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abril 1, 2021

Diambe da Silva no Pivô Satélite #2, São Paulo

Diambe da Silva apresenta trabalhos inéditos no Pivô Satélite: Proposta integra a segunda edição do projeto, com a exposição digital O Assombro dos Trópicos, com curadoria de Victor Gorgulho

Diambe da Silva é a segunda artista a ocupar a plataforma digital Pivô Satélite, em sua segunda edição, a partir de 26 de fevereiro. A artista carioca apresentará dois trabalhos em vídeo inéditos, Einstein Remix e Devolta, como parte do projeto O Assombro dos Trópicos, curado por Victor Gorgulho.

O poema visual Einstein Remix (2018), do artista mineiro Ricardo Aleixo, é o ponto de partida para o novo projeto homônimo de Diambe da Silva. O texto do poema é articulado no formato de um tabuleiro de xadrez e seu próprio título carrega a junção de dois elementos aparentemente incompatíveis, um cientista e um verbete da música contemporânea que implica na desconstrução e reorganização de músicas que já existem. Nas palavras da artista: "Pedi para diversas pessoas lerem o poema e cada uma delas vocalizou de sua forma, criando um tipo de coreografia". Tomando a coreografia e a construção coletiva como estratégias possíveis para transitar desembaraçadamente por ambientes distintos, Diambe vê na repetição de gestos intencionados possibilidades para novas experiências que admitem erros e acidentes, além de abrir possibilidades de interação de corpos no espaço. Einstein Remix se forma nas próprias casas dos participantes. A composição modular do poema é replicada em telas de vídeo chamada, trazendo um resultado cacofônico pela sobreposição das vozes das colaboradoras da artista, chamadas por ela de “comparsas”.

Devolta, por sua vez, pertence à série de “emboscadas”, em que a artista circula com fogo esculturas e monumentos no centro do Rio de Janeiro que enaltecem o passado colonial brasileiro. Realizada pela primeira vez em outubro de 2020 na Praça XV, a segunda versão da ação reúne seis comparsas para intervir sobre a estátua de D. João VI, instalada no local desde 1965. Ao redor do monumento, o grupo forma um círculo de roupas, que depois são embebidas com gasolina e incendiadas, sugerindo um tipo de ritual de guerra. "A herança escravocrata dessa cidade indica que eu poderia estender essa série infinitamente em diversas esculturas públicas", diz a artista.

Além de Diambe da Silva, Anarca Filmes, Rafael Bqueer e a dupla Davi Pontes & Wallace Ferreira integram o projeto O Assombro dos Trópicos. Cada artista ocupa a plataforma com propostas individuais mensais. Criada no contexto da pandemia de Covid-19, a plataforma digital Pivô Satélite é uma espécie de sala de projetos dentro do site do Pivô e contribui para a criação de uma rede de apoio à comunidade artística local. Seu programa é concebido por artistas e curadores convidados pela instituição e compreende propostas artísticas em formatos variados, pensadas especialmente para os meios digitais.

Sobre a artista

Diambe da Silva é nascida e criada na periferia do Rio de Janeiro. Sua produção artística se move entre cinema, escultura e coreografia e frequentemente lidando com materialidades como cimento, comida, gravura, fotografia e palavras que são elaboradas na medida em que cria comparsas em situação de diáspora. Esse corpo de práticas e objetos tem sido exposto em lugares como Museu de Arte do Rio (Casa Carioca), Paço Imperial (Esqueleto, uma história do Rio), Galpão Bela Maré (Transcendências), Escola de Artes Visuais do Parque Lage (Arte Naïf; Estopim e Segredo), Carpintaria – Fortes D’Aloia e Gabriel (Escrito no corpo), Despina (Cartões de revisita) e 25º Salão de Artes de Anápolis. Também participou nas residências MAM/Capacete (2020), Despina (2019), Estado crítico (2018) e do programa itinerante Residência Cem Teto (2019-2020).

Sobre o curador

Victor Gorgulho (Rio de Janeiro, 1991) é curador, jornalista e pesquisador. Graduado em Jornalismo pela Escola de Comunicação da UFRJ e mestrando em Literatura, Cultura e Contemporaneidade pela PUC-Rio. Curou as exposições Vivemos na melhor cidade da América do Sul, junto com Bernardo José de Souza (Átomos, Rio de Janeiro, 2016 e Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, 2017); O terceiro mundo pede a bênção e vai dormir (Despina, Rio de Janeiro, 2017); Eu sempre sonhei com um incêndio no museu – Laura Lima & Luiz Roque no Teatro de Marionetes Carlos Werneck (Rio de Janeiro, 2018); Perdona que no te crea (Fortes D’Aloia & Gabriel, Rio de Janeiro, 2019).Foi co-curador, com Keyna Eleison, da exposição Escrito no Corpo, em exibição na Carpintaria, no Rio de Janeiro, até fevereiro de 2021. Desde 2019 é o curador do MIRA, programa de videoarte da ArtRio. Integra o corpo curatorial da Despina, centro de pesquisa e residência artística no Rio de Janeiro, sob a direção de Consuelo Bassanesi. No Cineclube do espaço, já promoveu a exibição de filmes e conversas com artistas como Cristiano Lenhardt, DISTRUKTUR e Karim Aïnouz. Como jornalista, foi editor assistente de cultura do Jornal do Brasil (2014-2017) e hoje colabora com veículos como o El País Brasil. Co-organizador, junto da crítica e curadora Luisa Duarte, do livro No tremor do mundo - Ensaios e entrevistas à luz da pandemia (Editora Cobogó, 2020).

Sobre o projeto curatorial

Corpo, linguagem, tropicalidade, ficção especulativa e autoficções são algumas das palavras-chave do projeto curatorial de Victor Gorgulho, uma curadoria-narrativa com o propósito de investigar as contradições em torno da construção histórica do que é lido como tropicalidade. O curador pondera: "Se os discursos históricos em torno da ideia de trópico (e do signo da tropicalidade) foram responsáveis por acachapar as complexidades da(s) cultura(s) daqui, como pensar hoje contranarrativas que ultrapassem tais noções hegemônicas?".

Posted by Patricia Canetti at 10:28 AM