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setembro 28, 2020

Até logo, até já na Casa do Pontal - Recreio dos Bandeirantes, Rio de Janeiro

Fechada desde o início da pandemia, instituição que é referência em arte popular brasileira ficará aberta de 3 de outubro até 28 de novembro, quando o público poderá ver obras emblemáticas da coleção. A inauguração da nova sede está prevista para o segundo trimestre de 2021.

O Museu Casa do Pontal (Estrada do Pontal, 3.295, Recreio dos Bandeirantes, Rio de Janeiro), referência em arte popular brasileira, com mais de nove mil obras de 300 artistas brasileiros – o maior e mais significativo acervo deste segmento no país –, estará aberto ao público de 3 de outubro a 28 de novembro de 2020. O motivo é o momento de despedida e de celebração, pois após dez anos de lutas constantes contra as inundações que passaram a assolar o raro acervo a instituição começa a transferir suas obras para a nova sede, na Barra da Tijuca, próximo à Cidade das Artes e do Barra Shopping, onde estarão em segurança. O Museu estava fechado desde março, por causa da pandemia do Covid-19.

Na exposição “Até logo, até já”, conhecida pelo público como “permanente”, pois contém destaques do acervo, estarão cerca de duas mil obras, que só serão transferidas para a nova sede na Barra da Tijuca em novembro, após o encerramento da mostra. As demais sete mil peças, guardadas na reserva técnica, ou em itinerância, já começam a seguir para o novo espaço em outubro.

Graças a campanhas de financiamento coletivo, a que aderiram entusiastas do Museu, foram retomadas as obras da construção da nova sede, que ficaram paralisadas por mais de dois anos. Lucas Van de Beuque, diretor-executivo do Museu diz que “este é um momento de agradecimento e de boas notícias”. A diretora-curadora do Museu, Angela Mascelani, destaca: “Estamos dedicando esta reabertura na sede histórica, que durará um mês, aos afetos e aos corações. Aos que aqui se apaixonaram, aos que seguiram as trilhas da cultura popular, aos que dançaram em nossos jardins e terreiros. Aos que querem continuar nessa aventura multicultural”.

Durante a pandemia, o Museu Casa do Pontal promoveu lives em seus canais digitais, fazendo viagens temáticas pelas Festas Juninas de Pernambuco; pelo Bumba-meu-Boi, do Maranhão; pelos territórios culturais do Vale do Jequitinhonha, em Minas, e do Cariri, região que abrange Ceará, Pernambuco, Piauí e Paraíba. Um “terreiro virtual” com arte e manifestações de todo o Brasil.

Ao longo de seus 44 anos de história, o Museu coleciona fãs por toda parte. Entre os vários depoimentos que já recebeu, de artistas, pensadores, colecionadores, dirigentes de instituições culturais, empresários, entre outros, estão os de José Saramago, Gilberto Gil, Edgar Morin, Marieta Severo, Bia Lessa, Paulo de Barros, Otto, Osgêmeos, Emanoel Araújo e Danilo Miranda. Em texto anexo estão alguns trechos desses depoimentos.

Leia alguns depoimentos e saiba mais sobre a mudança do Museu Casa do Pontal para a nova sede.

PERCURSO COM OITO TEMAS

O percurso da exposição está dividido em oito temas: Profissões, Mestre Vitalino, Vida Rural, Ciclo da Vida, Circo, Arte Incomum, Religião e Ex-voto, e Escolas de Samba.

As obras ocupam os dois andares da casa, e são acompanhadas por textos explicativos em português, inglês e francês, ampliações fotográficas com imagens dos artistas e de festas populares. Produzidas desde meados de 1940 até hoje, as obras são representativas do universo cultural brasileiro, com suas variadas culturas rurais e urbanas.

As galerias mais atingidas pelas inundações fazem parte do circuito, mas sem acesso ao público. Próximo a sua entrada, estará o vídeo/instalação “Retirantes” (2019), de Martha Niklaus. O vídeo de 9'4"criado pela artista carioca, para a exposição de arte contemporânea “Inundação”, realizada no museu e curada por Marcelo Campos, faz referência às muitas inundações sofridas pela instituição entre 2010 e 2019. Inspirado nas obras de Mestre Vitalino e Zé Caboclo, presentes na exposição, o trabalho fala do “desmoronamento das figuras de barro que cria uma atmosfera apocalíptica e germinal, como as experiências limítrofes vividas nas grandes catástrofes, guerras, enchentes e pandemias", explica Martha.

Obras que ficavam no mobiliário mais baixo foram retiradas para a reserva técnica, para não sofrerem riscos em eventuais enchentes.

MEDIDAS CONTRA O COVID

O Museu Casa do Pontal receberá em segurança o público. Não será necessário agendamento prévio, mas o uso de máscaras será obrigatório. Haverá aferição de temperatura, tótens com álcool gel espalhados pelo circuito expositivo, e controle de quantidade de visitantes na área interna. Os visitantes poderão usufruir da área externa, agrupados por núcleo familiar. A equipe de funcionários usará além de máscaras o protetor de rosto (face shield). Grupos prioritários terão atendimento especial.

MUSEU CASA DO PONTAL

Fundado em 1976 pelo artista e colecionador francês Jacques Van de Beuque (1922-2000), o Museu Casa do Pontal, instalado em um terreno de cinco mil metros no Recreio dos Bandeirantes, no Rio, é referência em arte popular brasileira, e considerado o maior e mais significativo acervo do gênero no país, com mais de nove mil obras de 300 artistas. As peças reunidas são resultado de pesquisas e viagens feitas por Jacques Van de Beuque pelo Brasil desde a década de 1950 até 1990. Novas pesquisas e aquisições foram realizadas nas últimas décadas sendo conduzidas por Angela Mascelani, diretora e curadora do Museu do Pontal. Coleções de outros pesquisadores e apaixonados pela arte popular foram também doadas à instituição, ampliando a abrangência e relevância desse importante acervo.

Em seus mais de 40 anos de atividades, o Museu Casa do Pontal se empenhou em construir alicerces que permitem que o seu acervo seja socialmente protegido e amplamente usufruído. Mais de 2 milhões de pessoas estiveram ou participaram de algumas das múltiplas ações realizadas. Foram exibidas 70 exposições parciais do acervo no Brasil e em mais 15 países. No programa social e educacional, mais de 500 mil estudantes, desde 1996, fizeram visitas musicadas e teatralizadas ao acervo, vendo e ouvindo as histórias que formam essa grande colcha de retalhos culturais que é o Brasil. O setor de pesquisa, produziu conteúdos sobre os artistas e mestres da cultura popular, foram filmes, livros, catálogos, seminários e um amplo material disponibilizado no site da instituição e nas redes sociais. Fazendo do Museu do Pontal uma instituição que vibra e se aprofunda nas variadas expressões culturais do Brasil.

Para o sucesso de todos estes esforços, estão sendo essenciais as parcerias. Hoje os patronos do Museu do Pontal são BNDES, VALE e ITAÚ, além da parceria do IBRAM e Secretaria Especial de Cultura.

ARTISTAS E OBRAS

Antonio de Oliveira (1912 - 1996)
Antonio de Oliveira é um artista que valoriza a memória. Sua obra nos permite viajar no tempo. E nos recorda das mudanças havidas tanto nos meios de transporte, nos estilos de vida, como nas práticas sociais e nas relações de gênero. Se, por um lado, ele acentua as diferenças entre meninos e meninas em suas brincadeiras, por outro, não é normativo. Seu olhar apenas registra a realidade vivida.

Antônio de Oliveira nasceu em 1912, em Belmiro Braga, no interior de Minas Gerais. Aos 6 anos, começa a esculpir carrinhos de bois e outras peças com as quais brinca. Na adolescência, trabalha consertando móveis durante o dia e esculpindo "bonecos" à noite. Empreendedor, realiza inúmeras atividades antes de dedicar-se prioritariamente à escultura em madeira, tendo inclusive fundado o primeiro cinema de sua cidade natal. Seduzido pela possibilidade de contar histórias com seus conjuntos de esculturas miniaturizadas, Antônio de Oliveira entregou-se com paixão à recriação de cenas reais ou imaginárias, que compunham o que chamava de "meu mundo encantado". Refletiu sobre seu processo de criação, deixando muitas observações escritas e gravadas. Morreu em 1996, na terra natal, sem conseguir realizar o sonho de ver sua produção reunida num museu, na cidade em que viveu e que pretendeu imortalizar nas obras. Atualmente, a maior parte de seu acervo integra a coleção do Museu Casa do Pontal.

Adalton Fernandes Lopes (1938-2005)
Nascido em Niterói, Adalton fez grandes obras, articuladas, nas quais os personagens se movimentam por acionamento elétrico. São suas criações: a vida de Cristo, a Folia de Reis no morro do Buraco do Boi, em Barreto, Niterói, o carnaval no sambódromo. Todas essas obras poderão ser vistas na exposição que se despede do público. E não apenas. Também criou um vasto repertório sobre a vida nas ruas e praças, com jogos e brincadeiras de adultos. Suas modelagens mostram que os moradores das áreas centrais e das periferias fazem das ruas a extensão de suas casas. E nos provoca a pensar: o que se transforma? O que permanece desse ethos, dessa forma de sociabilidade? São marcas importantes, que apresentam diferentes visões da cidade e destacam o perfil social da vida urbana carioca. Também poderá ser vista do artista a instalação “Escola de Samba”, de Adalton, com seus mais de 300 personagens articulados que se movimentam ao ritmo do samba.

Em 1938, nasce Adalton Fernandes Lopes, em Niterói, no Rio de Janeiro. Antes de se dedicar inteiramente aos trabalhos na cerâmica, foi pescador, soldado da Polícia Militar, motorista e funcionário da Companhia Costeira do Ministério dos Transportes. Dotado de rica imaginação, em suas obras evidenciam-se a observação perspicaz do cotidiano e das alegrias da vida mundana. Trabalha com extenso e variado leque temático: da arte erótica à vida de Cristo, passando por vendedores ambulantes, cenas de namoro, casamento e parto. Obcecado pelo desejo de "dar vida" a seus personagens, criou engenhocas imensas, onde centenas de figuras articuladas movimentam-se animadamente. Seus "bonecos" são inconfundíveis e apresentam uma visão especial da vida urbana. Ele faleceu em novembro de 2005.

Zé Caboclo (1921-1973)
Acima, a obra “Bom dia”, que inspirou o escritor e Prêmio Nobel de Literatura José Saramago a escrever o livro “A Caverna”. Neste livro, lançado em 2001, pela Cia das Letras, o argumento central discute a relação entre o mundo artesanal da olaria e suas relações com as questões contemporâneas, sobretudo as questões ligadas aos controles sociais, e ao novo mundo das relações não pessoalizadas.

Em 1921, nasce José Antônio da Silva, no Alto do Moura, PE. Aprende a trabalhar o barro nas brincadeiras infantis, observando a mãe e uma irmã que se dedicavam ao artesanato utilitário. Casou-se com Celestina Rodrigues de Oliveira, com quem teve oito filhos, vindo a constituir uma verdadeira oficina de cerâmica familiar, que deu origem a uma produção rica e diversificada. Conhecido pelo apelido Zé Caboclo, tornou-se um dos mais conceituados artistas de Caruaru. Contribuiu de maneira decisiva, junto com Vitalino e Manuel Eudócio, seu cunhado, para marcar um estilo na arte dos bonecos de barro daquela região. Em parceria com esse último, inovou técnicas e formas, adotando o uso do arame na estrutura das esculturas e a feitura do olho em alto relevo, ao invés de fazê-los furadinhos. São de sua autoria as alegres moringas antropomorfas de grandes dimensões, como "Lampião e Maria Bonita", as esculturas da Virgem Maria e as impactantes figuras do Bumba-meu-boi e do Maracatu. Também criou temas originais, oferecendo uma leitura singela e irônica dos profissionais liberais: dentistas, advogados etc. Na pintura de suas obras, utiliza cores vibrantes e decoração floral. Seus filhos, Antônio, Zé Antônio, Paulo, Horácio, Marliete, Socorro, Carmélia e Helena são artistas reconhecidos. Faleceu precocemente, em 1973, vítima de esquistossomose.

Noemisa Batista (1947)
Embora tivesse fascinação pela escola, pelos rituais festivos ligados ao catolicismo, como o casamento e os batizados, seu contato com a cidade era ocasional. Sua obra fala desse mundo admirado e desejado. E também do dia a dia, com a feitura de pães e bolos, no forno a lenha. Provavelmente foi a primeira artista do Vale do Jequitinhonha a criar com regularidade as noivas no dia de suas bodas. Suas criações, leves, bonitas e ousadas, nos contam sobre a riqueza de seu mundo interior, no qual as fronteiras do vivido são expandidas pelo imaginado.

Noemisa Batista dos Santos nasce nas cercanias de Caraí, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, em 1947. Muito jovem, aprende a modelar o barro com a mãe, que era paneleira. Criou estilo e temática próprios, com cenas de batizado e casamento de impactante beleza. Utilizando apenas a tabatinga branca, obtém efeitos contrastados sobre o tom do barro cozido. Em suas obras, as flores e outros detalhes disputam a atenção do olhar com o tema principal, o que particulariza seu trabalho. Apesar de muito conhecida, reputada como uma das mais criativas artistas de sua região, vive isolada e em condições econômicas difíceis.

Mestre Vitalino (1909-1963)
Vitalino criou uma narrativa visual expressiva sobre a vida no campo e nas vilas do interior pernambucano. Fez esculturas antológicas, que poderão ser vistas no Museu do Pontal como “Casal no boi”, “Noivos a cavalo”, “Caçador de onça”, “Encontro na feira”, entre outras. “Eu, além de analfabeto, criei-me trancado vivo”, contou um dia ao pesquisador René Ribeiro, um de seus mais abalizados biógrafos. Essa difícil realidade, compartilhada com a maioria dos lavradores/artesãos de sua região, não impediu que o trabalho nascido nas cercanias de Caruaru desse origem a um dos maiores polos produtores de artesanato figurativo popular no país, que tem revelado importantes artistas ao longo dos anos.

Em 1909, nasce Vitalino Pereira dos Santos, na pequena vila de Ribeira dos Santos, próximo a Caruaru (PE). Criado em ambiente oleiro, cedo começa a modelar boizinhos, louças em miniatura e outros brinquedos, para serem vendidos na feira local. Dotado de forte senso estético, produz obras que, na maturidade, atraem a atenção de críticos e colecionadores de arte. Em 1947, por iniciativa do pintor Augusto Rodrigues, de quem se torna amigo, tem algumas esculturas expostas no Rio de Janeiro, com sucesso. Esta exposição é hoje considerada um marco na história do interesse pela arte popular, não só por revelar ao grande público a obra de Vitalino, como também por chamar a atenção sobre a existência desse gênero de criação em diferentes regiões do país. É reconhecido como Mestre por sua virtuose e pela liderança que exerceu entre os ceramistas do Alto do Moura. Entre 1960 e a data de sua morte, em 1963, viajou por todo o Brasil, participando de exposições e mostrando sua técnica. Apesar de ter se tornado famoso, faleceu aos 53 anos, muito pobre, vítima de doença contagiosa. Sua memória continuou a ser cultivada depois da morte, não só pelo público em geral como pela família e os amigos, muitos dos quais ajudou a formar.

Vitalino virou lenda e personagem da cultura de massa, numa atualização do interesse que a temática sertaneja despertava no imaginário nacional desde o século XIX. De padre Cícero e Antonio Conselheiro ao fim do cangaço, com a morte de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, em 1938, os símbolos da cultura popular nordestina corriam o país e ganhavam as artes. Em 1953, o filme “O Cangaceiro”, de Lima Barreto, recebeu no Festival de Cannes, na França, o Prêmio Especial do Júri na categoria de melhor filme de aventuras. Até aquele momento, o filme foi a produção nacional de maior sucesso de bilheteria no Brasil e no exterior. Na literatura – que punha em xeque a erudição acadêmica, revelando a sofisticação presente na linguagem popular –, o exemplo paradigmático foi Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa (1956). A temática regional voltou a ter destaque no cinema em 1962, com a vitória em Cannes do filme “O pagador de promessas”, de Anselmo Duarte.

Manuel Galdino (1929-1996)
Suas criações formam um repertório de obras delirantes e originais, consagrando os monstros autofágicos, e outros personagens de forte conteúdo onírico, como Lampião-Sereia e São Francisco Cangaceiro.
Manuel Galdino de Freitas nasceu em 1929, na cidade pernambucana de São Caetano, próximo ao Alto do Moura. Em 1940, se muda para Caruaru (PE), onde passa a trabalhar em olaria, fazendo telhas e tijolos. Casa-se com Maria Rendeira e tem três filhos. Torna-se funcionário municipal, trabalhando na construção civil. Nas horas vagas, se distrai modelando figuras de barro, entre elas a de Judas, para as brincadeiras de malhação da Semana Santa. Sua trajetória como artista tem início a partir de 1974, quando é destacado pela prefeitura para executar serviços no Alto do Moura, onde faz amigos que o introduzem na arte de "bonecos", principal atividade local. Apaixona-se de tal maneira pela modelagem em cerâmica, que se despede do trabalho público, vende a casa que possuía em Caruaru e se muda com a família, definitivamente, para o Alto do Moura. Tenta vários negócios alternativos, ao mesmo tempo em que se dedica febrilmente à produção de novos bonecos. Logo passa a ser reconhecido como um dos mais fecundos ceramistas do Alto Moura. Manuel Galdino morre no Alto do Moura, em 1996.

Maria Assunção (1940-2002)
Maria Assunção Ribeiro se dedicou à produção de esculturas em barro cru. Em suas obras, a artista criou um universo imagético inédito, documentando a vida cotidiana da população afrodescendente, pretos e pretas que viviam nas roças e pequenas vilas de sua região (Vale do Jequitinhonha, MG). Suas modelagens nos revelam a riqueza da vida cotidiana, com ênfase na em aspectos da vida familiar, a relação com as crianças, o trabalho e a religiosidade. Depois que ela faleceu, o artista João Alves deu continuidade ao seu trabalho e hoje, além dele, outros artesãos também se dedicam à mesma temática.

Maria Assunção Ribeiro nasceu em 08 de agosto de 1940, em Taiobeiras, Minas Gerais. Dedicou-se à produção de esculturas em barro cru, tendo aprendido a trabalhar a argila com a mãe, Anália de Oliveira. Em suas obras criou uma etnografia da vida rural. Suas esculturas de pequenos formatos, nas quais todos os personagens são negros, contemplou as atividades cotidianas: os afazeres domésticos, o trabalho na roça, as atividades espirituais e outras. Por meio do trabalho de outros artesãos em sua região, o estilo que a tornou famosa teve prosseguimento. Faleceu em 2002.

João Alves (1964)
Ceramista, produz peças coloridas, nas quais privilegia a representação do cotidiano de pessoas negras, que vivem no campo.

Em 1964, nasce João Alves na pequena Taiobeiras, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Chama a atenção a sensibilidade com que reconstrói a realidade, traduzida por cenas em que aparecem homens e mulheres flagrados no diaa dia: cuidando dos filhos, em família, no trabalho e na casa.

Celestino (1952)
Cena de forró, em Juazeiro do Norte, Ceará, foi um dos temas tratados nas lives produzidas pelo Museu do Pontal que abordaram o universo cultural e mágico do Cariri. O Cariri é uma região geográfica que, no dizer de Alemberg Quindins, fundador da Fundação Casa Grande, é uma espécie de síntese ou resumo do nordeste. Engloba quatro estados: Ceará, Pernambuco, Piauí e Paraíba.

José Celestino da Silva nasceu em 1952 na cidade de Juazeiro do Norte (CE). Cresceu vendo o trabalho de seu pai e de seu avô na produção de arapucas e apitos de pio. Embora mantivesse contato com a madeira desde a infância, seu primeiro trabalho foi como auxiliar de ourives. Só após sair da ourivesaria iniciou seu aprendizado com madeira produzindo artefatos junto ao avô materno. Mas foi sob a influência de um pernambucano, José Ferreira da Silva, que também trabalhava na oficina de seu avô, que Celestino começou a fabricar apitos em forma de mulheres. A partir desse novo estilo, no qual a figura humana ganha relevância, o artista amplia seu repertório de obras e passa a produzir também santos, mamulengos, cenas de reisado, detalhes das festas e obras de conteúdo social, como greves e reivindicações populares.

Dadinho (1931-2006)
Dadinho, com suas obras de grande porte, “Cidades Tentaculares”, chama a atenção para a arquitetura orgânica, não planejada, que marca a vida no Rio de Janeiro, sobrepondo arranha-céus, ruas e viadutos, com ênfase para o território montanhoso e a ocupação das encostas e morros. Espaços urbanos, que se tornam espaços afetivos e referenciais aos que os habitam ou os visitam. Que dão origem a cartografias marcadas pelas experiências comuns, pelos valores cultivados coletivamente, pelas alegrias vividas, pelas lutas e dificuldades, pelas relações que estabelecem com seus espaços públicos.

Em 1931, nasce Geraldo Marçal dos Reis na cidade de Diamantina, em Minas Gerais. Seus primeiros contatos com a madeira se dão por iniciativa do pai, Pedro, que o introduz no ofício de carpinteiro. Entretanto, a habilidade para a escultura inventiva é descoberta por acaso, ao entalhar pequenas figuras numa casca de laranja que atraiu a atenção de quantos a viram, encontrando inesperado comprador. Extremamente habilidoso, esculpe em pedra-sabão e em cera (ex-voto) antes de iniciar sua trajetória artística, que ganha impulso a partir de 1977, no Rio de Janeiro. Fascinado pelas formas de raízes e troncos, passa a esculpir cidades em conjuntos altamente sofisticados, inspirados em Nova Iguaçu, onde reside, na Baixada Fluminense, zona metropolitana do Rio de Janeiro. Sua criação é impactante e, na Casa do Pontal (RJ) podem ser vistas suas imponentes cidades tentaculares. Faleceu em 2006.

Nino (1920-2002)
Nino faz parte dos grandes escultores cearenses, cujas produções se deram ou se dão estimuladas pela grande circulação de pessoas que participam de romarias e peregrinações a lugares sagrados, como os estabelecidos em Juazeiro do Norte em torno da figura Padre Cícero.

João Cosmo Félix nasce em 1920, em Juazeiro do Norte, interior do estado do Ceará. Antes de talhar figuras em madeira, trabalhou nos engenhos de cana-de-açúcar e foi ferreiro. Voltando-se para o trabalho de escultura, desenvolve estilo original, cujo impacto reside na interpretação personalíssima do cotidiano e do imaginário ligado às festas e mitos populares. Em imburana e timbaúba, inicia-se produzindo brinquedos: macacos com rabo de corda, dos quais passa para a construção de grandes "bonecos", representando figuras humanas ligadas à história do cangaço. Depois passou a abordar temas diversificados, e em suas esculturas, feitas em troncos vigorosos, se destacam como formas recorrentes os animais (pássaros, peixes, cavalos, cabras etc.) assim como personagens e cenas do reisado. Pinta detalhes, ou a peça inteira, utilizando cores contrastantes em tinta a óleo. Faleceu em agosto de 2002.

Luiz Antonio (1935)
Suas obras são facilmente identificadas, pois inventou cenas e tipos até então inexistentes, entre os quais destacam-se: o fotógrafo, eletricistas consertando transformadores, automóveis, trem de ferro, fábrica de telha de canal etc.

Em 1935, nasce Luiz Antônio da Silva no vilarejo Alto do Moura, na cidade pernambucana de Caruaru. Com a mãe louceira, aprende a modelar o barro, mas atribui sua iniciação profissional a Mestre Vitalino, com quem aprimora a técnica. Casa-se com Odete, com quem tem nove filhos. Além de criar tipos regionais, especializou-se na representação de temas urbanos, especialmente ligados ao progresso e ao uso das máquinas.

Material de imprensa realizado por CWeA Comunicação

Posted by Patricia Canetti at 4:44 PM