|
dezembro 11, 2020
A maior exposição monográfica de Beatriz Milhazes no Itaú Cultural e MASP, São Paulo
Mostra cobre produção da artista entre os anos 1990 e 2020; pinturas e esculturas estarão no MASP, gravuras e colagens, no Itaú Cultural
Com a abertura da mostra Beatriz Milhazes: Avenida Paulista – em 12 de dezembro no Itaú Cultural e em 18 de dezembro no MASP –, uma das mais importantes artistas brasileiras da atualidade ganha a maior exposição monográfica de sua carreira no Brasil. De caráter panorâmico e retrospectivo, a exposição reúne cerca de 170 trabalhos. Entre pinturas em grandes e pequenos formatos e esculturas, que serão vistas no museu, e gravuras, colagens e acrílicas, no Itaú Cultural, algumas obras são inéditas e a maioria vêm de coleções privadas, sendo reveladas ao público pela primeira vez.
O título da mostra remete a uma pintura de Milhazes do início dos anos 2000 (“Avenida Brasil”) e faz referência ao endereço das duas instituições que co-organizam essa exposição – celebrando, de certa forma, essa parceria inédita. “Avenida Paulista” também é o nome de uma obra que a artista realizou especialmente para ser exibida no MASP.
No Museu de Arte de São Paulo, a curadoria é de Adriano Pedrosa, diretor artístico da instituição, com assistência de Amanda Carneiro, curadora assistente no museu; no Itaú Cultural, a curadoria é de Ivo Mesquita. Tanto Pedrosa quanto Mesquita têm uma longa relação com Milhazes e acompanham sua carreira há anos.
“Esta é a maior exposição dedicada a Beatriz Milhazes, possível apenas em razão da colaboração inédita entre duas instituições como o MASP e o Itaú Cultural. A mostra cobre mais de três décadas de sua produção de pinturas, colagens, gravuras, desenhos, têxteis, bem como amplo material documental. Nesse sentido, é uma oportunidade verdadeiramente única para se conhecer e compreender o trabalho dessa que é uma das principais artistas brasileiras vivas, com uma obra já amplamente consolidada no panorama internacional”, diz Adriano.
Milhazes é uma das artistas brasileiras mais importantes no cenário artístico nacional e internacional. Reconhecida por sua produção icônica, ela trabalha com um complexo repertório de imagens associadas a diversos motivos, origens e fontes, oscilando entre a abstração e a figuração, a geometria e a forma livre.
A artista nasceu no Rio de Janeiro, em 1960, e estudou na Escola de Artes Visuais do Parque Lage no início da década de 1980, quando participou da exposição Como vai você, Geração 80? junto a um grupo heterogêneo de artistas que, de forma resumida, buscou retomar a pintura em contraposição à vertente conceitual da arte brasileira dos anos 1970.
As pinturas, gravuras, colagens e esculturas de Milhazes refletem formas e cores brasileiras e registram histórias e culturas artísticas desde o barroco até o modernismo, passando pelo dito popular até o erudito. Suas obras também estabelecem relações entre a artista e seu entorno mais próximo, da sua cidade Rio de Janeiro e do bairro onde fica seu ateliê, o Jardim Botânico.
Atualmente, suas obras estão em instituições como Centre Pompidou, Paris; Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Madri; The Museum of Modern Art, Nova York; Tate Modern, Londres e Museum of Contemporary Art, Toquio.
A mostra simultânea nas duas instituições, cobre a produção da artista entre os anos 1990 e 2020, iluminando os desdobramentos da técnica que inventou e cunhou de monotransfer em torno da transferência e da impressão, que permeia seu pensamento e intervenção nos diferentes suportes e linguagens artísticas com os quais trabalha. A exposição está dividida em dois grandes núcleos: pinturas e esculturas no MASP; gravuras, colagens e acrílicas no Itaú Cultural – embora não exclusivamente.
Nos dois locais, o público poderá conferir, pela primeira vez de forma tão abrangente, as transformações do trabalho de Milhazes desde a década de 1990 e, ainda, ter acesso a uma produção bastante recente que foi pouco vista em instituições culturais. Nesse período, a artista produz suas primeiras gravuras com a Durham Press que, apresentadas no Itaú Cultural, possibilitam notar como a interlocução entre impressões e colagens com a pintura transformou sua prática artística. Na mesma década, em parceria com sua irmã e coreógrafa Márcia Milhazes, a artista passa a desenvolver trabalhos para espetáculos de dança, em uma frutífera relação que a aproxima da escultura.
No MASP, a mostra está inserida em um ano de exposições e programas públicos dedicado às histórias da dança e apresentará, de maneira inédita, uma inversão desse processo colaborativo entre as Milhazes: Márcia quem ocupará o espaço do museu – Beatriz foi quem sempre ocupou o palco. Por conta da pandemia do novo coronavírus, as apresentações de dança da companhia de Márcia que estavam previstas para 2020 tiveram de ser adiadas e devem ocorrer em 2021.
No museu, a galeria do segundo subsolo irá contemplar 50 pinturas de grandes dimensões em estruturas autoportantes que permitem a visualização das obras frente e verso. Do teto, penderá a escultura “Gamboa” (2010-20), que será também o cenário para o palco das apresentações da Márcia Milhazes Companhia de Dança.
No mezanino, serão apresentadas 12 pinturas de pequenos formatos, de até 1 metro, em uma atmosfera mais intimista que servirá de caminho para a galeria do primeiro subsolo, onde mais pinturas estarão expostas junto a uma série de 7 desenhos intitulada “Aleluia”, de 2020, e a tapeçaria “Carioca” (2007-08). Serão apresentadas ainda as colagens que resultaram de uma série de oficinas que retoma o Club Infantil de Arte do museu e em que artistas do circuito contemporâneo são convidados a propor uma atividade artística com as crianças.
No Acervo em transformação, no primeiro andar, foram instaladas a escultura “Marola” e a pintura “Avenida Paulista”, esta realizada especialmente para a exposição e que junto a outras 10 pinturas inéditas serão vistas pela primeira vez pelo público visitante.
Em um total de 79 obras, os três pisos do espaço expositivo do Itaú Cultural estarão dedicados à obra da artista. O foco são suas gravuras e colagens, que estão na base do pensamento e processo de criação de Beatriz, mas também apresenta três acrílicas – “Com quantos paus se faz uma canoa”, 1993, “O Campo”, 2001, e “Wild Potato”, 2013. Por lá, Ivo Mesquita se concentrou principalmente nos procedimentos de trabalho dela. O primeiro piso, por exemplo, apresentará 13 colagens e quatro gravuras que revelam como ela constrói suas composições. Um minidocumentário, sobre a artista e sua obra, com cerca de 20 minutos, realizado pelo Núcleo de Audiovisual da instituição e o fotógrafo Manuel Águas, reforça essa apresentação.
No 1S, 21 obras ocuparão todo o andar organizado em torno dos círculos contidos no trabalho de Beatriz. Estes trabalhos permitem a compreensão do modo como ela usa as estruturas das rosáceas, compassos, formas circulares, anéis e como, a partir desses elementos, a artista cria e desenvolve uma dinâmica que movimenta a composição no primeiro plano e faz com que suas pinturas, gravuras e colagens alcancem forte apelo ótico. “Não tem repouso do olhar nos trabalhos de Bia, sempre tem movimento, um giro, uma linha, e o observador se prende no que vê no primeiro plano sem perceber o que está por trás”, observa Mesquita.
Por fim, o 2S traz 40 obras que envolverão o andar com um caráter mais didático. Elas revelarão, por exemplo, como, no trabalho de Beatriz, uma ideia se desdobra em outra: uma pintura pode ser reestrutada como uma gravura diversa para, a partir dali, surgirem novas colagens. O público poderá perceber como um mesmo motivo é revisitado e utilizado por ela em outro trabalho, às vezes com intervalos de anos de um para o outro.
Segundo Mesquita, um dos pontos mais interessantes é mostrar como a artista consolidou linguagem, estilo e imaginário próprios. “Por um lado, existe racionalidade, matemática, precisão, determinação, mas ela também se arrisca”, afirma Mesquita. “O trabalho da Bia não é o que você vê, mas o que está por atrás”, completa. Amanda destaca a maestria com que a artista manipula formas e cores. “Para o público mais jovem essa exposição é uma surpresa boa e positiva. Há uma nova geração de observadores e visitantes que vão entrar em contato com a obra dela ao vivo pela primeira vez e podem se aproximar dessas características mais técnicas”, diz Carneiro.
CATÁLOGO
Organizado e coordenado pelo MASP e publicado em parceria com o Itaú Cultural, o catálogo tem duas edições, em português e em inglês. A publicação, uma das mais abrangentes sobre a obra da artista, apresenta novas conexões e olhares para seu trabalho, abordando a partir de outros pontos de vista sua relação tanto com o modernismo brasileiro como europeu. Além dos curadores, a publicação traz ensaios Estrella de Diego, Isabel Carlos, Jo Applin, Luiza Interlenghi e Yuko Hasegawa. Elaine Ramos foi a responsável pelo projeto gráfico. Estará à venda no MASP.