nomina algumas obras da exposição e permeam a sua própria constituição. Na obra Cyborg trabalhando (2021), por exemplo, um braço musculoso feito de sobressaltos de elastano é costurado em alto contraste à superfície artesanal do tie-dye ao fundo.

Nesse novo corpo de trabalho, além do corte e preenchimento de tecidos variados como seda, crepe e veludo, a inserção do desenho e da pintura incorpora novos desafios à prática da artista. Insônia (2021), a obra que titula a exposição, reúne os elementos recorrentes da costura aos fragmentos de corpos e monstros desenhados freneticamente na tela. Jogando com a hipérbole e a sua capacidade para o absurdo, Yamagata surpreende, assalta e confunde o espectador.

Yuli Yamagata (São Paulo, 1989) vive e trabalha em São Paulo. Entre suas principais exposições individuais estão: Nervo, Mac Niteroi (Rio de Janeiro, 2021); Bruxa, Madragoa (Portugal, 2020); Microwave Your Friends, Invitro Gallery (Cluj, Romênia, 2019); Tropical Extravaganza: Paola & Paulina, SESC Niterói (2018); Stickers Album, CCSP (São Paulo, 2016); Sem Cerimônia, MARP (Ribeirão Preto, 2016). Em setembro de 2021 abre uma individual na Anton Kern, em Nova York.


In her first solo show at the gallery, Yuli Yamagata presents 18 new pieces that establish complex relationships between painting, sculpture, and the viewer. Over the past few months, the artist looked closely at the oeuvre of David Lynch, bringing to this body of work something of the intangibility of the filmmaker. In her words: “I’m interested to see how the mystery unfolds. Something one can’t understand but is there. I like the pieces not to be immediately absorbed. The work doesn’t linger in itself but within the viewers.”

Unconnected to a linear narrative and expecting a functional daily routine that never comes, Yamagata appropriates the uncertainty and makes this suspended place her test field. Making the work comes from tactile experience, the construction of fragments and volumes that create corporeal images that project themselves from the canvas. Seaming is key to her pictorial lexicon. Yamagata employs systems to explore the tension between plane and three-dimensionality -- an eventual stretch of the threads transforms into a scar, fabric scraps are cushioned, providing the canvas with shape and volume.

In Sweaty Dream, a velvet, silk, and spandex relief engender the image of a massive skeleton that, though dead, stares at flowers blooming from the ground. An overwhelming scenario that reflects upon current times set between shape and sensoriality. The lack of distinction between dream and reality, featured in Japanese mangas, conveys those compositions. Yamagata also dives deep into her Japanese roots as she revives the ancient Japanese technique known as shibori (popularly known as “tie-dye”). The cyborg theme, the half organic and half cybernetic, gives some works their titles and permeates their coming into being. In Cyborg at Work (2021), for example, a muscular arm made of spandex cushions is sewn-on to contrast with the artisanal surface of the tie-dye background.

Drawing and painting, cutting, and cushioning various fabrics -- such as silk, crepe, and velvet -- bring new challenges to Yamagata in this body of work. Insomnia (2021), which gives the exhibition its title, combines sewing elements with fragments of bodies and monsters frantically drawn on the canvas. Playing with hyperbole and its disposition to absurdity, the artist never ceases to surprise, assail, and baffle the viewer.

Yuli Yamagata (São Paulo, 1989). Lives and works in São Paulo. Noteworthy solo shows include: Nervo, Mac Niteroi (Rio de Janeiro, 2021); Bruxa, Madragoa (Portugal, 2020); Microwave Your Friends, Invitro Gallery (Cluj, Romania, 2019); Tropical Extravaganza: Paola & Paulina, SESC Niterói (2018); Stickers Album, CCSP (São Paulo, 2016); Sem Cerimônia, MARP (Ribeirão Preto, 2016). In September 2021 she will have a solo show at Anton Kern Gallery in New York.

Posted by Patricia Canetti at 6:23 PM