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novembro 17, 2020
Chen Kong Fang, Eleonore Koch, Thomaz Ianelli na Marcelo Guarnieri, Ribeirão Preto
A Galeria Marcelo Guarnieri tem o prazer de apresentar, de 17 de novembro de 2020 a 15 de janeiro de 2021, a exposição coletiva dos artistas Eleonore Koch (1926-2018), Thomaz Ianelli (1932-2001) e Chen Kong Fang (1931-2012) na sede da galeria em Ribeirão Preto. A mostra reúne pinturas, desenhos e objetos produzidos pelos artistas entre as décadas de 1960 e 1990. Pertencentes a uma mesma geração, nenhum deles alinhou-se de maneira estrita a doutrinas estéticas, circulando em cenas marginais ao circuito legitimado de sua época. De origens migrantes, representavam em suas pinturas cenas domésticas e prosaicas, naturezas-mortas e paisagens que se apresentavam como formas planas e figuras flutuantes.
Thomaz Ianelli nasceu em São Paulo em 1932. Pintor, gravador e desenhista, iniciou em 1948 sua vida profissional como cartazista da Companhia dos Anúncios em Bondes em São Paulo e a partir de 1958 integra o Grupo Guanabara ao lado do irmão Arcângelo Ianelli, e de outros artistas como Manabu Mabe, Tikashi Fukushima e Wega Nery. De 1958 até 1964 frequenta o Ateliê Abstração, de Samson Flexor, um dos principais pólos irradiadores da arte abstrata no Brasil. Participou de cinco edições da Bienal de São Paulo entre as décadas de 1960 e 1980, sendo premiado nas de 1967 e 1975.
A exposição conta com algumas assemblages produzidas pelo artista entre as décadas de 1980 e 1990, obras que fazem parte de sua investigação sobre a tridimensionalidade iniciada na década de 1970. Essas peças eram construídas com materiais orgânicos como madeira, couro e raízes, provenientes de objetos descartados ou encontrados na natureza já deteriorados, envelhecidos pela ação do tempo, curtidos pela água do mar, areia e luz do sol. Além do caráter de imprecisão da forma e do uso desses objetos, interessava ao artista o fato de serem incorporados ao trabalho através de encontros guiados pelo acaso. O processo de criação, para Thomaz, deveria deixar o pronto e buscar o inesperado, algo que poderia ocorrer tanto na relação com esse objeto encontrado, quanto na passagem das formas planas da pintura para o plano tridimensional.
Em sua prática, o artista buscava redefinir o olhar não só para objetos do cotidiano, mas também para cenas corriqueiras e domésticas, como o movimento dos peixes no aquário ou das crianças brincando. Embora preserve em suas pinturas algo da estrutura ortogonal da tradição moderna, provoca uma dissolução das formas geométricas, recusando também o uso da perspectiva. Os tons terrosos e rebaixados de suas telas, alcançados através da dissolução da tinta em terebentina, contrastam com a representação frequente de cenas em movimento ou que aludem a alguma vibração.
Dos ambientes domésticos, jardins e desertos, Eleonore Koch escolheu o silêncio. Os campos de cor que formam suas composições evidenciam sua estrutura através do registro da pincelada. Tal transparência se manifesta também no uso da perspectiva, quando, em uma mesma imagem, mostra-se fiel a um ponto de fuga na representação de alguns objetos e na de outros ignora-o completamente, reduzindo-os a formas planas. O trabalho com texturas, presente no emprego da têmpera e do carvão, se completa no uso da colagem de papel cartão e papel jornal que dão forma e cor aos vasos, árvores, pétalas e até mesmo aos degraus das escadas dos seus jardins. Recortes do que parecem ser listas telefônicas dos residentes da cidade de Londres dão profundidade e ritmo às copas das árvores através dos grafismos dos números e das letras que os compõem.
Eleonore Koch nasceu em Berlim em 1926 e estabeleceu-se em São Paulo com a família no ano de 1936. Frequentemente mencionada como discípula de Alfredo Volpi, Koch possuiu uma formação bastante diversa, através de professores artistas como Yolanda Mohalyi, Samson Flexor, Bruno Giorgi, Elisabeth Nobiling e Arpad Szenes e também de suas temporadas de estudo e trabalho fora do Brasil, em Paris entre 1949 e 1951 e em Londres entre 1968 e 1989. A maioria dos estudos e pinturas que integram a exposição foram produzidas justamente durante os vinte anos que viveu na Inglaterra, onde admitiu ter sofrido grande influência do trabalho de artistas como David Hockney.
Estão reunidos na mostra alguns conjuntos de estudos que permitem ao público observar as etapas do desenvolvimento de suas pinturas a partir de pequenas variações dos elementos que as integram, como a composição de uma mesa e cadeira que em uma das versões se apresenta somente em traços esquemáticos e em outra já se soma outra cadeira à frente de um fundo negro em carvão, variando em mais versões. Algumas das pinturas realizadas a partir desses estudos podem ser vistas atualmente em “Vento”, exposição que integra a 34a Bienal de São Paulo. Esta é a quinta edição da Bienal que Eleonore Koch participa.
Chen Kong Fang nasceu em Tung Cheng, China, em 1931 e estabeleceu-se em São Paulo no ano de 1951. Iniciou seus estudos aos onze anos de idade ainda na China com Chang Zen Tseng, com quem aprendeu as técnicas da aquarela e do sumi-ê, prática milenar de pintura chinesa. Entre os anos de 1954 e 1956, estudou pintura com Yoshiya Takaoka, artista que atuou nos principais grupos artísticos como o Santa Helena e o Guanabara. Em 1972, leciona na Faculdade de Belas Artes de São Paulo. Viaja, em 1977, para a América do Norte, Europa e Ásia, onde desenvolve o seu trabalho de pintura. Visita a China convidado pelo governo chinês em 1985, visitando locais de interesse artístico.
Desde a segunda metade do século 19, quando já libertada de sua simbologia inicial, a natureza-morta foi um gênero que permitiu a muitos artistas modernos desenvolverem seus estudos sobre os elementos formais, cromáticos e espaciais de suas composições. Assim como Eleonore Koch, Chen Kong Fang pintava naturezas-mortas que desafiavam as leis da perspectiva, distorcendo a representação tradicional de efeitos como a refração da luz na água em garrafas de vidro e a reflexão de imagens em espelhos. Segundo Fang, tais objetos lhe permitiam ampliar o espaço representado na tela, inserindo outros pontos de vista para o observador. Essa dimensão filosófica da pintura tanto enquanto prática, tanto como representação, pode ser encontrada não somente na obra de Fang, mas também nas composições silenciosas de Eleonore Koch e nas pinturas vibracionais de Thomaz Ianelli.
A exposição poderá ser visitada mediante agendamento, de segunda a sexta das 10h às 18h e aos sábados das 10h às 14h. Para agendar, pedimos que entre em contato por email ou telefone (16-3632-4046), informando nome completo e indicando o dia e horário de sua visita. Para sua segurança, vale reforçarmos o uso obrigatório de máscara durante todo o tempo que estiver na galeria.