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abril 4, 2021

Flávio Cerqueira na Leme, São Paulo

A Galeria Leme informa a nova data de lançamento da exposição Um mundo de cada vez, por Flávio Cerqueira, para o dia 8 de abril. Devido ao agravamento da pandemia de Covid-19 no Estado de São Paulo e às novas medidas tomadas para a contenção do vírus, a exposição será realizada virtualmente.

Um mundo de cada vez - primeira exposição individual de Flávio Cerqueira na Galeria Leme - como o próprio nome nos convida a refletir, evidencia como as esculturas de Flávio são representações únicas, que trazem à tona realidades por muitas vezes invisibilizadas, mas que ao mesmo tempo carregam complexidades extremamente ricas e singulares a seu próprio modo. Nesse sentido, são extremamente precisas as escolhas pela escultura, pelo uso do bronze, e é claro, pela retratação de meninas e mulheres.

A opção por trabalhar escultura, pode-se dizer, não é das mais usuais no cenário artístico no século XXI, em parte devido ao alto custo do material e ao elevado nível de conhecimento técnico que este tipo de produção demanda. Somado a isso, é interessante observar a utilização que Flávio faz do bronze, um material maleável, mas que ao mesmo tempo ganha rigidez total após o esfriamento.

Se ao longo da história do movimento Barroco (séc. XVII – XVIII), as esculturas em bronze eram utilizadas principalmente para homenagear grandes personalidades europeias, em grande parte homens com importância política ou militar, Cerqueira vem a utilizar esta técnica com o objetivo de visibilizar a existência de corpos historicamente marginalizados, isto é, mulheres de um país que viveu a colonização e que ainda possui diversas marcas daquele período.

Cada uma das esculturas desta exposição fixa uma espécie de narrativa no espectador. Um exemplo é a obra Cansei de Aceitar Assim, onde há uma jovem de corpo delineado ao lado de uma placa em que está escrita a palavra STOP. Outro caso é a obra Para dar nome às coisas, escultura uma adolescente junto de uma luneta, a fim de nos trazer a ideia de descobrimento.

A exposição de Flávio Cerqueira vem a eternizar vivências e narrativas comumente vistas como de pouco valor ou corriqueiras. A partir de uma técnica clássica, muito utilizada em séculos passados, o trabalho faz uma problematização necessária a respeito da noção pré-estabelecida de grandes personagens históricos e a importância daí proveniente.

Sobre o artista

São Paulo, Brasil, 1983. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil.

Flávio Cerqueira trabalha com processo tradicional de escultura conhecido como fundição por cera perdida e fundição em bronze, e explora a figura humana como protagonista.

Como artista/contador de histórias, Cerqueira cria vigorosas esculturas de bronze figurativas, focadas na construção de narrativas e representação de ações. Ele retrata seus personagens em situações cotidianas comuns e universais, como em momentos de introspecção, reflexão, concentração e ação. A presença de objetos do cotidiano, como espelhos, livros, troncos de árvores, rampas, escadas, cria tensão com as figuras humanas de bronze fora de escala. Esses cenários ocorrem dentro do cubo branco, que funciona como um pedestal, uma tentativa de desfocar as fronteiras entre a escultura e o mundo e entre a obra de arte e o espectador. Sua intenção é problematizar a relação entre espaço e espectador. Cerqueira usa a escultura como ferramenta para imobilizar o instante, o momento do fragmento de uma narrativa, onde o espectador se torna co-autor na produção de sentido para dizer que a história não tem fim, mas com vários finais as fronteiras entre fantasia e a realidade desaparece.

O trabalho de Cerqueira tem sido destaque em inúmeras exposições coletivas no Brasil e no exterior, incluindo, principalmente, nos Open Spaces em Kansas City, MO (2018); Histórias Afro Atlânticas, MASP – São Paulo, Brasil (2018); Queermuseu, Santander Cultural, Porto Alegre, Brasil (2017); Sul / Sul Deixe-me começar de novo, Goodman Gallery Cape Town, África do Sul (2017). 10ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, Brasil (2015); Resignificações, Museu Stefano Bardini, Florença, Itália (2015); Ichariba Chode, Galeria Plaza Norte, Saitama, Japão (2015); e a 16ª Bienal de Cerveira, Portugal (2011).
Suas obras podem ser encontradas em importantes coleções do Brasil, como as da Pinacoteca do Estado de São Paulo, do Museu Afro Brasil, do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP) e do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS).

Posted by Patricia Canetti at 10:59 AM