|
novembro 20, 2020
Fotografia Moderna na Luciana Brito, São Paulo
Luciana Brito Galeria e Isabel Amado Fotografia mais uma vez se unem para consolidar a parceria iniciada em 2019 e dar continuidade ao trabalho de difusão da fotografia moderna brasileira. Para essa edição especial da SP-Arte Foto, as galerias reúnem um conjunto obras que resgata justamente a fase histórica da investigação em abstração e apresentam os autores mais representativos dessa vertente da fotografia: Gaspar Gasparian, Geraldo de Barros, Gertrudes Altschul, Marcel Giró, Paulo Pires e Thomaz Farkas. Enquanto Luciana Brito Galeria tem grande experiência na representação de artistas visuais históricos e contemporâneos, nacionais e internacionais, Isabel Amado há mais de trinta anos dedica-se exclusivamente à pesquisa e a representação da fotografia brasileira.
Sob um contexto de intensas transformações sociais, econômicas e políticas, as décadas de 1940 e 1950 foram fundamentais para a consolidação da fotografia brasileira no campo da artes visuais. O impacto dos processos de modernização das grandes cidades impulsionaram a fotografia a um patamar conceitual artístico nunca antes vivido. A fotografia passa de uma ferramenta unicamente de registro para um veículo de experimentação visual técnica e estética e formalização de uma nova linguagem dentro das artes.
Os movimentos fotoclubistas foram fundamentais para alçar essa discussão, como o FCCB - Foto Cine Clube Bandeirante, promovendo e organizando essa atividade dentro do circuito. A fotografia passa então a ser considerada também um meio de expressão artística, que tinha nos fotoclubes uma forma de organização e profissionalização desse setor, por meio de formação e aperfeiçoamento técnico, sistematização da produção, além de organização de mostras, salões e concursos nacionais e internacionais.
Mesmo cada um trazendo uma especificidade dentro da fotografia moderna brasileira, os artistas escolhidos para essa mostra têm em comum a busca por um aperfeiçoamento não apenas técnico, mas também representativo, de maneira a escapar do tradicionalismo e renovar os conceitos da fotografia no contexto brasileiro. O abstracionismo dentro da pesquisa fotográfica representa um momento de guinada fundamental para posicionar definitivamente essa linguagem entre os cânones da história da arte. Sombras, texturas, formas geométricas, experimentação em laboratório, solarização e fotogramas, eram artifícios extremamente explorados por esses artistas.
Depois de quase 70 anos, os resultados dessas investidas podem ser contabilizados, visto que instituições representativas não apenas no Brasil, mas de outros países, voltam-se para a importância desse movimento e para o avanço da fotografia atual no mundo. À exemplo, o Museum of Modern Art, de Nova York, inaugura em março de 2021 a maior exposição já vista fora do Brasil para contemplar justamente essa faceta da história da arte brasileira.
Gaspar Gasparian (1899 –1966, São Paulo, SP)
Membro do Foto Cineclube Bandeirante, Gasparian tinha uma forma peculiar de trabalhar. Indo um pouco na contra-mão do processo de criação fotográfico na época, ele começou investindo no trabalho em estúdio, com composições de cenários pictóricos de natureza-morta ("table tops") e experimentações com superfícies diversas, como o vidro. Gasparian exercitava as complexidades da luz e sombra, texturas e formatos. Mais tarde, enveredou-se pelas composições urbanas, principalmente da cidade de São Paulo, chegando até a abstração em algumas imagens.
Geraldo de Barros (1923, Chavantes, SP – 1998, São Paulo, SP)
Um dos artistas mais versáteis da arte brasileira, Geraldo de Barros foi um dos articuladores do Movimento Concretista no Brasil, por meio do Grupo Ruptura, membro da Galeria REX e da Cooperativa Unilabor. Seu trabalho como artista sempre esteve envolvido com as pautas sociais, alinhando-se com as transformações políticas e urbanas de sua época. Geraldo de Barros foi sem dúvida um dos precursores na fotografia não figurativa no Brasil, que se fazia principalmente a partir da desconstrução. Elementos efêmeros, a memória, a descontinuidade e a fragmentação, bem como a reordenação dos elementos, fazem parte de seu repertório imagético, que mais tarde passou a incluir também o corte e a colagem. Suas "Fotoformas" até hoje são consideradas um marco na experimentação técnica abstrata na fotografia moderna, já que trabalhava a imagem desde a manipulação do negativo. A teorida Gestalt pode ser fortemente aplicada em suas composições, que primam pela ordenação visual e harmonia, em detrimento da pictoriedade.
Gertrudes Altschul (Alemanha, 1904 - São Paulo, Brasil, 1962)
Uma das poucas mulheres da fotografia moderna no Brasil, Gertrudes Altschul migrou para o Brasil em 1939 em decorrência da perseguição nazista da 2a Guerra Mundial, e em 1950 já frequentava o Foto Cineclube Bandeirante. Juntamente com o marido, era proprietária de uma loja de ornamentos para chapéu no centro da cidade de São Paulo, onde a artista via nos arranjos florais que vendiam, naturais ou artificiais, os objetos perfeitos para seus experimentos com fotografia. Trabalhava ainda outros elementos da vida doméstica, com os quais fazia cenários (table-tops) para fotografar. Com um agudo rigor estético, Gertrudes também experimentava com os negativos, criando elementos geométricos e sobreposições, que faziam alusão às colagens. Gertrudes compõe o hall de poucos artistas dessa época que fazem parte da coleção do MoMA - Museum of Modern Art-NY.
Marcel Giró (Badalona, Espanha, 1912 - Barcelona, Espanha, 2011)
Também membro do Foto Cine Clube Bandeirante, o catalão Marcel Giró via a fotografia como um exercício para o olhar. Explorou intensamente as possibilidades das texturas e formatos dos elementos da natureza, além da ambiguidade existente entre a imagem figurativa e a abstração, geralmente advinda das cenas comuns. Giró soube como poucos extrair o melhor da plasticidade das linhas, luzes e sombras, contornos e encaixes da arquitetura das grandes cidades.
Paulo Pires (Franca, Brasil, 1928 - São Carlos, Brasil, 2015)
Autodidata, Paulo Pires praticava fotografia desde criança. Era engenhoso e gostava de criar dispositivos óticos e outros elementos que usava nos laboratórios. Foi um dos membros mais atuantes no Foto Cine Clube Bandeirante, mas também fundou o Iris Foto Grupo, provavelmente o único fotoclube do interior paulista, atuante até os dias de hoje. A construção geométrica através das linhas marcantes do urbanismo da cidade de São Paulo marcou a pesquisa fotográfica de Pires.
Thomaz Farkas (1924, Budapeste, Hungria – 2011, São Paulo, SP)
Protagonista da primeira exposição de fotografia do MASP, Farkas foi o fundador da antiga Fotóptica e é até hoje uma das grandes referências em fotografia no Brasil. Ao mesmo tempo em que não escondia sua preferência pela fotografia documental e pelo fotojornalismo, ele sabia da importância de um processo mais intuitivo e experimental. Além de trabalhar intensamente o jogo de luz e sombra, em suas obras pode-se ainda identificar aspectos construtivistas, com cortes e ângulos que compunham imagens equilibradas e ordenadas de linhas geométricas. Farkas também foi membro do antigo Foto Cineclube Bandeirante, um dos mais atuantes na época.
Fotografia Moderna, Luciana Brito Galeria, São Paulo, SP - 23/11/2020 a 31/01/2021