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abril 16, 2021
Amelia Toledo na Nara Roesler NY, EUA
Com uma icônica carreira marcada por enlaçamentos entre arte e natureza, uma seleção dos trabalhos de Toledo será apresentada pela primeira vez nos Estados Unidos na nova galeria da Nara Roesler no Chelsea, em Nova York
Nara Roesler se orgulha em anunciar a mostra inaugural de Amelia Toledo nos Estados Unidos. A exposição será realizada no novo espaço da galeria no bairro do Chelsea, em Nova York, de 25 de fevereiro a 17 de abril de 2021.
Amelia Toledo (1926-2017) é uma figura fundamental da arte brasileira no século XX. Sua carreira se estendeu por mais de cinco décadas e se fez marcar, inicialmente, por experimentações esculturais construtivas e pelo subsequente desenvolvimento de investigações sobre as relações entre arte e natureza. Toledo iniciou-se nas artes visuais no final da década de 1930, quando começou a frequentar o estúdio de Anita Malfatti (1889-1964), posteriormente prosseguindo seus estudos com Yoshiya Takaoka (1909-1978) e Waldemar da Costa (1904-1982).
Ao longo de sua trajetória, a artista fez uso de variados meios e técnicas, transitando entre pintura, desenho, escultura, gravura, instalação e design de joias, sempre mantendo uma grande atenção às especificidades da matéria e à sua aplicação. Seu trabalho esteve alinhado, primeiramente, com a pesquisa construtiva, ecoando noções do neoconcretismo e as preocupações correntes na década de 1960, em especial o interesse pela participação do público, assim como o entrelaçamento entre arte e vida. Toledo desenvolveu seu multifacetado corpo de obra a partir do diálogo duradouro e enriquecedor com outros artistas de sua geração, incluindo, Mira Schendel, Tomie Ohtake, Hélio Oiticica e Lygia Pape.
No final da década de 1950, Toledo empreendeu uma investigação baseada na passagem do plano ao volume, inspirando-se nos trabalhos de Max Bill e Jorge Oteiza. Plano Volume (1959), primeira incursão nessa linguagem, parte de um procedimento simples: cortes circulares formando uma helicoidal em uma chapa de cobre que será posteriormente curvada. Anos depois, repete o método em Om (1982). Nesse caso, a chapa de aço é cortada em espiral com maçarico e pendurada no teto, conferindo-lhe movimento. Sua sombra, projetada na parede por uma luz direta, escreve a forma do símbolo que representa o mantra do som universal segundo algumas religiões.
Em última análise, podemos identificar no interesse de Toledo pela natureza a base do que viria a constituir sua conquista mais marcante, desembocado em investigações sobre o conceito de paisagem, assim como no emprego em seus trabalhos de pedras e conchas coletadas compulsivamente, entre outros elementos naturais. Desafiada por esses materiais, Amelia Toledo seguiu carreira como artista e engenheira, vislumbrando as possibilidades de um concretismo ecológico.
Em trabalhos como Parque das cores do escuro (2002), a artista faz uso de pedras para investigar cores, brilhos, transparências e as variadas formas da “carne” da terra. Toledo criou composições nas quais as peças coletadas das profundezas de cenários naturais são dispostas em variados arranjos, inclusive em diálogo com materiais “modernos”, como o aço inoxidável. As rochas não foram submetidas a nenhum tratamento que alterasse suas características originais, sendo apenas polidas de modo a revelar seus desenhos internos feitos pelos delicados veios capazes de revelar sua temporalidade. Em Dragões Cantores (2007), fragmentos de rocha moldados pelo movimento das marés são ativados pelo espectador que traz à tona diferentes sons ao interagir com eles com um pequeno pedaço de madeira.
Outro aspecto fundamental da prática de Toledo é a cor, interesse que se faz notar especialmente em suas pinturas. Telas da série Horizontes (década de 1990 – década de 2010), estarão em exibição em Nara Roesler, em Nova York, junto com Campos de Cor, série iniciada na década de 1980 e em desenvolvimento até pouco antes de sua morte, em 2017. Em exibição, também poderá ser encontrado um exemplo de seus marcantes e coloridos Penetráveis, destacando a abordagem pictórica “natural” de Toledo, que utiliza pigmentos orgânicos sobre juta, criando uma massa de cor fisicamente penetrável ao revelar o caráter maleável do suporte ao mesmo tempo em que faz emergir o jogo de transparências nele contido.
A exposição também traz colagens de Amelia Toledo feitas em 1958, durante sua estadia em Londres. Nesses trabalhos, ela experimenta com a transparência da seda e do papel de arroz, impregnando algumas folhas com cera de abelha, o que lhes confere espessura, tornando-as quase esculturais. A pesquisa com a materialidade do meio levaria a artista a criar a série Fiapos nos anos 1980. Nesta, o papel parece retornar à condição de polpa, um material disforme e tênue que parece se deixar invadir pela luz e ser moldado pela leveza.
Amelia Toledo se permitiu a liberdade de não se filiar a um grupo e de seguir experimentando segundo sua vontade. Nas palavras da artista: “Não é apenas uma questão de processos diferentes; cada material se constrói, se propõe na forma de certas consequências”. Sua produção ressoa hoje mais do que nunca devido a sua articulação contínua entre estética e natureza, ecologia e forma, enfatizando a sofisticação do design e a crueza da matéria e dos materiais.
With an iconic career marked by entwinements between art and nature, a selection of Toledo’s works will be exhibited for the first time in the United States at Nara Roesler new gallery in Chelsea, New York
Nara Roesler is pleased to announce Amelia Toledo’s inaugural solo exhibition in the United States, at the gallery’s new location in New York’s Chelsea neighborhood, from February 25 to April 17, 2021.
Amelia Toledo (1926–2017) is a leading figure of Brazilian art in the twentieth century, with a career spanning over five decades, marked by distinctive engagements with constructive sculptural experimentations, that subsequently unfolded into iconic entwinements between art and nature. Toledo was first introduced to the field of visual arts at the end of the 1930s as she began frequenting the studio of Brazilian modernist landmark artist Anita Malfatti (1889-1964), after which she studied under the guidance of Yoshiya Takaoka (1909-1978) and Waldemar da Costa (1904-1982).
Throughout her career, Toledo made use of several media and techniques, including painting, drawing, sculpture, printmaking, installations, and metalsmith/jewelry design, always focusing on the use of materials and faktura. Her work was initially aligned with constructivist research, echoing notions of Neoconcretism and the characteristic preoccupations of the 1960s, with an interest for public participation, as well as for the entwinement of art and life. She developed her multifaceted oeuvre in permanent and mutually enriching interlocution with other artists of her generation including Mira Schendel, Tomie Ohtake, Hélio Oiticica and Lygia Pape.
In the late 1950s, she undertook an investigation based on the transition from plan to volume, drawing inspiration from the works of Max Bill and Jorge Oteiza. Plano Volume (1959), the first foray into this investigation, starts from a simple procedure: circular cuts on a copper plate forming a helicoid, and then curved. Years later, she repeated the method in Om (1982). In this piece, a steel sheet was cut in a spiral with a sandpiper and hung from the ceiling, allowing it to move, while projecting a shadow against the wall in the shape of the symbol Om, which is a sacred sound and spiritual symbol in Indian spirituality.
Ultimately, Toledo’s signature achievements are driven by her focus on nature, implying her investigations on the concept of landscape, engaging with stones and shells, among other natural elements, which she collected compulsively and included in her work. Challenged by these materials, Amelia Toledo pursued her career as both an artist and an engineer, envisaging the possibility of an ecological concretism.
In works like Path of Colors from the Dark (2001), for example, the artist uses stones to investigate color, brightness, transparency, and the various shapes of the Earth’s “flesh”. She was able to create compositions in which pieces collected from the dark depths of natural settings are placed in various arrangements, including dialogues with “modern” materials, such as stainless steel. The rocks were not subject to any treatment that would change their original form, but were merely polished to reveal their internal designs, the delicate veins, revealing their temporality. In the participatory piece titled Singing Dragons (2007) rock fragments that have been molded by the movement of the tides are highlighted by the sound that each of them make when the spectator interacts with their surface using a small piece of wood.
Another central pillar of Toledo’s work is color, an interest that is notably manifest in her paintings, among other works. Paintings from the series Horizons (1990s - 2010s) will be on view at Nara Roesler | New York along with Campos de Cor [Color Fields], a series which the artist began in the 1980s and continued until right before her death in 2017. Also on view will be an example of her striking and colorful Penetrables, highlighting Toledo’s ‘natural’ approach to painting, using raw canvases and rough organic pigments on jute, creating a physically penetrable mass of color, revealing the malleable nature of the support, as well as a repertoire of transparency.
Also from her early works, the exhibition presents some of the collages that Amelia Toledo started in 1958, while she was living in London. An experiment with the transparency of silk and rice paper, some of these collages are impregnated with beeswax granting the pieces a special thickness, making them almost sculptural. This experimentation with the medium’s materiality would lead the artist to create the Fiapos [Wisps] series in the 1980s, in which the paper seems to have returned to the condition of pulp, a formless and tenuous material that seems invaded by light and shaped by lightness.
Amelia Toledo allowed herself the freedom to never be part of a group, and to experiment according to her own moment. In the artist’s words: “It’s not even just a question of different processes; each material constructs itself, proposes itself in the form of certain consequences”. Her production resonates today more than ever through her continuous articulation of aesthetics and nature, ecology and form, stressing both the sophistication of design and the roughness of matter/materials.