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abril 1, 2021

Rafael Bqueer no Pivô Satélite #2, São Paulo

Pivô Satélite recebe aparelhagem de tecnobrega 3D: Proposta do artista Rafael Bqueer fica em destaque em abril na plataforma digital do Pivô

TecnoCabana é uma aparelhagem de tecnobrega 3D desenvolvida pelo artista paraense Rafael Bqueer para a plataforma digital Pivô Satélite. A proposta integra o projeto O Assombro dos Trópicos, curado por Victor Gorgulho e estreia no dia 5 de abril.

O trabalho inédito tem inspiração nas festas de aparelhagem de tecnobrega de Belém do Pará e seu título faz referências à Guerra dos Cabanos (1835-1840), ou Cabanagem, revolta social popular ocorrida na região durante o Brasil Imperial. Bqueer busca estabelecer conexões cyber-espaciais entre territórios e ritmos da Amazônia, através do resgate das memórias da revolta liderada pela população negra e indígena local. "Toda produção artística e cultural da periferia de Belém descende diretamente da resistência cabana", conta o artista. "TecnoCabana representa esse encontro ancestral, festivo e político pela vida e valorização das existências afro-indígenas da região".

Com uma estética "futurista" que remete a naves espaciais, transformers e megazords, as aparelhagens são estruturas formadas por equipamentos de som e luz características das festas de tecnobrega. O gênero musical surgiu em Belém nos anos 2000, fazendo uso de instrumentação eletrônica para fundir música pop internacional e ritmos regionais. O universo do tecnobrega, com sua mistura de regionalidade e tecnologia, especialmente a música da cantora Gaby Amarantos, é uma referência importante para Bqueer. As práticas performáticas do artista nasceram no contexto dessas manifestações culturais contra-hegemônicas da periferia de Belém, com a criação da drag queen Uhura Bqueer, em 2014.

Segundo o artista, TecnoCabana surge como projeto 3D na plataforma digital do Pivô para, no futuro, ganhar sua própria materialidade. O projeto inclui também uma música inédita, composta pelo artista, que servirá de trilha sonora para a sua aparelhagem fictícia. O objetivo de Bqueer é ativar o que chama de corpas-aparelhagens. Ele explica: "As corpas-aparelhagens são corpas que pertencem ao universo performativo das festas de aparelhagem, que tremem e vibram com a intensidade das caixas de som. Corpas de led, cobertas de luz e de afirmação de nossas complexas identidades amazônicas".

A Cabanagem foi uma revolta popular e social ocorrida durante o Império do Brasil de 1835 a 1840, na antiga Província do Grão-Pará, que abrangia os atuais estados do Pará, Amazonas, Amapá, Roraima e Rondônia. Os revoltosos eram na maioria índios, negros e mestiços que viviam em situação precária em cabanas de barro à beira dos rios e eram usados como mão de obra semiescrava (fonte: Wikipedia).

Além de Rafael Bqueer, a artista Diambe da Silva, o coletivo Anarca Filmes e a dupla Davi Pontes & Wallace Ferreira também integram o projeto O Assombro dos Trópicos. Cada artista ocupa a plataforma com propostas individuais mensais. Criada no contexto da pandemia de Covid-19, a plataforma digital Pivô Satélite é uma sala de projetos dentro do site do Pivô, que busca contribuir para a criação de uma rede de apoio à comunidade artística local, a partir da concessão de bolsas pesquisa no valor de R$ 5.000,00 para cada artista participante. A ideia é promover a visibilidade destas produções e garantir que estes artistas continuem produzindo em um contexto tão adverso. Seu programa é concebido por artistas e curadores convidados pela instituição e compreende propostas artísticas em formatos variados, pensadas especialmente para os meios digitais.

Sobre o artista

Rafael Bqueer (Belém, 1992) vive e trabalha entre Rio de Janeiro e São Paulo. Graduou-se em Artes Visuais pela Universidade Federal do Pará (UFPA). As práticas performáticas de Rafael Bqueer partem de investigações sobre perspectivas afro-indígenas na Amazônia, sexualidade, ficção e decolonialidade. Drag queen e ativista LGBTQI+, Bqueer tem um trabalho que dialoga também com vídeo e fotografia, utilizando de sátiras do universo pop para construir críticas às questões da contemporaneidade. Atua de forma transdisciplinar com vivências entre a moda, escolas de samba e arte contemporânea. Já participou de exposições nacionais e internacionais, destacando : “Against, Again: Art Under Attack in Brazil"- Shiva Gallery em Nova York (2020); 30ª edição do Programa de Exposições Centro Cultural São Paulo- CCSP (2020) e a individual “UóHol” no Museu de Arte do Rio (2020). Artista premiado na 8º Edição da Bolsa de fotografia da Revista ZUM - Instituto Moreira Salles (2020) e na 7º edição do Prêmio FOCO Art Rio(2019). Suas obras fazem parte das coleções do Museu de Arte do Rio (MAR), Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM) e Museu do Estado do Pará (MEP).

Sobre o curador

Victor Gorgulho (Rio de Janeiro, 1991) é curador, jornalista e pesquisador. Graduado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ e mestrando em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Curou as exposições Vivemos na melhor cidade da América do Sul, junto com Bernardo José de Souza (Átomos, Rio de Janeiro, 2016 e Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, 2017); O terceiro mundo pede a bênção e vai dormir (Despina, Rio de Janeiro, 2017); Eu sempre sonhei com um incêndio no museu – Laura Lima & Luiz Roque no Teatro de Marionetes Carlos Werneck (Rio de Janeiro, 2018); Perdona que no te crea (Fortes D’Aloia & Gabriel, Rio de Janeiro, 2019).Foi co-curador, com Keyna Eleison, da exposição Escrito no Corpo, em exibição na Carpintaria, no Rio de Janeiro, até fevereiro de 2021. Desde 2019 é o curador do MIRA, programa de videoarte da ArtRio. Integra o corpo curatorial da Despina, centro de pesquisa e residência artística no Rio de Janeiro, sob a direção de Consuelo Bassanesi. No Cineclube do espaço, já promoveu a exibição de filmes e conversas com artistas como Cristiano Lenhardt, DISTRUKTUR e Karim Aïnouz. Como jornalista, foi editor assistente de cultura do Jornal do Brasil (2014-2017) e hoje colabora com veículos como o El País Brasil. Co-organizador, junto da crítica e curadora Luisa Duarte, do livro No tremor do mundo - Ensaios e entrevistas à luz da pandemia (Editora Cobogó, 2020).

Sobre o projeto curatorial

Corpo, linguagem, tropicalidade, ficção especulativa e autoficções são algumas das palavras-chave do projeto curatorial de Victor Gorgulho, uma curadoria-narrativa com o propósito de investigar as contradições em torno da construção histórica do que é lido como tropicalidade. O curador pondera: "Se os discursos históricos em torno da ideia de trópico (e do signo da tropicalidade) foram responsáveis por acachapar as complexidades da(s) cultura(s) daqui, como pensar hoje contranarrativas que ultrapassem tais noções hegemônicas?".

Posted by Patricia Canetti at 11:04 AM