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janeiro 15, 2021
Celina Portella na Zipper, São Paulo
Em “Manobras”, a artista Celina Portella reúne nova produção que rompe as fronteiras que, em tese, separam os territórios da imagem, do suporte e da performance. Com texto crítico de Paula Alzugaray, a exposição reinaugura no dia 16 de janeiro – sábado, das 11h às 17h – e segue em cartaz até 20 de fevereiro de 2021.
Celina transborda a ação representada na imagem para a realidade. A ferro e fogo, ela materializa a ação nos suportes dos trabalhos presentes da exposição, em fotografia, vídeo e tela. Assim, a imagem da faca em punho sugere ação da incisão; o processo é reforçado pelo corte real, de fato, que se observa no papel, criando a vinculação entre a imagem e seu suporte. O mesmo ocorre nos trabalhos em fotografia queimada e no vídeo “Fogo-fátuo”: a vela acesa da imagem materializa seu efeito no papel em que a fotografia é impressa.
Celina Portella propõe, sobretudo, uma indissociação entre performance e meio. “Os trabalhos conectam corporeidades, o corpo em si e o corpo da obra, colocando em questão o suporte da imagem e, logo, a percepção e a ideia de realidade. A partir da interação entre a expressão corporal e o meio, fotografia e vídeo tornam-se partes estruturais do próprio trabalho, indissociáveis. A interseção entre a corporeidade das obras e os significados contidos nelas me interessa por pressupor ações presentes em outros tempos-espaços e sugerir realidades paralelas”, ela comenta.
Tal como no Espacialismo de Lucio Fontana (1899-1968), a investigação de Celina não apenas sugere a superação do suporte como um meio bidimensional, como busca cruzamentos entre a representação e sua materialidade e agregar nos trabalhos as dimensões da passagem do tempo e das transformações do espaço. Ou, como interpreta a crítica Paula Alzugaray, “Celina coloca em cheque ciclos de ícono-crises, de idolatria e ódio, vividos atualmente no Brasil: acervos museográficos queimados pela ação do descaso e do esquecimento; destruição de ícones religiosos por teoclastas intolerantes; políticas públicas arduamente conquistadas, desfeitas por governantes guiados pelo pensamento ideológico extremista”.
A reabertura da exposição acontecerá de acordo com os protocolos de segurança sanitária em vigor, que preveem medidas como: uso obrigatório de máscara pelos visitantes e colaboradores da Zipper; disponibilização de álcool em gel para visitantes e colaboradores; visitação limitada a 40% da capacidade instalada; manutenção de distanciamento mínimo de 1,5 metro entre clientes e colaboradores; higienização constante das instalações.
Sobre a artista
Celina Portella (Rio de Janeiro, 1977) estabelece diálogos entre arquitetura, cinema e performance, caracterizando sua pesquisa nos campos da representação do corpo e sua relação com o espaço. Utilizando o próprio corpo como objeto de experimentações no espaço, a artista combina práticas quase artesanais em vídeos, fotografias ou foto-objetos que desafiam características de cada suporte e a percepção por parte do observador. Principais exposições individuais: "Reunião", Caixa Cultural São Paulo (2019); “Foto objetos”, Museu Casa Sônia Menna Barreto (2018); “Movimento2”, Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, Rio de Janeiro (2014); “Vídeo-Boleba”, Centro Cultural São Paulo, São Paulo (2012); “Celina Portella-Instalações”, Dança em Foco, Sesc Pinheiros, São Paulo, Brasil (2011). Principais exposições coletivas: Festival Internacional de Arte Eletrônica (FILE); CCBB (2018), Frestas Trienal de Artes, Sesc Sorocaba (2017); XX Bienal Internacional de Artes Visuales De Santa Cruz de la Sierra, Bolívia (2016); TRIO Bienal, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro (2015); Territórios de Afetos, Fundação Joaquim Nabuco, Recife (2009).
Texto crítico: Paula Alzugaray
Paula Alzugaray é curadora independente, critica de arte e jornalista especializada em artes visuais. Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e Mestre em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da USP. É diretora de redação da revista de arte e cultura contemporânea seLecT e editora da seção semanal de artes visuais da revista Istoé. É autora do livro “Regina Vater: Quatro Ecologias” (Oi Futuro/Fase 3, 2013). Entre seus projetos curatoriais recentes incluem-se as exposições “A Invenção da Praia: Cassino”, no Istituto Europeo di Design, Rio de Janeiro (setembro 2017), “A Invenção da Praia”, no Paço das Artes SP (Abril -junho 2014), “Circuitos Cruzados – Centre Pompidou Encontra o MAM”, no MAM SP (Jan-Mar 2013); “+2 – Katia Maciel e André Parente”, na Caixa Cultural de Brasília (Setembro de 2012); “Latin America Uncontained”, na LOOP Fair Barcelona (Maio 2012); “Video Brésilienne: un Anti-Portrait”, no Centro Georges Pompidou (Paris, outubro de 2010) e “Observatórios”, no Itaú Cultural, em Belo Horizonte e Vitória (2009). É autora do documentário “Tinta Fresca” (2004), prêmio de Melhor Media Metragem na 29ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e de “Shoot Yourself” (2012), documentário realizado durante residência no Centre International d’accueil et d’échanges des Récollets, em Paris, Prêmio em Poéticas Investigativas, no Cine Move Arte 2012.