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julho 26, 2020
Hélio Oiticica: a dança na minha experiência no MASP, São Paulo
MASP realiza abertura digital de Hélio Oiticica: a dança na minha experiência, que apresenta relação entre a produção do artista carioca e a dança, a música, o ritmo e a cultura popular brasileira
Adiada por conta da pandemia de covid-19, a mostra Hélio Oiticica: a dança na minha experiência migrou, em partes, para o online e a abertura digital será realizada no dia 23 de julho, quinta-feira. Seguindo as recomendações de isolamento social, o MASP fechou as portas em março, mês em que seria inaugurada a exposição. A data de término ainda está em definição.
É a primeira vez que o Museu de Arte de São Paulo realiza uma exposição individual de Hélio Oiticica (1937-1980), um dos mais importantes nomes da arte brasileira. A curadoria é de Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP, e Tomás Toledo, curador-chefe. A mostra é uma parceria com o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio). No MASP, ela inaugura o ciclo “Histórias da dança”, que norteia a programação da instituição em 2020.
A abertura digital irá contemplar uma live no Instagram do @masp no dia 23/7, às 18h, com Vivian Crockett e Tomás Toledo. Curadora e pesquisadora especializada em arte moderna e contemporânea, Crockett escreveu um texto inédito para o catálogo da mostra. No encontro, eles conversam sobre a exposição e a trajetória do artista. Além da live, um tour virtual com Toledo e algumas vistas da mostra serão disponibilizadas no site (masp.org.br) do museu no mesmo dia, 23/7.
Inspirada pela produção de caráter experimental e inovador de Oiticica, a mostra traça um panorama da trajetória do artista, reunindo 126 trabalhos relacionados ao ritmo, à música e à cultura popular. “Meu interesse pela dança, pelo ritmo, no meu caso particular pelo samba, me veio de uma necessidade vital de desintelectualização, de desinibição intelectual, da necessidade de uma livre expressão”, escreveu Oiticica no texto “A dança na minha experiência”, de 1965, que inspirou o nome da exposição.
Hélio Oiticica é um dos artistas mais radicais do século 20 no panorama da arte brasileira e internacional. Seus experimentos renovaram meios e suportes tradicionais (como o desenho, a pintura, a escultura, o objeto, o filme e o vídeo) criando novas formas e mídias. Caracterizada pelo rigor conceitual, com origens arraigadas na linguagem do construtivismo europeu, do concretismo e da abstração geométrica, a produção de Oiticica é extremamente vital, sensual, sensorial, comprometida com a experiência, com a participação e com o corpo (tanto do artista quanto dos espectadores-participantes).
A mostra Hélio Oiticica: a dança na minha experiência toma emprestado o título de um texto do artista publicado em 1965 e tem como ponto de partida o Parangolé, um de seus trabalhos mais radicais. Partir dessa obra-chave implica examinar a trajetória de Oiticica de trás para a frente, retrospectivamente, identificando elementos rítmicos, coreográficos, dançantes e performativos nos trabalhos anteriores — dos Metaesquemas aos Relevos espaciais, Núcleos, Penetráveis, Bólides e, por fim, os Parangolés. Embora a dança tome de fato corpo no trabalho do artista apenas com os Parangolés na década de 1960, essas características já podem ser observadas em seus primeiros trabalhos, que são aparentemente mais formais, estáticos ou tradicionais. Desse modo, a mostra se insere num ano todo dedicado às Histórias da dança no MASP.
Em 1964, Oiticica passou a frequentar a Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, no Rio de Janeiro, da qual se tornou passista. Essa experiência transformadora constituiu um divisor de águas na vida e na obra do artista. A partir dessa experiência na Mangueira, Oiticica aprofundou suas reflexões sobre experiências estéticas para além das belas-artes, incorporando elementos corporais e sensoriais, populares e vernaculares a seu trabalho por meio da dança, da coreografia, da música, do ritmo e do corpo. Foi nesse momento crucial que o artista começou a produzir os Parangolés, uma espécie de capa ou vestimenta fluida feita de tecido, plástico ou papel, para ser usada, experimentada, vivida e dançada pelo espectador-participante.
Na produção de Oiticica, a participação do público é fundamental e, nesse sentido, a mostra reúne 19 Parangolés; 14 deles são réplicas que podem ser vestidas e vividas possibilitando ao público experimentar a dança, com Oiticica, em sua própria experiência.
O catálogo Hélio Oiticica: a dança na minha experiência (R$ 139, versões em português e inglês) também está disponível para compra. Interessados podem escrever para loja@masp.org.br. Editada pelos curadores, a publicação ilustrada tem ensaios de Adrian Anagnost, André Lepecki, Cristina Ricupero, Evan Moffitt, Fernanda Lopes, Fernando Cocchiarale, Sergio Delgado Moya, Tania Rivera e Vivian Crockett, além de Pedrosa e Toledo. O catálogo inclui ainda nota biográfica de Fernanda Lopes e um extenso material documental, entre fotografias e escritos do artista, que tinha o hábito de registrar suas reflexões sobre a arte e sua produção.