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outubro 15, 2020
Frederico Filippi na Leme, São Paulo
Sábado, dia 19 de setembro de 2020, abre virtualmente a exposição individual Terra de Ninguém do artista Frederico Filippi na Galeria Leme. Com curadoria de Thais Rivitti, a exposição mostra um recorte de trabalhos recentes do artista, divididos em três núcleos: oito pinturas sem título, obras da série Seiva e a instalação Carne de Caça. A primeira exposição a abrir no espaço após o fechamento em decorrência da pandemia de Covid-19 – e ainda sob condições especiais de visitação – a mostra reflete sobre a relação do homem com o ambiente em que vive, enfocando, sobretudo, questões brasileiras dentro dessa temática.
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As oito novas pinturas, com dimensões variadas, trazem pequenas paisagens que mostram uma natureza em transformação. São imagens algo nebulosas, feitas com a mediação de reproduções fotográficas, que se abrem num fundo preto. O suporte das pinturas não é a tela branca comumente usada por pintores, mas uma placa de borracha preta. O material traz consigo, ao mesmo tempo, a lembrança do látex natural e do processo industrial que transforma a matéria prima em produto pronto para o consumo.
As obras da série Seiva mostram lameirões de caminhão (também feitos com a mesma borracha preta das pinturas) que o artista encomenda com as palavras “fogo”, “ouro” e “mercúrio”. São “objetos- pinturas” que nascem com a vocação de rodar o Brasil em caminhões que trafegam pelas rodovias fazendo o transporte das mais diversas cargas. Na galeria, esses objetos condensam, de algum modo, o percurso das estradas fazendo-nos pensar sobre os possíveis encontros dessas “palavras - signos - elementos” com a paisagem que atravessam.
A instalação Carne de Caça, reúne partes de um carro queimado sobre as quais o artista desenha com asfalto. Essa carcaça desmembrada é novamente recomposta na galeria, lembrando um pouco as montagens de animais extintos em museus de História Natural. Os desenhos dessas padronagens sobre a superfície das peças evoca a pele de alguns mamíferos, criando, novamente, uma intersecção inesperada entre a máquina (o carro, a indústria) e o corpo vivo (o animal, a natureza).
Um dos artista mais provocativos de sua geração, Frederico Filippi vem construído uma obra que indaga sobre as consequências de ações predatórias sobre a natureza, sobre a aniquilação de modos de vida tradicionais, sobre um estreitamento de visão sobre o mundo decorrente na hegemonia do pensamento branco, ocidental e científico em diversos campos do conhecimento. Seu trabalho coloca em relação fatos atuais com processos históricos longos, como a colonização do território americano. Articulando processos econômicos, simbólicos e políticos o trabalho do artista traz a tona os principais impasses colocados para pensarmos o presente.
Sobre o artista
Frederico Filippi. São Carlos, Brasil, 1983. Vive e trabalha em São Paulo, Brasil.
Com procedimentos variados e técnicas dispersas, a centralidade das imagens presentes em suas investigações muitas vezes partem da influência que recebe dos temas da antropologia - especificamente da etnologia ameríndia - como a pesquisa de campo, os resíduos imagéticos de encontros de mundos diferentes e a diagramação de informações aparentemente caóticas em um contexto novo. Para isso, ao mesmo tempo que se debruça sobre objetos e materiais para produzir pinturas, desenhos e instalações, também leva a cabo pesquisas mais extensas em processos de deslocamento e residências que acabam por produzir uma ação sobre a realidade, mesmo que ínfima, de modo a introduzir um ruído na imagem geral. Cada vez mais a agência invisível dos objetos e das informações tem se tornado um ponto de encontro em seu processo, de forma que o artista não se abate sobre uma técnica verticalmente, mas transita de acordo com a sondagem e encontra em diferentes materiais e ações caminhos para tornar visíveis estes procedimentos.
Exposições individuais: Cobra Criada, Galeria Athena, Rio de Janeiro, Brasil (2019); O sol, o jacaré albino e outras mutações, Galeria Athena Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil; Fogo na Babilônia, Pivô, São Paulo, Brasil; Desvío, KIOSKO, Santa Cruz de la Sierra, Bolívia (2015); Deuses Impostores, IBEU- Rio de Janeiro, Brasil (2014).
Exposições coletivas: Triangular: arte deste século, Casa Niemeyer, Brasília, Brasil; O Que Não É Floresta É Prisão Política, Galeria Reocupa - Ocupação 9 de Julho, São Paulo, Brasil (2019); ⦿, Galeria Leme, São Paulo, Brasil; Com o ar pesado demais para respirar, Galeria Athena Contemporânea, Rio de Janeiro, Brasil; Caixa-Preta, Fundação Iberê Camargo, Porto Alegre, Brasil; Que barra, Ateliê 397, São Paulo, Brasil; ROCESSOS EM TRÂNSITO | Livros de Artista 2018, Galeria da Câmara de Matosinhos, Matosinhos, Portugal (2018); IN MEMORIAM, Caixa Cultural, Rio de Janeiro, Brasil (2017); Próprio-impróprio, Galeria Leme, São Paulo, Brasil; Photo Biennale, Cities and Memory, Bienal de Fotografia e Filme, Brandts, Dinamarca; Totemonumento, Galeria Leme, São Paulo, Brasil (2016); Aparição, Caixa Cultural, Rio de Janeiro, Brasil; Até Aqui Tudo Bem, Inside the White Cube, White Cube, São Paulo, Brasil (2015); entre outras.
Prêmios e residências artísticas: Intervalo-Escola: Intervalo em curso, Casa do Rio e Reserva de Desenvolvimento Sustentável Igapó Açu, Amazônia, Brasil (2017); Kiosko, Santa Cruz de la Sierra, Bolívia; El Ranchito Matadero, Madri, Espanha (2015); Bolsa Pampulha, Museu da Pampulha, Belo Horizonte, Brasil; Prêmio Novíssimos, Galeria IBEU, Rio de Janeiro, Brasil; La Ene, Buenos Aires, Argentina (2013); 5º RedBull House of Art, São Paulo, Brasil (2011).
O seu trabalho integra a coleção do MAR - Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, Brasil e Casa da Cultura da América Latina na Universidade de Brasília.